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Bioética

Profª Deborah Farah


2018
Conceito
O termo bioética significa “ética da vida.”

Palavra de origem grega bios (vida) + ethos (relativo à ética).

A bioética traz um forte apelo para interligar as


ciências biológicas às humanidades, numa
ponte para o futuro, tendo em vista assegurar a
sobrevivência humana.
Conceito

É o uso criativo do diálogo para formular,


articular e, na medida do possível, resolver
os dilemas que são propostos pela
investigação e pela intervenção sobre a vida,
a saúde e o meio ambiente (OMS, 2001).
Desenvolvimento da Bioética

• Avanços tecnológicos
• Dilemas
Dilema
Um dilema ocorre quando se utiliza um
argumento que coloca o adversário entre
duas proposições opostas.
“A ocorrência de dilemas na atividade dos
profissionais de saúde ao atenderem pacientes
tem provocado inúmeras reflexões na área da
Bioética. Estas situações reais ocorrem quando
duas abordagens são possíveis e defensáveis
tecnicamente, existindo dúvidas quanto a
adequação moral de cada escolha.”
Alguns fatos...
• Em 1967 foi realizado o primeiro
transplante de coração.
Surgiu, então, a pergunta:

O doador estava realmente morto?


Quando se dá morte?
Alguns fatos...
• Estudo realizado pelo serviço público de Alabama
deixou pacientes 400 negros com sífilis sem
tratamento para pesquisar a história natural da
doença. A pesquisa foi até 1972, apesar do
descobrimento da penicilina em 1945.
• Crianças de New York, na década de 50 a 70
foram deliberadamente infectadas com o vírus da
hepatite A, para que fosse observada a história
natural da doença com a finalidade de encontrar
uma vacina.
Princípios da Bioética
 O paradígma principialista
Inclui, 4 princípios orientadores da ação,
os quais:
• Autonomia
• Não-Maleficência
• Beneficência
• Justiça
Autonomia
“ Sobre si mesmo, sobre seu corpo e sua mente,
o indivíduo é soberano”.

Refere-se à capacidade do ser humano em


decidir o que é bom, o que é seu bem-estar,
de acordo com seus valores, expectativas,
necessidades, prioridades e crenças.
Autonomia
Para que exista uma ação autônoma é
necessária:
• A existência de alternativas de ação
(escolhas), pois se existe apenas uma
alternativa de ação, um único caminho a ser
seguido, uma única forma de ser realizado,
não há exercício de autonomia.
• É necessário que o paciente seja bem
esclarecido pelo profissional de saúde sobre as
possibilidades e consequências.
Autonomia
Duas condições são necessárias à autonomia:
- Liberdade de decidir e optar
- Capacidade de decidir e optar***
***Proteção aos incapazes de se autodeterminar:
Pessoas de forma transitória ou permanente têm sua
autonomia reduzida, como:
-crianças
- deficientes mentais
- indivíduos em estado de agudização de transtornos
mentais
- indivíduos sob intoxicação exógena
- pessoas inconscientes
• Sr J.C.S., 47 anos, empresário, é levado para a sala de
emergência de um Pronto-Socorro da rede credenciada de
seu convênio-saúde, após um grave acidente de carro. No
estabelecimento foi constatado uma fratura óssea exposta
na perna direita que requeria uma cirurgia corretiva e,
também a existência de um sangramento moderado no
abdome, que lhe causou queda dos níveis pressóricos
arteriais. A equipe médica propõe transfusão sanguínea,
mas o paciente se recusa a aceitar o procedimento,
afirmando ser adepto da corrente religiosa “Testemunhas
de Jeová”. O paciente afirma que conhece os riscos de
sua recusa e que assinará documento isentando a equipe
médica e o hospital, em caso de qualquer acontecimento
infortuito ligado à sua recusa. Durante à noite, o paciente
é sedado e se ministra sangue, evitando que o paciente ou
seus familiares disso tenham conhecimento posterior.
Autonomia
A aceitação de convicções e práticas religiosas que não
sejam as prevalentes em nossa sociedade não significa
perda da autonomia e do direito ao respeito à sua
autonomia. Se o paciente é pessoa autônoma para
decidir, e está devidamente esclarecido,
compreendendo os riscos que corre, tem direito moral
e legal de tomar decisões, optando por alternativas
diferentes daquela que seria escolhida pelos
profissionais de saúde. Existem justificativas éticas
para se opor à sua decisão?
Não.

A conduta efetuada pela equipe de saúde, apesar da


intenção de beneficiar o paciente, violou o princípio
ético do respeito à autonomia.
Limites da Autonomia
- Casos de crianças podem ser decididos em
tribunais buscando preservar a vida e se
opondo aos desejos dos pais.
- A decisão de uma pessoa, mesmo
competente, que possa causar dano à sua
pessoa ou à saúde pública poderá não ser
validada ética ou moralmente.
Limites da Autonomia
Um enfermeiro, na unidade de emergência do
estabelecimento, depara-se com uma mulher, 35 anos
de idade, desacompanhada, que apresentava cefaléia,
vômitos e febre alta, tendo sido diagnosticada pela
equipe médica como apresentando quadro de meningite
menigocócica. A paciente apresenta-se confusa, grita
muito, emite palavras desconexas e diz querer não
receber por via venosa, a medicação prescrita. Diz
querer se retirar do hospital para ir se tratar em casa,
pois conhece os medicamentos que irão curá-la.
Paternalismo
Interferir na liberdade de um indivíduo eticamente
capacitado para a tomada de decisões...
Sr M.S., 67 anos metalúrgico em atividade laboral, após
exames realizados no ambulatório médico da empresa,
teve diagnosticado câncer pulmonar, em estágio
avançado. O profissional de saúde, considerando o caso
de mau prognóstico, não revela os achados ao paciente,
apesar do questionamento deste e, dois dias depois,
telefona e informa membros da família, porque
considerava que as informações poderiam trazer danos
psicológicos ao paciente, aumentando seu sofrimento.”
Paternalismo
Não revelar a existência da doença
temendo causar sofrimentos
psíquicos ao paciente,
portanto a ação do ponto de
vista médico, visava o bem
do paciente (beneficência),
objetivava não
causar danos.

Ação do profissional foi de cunho


paternalista, pois o idoso era pessoa
autônoma, competente à escolher o
que considera melhor para si.
Princípio da Não-Maleficência

• Hipócrates, ao redor do ano 430 AC, escreveu:

"Pratique duas coisas ao lidar com as


doenças; auxilie ou não prejudique o
paciente".

• O Princípio da Não-Maleficência propõe a


obrigação de não causar dano intencional.
Beneficência
• Estabelece que devemos fazer o bem aos
outros.

“maximizar os benefícios possíveis e


minizar os danos possíveis”
Justiça
• É o princípio da justiça que obriga a garantir a distribuição
justa, eqüitativa e universal dos benefícios dos serviços da
saúde.
• O que se pretende com este princípio é que toda atenção,
todo cuidado e todo sistema de saúde sejam justos.
• Quando as questões ficam sem resposta, quando há
dúvidas se deve prevalecer a Beneficência ou a
Autonomia, apela-se para o principio da Justiça.
Muitas pessoas confundem o significado dos termos Justiça
e Direito.
A Justiça é um princípio ético e moral enquanto que o
Direito o realiza no convívio social.
Desafios da bioética
•Resgatar a dignidade da pessoa humana,
dando ênfase na qualidade de vida, proteção a
vida humana e seu ambiente.
•Questionar o progresso e para onde o avanço
materialista da ciência e tecnologia está
caminhando.
•Indagar o tipo de futuro estamos construindo
e se temos opções.
•Ajudar a humanidade em direção a uma
participação racional, mas cautelosa, no
processo da evolução biológica e cultural.
• BD foi um bebê que nasceu em 1982, no estado de Indiana/EUA,
com malformações múltiplas. Os seus pais se negaram a assinar um
termo autorizando a realização de uma cirurgia corretiva da fístula,
que tinha 50% de chances de lhe salvar a vida. Os pais, que tinham
outros dois filhos sadios, alegaram que a criança era muito
comprometida. Solicitaram, ainda, que fosse suspendida a
alimentação e os demais tratamentos. A equipe médica solicitou à
Justiça autorização para realizar a cirurgia, suspendendo,
temporariamente o pátrio poder. A Justiça negou em primeira
instância. A promotoria apelou e a Suprema Corte do Estado de
Indiana se negou a apreciar o caso. Foi feita a tentativa de apelar
para a Suprema Corte dos Estados Unidos. O bebê, aos seis dias de
vida morreu, não dando tempo para que fossem feitas outras
tentativas. O advogado da família alegou que a mãe esteve sempre
ao lado do bebê. Afirmou que "não foi um caso de abandono, mas
sim de amor".
O Dr. Timothy Quill atendeu por muitos anos a uma paciente,
chamada Diane, de 45 anos, e a sua família. No início da
década de 1990, esta paciente recebeu o diagnóstico de
leucemia mielocítica aguda. Após conversar com a família e
seu médico, ela recusou ser tratada através de quimioterapia,
pelos riscos e desconfortos que poderiam ocorrer em função
deste procedimento. Ela estava plenamente capaz e todas as
alternativas para aliviar o seu sofrimento foram discutidas e
rejeitadas. Ela solicitou a ajuda do médico para se suicidar.
Ele forneceu os barbitúricos que a paciente utilizou. Ela se
preparou para o momento de tomar a medicação, usando as
roupas que mais gostava e despedindo-se dos familiares. O
caso foi levado para a Justiça do estado de Nova Iorque e o
Dr. Quill e o júri não o incriminou pelo ocorrido.
Terri-Schiavo, de 41 anos, que supostamente estava em processo de
separação conjugal com seu marido, Michael Schiavo, teve uma
parada cardíaca, em 1990, talvez devido a perda significativa de
potássio associada a Bulimia, que é um distúrbio alimentar. Ela
permaneceu, pelo menos, cinco minutos sem fluxo sanguíneo
cerebral. Desde então, devido a grande lesão cerebral, ficou em
estado vegetativo, de acordo com as diferentes equipes médicas que
a tem tratado. Após longa disputa familiar, judicial e política, teve
retirada a sonda que a alimentava e hidratava, vindo a falecer em
31/03/2005. O caso vem tendo grandes repercussões nos Estados
Unidos, assim como em outros países, devido a discordância entre
seus familiares na condução do caso. Este caso tem sido relatado na
imprensa leiga como sendo uma situação de eutanásia, mas pode
também ser enquadrado como sendo uma suspensão de uma medida
terapêutica considerada como sendo não desejada pela paciente e
incapaz de alterar o prognóstico de seu quadro...
 O paradigma libertário

Valoriza a autonomia e o indivíduo


Ex: Decisão dos pais sobre embriões e fetos.

 O paradigma das virtudes

Valoriza o agente (profissional da saúde), cabendo ao paciente,


integrar-se à decisão tomada pelo primeiro.
Ex: Recusa de tratamento por pacientes com AIDS.

 O paradigma casuístico

Evidencia a análise da caso a caso levando-se em consideração a


comparação com os demais.
Ex: Paciente com indicação de “SPP” (se parar parou)
 O paradigma fenomenológico e hermenêutico

O primeiro reconhece que toda experiência poderá ter


diferentes interpretações.
Dimensões da situação  objetiva
 subjetiva
A subjetividade é colocada em suspensão em prol do encontro
com a situação em si, embora reconheça a
“bipolaridade”da experiência humana.

O paradigma hermenêutico (interpretação de leis) valoriza o


respeito à alteridade humana.
Ex: Diálogo e não imposições.
 O paradigma narrativo

Entende que a identidade se fundamenta pela história vivida ou


internalizada. O sentido dado para além dos fatos.
Ex: Heranças culturais.

 O paradigma do cuidado

A natureza psicológica se apresenta de forma diferente entre os


sexos.

Homens  se vêem enquanto diferentes dos demais, o que leva ao


estabelecimento de direitos e deveres  justiça.
Mulheres  relações de solicitudes  cuidado.
 O paradigma do direito natural

Prevê a integração do homem e sociedade. Reconhece a existência


de “bens fundamentais em si mesmos” (Pessini, 2000).
Ex: Conhecimento, vida, religiosidade, amizade etc.

 O paradigma contratualista

Leva em consideração a relação médico-paciente e médicos-


sociedade, incluindo alguns princípios, os quais:
- “beneficência;
- proibição de matar;
- dizer a verdade e
- manter as promessas” (PESSINI, 2000)
 O paradigma antropológico personalista

Entende o ser humano em sua dignidade universal (valor


supremo ao agir)  caráter relacional da
intersubjetividade (sujeitos “aberto” aos outros e ao
mundo).
Comunicação e solidariedade em sociedade.
Ex: Responsabilidade social  contribuição de cada um na
construção do humanismo.

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