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Resumo
O presente artigo propõe apresentar considerações importantes sobre a espacialidade dos Quilombos
Contemporâneos frente alguns aspectos de sua identidade territorial no Brasil. Inicialmente o trabalho
abordará a fundamental, porém não esgotada, tentativa de conceituação do que vem a ser o Quilombo
Contemporâneo sob a ótica da Geografia, frente às ressemantizações do termo apresentadas ao longo
da história. A seguir, abordaremos como essas comunidades se relacionam com a biodiversidade de
seus territórios e o desdobramento dessas ações nos mais variados conflitos socioespaciais
decorrentes de ações hegemônicas, incompatíveis com as espacialidades que constituem o modo de
vida quilombola. Por fim, e talvez o cerne deste artigo, proporemos, a partir dos diversos conflitos
apresentados pelos Quilombos Contemporâneos no Brasil, uma possível configuração de territórios e
paisagens de resistência, construídos dentro do conjunto das Comunidades Quilombolas
Contemporâneas do país. É importante lembrar que essa problemática não se esgota com as
proposições listadas acima, na verdade há a necessidade da construção de uma Geografia tipicamente
Afro Brasileira, engajada em alavancar o entendimento da territorialidade de matriz africana no espaço
brasileiro. Os quilombos são estruturas que vão além da sua típica característica de resistência, essas
comunidades são materializações da organização social africana que se constituiu nos espaços
urbanos e rurais brasileiros. Dessa forma, a ampliação do conceito de comunidades quilombolas é
fundamental e nesse bojo o presente artigo tem como premissa básica buscar uma aproximação do
conceito de Quilombo Contemporâneo. Além de consolidar a importância da tentativa de se estabelecer
uma caracterização geográfica ao termo quilombo, enfatizando suas identidades territoriais bem como
os aspectos cotidianos quilombolas, que são importantes na identificação e no entendimento do que é
o Quilombo Contemporâneo como elemento de uma resistência no presente. Afirmar apenas a sua
“remanescência” é conectá-los com o movimento quilombola de outrora e dar uma ideia de derivação
direta. As comunidades contemporâneas não são resquícios territoriais dos agrupamentos
insurrecionais do passado, são na verdade desdobramentos da capacidade de adaptação das
populações afro-brasileiras à marginalização, que constituíram modos de vida africanos materializados
1
Acadêmico de Doutorado do Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade de Brasília.
E-mail de contato: geographo@gmail.com
no território brasileiro. Em busca da consolidação de seus direitos territoriais, tais comunidades se
envolveram em todo tipo de conflito socioambiental com grupos, instituições, atividades econômicas e,
em muitos casos, o próprio Estado, a saber: produtores rurais, indústrias, barragens para usinas
hidrelétricas, áreas de segurança e militares, unidades de conservação, mineração, dentre outros. O
modo de vida quilombola e o próprio terreiro do quilombo construíram uma territorialidade propícia para
o desenvolvimento das práticas ambientais legitimamente sustentáveis, imprescindíveis para a
manutenção e reprodução social do grupo e quase sempre adversas às atividades elencadas acima.
Por fim, destacamos que a sobrevivência e a permanência dos quilombos no território brasileiro são
elementos fundamentais para compreendermos o que vem a ser paisagens e territórios de resistência,
que pode expressar de forma didática, os conflitos territoriais nos quilombos do Brasil.
Abstract
This paper seeks to present importants considerations about the spatiality of Brazilian contemporary
Quilombos in relation to some aspects of their territorial identity in Brazil. Initially the work will address
the fundamental, but not exhaustive, attempt to conceptualize what the Contemporary Quilombo has
become from the point of view of Geography, in view of the resemantiation of the term presented
throughout history. Next, we will discuss how these communities relate to the biodiversity of their
territories and the unfolding of these actions in the most varied socio-spatial conflicts arising from
hegemonic actions, incompatible with the spatiality that constitute the quilombola way of life. Finally,
and perhaps the heart of this article, we will propose, from the various conflicts presented by the
Contemporary Quilombos in Brazil, a possible configuration of territories and landscapes of resistance,
built within the set of Contemporary Quilombola Communities of the country. It is important to remember
that this problem does not end with the propositions listed above, in fact there is need for the
development a tipically Afro-Brazilian Geography, engaged in leverage the understanding of the
territoriality of the African matrix in Brazilian space. The quilombos are structures that go beyond their
typical characteristic of resistance, these communities are materializations of the African social
organization that was constituted in the urban and rural Brazilian spaces. Thus, the enlargement of the
concept of quilombola communities is fundamental and in accordance with the present article has as
basic premise to seek an approximation of the concept of Contemporary Quilombo. In addition to
consolidating the importance of the attempt to establish a geographic characterization of the term
quilombo, emphasizing its territorial identities as well as the daily quilombola aspects, which are
important in the identification and understanding of what is the Contemporary Quilombo as an element
of a resistance in the present. To affirm only its "vestige" is to connect them with the quilombola
movement of the past and give an idea of direct derivation remanence. Contemporary communities are
not territorial remnants of the insurrectional groupings of the past. They are, in fact, unfolding of Afro-
Brazilian populations' capacity for adaptation to marginalization, which constituted African ways of life
materialized in Brazilian territory. In order to consolidate their territorial rights, these communities have
been involved in all kinds of socio-environmental conflict with groups, institutions, economic activities
and, in many cases, the State itself, namely: rural producers, industries, dams for hydroelectric plants,
security and military areas, conservation units, mining, among others. The quilombola way of life and
the quilombo's own terreiro have built territoriality conducive to the development of legitimately
sustainable environmental practices, essential for the maintenance and social reproduction of the group
and usually adverse to the activities listed above. Finally, we emphasize that the survival and
permanence of the quilombos in the Brazilian territory are fundamental elements to understand what is
to become landscapes and territories of resistance, which can express in didactic way, the territorial
conflicts in the quilombos of Brazil.
1 - Introdução
Por fim, e talvez o cerne deste artigo, proporemos, a partir dos diversos conflitos
apresentados pelos Quilombos Contemporâneos no Brasil, uma possível
configuração de territórios e paisagens de resistência, construídos dentro do conjunto
das Comunidades Quilombolas Contemporâneas do país. Além disso, se faz
necessário uma apropriação maior pela Geografia da temática afrobrasileira,
principalmente na territorialidade das manifestações africanas no território e na
paisagem brasileiros.
Dentre as diversas possibilidades que a Geografia nos apresenta para tratar tal
assunto, delimitamos, sem sermos limitantes, a construção da territorialidade como
ponto de partida para tal conceituação. Sendo assim, é possível distinguir os territórios
de acordo com agentes e sujeitos que os constroem, podemos então determinar que
o território quilombola é passível de categorização, incialmente pela auto identificação
da comunidade e, posteriormente, pelo reconhecimento por parte do Estado.
Entendemos então, que o ato do poder público de reconhecer a presença dessa
população é oficializar uma territorialidade que já estava presente e foi historicamente
construída.
Então, com a sua territorialidade pautada na relação direta com o meio que os
cercam, com suas relações sociais intermediadas pela inteiração entre os aspectos
funcionais e simbólicos do território, os Quilombos Contemporâneos consistem em
grupos que desenvolveram práticas de resistência na manutenção e reprodução de
seus modos de vida e cuja finalidade precípua é a garantia da terra e a afirmação de
uma identidade própria (ABA; ARRUTI; ANJOS, 1994, 2008, 2009).
3 - Conclusão
Entender que a matriz africana está no modo de ser e agir é um pilar para
pensarmos na construção de territórios e paisagens de resistência, como condutores
de uma Geografia Afrobrasileira. Não sabemos ainda se esse caminho, conforme
proposto, pode vir a ser um método de análise. Mas, de antemão, entendemos que a
partir dos diversos territórios e paisagens afro-brasileiras é possível construir uma
Geografia mais completa e mais próxima da sua realidade.
4 - Referências Bibliográficas
ALMEIDA, A. W. B. de Territórios Quilombolas E Conflitos: comentários sobre povos e
comunidades tradicionais atingidos por conflitos de terra e atos de violência no decorrer de 2009. In:
Cadernos de debates Nova Cartografia Social: Territórios quilombolas e
conflitos. ALMEIDA, A. W. B. (Orgs). [et al]. – Manaus: Projeto Nova Cartografia
Social da Amazônia / UEA Edições, 2010. P. 349