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REUNIR:
Revista de Administração,
Ciências Contábeis e
Sustentabilidade
www.reunir.revistas.ufcg.edu.br
ARTIGO ORIGINAL
PALAVRAS-CHAVE: Resumo: Este artigo teve como objetivo analisar como equipes de projetos desenvolvem a
Estratégia. Prática. prática da estratégia através das atividades realizadas no ambiente do trabalho . Este estudo
Estratégia como focou na percepção das pessoas e não nas organizações. Para tanto, utilizando -se de uma
prática. metodologia qualitativa, de corte transversal, anaisou através de entre vistas semi estruturdas
uma equipe de projetos vinculada a uma Universidade Federal localizada no nordeste
brasileiro. Sete membros da equipe foram entrevistados, sendo um gerente de projetos e seis
analistas. Os achados sugerem que as práricas estratégicas estão vinculadas a ferramentas de
gestão de projetos, visitas, reuniões e habilidades interpessoais, cursos e certificação. A
práxis foi entendida como a operacionalização das ferramentas através de reuniões,
encontros e planos que fazem intercessão entre as práticas e praticantes. Por fim, as
estratégias que emergem são mais significativas do que as que foram deliberadas no início do
projeto. Assim, pode-se dizer que as práticas são utilizadas como estratégias, mas as
estratégias nao são utilizadas como práticas na consecução dos objetivos.
KEYWORDS: Abstract: This article aims to analyze how project teams develop the practice of strategy
Strategy. Practice. through activities performed in the workplace. This study focused on the perception of
Strategy as practice. people rather than organizations. To this end, using a qualitative, cross-sectional
methodology, through semi-structured interviews, a project team linked to a Federal
University located in northeastern of Brazil was analyzed. Seven staff members were
interviewed, one project manager and six analysts. The findings suggest that strategic
practices are linked to project management tools, visits, meetings and interpersonal skills,
courses and certification. The praxis was understood as the operationalization of the tools
through meetings and plans that make intercession between the practices and practitioners.
Finally, emerging strategies are more significant than those that were deliberated at the
beginning of the project. Thus, it can be said that practices are used as strategies, but
strategies are not used as practices in achieving goals.
1
Submetido em: 07.08.2019. Aceite: 10.12.2019. Publicado: 25.12.2019. Responsável: Universidade Federal de Campina Grande/UACC/PROFIAP/CCJS/UFCG.
2
ORCID: 0000-0001-8375-4024, Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/UFPB), e-mail: augustofh@gmail.com
3
ORCID: 0000-0003-1401-4027, Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, e-mail: il_bertojunior@hotmail.com
4
ORCID: 0000-0001-6765-7777, Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/UFPB), e-mail: fernanda.mah@gmail.com
Prática, práxis e praticantes práxis. Dito de outra forma, segundo Jarzabkowski (2005)
são as partes direta ou indiretamente envolvidas na
A estratégia como pratica evolve formulação das estratégias.
fundamentalmente observar a estratégia sob a A práxis segundo Whittington (2006) se traduz no
ótica dos praticantes (JARZABKOWSKI, 2005). As agrupamento das ações humanas. Em outras palavras, a
dimensões confusas propostas pela autora foram conexão entre o que deliberadamente foi planejado e o
melhor categorizadas por Whittington (2006) em que emergiu na prática. Jarzabkowski, Balogun e Seidl
um modelo baseados nos conceitos de práxis, (2007) afirmam que a práxis é um conceito que pode ser
práticas e praticantes. Modelo este aceito e operacionalizado em diferentes níveis micros e dinâmicos,
difundido por Jarzabkowski, Balogun e Seidl deslocando-se fluidamente através das interações entre
(2007) conforme apresentado na figura 1. níveis. Assim, a práxis é tentativa de explicação detalhada
e profunda de como as práticas são executadas.
Com base nas argumentações neste tópico, os
níveis de práxis, práticas e praticantes foram utilizados
como unidades de análises para os achados desta pesquisa
empírica.
Aprendizagem Organizacional
A aprendizagem organizacional é fomentada pela
interação entre seus membros. De acordo com Kim (1993),
as organizações aprendem pela troca de informações
entre as pessoas. Neste aspecto, os membros da cúpula
estratégica devem observar mecanismos de aprendizagem
que funcionam para suas organizações, criando e
Figura 1 – Modelo conceitual para analise da estratégia
estimulando ambientes de parceria e desenvolvimento
como prática mútuo.
Fonte: Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007) Observa-se que os gerentes são os mediadores
entre o que se planeja e o que se executa. Pela execução
Whittington (2006) solucionou a possível de tarefas, viabilizam o planejamento estratégico da
confusão de Jarzabkowski(2005) ao traduzir os firma na qual atuam (ZAHRA; GEORGE, 2002). Estes
níveis da estratégia como prática a parir da visão profissionais precisam aprender como executar essas
dos atores (praticantes), das habilidades, técnicas tarefas estratégicas. Conforme Mintzberg et. al. (2006), o
e ferramentas (prática) e do fluxo de atividades gerente pode ser compreendido como o indivíduo que tem
situadas (práxis). A figura 1 elucida bem este a responsabilidade por uma organização ou uma unidade
pensamento, uma vez que, segundo Jarzabkowski, organizacional. O gerente desempenha um trabalho
Balogun e Seidl (2007) a estratégia compreende a marcado por pressão, mudanças, comunicação oral,
interseção entre prática, práxis e praticantes. A, orientação para solução e atividades com pessoas
B e C representam a interação e interconexão, externas, na mesma grandeza das pessoas internas a sua
segundo estes, podendo ter focos distintos organização.
dependendo do contexto e do problema Muitos gerentes não conduzem eficientemente a
pesquisado. gestão estratégica de suas firmas. Um dos fatores que
As práticas segundo Whittington (2006) parece colaborar para este fenômeno é o fato de que a
referem-se as rotinas, as ferramentas ou formas aprendizagem desses dirigentes a respeito da
de gestão ou o que é usado pelos gestores para administração estratégica não acontece da maneira
gerar a atividade. Whittington (1996) já esboçava adequada (LAVE; WENGER, 1991). A literatura acadêmica
este conceito quando elucubrou sobre a sobre este aspecto é escassa. Constata-se que pouco se
necessidade de se compreender o que as pessoas sabe a respeito da aprendizagem de gerentes em relação a
fazem e como fazem para que a empresa alcance como as estratégias são realizadas (PANTOJA, 2004).
melhor desempenho. No entanto, isto vai além da As pessoas aprendem no trabalho como resultado
identificação das práticas, mas como elas foram de treinamentos, desenvolvimento pessoal e educação
utilizadas e por que foram selecionadas. Johnson continuada. De acordo com Whittington (2006), dentro do
et al (2007) destacaram quatro práticas, a saber: ponto de vista da estratégia como prática, um tópico
1 – Procedimentos institucionalizados, uso de interessante para investigação é como são desenvolvidos
planos formais; 2 – Ferramentas para construção os praticantes da estratégia e aprendizagem. Os estudos
de estratégia como matriz SWOT; 3 – Normas ou sobre comunidades de prática, nas quais indicam que “é a
comportamentos difundidos pela organização; 4 – práxis que prepara o praticante” da estratégia
Episódios estratégicos como reuniões, momentos (WHITTINGTON, 2006, p. 626), podem auxiliar no
de confraternização, conversas informais. entendimento desta questão.
Ainda, as práticas são diversas e variáveis,
sendo combinadas e alteradas de acordo com o Percurso metodológico
uso a que se destinam para construção da
atividade (ORLIKOWSKI, 2000, TSOUKAS;CHIA, Esta pesquisa é de cunho qualitativo e adotou o
2002). método indutivo, o qual, segundo Diehl e Tatim (2006, p.
Os praticantes são os protagonistas do se 50), “considera que o conhecimento é fundamentado na
fazer estratégia. Segundo Jarzabkowski, Balogun e experiência” Esta escolha corresponde à investigação do
Seidl (2007) são os que traduzem as práticas em
do projeto, também era aproveitada pelos projetos, a experiência e aprendizagem pela prática. As
patrocinadores dos projetos como avaliação de palavras “melhores práticas” ressoavam nas faltas de
desempenho dos funcionários. todos os informantes. A adesão a ideia de que precisam,
O uso do balanced scorecard, conforme constantemente, se atualizarem e moldarem suas práticas
relatado pelos praticantes, corrobora com o que para as necessidades dos clientes exigiam em teoria, o
Whittington (1996) falava sobre como as práticas atributo de flexibilidade. Assim, o posicionamento da
empreendidas pelas pessoas, no processo de equipe da LinuxGp parece corroborar com Jarzabkowski,
realizar a estratégia, podem levar ao alcance de Balogun e Seidl (2007) ao entender que a estratégia é a
melhor desempenho. De fato, o relato do gestor interseção entre prática, práxis e praticantes. Neste
de projetos mostrou que o uso desta ferramenta sentido, são dinâmicos na consecução dos resultados de
levou um projeto específico a lucros significativos, seus projetos, não apenas se adaptando, mas,
mais pelo conhecimento tácito de um membro principalmente, buscando na experiência de sua equipe
temporário do que a própria ferramenta. No exemplos e pistas para alcance dos resultados esperados
entanto, segundo ele, o uso da ferramenta foi por aqueles que contratam seus serviços.
descontinuada ao passo que o membro que Os praticantes, segundo Jarzabkowski (2005), são
dominava a ferramenta foi desligado da empresa. os atores envolvidos no processo de se fazer estratégia. Os
Outras práticas como “visitas presenciais ambientes de projetos se caracterizam segundo Dismore
aos clientes” (A2), “reuniões por (2005) como voláteis e sujeitos a instabilidade uma vez
videoconferência” (A5), “scrum” (A1) foram que os membros podem se sentir “sem-lar”, pois
apresentadas como efetivas na elaboração da geralmente após o término do projeto, perdem seus
estratégia. As práticas apresentadas por estes empregos.
membros se caracterizam segundo Johnson et al Os informantes deste estudo, vinculados a esfera
(2007) como normas ou comportamentos pública parecem não ter o sentimento “sem lar”, ou seja,
difundidos pela organização. As visitas presenciais não vinculados a um grupo ou equipe, mas profissionais
aos clientes são realizadas para “afinar os nômades que se mudam quando o projeto é encerrado, e,
requisitos” ou “para entrega formal de produtos” portanto expuseram que muitas pessoas trabalham no
(GP). As reuniões por videoconferência são processo de fazer estratégia, a saber: “parcerias com
comuns e institucionalizadas, uma vez que a outras empresas e com instituições de ensino” (GP),
maioria dos clientes estão em países diferentes do “clientes” (A5). Estas pessoas, ou como fala Whittington
escritório da LinuxGP. Scrum, apontado por A1 é (2002) estrategistas, formam estas parceiras ou consultam
uma metodologia ágil para planejamento de os clientes para “priorização de projetos com base nos
projetos (SCHWABER, 2004) e usada para definir objetivos estratégicos” (A4), “definição do que é
as prioridades dos projetos para clientes. O importante para o cliente” (GP). As respostas para esta
gerente de projetos resume muito bem o dimensão foram mais descritivas, ou seja, apontando,
propósito das práticas na elaboração das especificamente as pessoas responsáveis pela estratégia.
estratégias “usamos para atender os requisitos dos Outra pessoa importante apontada pelo gestor de projetos
nossos clientes” (GP). foi o gestor de contratos que formula a estratégia baseada
Neste sentido, requisitos se compreende na “disponibilidade financeira”. Este, entretanto, não faz
como padrões pré-definidos pelos clientes e parte da equipe do projeto, mas membro da equipe do
traduzidos pelo escritório da LinuxGP em padrões cliente que contratou o trabalho. Destaca-se que todos os
de qualidade que precisam de coesão da equipe informantes relataram que as pessoas envolvidas, tanto
para atingir os resultados esperados. gestores quanto analistas, trabalham na formulação de
Ainda na esfera das práticas, os estratégias com o propósito de refinar o escopo
informantes apresentaram habilidades (estratégia) idealizado pelo cliente no momento inicial da
importantes: “negociação e de entender as contratação, da abertura do projeto.
estratégias e necessidades do cliente” (GP), “lidar Os informantes relacionaram a práxis com a
com conflito” (A4) e caminhos como “cursos” (A6) operacionalização das ferramentas. Estes declararam que
e “certificados” (A7) para desenvolvimento a práxis se traduz pelo “uso das ferramentas de gestão de
estratégico. Percebe-se que as habilidades projetos” (GP), “reuniões de planejamento” (A3),
apresentadas se classificam como interpessoais. “encontros pessoais com o cliente para compreender os
No entanto, a grande maioria entende que os requisitos do projeto” (A7), “construção dos planos” (GP,
caminhos empreendidos em cursos e certificados A4, A5 e A6) e “reuniões de acompanhamento” (GP e A2).
(comuns em ambiente de projetos) não qualificam Estes achados coadunam com Jarzabkowski, Balogun e
as pessoas e que apenas a exposição prática faz Seidl (2007) uma vez que entendem que a práxis é um
com que eles aprendam (GP, A1, A3, A5, A6 e A7). conceito operacionalizado em diferentes níveis micros e
Contudo, cursos que estimulam o domínio de dinâmicos, deslocando-se fluidamente através das
técnicas e ferramentas, principalmente na área de interações entre níveis.
projetos, como relatou A6, posicionam, pelo As comunidades de prática foi abordada, apenas,
menos as pessoas, no caminho de estratégias que pelo gerente de projetos, possivelmente por este ser
se vinculam mais ao desenvolvimento de certificado como gestor de projetos por um instituto
conhecimento individual em detrimento do internacional que estimula a participação em
conhecimento para a equipe. O GP se refere a comunidades profissionias na área. Segundo o gestor de
essa realidade como inerente ao ambiente de projetos, as comunidades possibilitaram “exposição a
projetos: “somos valorizados pelo que realizamos novas ferramentas de gestão de projetos”, “cases de
e principalmente pelo que acertamos”. As sucesso” e “interação com outros praticantes”. A figura 2
palavras do GP são reveladoras uma vez que apresenta um resumo dos achados.
apresenta uma prática comum aos ambientes de
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