Você está na página 1de 2

Fazer Planejamento Estratégico melhora os resultados das empresas?

Evidências de
estudos

Adaptado por Juliano Danilo Spuldaro a partir de: George, B., Walker, R. M., & Monster,
J. (2019). Does Strategic Planning Improve Organizational Performance? A Meta-
Analysis. Public Administration Review, 79(6), 810-819.

O planejamento estratégico é uma abordagem de gestão amplamente adotada nas


organizações contemporâneas. Sua popularidade está associada ao fato de ser uma
prática de sucesso em organizações públicas e privadas que tem consequências positivas
para o desempenho organizacional. Há também críticas apontando para o fato de que
o planejamento estratégico limita a criatividade do processo de pensar a estratégia das
empresas. O planejamento estratégico (PE) é frequentemente entendido como uma
abordagem para formulação de estratégias. A lógica por trás de seu funcionamento
remonta, entre outros, o modelo de estabelecimento de políticas organizacionais de
Harvard e a teoria da definição de objetivos.

Entre as características mais relevantes de um PE figuram iniciar com uma análise


estratégica, prosseguir com a identificação de questões estratégicas a partir desta
análise, depois ocupar-se de estabelecer objetivos mensuráveis e por fim possuir planos
para dar conta de tudo isso. Outra característica importante de um planejamento é ter
medidas de desempenho que sejam variadas, incluam diferentes stakeholders e, em
casos específicos como de organizações públicas, possam auferir resultados para além
da dimensão econômico financeira. Ainda, desde a crítica de Mintzberg à concepção
clássica de PE – em que o autor enfatiza o valor das estratégias emergentes – passou a
ser importante que os planos não sejam excessivamente rígidos sob pena de grande
parte importante da estratégia deixar de ser executada pelo simples fato de não ter sido
pensada durante os workshops de estratégia. Nesse sentido, é importante também
enfatizar que a realização de encontros é um importante moderador da relação entre
PE e os resultados empresariais. Nos workshops é imprescindível que haja ampla
participação dos diferentes grupos de interesse da organização, sejam eles acionistas,
dirigentes, colaboradores e até mesmo entidades externas ou clientes.

Walker e Monster (2019) identificaram em sua busca 919 estudos com potencial para
tratar da relação entre PE e o desempenho de empresas. Ao filtrar inicialmente, eles
identificaram haver 139 estudos que eram mais especificamente feitos com dados
quantitativos e descartaram estudos qualitativos, conceituais ou de revisão teórica.
Fizeram isso pois seu objetivo era utilizar das análises quantitativas de outros autores
para traçar uma relação entre PE e desempenho que fosse ampla o suficiente para ser
generalizável, mesmo que isso possa ser limitado e que a realidade das ciências sociais
nem sempre obedeça totalmente a resultados de estudos quantitativos. Ao final,
procederam a análise com 31 estudos que apresentavam 87 correlações possíveis
reunindo 20 anos de estudos.

Os resultados são bastante instigantes. Inicialmente os autores identificaram que o


planejamento formalizado, aquele que segue uma estrutura processual com análise,
debate, estabelecimento de objetivos e criação de planos de ação possui uma relevância
grande em explicar o desempenho das organizações. Ou seja, quanto mais baseado
naquilo que diz o referencial de PE, mais formalizado e mais duradouro for o processo,
maior será o impacto no desempenho. Ao mesmo tempo, os resultados da pesquisa
indicaram que quanto mais compreensivos forem o grupo que participa e o conteúdo
abordado no processo de planejamento, maior será o resultado final de sua utilização.
Entretanto, não basta incluir pessoas a esmo, é necessário qualifica-las para participar e
pensar antecipadamente como elas serão envolvidas pois isto também é relevante para
que o PE tenha maior associação com o desempenho.

Outro elemento importante destacado pelos autores em decorrência de sua análise está
relacionado à efetividade do planejamento. Os autores endossam a ideia que saber
planejar com planos claros e indicadores bem delineados, além de possuir grande
capacidade de executar os planos e alcançar metas de indicadores talvez seja a maior
característica de um planejamento que o aproxima de proporcionar desempenho
positivo às organizações.

Estes dois grupos de conclusões, segundo as evidências que os autores encontraram,


valem tanto para organizações privadas quanto para públicas, uma dimensão
importante de sua análise. Da mesma forma, os autores analisaram se o planejamento
contribui mais para o desempenho nas empresas dos EUA, já que grande parte das
práticas de PE surgiram lá, do que em outros países. Eles identificaram que não há
diferença nesse sentido, ou seja, adotar planejamento tem ligação com desempenho
positivo em todos os contextos sociopolíticos analisados.

Apesar de todos os achados positivos decorrentes do estudo e que advogam em favor


do planejamento estratégico, algumas questões ainda intrigam os autores e podem ser
terreno fértil de novas investigações no futuro. Não está perfeitamente claro para os
autores se PEs que são feitos em um momento apenas e depois executados por um
período maior são melhores do que planejamentos feitos e atualizados constantemente
ao longo de um período. Além disso, não se sabe exatamente a relevância da intuição e
da criatividade no processo de PE. Por fim, os autores chamam atenção para situações
em que o PE é requerido por órgãos de regulação, seja o contexto público ou privado.
Nessas situações o PE está associado à mais ou menos desempenho do que naquelas
que não é exigido?

Os autores, por fim, alertam que é arriscado marginalizar o PE enquanto prática de


gestão e recomendam atentar para algumas questões ao lidar ele. Para os autores,
simplesmente ter um plano não é suficiente para se dizer uma empresa que adota PE. É
importante adensar análises do ambiente e da organização. Além disso, os temas
clássicos da estratégia devem ser debatidos e analisados formando um curso de ação
claro à todos os níveis organizacionais para que, dessa forma, as decisões estejam
alinhadas e produza-se sinergia entre os níveis. Outra questão importante trazida pelos
autores é que um PE bem implementado – ou seja, aquele em que um bom percentual
dos planos é executado e uma quantia importante de metas é alcançada – não sairá de
graça. É necessário recursos para o planejamento ser feito, capacitação para as pessoas
envolvidas e monitoramento ativo. Assim, ter planejamento estratégico é importante
para o desempenho de organizações públicas e privadas, mas cabe sempre perguntar-
se o quão bem a organização está planejando. No final das contas este é o elemento
central.

Você também pode gostar