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FORMAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DA AL QEDA E A


(IM)PARCIALIDADE DA ONU

FORMATION AND CONSOLIDATION OF AL QEDA AND THE (IM) PARTIALITY OF


UN

Mateus Eduardo de Oliveira*


Yenifer Micaela Fank Barbosa**

Resumo
A Al Qaeda é uma das organizações islâmicas mais conhecidas do mundo. Originária do
Oriente Médio, na década de oitenta, o grupo continua conquistando adeptos à ideologia, pelo
mundo inteiro. Neste sentido o objetivo deste trabalho foi a análise das influencias que
levaram a criação e consolidação da Al Qaeda. Bem como, analise das normas impulsionadas
pela ONU, sobre terrorismo, para verificarmos sua (im)parcialidade em relação aos fatos.
Tendo em vista que esta perspectiva é pouco estudada, acreditamos que esta pesquisa irá
contribuir para o enriquecimento do meio acadêmico e para a fomentação novos trabalhos.
Desta forma, lançamos mão do Método Dedutivo. Assim, foi feita a análise produções
científicas que possuem perspectiva histórica da Al Qaeda e marcos normativos de Direito
Internacional. Desta maneira, o resultado foi a confirmação da hipótese levantada, qual seja,
as grandes potencias da Guerra Fria causaram interferências negativas significativas em
território Islã, o que foi maior justificador da criação e posterior consolidação da organização
terrorista. Em contra partida, a ONU mostrou-se parcial aos causadores destas ingerências,
por meio de posicionamento de total repudio aos atos de terror e vilipendia na repreensão aos
geradores de imiscuências em solo muçulmano. Assim, a presente pesquisa, atingiu os
objetivos a que se propôs.

Palavras Chave: Ingerências. Influencias. Al Qaeda. ONU

Abstract
Al Qaeda is one of the most well-known Islamic organizations in the world. Originally from
the Middle East, in the eighties, the group continues to win supporters, to ideology, all over
the world. In this sense the objective of this work was the analysis of the influences that led to
the creation and consolidation of Al Qaeda. As well as an analysis of the norms promoted by
the UN, on terrorism, to verify its (im) partiality in relation to the facts. Considering that this
perspective is little studied, we believe that this research will contribute to the enrichment of
the academic environment and to the fomentation of new works. In this way, we use the
Deductive Method. Thus, the analysis was made scientific studies that have historical
perspective of Al Qaeda and regulatory frameworks of International Law. In this way, the
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result was confirmation of the hypothesis raised, that is, the great powers of the Cold War
caused significant negative interference in Islam territory, which was the greatest justification
for the creation and subsequent consolidation of the terrorist organization. On the other hand,
the un was partial to the perpetrators of these interferences, through a position of total
repudiation of acts of terror and inert in the reprimand of generators interferences negative on
muslim soil. Thus, the present research achieved its objectives.

Key-Words: Interference. Influences. Al-Qaeda. UN

INTRODUÇÃO

A “guerra ao terror” não é um assunto novo e ganhou maior notoriedade após o


ocorrido de 11 de setembro, em Nova York. Mesmo assim, até os dias atuais não há definição
conceitual pacífica sobre o termo, ou seja, a comunidade internacional ainda não definiu
prontamente o que seria terrorismo. Isso ocorre devido ao consenso de que se trata de um
fenômeno com múltiplas faces, ou seja, tendo como motivação diversos tipos de causas
(territoriais, religiosas, etc.), consequentemente, tornando-se algo relativizado a depender da
ótica do espectador (POLLI, 2018. págs. 10 e 20).
Mesmo o ato de terror gerando grandes atrocidades, é “justificável” do ponto de vista
dos grupos que as praticam. No entanto, a ONU tem adotado, desde o início da eclosão do
dito “terrorismo Islâmico”, um posicionamento carregado de ideologias ocidentais. A questão
é que as interferências no Oriente Médio desencadearam consequências que se perduram até
os dias de hoje. O que de certa forma, é ignorado pela ONU, evidenciadas em seus marcos
normativos para “combater” o terrorismo.
Sendo assim, o presente trabalho tem como Objetivo Geral estudar as influências das
invasões efetivadas pela antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas (URSS) e os
Estados Unidos da América (EUA), na formação e consolidação da Al Qaeda e verificar a
(im)parcialidade da ONU frente a esta situação. Em seguida os objetivos específicos serão:
(1) Descrever as ingerências mais relevantes, no Oriente Médio, que levaram à criação da Al
Qaeda; (2) Listar as influências que levaram a consolidação da AL Qaeda; (3) Verificar o
posicionamento da ONU, por meio da análise de se marcos normativos, frente ao terrorismo
gerado pela Al Qaeda
O Objeto de Pesquisa é a criação e consolidação da Al Qaeda e o Problema de
Pesquisa é as influências da antiga URSS e dos EUA neste processo e a (im)parcialidade da

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ONU. Pois, em nossas pesquisas, verificamos que outros pesquisadores, como katty Cristina
Lima Sá38 e Alexandre Santos de Amorim39, já fizeram a contextualização geral do meio a
qual a Al Qaeda foi criada, bem como verificaram responsabilidade ocidental de uma maneira
geral. No entanto, ainda não foi estudado de maneira especificada, causas (que consideramos
como as mais fortes) que levaram a criação e posteriormente a consolidação da organização,
nem a análise do posicionamento da ONU, frente a esta questão especifica, qual seja, as
ingerências praticadas pelas maiores potencias da época.
Neste trabalho não estabelecemos, de maneira fechada, os limites temporais do
estudo. Pois, entendemos ser necessário analisar o contexto da Guerra fria, e do pós Guerra
Fria, até a atualidade. Então, informamos apenas que os limites temporais serão o século
passado e o atual.
Além do mais, utilizamos o Método Dedutivo de pesquisa e para fins de
conceituações, laçamos mão de produções científicas do Catalogo de Teses & Dissertações
da Capes40, do Google Acadêmico41 e do Scielo42 bem como marcos normativos de Direito
Internacional.
Neste sentido, tendo delimitado o Objeto de Pesquisa e o Problema, com a análise
das pesquisas que já foram desenvolvidas, formulamos a hipótese de que as interferências
mais drásticas no Oriente Médio foram causadas pela URSS e pelos EUA e que estas
ingerências geraram a necessidade de resposta, daí surgiu a Al Qaeda. Como complemento à
nossa hipótese, consideramos o fato de que a consolidação deste grupo terrorista se deu
devido a insistência das potencias em internalizar no oriente médio seus interesses
particulares. Consideramos ainda que a ONU, como produto do ocidente, tem se mostrado
desestimulada no combate às causas que geram terrorismo. Bem como, tem adotado
posicionamento parcial em relação ao terrorismo islâmico.

1. TERRORISMO

38
Mestranda em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
39
Mestre em Relações Internacionais: Linha de pesquisa em Política Internacional e Comparada, pela
Universidade de Brasília (UNB) - 2008
40
Refere-se ao Sitio Eletrônico: http://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/
41
Refere-se ao Sitio Eletrônico: https://scholar.google.com.br/
42
Refere-se ao Sitio Eletrônico: http://www.scielo.org/php/index.php
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Através de uma pesquisa simples, nos meios virtuais, podemos verificar que existem
diversos grupos terroristas espalhados pelo mundo e com diversos tipos de “causas”. Mas,
como já citamos anteriormente, por se tratar de algo com diversas faces não existe consenso
quanto a definição de terrorismo. No entanto, existem duas principais linhas de pensamento
que estudam o fenômeno. Qual seja, a corrente do Choque de Civilizações e a do
Multiculturalismo. A primeira, demoniza os islamismo, em que existem dois absolutos
morais, o bem ocidental e o mal islâmico (RAPOSO, 2009, p. 2).
Já a segunda, que adotamos neste trabalho, é a corrente multiculturalista, que admite
a coexistência de todas as culturas e acredita que o terrorismo islâmico é resultado da
opressão do sistema ocidentalizado de ver o mundo. Então, tratamos terrorismo como
“expressão da necessidade de afirmação política de grupos” (WELLAUSEN,2002). Visto que,
assim como outros autores multiculturalistas, entendemos que o terror nasce da quebra da
ordem dominante anterior sendo instrumento para libertação. Como dito pelo psicanalista
Dadoun, em 1993, e reforçado pelo filosofo Sally da Silva Wellausen, em 2002, o terrorismo
é utilizado como instrumento cirúrgico para a transformação de uma realidade que aflige um
povo oprimido.
Consideramos importante ressaltar que genocídio não deve ser confundido com
terrorismo pois, enquanto o primeiro traz atrocidades em massa tendo cunho de agressão e
diminuição subjetiva contra um povo, com espaço geográfico e vítimas bem definidas, e tendo
objetivos quantitativos. O segundo age de maneira objetiva, contra pessoas aleatórias, em
espaços geográficos aleatórios mantendo apenas objetivos de caráter qualitativos
(WELLAUSEN,2002).

1.1 O Islã e o Islamismo

O Islã ou muçulmanismo é uma religião antiga monoteísta, tendo como Deus Alá e
como seu profeta Maomé. Seu livro sagrado é o alcorão. Tal religião, assim como outras,
também possui subdivisões, algumas mais radicais e outras menos. Já o Islamismo, ou
“Jihad”, é um movimento político ideológico, islão e extremista. Assim, é neste ponto que
política e religião confundem-se e arrastam multidões com seus discursos. Cá iremos utilizar-
nos das palavras de Henrique Raposo para fazermos um adentro ao Islamismo, como
ideologia Política:

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A Jihad islamita que recorre ao terrorismo rasga com as regras clássicas do


islão, ou seja, os islamitas representam a negação da lei islâmica tradicional
(que impõe limites ao uso da força) [...] o jihadismo terrorista existe entre os
muçulmanos, (2009, p. 4).

Fazemos decoro às palavras de Raposo, mesmo este sendo expressamente contrário


ao multiculturalismo, pois de certa maneira, a Jihad é negação dos limites do uso da força,
violando-se assim a lei islâmica tradicional. No entanto, ela não deixa de ser um mecanismo
de luta. Portanto, se faz necessário a análise de artigos científicos, em especial com cunho
histórico para que possamos fazer a contextualização do meio à qual surgiram estas
organizações e em especial a Al Qaeda.
Neste sentido, observamos que o socialismo surgiu em 1848 e findou-se,
figurativamente, em 1989 com a queda do Muro de Berlim. Já o capitalismo moderno surgiu
no século XVIII e perdura até os dias atuais, na maior parte do planeta. Desta maneira, por
muitos anos no século passado, o mundo teria que ser “dividido”, obrigatoriamente, em dois
polos que “lutavam silenciosamente” numa corrida armamentista, tecnológica, industrial,
econômica e etc. Quais sejam, os socialistas e os capitalistas. Este período foi chamado de
Guerra fria43. Assim, com a Guerra Fria, muitas minorias em todo o mundo, foram usadas
como pretexto para ingerências de todos os tipos por Estados socialistas e capitalistas,
denominados “países do Leste” e “países do Oeste”, sucessivamente. Desta maneira, a
geopolítica do Terceiro Mundo44 foi adornada de crises trazidas por essas potencias.
Mas, com o fim da Guerra Fria, surgiram condições para o aparecimento de um
mundo multipolar surgindo novos focos de poderes. A história oferece a possibilidade de
emergência de alguns que não detinham o poder, e essas antigas relações agora possuem uma
nova maneira de serem manipuladas (WELLAUSEN,2002) e nesse contexto, o terrorismo se
mostra como uma maneira de autoafirmação.
Desta maneira, entendemos que a interferência negativa em comunidades inteiras
contribuíram para a formação de identidade de grupo oprimido. Partindo dessa premissa,
podemos refletir sobre o influxo gerado pela antiga URSS e pelos EUA no oriente médio.
Neste sentido o filosofo Wellausen, citando DADOUND, afirma:

43
Termo utilizado para definir o período de conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, de
1946 a 1989 (ALCADIPANI; BERTERO, 2012, p.285 e 288)
44
Termo utilizado para definir países subdesenvolvidos e neutros na Guerra Fria, que “fazem reinvindicações
revolucionárias em nome da justiça” (BOSC, 1967, p. 26)
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Antes de ser causa da violência, os terroristas se percebem e se designam


como produto de uma violência antecedente: dominação política, colonial,
exploração econômica, opressão social, etc. Sempre uma violência anterior
legitima uma violência ulterior (DADOUN, 1993, apud
WELLAUSEN,2002, p.90)

Então, para além das críticas aos grupos terroristas, devemos entender que os
envolvidos nesta pratica se perceberam, antes, como frutos de uma violação que legitima uma
violência posterior contra seu agressor.
Neste sentido o terrorismo foi, por muito tempo, voltado ao combate de alguns
“colonizadores” europeus (França e Reino Unido) que faziam parte da aliança de vencedores
da primeira Guerra Mundial. Posteriormente, o terrorismo foi arma contra os governos
nacionais além da manifestação de resistência política e a intenção de implementação de um
Estado Islâmico, o chamado Ummah (AMORIM, 2008, p. 09). Contudo, com o advento das
ingerências das grandes potências mundiais na Guerra Fria, e ainda, a incapacidade das
ideologias seculares em resolver as crises socioeconômicas regionais, surgiram nas décadas
de 1970 e 1980 as primeiros grupos Islâmicos ativistas (SÁ, 2017).
Tais especificações foram superadas e, agora, com o acúmulo de ressentimentos,
conforme demonstramos posteriormente, vemo-nos frente a praticas terroristas de alcance
global. Pois, agora, os Islâmicos acreditam que é obrigatório que todos os muçulmanos
lutem para expulsar os ocidentais da “terra do Islã” (SÁ, 2017).

2. AS INFLUENCIAS QUE LEVARAM A CRIAÇÃO DA AL QEDA

Não estamos, aqui, defendendo a criação da Al Qaeda. Nem mesmo, defendendo a


legitimidade de representação, da organização, frente a todos os mulçumanos. Na verdade, o
que se faz essencial para entendermos esta organização é aceitar que houveram interferências
externas negativas e drásticas. Que, essas interferências levaram determinado número de
indivíduos a se identificarem como lesados, se reunirem e se organizarem para defender sua
ideologia da maneira que era possível, no momento, contra lesões causadas em especial pelas
grandes potencias da época conforme será analisado adiante.
Desta forma, neste tópico iremos buscar cumprir com o primeiro objetivos especifico
da pesquisa, qual seja, descrever as ingerências mais relevantes no Oriente Médio que
levaram à criação da Al Qaeda.

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2.1 A Invasão Russa ao Afeganistão

Ao final da Segunda Guerra Mundial o Afeganistão buscava reestruturar seu Estado.


Para patrocinar essa melhora, no Estado Afegão, foi necessário buscar apoio nas duas maiores
potências da época, que protagonizavam a Guerra Fria. Assim, a URSS enxergou no
Afeganistão uma ótima oportunidade de expandir a União Soviética. Com isso a URSS
investiu no país, principalmente nos campos financeiro e militar.
Após um período de grande apoio soviético, de meados da década de cinquenta até o
fim da década de setenta, o Afeganistão se encontrou em uma crise turbulenta, em um cenário
político que envolvia os prós–Soviéticos, prós–Islâmicos e o Partido Democrático Afegão
(PDPA). Desse modo, aproveitando o momento de turbulência, em 1973 ocorre um golpe de
Estado, com o Ministro Mohammad Daoud chegando ao poder e instaurando a República
Afegã. (RIEGERYVES e TEIXEIRA,2013).
Com o desenvolvimento do governo de Daoud, entre 1973 até o dia da sua morte em
1978, o governante começa buscar independência financeira da URSS, adotando algumas
medidas contrárias aos interesses soviéticos. Isso cominou na desconfiança da URSS em
relação ao governo do Afeganistão e no repúdio da sociedade. Como ilustra Andrew Patrick
Traumann e Marina Portela Kaminski:

Em 1978, após o assassinato de um líder comunista, houve uma


manifestação de 15 mil pessoas contra o governo do Primeiro-Ministro
Mohammed Daoud. Ele era visto como um lacaio soviético pelo Ocidente e
vinha implementando suas políticas brutalmente, o que gerou insatisfação da
emergente elite afegã, estagnação econômica e superlotação nos presídios.
Sua resposta violenta à manifestação levou ao sítio de seu palácio e posterior
morte dele e de sua família (2016, p.06)

Conforme citado, ficou demonstrado a força do repúdio social ao governo de Daoud


e também a influência que a URSS emanava sobre o território Afegão, levou o governante
Daoud à morte.
Assim com a morte de Daoud, houve o fortalecimento dos laços do Afeganistão com
a URSS. O que resultou na proclamação da República Democrática do Afeganistão, sendo o
militar Hafizullah Amin escolhido para liderar tal governo, resultado da aliança soviética com
o Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA).

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Mas, após um ano do Governo de Amin, o governo da URSS decide invadir o


Afeganistão, por: (I)não confiar em Amin; (II)não confiar nas leis Islâmica; (III) visando
defender o enorme investimento realizado nos últimos anos. Assim, o exército vermelho
invade o Afeganistão em 25 de Dezembro de 1979, criando um enorme alvoroço no cenário
da política internacional (RIEGER e TEIXEIRA, 2013)
Assim, podemos verificar que, não bastasse a evidente coisificação do povo afegão
por meio de infinitas manipulações no governo do pais e demasiadas infringências contra a
soberania daquele Estado. A URSS ainda entendia-se no direito de invasão militar quando
tinha seus interesses contrariados.
Desta forma, com a invasão russa, houve resistência Afegã, com a criação de um
grupo de resistência que foi chamado de Mujahedin45. Assim, os EUA enxergou uma
oportunidade de movimentar-se. Medidas foram tomadas e, uma das principais, foi o
patrocínio e treinamento da resistência pela tropa americana aos guerrilheiros Mujahedin. O
nobre Bin Laden, também auxiliou a campanha Mujahedin com grandes doações em dinheiro.
Em 1984, Bin Laden e Abdullah Azzam criaram o “Birô de Serviços” para
Mujahedin Árabes”, sediado no Paquistão, com função de servir como caixa de pensões, além
de oferecer treinamento tático aos ingressos. Então, foram criados vários campos de
treinamento no Afeganistão e um sistema financeiro próprio, baseado em uma ampla rede de
contatos (SÁ, 2017)
Mesmo com o auxílio financeiros de nobres como Bin Laden e Abdullah Azzam, o
apoio dos EUA à resistência foi de suma importância para a derrota da URSS. Então, por
meio do acordo de Genebra, a antiga URSS faz sua retirada em duas etapas: a primeira em
1988 e, a segunda, em 15 de fevereiro de 1989. Tal retirada, que deixou muitos mortos nos
confrontos entre os guerreiros Mujahedin e o exército soviético, marcou o desfecho da
invasão e o começo da queda da URSS. (FIVECOT, 2012, p. 57 e 58).
Finalizada a guerra, os mujahedin retornaram aos seus respectivos países, mas não
foram bem-recebidos devido ao temor deste de que incitassem uma revolução com o que foi
aprendido na guerra do Afeganistão. Enquanto isso, Bin Laden e Azzam, animados com
vitória afegã, acreditavam que o grupo criado em 1979 deveria continuar existindo “até que
todos os regimes seculares do mundo islâmico fossem destituídos do poder em prol de um

45
Termo no plural, utilizado para definir combatentes da Jihad, da “guerra santa” (BROTAS, 2006, p.14)
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novo Califado que abrigasse a todos os mulçumanos” (SÁ, 2017). Assim, as estruturas do
“Birô de Serviço” foram adaptadas para uma nova missão. Era criada então, a Al- Qaeda.

2.2 A criação da Al Qaeda

Foi durante os dois anos da retirada46 da URSS do território Afegão que surgiu o
grupo de resistência “Al-Qaeda”, que em tradução para o português significa “A base”, criado
por Osama Bin Laden, Ayaman al-Zawahiri e Abdullah Azzam. Neste sentido, a Al Qaeda foi
criada para livrar o mundo islâmico dos maus do ocidente e restabelecer o poder da califa, ou
seja, o poder mulçumano (SÁ, 2017) criando uma única nação dirigida pela Sharia47. A
organização combate aquilo que considera como “governos árabes corruptos ou anti-
islâmicos” por meio de uma “guerra santa” tem nível global para derrotar tanto os governos
em questão quanto os seus aliados.
Os fundadores da Al Qaeda, e posteriormente os adeptos de sua ideologia,
acreditavam que o ocidente cometia um grande desrespeito ao intrometer-se em território Islã
e tentar impor seus princípios. Ou seja, “A Base” foi um fruto de uma geopolítica bipolar
gerada pela Guerra Fria. Onde, as grandes potências da época aparentemente não se
importaram com o respeito a questões subjetivas daquele povo, tal como território, economia
e crenças.
Assim, conforme Héctor Luis Saint-Pierre, qualquer exército comum é impotente
frente a uma superpotência. A partir disso restam então apenas duas opções: a primeira é a
utilização de armamento nuclear, que está fora de cogitação para países subdesenvolvido e a
segunda que é a guerra assimétrica, ou seja, as táticas de guerrilha e as ações terroristas. Neste
sentido, o filosofo fala sobre a simplicidade operativa e o baixo custo das ações terroristas,
quando comparadas com uma guerra nuclear:

[...]as ações terroristas, pela sua simplicidade operativa, baixo custo, efeito
devastador, potencial comunicativo e facilidade de internacionalização,
torna-se uma alternativa tentadora para manifestar o ódio por parte de grupos
fanáticos ou de expressão bélica legítima para grupos oprimidos ou regiões
militarmente invadidas. (2015, pg. 12)

46
Entre o ano de 1988 e 1989
47
Termo recorrentemente utilizado para referir-se à leis islâmicas (SÁ, 2017)
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A lesão gera ódio, e conforme citado, o terror torna-se uma alternativa tentadora, o
que também ocorreu com a Al Qaeda que hoje, é a organização fundamentalista48 Islâmica
mais conhecida do mundo.
Desta maneira, conforme descrito por Marielle Polli, a Al Qaeda propôs três
principais objetivos, sendo que o primeiro era ser e causar o terrorismo, propriamente. O
segundo, era agir como um organizador, recrutador e provedor logístico para outros
muçulmanos militantes dando-lhes respaldo à lutar para além do Afeganistão. Por último, o
terceiro objetivo, e mais importante, era o de vanguarda, resistência, unificação e liderança do
movimento jihadista (GOMES e MIKHAEL, 2018, p. 12, apud POLLI, p. 51). Assim,
percebemos então que, a Al Qaeda iniciou-se com propósitos para além de um limitado grupo
terrorista. Sendo, na verdade, uma organização complexa, resistência do movimento jihadista,
por todo o mundo.

3. AS INFLUENCIAS QUE LEVARAM A CONSOLIDAÇÃO DA AL QAEDA

Entendemos que diversos motivos levaram a consolidação da Al Qaeda mas, foi em


especial as ingerências de grandes potencias da época que geraram esta consequência. Não
pretendemos ignorar os períodos de dominação ocidental do europeia. Nem pretendemos
eximir países europeus, de suas responsabilidades com práticas desrespeitosas ou invasivas
(como Espanha e França) em territórios do islã, nem ignorar os auxílios militares por eles
prestados aos EUA por diversas vezes. Também, não pretendemos desconsiderar fatores
estritamente particulares, subjetivos e internos do Oriente Médio.
No entanto, iremos nos limitar a discussão e desenvolvimentos dos objetivos
elegidos. Qual seja, nos limitar ao estudo das influencias geradas pela antiga URSS e os EUA.
Neste sentido, conforme o que foi estudado, acreditamos que os motivos que levaram a
consolidação da Al Qaeda foram as consideráveis expansões que o grupo conquistou através
de muitos adeptos movidos pelo sentimento de repulsa e revolta contra imiscuências
ocidentais, em especial norte americanas, em território muçulmano.
Desta forma, neste tópico buscaremos o cumprimento do segundo objetivo especifico
deste trabalho, qual seja, listar as influências que levaram à consolidação da AL Qaeda.

48
“Designa-se assim todo e qualquer movimento religioso que tende a interpretar a realidade de hoje através dos
olhos de antigos preceitos religiosos e que renega os valores da modernidade” (SCHILLING, 2006, p. 175-176)
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3.1 A permanência de Tropas Americanas em Solo Sagrado

Em 1990, as tropas iraquianas, comandadas pelo ditador Saddam Hussein, invadiram


o Kuwait para tomar os poços de petróleo existentes ali, além da eminente ameaça de tomada
dos poços de petróleo da Arábia Saudita, vizinha do Kuwait. Foi então que a ONU autorizou e
apoiou os EUA a liderar tropas da Inglaterra, França, Egito, Síria, Arábia Saudita para
intervirem e expulsarem os iraquianos. Assim, a interdição ocorreu no Kuwait e na Arábia.
Essa operação ficou conhecida como a “Guerra do Golfo” ou “Operação Tempestade no
Deserto”.
A questão é que, na Arábia Saudita fica a cidade de Meca, que é considerada a
capital mundial do Islamismo, ou seja, a cidade mais sagrada do mundo para os Mulçumanos.
Devido a isso, Bim Laden exigiu ao rei da Arábia Saudita que o território fosse defendido
somente por mulçumanos. O rei não deu importância e foi alvo de muita criticas por Bim
Laden, fato esse que desencadeou no rompimento entre Bin Laden e a família real árabe e sua
ida para o Sudão, na África. Neste sentido, a mestranda Katty Cristina Lima Sá:

Esse acontecimento teve significado pessoal para o jihadista, pois em sua


visão, aquilo era uma nova invasão de “infiéis”. Desta vez com um
agravante: o alvo foi não sua terra natal como também o solo sagrado do
Islã, uma vez que a Arábia Saudita abriga as cidades de Meca e Medina,
onde o profeta nasceu e iniciou a comunidade muçulmana, respectivamente
(2017, p. 86)

Conforme citado, a ocupação e permanência de soldados americanos em solo Árabe


foi entendido, pelos jihadistas, como uma ofensa pessoal pois consideram aquele solo algo
sagrado. Além disto, Bin Laden considerou ainda que, os EUA eram suporte para a existência
de todos os regimes ditatoriais do Oriente Médio (SÁ, 2017) além de possuir a intenção final
de transformar a Arábia numa colônia norte-americana.
Com Bin Laden, para o Sudão, foram outros Jihadistas e lá se aliaram a outros
extremistas. O grupo se reorganizou, muitas pessoas foram recrutadas e treinadas. Então, foi
iniciado vários ataques contra alvos militares norte-americanos, em território Islã. Mas, após
cinco anos no Sudão, Bin Laden teve seus direitos políticos cassados pelo Sudão, por pressão
dos EUA. Assim, a base de operações precisou ser transferida, e como a situação no
Afeganistão havia se estabilizado, a Al Qaeda mudou-se para o Afeganistão.

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De 1996 a 1998 Bin Laden, aliado a outros líderes Islâmicos radicais emitiu dois
decretos Islâmicos declarando guerra aos EUA. No primeiro, era exigido que as tropas
americanas abandonassem o solo sagrado, e caso isto não ocorresse, ordenaria que as bases
americanas em solo islã fosse atacadas. Como esperado, os EUA não se retirou do Oriente
Médio, o que marcou publicamente a guerra islâmica contra a potência ocidental. Já no
segundo pronunciamento, foi autorizado aos mulçumanos do mundo inteiro a morte de
qualquer americano e Judeu que encontrassem. Neste sentido, as palavras da autora Katty
Cristina Lima Sá:

Em 1998, uma nova declaração de Bin Laden foi lançada, desta vez com
mais doze signatários. O documento intitulado “Frente Islâmica Mundial
para Jihad contra os Judeus e os Cruzados” é mais sucinto que seu
antecedente e, para Ewin Bakker e Leen Boer XXII, marcou o momento em
que a Al-Qaeda consolidou sua aliança com grupos extremistas islâmicos em
vários países e assumiu o caráter de rede internacional. (2017, Pg. 87)

Conforme citado, este segundo pronunciamento consolidou a aliança entre grupos


islâmicos no mundo inteiro contra os judeus e os norte-americanos. Estas alianças se deram
devido ao sentimento islâmico geral de invasão e desrespeito norte-americano em território
islã. Surgia então, um terrorismo islâmico que ultrapassaram as fronteiras do Islã tomando
proporções globais (AMORIM, 2008, pág. 09)
Foi então que em 7 de agosto de 1998 a AL Qaeda atacou duas embaixadas
americanas, a primeira no Quênia e a segunda na Tanzânia (ambos em África). Daí,
posteriormente, em 11 de setembro de 2001, o mundo presenciou ao maior ataque terrorista
contra os EUA (em solo americano). Foi aí que a Al Qaeda tornou-se conhecida
mundialmente.

3.2 A consolidação da Al Qaeda

A consolidação da organização terrorista, se deu principalmente devido a sua


expansão. Neste sentido, é necessário uma recapitular alguns fatos, e considerarmos outros,
para entendermos esse processo. Pois, a expansão deste tipo de grupo, conforme Walleusen,
dá-se devido a fatores que levam diversas pessoas a se identificarem como grupo oprimido e
identificarem outras pessoas em situação semelhante.
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Neste sentido, entendemos que a soma de vários fatores contribuíram para esta
expansão, sendo elas (I) a permanência de soldados americanos na terra santa; (II) os
embargos comerciais sofridos pelo Iraque; (III) sofrimentos de muçulmanos no conflito Israel
x Palestina.
Assim, como já mencionamos, à partir da ocupação da considerada terra santa que a
Al Qaeda iniciou a inimizade com os Estados Unidos. Segundo Sá, tal acontecimento é de
fundamental importância. Pois, foi após o rompimento dos laços com Arábia Saudita, que Bin
Laden se deslocou para o Sudão e depois para o Afeganistão encontrando em seu caminho
mais e mais adeptos a suas ideias, aumentando então o poder do grupo por criar novas
conexões poderosas.
Além disto, como o Iraque cometeu a invasão, já mencionada, aos poços de petróleo
ao Kuwait, acabou posteriormente por sofrer diversos embargos comerciais e passar terríveis
crises econômicas o que causava sentimento de injustiça em alguns grupos iranianos que
acabaram também por se aliar a Al Qaeda, expandindo-se em número humano e poder
financeiro.
Somando-se ao descrito, o conflito entre palestinos (islãs) e israelenses (judeus)
também foi de extrema importância para a consolidação da Al Qaeda. Pois, de maneira
sucinta, após a Segunda Guerra Mundial, devido ao grande genocídio ocorrido contra judeus,
com a criação da ONU foi decidido que o território seria dividido entre islãs e judeus.
Posteriormente, Israel conquistou, por meios não pacíficos, mais territórios além de sua
“parte” anteriormente reconhecida, expulsando muitos muçulmanos que habitavam ali, o que
gerou grande número de refugiados muçulmanos a chamada de “Faixa de Gaza”. Além disto,
os EUA, desde o início da guerra por territórios, viu em Israel uma porta de entrada ao
Oriente Médio e apoiou suas lutas. Foi aí que a Al Qaeda também elegeu como grande
inimigo o povo de Israel (povo Judeu) por cometer violações contra muçulmanos e aliar-se
aos EUA. Então, além das diferenças religiosas e ideológicas, entre palestinos e israelenses, a
Al Qaeda se expandiu conquistando mais adeptos devido ao ódio de muitos palestinos contra
invasões territoriais praticadas por Israel e apoiadas pelos EUA.

4. A (IM)PARCIALIDADE DA ONU FRENTE A AL QAEDA

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Em consonância com o que já expusemos acima, o propósito deste tópico é cumprir com
o ultimo objetivo especifico desta pesquisa, ou seja, verificar o posicionamento da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre as imiscuências que levaram à criação e
consolidação da Al Qaeda. Para tanto, é necessário analisarmos os documentos e
pronunciamentos adotados por esta, frente a este cenário. Para então, fazermos a análise do
seu posicionamento.
Assim, verificamos que trata-se de um cenário histórico, social, econômico e
religioso complexo, onde um grupo oprimido viu como única saída para serem “ouvidos” a
violência e o terror, descartando quaisquer outras formas de solução de conflitos. Para tanto,
espera-se dentro dos princípios adotados pelas Nações Unidas, uma atitude amadurecida de
repudio a estes atos, bem como a expressa desaprovação dos geradores das causas que
levaram a criação e consolidação da Al Qaeda. Mas, isto não ocorreu.
Fato é que, a ONU condenou veementemente os atos terroristas praticados por este
grupo, todas as vezes, pronunciando-se expressamente e adotando uma vasta rede de medidas
normativas no combate ao terrorismo por meio de Convenções, Declarações e Resoluções da
Assembleia Geral ( em 1994 ;em 1996; em 2002 nº 5783;e em 2005) assim como por meio de
Resoluções do Conselho de Segurança (em 2001, nº1373; em 2004, nº 1540, ) e Resoluções
do Comitê Antiterrorismo (em 2001, nº1373 e em 2005 nº 1624) e outros. (ONU Brasil,
2018).
Desta forma, conseguimos observar que, a ONU atentou-se basicamente a quatro
objetivos relacionamos ao terrorismo: Em primeiro lugar à troca de informações entre Estados
para detectar, desmontar e processar redes terroristas. Em segundo lugar, no trabalho para o
auxílio de países afetados pelo terrorismo. Em terceiro lugar, tratar das ameaças impostas
pelos terroristas. E por último, na prevenção do terrorismo, que limita-se tão somente à
prevenção ao recrutamento (GUTERRES, 2018)
No entanto, quando se diz respeito ao combate as causa que geram grupos terroristas,
em especial na repreensão expressa às ingerências ocidentalizadas em solo muçulmano,
verificamos que a ONU manteve-se e mantêm-se limitada apenas à recomendações e
desaprovações simplistas ou pronunciamentos pela pacificação. Mas, nada que chegue a
caracterizar-se como luta pela autonomia do Oriente Médio.
Entendemos, assim como o Doutor José Carlos de Magalhães, que isto ocorre devido
a ocidentalização da ONU de maneira reconhecida, liderada pelos EUA. Assim, legitimado

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pelo poder que possui dentro da organização, lhe conferido através da vitória na Segunda
Guerra Mundial, os EUA reproduz predominantemente seus valores nas tomadas de decisões
(MAGALHÃES,1995). Desta maneira, confundindo-se no mesmo sujeito49 o interessado na
eliminação do terrorismo islâmico e a organização, que em tese, seria mediadora de conflitos.
Demonstrando-se assim, a nítida imparcialidade da organização em relação ao terrorismo
islâmico.
Então, podemos observar que, a ONU assim como o restante da comunidade
internacional entende limitadamente que o terrorismo islâmico é uma manifestação religiosa
extremista e que, os atos de terror praticado jamais podem ser tolerados em detrimento das
ideologias radicais. No entanto, as questões sócio-políticas do discurso dos extremistas da Al
Qaeda, são recorrentemente vilipendiadas.
Isto ocorre, segundo Antônio Marcos Pereira Brotas50 através de um fenômeno
chamado de “orientalismo”, que são as ideias disseminadas sobre o Oriente Médio tidas, após
anos de propagação de estereótipos, como verdades irrefutáveis. Nas palavras do autor:

[...]través de ideias, formulações científicas, literatura, estereótipos e


representações, como um lugar misterioso, selvagem, bárbaro, onde impera o
atraso e a irracionalidade. Um lugar completamente oposto ao racional,
naturalmente lógico e virtuoso Ocidente. Esta dicotomia simplista Oriente X
Ocidente, [...]coloca o oriental numa posição inferiorizante, que detesta a
democracia e a liberdade, prefere o uso da força, da barbárie, do terrorismo,
estimulados por uma religião machista e totalitária (2006, p.2)

Desta forma, o autor explica que através de estereótipos e representações do Oriente,


enxergamos um lugar selvagem e oposto ao bem ocidental. Assim, simplificamos aquele
como um lugar inferior, antidemocrático e predominado pelo terror e barbárie. Desta maneira,
desconsideramos todas as violações sofridas por aquele povo durante muitos anos, que
levaram a uma forma não convencional de luta e resistência.

CONCLUSÃO

Por se tratar de um fenômeno multifacetário, o terrorismo ainda não possui uma


definição pacifica. Assim, neste trabalho, adotamos a corrente multiculturalista que acredita
que o terrorismo é a expressão da necessidade de afirmação política de grupos. Sendo que,

49
No sentido de sujeito de Direito internacional
50
Doutor Multidisciplinar em cultura e Sociedade
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em se tratando do grupo terrorista Al Qaeda, foi necessário a analise dos processos que
levaram a criação e consolidação deste.
Neste sentido, verificamos que a Al Qaeda é fruto da Guerra Fria, pois em meio a
corrida armamentista, tecnológica, industrial, econômica e etc, os EUA e a URSS
disputavam em um cenário geopolítico a influência em determinados territórios.Assim, em
um recorte distante da cultura ocidental, o Afeganistão foi vítima dessa disputa. Com isso Al
Qaeda surge com a justificativa de luta, em nome dos oprimidos, independente dos meios.
Defendendo primeiramente o país da invasão da URSS e posteriormente, os ideais
mulçumanos de linha jihadista em escala global.
Já a consolidação da Al Qeda deu-se, em especial, devido as ingerencias norte
americanas em diversas questões internas do Oriente Médio, como da Arabia Saudita e
Kuwait, Palestina e Israel entre outros. Gerando assim, a expansão do grupo terrorista, por
conquistar muitos adeptos ao posicionamento anti-EUA. Adeptos estes que, foram gerados
pela identificação de grupo oprimido, num contexto de desrespeito a autonomia do Oriente
Médio, com ingerencias territoriais e politicas, bem como a introdução despreparada
politicas ocidentalizadas em territorio islã. O que gerou grandes prejuizos humanitários para
o mundo, em decorrencia da formação e consolidação desta organização terrorista tão
poderosa com adeptos organizados e fieis, espalhados pelo mundo inteiro.
Em contrapartida a ONU mostrou, no decorrer dos anos, o total repudio aos atos de
terror e vilipendia (ou pouca expressão) quando trata-se de ingerencias das potencias da
Guerra Fria em território islã. Isto ocorreu, e ocorre, devido à grande influencia norte
americana nas Nações Unidas. Confundindo-se assim, os interesses dos EUA e da ONU na
“resolução” do fenomeno terrorismo. O que demonstrou nitida parcialidade da organização,
que é essencialmente fundada em valores ocidentais.
Diante do exposto, resta evidente que o presente trabalho alcançou os objetivos a
qual se propos. No entanto acreditamos, por ora, na impossibilidade de esgotamento da
análise sobre o tema devido sua considerável complexidade e amplitude.

REFERENCIAS

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