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RESUMO

O presente pré-projeto visa demonstrar e analisar a securitização massiva e o


estabelecimento da guerra ao terror após os ataques do 11 de Setembro, visando tais análises
sob a ótica de Edward Said acerca de sua obra intitulada ‘’Orientalismo’’, através de um viés
crítico acerca da temática que permeia os aspectos que constituem estabelecida guerra ao
terror e como isso se configura. De forma crítica iremos analisar de como aplica-se o termo
‘’terrorista’’, e quais problemáticas existem acerca da institucionalização e opressões contra
determinados grupos identitários não ocidentais. O termo que por sua vez, visa a favorecer e
legitimar ataques contra diversas etnias como, por exemplo, árabes e muçulmanos - entre
outros -, considerando os mesmos como perigos iminentes contra o Estado, que por sua vez,
extermina esses povos considerados ‘’não ocidentais’’, sob o argumento de que os mesmos
cometem atos terroristas contra os Estados, além de compreender, porque a invasão estatal
contra tais territórios considerados como fontes de terroristas, não são considerados como
atos de terror? e por sua vez, possuem aparato e legitimação para ataques e bombardeamentos
frequentes contra estes países do Oriente Médio.

INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O conhecido termo ‘’terrorista’’, apesar de consistir em inúmeras definições acerca de
seu conceito, de acordo com Reginaldo Nasser, é o seguinte:

“o terrorismo é um método psicológico inspirador de repetidas ações violentas,


empregado por indivíduos, grupos organizados ou Estados [...] por razões políticas,
segundo as quais, ao contrário do assassinato, os alvos diretos da violência não são
as principais metas. As vítimas, são geralmente escolhidas ao acaso ou de forma
seletiva, como alvos simbólicos de uma população” (NASSER, 2011).

No entanto, o termo disseminado e como conhecemos atualmente é totalmente


enviesada a partir da construção delimitada pelos Estados Unidos. Essa onda se inicia nos
anos 1990 e permeia até hoje, sabe-se que o intuito político adotado ao delimitar uma nova
roupagem ao termo ‘’terrorista’’, possui caráter transnacional, religioso, regional e emprega
atores não-estatais (NASSER, 2014). É nesse período que existe a popularização de um
‘’novo terrorismo, majoritariamente carcterizado por elementos religiosos, onde dá-se o
ínicio de discussões acerca de grupos islâmicos, como Talibã e Al Qeda.
Saint-Pierre argumenta que o conceito ‘’terrorismo’’, advém da subjetificação e juízo
de valor negativo, ainda de acordo com o autor, a definição utilizada atualmrntr serve para
desumanizar adversários políticos. Determinada construção de identidade para o termo, tem
como objetivo compreender a construção da imagem das populações orientais, e por fim
analisar como essa ameaça gira securitária gira em torno do mundo ocidental. Para ancorar
determinada problemática apontada, utilizaremos o autor palestino Edward Said, com sua
obra “Orientalismo - Oriente como invenção do Ocidente”, de 1978.
O acadêmico, além de ativista político, levanta a questão entre o Oriente e Ocidente,
onde o autor elucida a relação de poder dominação, que foram representações e ideias criadas
pelo homem. Enquanto o Ocidente é visto como ‘’civilizado’’, ‘’moderno’’, ‘’democrático’’,
o Oriente em tese representa adjetivos contrários e constitui-se a ideia precisar ser orientado e
civilizado.
Após a Guerra Fria, determinou o novo ator hegemônico do Sistema Internacional, os
Estados Unidos após diversos conflitos bélicos dominou o status quo e se tornou a potência
hegemônica do mundo. Uma série de eventos foram responsáveis pela nova ordem mundial,
com a ascensão dos EUA no cenário internacional, houve o controle do Oriente.
Em seguida ocorre o advento do 11 de Setembro, como citado o Orientalismo já
estava estabelecido, com o atentado os Estados Unidos obtiveram o argumento perfeito para
massificar a securitização do terrorismo e assim criar a Guerra ao Terror (FAWCETT, 2013,
p.328). Bush não exitou ao generalizar todos os países árabes e organizações terroristas.
Houve a construção da imagem de um inimigo global - também se utilizou de princípios
como democracia, religião, liberdade, etc (STEUTER; WILLS, 2011).
Ao inserir a Guerra ao Terror e o terrorismo dentro da agenda de segurança
internacional, o presidente Bush, reforça e busca delimitar as diferenças entre o Ocidente e o
Oriente (SILKE, 2009). O discurso orientalista empregados por Bush, definiu uma concepção
identitária coletiva que não apenas era uma ameaça aos Estados Unidos, mas que também era
um perigo para todo o Sistema Internacional, legitimando assim o processo maciço de
securitização contra diversos países do Oriente Médio.

PERGUNTA DE PESQUISA
A problemática a ser discutida é: O que configura um crime tradicional como o ataque
de Columbine para um ataque terrorista? As motivações para classificação é de qual
determinado aspecto político e religioso?
Para delimitar esta pesquisa, algumas questões que irão nortear e delimitar o escopo:
Quais são as características que define essa nova ameaça chamada de terrorismo
contenporâneo? As ações partindo de Estados podem ser consideradas como ameaças
terroristas?

HIPÓTESES
Para delimitar a pesquisa, parte-se das seguintes hipóteses:
Hipótese 1: Ainda existe uma lógica de que o ato terrorista predispõe de uma característica
limitada pela região do Oriente Médio e determinadas características são de um ponto de
vista ocidenta que considera o Oriente como “bárbaro e exótico”, de acordo com Said.
Hipótese 2: A hipótese de que a agenda de segurança internacional sofreu alterações após os
atentados de 2001 nos EUA, pois a questão tornou-se um problema político e militar,
alterando a ordem mundial vigente.
Hipótese 3: Atos classificados como terrorismo não podem ser aplicados a atores Estatais.

OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS


O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar como configura-se atualmente o
termo atualmente e quais são as motivações para tal terminologia e qual construção
ideológica permeia determinada predisposição. A partir da ótica do Orientalismo, analisar tais
preceitos a partir de uma análise crítica. Por se tratar de um amplo conceito, o trabalho irá
analisar os conceitos e estratégias antiterroristas através da Organização das Nações Unidas
(ONU) e pelos Estados Unidos da América (EUA). Dentre os objetivos específicos estão:
A) Compreender as condições que são adjacentes a essa promoção de guerra ao terror
para região, gerando ainda mais extremismo, desigualdades, pobreza e repressão;
B) A conceituação de Terrorismo através de uma revisão bibliográfica
C) Analisar as medidas Contraterroristas adotadas por Organizações e Estados
D) Compreender como a ideia estadunidense de superioridade e necessidade de
higienizar tais povos que por eles estarem em um papel de barbárie social, que parte
de uma concepção etnocêntrica e ocidentalista, além de ser uma postura colonizadora.
REFERENCIAL TEÓRICO E REVISÃO DE LITERATURA
Com o objetivo de analisar a construção imagética das populações árabes e
muçulmanas e como tais são objetificadas como terroristas segundo o mundo ocidental, esse
trabalho irá se ancorar na obra conhecida do autor palestino Edward Said ‘’Orientalismo -
Oriente como invenção do Ocidente’’, de 1978. Onde em sua obra, o autor argumenta como a
relação entre Oriente e Ocidente se constrói em uma relação de poder e dominação, tais ideias
como ‘’terrorismo’’ advém de representações construídas através do Ocidente. De acordo
com o autor, o termo Orientalismo está ligado a uma visão colonialista, que por sua vez,
permite que a cultura europeia consiga perpetuar e dominar o Oriente seja de forma
ideológica entre outras (SAID, 2003).
Além de ancorar-se na tese de Nasser (2021), de que a estratégia política de Bush
permitiu que posteriormente aos ataques de 11 de setembro, utilizassem força militar para
capturar e destruir grupos terroristas.
Para contribuir teoricamente a construção do presente pré-projeto, também iremos
utilizar a clássica Escola de Copenhague, que contribuiu teoricamente a chamada Teoria da
Securitização, juntos aos clássicos autores de Segurança Internacional (SI), para compreender
como esse processo tornou-se um problema de segurança, haja vista que o processo consiste
na clássica ‘’ameaça’’ e ‘’sobrevivência. Trazendo também para além dos autores
supracitados, os autores construtivistas, como por exemplo, Barry Buzan, que em sua obra
intitulada ‘’The evolution of International Security Studies’’, onde em seu capítulo 9
chamado ‘’The traditionalist response to Global War on Terrorism’’, elucida em uma
passagem:
Os eventos do 9/11 e a Guerra ao Terror impactaram os Estudos de Segurança
Internacional em diversos aspectos. A proeminência de uma interconexão global
entre atores não-estatais levantou questões acerca da ‘’centralidade do Estado’’ e as
presunções tradicionais dos pensamentos tradicionalistas. A declaração de uma
‘guerra’ ao terror reacendeu o interesse ao utilizar meios de força, e todo tema de
‘guerra’ em particular. E desde o 9/11 e a Guerra ao Terror tiveram fortes ligações
com o Oriente Médio, a literatura de segurança particularmente preocupou-se com
aquela determinada região. (BUZAN; HANSEN, 2009, P.229, tradução nossa). 1

1
No original: The events of 9/11 and the GWoT impacted on traditionalist ISS in several respects. The
prominence of globally networked non-state actors raised questions about both state-centrism and the
rationality assumptions that underpinned traditionalist thought. The declaration of ‘war’ on terrorism
rekindled interest in the use of force generally, and the whole topic of war in particular. And since both
9/11 and the GWoT had strong links to the Middle East, the security literature on that region was in
part concerned with those issues.
Atrelado a autores fortemente influenciados pela tradição construtivista, Barry Buzan,
Ole Waever e Jaap de Wilde, autores da Escola de Copenhague, consideram que o processo
de securitização se dá por meio de um ato de fala e que as ameaças à segurança são
socialmente construídas (BUZAN; WAEVER; WILDE, 1998).
Com o intuito aprofundar e trazer uma perspectiva diferente para o campo de estudos,
contaremos também com a visão Pós-estruturalista, que se abarca para além das abordagens
tradicionais, trazem preocupações como a paz. Dentro do Pós-estruturalismo estão novas
preocupações e epistemologias que visam agregar de forma crítica a construção do presente
pré-projeto, trazendo em seu método a importância da linguagem, desconstrução de discursos
e crítica às narrativas dominantes, à exemplo de autor está Wendt (1999), que apresenta uma
análise crítica aos termos e axiomas presentes no realismo tradicional - e teoriza a ruptura de
ideias tradicionais, como por exemplo, o Estado enquanto ator unitário -, determinada a
análise e corrobora com a segmentação crítica acerca da terminologia empregada ao termo
terrorismo.
Também, para corroborar através de uma visão crítica a obra de Immanuel
Wallerstein, que se aprofunda na formação do sistema mundo e explora seus níveis
hierárquicos - sendo eles, centro, periferia e semi-periferia -, que elucida através de sua
famosa Teoria do Sistema Mundo, a compreensão analítica da sociedade moderna e explica,
como forma de enriquecer o presente pré-projeto, como constituem-se as relações
assimétricas do mundo globalizado. Complementando assim, a análise da estrutura mundial e
como ocorre tal reprodução através de instituições como FMI, Banco Mundial e
especialmente para o caso analisado, o órgão das Nações Unidas. Nesse tópico cabe
compreender o modelo de atuação da ONU frente às subsequentes ações tomadas pelos EUA
pós 11 de Setembro.
Alguns autores Pós-estruturalistas de RI, estão: NEUMANN; WÆVER, 1997, entre
outros.
JUSTIFICATIVA
O presente tema proposto justifica-se dentro do campo de estudos de segurança por
trazer a questão acerca da doutrina e hegemonia estadunidense, atrelar para a análise o
conceito de atores não estatais. Além de aprofundar de forma crítica o termo terrorismo pós
Guerra ao Terror, compreender os aspectos muitas vezes chamados de ‘’ajuda humanitária’’
ou determinar falta de direitos humanos em países Orientais - cuja justificativa, não passa de
uma ação intervencionista. A partir disso, busca-se compreender como as dinâmicas de poder
dos EUA se insere no jogo político - bem quais suas consequências para o Oriente Médio
contemporâneo.
Além disso, existe uma proporcionalidade justificável frente às ações preventivas
consideradas como defesa preventiva de grandes potências do centro, contra países
periféricos. Como aponta o autor Immanuel Wallerstein “O moderno sistema mundial é
constituído, portanto, por uma economia-mundo2 em incessante expansão, cuja divisão de
trabalho exibe uma tensão centro e periferia baseada na troca desigual; e por uma
superestrutura política constituída por Estados nacionais formalmente soberanos,
reconhecidos e constrangidos por um sistema interestatal’’ (Wallerstein 2000d: 254).
Para corroborar com a compreensão da legitimidade atribuída aos EUA em suas ações
contra povos do Oriente, cabe citar o diálogo entre Wallerstein e Braudel acerca da
centralidade do Estado no mundo capitalista, que reforça como suas ações estão respaldadas
pelo modelo e como o SI entende os países do centro econômico mundial:

“[...] no centro da economia-mundo aloja-se sempre, forte, agressivo,


privilegiado, um Estado fora de série, dinâmico, ao mesmo tempo temido e
admirado [...]” Para um pouco adiante, concluir: “Isso não impede, em
contrapartida, que estes governos ‘centrais’ sejam mais ou menos
dependentes de um capitalismo precoce, já com dentes crescidos”. (Braudel,
1996: Vol. 3: p. 42).

2
De acordo com Wallerstein, por volta de meados do século XVII as três posições estruturais (centro,
periferia e semiperiferia) da economia-mundo já teriam se estabilizado, com poucas alterações desde
então (Wallerstein, 2000e; 1984: 86).
METODOLOGIA
O presente projeto parte de uma abordagem qualitativa que percebe - dentre outros
fatores, capturar e desvendar a pergunta e assim buscar por respondê-la (NEUMAN, 2014).
Analisando assim se foi possível constatar como configura-se atualmente o termo atualmente
e quais são as motivações para tal terminologia e qual construção ideológica permeia
determinada predisposição.
Compreendendo o problema de pesquisa e as hipóteses apresentadas, busca-se,
através do método hipotético-dedutivo, verificar se tais hipóteses são refutáveis ou não. Para
tal, busca-se uma forma de interpretar tais fenômenos sociais, a partir da observação de
mudanças, e até mesmo, notar suas fragilidades, com o intuito de avaliar a teoria
preconcebida (RAGIN, 2014).
Através da por compreender como se estabelece o termo terrorismo no âmbito de
segurança internacional, evisitando, através de um escopo bibliográfico, pesquisas,
documentos oficiais, dados exploratórios que se encontram disponíveis em revistas
acadêmicas, periódicos e livros, assim como pesquisas importantes para a área de estudos de
Segurança Internacional. Para tal, a pesquisa será baseada em diversos estudos e autores,
desde os clássicos como Barry Buzan, Ole Waever, Jaap de Wilde, Edward Said, Immanuel
Wallerstein, Lene Hansen, por exemplo, dentre outros autores que corroboram para sustentar
o presente trabalho. Cabe ressaltar, que iremos explorar outros autores conforme o trabalho
desenvolve-se.
Como forma de ancorar teoricamente e sustentar as hipóteses apresentadas, bem como
responder a pergunta de pesquisa, de maneira a traçar variáveis através do problema
elencado. Através da problematização, pretende-se construir a pesquisa através de correntes
teóricas, construindo uma formulação para verificar o problema proposto.

BUZAN, Barry; HANSEN, Lene. The evolution of international security studies.


Cambridge University Press, 2009.

BRAUDEL, Fernand (1996). Civilização Material, Economia e Capitalismo – Séculos XV-


XVIII. (Vol. I) Trad. Selma Costa. Ed. Martins Fontes.
WALLERSTEIN, Immanuel (2000f) “America and the world: today, yesterday, and tomorrow”.
In WALLERSTEIN, I. The Essential Wallerstein, pp. 387-415. Artigo publicado originalmente in Theory
and Society, XXI, 1, February, 1992, 1-28.

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