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Ministério da Educação Universidade Federal de Santa Maria Programa de Pós-graduação em

Relações Internacionais
Pré projeto de mestrado

Uma abordagem Orientalista acerca do termo terrorismo

O conhecido termo ‘’terrorista’’, apesar de consistir em inúmeras definições acerca de


seu conceito, de acordo com Reginaldo Nasser, é o seguinte:

o terrorismo é um método psicológico inspirador de repetidas ações


violentas, empregado por indivíduos, grupos organizados ou Estados
[...] por razões políticas, segundo as quais, ao contrário do
assassinato, os alvos diretos da violência não são as principais metas.
As vítimas, são geralmente escolhidas ao acaso ou de forma seletiva,
como alvos simbólicos de uma população (NASSER, 2011).

No entanto, o termo disseminado e como conhecemos atualmente é totalmente


enviesada a partir da construção delimitada pelos Estados Unidos. Essa onda se inicia nos
anos 1990 e permeia até hoje, sabe-se que o intuito político adotado ao delimitar uma nova
roupagem ao termo ‘’terrorista’’, possui caráter transnacional, religioso, regional e emprega
atores não-estatais (NASSER, 2014). É nesse período que existe a popularização de um
‘’novo terrorismo, majoritariamente carcterizado por elementos religiosos, onde dá-se o
ínicio de discussões acerca de grupos islâmicos, como Talibã e Al Qeda.
Saint-Pierre argumenta que o conceito ‘’terrorismo’’, advém da subjetificação e juízo
de valor negativo, ainda de acordo com o autor, a definição utilizada atualmrntr serve para
desumanizar adversários políticos. Determinada construção de identidade para o termo, tem
como objetivo compreender a construção da imagem das populações orientais, e por fim
analisar como essa ameaça gira securitária gira em torno do mundo ocidental. Para ancorar
determinada problemática apontada, utilizaremos o autor palestino Edward Said, com sua
obra “Orientalismo - Oriente como invenção do Ocidente”, de 1978.
O acadêmico, além de ativista político, levanta a questão entre o Oriente e Ocidente,
onde o autor elucida a relação de poder dominação, que foram representações e ideias criadas
pelo homem. Enquanto o Ocidente é visto como ‘’civilizado’’, ‘’moderno’’, ‘’democrático’’,
o Oriente em tese representa adjetivos contrários e constitui-se a ideia precisar ser orientado e
civilizado. Em seguida ocorre o advento do 11 de Setembro, como citado o Orientalismo já
estava estabelecido, com o atentado os Estados Unidos obtiveram o argumento perfeito para
massificar a securitização do terrorismo e assim criar a Guerra ao Terror (FAWCETT, 2013,
p.328). Bush não exitou ao generalizar todos os países árabes e organizações terroristas.
Houve a construção da imagem de um inimigo global - também se utilizou de princípios
como democracia, religião, liberdade, etc (STEUTER; WILLS, 2011).
Ao inserir a Guerra ao Terror e o terrorismo dentro da agenda de segurança
internacional, o presidente Bush, reforça e busca delimitar as diferenças entre o Ocidente e o
Oriente (SILKE, 2009). O discurso orientalista empregados por Bush, definiu uma concepção
identitária coletiva que não apenas era uma ameaça aos Estados Unidos, mas que também era
um perigo para todo o Sistema Internacional, legitimando assim o processo maciço de
securitização contra diversos países do Oriente Médio. Partindo da ideia proposta, a linha de
pesquisa almejada será a de Segurança, Estratégia e Defesa. Quanto aos orientadores
sugeridos: Igor Castellano da Silva, Júlio César Cossio Rodriguez e Nathaly Silva Xavier
Schutz.
A problemática a ser discutida é: As motivações para classificação são determinadas a
partir de qual aspecto político, religioso e étnico, com o objetivo de delimitar esta pesquisa,
algumas questões que irão nortear e delimitar o escopo: Quais são as características que
define essa nova ameaça chamada de terrorismo contenporâneo, questionar se as ações
partindo dos Estados podem ser consideradas como ameaças terroristas? Para tal, parte-se das
seguintes hipóteses:
Hipótese 1: Ainda existe uma lógica de que o ato terrorista predispõe de uma característica
limitada pela região do Oriente Médio e determinadas características são de um ponto de
vista ocidenta que considera o Oriente como “bárbaro e exótico”, de acordo com Said.
Hipótese 2: A hipótese de que a agenda de segurança internacional sofreu alterações após os
atentados de 2001 nos EUA, pois a questão tornou-se um problema político e militar,
alterando a ordem mundial vigente.
Hipótese 3: Atos classificados como terrorismo não podem ser aplicados a atores Estatais.
O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar como configura-se atualmente o
termo atualmente e quais são as motivações para tal terminologia e qual construção
ideológica permeia determinada predisposição. A partir da ótica do Orientalismo, analisar tais
preceitos a partir de uma análise crítica. Por se tratar de um amplo conceito, o trabalho irá
analisar os conceitos e estratégias antiterroristas através da Organização das Nações Unidas
(ONU) e pelos Estados Unidos da América (EUA). Dentre os objetivos específicos estão:
A) Compreender as condições que são adjacentes quanto à guerra ao terror, gerando
ainda mais extremismo, desigualdades, pobreza e repressão; Questionar a
terminologia ‘’terrorismo’’;
B) Analisar as medidas Contra Terroristas adotadas por Organizações e Estados;
C) Compreender como a ideia estadunidense de superioridade e necessidade de
higienizar tais povos, que por sua vez, parte de uma concepção etnocêntrica e
ocidentalista, além de ser uma postura colonizadora.
O tema entra em consonância com a linha de pesquisa em Segurança, Estratégia
Defesa, já que visa investigar o fenômeno moderno das novas configurações acerca das
temáticas de Segurança, ao reconhecer novos atores no sistema internacional e suas
implicações, trazendo de forma crítica suas concepções clássicas. No que se refere à
contribuição dos docentes, os estudos críticos e produções científicas consistem em uma
visão crítica e perspectivas que fogem das premissas clássicas, analisando o tradicional
estudo acerca da discussão sobre o Estado, enquanto coloca-se em avaliação suas atribuições
e concepções.
O presente tema proposto justifica-se dentro do campo de estudos de segurança por
trazer a questão acerca da doutrina e hegemonia estadunidense, atrelar para a análise o
conceito de atores não estatais. Além de aprofundar de forma crítica o termo terrorismo pós
Guerra ao Terror, compreender os aspectos muitas vezes chamados de ‘’ajuda humanitária’’
ou determinar falta de direitos humanos em países Orientais - cuja justificativa, não passa de
uma ação intervencionista. Além disso, existe uma desproporcionalidade, frente às ações
preventivas consideradas como defesa preventiva pelas grandes potências do centro. Como
aponta o autor Immanuel Wallerstein “O moderno sistema mundial é constituído, portanto,
por uma economia-mundo1 em incessante expansão, cuja divisão de trabalho exibe uma
tensão centro e periferia baseada na troca desigual; e por uma superestrutura política
constituída por Estados nacionais formalmente soberanos, reconhecidos e constrangidos por
um sistema interestatal’’ (Wallerstein 2000d: 254).
Para corroborar com a compreensão da legitimidade atribuída aos EUA em suas ações
contra povos do Oriente, cabe citar o diálogo entre Wallerstein e Braudel acerca da
centralidade do Estado no mundo capitalista, que reforça como suas ações estão respaldadas
pelo modelo e como o SI entende os países do centro econômico mundial:

[...] no centro da economia-mundo aloja-se sempre, forte, agressivo,


privilegiado, um Estado fora de série, dinâmico, ao mesmo tempo
temido e admirado [...]” Para um pouco adiante, concluir: “Isso não
impede, em contrapartida, que estes governos ‘centrais’ sejam mais
ou menos dependentes de um capitalismo precoce, já com dentes
crescidos. (Braudel, 1996: Vol. 3: p. 42).

Com o objetivo de analisar a construção imagética das populações árabes e


muçulmanas e como tais são objetificadas como terroristas segundo o mundo ocidental, esse
trabalho irá se ancorar na obra conhecida do autor palestino Edward Said ‘’Orientalismo -
Oriente como invenção do Ocidente’’, de 1978. Onde em sua obra, o autor argumenta como a
relação entre Oriente e Ocidente se constrói em uma relação de poder e dominação, tais ideias
como ‘’terrorismo’’ advém de representações construídas através do Ocidente. De acordo
com o autor, o termo Orientalismo está ligado a uma visão colonialista, que por sua vez,
permite que a cultura europeia consiga perpetuar e dominar o Oriente seja de forma
ideológica entre outras (SAID, 2003).
Além de ancorar-se na tese de Nasser (2021), de que a estratégia política de Bush
permitiu que posteriormente aos ataques de 11 de setembro, utilizassem força militar para
capturar e destruir grupos terroristas.
Para contribuir teoricamente a construção do presente pré-projeto, também iremos
utilizar a clássica Escola de Copenhague, que contribuiu teoricamente a chamada Teoria da
Securitização, juntos aos clássicos autores de Segurança Internacional (SI), para compreender
como esse processo tornou-se um problema de segurança, haja vista que o processo consiste
na clássica ‘’ameaça’’ e ‘’sobrevivência. Trazendo também para além dos autores
supracitados, os autores construtivistas, como por exemplo, Barry Buzan, que em sua obra
intitulada ‘’The evolution of International Security Studies’’, onde em seu capítulo 9
chamado ‘’The traditionalist response to Global War on Terrorism’’, elucida em uma
passagem:

1
De acordo com Wallerstein, por volta de meados do século XVII as três posições estruturais (centro,
periferia e semiperiferia) da economia-mundo já teriam se estabilizado, com poucas alterações desde
então (Wallerstein, 2000e; 1984: 86).
Os eventos do 9/11 e a Guerra ao Terror impactaram os Estudos de
Segurança Internacional em diversos aspectos. A proeminência de
uma interconexão global entre atores não-estatais levantou questões
acerca da ‘’centralidade do Estado’’ e as presunções tradicionais dos
pensamentos tradicionalistas. A declaração de uma ‘guerra’ ao terror
reacendeu o interesse ao utilizar meios de força, e todo tema de
‘guerra’ em particular. E desde o 9/11 e a Guerra ao Terror tiveram
fortes ligações com o Oriente Médio, a literatura de segurança
particularmente preocupou-se com aquela determinada região.
(BUZAN; HANSEN, 2009, P.229, tradução nossa). 2

O presente projeto parte de uma abordagem qualitativa que percebe - dentre outros
fatores, capturar e desvendar a pergunta e assim buscar por respondê-la (NEUMAN, 2014).
Analisando assim se foi possível constatar como configura-se atualmente o termo atualmente
e quais são as motivações para tal terminologia e qual construção ideológica permeia
determinada predisposição. Compreendendo o problema de pesquisa e as hipóteses
apresentadas, busca-se, através do método hipotético-dedutivo, verificar se tais hipóteses são
refutáveis ou não. Para tal, busca-se uma forma de interpretar tais fenômenos sociais, a partir
da observação de mudanças, e até mesmo, notar suas fragilidades, com o intuito de avaliar a
teoria preconcebida (RAGIN, 2014).
Através da por compreender como se estabelece o termo terrorismo no âmbito de
segurança internacional, evisitando, através de um escopo bibliográfico, pesquisas,
documentos oficiais, dados exploratórios que se encontram disponíveis em revistas
acadêmicas, periódicos e livros, assim como pesquisas importantes para a área de estudos de
Segurança Internacional. Para tal, a pesquisa será baseada em diversos estudos e autores,
desde os clássicos como Barry Buzan, Ole Waever, Jaap de Wilde, Edward Said, Immanuel
Wallerstein, Lene Hansen, por exemplo, dentre outros autores que corroboram para sustentar
o presente trabalho. Cabe ressaltar, que iremos explorar outros autores conforme o trabalho
desenvolve-se.
Como forma de ancorar teoricamente e sustentar as hipóteses apresentadas, bem como
responder a pergunta de pesquisa, de maneira a traçar variáveis através do problema
elencado. Através da problematização, pretende-se construir a pesquisa através de correntes
teóricas, construindo uma formulação para verificar o problema proposto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUZAN, Barry; HANSEN, Lene. The evolution of international security studies.


Cambridge University Press, 2009.

BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII.


São Paulo: Martins Fontes, 1996.

WALLERSTEIN, Immanuel. America and the world: today, yesterday, and tomorrow.
Theory and Society, p. 1-28, 1992.

2
No original: The events of 9/11 and the GWoT impacted on traditionalist ISS in several respects. The
prominence of globally networked non-state actors raised questions about both state-centrism and the
rationality assumptions that underpinned traditionalist thought. The declaration of ‘war’ on terrorism
rekindled interest in the use of force generally, and the whole topic of war in particular. And since both
9/11 and the GWoT had strong links
NASSER, Reginaldo Mattar. Turbulências no mundo árabe: rumo a uma nova ordem?.
2011.

FAWCETT, Louise. The Iraq War ten years on: assessing the fallout.International Affairs,
89:2, 2013. pp. 325–343.

STEUTER, Erin; WILLS, Deborah. The dangers of dehumanization: Diminishing humanity


in image and deed. Images that injure: Pictorial stereotypes in the media, p. 43-54, 2011.

SILKE, Andrew. Disengagement or deradicalization: A look at prison programs for jailed


terrorists. CTC Sentinel, v. 4, n. 1, p. 18-21, 2011.

WALLERSTEIN, Immanuel. Globalization or the age of transition? A long-term view of the


trajectory of the world-system. International sociology, v. 15, n. 2, p. 249-265, 2000

WALLERSTEIN, Immanuel. The politics of the world-economy: The states, the


movements and the civilizations. Cambridge University Press, 1984.

SAID, Edward W. Reflexões sobre o exílio: e outros ensaios. Editora Companhia das
Letras, 2003.

RAGIN, Charles C. The comparative method. University of California Press, 2014.


NEUMAN, Delia. Qualitative research in educational communications and technology.

BUZAN, B. et al. Security: A New Framework for Analysis. [s.l.] Lynne Rienner
Publishers, 1998.

HANSEN, L. Security as Practice: Discourse Analysis and the Bosnian War. [s.l.]
Routledge, 2013.

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