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PORTOS REGIONAIS
Alexandro Ferraz Cavalcanti, MS.c
Apesar das considerações que serão abordadas, o presente tópico não tem a intenção
de pormenorizar aspectos concorrenciais entre o Porto do Recife e os demais da região.
O objetivo é apenas fazer um levantamento geral de informações, que inclui a
identificação de quais portos operam as mesmas cargas3 movimentadas pelo Porto do
Recife4 e a comparação entre os respectivos indicadores de desempenho operacional.
Basicamente o que será apresentado contempla aspectos importantes na composição de
um plano de negócios que busca um planejamento para os próximos 5 anos. Para se
obter uma análise mais aprofundada é necessário proceder um estudo de mercado mais
amplo.
Do ponto de vista estocástico, vale ressaltar que o Porto do Recife, assim como outros
terminais portuários, está exposto à instabilidades de natureza econômica, política,
sociais e externas, podendo estas repercutirem de alguma forma e em algum grau sobre
suas movimentações. Além disso, cada produto possui suas próprias exposições, a
exemplo de intempéries climáticas, que acabam por atrasar as operações, efeitos
sazonais e mais recentemente a COVID-19.
1 No sentido de que empresas localizadas nestes estados têm o Porto do Recife como opção
para escoa sua produção ou trazer bens e insumos para a sua produção.
2 O que inclui o embarque e desembarque de passageiros.
3 Ou cargas similares, com as mesmas características físicas, de movimentação muito
semelhante.
4 E o mercado potencial para as mesmas.
5 A partir de testes de hipóteses capazes de inferir a função de probabilidade de cada
movimentação.
este procedimento será realizado a partir de softwares profissionais e específicos da
área6.
2. AÇÚCAR A GRANEL
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
Conforme observado, pelo menos para os últimos 4 anos, o Porto do Recife encontra-se
muito aquém da movimentação do Porto de Maceió, que exporta mais de 90% do açúcar
a granel destinado para esse fim na região. Ambos os terminais açucareiros estão
sujeitos às mesmas volatilidades de mercados, o que inclui os recentes cenários de
excesso internacional da oferta de açúcar em relação a sua demanda8, variações no
preço do etanol9 e o desenvolvimento de adoçantes artificiais10, contudo, o Porto do
Recife sofre ainda com o severo assoreamento de seus berços de atracação, além da
deterioração física do berço 0, local destinado a atracação dos navios que
embarcam açúcar a granel, o que termina por comprometer a capacidade de
exportação de açúcar para este porto.
Estas definições serão aplicadas não apenas para o açúcar a granel, mas para
todas as cargas abordadas neste Plano de Negócios.
Mesmo havendo possíveis incorreções nos dados divulgados pelo Anuário Estatístico da
ANTAQ, consensualmente o Porto de Maceió caracteriza-se como o maior concorrente
do Porto do Recife na exportação do açúcar a granel.
Segundo consta no Anuário Estatístico da ANTAQ, que muitas vezes não coincide com as
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Fonte: Autor
Para o Porto de Maceió, tivemos menos volatilidade, tendo em vista o seu volume
movimentado. Sua oscilação foi de 797.326 a 1.069.697 toneladas com 95% de
confiança. Para o mesmo porto, obteve-se uma expectativa, sob a forma de mediana,
de 930.433 toneladas.
Devido ao “abismo” que existe entre os dois portos, a probabilidade do Porto do Recife
superar o de Maceió, apenas por motivações de mercado, é praticamente nula:
Fonte: Autor
Este era um desfecho já esperado para a simulação desse mercado. Segundo o operador
Sindaçúcar PE, uma reação a esse contexto passa pela dragagem dos berços de
atracação e em especial, reestruturação do berço 0, onde atracam os graneleiros que
recepcionam o açúcar do estado.
Já quando se analisa o açúcar no perfil carga geral, não é mais o Porto de Maceió que
desponta com como principal concorrente na região e sim o Porto de Suape15, distante
cerca de 45 km do Porto do Recife, portanto disputando as mesmas usinas do estado.
O Gráfico 04, a seguir, ilustra a evolução da concorrência nos últimos 4 anos:
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
18 EVTEA do Tipo 2.
Gráfico 5: Simulação 5.000 Cenários-Açúcar Ensacado (RecifexSuape)
Fonte: O Autor
Conforme observado, o porto de Recife resulta numa mediana de 197 mil toneladas e
um intervalo com 95% de confiança que vai de 103,33 a 288,80 mil toneladas. Já o
Porto de Suape, apresenta-se com uma movimentação mediana da ordem de 63 mil
toneladas e um intervalo com 95% de confiança de 1,71 a 124,2 mil toneladas. Percebe-
se ainda que o Porto de Suape opera atualmente com um risco de 2,07% de não
movimentar açúcar no ano comercial:
Fonte: O Autor
Fonte: O Autor
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
Na realidade, a ANTAQ não afirma que o Porto de Salvador movimenta necessariamente
barrilha e sim produtos químicos inorgânicos a base de carbonatos e peroxocarbonatos,
que são produtos bastante semelhantes a barrilha, o que sugere um potencial
concorrente ao Porto do Recife nesse quesito, uma vez possuem densidades
semelhantes.
Fonte: http://www.portodorecife.pe.gov.br/estatisticas_atual_sub.php?sub=18
Fonte: O Autor
19Não chega aos 95% porque seu limite inferior já elimina a movimentação para os 85,95% de
confiança.
Gráfico 10: Probabilidade de Movimentação Nula
Fonte: O Autor
Fonte: O Autor
Resultados já esperados, tendo em vista a magnitude das movimentações de carbonatos
em Recife e o seu grau de atendimento na regional.
Fertilizantes, de modo geral, possuem aplicação bem mais difundida entre diferentes
mercados, tendo em vista seu uso em diferentes lavouras. Dessa forma, vários os portos
na Região Nordeste importam o produto. Dentre os que possuem os maiores volumes
movimentados estão os portos de Itaqui (MA), Aratu (BA), Maceió (AL) e Recife (PE),
cujos percentuais de importação estão discriminados a seguir:
Gráfico 12: Percentual Importado Recife x Demais Portos (2016, 2017, 2018 e 2019)
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
Pelo exposto, o Porto de Maceió desponta, mais uma vez, como principal concorrente do
Porto de Recife, só que agora na importação de fertilizantes. Isso se deve do fato de
que a maior parte dos fertilizantes importados visam atender ao setor sucroalcooleiro de
seus respectivos estados, mas que podem atender também ao estado vizinho.
Devido ao fato de que nos anos pesquisados o Porto de Maceió se apresentar levemente
sempre à frente do Porto do Recife, pelo menos no volume de movimentações, e por
disputarem mercados semelhantes20, são postos a prova. Nesse caso, foram
diagnosticadas as funções densidade de probabilidades para as movimentações de
fertilizantes desses dois portos para posterior comparações. Em seguida foram
“rodadas” as reproduções de cenários artificiais, cujos resultados são verificados a
seguir:
Fonte: Adaptado
A depender apenas de seus respectivos mercados, Recife tem ainda uma probabilidade
de 16,61% de eventuais ultrapassagens em relação às movimentações de Maceió.
Conforme segue:
Fonte: Adaptado
6. TRIGO
Segundo observado, o trigo importado pelo Porto de Suape é mais que o dobro do
importado pelo Porto do Recife. Isso se deve ao fato de que um tradicional importador
de trigo, a Bunge Alimentos, transferiu todas as suas operações do Porto do Recife para
o Porto de Suape. Sendo assim, em 11 de setembro de 2009 é inaugurada em Suape
uma planta beneficiadora do referido granel21, considerada a mais moderna da América
Latina, contando, inclusive, com silos de capacidades estáticas de 50 mil toneladas.
Desde de então, o Porto de Suape assume a liderança na importação de trigo no estado,
mesmo assim, ainda longe do volume importado pelo estado do Ceará conforme gráfico
a seguir:
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
Pelo Gráfico 16, o Porto de Suape emerge como segundo colocado com o Porto de
Salvador logo em seguida. O Porto de Recife fica com a modesta quinta colocação,
operando trigo de modo residual, objetivando complementar uma demanda local não
atendida por Suape, ou mesmo devido a paradas técnicas ou emergências da planta de
Suape. Como esse tipo de carga tem uma concorrência que se caracteriza mais entre os
portos do mesmo estado do que de estados vizinhos22, as comparações aqui realizadas
são referentes aos portos de Suape e Recife.
Iniciando a comparação, esses portos têm seus desempenhos operacionais (em relação
ao trigo) discriminados a seguir:
Exceto pelo tempo médio destinado a atracação, o Porto de Suape logra êxito sobre o
Porto do Recife em todos os demais indicadores. Esta constatação era de se esperar,
uma vez que Suape possui uma moderna planta de operação e beneficiamento de trigo,
enquanto que o Porto do Recife além de assoreado, opera trigo unicamente por moega23,
o que limita sua capacidade para a referida carga.
Fonte: O Autor
Das 5.000 simulações realizadas, observa-se que o Porto do Recife obteve uma
expectativa de 127.740 toneladas e um intervalo de 77.017 a 177.795 toneladas com
95% de confiança. Já o Porto de Suape, em termos medianos, logrou pouco mais que o
dobro do Porto do Recife, ou seja, 363.006 toneladas. Além disso, obteve um intervalo
que vai de 271.604 a 449.992 toneladas com 95% de confiança.
23 Quando opera, pois, na maior parte do tempo a operação se faz por Suape mesmo.
Dadas as diferenças entre as movimentações, não se espera que em momento algum o
Porto do Recife supere o de Suape, pelo menos não devido à volatilidade desse tipo de
mercado. Dessa forma, das mesmas 5.000 simulações de cenários, tem-se praticamente
uma possibilidade nula disso ocorrer, pelo menos é o que sinaliza o mercado, motivado
pela sua respectiva volatilidade:
Fonte: O Autor
No entanto, essa análise encontre-se numa fase ainda muito preliminar, uma vez que
ainda se discute o futuro das instalações de grãos do Porto de Suape (ex-AGROVIA).
7. MALTE DE CEVADA
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
Do ponto de vista estocástico, a análise se processa sob a ótica da volatilidade para esse
mercado. Desse modo, repete-se o procedimento que diagnostica a função de
probabilidade das movimentações de cevada entre os dois portos e a reproduz sob a
forma de cenários alternativos, dede que com o mesmo padrão de comportamento. Os
resultados são apresentados a seguir:
Fonte: O Autor
A interpretação é similar às anteriores. Sendo assim, o Porto do Recife apresenta uma
expectativa de movimentação de 156.569 toneladas enquanto cabedelo concorre com
apenas 67.013. Já em termos de intervalo com 95% de confiança, Recife tem suas
movimentações dilatadas entre 65.935 a 246.220 toneladas. Já Cabedelo fica entre
42.782 a 91.707 toneladas.
Mesmo o Porto de Cabedelo tendo uma movimentação de malte de cevada bem aquém
do Porto do Recife, ainda assim, contando apenas com a volatilidade de mercado, tem
uma probabilidade 3,25% de superar o Porto do Recife:
Fonte: O Autor
8. MILHO
Apesar das constantes interrupções em suas operações no Porto do Recife, o milho não
pode deixar de ser citado por caracteriza-se por um dos principais insumos da indústria
alimentícia local. Não necessariamente como parte componente do fabrico de gêneros
alimentícios, mas na composição de suplementos e ração animal, especialmente para a
avicultura. Atualmente, a maior parte do milho consumido na região Nordeste possui sua
origem em países vizinhos, especialmente a Argentina, ou seja, no âmbito do Mercosul.
O Gráfico 22, a seguir, apresenta o posicionamento do Porto do Recife para os 4 últimos
anos de importação do produto:
Gráfico 22: Percentual Exportado Milho Recife e Demais Portos Regionais (2016, 2017, 2018 e 2019)
Fonte: http://web.antaq.gov.br/Anuario/
Como no ano de 2019, na região Nordeste, só houve movimentação de milho nos portos
de Itaqui e Recife25, seguem seus respectivos desempenhos operacionais a partir dos
seguintes indicadores:
25 Não houve registros de importação de milho por parte do Porto de Cabedelo (PB) em 2019.
Tabela 7: Indicadores de Desempenho Operacional (Milho CG)
Fonte: O Autor
Conforme observado, o mercado de milho impõe com muita força a ambos os portos
sua volatilidade, sendo estas refletidas nos histogramas plotados, onde em nenhum dos
dois casos foi possível o estabelecimento de intervalos com 95% de confiança, uma vez
que a movimentação nula é alcançada para intervalos inferiores ao discriminado.
Contudo, apesar disso, o Porto do Recife apresenta uma expectativa média da ordem de
174.014 toneladas e um intervalo com 79,73% de confiança que vai de 0 a 540.253
toneladas. O Porto de Itaqui, bem mais otimista, apresenta uma expectativa mediana de
1.484.208 toneladas e um intervalo com 89,49% de confiança que vai de 0 a 3.618.194
toneladas. Perceba que a volatilidade entre as movimentações é tão acentuada que as
inferências em questão perdem um pouco do efeito prático da análise.
Fonte: O Autor
Fonte: O Autor
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em que pese o fato de que as fases de importação e exportação são apenas etapas de
um processo mais amplo de encadeamento de valor para qualquer atividade econômica,
parece ter ficado evidente que o Porto do Recife sofre cronicamente com a deterioração
de sua infraestrutura, o que tem repercutido em seus indicadores de produtividade, em
especial quando comparado a outros portos. Dessa deterioração, nenhuma é tão urgente
quanto a necessidade de aprofundamento de calado, tanto em seu canal de acesso e
bacia de evolução quanto nos berços de atracação. Além disso, o ancoradouro é
desprovido de equipamentos básicos, a exemplo de guindastes, dutovias, esteiras e
portainers, para eventuais movimentações de cargas conteinerizadas.
Nesse contexto, o Porto do Recife fica cada vez menos atrativo, uma vez que a debilidade
de sua infraestrutura se reverte em elevação de custos que termina por incidir sobre
operador portuário sob duas vertentes: