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IX Cidesport
2022
Resumo: As empresas que prestam serviços nos portos são responsáveis pela
movimentação, armazenagem, segurança e documentação de mercadoria
abandonada (FMA), informando à alfândega para que possam ser tomadas as
medidas cabíveis. Uma situação que afeta diretamente o rendimento dos portos em
geral é a quantidade de contêineres em perdimento que normalmente ocorre por dois
motivos: carga apreendida pela Receita Federal ou abandonada. Esta pesquisa tem
por objetivo demonstrar que os custos portuários envolvidos na importação de um
contêiner podem levá-lo ao cenário de perdimento. Utiliza-se as informações
coletadas em uma empresa atuante na área, permitindo observar o custo de liberação
ao longo dos dias. Observa-se que, com o atraso na liberação, os custos se elevam
podendo, após 15 dias, duplicar de valor, e levá-lo ao perdimento causando um
impacto econômico e logístico no porto, tendo em vista que, para cada contêiner em
perdimento deixa-se de atender outros. Além do prejuízo com as taxas de
movimentação já feitas, o porto tem problema com o fluxo da mercadoria, visto que
seus pátios ficariam lotados, portanto, não conseguindo atender a quantidade prevista
de contêineres e gerando atrasos. Se essa situação for eliminada, os portos poderão
ganhar na rotatividade do espaço ocupado pelo contêiner em perdimento e ganhar
tempo e dinheiro na sua movimentação, aliviando o gargalo logístico e, por
consequência, poderão atender com mais eficiência a demanda crescente.
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1 INTRODUÇÃO
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algo em torno de 9,7 dias, sendo que nos demais modais o tempo médio de liberação
da carga é em torno de 7,1 dias. Esta diferença nos tempos deve-se ao volume de
mercadoria movimentada e ao processo burocrático composto de várias etapas
(USUPORT, 2020). Vale ressaltar que o porto de Roterdã demora no máximo dois
dias para liberar um contêiner.
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mercadorias acabam abandonando a carga, gerando o perdimento do contêiner,
devido ao alto custo para liberar a mercadoria no final de sua estadia no terminal.
Esses problemas afetam o porto de duas formas. Inicialmente na questão
logística, pois a carga abandonada prejudica a movimentação dos equipamentos pelo
pátio, gera atrasos e dificulta o fluxo das mercadorias, criando o chamado gargalo
logístico. A outra forma é a questão econômica, influenciada pelo problema logístico,
já que o contêiner abandonado ocupa o local físico de outro, impossibilitando assim
que o porto receba nova mercadoria. 146
A quantidade de mercadorias em perdimento compromete a movimentação e
a armazenagem nos portos, sobrecarregando seus pátios e armazéns. Este fato
acaba ocorrendo devido à questão estrutural da Receita Federal, que não tem
analistas contratados suficientes. Segundo Sindireceita (2015) a jornada de trabalho
é restrita a 8 horas diárias, perfazendo 40 semanais, não permitindo jornada noturna.
Por fim, esta situação, impede a Receita Federal de executar com eficiência e
pontualidade o atendimento a demanda que vem crescendo e, consequentemente
prejudicando a economia dos terminais.
Sobre a quantidade de contêineres na situação descrita, segundo Fernandes
et al. (2020), existem cerca de 5 mil contêineres abandonados nos portos brasileiros.
A Receita Federal é responsável pela destinação dessa mercadoria que pode ser; a
incorporação ao setor público ou a sua destruição.
Este artigo tem por objetivo compreender que o atraso na liberação do
contêiner gera aumento de custo que pode levá-lo ao abandono.
Para exemplificar os valores finais que são devidos pela empresa em relação
ao processo de armazenamento de mercadoria nos portos, serão utilizados a
movimentação e armazenagem de um contêiner dry box de 20 pés durante os dias da
semana (de segunda a sexta-feira) e serão desconsiderados o valor do CIF (Cost,
Insurance and Freight – Custo, Seguro e Frete), uma vez que este sofre variações de
acordo com a carga, frete e taxa cambial. Vale ressaltar que os valores utilizados são
de referência de uma empresa, cujo nome não será divulgado por questão de sigilo,
que atua na movimentação de contêineres no porto de Santos.
Inicialmente a seção 2 apresenta de forma suscinta o fluxo de movimentação
do contêiner, do navio ao pátio. A seção 3 aborda os custos para a movimentação do
contêiner. Na seção 4, são apresentados os contêineres em perdimento, na seção 5
os materiais e métodos, na seção 6 os resultados dos custos para um contêiner. Na
seção 7 são apresentadas as conclusões deste trabalho.
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Exportadores e Importadores da Secretaria de Comércio Exterior (REI), e o Sistema
Integrado de Comercio Exterior (Siscomex). Nesse sistema que o importador irá fazer
todo o registro tanto da operação quanto da mercadoria, para que possa ser emitido
o Licenciamento não automático de Importação (LI), Declaração de Importação (DI) e
o Registro de Operações Financeiras (ROF).
2º - Classificação Fiscal ou Nomenclatura – Utilizada para ordenar as mercadorias por
código de acordo com sua natureza e características, e assim fazer a relação de
informações importantes como incidência de impostos, acordos internacionais e 147
normas administrativas.
3º - Tratamentos Administrativos – As importações permitidas são subdivididas em
licenciamento automático e licenciamento não–automático. O licenciamento
automático é feito durante a declaração de importação, após a chegada no país,
passando por procedimentos especiais como exigências sanitárias, zoossanitárias
entre outras. Para alguns produtos, o licenciamento acaba sendo não-automático, por
apresentarem indícios de fraudes, originários de países com restrições constantes de
resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), materiais usados, salvo as
exceções previstas na própria Portaria da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX),
nesses casos a importação precisará apresentar informações mais detalhadas da
carga.
4º - Documentação – Feito o registro correto no Sistema Integrado de Comércio
Exterior (SISCOMEX) é gerado o extrato da Declaração de importação, contendo um
resumo com informações da operação. Esse documento é de extrema importância,
pois é ele que comprova a autorização e a transação.
5º - Termo ou condições de venda – Sem dúvida, a parte mais importante do processo
é determinar quem ficará responsável pelo frete, seguro, movimentação no terminal e
liberação alfandegária. Também pode-se fazer uso dos Incoterms, desenvolvidos pela
Câmara de Comercio Internacional (CCI). Os Incoterms foram criados para padronizar
as operações de importação e exportação, indicando onde começam e terminam as
responsabilidades entre vendedor (exportador) e comprador (importador) e o que está
incluso no preço da importação. Dentro dos Incoterms existem duas modalidades mais
utilizadas. Uma delas é a Free on Board (FOB) em que o exportador é responsável
pelos encargos da mercadoria até o embarque no navio, e o importador fica
responsável pelo frete, segurança e a movimentação da carga até seu embarque no
navio no terminal de exportação. Outra modalidade é a Cost, Insurance and Freight
(CIF), diferente do FOB tendo em vista que o exportador fica responsável também
pelo frete e seguro, ou seja, o importador só arcará com as custas de movimentação
quando a mercadoria chegar ao destino (HENRIQUE, 2010).
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carga/descarga do contêiner, se é transbordo ou se envolve uma movimentação no
cais do porto. Tais custos variam conforme o dia da semana e o horário de operação.
Há custos relacionados com as taxas que envolvem a ocupação de pátio ou armazém
alfandegário. Outra parte dos custos envolvem o aluguel de equipamentos para a
movimentação.
Os contêineres em perdimento (abandonados ou apreendidos) concorrem com
o crescente fluxo de mercadorias portuárias pelo espaço físico. Dessa forma, ocupam
a área útil do pátio e dificultam a movimentação dos equipamentos, além de impedirem 148
o recebimento de nova mercadoria, gerando o chamado gargalo logístico que interfere
diretamente na eficiência para importar ou exportar.
O prejuízo financeiro causado pelos contêineres em perdimento será
demonstrado utilizando-se de dados referentes ao porto de Santos. É considerado de
grande porte e o único a ser qualificado como nacional, sua movimentação abrange
todos os 14 setores de atividades, que os de maior destaque são: a indústria
mecânica, US$ 10,66 bilhões movimentados; a indústria de materiais de transporte,
US$ 8,42 bilhões; o setor de agroindústria e madeira com US$ 8,21 bilhões; a indústria
química, com US$ 7,78 bilhões; a indústria de alimentos e bebidas com US$ 7,38
bilhões; e a metalurgia com US$ 5,76 bilhões (PORTOGENTE, 2016b).
4 CONTÊINER EM PERDIMENTO
5 MATERIAIS E MÉTODOS
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• Situação típica, sem pedidos especiais para tirar fotografia, serviço de
scanner, mudança de informações em documentos e etc; e
• Carga de forma geral, sem ser mercadoria perigosa ou agrícola
6 RESULTADOS
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Observe, na Figura 1, que os custos do contêiner não se alteram até o 5º dia
(segunda a sexta-feira). A partir do 6º dia tem-se um aumento linear de tarifa e no 15º
dia a tarifa tem um aumento de aproximadamente 100%.
20.000
Tarifa (R$)
15.000
10.000
5.000
000
1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral 1900ral
dia
7 CONCLUSÃO
Nos dias de hoje, evitar prejuízos passou de uma condição de reduzir custos
para uma necessidade competitiva, seja evitando desperdícios na produção ou com a
armazenagem excessiva. A globalização intensificou a interação comercial entre
países sendo o setor marítimo o principal canal. Os portos precisaram se modernizar.
A situação do contêiner em perdimento vem prejudicando economicamente os
portos de forma considerável, impossibilitando a entrada e a saída de novas
mercadorias, além de outros prejuízos que o contêiner em perdimento acaba gerando,
pois, os valores gastos na movimentação e armazenagem não serão recuperados.
Apesar dos esforços da Receita Federal, em promover leilões mais
transparentes e de forma mais simples, mesmo assim, essas mercadorias em
perdimento ainda causam prejuízo aos portos.
Uma possível solução seria a construção de um pátio fora da área portuária,
em uma local que poderia ser cedido por órgão público onde o custo seria menor, e
assim toda mercadoria liberada, que não tenha sido retirada no período de 10 dias, e
as mercadorias apreendidas seriam encaminhadas para esse local. Isso
proporcionaria a liberação de espaços no setor portuário, e por consequência, uma
maior agilidade tanto para importar como para exportar.
Para acompanhar o aumento no fluxo de mercadorias e, consequentemente,
evitar prejuízos econômicos às empresas que submetem suas mercadorias por
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transporte hidroviário, uma sugestão seria o investimento na infraestrutura na área
portuária com equipamentos que facilitem o transbordo tanto dentro quanto nos
arredores do porto, o que, consequentemente reduziria os custos provenientes de
elevado período de armazenamento de contêineres.
REFERÊNCIAS
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