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Guia para a sua preparação

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Sumário

Olá, estudante!.......................................................................................................................................... 3
A prova de Redação do Enem 2020 – Aplicação presencial.................................................................. 4
Comentário da prova de Redação do Enem 2020 – Poliedro Resolve................................................. 5

Texto nota 1.000 Ingrid Borges Ascef............................................................................................................... 7


Texto nota: 960 Maria Eduarda Benatti Spengler......................................................................................... 10
Texto nota: 920 Yngrid de Sá Oliveira............................................................................................................. 13
Texto nota: 900 Ruan Anthony Zucchi............................................................................................................ 16
Texto nota: 900 Pedro Torao Ueda................................................................................................................. 19

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Olá, estudante!

Nos últimos anos, a divulgação de redações que obtiveram a nota máxima na prova do Enem
tem atraído olhares de pessoas que, seja por terem realizado a mesma prova, seja porque estão se
preparando para a próxima edição do exame, buscam um resultado semelhante.
Essa agitação em torno da nota 1.000 acaba encobrindo excelentes textos que, por detalhes, não
chegaram ao mesmo resultado, mas atingiram notas como 900, 960 ou 980. Pensando no quanto
essas redações de alto desempenho podem contribuir para seu estudo e sua preparação, a equipe de
Redação do Poliedro organizou este e-book.
Nele você encontrará o espelho das redações gentilmente cedidas por nossos ex-alunos – o que
ajuda a verificar o tamanho da caligrafia, a disposição dos parágrafos no texto etc. – e, logo depois da
transcrição de cada texto, um comentário que pretende demonstrar:

• os pontos positivos de cada redação e que servem como modelo ou inspiração;


• explicações em torno da nota atribuída nas diversas competências. Essas explicações pretendem
auxiliar na compreensão dos acertos que justificam a nota e dos detalhes que impediram a nota
máxima.

Não deixe de observar cada item apontado nos comentários, pois eles foram escritos com afeto e
empenho da nossa equipe especialmente para você, que nos lê.
Se quiser entender melhor cada competência, as faixas de nota possíveis, bem como termos
específicos como “operadores argumentativos”, sugerimos que recorra aos materiais oficiais divulgados
pelo Inep, que, inclusive, foram base para a escrita de nossos comentários:

1. A Redação do Enem 2020 - Cartilha do Participante.


2. Competência 1 (C1): Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.
3. Competência 2 (C2): Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas
de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-
argumentativo em prosa.
4. Competência 3 (C3): Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e
argumentos em defesa de um ponto de vista.
5. Competência 4 (C4): Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a
construção da argumentação.
6. Competência 5 (C5): Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando
os direitos humanos.

Arquivos disponíveis em: http://portal.inep.gov.br/web/guest/enem-outros-documentos.

Aproveite a leitura! Esperamos que este e-book seja um importante e prazeroso material de estudo!

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A prova de Redação do Enem 2020 – Aplicação presencial

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Comentário da prova de redação do Enem 2020 – Poliedro Resolve

Disponível em: https://poliedroresolve.sistemapoliedro.com.br/#/resolucao/ENEM?aba=623.

A prova de Redação do Enem 2020 delimitou explicitamente, na frase temática, a problemática


associada ao tema – o estigma associado às doenças mentais – e especificou a discussão, mais uma
vez, no contexto brasileiro. Assim, espera-se que o candidato problematize o preconceito, a falta de
aceitação social e a dificuldade de acesso a tratamentos enfrentados pelos brasileiros que sofrem de
doenças mentais e elabore, na conclusão, propostas de intervenção para diminuir o estigma associado
a essas doenças. É importante destacar a necessidade de usar os termos presentes na frase-tema:
“estigma”, “doenças mentais”, “sociedade brasileira”.
Para problematizar a estigmatização associada a doenças mentais, o candidato poderia discutir
como essas doenças foram historicamente reunidas sob o termo inferiorizante da “loucura” em função
das políticas de tratamento ao portador de transtorno mental baseadas no modelo manicomial vigente
até a Reforma Psiquiátrica, consolidada com a promulgação da Lei n. 10.216/2001, que “dispõe sobre a
proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental”. Além disso, são doenças socialmente associadas à fraqueza, à incompetência, à
“frescura” etc. em função da falta de informações sobre o tema e da valorização da produtividade
pela sociedade. Consequentemente, essa estigmatização dificulta o acesso dos sujeitos em sofrimento
psíquico ao atendimento de saúde e a sua inserção social.
Os textos motivadores atuaram como disparadores de reflexões produtivas para o desenvolvimento
da redação. O texto I apresenta o conceito de saúde mental, ampliando a noção do senso comum
de ausência de doenças mentais. Além disso, o texto elucida que todos podem estar sujeitos a ter
sofrimento psíquico em alguma fase da vida, o que evidencia a normalidade desse tipo de sofrimento,
apesar de a sociedade estigmatizar os que sofrem psiquicamente como “anormais”. Nesse sentido,
o candidato poderia usar esse conceito para contextualizar o tema e, assim, problematizar o fato de
as discussões sobre saúde mental serem tabu na sociedade brasileira, o que, consequentemente,
perpetua estigmas relacionados às doenças mentais.
Já o texto II problematiza a estigmatização dos que sofrem com doenças mentais. Para isso, apresenta
o conceito de estigma sob uma perspectiva histórica: enquanto, na Grécia antiga, referia-se à marca de
ferro para separar aqueles que não se encaixavam na sociedade honrada e correta, atualmente está
associado ao preconceito daqueles que sofrem com transtornos psiquiátricos. O texto ainda aponta
possíveis causas do problema: a falta de informação e a validação de uma vida perfeita pelas redes
sociais. O candidato poderia considerar essas causas para delimitar seu ponto de vista e construir sua
argumentação, ampliando a explicação sobre a falta de informação a partir de uma perspectiva histórica
sobre o tratamento de doenças mentais e explorando exemplos do ideal de felicidade construído nas
redes sociais.
Por fim, o texto III é um infográfico que apresenta dados quantitativos sobre a depressão no
Brasil e no mundo. O candidato poderia usar os dados relacionados ao contexto brasileiro para
contextualizar o tema e, assim, problematizar o fato de muitos brasileiros serem afetados pela
depressão e não procurarem tratamento em função da estigmatização das doenças mentais. Além
disso, o texto apresenta um dado que revela como a doença atinge mais as mulheres, estigmatizadas
historicamente, por exemplo, como histéricas ou loucas, em função de a sociedade se estabelecer a
partir do patriarcalismo.

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Para discutir como a estigmatização das doenças mentais se estabeleceu historicamente em função
do modelo manicomial vigente no século 20 no Brasil, o candidato poderia mobilizar como repertório
sociocultural legitimado, além da Lei n. 10.216, o filme “Nise: o coração da loucura” (2015), que narra
a trajetória de uma das mais influentes precursoras do movimento da Reforma Psiquiátrica brasileiro.
Também poderia mencionar o documentário “Holocausto brasileiro”, que mostra o tratamento
desumano de pacientes no Hospital Colônia, de Barbacena, Minas Gerais, na década de 1960. Ainda
no âmbito das obras cinematográficas, o candidato poderia fazer referência ao filme “Coringa” para
estabelecer uma analogia entre a estigmatização social e a negligência pelo Estado vividas pelo
personagem Arthur Fleck e a realidade daqueles que sofrem de doenças mentais no contexto brasileiro.
Outros repertórios sobre o tema proposto referem-se às áreas de Sociologia e Filosofia. O candidato
poderia citar a obra “História da Loucura”, do filósofo francês Michel Foucault, para discutir como
os sujeitos que não se encaixam nos ideais de normalidade, estabelecidos socialmente, são alvo de
estigma e exclusão social. Segundo o filósofo, no século 17, a loucura se tornou objeto de exclusão e
encarceramento, pois passou a ser compreendida como a impossibilidade da razão e a ser relacionada
ao ócio, o que representava uma conduta repreensível na sociedade burguesa em ascensão. Já no século
19, mesmo quando a loucura passou para o domínio da ciência, continuou sendo alvo de repressão e
exclusão, desta vez pela medicina. Desse modo, as construções históricas da distinção entre loucura e
sanidade perpetuam a estigmatização e a exclusão social daqueles que sofrem com transtornos mentais
até hoje. Ainda poderia ser citada a obra “Sociedade do cansaço”, do filósofo sul-coreano Byung-Chul
Han, para se discutir como o “paradigma do desempenho” faz os sujeitos internalizarem a ideia de que
são empreendedores de si mesmos e se autoexplorarem até adoecerem com transtorno de ansiedade,
depressão, síndrome de Burnout etc.
Para a proposta de intervenção, o candidato deve considerar a argumentação construída em
seu texto. Uma possibilidade é sugerir a atuação do Estado na ampliação de programas que deem
assistência social aos que sofrem de doenças mentais. Além disso, poderia propor a atuação das
empresas privadas na mudança cultural em relação à produtividade de modo que sejam minimizados
os prejuízos econômicos decorrentes do adoecimento dos funcionários. A depender da argumentação,
o candidato poderia propor também uma ação da mídia e da indústria cultural para dar visibilidade à
discussão sobre saúde mental e desconstruir estigmas relacionados aos transtornos mentais. Por fim,
outra possibilidade é a atuação das universidades, por meio da participação de pesquisadores na mídia
e nas redes sociais, na desconstrução do senso comum e do tabu sobre saúde mental e na divulgação
dos problemas decorrentes do ideal de felicidade construído nas redes sociais.

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Texto nota 1.000

C1: 200 | C2: 200 | C3: 200| C4: 200 | C5: 200

Ingrid Borges Ascef

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Na obra “Quincas Borba“, de Machado de Assis, é narrada a trajetória de Rubião que, após receber
grande herança e atrair vários amigos, é acometido por uma enfermidade mental, fazendo com que
seus conhecidos se afastassem e que fosse abandonado em um hospital psiquiátrico. Fora da ficção,
o estigma associado às doenças mentais também é presente na sociedade brasileira, haja vista que
muitos indivíduos com transtornos dessa ordem são excluídos da sociedade e que muitas pessoas com
sintomas de desequilíbrio mental não buscam ajuda.
Em primeiro lugar, é relevante destacar que o estigma associado às doenças mentais faz com
que as pessoas acometidas por essas enfermidades sejam excluídas do meio social. Nesse sentido,
Nise da Silveira, médica psiquiatra, revelou que muitas famílias se envergonham por terem um ente
com transtornos mentais e optam por deixá-lo, de forma vitalícia e quase sem visitas, em hospitais
especializados. Desse modo, o preconceito com doenças mentais na sociedade brasileira gera a
ocultação em clínicas médicas das pessoas que não se enquadram dentro de um perfil esperado de
normalidade, engendrando a exclusão social.
Ademais, o estigma e a falta de informação sobre doenças mentais fazem com que muitos indivíduos,
com sintomas dessas patologias, não busquem ajuda especializada. Nesse contexto, pesquisas
aventadas pela Organização Mundial da Saúde revelaram que menos da metade das pessoas com os
primeiros sinais de transtornos, como pânico e depressão, procura ajuda médica por temer julgamentos
e invalidações. Assim, o preconceito da sociedade brasileira com doenças mentais faz com que a busca
por tratamento, por parte dos doentes, seja evitada, aumentando, ainda mais, o índice de brasileiros
debilitados por essas mazelas.
Portanto, é necessário que o Estado, em conjunto com o Ministério da Saúde, informe a população
sobre o que são, de fato, as doenças mentais e a importância do tratamento para que o estigma
associado a elas finde. Tal tarefa deve ser realizada por meio de expansivas campanhas publicitárias
nos veículos de comunicação em massa, como a Internet e a televisão, com profissionais da saúde
especializados no assunto, o que fará com que o povo brasileiro seja elucidado sobre essas patologias
rapidamente. Sendo assim, episódios de abandono e preconceito associados a transtornos mentais,
como o de Rubião, estarão apenas nos livros.

Comentário

O texto em questão é um ótimo exemplar de como trabalhar a redação no Enem. O tema solicitado
é configurado desde o parágrafo inicial, que já apresenta um repertório externo da literatura, o qual
é retomado no parágrafo de conclusão, e as ideias apresentadas estão bem conectadas entre si,
formando uma argumentação consistente e direcionada à defesa da tese elaborada. Além disso, a
autora sempre busca fundamentar aquilo que afirma, o que é muito pertinente em um texto dissertativo-
-argumentativo. Ao usar exemplos e dados, o texto fica mais consistente, o que ajuda a reafirmar a tese
defendida. Por fim, há proposta de intervenção completa e retomada do repertório inicial, o que é uma
estratégia bastante interessante e produtiva para o Enem.
Em relação à C1, o texto apresenta boa estrutura sintática e não há desvios de modalidade. Assim,
explica-se a nota 200 atribuída a essa competência.
A nota máxima na C2, a qual avalia gênero, tema e repertório, pode ser justificada pela correta
configuração do gênero – ou seja, o texto apresenta macroestrutura completa, contendo introdução,
desenvolvimento e conclusão – e do tema, já que as palavras-chave do recorte temático solicitado são
utilizadas ainda no parágrafo inicial, como se vê em: “Fora da ficção, o estigma associado às doenças
mentais também é presente na sociedade brasileira”. Além de configurar corretamente o gênero e o
tema, há a mobilização de repertório sociocultural legitimado, pertinente e produtivo ao projeto de
texto. No parágrafo introdutório, por exemplo, tem-se a menção à obra “Quincas Borba”, que vai servir

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de exemplo inicial para que o tema solicitado seja tratado, como se percebe no período inicial do texto,
em que um breve panorama acerca do romance é apresentado: “Na obra ‘Quincas Borba’, de Machado
de Assis, é narrada a trajetória de Rubião que, após receber grande herança e atrair vários amigos,
é acometido por uma enfermidade mental, fazendo com que seus conhecidos se afastassem e que
fosse abandonado em um hospital psiquiátrico”. Há, ainda, outro repertório, no segundo parágrafo do
texto, quando ocorre a menção à psiquiatra Nise da Silveira. Os dois repertórios, além de legitimados
e pertinentes, foram bem relacionados ao tema proposto e, por isso, são considerados produtivos,
justificando a nota 200 na C2.
Outro ponto importante a se considerar é que há um projeto de texto evidente e estratégico, ou
seja, as informações que compõem a produção foram bem selecionadas, pois elas tecem relações
entre si, o que torna a argumentação mais consistente. Na própria organização textual, percebe-se
como o projeto de texto é eficaz. A tese proposta anuncia duas causas principais para a questão
do estigma relacionado às doenças mentais: “muitos indivíduos com transtornos dessa ordem são
excluídos da sociedade” e “muitas pessoas com sintomas de desequilíbrio mental não buscam ajuda”.
Esses dois aspectos indicados serão tratados, respectivamente, no D1 (Desenvolvimento 1) e no D2
(Desenvolvimento 2), parágrafos em que essas ideias são desenvolvidas e fundamentadas, de modo
que não haja lacunas argumentativas, o que justifica a nota máxima na C3.
Para entender a nota 200 referente à C4, deve-se observar a presença de elementos coesivos
no interior de todos os parágrafos do texto, além de haver duas ocorrências de uso de operadores
argumentativos do tipo interparágrafos, o que pode ser percebido no início do D2, com o uso de
“ademais”, e na conclusão, com o uso de “portanto”. Além do uso expressivo dos recursos coesivos,
não ocorrem inadequações; por isso, foi atribuída a nota máxima nessa competência.
Por fim, em relação à C5, deve-se notar a presença de proposta de intervenção completa e com
todos os elementos válidos, a saber: agente (“Estado, em conjunto com o Ministério da Saúde”), ação
(“informar a população sobre o que são, de fato, as doenças mentais e a importância do tratamento”),
efeito (“para que o estigma associado a elas finde”), meio (“expansivas campanhas publicitárias”) e
detalhamento (“nos veículos de comunicação em massa, como Internet e televisão”). Vale destacar que,
nesse texto, há ainda mais elementos na proposta de intervenção. O último período (“Sendo assim,
episódios de abandono e preconceito associados a transtornos mentais, como o de Rubião, estarão
apenas nos livros”) também é um detalhamento, referente ao efeito. Como a proposta apresenta todos
os elementos necessários, a nota 200 foi aplicada.

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Texto nota: 960

C1: 200 | C2: 200 | C3: 160 | C4: 200 | C5: 200

Maria Eduarda Benatti Spengler

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Segundo o filósofo alemão Friedrich Hegel, o aprimoramento humano só é possível através do


aprendizado obtido com os erros do passado. Nesse sentido, o postulado indica que o progresso
da sociedade ocorrerá apenas com o fim das práticas anacrônicas que a afetem negativamente. No
entanto, a questão dos estigmas relacionados às doenças mentais no país revela que tal conceito não
se aplica, uma vez que sua persistência possibilita o surgimento de diversos imbróglios na atualidade.
Dessa forma, a aceitação no âmbito familiar e a desvalorização do indivíduo destacam-se como os
principais problemas acerca do tema.
A princípio, faz-se necessária uma análise das relações familiares daqueles que possuem tais
distúrbios. Desse modo, percebe-se que a família possui um nível de influência significativo no que
se refere ao auxílio e à compreensão da doença, visto que suas interações mostram-se basilares no
processo de convivência e de apoio emocional. Sob esse viés, associa-se esse comportamento à obra
“A Metamorfose”, do escritor Franz Kafka, na qual o protagonista Gregor se vê desamparado por sua
família, devido à sua condição, e definha isoladamente, revelando a característica fundamental desse
suporte.
Ademais, é notório que a diminuição daqueles com doenças mentais potencializa as disparidades
no quesito social. Com isso, observa-se que o preconceito contra essa parcela da população prejudica
a inserção e a sociabilização do indivíduo, além de contribuir para a exclusão desse. Assim, a máxima
do filósofo grego Protágoras, “O homem é a medida de todas as coisas”, torna-se verdadeira, já que a
maioria da população usa os próprios parâmetros para a delimitação de seus ideais e segrega aqueles
que divergem destes.
Logo, a fim de atenuar esses efeitos, são necessárias algumas medidas. Em um primeiro momento,
cabe ao Ministério da Saúde, com a participação dos CAP’s, a promoção de eventos ligados ao assunto,
por meio da criação de mais atividades que estimulem a participação familiar. Em segundo plano, cabe
às escolas a elaboração de palestras, em parceria com profissionais da saúde especializados, sobre a
abordagem das doenças. A partir de então, a população seria capacitada a uma melhor compreensão
de tal realidade e poderia cumprir o conceito defendido por Hegel.

Comentário

Esta redação, que recebeu a nota 960, obteve nota máxima em todas as competências, com exceção
da C3. Nela, observamos uma estrutura sintática excelente e apenas um desvio (a falta de vírgulas
para isolar o adjunto adverbial “no âmbito familiar”, na linha 7, composto por três palavras), o que
justifica a nota máxima em C1. Quanto à estrutura, as três partes da dissertação estão bem delimitadas
(introdução, desenvolvimento e conclusão) e há abordagem completa do tema, já com todos os
elementos que o constituem (estigma + doenças mentais + sociedade brasileira) no primeiro parágrafo.
Há, também, a presença de três repertórios socioculturais legitimados.
A ideia de Hegel, no primeiro parágrafo, é pertinente e produtiva, pois os estigmas relacionados às
doenças mentais no Brasil são definidos pela autora do texto como “práticas anacrônicas que afetam
negativamente a sociedade”, o que é articulado aos “erros do passado” aludidos por Hegel. Já no
terceiro parágrafo, a máxima de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”, é relacionada
à discussão do argumento – o preconceito contra pessoas que têm doenças mentais prejudica sua
inserção e sua socialização, além de contribuir para sua exclusão –, pois a autora do texto afirma que
“a maioria da população usa os próprios parâmetros para a delimitação de seus ideais e segrega aqueles
que divergem destes”.
No entanto, o repertório sociocultural, no segundo parágrafo, não é produtivo à discussão, e
justamente sua presença e os rumos tomados nesse primeiro argumento justificam a nota atribuída à
C3. O argumento começa com a ideia de que é necessário analisar as relações familiares daqueles que

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possuem doenças mentais. Segundo a autora, “a família possui um nível de influência significativo no
que se refere ao auxílio e à compreensão da doença, visto que suas interações mostram-se basilares no
processo de convivência e de apoio emocional”. A seguir, esperamos a comprovação dessas afirmações,
que poderiam vir em forma de explicação ou até de um exemplo. Entretanto, a referência ao enredo de
“A Metamorfose”, de Kafka, não funciona para concluir a comprovação do argumento, porque apenas
se faz referência ao desamparo do personagem principal por sua família, mas nada se diz sobre esse
personagem ser possivelmente portador de uma doença mental ou estigmatizado por isso. Não fica
clara, dessa forma, a relação desse repertório/exemplo com o tema em questão.
Apesar desse problema de coerência, a dissertação tem ganhos para a C3, como a organização do
projeto de texto (tese com dois encaminhamentos argumentativos – a aceitação no âmbito familiar e
a desvalorização do indivíduo –, os quais são retomados e desenvolvidos nos argumentos), articulação
completa entre conclusão e propostas de intervenção e desenvolvimento da maior parte das ideias e
das informações ao longo da redação.
Na C4, observa-se uma presença expressiva de elementos coesivos – operadores argumentativos,
conjunções, pronomes etc. – para articular parágrafos, períodos e orações. Vale destacar também a
ausência de inadequações e a variedade de recursos empregados. Já em relação à C5, que avalia a
proposta de intervenção, a nota máxima revela uma proposta para o problema abordado pelo tema,
respeitando os direitos humanos e com os cinco elementos exigidos: 1) “a fim de atenuar esses efeitos”
(efeito); 2) “Ministério da Saúde, com a participação dos CAP’s” (agentes); 3) ”a promoção de eventos
ligados ao assunto” (ação); 4) “por meio da criação de mais atividades que estimulem a participação
familiar” (modo/meio); 5) “a população seria capacitada a uma melhor compreensão de tal realidade
e poderia cumprir o conceito defendido por Hegel” (detalhamento do efeito). Note-se que a segunda
medida apresentada compartilha com a primeira o efeito e o detalhamento do efeito, além de trazer:
1) “as escolas, em parceria com profissionais da saúde especializados” (agentes) e 2) “a elaboração de
palestras sobre a abordagem das doenças” (ação).

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Texto nota: 920

C1: 160 | C2: 200 | C3: 180 | C4: 180 | C5: 200

Yngrid de Sá Oliveira

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O século XX modificou as relações e a maneira como o ser humano enxerga o mundo devido,
principalmente, ao fenômeno da globalização. Nesse contexto, num mundo globalizado, onde
as distâncias “são menores” e a velocidade de propagação das informações é quase que imediata,
a saúde mental das pessoas acaba sendo afetada devido à sobrecarga de acontecimentos a serem
acompanhados. Desse modo, o estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira se da
pelas redes sociais e pelo preconceito acompanhado da desinformação sobre o tema.
Em primeira análise, tem-se noção que a popularização das redes sociais criou padrões e rótulos
falsos de vidas perfeitas em que tudo deve ser mostrado em seu melhor ângulo. Entretanto, fora
das redes, há pessoas cada vez mais doentes psicológicamente devido à necessidade de expor uma
perfeição inalcansável. De maneira análoga, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirma em sua
teoria da “Modernidade líquida”, que a fluidez das relações contemporâneas as tornam efêmeras e
consequentemente prejudiciais à saúde mental do indivíduo, tornando as doenças mentais o chamado
“mal do século”.
Em segunda análise, a falta de informações sobre os transtornos mentais gera um preconceito sob
os mesmos devido à coerção social presente na problemática. Dessa forma, pessoas portadoras de
doenças mentais são tratadas pela sociedade como fracas ou loucas devido à falta de discussão sobre
o tema. Portanto, devido à falta de informações difundidas, os transtornos mentais se tornaram um
problema de saúde pública já que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), quase 12 milhões
de brasileiros têm depressão.
Logo, em virtude dos argumentos supracitados, nota-se a necessidade de solução para a
problemática abordada. Sendo assim, o Ministério das Comunicações deve propor acordos com as
empresas de redes sociais a fim de divulgar informações sobre saúde mental através de anúncios nas
plataformas com o intuito de conscientizar os usuários sobre o tema, diminuindo assim o número de
casos de depressão e ansiedade devido ao uso da internet. Também, o Ministério da Educação deve
criar projetos com psicólogos nas escolas a fim de propor rodas de conversa entre os jovens para que
eles debatam o tema e percebam que não estão sozinhos e que ao procurar ajuda a vida pode ser
levada de uma maneira mais leve. Concluindo, como afirma o ator Joaquin Phoenix no filme “Coringa”:
“a pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você aja como se não tivesse”.
Por fim, a difusão de informações sobre doenças mentais é uma das chaves para que a sociedade
brasileira se torne menos preconceituosa e mais acolhedora com as milhões de pessoas vítimas das
doenças mais populares da atualidade.

Comentário

Entre os vários pontos positivos da dissertação em questão, como a tese muito bem definida e
delimitada em acordo com a contextualização, o desenvolvimento bem feito e voltado à defesa da tese,
o uso de repertório externo das áreas do conhecimento pertinente e produtivo e a adequação dos
recursos coesivos, a C5 é o grande destaque do texto em questão. Comecemos, então, por ela.
Cada elemento que compõe a primeira proposta de intervenção é introduzido de modo muito claro:
“o Ministério das Comunicações” (agente) “deve propor acordos com as empresas de redes sociais”
(ação) “a fim de divulgar informações sobre saúde mental” (efeito) “através de anúncios nas plataformas”
(modo/meio) “com o intuito de conscientizar os usuários sobre o tema” (mais um efeito), “diminuindo
assim o número de casos de depressão e ansiedade” (efeito do efeito, ou seja, detalhamento). Veja que,
para cada um dos elementos da intervenção, há uso de construções que ajudam a evidenciá-los (deve
+ verbo; através de; com o intuito de; diminuindo assim), o que torna mais segura a atribuição da nota
máxima.

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O texto, além disso, mobiliza três referências intertextuais oriundas de um repertório das áreas do
conhecimento externo aos textos motivadores: o fenômeno da globalização, o conceito de “modernidade
líquida” e a frase do personagem Coringa. É perceptível que, já na contextualização do texto, a qual traz
uma breve descrição do mundo globalizado, estabelece-se um ponto de partida que será determinante
da tese: é por conta desse mundo globalizado que as pessoas têm a saúde mental afetada, já que há
uma sobrecarga de informações. As redes sociais, mencionadas na linha 6, se inserem nesse contexto
de sobrecarga, ideia que será complementada ao longo do desenvolvimento, associada também
ao conceito de liquidez. É em uma mídia em que tudo é perfeito e efêmero que a sobrecarga se dá,
apoiada na impossibilidade de se acompanhar tal ritmo de exigências, o que gera transtornos mentais.
Isso garante ao texto um uso produtivo das referências, já que elas ajudam a entender a problemática
destacada e se mostram articuladas.
Ainda era possível, no entanto, aprimorar alguns aspectos. Na C1, ocorrem poucos desvios, mas
estão presentes. Por exemplo, falta um acento no verbo “da”, na linha 6; a regência de “noção” na
linha 7 não é completada (“noção de que”); na linha 9, a palavra “psicologicamente” está acentuada
(lembremos que psicológico e psicologicamente, embora tenham o mesmo radical, possuem sílabas
tônicas distintas, pois são palavras distintas). Faltam algumas vírgulas (após “afirma”, na linha 10; entre
“ao procurar ajuda”, na linha 26) e há desvios de ortografia (seria “inalcançável”, na linha 9) e na escolha
de “sob” ao invés de “sobre”, na linha 14.
Na C4, por sua vez, ainda que não haja inadequação no uso dos recursos coesivos de modo geral,
há uma repetição excessiva de um termo de conexão: “devido a”. Essa expressão foi usada duas vezes
na introdução, mais quatro vezes no desenvolvimento e uma vez na conclusão, sendo que era possível
a troca por equivalentes em vários momentos. Uma revisão atenta e focada nos conectores poderia
ajudar a evidenciar a repetição para que fosse possível pensar nas alterações.
Por fim, quanto à C3, o texto poderia ter organizado melhor as informações para que houvesse
margem a um melhor desenvolvimento do tópico abordado no terceiro parágrafo. Afirma-se que há
falta de informação e que ela gera um preconceito, o qual foi pouco desenvolvido (afirma-se que a
sociedade vê os doentes como fracos ou loucos, mas sem que isso seja embasado ou comprovado).
Foram comprovados a existência e o tamanho do problema em si, a partir do dado resgatado dos textos
motivadores. Uma reorganização das ideias, ao trazer para esse parágrafo, por exemplo, a fala de
Joaquin Phoenix e tornar a conclusão mais objetiva, ajudaria a evidenciar um projeto mais estratégico
e um desenvolvimento melhor das informações.

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Texto nota: 900

C1: 160 | C2: 200 | C3: 160 | C4: 180 | C5: 200

Ruan Anthony Zucchi

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Na série “Modern Love”, Anne Hathaway vive uma personagem cuja vida é repleta de bons
desempenhos (na escola, na faculdade, no trabalho). Porém, ela possui um transtorno de bipolaridade,
incompreendido pelos seus pretendentes, afastando-a do amor. Embora ficcional, o título da série já
revela o que ocorre na realidade: o fator “modernidade” fomenta problemas de saúde mental, uma
vez que a sociedade ocidental moderna exige uma vida perfeita a qual, quando não é obtida, gera tais
problemas. Ademais, isso se transforma em um estigma, pois, envolvida nessa mentalidade moderna,
a sociedade banaliza problemas mentais e não os trata, aliados aos altos custos desses tratamentos no
Brasil.
Em primeiro plano, a modernidade contribui com problemas de saúde mental. Sobre tal fato, o
filósofo Byung-Chul-Han, em “Sociedade do Cansaço”, descreve que na sociedade ocidental hodierna,
Brasil incluso, há um excesso de positividade valorizando o sucesso profissional, acadêmico e amoroso.
Contudo, ao indivíduo que não desempenha bem em alguma área da vida, resta a ele uma frustração
cuja derrocada é um problema de saúde mental, como a depressão. Logo, essa exigência ostensiva de
vitórias, componente da forma com que o brasileiro é levado a pensar e a exigir de si, explica por quê o
Brasil possui cerca de 11,5 milhões de cidadãos com depressão, conforme dados disponibilizados pela
Organização Mundial da Saúde.
Em segundo plano, as doenças mentais têm um estigma associado, porque, em uma sociedade
imersa nessa mentalidade do “desempenho perfeito”, seus membros não veem com seriedade uma
dor que não é física. Por esse viés, a psicologia e a psiquiatria são vistos como perda de tempo e dinheiro
– tão prestigiados na máxima capitalista sobre produtividade, “tempo é dinheiro”, essa máxima que,
justamente, incentiva distúrbios psicológicos. Além disso, o estigma e o afastamento dos tratamentos
psicoterápicos também remetem ao preço cobrado, que alcança facilmente o valor de um quinto de
um salário mínimo para uma hora de terapia. Já que não é acessível ao bolso de muitos, nem um
serviço amplo na saúde pública, o povo brasileiro vê doenças mentais como problemas “de ricos”.
Portanto, para combater as doenças mentais, o Ministério da Saúde deve ampliar os serviços públicos
de saúde mental através de convênios com universidades públicas, em que esses atendimentos sirvam
de estágio para graduandos de psicologia e residentes em psiquiatria, por exemplo. Também, nessas
universidades, pode-se promover palestras aos pacientes e convidados de modo a discorrer sobre
como a sociedade se organiza de modo a tornar problemas mentais um estigma, articulando alunos
das humanidades, como os de Sociologia, a fim de conscientizar a sociedade de que os problemas
mentais não são um erro do paciente, mas uma consequência do tempo em que vivemos.

Comentário

O texto de Ruan, que alcançou nota 900 no Enem, tem uma série de pontos positivos que justificam
essa faixa de nota. Na C2, por exemplo, que avalia não apenas a estruturação dissertativa do texto, como
também a utilização e a produtividade do repertório das áreas do conhecimento, o aluno consegue
alcançar a nota máxima. Para isso, é possível perceber que ele se vale de um projeto de texto que
garanta a diferenciação entre introdução (primeiro parágrafo, no qual se apresenta o tema e o ponto
de vista), desenvolvimento (segundo e terceiro parágrafos, que buscam defender o ponto de vista
adotado) e conclusão (último parágrafo, em que se encontra a proposta de intervenção). Ainda, vemos
que o repertório externo das áreas do conhecimento aparece de modo produtivo em dois momentos
do texto. O primeiro ocorre ao citar a série Modern Love e explicar de que forma ela ilustra as frustrações
sofridas por pessoas que vivem com problemas de saúde mental e, consequentemente, os estigmas
que carregam. No desenvolvimento, o conceito de positividade, citado da obra de Byung-Chul-Han,
contribui para o entendimento do contexto social em que se inserem as constantes cobranças que
podem afetar a saúde mental dos indivíduos.

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A proposta de intervenção também é bem construída. A forma pela qual o aluno estabelece as
estruturas sintáticas na conclusão deixa claro e bem delimitado cada elemento exigido pela banca: em
“para combater as doenças mentais”, evidencia-se o efeito da proposição; em “o Ministério da Saúde”,
o agente que realiza a intervenção; em “deve ampliar os serviços públicos de saúde mental”, a ação em
si; em “através de convênios com universidades públicas”, o modo/meio de execução da ação; em “em
que esses atendimentos sirvam de estágio para graduandos de psicologia e residentes em psiquiatria,
por exemplo”, um detalhamento do modo por exemplificação.
Tanto a adequada utilização do repertório quanto a clara construção da proposta de intervenção
garantem nota máxima nas competências 2 e 5. Porém, poucos desvios fazem com que o texto perca
nota em C1. Pequenos desvios gramaticais, como a falta de vírgula antes de “a qual” e a ausência de um
referente claro para o adjetivo “aliados”, na introdução, ou a presença indevida do acento circunflexo
no “por quê” da linha 14, fazem com que o texto se mantenha com 160 na C1, dado que três desvios
gramaticais já são suficientes para barrar o alcance da nota máxima. Um outro problema sintático na
linha 22 faz com que o referente de “acessível” também não fique claro – nesse caso, a coesão interna
do período é prejudicada, uma vez que não fica clara, sintaticamente, a ideia de que o que não é
acessível são os tratamentos de saúde mental. Por outro lado, em C4, há um pequeno desconto de
nota ocasionado pela inadequação da conjunção “contudo”, na linha 10: a afirmação sobre a frustração
enfrentada por aqueles que não desempenham bem não é oposta (como denotaria a conjunção
adversativa) ao pensamento de Byung-Chul-Han, mas sim uma decorrência lógica dele, que poderia
ser expressa por um conectivo sequencial como “nesse sentido”. Outra falha coesiva é a repetição da
construção “de modo a”, nas linhas 27 e 28.

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Texto nota: 900

C1: 160 | C2: 160 | C3: 180 | C4: 200 | C5: 200

Pedro Torao Ueda

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Temáticas associadas às doenças mentais nunca tiveram seu devido reconhecimento. Um exemplo
é a rainha de Portugal (Maria) que – por ter sofrido com um determinado desequilíbrio psicológico
durante sua vida – era apelidada de “Maria, a louca”. Infelizmente, essa estigmatização se perpetua
até os dias atuais no Brasil, uma vez que é uma pauta pouco abordada nas escolas, além da questão
das mídias sociais, as quais criam uma realidade paralela e irreal, na qual não existem enfermidades
mentais.
Nessa perspectiva, observa-se que debates relacionados às doenças mentais são pouco frequentes
dentro das salas de aula. Isso, não só contribui para uma contínua estigmatização desse tópico, como
também dificulta o contato dos alunos com seus próprios sentimentos. Na animação “Divertida
Mente”, é apresentada uma situação semelhante, na qual a personagem principal “Riley” – tendo
aproximadamente doze anos – tem dificuldade em lidar com suas emoções, pois não teve nenhum
contato/aprendizado sobre o assunto dentro da escola. Logo, é preciso que assuntos que envolvem a
questão da saúde mental sejam mais frequentes dentro das instituições de ensino brasileiras.
Outrossim, as mídias sociais são um outro fator que perpetuam o estigma associado às doenças
psicológicas. Esses aplicativos, apesar de terem aspectos positivos (como a interação com pessoas
de diferentes culturas), acabam mostrando – na maioria das vezes – apenas os bons momentos. Por
consequência, cria-se uma realidade perfeita e que silencia a existência das doenças mentais, como
a depressão. O documentário “O Dilema das Redes” mostra exatamente o efeito negativo das redes
sociais e como elas são uma realidade paralela à vida real. Portanto, identifica-se que as mídias sociais
acabam por mostrar uma vida perfeita e que invalida a existência de doenças mentais.
Destarte, o Ministério da Educação poderia – por meio de um anexo na Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) – inserir aulas sobre as doenças mentais nas grades curriculares das escolas brasileiras.
Tal disciplina teria uma frequência de, no mínimo, uma vez por semana, garantindo a quebra (gradual) do
estigma relacionado às doenças psicológicas na sociedade brasileira e não permitindo a ridicularização
– através de apelidos – de nenhuma pessoa portadora de uma determinada enfermidade mental.

Comentário

Esta redação, que recebeu a nota 900, tem ganhos importantes, mas também pequenas falhas que
impediram uma nota mais alta e que permitem uma análise enriquecedora. Em relação à C1, que foi
avaliada com a nota 160, há poucos desvios, como ausência de uma vírgula obrigatória na segunda
linha, após “(Maria)”; falta de acento em “mídia”, no final do primeiro parágrafo; vírgula após “isso”
(separando sujeito e predicado), no início do segundo parágrafo. A estrutura sintática é excelente, com
orações coordenadas e subordinadas e várias inserções, por exemplo.
Na C4 e na C5, o texto obteve notas máximas. Em relação à C4, é possível observar uma presença
expressiva de elementos coesivos – operadores argumentativos, conjunções, pronomes etc. – para
articular parágrafos, períodos e orações. Vale destacar também a ausência de inadequações e a
variedade de recursos empregados. Quanto à C5, que avalia a proposta de intervenção, a nota máxima
revela uma proposta para o problema abordado pelo tema, respeitando os direitos humanos e com
os cinco elementos exigidos: 1) “Ministério da Educação” (agente); 2) “por meio de um anexo na Base
Nacional Comum Curricular (BNCC)” (modo/meio); 3) “inserir aulas sobre as doenças mentais nas grades
curriculares das escolas brasileiras” (ação); 4) “Tal disciplina teria uma frequência de, no mínimo, uma
vez por semana” (detalhamento da ação); 5) “garantindo a quebra (gradual) do estigma relacionado às
doenças psicológicas na sociedade brasileira e não permitindo a ridicularização – através de apelidos –
de nenhuma pessoa portadora de uma determinada enfermidade mental” (efeitos/finalidades).

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Passemos agora às análises das competências em que, assim como na C1, não se alcançou a
nota máxima. Com relação à C2, as três partes da dissertação estão bem delimitadas (introdução,
desenvolvimento e conclusão) e há abordagem completa do tema, já com todos os elementos que o
constituem (estigma + doenças mentais + sociedade brasileira) no primeiro parágrafo. Há nesta redação,
também, a presença de três repertórios socioculturais legitimados pelas áreas do conhecimento e
pertinentes ao tema: a referência a uma figura histórica – Maria, a Louca – na introdução; o filme
“Divertida Mente” no primeiro argumento e o documentário “O dilema das redes” no segundo.
O que impediu a nota máxima na C2 foi o fato de que nenhum desses três repertórios é produtivo
no texto, isto é, nenhum deles está bem articulado à discussão proposta nos parágrafos em que estão
inseridos. A menção ao apelido de Maria, a Louca não justifica que “as doenças mentais nunca tiveram
seu devido reconhecimento”, afirmação feita no início do texto; nem se articula com o conteúdo da tese,
apresentado em seguida, que aborda as escolas e as mídias sociais. Quanto à alusão ao filme “Divertida
Mente”, a não produtividade é justificada pela ausência de relação entre o ponto do filme destacado
e o estigma associado às doenças mentais devido à falta de debates sobre o tema na escola. Note-se
também que o que se diz sobre a personagem Riley – ter dificuldade em lidar com suas emoções –
ainda não chega a articular-se completamente com as doenças mentais, algo mais grave do que não
saber lidar com as próprias emoções. Por último, o documentário “O dilema das redes”, mencionado no
segundo argumento, alude a um efeito negativo das redes sociais (não se diz qual) e ao fato de serem
“uma realidade paralela à vida real”. Logo, esse repertório não ajuda a compreender como as mídias
sociais contribuem para a perpetuação do estigma associado às doenças mentais.
Por fim, na C3 o texto recebeu a nota 180. Aqui vale destacar o projeto de texto, muito bem
organizado a partir da tese no final do primeiro parágrafo, a qual reafirma o problema proposto na frase
temática e apresenta dois encaminhamentos argumentativos que são desenvolvidos nos parágrafos a
seguir: “uma pauta pouco abordada nas escolas” e a “questão das mídias sociais, as quais criam uma
realidade paralela e irreal, na qual não existem enfermidades mentais”. Observa-se também que a
ideia de estigma não é abandonada na introdução do texto, como muitas vezes acontece com o recorte
temático, mas é carregada para os dois argumentos e para a conclusão.
O pequeno desconto de nota nesta competência justifica-se pelo desenvolvimento dos argumentos
que, embora mencionem a questão do estigma, tendem a explicações de supostas causas para as
doenças mentais, em vez de explicarem – como se propôs na tese e como seria mais adequado ao
tema – as causas do estigma associado a essas doenças na sociedade brasileira. Outro possível motivo
para esse desconto de nota na C3 é que, na proposta de intervenção, apesar de haver uma boa relação
com o que foi tratado no primeiro argumento, falta uma alusão às mídias sociais (matéria do segundo
argumento), o que contribuiria para uma articulação total entre argumentação e conclusão.

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