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Resumo
É reconhecida a importância dos tratamentos superficiais das fibras naturais
lignocelulósicas (FNL) nas propriedades dos compósitos, sejam eles visando a
preparação da fibra para suportar o ambiente químico da matriz ou melhorar as
características da interface fibra-matriz. Recentemente, alguns autores têm relatado
bons resultados no recobrimento de FNL por um derivado da lignina, o lignosulfonato
(LS), que é subproduto da produção da celulose. A pesquisa do LS como agente
modificador de FNL ainda é incipiente, mas tem mostrado resultados promissores
para produção de compósitos. Portanto, o presente trabalho tem como objetivo
estudar a modificação superficial de fibras de piaçava quando submetidas ao
tratamento com LS em banho de ultrassom. As fibras foram caracterizadas por meio
de microscopia óptica, difração de raios X, espectroscopia de infravermelho por
transformada de Fourier (FTIR) e ensaios de tração. Os resultados mostraram que
ocorre absorção do LS pela fibra, bem como um aumento de resistência à tração
média da fibra. Por outro lado, não foi observada variação no diâmetro e na
cristalinidade das fibras.
Palavras-chave: Fibra natural lignocelulósica; Piaçava; Lignosulfonato; Tratamento
superficial; Propriedades.
1
Engenheira Civil, Mestranda em Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense (UFF),
Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
* Contribuição técnica ao 75º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 6ª edição, realizada de 07 a 09 de junho de 2022, São Paulo, SP, Brasil.
2
Engenheira Civil, Mestranda em Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense (UFF),
Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
3
Engenheira Civil, D.Sc, Docente, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de Janeiro,
Brasil.
4
Engenheiro Metalurgista, D.Sc, Docente, Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Rio de
Janeiro, Brasil.
* Contribuição técnica ao 75º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
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INTRODUÇÃO
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
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celulose. Podem ser obtidos também pela sulfonação de ligninas obtidas por
processos Kraft. Dependendo do tipo de processo de polpação, lignosulfonatos
diversificados podem ser obtidos, como os de cálcio, sódio, magnésio e amônio [7].
É caracterizado por suas propriedades aniônicas, tensoativas, aglomerantes,
umectantes, plastificantes, entre outras. Apresenta solubilidade em água, e é
proveniente principalmente de madeiras de coníferas, por apresentar elevado teor
de lignina, como as de pinus [8]. Quando molhados, desenvolvem adesividade e
poder de aglomeração.
O lignosulfonato utilizado no experimento foi o de sódio (Ultrazine NA), doado
pela empresa Borregaard AS.
2.1.3 Ultrassom
2.2 Métodos
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faixa de 2θ entre 10° e 70°, com passo de 0,05° a 2°/min. Para a preparação da
amostra, as fibras foram cortadas com tesoura em comprimentos inferiores a 1 mm.
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Para estimar o Índice de Cristalinidade (Ic) das fibras de piaçava, os
difratogramas foram tratados, por meio do programa Origin 8, para remoção do
background e obtenção dos dados relativos aos picos (máximos) da celulose e da
fase amorfa. O índice de cristalinidade é calculado a partir da equação 1 a seguir
[12]:
(1)
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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
(a) (b)
Figura 2. Imagens microscópicas das fibras de piaçava para medição do diâmetro: (a) fibra in natura;
(b) fibra tratada com lignosulfonato e ultrassom.
O histograma com a distribuição das fibras foi obtido, conforme pode ser visto
na Figura 3. Pode ser observado que a maioria das fibras da piaçava in natura se
distribuem no grupo de diâmetros variando entre 0,42 e 0,46 mm. Já as fibras
tratadas apresentaram uma distribuição maior entre os diâmetros de 0,37 e 0,41
mm. Os histogramas para ambos os grupos foram considerados similares.
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Frequência (%)
Diâmetro (mm)
Figura 3. Histogramas mostrando a distribuição de frequências de diâmetros para as fibras de
piaçava: (a) fibra in natura; (b) fibra tratada com lignosulfonato e ultrassom.
Figura 4. Padrões de difração para as fibras de piaçava: (a) fibra in natura; (b) fibra tratada com
lignosulfonato e ultrassom.
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Como discutido na seção 2.2.3, também é possível estimar o Índice de
Cristalinidade (Ic) das fibras por meio da difração de raios X. O Ic permite quantificar
o percentual da massa das fibras que é formado por fases cristalinas (no caso, a
celulose nativa) e por fases amorfas. A celulose (parte cristalina) geralmente é
conhecida como a fase responsável pela resistência mecânica das fibras naturais e,
portanto, quanto maior o teor de celulose (e consequentemente maior cristalinidade)
geralmente maior é resistência mecânica da fibra.
Para a análise do Ic, o background do padrão de difração (ruído do gráfico) foi
interpolado por meio da seleção automática de 10 pontos pelo software e utilizando
uma função do tipo spline. O background foi então removido e os valores de máximo
do pico a 22° (I002, relativo ao plano (002) da celulose) e do mínimo entre os dois
picos (Iam, entre 16° e 22°, ao redor de 18°, relativo ao máximo do halo amorfo)
foram obtidos. Estes dados são utilizados para calcular o Ic por meio da Equação 1.
A Tabela 2 mostra os resultados do cálculo do Ic.
Tabela 2. Indice de Cristalinidade das fibras de piaçava in natura e tratadas com lignosulfonato e
ultrassom
Fibra I002 Iam Ic (%)
In natura 3390 964 71,56
Tratada 3202 923 71,16
A Figura 5 mostra os espectros de FTIR das fibras de piaçava. Esta análise foi
realizada com a finalidade de identificar os grupos químicos presentes nas
moléculas da piaçava in natura (curva preta, Figura 5) e tratadas pela solução (curva
vermelha, Figura 5). Os componentes que indicam a presença de celulose estão
evidentes nos picos de 3346,86 (in natura) e 3363,31cm-1 (tratada), relacionados ao
estiramento da ligação de hidrogênio nas hidroxilas (OH) presentes na celulose e na
hemicelulose [15]. Os picos na região no entorno de 3000 cm-1 (2921,23 cm-1, curva
da fibra in natura) são referentes ao estiramento de ligações C-H em grupos metila,
presentes na celulose para ambos os tratamentos. Os picos de absorção em
1606,43 (in natura) e 1654,74 cm-1 (tratada) compreendem os grupos contendo
ligação dupla entre carbonos (C=C), provavelmente associados com anéis
aromáticos. Um pequeno pico a 850 cm-1 é característico das ligações β-glicosídicas
da celulose [15]. Outros grupos funcionais são mostrados de Figura 5, comuns nas
fibras lignocelulósicas.
No espectro da fibra in natura (Figura 5) é ressaltado o pico em 769,78 cm-1
que pode representar os cloretos presentes. Já na fibra tratada este pico de
absorção desapareceu, indicando a significativa redução deste grupo funcional. Uma
hipótese é que o banho com lignosulfonato em conjunto com o ultrassom auxiliou a
dissolução destes componentes.
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Um pequeno pico a 850 cm-1 é característico das ligações β-glicosídicas da
celulose. Já as bandas de entre 1033 e 1404 cm-1 são atribuídas aos estiramentos
fora do plano em ligações C-O de grupos arila pertencentes à lignina [15-17]
Em 655 pode ser observado um pico de transmissão na curva da fibra tratada,
que pode indicar a presença do lignosulfonato de sódio. É provável que este pico
corresponda à vibração dos grupos sulfônicos (SO3H) [10]. A Figura 6 mostra uma
ampliação desta região. Este sinal pode indicar que houve aderência do composto
na fibra de piaçava.
Figura 5. Espectros do FTIR das fibras de piaçava in natura e tratadas com lignosulfonato e
ultrassom.
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Figura 6. Ampliação do espectro da Figura 6 na região de 650 a 850 cm-1.
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3.4 Ensaio de tração
Figura 7. Curvas tensão-deformação típicas para as fibras de piaçava: (a) ) fibra in natura; (b) fibra
tratada com lignosulfonato e ultrassom.
Tabela 3. Resultados do ensaio de tração para as fibras de piaçava in natura e tratadas com
lignosulfonato e ultrassom.
Fibra Resistência média Extensão média
(MPa) (%)
In natura 305 ±154 7,18 ±2,80
Tratada 429 ±115 3,66 ±1,09
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Observa-se, pela Tabela 3, um aumento na resistência da fibra mediante o
tratamento com lignossulnato e ultrassom. Por outro lado, ocorreu uma piora na
extensão máxima em tração. D’Almeida et al. avaliaram a resistência das fibras de
piaçava, obtendo um valor em torno de 140 MPa [17], significativamente menor que
o obtido no presente trabalho.
4 CONCLUSÃO
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
* Contribuição técnica ao 75º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 6ª edição, realizada de 07 a 09 de junho de 2022, São Paulo, SP, Brasil.
seus impactos socioeconômicos atuais e potencialidade de manejo sustentável. São
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Química) – Universidade de São Paulo, São Carlos/SP. 2010
11 Gadhe JB, Gupta RB, Elder. Surface modification of lignocellulosic fibers using high-
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14 Miranda CS, Fiuza RP, Guimarães DH, Carvalho GGP, Carvalho RF, José NM.
Tratamento químico do resíduo de piaçava para aplicação em compósito polimérico.
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* Contribuição técnica ao 75º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 6ª edição, realizada de 07 a 09 de junho de 2022, São Paulo, SP, Brasil.