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O materno da clínica:

aspectos sobre o enquadre


e o corpo do analista 1

Maria Elisa Pessoa Labaki e Luciana Cartocci

Revista Brasileira de Psicanálise Maria Elisa Pessoa Labaki  é


volume 50, n.3, p. 184-195 · 2016 membro de Departamento de
Psicanálise do Instituto Sedes
Sapientiae, onde participa do
grupo de trabalho e pesquisa “O
feminino e o imaginário cultural
Resumo contemporâneo”; professora do curso
de Psicossomática Psicanalítica do
Este trabalho apresenta e desenvolve uma discussão sobre o
mesmo instituto.
método clínico psicanalítico e suas afinidades com o campo
Luciana Cartocci  é membro do
do materno. Ressalta aspectos do enquadre e do manejo bem Departamento de Psicanálise do
como qualidades de presença do analista e seu corpo que Instituto Sedes Sapientiae, onde
corresponderiam a modalidades do materno instituintes e participa do grupo de trabalho e
organizadoras da clínica. Sem esquecer a dimensão paterna pesquisa “O feminino e o imaginário
cultural contemporâneo” e do
do enquadre – aquela referida a sua função terciária –, o
conselho editorial da revista Percurso.
presente trabalho destaca na função materna a propriedade
mais conhecida por moldura. Operando duplamente,
a moldura cria um topos a ser preenchido, ao mesmo
tempo que protege os processos e vivências ali produzidos.
Denominado clínica da presença, ou do sensível, e baseado
na afetação mútua do par analítico, o campo do materno
aqui descrito segue de perto o das trocas oferecidas pela
mãe, sem no entanto confundir-se com maternagem – o que
deixaria de ser psicanálise. Ferenczi e Winnicott são autores
de referência, cujas propostas inspiram as reflexões deste
trabalho.
Palavras-chave
materno; enquadre; transferência; presença; reflexividade.

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D escoberta ou invenção? – perguntava-


-se Marcelo Viñar, recentemente em São
que são mutuamente determinadas. Hoje,
nossas investigações se voltam cada vez
Paulo, a respeito do surgimento da psica- mais para o primário e originário, em busca
nálise. Fato é que o pensamento psicana- de compreensão das chamadas patologias
lítico vem evoluindo significativamente atuais.
desde sua fundação há cerca de 120 anos. Técnica, teoria e demanda formam uma
Reformulações, idas e vindas, novos pro- tríade indissociável. Não à toa, na metap-
blemas. Nessa evolução, nem um pouco sicologia atual, procura-se cada vez mais
linear, o arcabouço teórico da psicanálise depurar como se dá a participação do outro
se expandiu consideravelmente. As hipóte- na constituição do psiquismo, enquanto
ses freudianas, e a seguir as de seus sucesso- que, concomitantemente, na condução do
res, foram ganhando maior complexidade tratamento, o lugar do analista e o trabalho
e precisão, com a criação de novos con- psíquico exigido por ele têm sido foco de
ceitos ou discriminações naqueles já exis- mais atenção. Já no início do século pas-
tentes (eu ideal/ideal do eu, por exemplo), sado, Ferenczi, em seus atendimentos a
ganhando apuro, como da noção de traço pacientes avaliados como difíceis ou ina-
ao conceito de significante, desdobrando- nalisáveis, privilegiou adaptar a técnica
-se em filigranas e pictogramas. Cada vez às possibilidades daqueles que chegavam
mais, as questões das origens do psiquismo, muito desorganizados e submetidos a gran-
não apenas de seu funcionamento e adoe- des cotas de sofrimento, incluindo no set-
cimento, foram sendo exploradas. Em ting elementos até então não considerados
Freud, mais ao fim da obra, as formulações ou não admitidos. Esboçou em suas teori-
sobre a pulsão de morte e a feminilidade zações uma articulação da noção de elasti-
deixam em aberto os enigmas da consti- cidade da técnica com uma metapsicologia
tuição psíquica. Seus seguidores, incansá- dos processos psíquicos do analista, na qual
veis, trazem novos aportes. Com Ferenczi combinou a atitude da benevolência a uma
e depois Winnicott, entre outros, as teo- aguda observação clínica.2
rizações sobre as fundações do psiquismo Winnicott, por sua vez, trouxe aportes
seguem e ampliam os caminhos já aber- sobre o materno que o assimilam a um
tos por Freud. A participação daquele que espaço e a um tempo, que podemos tra-
cuida da criança, do outro, na emergência duzir por meio ambiente e por ritmo e
do psiquismo deste ganha acentuado relevo duração, respectivamente. Esses elemen-
e consideração. tos presentes no materno repercutem nas
Nas últimas décadas, Fédida, Green e questões da técnica associadas ao setting
Aulagnier (apenas para citar alguns sobre clínico e à figura do analista atravessada
cujas obras nos apoiamos) detalharam os pelo campo transferencial. Com Winni-
avatares desses começos. Certamente, cott (1954/1973), o diagnóstico – ou aquilo
essa evolução teórica caminha pari passu que é entendido sobre a psicopatologia
às demandas da clínica – diríamos mesmo do paciente  – se relaciona com o que é

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exigido “do analista pessoal e tecnicamente lado for o escolhido, será talvez a sombria
na condução” de uma análise (Cartocci & e solipsista violência pulsional que, em sua
Franco, 1996, p. 8). Ferenczi e Winnicott clausura, deixará analista e analisando em
alertam, cada um a seu modo, que resis- solidão, desarticulados um do outro. Quem
tir ao enquadre que o paciente necessita sabe esta última hipótese possa traduzir um
traduz um limite do analista em sustentar pouco do destino da clínica nos primór-
as transferências primitivas. A partir da clí- dios pós-sugestão, já que ver a transferência
nica contemporânea, a noção de amadu- como obstáculo ao tratamento significava
recimento do self passa a ser também um não só desconsiderar a função clínica dos
referente diagnóstico, e seguimos nos per- investimentos pulsionais do paciente sobre
guntando sobre a instalação das primeiras o analista como também assumir a necessi-
estruturas organizadoras do psiquismo. dade de se erguer uma barreira de contato
Não deixa de ser arriscado o que fazem entre os dois. Mas, promovida a transferên-
algumas correntes da psicanálise atual em cia de obstáculo para a cura à categoria de
ver como adversárias as teorias que privile- método clínico – simultaneamente campo
giam o campo do pulsional e aquelas que e mecanismo –, o par analítico pôde, com
se orientam pelas relações de objeto. De essa nova versão da clínica, reencontrar-
fato, depois de mais de um século de pes- -se no espaço transferencial das trocas
quisa clínica e esforço de teorização, não se simbólicas.
trata de rivalizar com uma ou outra posição A transferência tomada como campo
teórica, numa espécie de Fla-Flu religioso, nem interno nem externo ao par analí-
o que levaria necessariamente ao desman- tico, mas na intersecção dos dois, designa
telamento da visão, tão cara e útil à clínica, o lugar onde jogam, brincam e tramitam
que concebe imbricados objeto e pulsão as pulsões enlaçadas a seus objetos – ambos
sob o regime da complementação e ine- copartícipes nessa arena. A análise da trans-
rência – aliás, muito bem assinalado por ferência é uma experiência na qual está
Green (1990) na conhecida afirmação de em questão não apenas o inconsciente do
que a pulsão só pode ser revelada em pre- paciente, mas também o do analista, o
sença do objeto, que a recorta. Presença que faz, por exemplo, da análise pessoal a
que faz falta e se faz sentir pela urgên- principal via para se tornar um psicanalista
cia, necessidade, anseio ou desejo, é ela o capaz de construir teoria. Ora, é próprio do
motor pulsional, seu engate e tensão, que método psicanalítico aproximar-se de seu
chama ou grita por socorro. objeto através das características dele, isto
Pois bem, se se arrisca torcer por um é, o método é baseado na lógica do incon-
dos lados dessa disputa, o do objeto, pode- sciente, na lógica de seu objeto, o que faz
-se incorrer no erro de personalizar por com que sua apreensão tenha que passar
demais o trabalho analítico, reduzindo-o obrigatoriamente pela experiência con-
a um drama que se passa entre as duas creta entre paciente e analista. De modo
pessoas da cena clínica. Mas, se o outro que a figura do analista não é apenas a de

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observador nem apenas a de hermeneuta, feitas as coisas. Ao mesmo tempo que


ainda que essas posições se façam presentes remete a um espaço côncavo, continente,
e necessárias em muitos momentos, dada a mater é também substância. Materno, por
oscilação constante entre os processos pri- seu lado, é qualidade materializada na
mários e secundários que são exigidos de presença que pode emergir das palavras,
um analista. Assim, essa experiência, a da dos gestos, no olhar, na atenção. Há algo
transferência – e já podemos acrescentar, a de silencioso no materno. Comunicação
da contratransferência –, é construída, mol- não verbal que impõe um sentido e uma
dada e disparada pelo enquadre que abre o qualidade ao encontro. Por sua vez, a pala-
espaço analítico. Indissociada do método, vra dita será também modulada pelo tom,
ela é sua matéria, o constitui (Delouya, altura e timbre da voz. Destacamos o polo
2002). Trata-se, portanto, no campo trans- passivo do materno, que pode traduzir-se
ferencial, de uma tópica – ambiente – em como potência de sustentação, de recepti-
que se dão os intercâmbios do par analítico. vidade e de atração.
Feita essa introdução, interessa-nos Enfim, a matéria de que é feito o espaço
neste artigo levantar as condições materiais analítico relaciona-se com aquilo de que é feito
e subjetivas para que movimentos psíqui- o espaço psíquico. Na clínica, encontramos
cos, muitas vezes inaugurais, possam acon- no enquadre aspectos dessa silenciosa pre-
tecer no processo analítico. E, a partir daí, sença. Como o próprio nome diz, enquadre
apresentar uma articulação com a dimen- é aquilo que emoldura a cena e a protege, e
são do materno. que, uma vez acordado entre paciente e ana-
lista, segue como pano de fundo, sendo cui-
dado por ambos. A moldura cria um topos,
Do enquadre ao materno um espaço vazio em seu interior, matriz, para
que o analisando o preencha.
Propomos uma associação íntima da dimen- Muitos analistas se preocuparam em
são do materno com o conceito técnico pensar a função do enquadre e suas pos-
de enquadramento. Sugerimos com essa sibilidades para que o espaço clínico
hipótese que a dimensão materna esta- pudesse realmente abrigar com cuidado
ria referida nas coordenadas do enqua- e firmeza os processos inconscientes que
dre analítico enquanto estrutura – vazio ali emergiriam. O sugestivo e polissêmico
receptivo e potencializador – e na vertente termo setting, criado por Winnicott, reúne
qualitativa – cuidado. a soma de todos os aspectos da técnica e
Matriz, matéria: ambas as palavras pro- pode ser traduzido por cenário, afinação
vindas do latim mater. Matriz: origem, (no sentido musical), ajuste, montagem ou
fonte, útero. Matéria: aquilo de que são consolidação.
Bleger distinguiu dentro do setting,
ou da situação psicanalítica como pre-
feria chamar, dois elementos referentes

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às coordenadas que inauguram o espaço “Devemos aqui sair de uma interpreta-


analítico: o enquadramento propriamente ção muito realista, pois nós sabemos que
dito, com suas constantes fixas,3 chamado o enquadre não tem valor senão enquanto
por ele de não processo, que será o suporte metáfora de um outro conceito (o modelo
silencioso de aspectos muito primitivos do do sonho, a proibição do incesto, os cuida-
paciente, que remetem à sua instituição dos maternos, etc.)” (p. 59). E o que deve
primeira e familiar; é dentro do enquadre, estar sempre presente é o enquadre interno,
daquilo “que sempre está” (Bleger, 1977, p. aquele que se internalizou para o analista
313), que se desenvolverá o ruidoso processo como um espaço que pode salvaguardar a
analítico, com a emergência dos afetos, das condução do processo analítico.
associações e das interpretações. O modo Em tempos e espaços bem delimitados
como o enquadramento – que permanece pelo enquadre, os movimentos de aproxi-
implícito, porém alvo de constantes interfe- mação e separação, presença e ausência
rências – se estabelece poderá definir como farão parte do material a ser trabalhado na
seguirá o processo analítico. Bleger aponta transferência e se tornarão campos privile-
o paradoxo: aquilo que se busca que perma- giados de construção de palavras e sentidos.
neça fixo permite o processo, mas sem sua O enquadre assim constituído permanece
análise não se chega ao território silencioso como pano de fundo e comporta simulta-
e profundo da parte psicótica ou simbiótica neamente tanto o holding quanto o limite
do paciente, lugar que marca o entre, o que, ancorado na lei, no lugar do pai, remete
dentro e o fora. Zona de transição, nunca ao corte necessário para a manutenção do
perfeitamente definida. desejo. Dessa forma, exerce também a fun-
Os aspectos chamados de materiais do ção de terceiro, para que o encontro ana-
enquadre, que regulam as relações entre lítico não se precipite em intrusão e faça
analisando e analista, foram também con- sumir o espaço aberto para o paciente.
siderados por Green e distinguidos da Além disso, é pelo enquadre, e por sua
colocação da regra fundamental  – que aparente exterioridade, que se produz a
inaugura a fala transferencial e o traba- dissimetria necessária entre paciente e
lho psíquico do analista (matriz ativa). Na analista que leva a instaurar o Outro, o
matriz ativa está incluída a benevolência estranho que permitirá ao analista colo-
do analista, aquela que pode ajudar tanto car-se num modo particular de presença
o paciente como o próprio analista a seguir receptiva (Menezes, 1995), mais silencioso
em frente na análise dos conflitos, contra- e reservado.
dições e temores infantis. Não importam as Se materno encontra no termo mater
condições concretas do enquadre (estojo) – sua origem etimológica, podemos depreen-
a benevolência é uma das posições que der que tais aspectos materiais e externos
compõem o enquadre interno do analista.
A propósito das distinções entre psicaná-
lise e psicoterapia, Green (2008) escreve:

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ao paciente, que participam de todo pro- estenda por um espaço, no ritmo do reco-
cesso analítico, estão em íntima conexão lhimento necessário, recolhimento que
com a dimensão do materno. Os gestos têm pode ser do piscar os olhos ao dormir.
sentido metafórico. As palavras sustentam O tempo da interpretação é outro ele-
corpo. Assim, o enquadre é tanto gesto que mento a ser cuidado para que surja a con-
funda, ação inaugural, quanto sentido. fiança. Antes do tempo, a interpretação
Afinal, o pagamento acertado poderá ser pode soar estrangeira, seja por ação do
presente ou fezes ou bebês, aquilo que se recalque, seja pela falta de timing em apre-
desprende e produz espaço livre e angús- sentar-nos como objeto, quebrando assim
tia. Matriz, material, oco, ressonância. O a ilusão criadora. Às vezes, isso acontece e
tempo das sessões e sua frequência dão saímos prematuramente do pano de fundo.
ritmo e embalo à sustentação do espaço Alguns podem suportar sem maiores gra-
interno daquele que nos procura… O vidades; com outros, corremos o risco de
divã pode representar o colo do analista deixá-los cair. Faltas, atrasos, mudanças na
ou, dependendo do caso, ser em algum disponibilidade interna do analista fazem
momento o colo da mãe, porém, quando emergir o que estava silencioso, dado como
da eminente queda, pela eclosão da angús- constituído e, talvez, seguro. Quem, como
tia ou desestruturação psíquica, é a pol- analista, não sofreu as consequências de
trona que permitirá que o olhar também algum atraso? São situações em que inad-
esteja presente como suporte. O ritmo, vertidamente saímos do tempo do paciente
aquilo que permanece constante num antes que ele possa tolerar nossa alteridade.
certo número de vezes por semana, esta- Lembra-nos Jacques André (2008) que o
belece a confiança necessária da continui- enquadre, ou setting, da mesma forma que
dade, confiança que permitirá justamente o eu, é um “ser de fronteiras” (p. 66) que se
que o imprevisível faça sua emergência. projeta na superfície da análise – projeção,
Afinal, o traumático a ser revivido na aná- aqui, no sentido geométrico. Por isso supo-
lise é sempre imprevisível, paradoxo com mos que sofrimentos primários ligados à
que trabalhamos o tempo todo, pois “não constituição precária do eu poderiam estar
há imprevisível sem confiança previamente na base de ataques ao enquadre, desde o
restabelecida” (André, 2008, p. 68). mais material (pagamento, horário) até a
Se o tempo da sessão pode variar é por- capacidade de pensar do analista.
que há um ritmo de imersão a ser respei- A palavra proferida pelo analista é inau-
tado até que surjam experiências psíquicas, gural. A enunciação da regra fundamental
criem-se sentidos e uma elaboração neces- obedece a uma formatação de transferên-
sária seja alcançada, garantindo que uma cia apoiada no modelo do sonho. Para isso,
duração coextensiva à vida psíquica se a figura do analista funciona mais como
tela ou suporte, e sua presença em nega-
tivo tem efeito na medida em que oferece
ao analisando as condições para se entregar

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ao sonho acordado: silêncio, retirada do descoberta de que o pensar encontra sua


olhar ou dos estímulos ao olhar, divã. Esse plenitude quando pode encadear-se com
recorte, o do sonho, conserva seu vigor e autonomia.
aplicabilidade, já que “todo analista tra-
balha pela constituição progressiva de sua
ausência” (Menezes, 2001, p. 38). Assim, Função materna, corpo e reflexividade
enquanto a regra (“Diga tudo o que lhe do analista
passa…”) espera se fazer ouvir pelo recal-
cado, as indicações do analista que deli- A postura receptiva do analista sustenta a
mitam tempo e espaço se destinam ao eu, criação do espaço analítico, pois, ao aco-
às suas fronteiras (André, 2008). Pacientes lher empaticamente o paciente, cria con-
de quem suspeitamos muita fragilidade fiança na escuta sensível que é oferecida
precisam receber na hora certa o convite e no dispositivo que é proposto  – isto é,
para associar no divã, cuidando o analista sustenta o espaço onde a fala que emerge
de resguardar não apenas o sonho como encontra de fato um lugar que pode dar
também a ilusão. ao paciente a dimensão de sua verdade, a
Uma experiência fundamental em rela- convicção de sua importância.
ção à atividade de pensamento foi vivida Hoje não podemos deixar de levar em
em sua sessão de estreia no divã, após três conta os acontecimentos da ordem do sen-
anos face a face. O relato de uma situa- sível, uma vez que sabemos que a origem
ção de conquista subjetiva, em que se viu de todo processo psíquico está profunda-
desenroscar-se da repetição de certa posi- mente imbricada na sensorialidade. O psi-
ção alienada infantil, foi sucedido por uma quismo surge primordialmente na criança
impressão de que falar sem me ver repercu- por meio de uma organização subjetiva do
tia nela como se mentira fosse aquilo sobre tempo, do espaço e da corporeidade no
o que falava. Por isso nota, desconcertada, contato afetivo e sensorial com outros seres
que meu olhar4 valida suas experiências. humanos. Esse contato afetivo e sensorial,
De onde percebe que também as ancora, que faz emergir a vida psíquica, comporta
mantendo sua mente presa a mim – assim a linguagem, o que inclui sua base mate-
como presa à mãe e a outros significati- rial, o som, e sua força pulsional e incons-
vos. Sentindo-se surpresa depois, por fla- ciente. Como participam esses elementos
grar-se enfim querendo “soltar a língua” sensoriais no encontro analítico? Forma-
(Ferenczi, 1930/1992b), sem me ver e sem riam eles também as matrizes de novos
que eu a visse, chama isso – ou seja, o tra- registros psíquicos? Escreve Fédida (1988b)
balho associativo no divã – de brincar. Daí que não podemos esquecer que a episteme
um passo até a ideia de liberdade. Men- da psicanálise “não é de forma nenhuma
tir e brincar surgem, portanto, como pon-
tos de arremate em sua trajetória rumo à

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dissociável da experiência da análise e, não significa desistir da atividade associa-


neste sentido, de sua techné, neste caso, tiva, tampouco negar as imposições da rea-
da condição de linguagem do trabalho ana- lidade, mas apostar no direito do paciente
lítico” (p. 107). Linguagem discursiva, sem de ter o que precisa para reencontrar-se
dúvida, mas também a linguagem não ver- com sua infância. Como então a criança
bal, por onde muitas vezes caminha a trans- traumatizada no adulto seria, pela aná-
ferência e por onde muitas vezes acontece, lise, conduzida a um novo destino? Para
silenciosamente, o suporte à vulnerabili- Ferenczi, esse resgate só é possível na expe-
dade do eu para que o paciente encontre riência clínica por meio do tato, empatia
com seus fantasmas. e sensibilidade do analista, cujo manejo
Para Ferenczi (1931/1992a), o analista resultará em testemunho à altura da expres-
deveria proceder como uma mãe cari- são de sofrimento do paciente.
nhosa que não irá deitar-se à noite sem Havendo lugar no setting para a afetação
repassar com o filho as preocupações e mútua (Kupermann, 2008a, 2008b) ou res-
angústias vividas por ele no dia. Natural- sonância afetiva, o analista investe na liga-
mente, sem confundir-se com o papel da ção dos afetos mais do que interpreta. Sua
mãe ou de quem faz a maternagem, o fala anuncia mais do que enuncia, desco-
que deixaria de ser psicanálise, mas traba- bre mais do que aponta, testemunha mais
lhando, sobretudo, para manter um con- do que observa. Nas palavras de Green
tato emocional com o paciente. Nesse (1990):
sentido, a análise teria por método reins-
taurar a situação infantil e oferecer a ela A fala analítica dentro do setting, a fala que
um novo desfecho – pois o trauma, que torna o único modo de comunicação permi-
leva a criança a amadurecer cedo demais, tido entre o analista e o analisando encon-
tal qual uma fruta bicada, marca e inter- tra-se, por ser palavra, pulsionalizada, é uma
rompe um período fundamental da cons- fala corporalizada […]. Dito de outra forma,
tituição psíquica. falar, em análise, não é perfazer o luto que
Sabemos que a função materna se tra- todo discurso comporta, é, ao contrário, exa-
duz pelo exercício das capacidades afetivas cerbar o desejo de reencontrar o contato pri-
e simbólicas da mãe, que possibilita atra- mitivo. (pp. 22-23)
vés das práticas dos cuidados corporais o
desenvolvimento no bebê do sentido de Nesse sentido, a fala do analista, seu
continuidade e existência: ser alguém no comportamento, mímica, gestos e olhar,
tempo e adquirir o sentimento de si (self). encarnados por uma presença viva, em
Por isso, realizar sessões mais longas ou dei- positivo, podem produzir a convicção no
xar que o paciente cochile, por exemplo, analisando de que alguma intimidade, ou
interioridade, está ali se constituindo, tal-
vez pela primeira vez diante de outra pes-
soa – isto é, a inclusão do corpo na fala

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assim como a palavra incorporada ao gesto que perfazem o holding ou sustentação do


reencenam, no espaço analítico, a potência espaço analítico. Como uma “antena para-
que nos primeiros encontros, logo ao nas- bólica” (Delouya, 2002, p. 84) que está pre-
cer, faz instaurar o espaço para o psíquico parada a captar os sinais de transmissão, sua
se configurar. receptividade própria à atenção flutuante
Às vezes, é suficiente que o analista asse- permitirá que se dê um encontro de seu
gure o paciente de sua presença com peque- inconsciente com o do paciente. Fédida
nas palavras, interjeições, cuja função fática (1988a) vai adiante e situa a angústia con-
garanta a continuidade da brincadeira asso- tratransferencial do analista idealmente
ciativa. Uma espécie de “manhês”, ou lín- “como a de uma mãe capaz de ressonância
gua das mães, carregado de afeto, que ecoa com o estado da criança, de continência das
e sustenta o aparentemente sem sentido. energias desta angústia, de metabolização e
Certa musicalidade que precede ou acom- metaforização dos afetos confundidos que
panha a linguagem, assim como o sorriso tendem a transbordar na criança” (p. 75).
da mãe que se rasga com a oferta do seio. No entanto, junto à receptividade e con-
Nota-se, nessa feição da clínica, como a tinência, é preciso ainda que outra voz, a
presença sensível do analista que se coloca reflexiva, seja acrescida às disposições do
disponível ao paciente suscita uma potên- analista: só assim o trabalho contratransfe-
cia capaz de, nos moldes do fenômeno da rencial poderá resultar em material meta-
ilusão (Winnicott, 1971/1975a), propiciar ao bolizado a ser oferecido no momento
paciente a criação de um mundo subjetivo. oportuno ao paciente. Voz reflexiva são
Importa essa conquista na medida em que trilhas autoeróticas se recrudescendo no
ele poderá com ela finalmente iniciar um corpo do analista e permitindo a ele guiar-
modo próprio de estar no mundo. A palavra -se pelo solo de sua sensorialidade. Nas
do analista é aqui um ato de Eros e pro- palavras de Leite (2006):
move, ou reedita, o sentido de uma existên-
cia que poderá manter-se em continuidade uma imaginação corporal, uma figurabi-
ao longo do tempo, a despeito da presença lidade que nasce no corpo – em múltiplas
ou ausência do outro. Se a experiência do
existir para o bebê acontece, e só acontece,
no colo da mãe, na sessão analítica o colo é
a segurança na continuidade do encontro,
respaldada pelo enquadre mais continente
àquele que nos procura.
Mas todo esse processo não seria possível
se o analista não se colocasse em posição
de abertura e prontidão para essa entrega
“de corpo e alma”, com sua escuta conec-
tada, o olhar interior e a atitude receptiva

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sensações viscerais, cinestésicas, táteis, acús- e vibrações, sob a forma de comunicação


ticas, visuais – e que, no silêncio da sessão, verbal ou não verbal, compõem o acervo
movimenta o funcionamento psíquico do das interações originárias revisitadas na
analista em sua atividade de construção de clínica do sensível.
uma linguagem singular em cada análise.
(p. 88)
Para terminar
O fenômeno da empatia, definido
como um sentir dentro ou sentir com, é No título, “O materno da clínica…”, a
um exemplo da voz reflexiva operando preposição de marca uma relação de apro-
no interior do analista: uma dor ou sofri- priação entre clínica e materno. Aqui
mento que repercute internamente, situamos nossa contribuição: indicar que
ziguezagueando em eco e vibrando em a clínica psicanalítica hospeda em sua inti-
uníssono com o paciente. E a propriedade midade algo do materno que também lhe
do tato, conhecida também por prudên- é instituinte.
cia ou cuidado, supõe um contrainvesti- Nosso ofício parece incluir a tarefa de
mento, ou reserva da atividade pulsional, criar invólucros que ancorem os afetos e as
sobre um fundo de reflexividade que transformações subjetivas individuais atra-
mantém ligada a excitação em processo vessadas por uma época também de gran-
secundário, impedida de desencadear-se des transformações. Recuperar o vazio da
livremente. Se descrevemos o lado passivo imagem, ocupar o lugar de presença, sus-
da voz reflexiva, que contém a proprie- tentar o olhar que produz a imagem viva,
dade de reverberar os afetos do lado de matriz para novas construções simbólicas.
dentro, temos sua face ativa, que comple-
menta a ação expondo em reflexo aquilo
que empaticamente repercute. Winnicott
(1971/1975b) chamou esse processo de
papel de espelho da mãe. Tais movimentos Notas
1 Trabalho apresentado na III Jornada Temática do Femi-
nino, Corpos, sexualidade, diversidade, organizada pelo
grupo de trabalho e pesquisa “O feminino e o imagi-
nário cultural contemporâneo” (coordenação de Silvia
Leonor Alonso), nos dias 19 e 20 de junho de 2015, São
Paulo.
2 Para quem se interessar por esse debate, indicamos os
artigos de Kupermann (2008a, 2008b) e Labaki (2014).
3 Composto pelo contrato (pagamento, frequência),
duração das sessões e disposição espacial (poltrona ou
divã).
4 Outras interpretações sobre a função do olhar do ana-
lista no processo analítico estão discutidas em Labaki
(2015).

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194 Revista Brasileira de Psicanálise
volume 50, n.3 · 2016

Lo maternal de la clínica. Aspectos sobre el The maternal side of the psychoanalytic practice.
encuadre y el cuerpo del analista Aspects on the frame and the analyst’s body

Este trabajo presenta y desarrolla una discusión This paper presents and develops a discussion about
sobre el método psicoanalítico y sus afinidades the method in the psychoanalytic practice, and
con el campo de lo materno. En él se resaltan its likenesses with the maternal field. The authors
aspectos del encuadre y su manejo así como las highlight some aspects of the frame and its handling.
cualidades de la presencia del analista y su cuerpo They also emphasize features of the psychoanalyst’s
que corresponderían a las modalidades del materno presence and body that would correspond to maternal
instituyentes y organizadoras de la clínica. Sin ways, which establish and organize the practice.
olvidarse de la dimensión paterna del encuadre – Without disregarding the paternal dimension of the
aquella referida a su función terciaria –, el presente frame (which is related to its tertiary function), this
trabajo destaca en la función materna la propiedad paper highlights the property, better known as frame, in
más conocida por moldura. Operando doblemente, the maternal function. By operating in two fronts, the
la moldura crea un topos a ser relleno, al mismo frame creates a topos to be fulfilled while protecting
tiempo que protege los procesos y vivencias the processes and experiences that are produced there.
producidos allí. Llamado clínica de la presencia, The practice of presence (also called presence practice
o de lo sensible, y basado en la afectación mutua or sensitive practice) is based in the mutual affection of
del par analítico, el campo de lo materno descrito the psychoanalytic pair. The herein described maternal
acá sigue de cerca el de los intercambios ofrecidos field follows closely the field of the exchanges that
por la madre sin, no obstante, confundirse con la are offered by the mother, despite not being confused
maternidad – lo que dejaría de ser psicoanálisis. with mothering – otherwise, it would be considered no
Ferenczi y Winnicott son autores de referencia, longer psychoanalysis. Ferenczi and Winnicott, whose
cuyas propuestas inspiran las reflexiones de este proposals have inspired this paper, are the referential
trabajo. authors.
Palabras clave: materno; encuadre, transferencia, Keywords: maternal; frame; transference; presence;
presencia, reflexividad. reflexivity.

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O materno da clínica: aspectos sobre o enquadre e o corpo do analista 195
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[Recebido em 10.8.2015, aceito em 5.11.2015] Maria Elisa Pessoa Labaki


Rua Simão Álvares, 936
05417-020 São Paulo, SP
Tel: 11 3031-9764
mpessoa@uol.com.br

Luciana Cartocci
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05435-030 São Paulo, SP
Tel: 11 3032-9978; 11 99249-7442
lucianacartocci@gmail.com

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