O texto tem como abordagem principal de tema: como o psicólogo se insere no
mercado de trabalho. São abordadas algumas questões relevantes para o conhecimento
mais afundo da profissão, com isso a autora aborda temas dentro da profissão que nos farão refletir e conhecer as formas que o psicólogo pode atuar e se comportar profissionalmente dentro da sociedade. Visando entender e responder questões de como o trabalho do psicólogo e visto no mundo contemporâneo, precisamos entender como a história nos influenciou. Tudo começa com o liberalismo, que se define como o conjunto de princípios que serviram de base ideológica às revoluções antiabsolutistas. Esse movimento se prestava aos interesses da burguesia que se firmava economicamente e competia com uma aristocracia enfraquecida. Era composto por vários pressupostos: o direito à propriedade, o respeito pela livre iniciativa e pela concorrência, a ampla liberdade individual, todos esses fatores interagindo em uma democracia representativa, com a devida independência dos poderes legislativo, judiciário e executivo. Com isso a ação econômica do Estado não era bem-vinda, pois, de acordo com essa concepção, seu papel deveria limitar-se a propiciar a livre-concorrência e o direito à propriedade individual. Como fundamentação do liberalismo as pessoas eram movidas pelos seus legítimos interesses individuais, e que inevitavelmente, competiam entre si. Então, para rebater críticas de cunho moral, ele defendia que se tal “proatividade” não fosse “controlada” pelo aparato estatal, criaria bens e produtos que seriam redistribuídos, gerando o progresso social e econômico. Dessa forma, a empresa privada, livre das “amarras do Estado”, seria, de acordo com a concepção liberal, o melhor instrumento para a consecução do “ideal” do liberalismo, e os capitalistas, por sua vez, proprietários dos meios de produção, seriam os atores sociais nessa empreitada. Os pobres ficariam à mercê da “mão invisível do mercado”, que agora passaria a regular as relações comerciais, afetando a tudo e a todos e propiciando a “felicidade” de todos: dos que compram e dos que vendem sua força de trabalho. Após a queda do liberalismo o país passa a ser regido por um contexto neoliberal, que traz a estabilidade monetária, reformas fiscais, privatização, redução do custo do setor produtivo (com demissões coletivas, precarização das relações de trabalho e retrocesso no que concerne aos direitos sociais já conquistados) e comércio internacional livre de barreiras alfandegárias passaram a ser as palavras de ordem. O neoliberalismo causou mudanças no mundo do trabalho, cujas consequências atingiram direta ou indiretamente todas as categorias profissionais. Os psicólogos não constituíram uma exceção. Eles também passam a conviver com o fantasma do desemprego, com uma maior competição no ambiente trabalho e com um acúmulo de funções. Nas organizações privadas e públicas, termos e conceitos como empregabilidade, desregulamentação, privatização, mercado, downsizing, terceirização, flexibilização dos contratos de trabalho e administração pública gerencial tornaram-se recorrentes em todos os níveis hierárquicos e gozaram de inaudito concurso da mídia e de alguns intelectuais orgânicos (pensadores ligados a grupos emergentes, dominantes). O neoliberalismo propõe a “despolitização” radical das relações sociais, em que qualquer regulação política de mercado. O empresariado já não necessitava tornar o emprego tão atraente dentro de um contexto de achatamento de salários e de desemprego. A sedução provinha do simples fato de “oportunizar ao trabalhador estar empregado”. Nesse contexto, o psicólogo organizacional e do trabalho se via mais uma vez em uma situação delicada: ou efetivamente colaborava com seu conhecimento – que não era pequeno nesta área – para a emancipação dos trabalhadores, em contraste com aqueles que advogavam uma acomodação utópica com o capital, apesar dos determinismos da lógica econômica, ou ajudava o capital na exploração dos mesmos, a saber, na constituição de uma subjetividade inautêntica. A lógica liberalista foi reeditada em forma de neoliberalismo, o que contribuiu para impactar enormemente nas formas de trabalho no final do século XX e início do século XXI. Dentre elas, o aumento do desemprego, o aumento do trabalho informal (com todas as perdas de direitos que ele acarreta), as terceirizações, as quarteirizações e os contratos de trabalho temporários, que visam basicamente atender aos interesses capitalistas em detrimento da sustentabilidade social e de dignidade dos trabalhadores. O fato é que esse contexto econômico com diretrizes neoliberais trouxe novas exigências para o mundo do trabalho. Exigências relacionadas à revolução tecnológica, à competitividade, à crescente qualidade da mercadoria e à flexibilização na interpretação da legislação trabalhista. Dessa maneira, surgiu um novo perfil de trabalhador, cada vez mais solicitado a se especializar continuamente para atender às novas demandas do mercado de trabalho. Os psicólogos também fazem parte desse novo perfil profissional, sofrendo essa pressão de contínua especialização para se manterem no mercado de trabalho. A profissão do psicólogo se depara mais uma vez com um desafio, por atuar junto a essa população, devendo se preparar para assumir uma postura mais política e socialmente engajada no sentido de contribuir na promoção de melhor qualidade de vida. Assim, em um contexto no qual os trabalhadores cada vez adoecem mais, têm menos direitos resguardados, cresce a necessidade de intervenções mais comprometidas socialmente, e a psicologia se configura como uma ciência capaz de oferecer um aporte importante para essas novas práticas sociais. Considera-se que, independentemente de onde o profissional de psicologia atue, no setor público, no privado ou no terceiro setor, sua conduta profissional deve se pautar pela ética e pelo engajamento em ações que promovam a melhoria das condições sociais da população, até porque, antes de ser profissional, o psicólogo é também cidadão. As formas de atuação e não atuação profissional dos psicólogos inscritos nos Conselhos Regionais de Psicologia. Aproximadamente 2/3 (62,1%) dos psicólogos atuam exclusivamente no campo da Psicologia, o que configura um tipo de inserção pleno na profissão. Dos psicólogos, 22,1% combinam a atuação em psicologia com alguma atividade de trabalho fora da profissão; 9,1%, embora tendo graduação em psicologia, atuam fora do campo; 5,2% estão desempregados, embora já tenha trabalhado como psicólogo; e, finalmente, há um pequeno grupo de profissionais (1,4%) que nunca chegou a atuar na profissão, apesar de graduado e inscrito nos Conselhos Regionais. O IBGE informa que os percentuais de psicólogos que não atuam na profissão apontados pela pesquisa, são semelhantes aos percentuais de desempregados em outras áreas. Como as diferentes condições de inserção profissional do psicólogo ocorrem nas diferentes regiões do país? Não há diferenças estatisticamente significativas quando as regiões brasileiras são comparadas, revelando que o quadro da inserção no mercado não se altera, mesmo ao comparar regiões com diferentes níveis de desenvolvimento e complexidade da estrutura de mercado de trabalho. Psicólogos que podem ser considerados desempregados (5,2%) já apresenta uma média de idade ligeiramente superior, maior qualificação (maior o número de profissionais com curso de especialização), maior tempo de formado. Nessa condição, também se encontra, proporcionalmente, um pouco mais de psicólogas do que psicólogos. A distribuição da renda dos participantes da pesquisa revela que 60,8% dos psicólogos possuem um rendimento de no máximo nove salários mínimos. Os dados do IBGE-2005 mostram que 71,7% dos profissionais nessa condição recebem até 10 salários mínimos, enquanto 28,3% recebem acima desse patamar. Percebe-se que o psicólogo se encontra em uma condição ligeiramente mais positiva que os trabalhadores em geral com tempo idêntico de formação. Os dados revelam alguns resultados que merecem destaque. A condição de inserção precária na profissão não significa, necessariamente, precariedade de rendimentos. O maior número de psicólogos com inserção plena, no entanto, encontra- se na faixa de três a seis salários mínimos. Há, portanto, uma queda no rendimento médio da categoria, provavelmente explicado pela precariedade da sociedade assalariada, que oferece emprego, mas baixos salários. Isso torna compreensível a necessidade de o psicólogo assumir mais de um vínculo profissional,