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Trabalho PPE I

Proposta de Aula
Aluno: Caio Maximus Góes Chagas
Professora: Marise Basso Amaral

UTILIZANDO EU, ROBÔ EM SALA DE AULA PARA


CONTEXTUALIZAR EVOLUÇÃO

INTRODUÇÃO

Ao meu ver como biólogo em formação, a Teoria Evolutiva apresenta dois


obstáculos importantes na sua compreensão quando tratamos com o grande público.
Eles são as falhas de compreensão lógica e a própria resistência do ouvinte à
Teoria. Eles existem desde o início de sua formação. Até mesmo Darwin, pai da teoria
evolutiva moderna, escreveu e reescreveu seu livro “A Origem das Espécies” de forma
que pudesse tanto ser mais facilmente compreendido ou menos ofensivo à crenças
antropocêntricas.

O primeiro vem do fato de que a teoria e seus desdobramentos não são


facilmente dedutíveis por pessoas alheias ao mundo Biológico acadêmico. Pensar que
lagartixas, plantas e humanos são certamente aparentados na grande árvore da vida
não é uma ideia que surge na mente do cidadão comum leigo. Segundo que se esta
pessoa já for religiosa, ou pelo menos vaga adepta do positivismo, crerá piamente que
o Homem é o indubitável pináculo da vida terrestre. E isto é um argumento bem mais
facilmente atingido que o da lagartixa ser nossa prima distante. De certa forma os
dois problemas agem de forma sinérgica.

Ademais, são ainda mais amplificados quando tratamos de jovens. Soma-se na


equação o desinteresse, a prepotência típica da juventude e o nem tão incomum
desdém perante a Biologia como matéria escolar. Ainda existe o fator evidente do
negacionismo científico surgindo cada vez mais forte no século XXI.

Pode-se concluir então que o ensino da Evolução não é uma tarefa a ser levada
de forma tranquila e deve-se observar todas as possibilidades que um professor tem
para ensiná-la de forma eficaz. Uma destas possibilidades que deve ser considerada é
o uso de formas midiáticas paradidáticas. Filmes, jogos e livros oferecem a
possibilidade de desenvolver temas acadêmicos de forma cativante e, se bem
produzidos, ainda deixam seus consumidores com questionamentos após seu fim e o
interesse em saber mais. Esta é a proposta que será explorada neste trabalho, visando
ensinar Evolução com pano de fundo o livro “Eu, Robô”.
O LIVRO

“Eu, Robô” é uma coletânea de contos publicada em 1950 e escritas pelo pai da
robótica Isaac Asimov. Todos os contos se passam em um futuro imaginado pelo autor
em que robôs são comuns na sociedade, produzidos pelas grandes empresas
“Consolidated Robots” e “U.S. Robots & Mechanical Men” e realizando serviços
tanto na Terra, quanto no espaço, quanto nas colônias extraplanetárias existentes.

A humanidade, como medida de segurança, decidiu que todos os robôs produzidos


seriam obrigados a realizar 3 regras. Elas são:
1- Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um
humano se fira
2- Um robô deve obedecer as ordens dadas por seres humanos ao menos que estas
ordem conflitem com a Primeira Lei
3- Um robô deve proteger sua própria existência desde esta proteção não conflite
com a Primeira ou Segunda lei

É em cima dessas 3 leis que Asimov escreve seus contos, representando as


complicações e becos sem saída que os robôs mesmo seguindo estas, aparentemente,
sensatas leis podem causar.

Em minha opinião, pode-se tirar deste livro duas principais mensagens. A primeira
consiste na grande complexidade e dificuldade que jazem na criação não de máquinas
mas de inteligências artificiais. Dificuldade que mesmo com 70 anos de idade, ainda é
transportável para os dias de hoje.

A quantidade de estímulos que um grande mamífero tem que receber e


compreender em um ambiente natural é imensa. Somos capazes de detectar cheiros,
sons, objetos e criar planos futuros ao mesmo tempo e com imensa precisão. Além
disso, somos naturalmente capazes de criar novas ferramentas, aprender novas línguas
e atribuir novos significados a coisas, sem contar os outros imensos processos que não
nos damos conta que inconscientemente ocorrem em nossa mente. Nosso cérebro lida
com isso de formas ainda não completamente elucidadas pela Ciência. Engenheiros
que buscam criar uma inteligência artificial, porém, precisam produzir mecanismos e
códigos capazes de reproduzir isso.

O que vemos hoje como na empresa de robôs Boston Dynamics é uma exata
reprodução deste quadro. Claro que seus robôs são muito melhores ou pelo menos
próximos que o humano médio em correr e equilibrar-se, mas não são capazes de fazer
muito mais que isso. A empresa está com seu desenvolvimento limitado devido a
impossibilidade de reprodução de um cérebro humano.
Além disso, existe um problema filosófico na construção de robôs. Vimos que
eles tem a capacidade de serem mais fortes, mais rápidos e mais inteligentes que
humanos em áreas específicas. Isto nos leva a pergunta “O que garante que nossas
próprias invenções não nos substituam?”. É isto que leva no livro à proibição de robôs
na Terra e à criação das 3 regras que, diga-se de passagem, prejudicam ainda mais o
limitado funcionamento da inteligência artificial.

PROPOSTA

A ideia da atividade é usar a primeira principal mensagem citada (a


complexidade envolvida na criação de uma inteligência artificial perfeita) como pano
de fundo de uma aula introdutória à Teoria Evolutiva moderna e sua história.

Seria pedido aos alunos que lessem em casa o 2º conto “Runaround!” ou o 6º


“Little Lost Robot”. Qualquer dos dois pode ser escolhido pois ambos abordam as
limitaçãos do cérebro positrônico robótico e sua incapacidade de operar como o
cérebro humano.

Em aula, o professor promoveria um debate sobre o conto lido, podendo


oferecer um resumo para aqueles que inevitavelmente não leram o conto. O conteúdo
inicial do debate pouco importa, o relevante é que alcance em determinado momento o
tema da diferença do cérebro humano e do robótico e como isso foi o que ocasionou
no problema ocorrido no conto.

Em seguida, o professor mostraria à turma o funcionamento básico do cérebro.


Deve-se evidenciar a infinidade de processos ocorrido simultaneamente no órgão,
como percepção, pensamentos, memória e outros. Importante frisar que neste
momento o intuito da aula não é explicar o funcionamento do cérebro, mas sim
apresentar a quantidade de funções realizadas simultaneamente pelo mesmo. Com isto
feito, pode-se retornar ao conto e trazer uma resposta e uma pergunta à discussão. A
resposta consiste no motivo do robô ter mal funcionado no conto, a incapacidade de
criar-se um cérebro igual a ao humano. A pergunta consiste no que seguirá a aula “Se
é tão difícil criar o cérebro humano, ao ponto de que nem ele mesmo é capaz disso,
quem ou o que o criou?”

Neste momento seriam apresentadas teorias criacionistas. Pode-se escolher de


acordo com o tempo disponível ou perfil da turma e da escola em questão. Algumas
sugestões são o criacionismo judaico-cristão e a mitologia grega na área da religião ou
o criacionismo platônico-aristotélico na área da filosofia. O ponto principal que deve
se focado é a ideia de perfeição e de que o Homem é feito para moldar a natureza a
seu bel prazer, como com animais domésticos. Durante a apresentação deve-se prestar
atenção para não ridicularizar as teorias citadas, especialmente se forem religiosas.
Não faz sentido cobrarmos exatidão científica de teorias e ideias originadas a mais de
2000 anos atrás, tempo em que não se sabia nem do funcionamento dos órgãos do
próprio corpo humano.
Quando a exposição das ideias criacionistas terminar, o professor deve
perguntar se os alunos estão satisfeitos com estas explicações. Certamente surgirão
dúvidas que podem levar a próxima parte da aula, onde o professor começa a
demonstrar falhas neste argumento. Elas são:
1- A existência de fósseis, indicando a extinção de diversas espécies
2- A presença de órgãos vestigiais e de ineficiências sistêmicas
(engasgamento e doenças autoimunes por exemplo), indicando
imperfeições nos seres
3- O fato de que proles, mesmo sendo maiores que a quantidade de parentais,
não ocasionam em aumento populacional, indicando a brutalidade da
natureza

Com isto, espera-se que a turma esteja curiosa para compreender o resultado
deste impasse. O professor resumirá brevemente o trabalho de Darwin e sua viagem
no HMS Beagle e as conclusões que obteve. Algumas destas tarefas foi a observação
de populações similares mas não idênticas em áreas próximas, indicando possíveis
processos de especiação, e o cruzamento de pombos domésticos, demonstrando que
dois animais domésticos podem ter proles com características selvagens.

Por fim, o professor apresentará o veredicto de Darwin. Os animais não foram


todos criados de uma só vez por um criador e estão mudando ao longo de grandes
escalas de tempo. Além disso, o ser humano não é topo da evolução, já que sofreu o
mesmo processo que todos os outros seres vivos.

Espera-se que o professor seja capaz de dar essa aula respondendo de forma
sucinta, mas eficaz, todas as dúvidas que surgirem, já que acredita-se ser possível dar
esta aula em cerca de 1h. Evolução, como vimos antes, é um assunto facilmente mal
compreendido e o professor deve fazer de tudo para que todos estejam na mesma
página sem prejudicar o andamento da aula.

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