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Rascunhos

Capítulo I- O Senso Comum e a Ciência (I)

Com o passar dos anos se foi criando a imagem da ciência como um conhecimento
difícil, para poucos, logo o cientista se tornou alguém inquestionável, aquele que se
deve obedecer. A obra traz o mesmo como mito e indutor do conhecimento.
Esse pensamento socialmente instituído é bastante problemático, pois mesmo o ser
humano estando sempre passível de aprendizado muitas vezes ele não quer
aprender. Por esse aspecto surge a ideia de que os cientistas são os humanos que
pensam, os outros apenas obedecem e reproduzem o que lhe foi passado.
Outro problema notório é a especialização, algo atualmente tão requisitado pode
levar a uma desfuncionalização do profissional. Este está se acostumando e
habilitando a apenas um modo de fazer uma parte, porém se torna inútil ao todo a
outras partes.
O senso comum em sua realidade são os aprendizados que foram passados de
geração para geração. Ensinamentos comuns a um grupo que tornam o cotidiano
mais prático e que muitas vezes tem embasamento na natureza, facilitando para
uma melhor adaptação humana.
A ciência é gerada a partir do senso comum, termo usado em geral para definir um
conhecimento que não passou pelos métodos científicos. Mais especificamente da
busca pelo aprendizado e pelas soluções dos “porquês” que ficam vagos ao longo
do cotidiano e da história e de uma compreensão do mundo. Esse aprendizado se
trata de uma melhor compreensão e prática de uma habilidade ou conhecimento
que o cientista já possuía.
Capítulo II- O Senso Comum e a Ciência (II)

A ciência se diferencia do senso comum a partir do momento em que o cientista sai


de sua zona confortável de incômodo e formula claramente o problema em questão
para tentar encontrar uma razão ou solução.O senso comum auxilia os enigmas do
dia a dia, a análise para realização de determinadas ações surgem apenas depois
de uma quebra de rotina, ou seja, um problema. O incômodo gera um
questionamento em cima daquilo, logo um pensamento.
Esta ciência é ensinada de uma maneira falha já que o foco é responder perguntas
já existentes e com respostas definidas, mas o aluno nunca é estimulado para
questionar e tentar compreender o mundo. Esse estímulo induz para que ele simule
o real e assim crie novas coisas.
Seguindo esse sentido os erros (ou defeitos) ocorrem quando os planos fogem do
que foi idealizado para ele. O cientista deve então simular o real e suas prováveis
falhas para evitá-las antes que se tornem realidade. Na ciência o teste de hipóteses
é indispensável.
O ser humano instintivamente se organiza física e mentalmente através de "ordens"
assim ele consegue antecipar determinados objetivos, como por exemplo a
resolução de problemas, inclusive inconscientemente. Destaca-se o que o autor
nomeia como "imaginação criadora" a premissa da criação, na qual surge idéias do
nada e assim cria-se uma ordem.
Capítulo III- Em Busca de Ordem

O autor afirma que a ordem é o que organiza tudo que é integrado pelo
universo, mesmo que isso muitas vezes seja imperceptível aos humanos. Tanto o
senso comum como a ciência se igualam na busca desse padrão. A ordem garante
a coordenação da coexistência de vidas. Outro fator dependente dela é a
racionalidade que funciona a partir de moldes em cadeia na qual um pensamento
gera outro e assim por diante.
O desejo é trago como uma faca de dois gumes, podendo este ser fonte de
uma criatividade incrível para diversas práticas humanas, porém o desejo é o
gerador dos maus sociais, como os preconceitos. Para evitar esses problemas a
ciência desenvolveu sua própria técnica o método, através dele tenta-se manter a
pesquisa e sua resolução o mais próximo possível da realidade.
A comparação entre a ciência com o senso comum é fomentada com o
argumento de que a ciência é assertiva e se estabelece revelando fatos. Porém,
esse tipo de argumentação se torna falha ao deixar de considerar a constante
mudança em tudo que existe. Nada permanece o mesmo perante ao tempo e ao
meio ambiente, logo o cientista tem como objetivo notar permanências e distinções.
Capítulo IV- Modelos e Receitas

É dito pelo autor que os astros perderam sua magia pois o homem conseguiu
desvendar seus segredos e que agora não fazem mais parte da vida do mesmo, o
encanto se quebrou quando o humano conseguiu manipulá-los.
Essa manipulação ocorre pois o ser humano percebeu que se construísse um
modelo dos astros, assim era fácil simular o que deveria acontecer na realidade,
foram as necessidades que fizeram homens realizarem perguntas que precisam de
respostas, pois o mesmo necessita de ordem e organizar faz com que se transforme
algo em uma ferramenta para resolver as necessidades do indivíduo.
Ainda assim não se conhece a realidade, o ser humano não pode
contemplá-la face a face, cientistas são forçados a aceitar novas teorias pois o que
se tem na ciência sobre os cosmos são somente palpites, uma vez que o homem só
possui modelos, artefatos feitos pelas mãos do ser humano.
Em alguns casos, onde os artefatos não possuem mais o auxílio de artifícios
audiovisuais e não conseguem mais formular resultados para aquilo que foram
projetados, se faz uso da matemática para complementar, sendo um artifício
intelectual que permite explorar possibilidades de manipulação de objetos, algumas
vezes usando de “receitas” que seriam as fórmulas e equações na matemática.
Capítulo V- Decifrando Mensagens Cifradas

Os homens sempre atribuíram sentido a coisas que aparentemente não


possuíam, como por exemplo os astrólogos que liam e leem as mensagens nos
astros, com isso o homem via sabedoria até mesmo nas falas de loucos durante
seus surtos de alucinações.
O autor cita o livro de Salmos, das Sagradas Escrituras: “os céus proclamam
a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos. “Não há
linguagem nem há palavras; no entanto, por toda a terra se faz ouvir a sua voz.”
(Salmo 19). Dessa forma a ciência vai de encontro com o senso comum que
seguem juntos mesmo com crenças diferentes afirmando que a natureza seja
destituída de sentido, as traduções dessas mensagens podem até ser distintas, mas
uma não nega a possibilidade e importância da outra.
Kepler em uma carta afirma que os movimentos celestes são como música
percebidos pelo intelecto, dizendo também ser natural que o homem imitasse seu
criador finalmente tendo descoberto a arte da notação musical.
O procedimento de decifrar algo é interessante, escrever uma mensagem e
modificá-la de forma que somente com uma chave possa resolver e trazer a
compreensão do que foi escrito ou dito, essa chave pode ser a busca de
semelhança, equivalência fonética, subtração ou adição de sílabas.
Capítulo VI- Pescadores e Anzóis

Na obra o autor compara os cientistas com os pescadores, com a diferença


que a rede de pesca dos cientistas é feita com palavras e quando os mesmos se
dispõe a lançá las ao vasto mar de conhecimento da realidade criam então suas
teorias, no exemplo elas seriam suas redes de pescas, feitas para apanhar peixes
específicos. Quando Galileu usou a matemática para decifrar a natureza, a sua rede
só pescava as coisas que poderiam ser matematizadas na natureza.
Teorias são enunciados acerca do comportamento dos objetos de interesse
do cientista, o conhecimento é a principal obra prima para constituí-las já que é ele
que faz um cientista ser um cientista, ferramentas e artefatos não atribuem
conhecimento, em outras palavras, não é porque um sujeito tem um laboratório a
sua disposição que ele é um cientista.
Ainda seguindo a comparação do cientista e suas teorias com o pescador e
sua rede, a ciência e seus representantes constantemente fazem novas redes, para
que assim haja uma variedade maior de “peixes” a se pescar, um exemplo disso
aconteceu na psicologia, uma vez que Freud elaborou uma nova teoria para
complementar a psicologia tradicional os sonhos e lapsos, comportamentos
neurológicos e psicóticos pararam de ser rejeitados e ignorados.
Capítulo VII- A Aposta

É natural que pensem que teorias são feitas com dados, sendo dados
entidades que só possuem sentido dentro das teorias, desta forma não conseguindo
constituir teorias. O autor cita Gunnar Myrdal que diz: “Perguntas devem ser
levantadas antes que respostas possam ser dadas”.
Ideias preconcebidas atrapalham na construção de novas ideias, os
elementos a priori foram combatidos pela ciência ocidental, quebrando a ideia de
por exemplo ir em um laboratório com um repertório de ideias anteriores, como se
um resultado já fosse pré estabelecido e guiado por pré-conceitos, tirando o sentido
de fazer experimentos.
Contudo, voltando para a Idade Média, esse método era o único que
considerado legítimo, dessa forma com novas descobertas não iam atrás de
respostas na natureza e sim usavam opiniões de grandes autoridades do passado,
desconsiderando as que pudessem contrariar estes grandes pensadores.
Esse método perdura até os dias atuais, multiplicando citações de grandes
nomes da ciência com o objetivo de sustentar trabalhos científicos e assim dessa
forma não receber qualquer represália ou contestação referente a eficácia ou
veracidade do trabalho.
O autor adiciona dizendo que esse método era usado também para uma
ordem social, onde os de alta classe mantinham essa forma de pensar para que
assim houvesse um controle, já que o novo traz o imprevisível e junto dele o caos,
dito isso não é atoa que os marginalizados foram contra o sistema.
Capítulo VIII- A Construção dos Fatos
De acordo com David Hume, todos os objetos cujo a razão se relaciona são
classificados em duas categorias, a relação de idéias que é basicamente o campo
da lógica e da matemática; as matérias de fato o que remete ao mundo exterior e
suas relações, afirmando também que tudo sobre isso deriva de relações causais,
em outras palavras, uma relação de ação e reação.
Estímulos e respostas, dois termos que na ciência possuem uma relação de
causa e efeito, estímulo sendo tudo aquilo que vem do meio ambiente e ao entrar
em um organismo provoca qualquer tipo de atividade, uma frase importante citada
pelo autor é: “o conhecimento das causas do comportamento dá àqueles que o
detêm um enorme poder em relação aos outros. Ele tem, portanto, uma inegável
importância prática”.
As respostas são os comportamentos do organismo reagindo a um estímulo.
Sobre isso, a perspectiva das causas e efeitos é diferente quando é deixado a visão
de simples fatos de lado, o sentido faz um fato ser completamente diferente dos
outros, cabe ao cientista ser o “juíz” e questionar o fato, dar sentido a ele, enchê-lo
de indagações em busca de respostas para especificar um fato e assim atribuí-lo
sentido.
Conhecimento das relações causais não faz necessário o uso de reflexão,
comprovando isso é visto que até os animais conseguem correlacionar as causas e
efeitos, para a sociedade onde se evoluiu para o sedentarismo a comodidade da
rotina faz o sujeito aceitar como fato os acontecimentos de rotina.
Capítulo IX- A Imaginação

Método: se refere à especificação dos passos que devem ser tomados, numa
certa ordem, a fim de se alcançar um determinado fim, é a principal ferramenta dos
cientistas, explicando também o motivo de muitas idéias a muito aceitas como
verdade serem abandonadas hoje, não porque faltava conhecimento naqueles que
trabalhavam com elas, pelo contrário, o foco não é a idéia em si mas o caminho até
a formulação da mesma.
A criatividade é um fator imprescindível no trabalho científico, ela que vai
justificar o motivo dos cientistas encontrarem seus resultados por acaso, apenas
seguindo seus métodos, passo a passo. Assim, ao chegar no resultado ele finaliza o
método ou continua os passos até chegar em um resultado, seja esse esperado ou
inesperado.
Com o tempo a imaginação perde lugar para a observação, com isso os
cientistas se viam diferentes dos demais homens, pois abriam mão do senso
comum seguindo seus experimentos de forma empírica e positivista.
Nietzsche usa a frase: “espelho de cem olhos”, com o propósito único de
observar, a objetividade exige isso, pois um cientista tem que ser livre de valores, é
notório isso também na forma de retratar as observações ao experimento no papel,
não importando quem fala ou quando se fala, simplesmente o que é constatado e
observado, um resumo prático e direto.
Capítulo X- As Credenciais da Ciência

O autor fala da ciência e o fato dela ser mais uma atividade do homem
comum, acabando com a necessidade de existir um orgulho dos cientistas para com
aqueles ditos “comuns” na sociedade.
Frederick Perls cita: “A ciência, por mais pura que seja, é o produto de seres
humanos engajados na fascinante aventura de viver suas vidas pessoais”. O
cientistas com o tempo se esqueceram de onde vinham seus pensamentos e
curiosidades, afirmando e se vangloriando por “cegarem” seus sentimentos com a
objetividade, então começa mais uma grande revolução na ciência, fazer com que
os atuantes dessa área aceitem que suas teorias vieram de sonhos e fantasias.
Ao contemplar essa nova verdade o cientista se encontra em uma solidão, o
inovador só se opõe ao que é “verdade” naquele período pois junto dele vem o peso
de centenas ou até milhares de anos, assim como toda evolução não é do dia pra
noite. Contando somente com o amor pela nova idéia e a promessa da nova visão
que a mesma vai oferecer o cientista se mantém firme e resiliente, nadando contra a
maré do que é “comum”.
Capítulo XI- Verdade e Bondade

O autor cita Miguel de Unamuno: “O conhecimento está a serviço da


necessidade de viver... E essa necessidade criou no homem os órgãos do
conhecimento... O homem vê, ouve, apalpa, saboreia e cheira aquilo que precisa
ver, ouvir, apalpar, saborear ou cheirar …”. Em outras palavras, o homem trabalha
em torno da sua necessidade.
As teorias da ciência podem ser falsificadas, invalidada de alguma forma?
Nessa situação só existem duas saídas, aceitar que aquilo que falsifica uma teoria
realmente existe no mundo da ciência ou simplesmente interpretá-la como uma
farsa de um mundo metafísico.
Na ciência também há situações probabilísticas, onde se tem certeza do
resultado de determinadas situações como por exemplo: jogar um fósforo na
gasolina. Mas também se tem a aposta na sorte, afirmando que mesmo com os
cálculos de probabilidade corretos o resultado ainda pode não ser o desejado, por
isso é uma aposta, neste caso a sorte não falsifica o cálculo.
Sendo um fato social assim como religião e família, a ciência e seus meios
são instituições que se organizam em volta de determinados problemas para
solucioná-los ou estabelecer regras e normas para o seu funcionamento. Para
entender melhor basta aceitar que ciência e senso comum estão mais próximos do
que pensam e que o que os difere é que a ciência correu atrás de encontrar na
natureza argumentos que validem suas teorias, diferente do senso comum que tem
como validação crendices e superstições.
Resenha crítica
Sendo uma leitura importante para uma abertura social de mentes, o autor nos
instiga a pensar e refletir sobre situações comuns num viés humano e científico.Nos
auxiliando no desenvolvimento de um hábito de raciocínio lógico para além do
conhecimento que se tornou óbvio. Entretanto, o uso excessivo de exemplos
principalmente no início da obra faz com que essa reflexão seja prejudicada.
Rubem Alves deixa explícito seu vasto conhecimento sobre o assunto.
Independente dos problemas da minha relação com o livro como leitora, é inegável
que a obra consegue transferir o conhecimento desejado de uma maneira acessível
e única. Nos é mostrado no livro uma organização incrível de ideias e a interrelação
dos capítulos.
Particularmente, eu acho um livro teoricamente necessário. Apresenta uma
riqueza em detalhes e informações que fazem o óbvio que passa despercebido por
nós se tornar de extrema relevância, fatos que chegam a nos impressionar e nos
prender por alguns instantes.

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