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Segurança, Higiene e Saúde do Trabalho

da Construção Civil

Noções de higiene do trabalho

Fundamentos da higiene do trabalho


Agentes químicos
Ruído
Vibrações
Ambiente térmico
Agentes biológicos

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Índice

Noções de higiene do trabalho

1. Fundamentos da higiene do trabalho....................................................................................4


1.1. Introdução...................................................................................................................... 4
1.2. Condições de Ordem Geral............................................................................................ 5
1.3. Serviço de Segurança e Higiene....................................................................................6
2. Agentes químicos................................................................................................................. 7
2.1. Composição do Ar e Classificação dos Agentes Químicos............................................7
2.2. Considerações Gerais.................................................................................................... 7
2.3. Agentes Químicos e Respectiva Acção Fisiológica........................................................8
2.4 Factores que determinam uma doença profissional: considerações gerais..................10
2.5. Substâncias/ Contaminante Químico...........................................................................11
2.6. Efeitos da Exposição.................................................................................................... 12
3. Ruído.................................................................................................................................. 14
3.1. Introdução.................................................................................................................... 14
3.2. O Som.......................................................................................................................... 14
3.3. Protectores Auditivos.................................................................................................... 15
3.4. Medição do ruído.......................................................................................................... 16
3.5. Acção do ruído sobre o homem...................................................................................18
3.6. Preservação da audição............................................................................................... 19
4. Vibrações............................................................................................................................ 20
4.1 Introdução..................................................................................................................... 20
4.2. Fontes de Vibrações..................................................................................................... 20
4.3. Bases Físicas............................................................................................................... 21
4.4 Intensidade.................................................................................................................... 21
4.5 Dose no corpo............................................................................................................... 21
4.6. Frequência das oscilações...........................................................................................21
4.7. Frequência própria e ressonância................................................................................22
4.8. Efeitos Nocivos Provocados.........................................................................................22
4.9. Vibrações no Local de Trabalho...................................................................................23
4.10. Reflexos Musculares.................................................................................................. 23
4.11. Capacidade de Visão................................................................................................. 23
4.12. Queixas...................................................................................................................... 24
4.13. Danos à Saúde........................................................................................................... 24
5. Ambiente térmico................................................................................................................ 25
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5.1. Introdução.................................................................................................................... 25
5.2. Produção de Calor Pelo Corpo Humano......................................................................25
5.3. Temperatura................................................................................................................. 26
5.4. Balanço Térmico do Corpo Humano............................................................................26
5.5. Influência do Vestuário................................................................................................. 27
5.6. Regulação Térmica...................................................................................................... 27
6. Agentes biológicos.............................................................................................................. 28
6.1. Enquadramento Legislativo..........................................................................................28
6.2. Definições do Decreto-lei n.º 84/97, de 16 de Abril......................................................28
6.3. Classificação dos Agentes Biológicos..........................................................................29
6.4. Imunidade aos Agentes Biológicos...............................................................................30
6.5. Avaliação de Riscos..................................................................................................... 31
Bibliografia.............................................................................................................................. 33

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Capítulo 11

1. Fundamentos da higiene do trabalho

1.1. Introdução

A
segurança e higiene é, na sua mais ampla acepção, um conceito
substancialmente unido ao de ser humano, individual ou socialmente considerado.
O seu desenvolvimento e evolução circunscrevem-se ao progresso humano com a
mesma relevância de outros aspectos que são facetas do mesmo poliedro, tais como a
ecologia, o bem-estar social, a estabilização das pressões sociais, em suma, a qualidade de
vida em todas as suas componentes e circunstâncias. Historicamente, a Segurança como
sinónimo de Prevenção de Acidentes evoluiu de uma forma crescente, englobando um
número cada vez maior de factores e actividades, desde as primeiras acções de reparação
de danos (lesões) até um conceito mais amplo onde se buscou a prevenção de todas as
situações geradoras de efeitos indesejados para o trabalho.

Com efeito, a par da segurança social, surgiram e evoluíram em diversos países acções
tendentes a prevenir danos nas pessoas, decorrentes de actividades laborais. A prevenção
de acidentes de trabalho surge, enfim, como um imperativo de consciência face à
eventualidade de danos físicos, psíquicos e morais para a vítima, que perderia a sua
capacidade de ganho e a possibilidade de desfrutar de uma vida activa normal.

De entre as várias formas que, na contratação colectiva, assume o tratamento desta matéria,
cumpre realçar a imposição ao empregador do encargo de emitir um regulamento de higiene
e segurança, com a particularização dos postos de trabalho considerados perigosos e das
medidas de segurança a adoptar.

Para o trabalho render, têm de se acatar as regras que a higiene e segurança impõem ao
ambiente onde ele se realiza. O trabalho deve ser executado nas melhores condições
possíveis, para se conseguir dos trabalhadores o rendimento máximo com o mínimo de
desgaste físico e psíquico. Por isso se exige um desenvolvido estudo de cada ambiente, que
procure corrigir os seus defeitos e impeça os trabalhadores de desempenharem as suas
tarefas em meios insalubres, onde os riscos de acidentes de trabalho e doenças profissionais
são maiores. Um ambiente salubre não prejudica a saúde. Depende de várias condições,
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umas de ordem geral, que se aplicam a todos os locais de trabalho, outras de ordem
especial, que se aplicam a ambientes de trabalho com riscos específicos.

1.2. Condições de Ordem Geral

Ao planearem-se instalações fabris, ou outras, há que ter em conta, entre os diversos


factores, a orientação do edifício onde vão ser instaladas. Devem ficar expostas aos
melhores ventos e à melhor iluminação natural. Isto consegue-se, em Portugal Continental,
quando as arestas do edifício, e não as suas fachadas, ficam voltadas para Norte, Sul, Este e
Oeste

A disposição das diferentes secções das instalações é outro elemento a considerar, sendo
fundamental separá-las de acordo com o tipo de riscos ligados à actividade a desenvolver.

A superfície e o pé direito da oficina devem ser tais que cada trabalhador disponha de um
mínimo de 11,5 m3 em volume de ar. Este volume de ar, que cabe a cada um dos
trabalhadores, chama-se cubagem.

Os pavimentos, paredes e tectos devem obedecer a condições fundamentais,


nomeadamente serem lisos, impermeáveis, resistentes, isolarem do frio ou do calor e serem
facilmente laváveis, pois é necessário que sejam mantidos em perfeito estado de limpeza.

Normalmente, a temperatura e a humidade do ambiente de trabalho variam com as


condições atmosféricas exteriores. Como não é possível corrigi-las, torna-se necessário
regular a temperatura e a humidade no interior das instalações.

a) A temperatura do ar mais favorável ao trabalho anda à volta de 18 a 20 ºC. É


prejudicial para a saúde que haja uma diferença de temperatura muito elevada entre
o interior e o exterior.
b) Por outro lado, um ambiente de trabalho excessivamente húmido ou demasiado
seco é prejudicial para a saúde dos trabalhadores.

A iluminação desempenha um papel muito importante na saúde do trabalhador. Um


ambiente mal iluminado pode levar os trabalhadores a um estado de fadiga que prejudica o
rendimento e a qualidade do trabalho, contribuindo para um maior número de acidentes. A
melhor iluminação é a natural, mas muitas vezes torna-se necessário recorrer à luz artificial.
Para se aproveitar ao máximo a luz natural, a orientação das instalações e a extensão das

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suas superfícies envidraçadas desempenham um papel muito importante. Os telhados que


mais favorecem a entrada e a distribuição da luz natural são os dispostos em dente de serra.
As janelas devem ser amplas e estar sempre limpas. As paredes, quando pintadas com
cores claras, também contribuem para melhorar a iluminação. Sempre que a iluminação
natural não for suficiente, há necessidade de recorrer à iluminação artificial. As lâmpadas
devem estar distribuídas de forma a não encandearem os operários e iluminarem o ambiente
de trabalho por igual.

Quanto à ventilação, pode ser natural, artificial ou mista. A natural faz-se através de
aberturas, como janelas ou portas. Não é, no entanto, a melhor ventilação, pois pode
ocasionar perigosas correntes de ar e não renova completamente o ar do ambiente de
trabalho. A ventilação mais perfeita é a artificial, obtida com aparelhos especiais que
conseguem a renovação permanente do ar e a diminuição da concentração dos
contaminantes que nele existam.

1.3. Serviço de Segurança e Higiene

Um Serviço de Segurança e Higiene terá como tarefas:

a identificação e controlo periódico dos riscos ocupacionais;


a informação técnica de trabalhadores, quadros e empregadores, quer na fase de
projecto das instalações, quer durante a laboração da empresa;
a verificação e o ensaio de materiais e sistemas de protecção existentes ou a
adquirir, designadamente equipamento de protecção individual;
a promoção da adaptação dos trabalhadores às diferentes tarefas e do trabalho às
suas características anatómicas e fisiológicas;
a elaboração de um programa de prevenção de riscos profissionais;
a fixação de objectivos de protecção e controlo de resultados.

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2. Agentes químicos

2.1. Composição do Ar e Classificação dos Agentes Químicos

A composição volumétrica do ar puro é a seguinte:

=> 78,08% - Azoto


=> 20,94% - Oxigénio
=> 0,93% - Árgon
=> 0,03% - Dióxido de Carbono
=> 0,00005% - Hidrogénio
=> Gazes raros

O vapor de água é também um constituinte do ar, sendo variável a sua proporção.

2.2. Considerações Gerais

Ar poluído: resulta da presença de substâncias estranhas (alterações qualitativas) ou da


presença de substâncias em concentrações superiores às normais (alterações quantitativas).

Dose: Quantidade de substância (contaminante) absorvida pelo organismo susceptível de


causar dano.

Os agentes químicos podem existir em suspensão na atmosfera no estado sólido, líquido ou


gasoso.

 Estado Sólido: poeiras, fibras, fumos


 Estado Líquido: aerossóis, neblinas
 Estado Gasoso: gases, vapores

Estado Sólido:

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Poeiras – suspensão no ar de partículas esferoidais de pequeno tamanho, formadas pelo


manuseamento de certos materiais e por processos mecânicos.
Fibras – partículas aciculares provenientes de uma desagregação mecânica e cujo
comprimento excede em mais de 3 vezes o seu diâmetro.

Fumos – suspensão no ar de partículas esféricas procedentes de uma combustão


incompleta ou resultante da sublimação de vapores, geralmente depois da volatilização de
metais fundidos a altas temperaturas.

Estado Líquido:

Aerossóis – suspensão no ar de gotículas cujo tamanho não é visível à vista desarmada e


provenientes da dispersão mecânica de líquidos.

Neblinas – suspensão no ar de gotículas líquidas visíveis e produzidas por condensação de


vapor.

Estado Gasoso:

Gases – estado físico normal de certas substâncias a 25 ºC e 760 mm Hg de pressão (105


Pa absolutos).

Vapores – fase gasosa de substâncias que nas condições-padrão (25 ºC, 760 mm Hg) se
encontram no estado sólido ou no estado líquido.

2.3. Agentes Químicos e Respectiva Acção Fisiológica

Poeiras

Segundo o tipo de lesão que ocasionam, podemos distinguir:

Poeiras Inertes

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Não produzem alterações fisiológicas significativas, embora possam ficar retidas nos
pulmões. Somente apresentam problemas em concentrações muito elevadas.
(Por exemplo, alguns carbonos, celulose, caulino.)
Poeiras Fibrogénicas ou Pneumoconióticas
São poeiras susceptíveis de provocar reacções químicas ao nível dos alvéolos pulmonares,
dando origem a doenças graves (pneumoconioses).
(Por exemplo, sílica livre, cristalina (silicose), amianto (asbestose).)

Poeiras Alergizantes e Irritantes


Podem actuar sobre a pele ou sobre o aparelho respiratório.
(Por exemplo, madeiras tropicais, cromatos, resinas.)

Poeiras Tóxicas (sistémicas)


Podem causar lesões em um ou mais órgãos viscerais, de uma forma rápida e em
concentrações elevadas (intoxicações agudas), ou lentamente e em concentrações
relativamente baixas (intoxicações crónicas). A maioria das poeiras metálicas são tóxicas.
Destacam-se, entre outras, as de chumbo, cádmio, manganês, berílio, crómio, etc. Podem
ainda originar cancro e alterações no sistema nervoso central.

Gases e Vapores

Irritantes
Têm uma acção química ou corrosiva, produzindo inflamação dos tecidos com os quais
entram em contacto. Actuam principalmente sobre os tecidos de revestimento e epiteliais,
como a pele, mucosas das vias respiratórias e olhos.

Os irritantes muito solúveis são absorvidos pelos primeiros tecidos epiteliais que encontram,
ou seja, quando penetram pela via respiratória, são essencialmente absorvidos ao nível do
nariz e da garganta (por exemplo, o amoníaco). Os irritantes de solubilidade moderada
actuam em todas as partes do sistema respiratório (por exemplo, o cloro e o ozono).

Asfixiantes
Podem ser classificados em simples e químicos.

Simples – sem interferir nas funções do organismo, podem provocar asfixia por
impedirem a concentração de oxigénio no ar.
(Por exemplo, azoto, hidrogénio, acetileno.)
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Químicos – interferem no processo de absorção de oxigénio no sangue ou nos


tecidos.
(Por exemplo, monóxido de carbono, cianetos.)

Narcóticos
Apresentam uma acção depressiva sobre o sistema nervoso central, produzindo efeito
anestésico, após terem sido absorvidos pelo sangue (por exemplo, éter etílico, acetona).

Tóxicos
Os vapores orgânicos são produtos tóxicos sistémicos e, tal como as poeiras anteriormente
referidas, podem causar lesões em vários órgãos, tais como o fígado e os rins. É o caso dos
hidrocarbonetos halogenados (por exemplo, tetracloreto de carbono, tricloroetileno,
clorofórmio).

Os hidrocarbonetos aromáticos, por exemplo, são particularmente lesivos, podendo


acumular-se nos tecidos gordos, na medula óssea e no sistema nervoso. De entre os
aromáticos deve destacar-se o benzeno, que surge frequentemente como impureza de
solventes para pintura e de combustíveis e pode provocar leucemia.

2.4 Factores que determinam uma doença profissional: considerações


gerais

Consideram-se factores que determinam uma doença profissional, os seguintes:

concentração dos agentes contaminantes;


tempo de exposição;
características pessoais do indivíduo;
estado de saúde;
presença de vários agentes em simultâneo.

Factores intrínsecos: idade, sexo, código genético, susceptibilidade – não afectam a dose.

Inerte – composto ou substância que, apesar de poder ser tóxico, só produz efeitos nefastos
para a saúde em doses elevadas.

Intoxicação aguda – Absorção, por parte do organismo, de uma grande quantidade de um


contaminante num período de tempo reduzido (acidente, derrame ou fuga acidental).

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Intoxicação crónica – Absorção, por parte do organismo, de pequenas quantidades de um


contaminante dia após dia durante um período de tempo prolongado (doenças profissionais),
geralmente ao longo de vários meses ou mesmo anos de exposição (por exemplo, o
chumbo).

2.5. Substâncias/ Contaminante Químico

Substâncias (Portaria n.º 732-A/96, de 11 de Dezembro)

Elementos químicos e seus compostos, no seu estado natural ou obtidos por qualquer
processo de produção, contendo qualquer aditivo necessário para preservar a estabilidade
do produto ou qualquer impureza derivada do processo de produção.

Contaminante Químico (Directiva 98/24/CE)

Toda a substância orgânica ou inorgânica, natural ou sintética, que durante o fabrico,


manuseio, transporte, armazenagem ou uso, pode incorporar-se no meio ambiente sob a
forma de poeiras, fumos, gases ou vapores, com efeitos irritantes, corrosivos, asfixiantes ou
tóxicos em quantidades suficientes para lesar a saúde dos que entram em contacto com
eles.

Em relação a estas substâncias interessa conhecer:

o ponto de fusão;
o ponto de ebulição;
a temperatura de auto-inflamação;
o grau de volatilidade;
o limite de explosividade;
a resistência ao choque;
a influência da luz;
a solubilidade dos solventes a utilizar;
a viscosidade;
a densidade.

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2.6. Efeitos da Exposição

Os agentes químicos podem produzir efeitos mais ou menos graves em função:

das suas características;


das vias de penetração no organismo;
da quantidade absorvida;
da reacção de cada trabalhador exposto;
da avaliação de risco químico.

VLE (NP 1796/04)

Valores de concentração de substâncias nocivas que representam condições nas quais se


considera que a quase totalidade dos trabalhadores possa estar exposta, dia após dia, sem
efeitos prejudiciais para a saúde.

Valor limite exposição

Média ponderada VLE-MP – valor limite expresso em concentração média diária, para um dia
de trabalho de 8 h e uma semana de 40 h, ponderada em função do tempo de exposição.
Concentração máxima VLE-CM – valor limite expresso por uma concentração que nunca
deve ser excedida simultaneamente.

Unidades dos VLE

mg/m3 – concentração das partículas


ppm – partes por milhão

Nota: Para as substâncias cujo valor limite é expresso por uma média diária ponderada,
as flutuações de concentração acima da média não devem exceder 3 vezes o VLE-MP em
mais de 30 min, no total, por dia de trabalho, e nunca deve exceder 5 vezes o VLE-MP.

NP 1796/98

Quadros representativos de várias substâncias (ordem alfabética).

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Letra P – indica que são necessárias medidas de prevenção que impeçam a


absorção cutânea da substância a que se refere, sem as quais o VLE
correspondente não dará a protecção adequada.
Letra C – indica acção cancerígena reconhecida ou suspeita.

ANEXOS - NP 1796/98

Anexo A – lista de substâncias cancerígenas


Anexo B – substâncias de composição variável
Anexo C – valores limites de exposição para misturas
Anexo D – alguns exemplos de partículas inertes
Anexo E – alguns exemplos de gases inertes

Os valores limite de exposição constantes da NP 1796 são a transcrição para a normalização


portuguesa dos TLVs americanos, propostos anualmente pelo American Conference of
Governmental Industrial Hygienists (ACGIH).

O conhecimento e manuseio perfeitos dos VLE e a sua utilização como “ferramenta”


permitirá uma avaliação quantitativa correcta dos riscos químicos e da sua maior ou menor
gravidade para a saúde dos trabalhadores expostos.

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3. Ruído

3.1. Introdução

O
ruído constitui uma causa de incómodo para o trabalho e um obstáculo às
comunicações verbais e sonoras, podendo provocar fadiga geral e, em casos
extremos, trauma auditivo e alterações fisiológicas extra-auditivas.

As ondas sonoras podem transmitir-se da fonte até ao ouvido, tanto directamente, pelo ar,
como indirectamente, por condução nos materiais – estruturas sólidas, paredes, pavimentos
e tectos – que funcionam como fontes secundárias. Quando o ruído atinge determinados
níveis, o aparelho auditivo apresenta fadiga que, embora inicialmente seja susceptível de
recuperação, pode, em casos de exposição prolongada a ruído intenso, transformar-se em
surdez permanente devido a lesões irreversíveis do ouvido interno.

3.2. O Som

Qualquer fonte sonora emite uma determinada potência acústica, característica e de valor
fixo, relacionada com a saída da mesma. As vibrações sonoras originadas pela fonte têm, no
entanto, valores variáveis dependentes de factores externos, tais como distância e
orientação do receptor, variações de temperatura, tipo de local, etc. Quando, num espaço de
ar, a pressão do gás é perturbada por acções mecânicas, ocorrem rapidamente oscilações
de pressão que, à semelhança das perturbações mecânicas na água, se espalham sob
forma de ondas. Enquanto estas oscilações de pressão se movem em determinada faixa de
frequência e intensidade, podem ser percebidas pelo ouvido humano como som. A medida
das oscilações de pressão corresponde à pressão sonora. A intensidade de uma sensação
sonora é determinada pela pressão sonora. O número de oscilações da pressão por segundo
– expresso em Hertz (Hz) – determina a frequência de um som; dela depende a altura do
som subjectivo que percebemos. A maioria dos sons compõe-se de um grande número de
ondas sonoras com diversas frequências. Se as frequências altas predominam, percebemos
o som como alto; por outro lado, se tivermos frequência baixas, teremos a percepção de um
som grave.

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3.3. Protectores Auditivos

A utilização de protecção individual, para fazer face ao ruído justifica-se quando não é
possível a implementação de medidas de protecção colectiva, ainda que possa ser usada
complementarmente.

Exemplos de auriculares (tampões).

Exemplo de auscultadores (abafadores).

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Vantagens e desvantagens dos auriculares e auscultadores

Auriculares Auscultadores
Vantagens
 leves, pequenos;  de fácil uso e adaptação, fáceis de
 facilmente usados com outros colocar e retirar;
equipamentos de protecção da  tendência para um melhor
cabeça, vias respiratórias, olhos e ajustamento em períodos de tempos
rostos; longos;
 mais frescos e confortáveis;  melhor atenuação de altas
 melhor atenuação de baixas frequências.
frequências.

Desvantagens
o podem ser deslocados da colocação o quentes;
ideal pela conversação ou mastigação; o adaptação rígida à cabeça;
o adaptação inicial mais difícil; o dificuldade de uso com outros
o necessitam de cuidados especiais de equipamentos de protecção,
uso e limpeza; nomeadamente capacetes e óculos,
o não podem ser usados quando o canal ou viseiras;
do ouvido externo está inflamado; o desconfortáveis quando usados
o tamanho tem de ser individualizado. durante períodos de tempo longos.

3.4. Medição do ruído

Existem várias razões pelas quais se procede à medição do ruído, sendo as mais frequentes:

a determinação da maior ou menor susceptibilidade de os níveis sonoros provocarem


danos auditivos e deterioração de ambiente;
a determinação da radiação sonora do equipamento;
a obtenção de dados para diagnóstico (por exemplo: planos para a redução do
ruído).

Estas medições obedecem a normas que indicam o modo de as efectuar e o tipo de


equipamentos a utilizar. As normas internacionais mais importantes são as publicadas pela

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ISO (International Organization for Standardization) e pela IEC (Internacional Electrotechnical


Comission).

O equipamento mais utilizado na medição do nível de ruído é o sonómetro.

Sonómetro.

Existe uma grande variedade de sonómetros, desde os que dão apenas valores aproximados
de níveis sonoros, passando pelos equipados com filtros de ponderação (A, B, C, D),
respostas a impulsos, etc., até sonómetros que indicam o nível sonoro contínuo equivalente.
O sonómetro pode ser acoplado a um analisador de frequências (filtro de oitavas ou de
terços de oitavas), se se pretender efectuar uma determinação do espectro de ruído.

Quase todos os aparelhos apresentam várias constantes de tempo, sendo as mais utilizadas
as seguintes:

slow, com elevado amortecimento e um tempo de integração de aproximadamente 1


s;
fast, com um amortecimento pequeno e um tempo de integração de 125 ms;
impulse, com um tempo de subida muito rápido e um tempo de descida amortecido
(35 ms);
peak, com um tempo de subida muito rápido e sem tempo de descida.

Por sua vez, o dosímetro é um equipamento de uso pessoal que permite medir a dose de
ruído a que um trabalhador está exposto durante um determinado período de trabalho.

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Dosímetro.

3.5. Acção do ruído sobre o homem

Os efeitos nocivos do ruído sobre o organismo podem ser divididos em fisiológicos e


psicológicos. Relativamente aos efeitos fisiológicos, verificamos que o ruído lesa não só o
sistema auditivo propriamente dito, mas também as diferentes funções orgânicas.

Assim, contribui
para distúrbios
gastrointestinais e
distúrbios
relacionados com
o sistema
nervoso central
(por exemplo,
dificuldade em
falar, problemas
sensoriais
caracterizados
por diminuição da
memória de
retenção). Um
ruído súbito e
intenso acelera o
pulso, eleva a Efeitos fisiológicos do ruído sobre
o organismo (segundo Bruel & Kjaer).
pressão arterial,
contrai os vasos sanguíneos e os músculos do estômago.

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Os ruídos podem também alterar o equilíbrio psicológico das pessoas. Um local de trabalho
ruidoso concorre no sentido de aumentar as tensões a que o indivíduo está normalmente
sujeito. Pode ocasionar irritabilidade em indivíduos normalmente tensos e agravar os estados
de angústia em pessoas predispostas a depressões.

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Segundo Lehmann, podem considerar-se 4 zonas de efeitos do ruído, de acordo com o valor
da intensidade do mesmo.

Efeitos do ruído sobre o Homem (segundo Lehmann).

Zona I - Fundamentalmente efeitos psíquicos, não excluindo contudo alguns efeitos


psicológicos.
Zona II - Efeitos psíquicos e fisiológicos, sobretudo no sistema neurovegetativo.
Zona III - Danos irreversíveis no sistema auditivo.
Zona IV - Lesões irreversíveis no sistema auditivo e destruição de células nervosas à
superfície da pele.

3.6. Preservação da audição

Ainda que estejam perfeitamente definidos os valores máximos admissíveis de exposição ao


ruído, estes limites só por si não garantem a protecção auditiva de todos os trabalhadores, já
que a sensibilidade auditiva varia de indivíduo para indivíduo e depende de muitos factores.

Pode, portanto, afirmar-se que os limites impostos, quando respeitados, garantem a


protecção auditiva da maioria dos trabalhadores. No entanto, só um Programa de
Preservação da Audição eficaz pode garantir a protecção da totalidade dos trabalhadores.

Um programa complexo exige a intervenção do Médico do Trabalho e do Técnico de


Segurança e Higiene e só terá sucesso desde que exista uma colaboração efectiva entre
ambos.

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4. Vibrações

4.1 Introdução

O
corpo humano constitui um sistema físico e biológico extremamente complexo. Do
ponto de vista mecânico pode ser grosseiramente representado por um sistema
simplificado, composto por vários subsistemas primários de tipo massa-mola-
amortecedor. Estes representam a cabeça (o globo ocular e as estruturas intra-oculares
constituem, por si só, um sistema), os ombros, o volume pulmonar, os braços, as pernas,
etc..

A resposta do corpo humano às vibrações externas depende da sua postura (de pé, sentado
ou deitado) e do ponto de aplicação das forças vibratórias.

Uma das partes mais importantes do sistema é o sistema tórax-abdómen, que apresenta um
efeito particular de ressonância na gama de 3 a 6 Hz e torna muito difícil um isolamento das
vibrações que afectam um indivíduo de pé ou sentado.

Conceito de Vibração:
“Movimento oscilatório em torno de um ponto de equilíbrio”

4.2. Fontes de Vibrações

As vibrações habitualmente encontradas na indústria são de origem diversa e podem ser


classificadas do seguinte modo:

vibrações produzidas por um processo de transformação (martelo perfurador, martelo


picador, impacto de prensas);
vibrações ligadas aos modos de funcionamento e defeitos das máquinas (máquinas
mal ajustadas ou vibrações provenientes de irregularidades do terreno);
fenómenos naturais (vento, sismos).

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4.3. Bases Físicas

Por vibrações entendem-se oscilações mecânicas caracterizadas por variações regulares ou


irregulares no tempo de um corpo em estado de repouso. São designadas como oscilações
mecânicas porque, em última análise, trata-se de mudanças de posição.

4.4 Intensidade

Grandezas físicas:

Deslocamento (m, mm, μm)


Velocidade (m.s-1, mm.s-1)
Aceleração (m.s-2, g)
Potência (W)
Valor Pico-a-Pico
Valor Pico
Valor Médio
Valor Eficaz
Factor Pico
Pontos de aplicação

4.5 Dose no corpo

Dois pontos de aplicação das vibrações têm um papel importante para a ergonomia: os pés
ou o assento (em veículos) e as mãos (na utilização de ferramentas vibratórias ou
máquinas). De importância é também a direcção das oscilações, onde a direcção vertical
(pés-cabeça) ou talvez a direcção mão-braço sejam as mais frequentes.

4.6. Frequência das oscilações

A intensidade dos efeitos fisiológicos e patológicos depende principalmente da frequência.


De especial importância são as frequências que estão no âmbito das frequências próprias do
corpo humano (frequência de ressonância). Distinguimos facilmente uma faixa de

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frequências alta e baixa. A fronteira fica entre 30 e 50 Hz. As vibrações de um veículo


pertencem às baixas; as de ferramentas motorizadas, à faixa de frequência alta.

4.7. Frequência própria e ressonância

Cada sistema tem uma frequência própria. Quanto mais próximo a frequência excitadora
chega à frequência própria do sistema excitado, maior será a amplitude da oscilação forçada.
Com isso, a amplitude da oscilação forçada pode vir a ser maior que a oscilação excitadora;
esta manifestação designa-se ressonância.

De maneira inversa, em cada sistema as oscilações também podem ser freadas, o que se
designa por amortecimento. Assim, por exemplo, as oscilações verticais das pernas são
significativamente amortecidas ao estar de pé.

Especialmente forte é o amortecimento dos tecidos do corpo para as frequências de 30 Hz.


Assim, com uma frequência de excitação de 35 Hz as amplitudes das oscilações são
reduzidas a 1/2 na mão, a 1/3 no cotovelo e a 1/10 nos ombros.

4.8. Efeitos Nocivos Provocados

Os efeitos nocivos provocados pelas vibrações manifestam-se de diversos modos:

náuseas e vómitos (baixas frequências <1 Hz) responsáveis pelo “mal dos
transportes”;
Alterações osteoarticulares ou esqueléticas (baixas frequências 30 Hz).

São as mais divulgadas como manifestação da doença das vibrações e são devidas a
alterações do metabolismo dos ossos e das cartilagens, manifestando-se por dor e
impotência funcional ao nível das articulações atingidas.

Outros efeitos podem também ser considerados, tais como:

perturbações neurológicas, circulatórias, digestivas e respiratórias;


alterações visuais.

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4.9. Vibrações no Local de Trabalho

Até hoje foram medidas principalmente as vibrações às quais os trabalhadores estão


expostos em máquinas de construção, em tractores e veículos de carga. Em veículos, as
acelerações verticais entre 0,5 m/s2 a 5 m/s2. Os valores mais altos encontram-se nas
máquinas de terraplenagem e reboques. No serviço com ferramentas motorizadas chegamos
no campo das altas acelerações oscilatórias nas mãos e articulação do pulso.

4.10. Reflexos Musculares

As vibrações parecem accionar reflexos musculares que têm claramente uma função de
defesa. Eles aparecem em cada vibração e encurtam a musculatura distendida pelas
oscilações. Segundo Hettinger, os reflexos devem, após um prolongado trabalho com o
martelo pneumático – por crescente cansaço – diminuir ou desaparecer. A capacidade de
reflexo da musculatura explica o muitas vezes observado aumento do consumo de energia,
da frequência cardíaca e da respiração na exposição a fortes vibrações. Estes efeitos da
vibração sobre o metabolismo, a circulação e a respiração são de pequena intensidade e têm
pouca importância.

4.11. Capacidade de Visão

O efeito adverso das vibrações sobre a visão é de maior importância, já que o desempenho
de manobradores de tractores, camiões, máquinas de construção e outras máquinas diminui,
aumentando assim o risco de acidentes. As vibrações, por um lado, reduzem a visão
enquanto, por outro lado, fazem a imagem ficar tremida.

Abaixo de 2 Hz a capacidade de visão não é perturbada. Diminuições mensuráveis só


ocorrem a partir de 4 Hz, e os mais fortes prejuízos manifestam-se na faixa entre 10 a 30 Hz
como "imagem tremida e desfocada". Segundo Guignard, em 50 Hz e com uma aceleração
de oscilações de 2 m/s2, a visão é reduzida em 50%.

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4.12. Queixas

As queixas que acompanham os incómodos subjectivos são individualmente diferentes;


determinadas queixas parecem ser igualmente dependentes da frequência. Geralmente,
podemos contar com as seguintes queixas:

fortes queixas respiratórias, sobretudo entre 1 e 4 Hz;


dores no abdómen e na caixa torácica, reacções musculares, ressonância no maxilar
e forte desconforto, especialmente entre 4 e 10 Hz;
dores nas costas, especialmente entre 8 e 12 Hz;
tensões musculares, dores de cabeça, perturbações da visão, dores de garganta
(perturbações da fala, irritações no intestino e bexiga), especialmente em frequências
entre 10 e 20 Hz.

4.13. Danos à Saúde

A repetição diária das exposições a vibrações no local de trabalho pode levar a modificações
doentias das partes do corpo atingidas. O tipo de doença é diferente para as duas partes do
corpo mais sujeitas às vibrações: as oscilações verticais, que penetram no corpo que está
sentado ou de pé sobre bases vibratórias (veículos), levam sobretudo a manifestações de
desgaste na coluna vertebral, enquanto as oscilações de ferramentas motorizadas
produzem, na maior parte das vezes, modificações doentias nas mãos e braços.

Em diferentes países foram observados aumentos de danos nos discos vertebrais e artroses
na coluna em manobradores de tractores. Além disso, queixas de estômago e intestino estão
acima da média, e uma notável predisposição para doenças da próstata e hemorróides foi
observada.

Em três estudos em série, com espaço de 5 anos cada, com os mesmos manobradores de
tractores, encontrou-se um aumento de situações radiológicas desfavoráveis da coluna. Com
isto foi possível estabelecer um aumento de achados patológicos na coluna vertebral em
relação ao tempo anual de condução dos tractores. O frequente aparecimento de doenças da
coluna vertebral de trabalhadores que estão expostos a altas oscilações verticais dá origem à
suposição de que fortes e prolongadas vibrações provocam um excessivo desgaste dos
discos intervertebrais e das articulações. Isto, no entanto, fica ainda no terreno das
hipóteses, já que não foi comprovada categoricamente a relação causal.

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5. Ambiente térmico

5.1. Introdução

“Conhecer os mecanismos que determinam o comportamento térmico do corpo humano


para permitir uma actuação adequada face a situações profissionais concretas em que
este factor assuma, por qualquer razão, uma importância determinante”.

N
o quadro do melhoramento das condições de trabalho, bem como da qualidade de
vida, o ambiente térmico de trabalho desempenha um papel fundamental. O
problema colocado pelos ambientes térmicos é o da homeotermia (manutenção da
temperatura interna do corpo), que garante um funcionamento pelo corpo igual ao fluxo de
calor cedido ao ambiente. Por outras palavras, o calor gerado pelo corpo tem de ser cedido
constantemente ao ambiente externo, por forma a que a temperatura do organismo se
mantenha constante (37  0,8 ºC).

Em certos ambientes térmicos, a igualdade dos fluxos de calor pode realizar-se de forma
agradável e não gravosa para o homem, normalmente designado por ambiente neutro ou
confortável. Fora desse ambiente neutro, o organismo poderá continuar a assegurar a
homeotermia, mas ao preço de certas reacções fisiológicas vegetativas ou comportamentos
destinados a ajustar o equilíbrio térmico. As alterações fisiológicas que daí resultam tornam
estas situações inconfortáveis, ainda que toleráveis, pois que a homeotermia está
assegurada. Quanto mais o ambiente térmico se afasta da zona de neutralidade, mais as
alterações fisiológicas se acentuam até atingirem o seu nível máximo.

5.2. Produção de Calor Pelo Corpo Humano

No organismo humano, mesmo quando este se encontra em repouso, gera-se calor como
resultado da degradação da energia necessária para manter as funções vegetativas, tais
como a respiração, a circulação, etc.. Este calor designa-se por metabolismo basal e define-
se como a quantidade mínima de calor produzida pelo indivíduo em repouso físico e
intelectual a uma temperatura ambiente de 20 ºC, alguns instantes após o despertar matinal.

Quer em repouso, quer no trabalho, a energia em questão é conseguida por uma oxidação
(combustão), controlada pelas enzimas, dos hidratos de carbono, gorduras e proteínas, a
qual origina dióxido de carbono, azoto e vapor de água. O fluxo de calor produzido (reacção
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exotérmica) corresponde ao metabolismo calórico. Em repouso, a totalidade da energia


utilizada pelo Homem transforma-se em calor no interior do corpo. No trabalho, uma fracção
da energia utilizada produz energia mecânica e não é, por consequência, degradada sob a
forma de calor no interior dos músculos. Esta fracção, que, em média, é relativamente fraca,
depende do tipo de actividade exercida.

5.3. Temperatura

A temperatura e a humidade ambientais influenciam directamente o desempenho do trabalho


humano. Estudos realizados em laboratórios e na indústria comprovam essas influências,
tanto sobre a produtividade como sobre os riscos de acidentes. Numa pesquisa feita numa
mina de carvão, Bredford e Vernon (1922) demonstraram que o tempo necessário para as
pausas aumenta a partir de 19 ºC, havendo um crescimento acentuado a partir de 24 ºC, e a
frequência relativa de acidentes também tende a crescer acima de 20 ºC. A eficiência do
trabalho a 28 ºC era cerca de 41% menor que a 19 ºC. Tanto as pausas como o índice de
acidentes cresceram, se bem que mais lentamente, para temperaturas abaixo de 19 ºC.
Esses efeitos são ainda mais visíveis para trabalhadores com idades acima de 45 anos.

5.4. Balanço Térmico do Corpo Humano

Sensação de calor/frio…

A temperatura da nossa pele sofre uma descida a uma taxa superior a 0,24 ºC/min.
Os sensores de frio detectam a descida e emitem um sinal de alarme para o
hipotálamo.
O hipotálamo toma conhecimento da situação e reage em conformidade (de acordo
com a intensidade do sinal de alarme).
A temperatura da nossa pele sofre um aumento a uma taxa superior a 0,06 ºC/min.
Os sensores de calor detectam a subida e emitem um sinal de alarme para o
hipotálamo.
O hipotálamo toma conhecimento da situação e reage em conformidade (de acordo
com a intensidade do sinal de alarme.

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5.5. Influência do Vestuário

O vestuário constitui uma barreira entre a superfície cutânea e o ambiente – influencia as


trocas de calor por convecção e radiação, mas também a perda de calor por evaporação.

Como se mede?
A unidade prática – clo – corresponde ao isolamento térmico de um conjunto de
vestuário igual a 0,155 K.m2 / W.

5.6. Regulação Térmica

O homem, pertencendo à classe dos animais homeotérmicos ou de sangue quente, possui


mecanismos internos de regulação térmica para manter a temperatura corporal mais ou
menos constante em torno de 37 ºC. Isso faz com que o corpo humano se mantenha sempre
aquecido e pronto para o trabalho, independentemente da temperatura externa, ao contrário
do que acontece com os répteis ou animais de sangue frio, cuja disposição para a actividade
varia em função da temperatura externa. O equilíbrio térmico do organismo pode ser descrito
pela seguinte equação:

Onde M representa o calor gerado pelo metabolismo, C é o calor trocado por condução e
convecção, R o calor trocado por radiação, e E o calor perdido pela evaporação.

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6. Agentes biológicos

6.1. Enquadramento Legislativo

O
Decreto-lei n.º 84/97, de 16 de Abril, tem como objectivo estabelecer as
prescrições mínimas de protecção da segurança e da saúde dos trabalhadores
contra os riscos de exposição a agentes biológicos, abrangendo todas as
actividades em que aqueles estão expostos, nomeadamente trabalho em unidades de
produção alimentar, trabalho agrícola, actividades em que há contacto com animais e/ou
produtos de origem animal, trabalho em unidades de saúde, trabalho em laboratórios
clínicos, veterinário e de diagnóstico, trabalho em unidade de recolha, transporte e
eliminação de detritos, trabalho nas instalações de tratamento de esgoto, quer sejam no
sector privado, público, cooperativo ou social.

Trabalhos de risco:

Trabalhos efectuados em biotérios e em laboratórios de análises ou de investigação


bacteriológica ou parasitológica.
Actividades efectuadas em hospitais, centros de saúde, consultórios e outros locais
que impliquem contactos com portadores de doenças ou com materiais por eles
contaminados.
Actividades em matadouros, talhos, peixarias, aviários, fábricas de enchidos ou
conservas de carne ou peixe, depósitos de distribuição de leite e queijarias.
Tarefas que exponham ao contacto com excrementos, peles, penas, ou outro
material biológico infectado.
Colheita, manipulação ou acondicionamento de sangue, órgãos ou quaisquer outros
despojos de animais, manipulação, lavagem e esterilização de materiais usados nas
operações referidas.
Remoção e manipulação de resíduos sólidos provenientes de lixeiras e similares.

6.2. Definições do Decreto-lei n.º 84/97, de 16 de Abril

De acordo com as definições do Decreto-lei n.º 84/97, de 16 de Abril, que transpõe para o
direito interno as definições de microrganismo e de agente biológico da Directiva
90/679/CEE, do Concelho de 26 de Novembro, relativa à protecção dos trabalhadores contra

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os riscos ligados à exposição a agentes biológicos durante o trabalho, microrganismo é


qualquer entidade microbiológica, celular ou não celular, dotada de capacidade de
reprodução ou transferência do material genético. E, ainda no âmbito deste quadro legal,
entende-se por agentes biológicos os microrganismos, incluindo os geneticamente
modificados, as culturas de células e os endoparasitas humanos susceptíveis de provocar
infecções, alergias ou intoxicações.

6.3. Classificação dos Agentes Biológicos

Por agentes biológicos entendem-se os microrganismos, incluindo os geneticamente


modificados, as culturas de células e os endoparasitas humanos, susceptíveis de provocar
infecções, alergias ou intoxicações. Microrganismo é qualquer entidade microbiológica,
celular ou não celular, dotada de capacidade de reprodução ou de transferência do material
genético.

Os agentes biológicos são classificados conforme a sua perigosidade ou índice de risco de


infecção, de acordo com o seguinte quadro:

Aerossóis Fontes vivas Fontes inanimadas


Vírus Animais infectados Água

Bactérias Animais infectados Água, solo, folhas, ar

Endotoxinas Bactérias gram-negativas Água, solo, folhas, ar

Esporos de fungos, Cogumelos, bolores Superfícies de plantas vivas


Micotoxinas e mortas, solo, água, ar

Protozoários Aniamis infectados Água, solo

Algas Água, solo

Pólens Árvores, relva, plantas Superfícies de fohas, solo

Alergenos de pólen Pólen Água

Efluentes animais Animais vivos Solo, água, ar


(fragmentos e excrementos)

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6.4. Imunidade aos Agentes Biológicos

O homem, como qualquer ser vivo, está permanentemente a interagir com o meio ambiente.
Nesta interacção, os seres vivos utilizam mecanismos de regulação interna para se
defenderem das variações físico-químicas externas e dos agentes biológicos agressores,
minimizando assim os efeitos internos dessas mesmas variações e agressões. A esta
procura constante de manutenção do equilíbrio interno – homeostasia – está associado um
conjunto de mecanismos de defesa desse equilíbrio. Assim, a resistência natural a agentes
biológicos consoante a espécie do hospedeiro, com o factor racial e, finalmente, com o factor
individual. Por esta razão encontramos agentes biológicos capazes de infectar diferentes
animais, ao mesmo tempo que podem ser inofensivos para o homem.

Para além da resistência natural aos agentes biológicos, o homem apresenta mecanismos de
defesa inespecíficos – imunidade inata – e mecanismos de defesa específicos – imunidade
adquirida – que lhe permitem combater o agente biológico agressor actuando,
respectivamente, como primeira e segunda linha de defesa. A primeira linha de defesa é
genérica para qualquer tipo de agente biológico.

A pele cobre todo o corpo humano, como extensa barreira mecânica à penetração de
qualquer microrganismo; por outro lado, o pH ácido (3 a 5) e a contínua descamação da pele
evitam boas condições para a instalação dos microrganismos nela. Um ferimento na pele
constitui uma ruptura nesta barreira, permitindo que microrganismos aí se instalem e se
desenvolvam criando uma infecção.

Quando os trabalhadores se encontram expostos a agentes agressores podem desenvolver


sintomas de irritação da pele, como, por exemplo, dor, sensação de prurido, vermelhão e
secura de pele. Os pêlos do nariz, cobertos de secreções nasais, bem como a mucosa das
vias digestivas e respiratórias, retêm grande quantidade de partículas áreas e,
consequentemente, microrganismos. Os olhos são lubrificados pelas lágrimas, a boca e a
faringe pela saliva. Quer as lágrimas quer a saliva possuem lisozima, responsável pelo
ataque às paredes bacterianas e, por conseguinte, estas secreções são fortes protectores
dos respectivos órgãos contra agentes biológicos. Finalmente, quando os trabalhadores se
encontram expostos a agentes agressores podem desenvolver sintomas de
hipersensibilidade não específica, como corrimento nasal e lacrimejamento, ou ainda
sintomas de irritação nos olhos, nariz e garganta associados, por exemplo, à dor, sensação
de secura e ardor, rouquidão e problemas de voz.

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Os fungos necessitam de uma fonte de nutrientes, humidade e uma temperatura apropriada


para se instalarem e reproduzirem. Se se evitar a reunião destas três condições, fazendo um
controlo da humidade e a renovação do ar, podemos diminuir a presença de fungos. Neste
sentido, qualquer entrada de água ou humidade, qualquer crescimento visível de fungos,
baixos níveis de limpeza, fraca ventilação e inadequados sistemas de filtração são as
condições para um abaixamento da QAI e, assim, poderemos encontrar sintomas nos
trabalhos ligados ao Sindroma dos Edifícios Insalubres, cujas manifestações podem ir desde
a sensação de irritação nos olhos, nariz e garganta (dor, sensação de secura e ardor,
irritação, rouquidão, problemas de voz), aos sintomas neurológicos e de saúde em geral
(dores de cabeça, fadiga mental, preguiça, cansaço, redução da capacidade de
concentração, perda de memória, vertigens, intoxicação, náuseas e vómitos) à irritação da
pele (dor, sensação de prurido, vermelhidão e secura da pele). Neste sentido, deve ser feita
a avaliação dos níveis de contaminação por fungos e as espécies envolvidas. Para o efeito,
consideram-se níveis baixos de contaminação se forem encontradas menos de 10.000 ufc
(unidades formadoras de colónias) por gama de zaragatoa utilizada nas amostragens, ao
passo que de 100.000 a 1.000.000 ufc temos já uma contaminação média elevada. Contudo,
fazer uma ligação directa destes valores com o número de fungos realmente presentes pode
ser problemático, devido às características reprodutivas destes seres vivos. A título de
exemplo, uma colónia de Penicillium spp. de cerca de 2,5 cm de diâmetro produz e liberta
cerca de 400.000.000 de esporos.

6.5. Avaliação de Riscos

Nas actividades susceptíveis de apresentar um risco de exposição a agentes biológicos, o


empregador deve proceder à avaliação dos riscos, mediante a determinação da natureza e
do grupo do agente biológico, bem como do tempo de exposição dos trabalhadores a esse
agente.

Nas actividades que impliquem a exposição a várias categorias de agentes biológicos, a


avaliação dos riscos deve ser feita com base no perigo resultante da presença de todos
esses agentes.

A avaliação dos riscos deve ter em conta todas as informações disponíveis, nomeadamente:

a classificação dos agentes biológicos que apresentam ou podem apresentar riscos


para a saúde humana;

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o risco suplementar que os agentes biológicos podem constituir para trabalhadores


cuja sensibilidade possa ser afectada, nomeadamente por doença anterior,
medicação, deficiência imunitária, gravidez ou aleitamento;
as recomendações da Direcção-Geral da Saúde sobre as medidas de controlo de
agentes biológicos nocivos à saúde dos trabalhadores;
as informações técnicas existentes sobre doenças relacionadas com a natureza do
trabalho;
os potenciais efeitos alérgicos ou tóxicos resultantes do trabalho;
o conhecimento de doença verificada num trabalhador que esteja directamente
relacionada com o seu trabalho.

A avaliação dos riscos deve ser repetida periodicamente, ainda mais se houver alteração das
condições de trabalho susceptível de afectar a exposição dos trabalhadores a agentes
biológicos.

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Bibliografia

Manual de Higiene do Trabalho - CICCOPN


Manual de Higiene e Segurança do Trabalho – Miguel, Alberto Sérgio S. R.

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