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XVIII Congresso de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

O Futuro Sustentável do Brasil passa por Minas


COBRAMSEG 2016 – 19-22 Outubro, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

ANÁLISE DA SUSCEPTIBILIDADE DE DESÇLIZAMENTOS


DE ENCOSTA NA CIDADE DE BARREIRAS-BA
Andreia Porto de Souza
Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Barreiras, Brasil, andreiaporto89@hotmail.com

Vinícius de Oliveira Kuhn


Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB, Barreiras, Brasil, vinicius.kuhn@ufob.edu.br

RESUMO: expansão da fronteira agrícola e da rede de serviços na cidade de Barreiras, no Oeste da


Bahia, em conjunto com a pressão imobiliária tem modificado as delimitações do entorno urbano
levando a caracterizar novos espaços ocupados. O presente estudo tem como objetivo analisar de
maneira qualitativa a susceptibilidade de deslizamento de encostas na Serra do Mimo da cidade de
Barreiras – BA. A metodologia empregada consistiu em visitas de campo, levantamento
fotográfico, análise de imagens de satélites e levantamento bibiográfico. Para subsidiar na análise
do risco de deslizamento foram apresentadas as caraterísticas morfológicas do tipo de solo local,
conforme Embrapa (2010), permitindo nesse sentido, fazer uma análise qualitativa da influência dos
processos de movimento de massa. Foi constatado que, na área estudada, a ocupação antrópica está
avançando em direção ao entorno da Serra do Mimo devido à pressão imobiliária, pois o Plano
Diretor Urbano não tem sido capaz de gerenciar a ocupação urbana trazendo possíveis riscos para a
população.

PALAVRAS-CHAVE: Expansão Agrícola, Ocupação Urbana, Deslizamento de Encostas.

1 INTRODUÇÃO do país, com exceção do Centro Oeste


brasileiro.
A expansão da fronteira agrícola e o Conforme (Queiroz, 2009), todos os tipos
aumento das atividades industriais e de movimento de massas estão associados ao
comerciais proporcionaram o crescimento movimento dos materiais constituintes de
populacional do município de Barreiras, BA parte da crosta terrestre, sendo movimentos
impactando na ocupação das áreas urbanas causados fundamentalmente pela ação da
(IBGE et al,1970). gravidade devido às condições estruturais dos
Em consonância com a Lei Federal nº maciços e dos materiais de que são
10.257/2001, o poder público municipal compostos.
instituiu em 2004 o Plano Diretor Urbano – Ante este cenário, esta pesquisa tem como
PDU, que tem por objetivo orientar as ações objetivo analisar a suceptibilidade de
de planejamento/ordenamento do território. deslizamento de encostas em áreas de
Segundo a Defesa Civil (BRASIL, 2006) a ocupação urbana no entorna da Serra do
cada ano, notícias de acidentes causados pelas Mimo na cidade de Barreiras, BA.
chuvas mais intensas ou prologadas revelam a
existência de áreas de risco em vários 2 REFERENCIAL TEÓRICO
municípios brasileiros.
Relatos do (Atlas Brasileiro de Desastres 2.1 O Deslizamento de Encostas
Naturais, 2013) aponta que, no período de
1991-2012, foram contabilizados 539 vidas Segundo (BRASIL/IPT, 2007, p.31), o
ceifadas e um total de 5.749.999 de pessoas termo deslizamentos engloba uma variedade
afetados direta ou indiretamente em virtude de tipos de movimentos de massa de solos,
de movimento de massas em todas as regiões rochas ou detritos gerados pela ação da

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gravidade, em terrenos inclinados, tendo considerar 157 desaparecidos e somar com as


como fator deflagrador principal a infiltração 539 mortes teoricamente o número de vitimas
de água, principalmente das chuvas. fatais passa a ser 696.
A influência da chuva e os tipos de solo A tabela 1 enfatiza que a ocupação humana
contribuem para a ocorrência de nas áreas de risco está relacionada aos fatores
deslizamentos de encostas, pois alguns políticoeconômicos e sócioculturais.
aspectos do solo devem ser observados: como
a evolução dos solos originários da Tabela 1: Fatores de Ocupação de Áreas de Risco
decomposição das rochas, os solos menos  Crise econômica e social com solução ao longo
prazo;
resistentes mais próximos à superfície e os  Política habitacional para baixa renda
coeficientes de saturação do solo pelas historicamente ineficiente;
infiltrações.  Ineficácia dos sistemas de controle do uso e
Para (Highland e Bobrownsky, 2008), as ocupação do solo;
ações causadas pelo homem que podem  Inexistência de legislação adequada para as áreas
suscetíveis aos riscos mencionados;
interferir nesse processo, tornando-o ainda  Inexistência de apoio técnico para as populações e;
mais agravante com a pressão imobiliária  Cultura popular de “morar no plano”.
sobre a população mais pobre nas zonas Fonte: Adaptada. Brasil/IPT, 2007, p.15.
urbanas, levando a ocupação de áreas
periféricas. Dentro dessa dinâmica, a população de
A ocupação e as ações antrópicas nas áreas baixa renda tem ocupado as áreas próximas às
de risco facilitam o movimento de massa encostas proporcionando maior probabilidade
resultando em perdas de vidas e em danos de acontecer movimento de massa.
materiais. Veja o gráfico 1.
2.2 Tipos de Movimento de Massa
Gráfico1: Danos humanos por movimento de
massa – Brasil 1991/2012 Segundo (Gerscovich, 2003), há muitos
sistemas adotados para classificar os grupos
1771 de movimento de massa: (Varnes, 1958,
840
1144 539 156 1978), (Hutchinson, 1968); (Guidicini;
Nieble, 1983), porém a literatura internacional
mais usada é a de (Varnes,1978).
39756
A classificação dos principais grandes
grupos de movimento de massa numa área é
77433 feito com base nas características do
movimento, no tipo de material e de acordo
com a forma geométrica.
Neste estudo utiliza-se a classificação de
movimento de massa (deslizamentos de
taludes) indicada por (Gerscovich, 2003).
Mortos Enfermos Feridos
Desaparecidos Desabrigados Desalojados Tabela 2: Características dos principais grandes grupos
Outros de movimento de massa.
Processo

Fonte: adap: Atlas Brasileiro de Desastres naturais, 2013. Características do movimento, material e
geometria.

O Gráfico 1 monstra que, entre os danos


humanos provocados pelos movimentos de
massa no período em estudo tem provocado
muitos danos materiais (77433 desalojados e
39756 desabrigados). No entanto, se

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 Vários planos de deslocamento (internos); tensões cisalhantes mobilizadas se igualam a


Rastejo ou Fluência

 Velocidades muito baixas a baixa (cm/ano) e resistência ao cisalhamento.


decrescente com a profundidade;
 Movimentos constantes, sazonais ou
Assim, quando existe o aumento das
intermitentes do solo, depósitos, rocha tensões de cisalhamento mobilizadas ou há
alterada/faturada; uma tredução da resistência ao cisalhamento o
 Geometria indefinida. fator de segurança (FS) é igual a 1.
Os fatores deflagradores da ruptura de um
 Poucos planos de deslocamento (externos);
talude são classificados quanto à ação
 Velocidade média (m/h) a altas (m/s);
Escorregamento

 Pequenos a grandes volumes de material; conforme a tabela 3.


 Geometria e materiais variáveis;
 Planares: solos poucos espessos, solos e Tabela 3: Classificação dos Fatores Deflagradores dos
rochas com um plano de fraqueza; Movimentos de Massa
 Circulares: solos espessos homogêneos e

Ação
rochas muito fraturadas – mm cunha: solos e Fatores Fenômenos Geológicos ou/e
rochas com dois planos de fraqueza. Antrópicos
 Sem planos de deslocamento; Remoção
 Movimento tipo queda livre ou em plano de massa Erosão, Escorregamentos e Cortes.
inclinado; (lateral ou da
Queda

 Velocidades muito altas (vários m/s); base)


 Material rochoso; Peso da água de chuva, neve,
Aumento da Solicitação
 Pequenos a médios volumes; granito, etc.
 Geometria variável: lascas, placas, blocos, Acumulo natural de material
etc. – rolamento de matacão – tombamento. Sobrecarga (depósitos)
 Muitas superfícies de deslocamento (internas Peso da vegetação
e externas à massa em movimentação); Construção de estruturas, aterros,
 Movimento semelhante ao de um líquido etc.
viscoso; Terremotos, ondas, vulcões
Corrida

 Desenvolvimento ao longo das drenagens; Solicitações Explosões, tráfego, sismos


 Velocidades médias a altas; dinâmicas induzidos.
 Mobilização de solo, rocha, detritos e água; Água em trincas, congelamento e
 Grandes volumes de material; Pressões material expansivo.
 Extenso raio de alcance, mesmo em área Laterais
planas.
Resistência ao
Cisalhamento
Redução da

Fonte: Gerscovich, 2013. Características (inerentes Características


ao material, geometria, geomecanicas
Esta classificação possibilita prever os estruturas, etc) do material.
possíveis locais de deslizamentos de encostas
determinando as condições e sua magnitude
Ação do intemperismo provocando
inferindo as condições de estabilidade de
alterações físico-químicas nos minerais
taludes e seu fator de segurança. originais com menor resistência.
Relação da resistência ao cisalhamento

Processos de deformação em decorrência


Mudanças ou fatores variáveis

2.3 Estabilidade de Taludes e Fator de de variações cíclicas de umedecimento e


Segurança secagem, reduzindo a resistências.
Variação das poropressões.
Elevação do lençol freático por mudança
Para (Gerscovich, 2013, p.13), talude é a no padrão natural de fluxo (construção de
denominação que se dá a qualquer superfície reservatório, processos de urbanização,
inclinada de um maciço de solo ou rocha. etc).
A literatura sobre o tema classifica os tipos Infiltração da água em meios não
saturados, causando redução das pressões
de taludes em natural (encosta) ou em talude
de água negativa (sucção).
artificial (aterros e cortes) Geração de excesso de poropressão, como
Ampliando ainda mais este conceito, resultado de implantação de obras.
(Gerscovich, 2013, p.30) afirma que a Fluxo preferencial através de trincas ou
instabilidade do talude é deflagrada quando as juntas, acelerando o processo de infiltração.
Fonte: Adaptado: Gerscovich, 2013.

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Com relação às características referentes fenômenos ou processos naturais e/ou


aos fatores deflagradores de movimento de induzidos que causem efeito adverso. As
massa (deslizamento) em áreas de riscos pessoas que habitam essas áreas estão sujeitas
(Highland e Bobrownsky, 2008, p.26) a danos à integridade física, perdas materiais
enumera: i) nascentes, infiltrações e solo e patrimoniais. Normalmente, no contexto das
úmido ou saturado em áreas previamente cidades brasileiras, essas áreas correspondem
secas na base de taludes. ii) o perigo é a a núcleos habitacionais de baixa renda
condição ou fenômeno com potencial para (assentamentos precários).
causar uma consequência desagradável. iii) a Com relação às características referentes
susceptibilidade indica a potencialidade de ao movimento de massa (deslizamentos) em
ocorrência de processos naturais e induzidos áreas de riscos (Highland e Bobrownsky,
em uma dada área, expressando-se segundo 2008, p.26) enumera: i) nascentes,
classes de probabilidade de ocorrência. iv) a infiltrações, solo úmido ou saturado em áreas
venerabilidade infere o grau de perda para um previamente secas na base dos taludes. ii)
dado elemento, grupo ou comunidade dentro rachaduras na neve, no gelo, no solo, em
de uma determinada área possível de ser rochas ou no cume dos taludes. iii) calçadas
afetada por um fenômeno ou processo. v) o ou lajes que se distanciam do solo próximo a
risco é a relação entre a possibilidade de declives. iv) solo que se afasta de fundações.
ocorrência de um dado processou ou v) cercas que se encontram fora do prumo ou
fenômeno, e a magnitude de danos ou se apresentam de forma distinta, quando já
consequências. foram em linha reta. vi) protuberâncias
incomuns ou mudanças de altitude no chão,
2.4 Análise de Risco em Taludes ou Encostas calçamentos, passeios ou calçadas. vii) postes
arvores, cercas e muros inclinados. viii)
Apesar de o enfoque teórico apontar várias inclinação ou rachaduras excessivas no piso
formas de analise de riscos de deslizamento de concreto e fundações. ix) danos em
numa determinada área, é essencial conceituar tubulações de água ou em outras estruturas
alguns termos usado na literatura nacional. subterrâneas. x) rápido aumento ou
(BRASIL e IPT, 2007, p.25.26) define: i) o diminuição dos níveis de cursos de água,
evento como sendo um fenômeno com eventualmente acompanhado de aumento de
consequências sociais e/ou econômicas sobre turbidez (teor de turvação da água pelo solo).
um dado elemento, grupo ou comunidade. ii) xi) emperramento de portas e janelas e
perigo é a condição ou fenômeno com espaços abertos visíveis, indicando que
potencial para causar uma consequência paredes e molduras estão mudando e se
desagradável. iii) a vulnerabilidade é o grau deformando. xii) rangidos, estalos ou ruídos
de perda para um dado elemento, grupos ou em casas, edifícios ou bosques (por exemplo,
comunidade dentro de uma determinada área, raízes rachando ou quebrando). xiii)
expressando-se segundo classes de afundamento ou inclinação para baixo/queda
probabilidade de ocorrência. iv. a de estradas ou caminhos.
suscetibilidade indica de ocorrência de Neste aspecto, (Silva, 2016) descreve a
processos naturais e induzidos em uma dada analise do risco de uma determinada área
área, expressando-se segundo classes de como um fator que depende do grau de
probabilidade de ocorrer. v) é a relação entre suscetibilidade e de vulnerabilidade.
a possibilidade de ocorrência de um dado (Highland e Bobrownsky, 2008) enfatiza
processo ou fenômeno, e a magnitude de ainda a necessidade de usar ferramentas
danos ou consequências sociais e/ou tecnológicas na análise dos tipos de
econômicas sobre um dado elemento, grupo deslizamentos na identificação das áreas mais
ou comunidade. Quanto maior a suscetíveis às condições de risco tais como a
vunerabilidade, maior o risco. vi) a área de Análise de Mapa, o Reconhecimento Aéreo e
risco é a região passível de ser atingida por de Campo, a Perfuração, os Estudos

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Geofísicos, as Imagens e/ou Perfis Acústicos (Bertoni e Marinho, 2013, p. 19) afirma
e a Análise Computadorizada de que, os mapas de vulnerabilidade permitem à
Deslizamento de Terrenos. Defesa Civil municipal conhecer as áreas que
A utilização dos recursos tecnológicos, o precisam de intervenção, sugerir
estudo das características da área de risco e da reassentamento, desocupação e obras de
definição do grau de suscetibilidade e de contenção. As cartas geotécnicas, sobre
vulnerabilidade são fatores usados para inferir responsabilidade do Ministério das Cidades,
a probabilidade de ocorrer movimentos de são instrumentos do planejamento urbano
massa nas áreas de riscos. voltados à definição de diretrizes de garantia
A probabilidade de ocorrer deslizamentos da segurança de novos loteamentos. As cartas
nas áreas de riscos está relacionada com a serão entregues às equipes municipais
compreensão das características dos tipos de encarregadas da aprovação dos projetos de
movimentos de massas, da geomorfologia novos loteamentos.
local, do regime das chuvas e das ações
antrópicas. 3 METODOLOGIA
Além disso, uma vez identificada às áreas
de risco compete aos órgãos responsáveis pela Segundo (IBGE,2010), Barreiras pertence
política de prevenção de desastres naturais à mesorregião do extremo Oeste da Bahia e
efetivarem em conjunto com as populações situa-se entre as coordenadas 11°37’ e 12°25’
locais as possíveis medidas e correções para S e 44º34’ e 46º23’ W. Limita-se a oeste com
prevenir a perda de vidas e amenizar os danos o Estado de Tocantins e Luís Eduardo
materiais. Magalhães, a leste com Angical e Catolândia,
ao norte com Riachão das Neves e ao sul com
2.5 As Medidas de Correção/Mitigadoras São Desidério e Luís Eduardo Magalhães.
Veja a fig 1.
As medidas de correção/prevenção são
fundamentais para se evitar a ocupação, a Fig. 1: Mapa de Localização da Área de Estudo.
manutenção, a expansão antrópica nas áreas
de riscos.

Tabela 3: Medidas para Evitar Deslizamentos de


Encostas
1. Desenvolver uma legislação adequada de
Puder Público

ocupação e uso do solo;


2. Fazer cumprir a legislação;
3. Desocupar e restringir áreas de risco;
4. Implementar órgãos de Defesa Civil;
5. Implantar sistemas de alerta para a
população.
1. Realizar levantamento cartográfico
básico;
População

2. Realizar mapeamento das áreas de


risco;
3. Oferecer subsídios técnicos para
adequar a
4. Legislação de uso e ocupação do solo.
1. Obedecer à legislação de ocupação e uso
Entidades
Técnicas

do solo;
2. Facilitar os trabalhos de levantamentos e
inspeções do Poder Público e das entidades
técnicas.
Fonte: BRASIL e IPT, 2007.

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Os registros fotográficos forram realizados metassilitito e metamarga. Enquanto que, as


nos dias dezenove e vinte de fevereiro de coberturas detrito-lateríticas ferruginosas
2018 em dois pontos do Bairro Bandeirantes e formadas por aglomerados, areia, argila e
um ponto no Bairro Jardim Ouro Branco nos laterita.
limites da encosta da Serra do Mimo. O relevo do município de Barreiras é
Incialmente foi feito o mapa do entorno da classificado em três níveis sendo composto
Serra do Mimo a fim de realizar o registo pelos domínios morfoestruturais, as regiões
fotográfico das áreas delimitadas em estudo. morfogeológicas e as unidades morfológicas.
Além disso, para subsidiar na análise do No primeiro nível, os tipos de domínios
risco de deslizamento foi feito um estudo morfoestruturais predominantes são a
morfogeológico do tipo de solo conforme cobertura Sedimentar São Franciscana que
(EMBRAPA, 2010). abrange 90,4% e o Craton de São Francisco
Os registros permitem fazer a análise que ocupa 9,6% do território (fig. 3).
qualitativa sobre a influencia das ações
antrópicas e inferir o grau de risco de Fig. 3: Domínios Morfoestruturais de Barreiras.
deslizamento na área em estudo.

4 RESULTADOS E DISCURSÃO

4.1 A Geomorfologia de Barreiras, BA

De acordo (IBGE, 2010), o município de Escala: 1:100.000


Barreiras tem uma área de 7.538,152 km2 e
abrange a seguinte composição geológica. Cobertura Sedimentar São Franciscana 90,4%
Veja a (fig 2). Cráton de São Francisco 9,6%
Fonte: Adap: EMBRAPA e CPRM, 2008.
Fig. 2: Formação Geológica do Município de Barreiras.
Estes domínios são classificados com base
nos critérios geotectônicos e nos domínios
morfoestruturais.
No segundo nível representa as regiões
geomorfológicas constituídas pelas Chapadas
do São Francisco que abrange 78,1% do
Escala: 1:100.000 município e as Depressões da Margem
Esquerda do São Francisco que ocupa 21,9%
Coberturas dentrito-lateríticas ferruginosas 1,6%
Depósitos Aluvionares 4%
da área do território (fig.4).
Formação Riachão das Neves 3,8%
Formação Serra da Mamona 3,7% Fig. 4: Regiões Geomorfológicas de Barreiras.
Grupo Urucuia 86,8%

Fonte: Adap: EMBRAPA e CPRM, 2008.

Segundo (EMBRAPA e CPRM, 2008), o


Grupo Urucuia é composto por arenitos,
pelitos e arenitos conglomeráticos. Já o Escala: 1:100.000
depósito Aluvionares é formado de areia e
cascalho. O Grupo de Riachão das Neves é Chapadas do São Francisco
constituído por metarcóseo e metassilitito. Depressões da Margem Esq. do S. Francisco
Já a Serra da Mamona tem em sua
composição mármore, ardósia, metarenito, Fonte: Adap: EMBRAPA e CPRM, 2008.

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Esta classificação é realizada com base nas Num cenário mercado pela expansão da
formações superficiais, nas litoestruturas e fronteira agrícola e com o aumento das
nas fitosionomias. atividades industriais, comerciais e de
No terceiro nível, são compostas pelas serviços o município de Barreiras, BA
unidades morfológicas representadas pelas presenciou uma expansão demográfica no
Chapadas Intermediárias que abrange período de 1970 a 2017. Veja a tabela 6.
56,4%%, as Escarpas com 3,7%, a Frente de
recuo Erosivo com 12,1%, as Mesas com Tabela 6: Aumento Populacional de Barreiras, BA
2,7%, a Planície Interplanáltica com 2,4%, a Períodos População FRP Domicílios FRD
1970 20.864 - 3.792 -
Planície Intraplanáltica com 1,3%, as Rampas 1980 41.454 98,7 7.655 101,9
com 13,2%, os topos com 5,8% e as Veredas 1991 92.640 123,5 18.161 137,2
com 2,4% da cobertura geológica (fig.5) . 2000 131.849 42,3 31.464 73,2
2010 137.427 4,2 38.553 22,5
2017* 157.638 14,7 - -
Fig.5: Unidades Geomorfológicas de Barreiras.
Fonte: Adaptada: IBGE, 2010.

Legenda:
FRP – Frequência Relativa ao Aumento da População.
FRD - Frequência Relativa ao Aumento dos Domicílios.

Analisando os dados fornecidos pelo


(IBGE, 1970/2017), verifica-se que em 1970
Escala: 1:100.000 o município de Barreiras tinha uma população
Chapadas Intermediárias
Escarpas
de 20.864 habitantes residindo em 3.972
Frente de Recuo Erosivo
domicílios.
No decênio 1970-1980, o município teve
Mesas
Planície Interplanáltica
uma taxa decrescimento populacional de
Planície Intraplanáltica 98,7% atingindo uma população de 41.454
Rampas habitantes que residiam em 7.655 domicílios,
Topos ou seja, teve um aumento de 101,9%
Veredas configurando o que se pode chamar de
Fonte: Adap: EMBRAPA e CPRM, 2008. primeiro vetor de crescimento populacional
provocado pela emigração.
Estas unidades morfológicas são No decênio 1980-1991, o crescimento
classificadas com base nas suas semelhanças populacional dobra atingindo um aumento
altimétricas e fisionômicas do relevo. populacional de 123,5% e consequentemente
Ressalta-se, conforme estudo realizado um crescimento de 137,2% de novos
pela (EMBRAPA, 2010) que os processos de domicílios em comparação a década anterior.
gênese, da formação e o modelo de relevo tem Nas demais décadas, houve um aumento
características próprias que as diferenciam a populacional (1991-2000, 2000-2010 e 2010-
partir dos fatores paleoclimáticos, litológicos 2017) respectivamente de (42,3%; 4,2% e
e estruturais. 14,7%).
Assim, infere-se de um modo geral que tais Em contrapartida, neste mesmo período o
características do relevo, a localização aumento percentual no número de domicílios
espacial e o regime climáticos são fatores de (199-2000; 2000-2010 e 2010-2017) foi
influenciadores da ocupação humana no respectivamente de (137,2%; 73,2% e 22,5%).
espaço geográfico. Neste cenário, a explosão demográfica
atraiu pessoas de todas as regiões do país em
4.2 O Aumento Populacional e a Ocupação da busca de melhores condições
Encosta na Serra do Mimo. sócioeconômicas ocasionando uma pressão
imobiliária.

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Assim, com o advento de novos espaços de Quanto ao tipo de solo (fig.7b), apesar de
ocupação urbana projetados pelas empresas não haver a análise laboratorial, pode-se
imobiliárias surgem os vetores de ocupação verificar uma formação pedológica
em direção para as vertentes da Serra do constituída por pequenos grânulos em sua
Mimo. Veja fig. 6 grande maioria e por rochas.

Fig. 7b: Tipo de solo no ponto 1 da Serra do Mimo

Neste local, identifica-se rochas com


dimensões variáveis incrustadas no solo na
qual há a retirada da cobertura vegetal dos
taludes devido a remoção do solo pela ação
humana (fig. 7c).
A partir da figura 6, identifica-se a
expansão urbana em direção ao entorno da
Serra do Mimo.

4.3 A Análise das Imagens

As imagens das (fig. 7a-c) referem-se à


localização geográfica obtidas no ponto 1.
Este registro situa-se na Avenida Fernando de
Moura, no Bairro Bandeirantes.
A análise do local e da imagem (fig. 7a)
demonstra que o avanço da expansão urbana Figura 7c: Processos erosivos
margeia e até em alguns casos já invadem o
limite da encosta da Serra do Mimo. A interferência humana nos processos
geomorfológico natural aumenta a infiltração
de água das chuvas e sua consequente erosão,
provocando assim o tombamento de rochas.
As imagens obtidas no ponto 2 (fig. 8)
está situada na Rua Maria de Lourdes Lima
Brito no Bairro Bandeirantes.
Para a construção da quadra de futebol foi
necessário avançar a encosta da Serra do
Mimo (fig.8), pois há a existência de talude
originário da ação antrópica com uma altura
Fig.7a: expansão urbana na Serra do Mimo considerável.

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Fig.8c: processo de movimento de massa.


Fig 8: Quadra de futebol
O ponto 3 situa-se na Rua Adontino Lopes
Considerando o Plano Diretor Urbano - no Bairro Jardim Ouro Branco. Neste ponto,
PDU de Barreiras de 2004 é provável que a tem um número maior de construções
área identificada já ultrapasse os limites do próximas ao local com maior probabilidade
bairro bandeirantes e avança pela encosta da de vulnerabilidade e haver deslizamentos (fig.
Serra do Mimo (fig.8a). 9).

Figura 9: Ocupação no ponto 3


Fig. 8a: Avanço na Serra do Mimo.
Quanto aos processos erosivos no ponto 3
Com relação ao avanço sobre a encosta da verifica-se um maior movimento de volume
Serra as construções ocupam uma área de de material e um raio com maior alcance em
vegetação desmatada apresentado superfícies relação aos pontos 1 e 2. (fig. 9a).
desgastadas por processos físicos dentre
outras a modelagem da paisagem (fig.8b).

Fig.9a: processo de movimento de massa.

Fig.8b: A ocupação humana na Serra do Mimo


Assim, é possível identificar quais as áreas
Estes fatores facilitam a infiltração das com maior probabilidade de riscos de
águas das chuvas no solo (aspecto de solo deslizamento das encostas da Serra do Mimo
com pedregulhos) assim como o processo de conhecendo a estrutura geomorfológica, o
movimento de massa devido à inclinação do regime pluviométrico, o avanço populacional
terreno (fig. 8c).

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e as ações humanas nos entornos das PLANEJAMENTO.pdf>. Acesso em 03 de abr de


encostas. 2018.

Highland, L.M; Bobronwsky, P. O Manual de


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Deslizamento - Um Guia para a Compreensão de
Deslizamento. U.S.G. S
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artigo busca contribuir com um melhor http://ciaden.com.br/docs/gerais/Manual_
_M5DS.pdf > Acesso em 25 de jan de 2018.
planejamento urbanístico apontando as Santos, Gisele Barbosa dos; Costas, Diandra Hoffman;
possíveis áreas de risco de movimento de Pina, Núbia Valéria Moreira. Caracterização
massa no entorna da Serra do Mimo. geomorfológica e ocupação antrópica na encosta da
É importante ressaltar que, na área Serra do Mimo no Bairro Morada da Lua em
estudada a ocupação antrópica está avançando Barreiras – BA. Revista Online Caminhos de
Geografia. Instituto de Geografia da UFU, v. 17, n.
em direção ao limite das áreas erosivas e que 60, p. 197-210, dez, 2016.
atualmente se encontra na porção da encosta Silva Daniela Josefa da. Mapa de Risco de
que possui concentração de fluxo pela sua Deslizamento e Erosão em Encostas com
configuração, aumentando a concentração do Ocupações Desordenadas no Município de Abreu e
fluxo de água, o que resulta na identificação Lima - PE. Recife, 2016. 200p. Dissertação
Mestrado em Geotecnia) – UNIVERSIADE
de processos erosivos. FEDERAL DE PERNAMBUCO, Recife, 2016.
Além disso, o Plano Diretor Urbano não [Orientador: Prof. Dr Roberto Quental Coutinho.
tem sido capaz de gerenciar a ocupação Suguio, Kentiora. Geologia Sedimentar. 1 ed. Sçao
humana, pois a expansão acelerada em :Blucher, 2003.
direção as vertentes da Serra do Mimo
constitui áreas de risco para a população.

6 REFERÊNCIAS

Brasil, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –


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Baiano, escala, 1:1.000.000. Planaltina - DF, 2010.
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Brasil, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
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