Você está na página 1de 2

Perto do fim do mundo: sonoridades do caos em podcasts extremistas

Dulce Mazer
mazer.dulce@gmail.com
Professora substituta da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (Fabico/UFRGS)
Dra. em Comunicação e Informação (UFRGS)
Porto Alegre - Brasil

Resumo:
Com o avanço do conservadorismo no Brasil no período de 2018 a 2022, observa-se a
proliferação de podcasts informativos, cujo posicionamento político à direita, em consonância
com o governo bolsonarista, possibilita a exposição de ideias e espaços mais amplos de
discussão. É a “saída do armário” dos extremistas. Considerando-se liberais, patriotas, entre
outros títulos empoderadores, os produtores desses programas propõem ideias conservadoras
para temas culturais diversos, como a literatura, o cinema e a música. Igualmente, justificam
suas posições, os fatos e outros acontecimentos prevendo o caos, a desordem, os limites de
aceitação social, entre outras alegorias performatizadas para dar um basta no “comunismo” e
para a necessária manutenção do status quo, segundo seus interesses.
Este trabalho é uma cartografia e um estudo de caso sobre canais, programas e episódios
conservadores em plataformas sonoras como Spotify e Deezer. Busca entender como as
sonoridades colaboram para a criação de memórias e sensibilidades identificadas e
compartilhadas, facilitando conexões da ordem sensória entre sujeitos de mesma posição
ideológica. Pensamos com Taylor (2007), para quem o comportamento performático
transmite memória e identidade cultural.
Sabemos que, com a interatividade, os podcasts contam cada vez mais com a participação das
audiências em sua produção na fidelização dos ouvintes. Cada vez mais as redes sociais são
usadas para estabelecer uma relação mais direta dessas fontes com os realizadores. Daí surge
a intenção de conhecer aprofundadamente as sonoridades essenciais desses produtos. Como
um conjunto de características sonoras materiais e simbólicas que podem ser reconhecidas
por quem ouve, produz, ou reproduz sons (MAZER et al, 2020), as sonoridades trazem à tona
aspectos naturais, técnicos e tecnológicos que possibilitam que os signos sonoros sejam
identificados e compartilhados. O’Callaghan (2007), discutindo a metafísica dos sons,
coloca-os como eventos particulares nos quais um meio é perturbado ou posto em movimento
como uma onda pelas atividades de objetos ou corpos em interação. As potencialidade
sonoras, a modulação para os sentidos e as direções socialmente construídas indicam o som
modulando a escuta e a escuta modulando o som, em uma relação de mediação. Aqui
pretendemos também discutir a forma como a modulação sonora expressa no arcaísmo do
pensamento reacionário pode acionar ideias disseminadoras de medo e caos, por meio das
mecânicas do som e da entonação e da modulação de vozes e das músicas empregadas na
produção de
podcasts extremistas.

Referências:
MAZER, Dulce et al. O estudo das sonoridades: perspectivas e epistemologias. In:
CASTANHEIRA, José Cláudio S. et al. (orgs.). Poderes do Som: políticas, escutas e
identidades. Florianópolis: Insular Livros, 2020.
O’CALLAGHAN, Casey. Sounds: A Philosophical Theory, Oxford University Press, 2007.
TAYLOR, Diana. The archive and the repertoire: Performing Cultural Memory in the
Americas. North Carolina: Duke University Press, 2007.

Você também pode gostar