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Movimentos de

massa
Prof. Dr. Klinger Senra
Introdução

• Pode-se definir um movimento de massa como


qualquer deslocamento de um determinado volume de
solo e/ou rocha.
• Causa impacto tanto no relevo quanto econômicos.
• Várias classificações surgiram ao longo dos anos em
torno do globo:
- Baltzer (1875), Heim (1882), Penck (1894),
Molitor (1894), etc.
• A maioria delas tem aplicabilidade regional,
influenciadas pelas condições do ambiente em que o
autor as elaborou (GUIDICINI & NIEBLE, 2016).

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Introdução

A proposta de classificação de Varnes (1978) é a mais utilizada internacionalmente:

Varnes (1978) 3
Introdução
Classificação de Magalhães Freire (1965), como uma síntese dos principais movimentos:

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Santos (2015)
Introdução
Há algumas propostas para adequar a
classificação dos movimentos de massa a
ambientes tropicais, como é o caso do Brasil.

Augusto Filho (1992) revisou a proposta de


classificação de Varnes (1978) e ajustou as
características dos principais grandes grupos de
processos de escorregamento à dinâmica
ambiental brasileira (GERSCOVICH, 2016):

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Augusto Filho (1992)
Subsidências
Movimentos de massa que correspondem a um
deslocamento essencialmente vertical, que pode ser
contínuo ou instantâneo (colapso da superfície).
Subdivididas em:
- Recalque;
- Desabamamento ou queda;
- Afundamento ou colapso.

Buraco das Araras – Formosa Goiás. Fonte: CPRM (2018).

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Subsidências
Quedas
São subsidências bruscas, em alta velocidade.
Envolvem blocos rochosos que se deslocam em queda
livre ou ao longo de um plano inclinado.

A formação dos blocos origina-se na ação do


intemperismo nas fraturas dos maciços rochosos,
pressões hidrostáticas nas fraturas, desconfinamento
lateral, decorrentes de obras subterrâneas, vibrações,
etc.

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GeoRio (1999)
Subsidências
Quedas

GeoRio (1999)

Angra dos Reis – 31/12/2009 8


Subsidências
Quedas

Serra das Posses – Guiricema-MG 9


Subsidências
Quedas Possibilidade de desplacamento

Amparo do Serra-MG
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Guiricema-MG
Subsidências
Quedas

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Subsidências
Colapso

Ocorre comumente em cavidades feitas pelo homem,


como túneis, poços e minas subterrâneas.
Também é frequente em terrenos cársticos, em que a
dissolução do calcário causada pelo fluxo de água
subterrânea leva à formação de grutas.
Se a resistência da rocha que constitui as paredes destas
cavidades diminui substancialmente, pode ocorrer o seu
colapso com consequente movimento dos materiais que
se encontram por cima em direção à cavidade, causando
subsidência à superfície (CPRM, 2018).
Dolina aberta em Coromandel-MG.
30m de diâmetro e 20m de profundidade.

Principais ocorrências: zonas cársticas (calcário, mármore, dolomito), e solos colapsíveis


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Subsidências
Colapso

Portanto, podemos distinguir as principais causas em naturais e antrópicas:

Processos naturais:
- São causados principalmente pela dissolução de rochas (carstificação) como calcários, dolomitos; pela
acomodação de camadas no substrato, devido ao seu peso ou a deslocamentos segundo planos de falhas.

Processos acelerados por ação antrópica:


- São ocasionados pelo bombeamento de águas subterrâneas, por recalques por acréscimo de peso devido a
obras e estruturas e por galerias de mineração subterrâneas (CPRM, 2018).

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Subsidências
Colapso

(CPRM, 2018). 14
Subsidências
Colapso em zonas cársticas
Regiões cársticas compreendem um tipo de relevo geológico
caracterizado pela dissolução química das rochas, que leva
ao aparecimento de uma série de características físicas, tais
como cavernas, dolinas, vale seco e rios subterrâneos.
Durante o desenvolvimento do carste a água irá infiltrar-se
por descontinuidades naturais da rocha, causando a
dissolução.
As descontinuidades podem ser contatos entre rochas,
fraturas (planos de ruptura da rocha), falhas (planos de
ruptura com movimentação relativa entre os blocos) e planos
entre camadas de rochas sedimentares. Isto leva a formação Componentes principais do sistema
de condutos em profundidade, que conduzem a água através cárstico. (Fonte: Karman, 2001).
do sistema.
Também pode ocorrer carste abaixo de rochas não 15
carbonáticas (carste subjacente) ou coberto de solo.
Subsidências
Ocupações em regiões cársticas

Créditos: Modificada de Infanti Jr & Fornasari Filho 1998; organizada por Fábio Reis. Fonte:<http://www.rc.unesp.br>. Acesso em 16
30/11/17 por CPRM (2018).
Subsidências
Ocupações em regiões cársticas

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Subsidências
Ocupações em regiões cársticas

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CPRM (2018).
Subsidências
Boas práticas para Defesa Civil

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CPRM (2018).
Subsidências
Colapso em solo

Solos colapsíveis são materiais que apresentam uma


estrutura metaestável, sujeita a rearranjo radical de
partículas e grande variação (redução) volumétrica
devido à saturação, com ou sem carregamento externo
adicional.

O colapso ocorre por causa de um rearranjo de


partículas, com variação de volume, causado pelo
aumento do grau de saturação do solo, sendo
dependente das seguintes condições:
- Estrutura do solo parcialmente saturada;
- Tensões existentes para desenvolver o colapso;
- Rompimento dos agentes cimentantes.

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Subsidências

Recalques
São movimentos verticais causados pela
variação no estado de tensões efetivas,
como decorrência de sobrecargas,
escavações, rebaixamento de lençol
d’água, etc.

Adicionalmente, os processos de
compressão secundária também geram
movimentação da superfície.

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Subsidências

Recalques
O recalque total (∆H) sofrido por um extrato de solo pode ser dividido em três parcelas, de acordo com os
mecanismos predominantes durante a deformação:

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Subsidências

Recalques
Recalque imediato (Si):

• Recalque por deformação elástica que se processa imediatamente após o carregamento;

• Predominante nos solos não-coesivos (solos arenosos ou solos não-saturados);

• Ocorre devido à variação das tensões efetivas com deformações a volume constante ou apenas mudança
de forma;

• A deformação ocorre sem a expulsão de água, isto é, sem drenagem.

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Subsidências

Recalques
Recalque de adensamento ou primário (Sc):

• Ocorre pela expulsão da água dos poros e consequente redução do volume de vazios do solo.

• Processo lento, dependente do tempo, e que ocorre em solos finos e saturados, os quais possuem baixo
coeficiente de permeabilidade.

• A velocidade em que se processa o recalque depende da velocidade de drenagem da água nos poros do
solo.

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Subsidências
Recalques
Recalque secundário (Ss):

• É a continuação do adensamento primário;

• Ocorre quando o excesso de pressão neutra é praticamente nulo (u ≈ 0) e a tensão efetiva é praticamente
igual à tensão total (σ‘ ≈ σ);

• Em geral, verifica-se que no ensaio de adensamento, a deformação continua a se processar, embora o


excesso de pressão neutra seja praticamente nulo;

• Ocorre pelo fato das partículas de solo, ao final do adensamento primário, estarem posicionadas em
um equilíbrio instável.

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Escoamentos

Escoamentos são movimentos contínuos, com ou sem


superfície de deslocamento definida, não associados a
uma velocidade específica.

Quando o movimento é lento, dá-se o nome de


rastejo;
Quando o movimento é rápido, denomina-se corrida.

Danos causados por um fluxo de detritos na cidade de Caraballeda,


Os escoamentos apresentam um mecanismo de na base da Cordilheira de La Costan, no litoral norte da Venezuela.
Em dezembro de 1999, esta área foi atingida pelo pior desastre
deformação semelhante à movimentação de um fluido natural do século 20; muitos dias de chuva torrencial deflagraram
viscoso. o escoamento de lama, torrões de solo, água e árvores que
mataram aproximadamente 30.000 pessoas. (Imagem por L. M.
Smith, Waterways Experiment Station, U.S. Army Corps of
Engineers). Fonte: USGS (2008)
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Escoamentos

Rastejos (creep ou fluência)


Movimentos lentos (cm/ano) e contínuos, sem superfície de
ruptura bem definida, que podem englobar grandes áreas,
sem que haja uma diferenciação clara entre a massa em
movimento e a região estável. Correspondem a uma
deformação plástica.

Provocados pela ação da gravidade associada às variações de


temperatura e umidade. O fenômeno de expansão e
contração da massa, por variação térmica, gera o movimento. Fonte: Guidicini & Nieble (2016).

Em superfície, podem ser identificados pela observação de


deslocamentos de eixos de estrada, blocos, postes ou cercas,
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ou mudanças na verticalidade de árvores, postes etc.
Escoamentos

Rastejos (creep ou fluência)

O deslocamento ocorre em um estado de tensões, inferior à resistência ao cisalhamento. Caso haja uma
variação do estado de tensões a ponto de se atingir a resistência, a movimentação da massa torna-se um
processo de escorregamento, com superfície de ruptura bem definida (GERSCOVICH, 2016).

Rastejo (creep) é o nome informal dado ao fluxo lento


de terra e consiste de um movimento vagaroso,
imperceptível e contínuo, para baixo do solo que forma
o talude. Esse tipo de deslocamento é causado por tensão
de cisalhamento interna suficiente para causar
deformação, mas insuficiente para causar rupturas
(USGS, 2008).
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Fonte: USGS (2008).
Escoamentos
Corridas
Formas rápidas de escoamento (≥ 10km/h), ocasionadas pela perda
de atrito interno, devido à destruição da estrutura, em presença de
água em excesso. A massa de solo passa a se comportar como
fluido.

O processo de fluidificação pode originar-se por (gatilhos):


• adição de água em solos predominantemente arenosos;
• esforços dinâmicos (terremoto, cravação de estacas etc.);
• amolgamento em argilas muito sensitivas.
Dentre esses fatores, a presença de água em excesso em períodos
de precipitação intensa é mais usual. Fonte: Adaptado de Guidicini & Nieble (2016).

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Escoamentos

Corridas

Nova Friburgo/RJ
(2011).

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Escoamentos
Corridas
Guidicini e Nieble (2016) apresentam diferentes tipos de corrida:
• Corrida de terra:
Em menor grau de fluidez, provocada por “encharcamento” do solo por pesadas chuvas ou longos períodos de
chuva menos intensa.
• Corrida de areia ou silte:
Associada à perda rápida da resistência ao cisalhamento até quase zero, sem a ajuda de pressão de percolação
(liquefação estática).
• Corrida de lama:
Corridas de extrema fluidez, geralmente produzidas pela ação de lavagem e remoção de solos por cursos de água
durante enchentes e tempestades.
• Avalanche de detritos:
Movimentos bruscos que se iniciam na forma de escorregamento normal, mas que se tornam acelerados devido à
elevada inclinação da encosta e à saturação da massa de solo e/ou rocha. 31
Erosão

Processo antrópico ou natural.

A associação de escorregamentos sucessivos com processos


erosivos pode se dar como resultado da dinâmica de evolução
das voçorocas.

A infiltração de água reduz a sucção do talude e, dependendo da


duração e intensidade da chuva, pode deflagrar um processo de
escorregamento.

Agentes erosivos:
• Água;
• Insetos e animais. 32
Erosão

A voçoroca é um fenômeno geológico que consiste


na formação de grandes buracos de erosão,
causados pela chuva e intempéries, em solos onde a
vegetação é escassa e não mais protege o solo, que
fica cascalhento e suscetível de carregamento por
enxurradas.

Imagem de Gabi Noronha.

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Escorregamentos
São movimentos de massa rápidos;

Apresentam superfície de ruptura


bem definida;

O movimento ocorre quando as tensões


cisalhantes mobilizadas na massa de
solo/rocha atingem a resistência ao
cisalhamento do material.

Tanto em solo como em rocha, a


ruptura ocorre pela superfície que
apresenta a menor resistência.

Serra do Mar, entre Paraná/Santa Catarina, 29/11/2022 34


Escorregamentos

Litoral de São Paulo, fevereiro/2023. 35


Escorregamentos
Elementos de um escorregamento (NBR11682)

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Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície de
ruptura

Conforme as condições geomorfológicas, as


superfícies de ruptura podem ser:
- planares;
- circulares;
- em cunha ou;
- uma combinação de formas (circular e plana),
denominadas superfícies mistas.

Deslizamento do Morro da Forca , Ouro Preto, Janeiro/2022.


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Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície: Escorregamentos planares ou translacionais
Caracterizam-se pela presença de descontinuidades ou planos
de fraqueza.

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Fonte: Dutra e Parizzi (2021) Fonte: Gerscovich (2016)
Escorregamentos
Quando os planos de fraqueza se cruzam ou quando camadas de menor resistência não são paralelas à
superfície do talude, a superfície de ruptura pode apresentar uma forma de cunha.

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Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície: Escorregamentos circulares ou rotacionais

Em solos relativamente homogêneos, a superfície


tende a ser circular.
Quando a anisotropia com relação à resistência é
significativa, a superfície pode ter uma aparência
mais achatada, na direção horizontal ou vertical.

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Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície: Escorregamentos circulares ou rotacionais

Escorregamento rotacional – Salvador-BA,


em 2005.

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Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície: Escorregamentos circulares ou rotacionais

Os escorregamentos rotacionais são denominados múltiplos (A) quando mobilizam simultaneamente


mais de uma superfície de ruptura.
Quando os mecanismos de ruptura evoluem ao longo do tempo, no sentido da crista, são denominados
retrogressivos (B) e a sequência de movimentação ocorre por descalçamento, caso contrário são
denominados progressivos (C) se o fenômeno é deflagrado por ação de sobrecarga (GERSCOVICH,
2016).

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(Gerscovich, 2016).
Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície: Escorregamentos circulares ou rotacionais

Fonte: CPRM (2018). 43


Escorregamentos
Classificação quanto à forma da superfície: Escorregamentos circulares ou rotacionais

As rupturas de forma mista ocorrem quando há uma heterogeneidade, caracterizada pela presença de
materiais ou descontinuidades com resistências mais baixas. As figuras mostram exemplos de superfícies
de ruptura que combinam formas circulares (rotacional) e planares.

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(Gerscovich, 2016).
Escorregamentos
Causas gerais
Dentre estes mecanismos, a ação antrópica pode se
manifestar tanto como indutora de aumento das tensões
cisalhantes mobilizadas, a partir de:
• execução de cortes com geometria incorreta
(altura/inclinação);
• execução deficiente de aterros (geometria,
compactação e fundação);
• lançamento de lixo nas encostas/nos taludes;

Como na redução da resistência ao cisalhamento, por:


• remoção da cobertura vegetal;
• lançamento e concentração de águas pluviais e/ou
servidas;
• vazamentos na rede de abastecimento, esgoto e
presença de fossas.
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Influência da vegetação (cobertura vegetal)

Pode produzir efeitos favoráveis ou desfavoráveis.


A vegetação protege o solo de vários efeitos climáticos e as
raízes podem reforçar o solo, aumentando a resistência do
sistema solo/raiz.
Há consenso de que o desmatamento promove condições mais
favoráveis para a instabilidade das encostas. A cobertura vegetal
atua como um elemento protetor da ação dos agentes climáticos.
Superfícies desmatadas podem ficar vulneráveis a processos
erosivos, além de receberem maiores volumes de água
precipitada sobre a superfície do talude (GERSCOVICH, 2016).

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Influência da vegetação (cobertura vegetal)

As copas protegem a superfície da ação dos agentes climáticos (raios solares, vento, chuva etc.),
minimizando as mudanças bruscas de temperatura e umidade. Com isso, retardam a ação do
intemperismo e, com a interceptação da precipitação, reduzem o volume de água que incide sobre a
superfície do talude.

Os caules e as copas podem estar sujeitos à força do vento; quando transmitida ao solo, gera uma
tensão adicional que pode contribuir para instabilizar a encosta.

Pode atuar como elemento de reforço, favorecendo a estabilidade. Sua influência depende do diâmetro
da raiz: raízes com menor diâmetro são mais eficientes no aumento de resistência do sistema solo/reforço.

Pode representar um caminho preferencial de infiltração, acelerando a variação da poropressão no solo


(GERSCOVICH, 2016). 47
Influência da vegetação (cobertura vegetal)

Vários estudos têm sido


realizados utilizando a espécie
Vetiver como vegetação para
estabilização de taludes.

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Artigo em anexo.
Aplicação do sistema vetiver em talude de corte no Vietnã (Madruga, Schelle e Salomão (2022).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• GERSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de taludes. Oficina de Textos, 2016.

• GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação. Ed. Blucher, 10ª
reimpressão, 2016.

• MADRUGA, E. L., SCHELLE, E. L;, SALOMÃO, F. X. T. Uso do capim vetiver (sistem vetiver) na
estabilização de rodovias, proteção de drenagens e de áreas marginais. Acesso em 06 de dezembro de 2022.
Dsiponível em: https://defesacivil.es.gov.br/Media/DefesaCivil/Material%20Did%C3%A1tico/CBPRG%20-
%202019/PESQUISA%20VETIVER.pdf

• MARQUES, E. A. G; VARGAS Jr, E. A. Mecânica das rochas. Oficina de Textos, 2022.

• USGS - U.S. Geological Survey, O manual de deslizamento – um guia para a compreensão de deslizamentos,
Virginia, 2008.

• SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL – CPRM, Curso básico de percepção e mapeamento do risco


geológico, Vitória, 2018.
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