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DO

COMPADRE DE LISBOA
EM RESPOSTA A OUTRA

DO C O M P A D R E D E B E L É M ,

OU

J U Í Z O C R I T I C O

S O B R E A O P I N I Ã O PUBLICA,

Dirigida pelo Astro da Lusitânia.

REIMPRESSO NO RIO D E JANEIRO.


NA TYPOGRAPHIA REAL.
1 8 2 1.
Credite Pisones isti tabulae fore librum
Pcrsimilem > cujus , velut aegri somnia vanae
F'mgentur species > ut nec pes nec caput uni
y

Reddatur formae. [

Assentai, oh Pisoes , que a hum quadro deste»


Será mui semelhante aquelle l i v r o ,
N o qual idéas vas se representem ,
( Quaes os sonhos do enfermo ) de tal modo
1 Que nem pés , nem cabeça a huma só forma
1 Convenha.
1
Hor, na sua Carta aos P.
s

r t T


5

Enhor Compadre , folguei de l e r as suas judiciosas


reflexões sobre o A s t r o ; ninguém maneja com mais
destreza as armas da mordaz ironia para ridiculisar hu-
ma cousa, que se não sabe o que he; mas que V.m.,
e elle chamão s T e m p o perdido S ; o meu Compa-
dre pelo que mostra , deixa ver , que foi algum tem-
po discípulo do satyrico Juvenal ; pois que t a m bem
sabe m i s t u r a r o jocoso com o acre , e vehemente. H e
forte a mania que V. m. , e muitos t e m de quererem
ver eclipsado o luminar maior da nossa Lusitâ-
nia , e com elle o farol da opinião pública, que ago-
ra mais que nunca tão preciso nos he ! Porque aberrou
a l g u m tanto da sua o r b i t a , porque os seus movimen-
tos não forão d i r e c t o s , mas retrógrados , porque se per-
deo no tempo em que devia consumar a sua rotação ;
já não he A s t r o já não serve para i l l u m i n a r o nosso
i

Orisonte Político!
O S o l , Senhor C o m p a d r e , a pezar de ser abaixo
da D i v i n d a d e , o P a i c o m m u m da N a t u r e z a , o que a
i l l u m i n a , e v i v i f i c a ; e a quem os mesmos Incas não
duvidárão de consagrar Templos , erigir A l t a r e s ; nem
por isso deixa de padecer eclipses em alngm dos seus
periódicos m o v i m e n t o s , e o armado olho do Astrôno-
mo muitas vezes descobre no seu núcleo grandes man-
chas , que com o rodar dos séculos talvez cheguem a
e x t i n g u i r de todo a quelle oceano de luz : ora se isto
a contece ao A s t r o do d i a , que m u i t o he que o mes-
mo aconteça a est' o u t r o , que p o r mais pequenino, e i r -
regular nos seus períodos, está, como a L u a , sujeito
ás mesmas phases, e alternativas; a ser hoje crescente,
á manhã mingoante ; agora novo , logo cheio ! A tão
A
4

i m p e r i o s a L e i , Senhor C o m p a d r e , sujeitara a M a d r e
N a t u r a os P l a n e t a s , e seus satélites! 4 isto dirá V.m.
que h u m A s t r o não he P l a n e t a , mas s i m h u m c o r p o
que t e m l u z própria , e p o r isso mais de a d m i r a r he
que no c u r t o periodo de 24 horas padeça aquellas pha-
ses, manchas, eEclipses, que mais affectão os corpos opa-
cos, do que os l u m i n o s o s , e i n e x t i n g u i v e i s ; razão t e m ,
Senhor Compadre : o seu telescópio c r i t i c o porém lhe aug-
m e n t a de mais humas , e não lhe descobre outras. Se
V. m. o observasse como eu , desde que elle p r i n c i p i o u
a apparecer no nosso E m i s f e r i o , f o r m a r i a mais se-
g u r o j u i z o , e modelaria pelas minhas as suas obser-
vações , que a q u i exponho á sua luminosa c r i t i c a .

PRIMEIRA, E ÚNICA OBSERVAÇÃO.


* m
y
Se o Astro da Lusitânia tem sabido rectijicar, e dirigir ã
opinião pública ?

o A s t r o , Senhor C o m p a d r e , t o m o u a seu cargo ,


de pois da nova ordem de cousas, em que somos feliz-
m e n t e entrados i l l u m i n a r , e d i r i g i r , como b r i l h a n t e S o l ,
a opinião pública dos P o r t u g u e z e s ; e he p o r isso q u e
t o m o u l o g o , como V. m, engenhosamente nota , p o r
t i m b r e de suas armas as de que usava o grande Co-
cheiro-mór P h a e t o n t e , quando regia a carroça de seu
amo; começou a apparecer, e logo a v i b r a r raios con-
t r a os antigos abusos ; c u b e r t o com a mascara do b e m
público não houve classes , e x c e p t o a do p o v o , q u e não
fosse r e t a l h a d a ; o C l e r o , a M a g i s t r a t u r a , a N o b r e -
za , e até ateuns dos U l u s t r e s M e m b r o s do G o v e r n o ,
t u d o f o i posto á viola ; d e i x o u P o r t u g a l de t e r ho-
mens beneméritos em todas as J e r a r q u i a s ; os R e g u l a -
res passavão as vagorosas noites de I n v e r n o a r e p e t i r
a escandalosa c h r o n i c a dos leigos ; os venerandos B i s -
pos esquivavao-se de fazer Pastoraes aos «eus Diocesa-
5

n o s , para p r o c l a m a r e m constituições, q n e se havino de


f a z e r ; os M a g i s t r a d o s vendião a Justiça; os N o b r e s
c o m i a o i n j u s t a m e n t e as C o m m e n d a s q u e S. M a g e s t a d e
lhes havia consignado para p a g a m e n t o cias suas d i v i -
das ; e para q u e o respeitável Público não ignorasse
q u e m elles erão , até se lhes deo nas depois remen-
dadas listas os seus nomes, &c. O r a e u , Senhor Com-
p a d r e , sou razoável, e confesso que em todas as classes
h a v i a , e ha abusos , que t a r d e , ou sedo devem ser emen-
dados ; mas p e r g u n t o , será este o verdadeiro m o d o de
os e m e n d a r ? g r i t a r , r a l h a r , e até personalisar será o
v e r d a d e i r o m e i o de e n c a m i n h a r a opinião pública, e
u n i r em h u m m e s m o c o r p o , e s e n t i m e n t o todos os i n -
divíduos da grande família P o r t u i m e z a ? O u não será
antes pelo c o n t r a r i o o seguro m e i o de t o r n a r d i s c o r d e s
e n t r e s i todas as classes do Estado , e suscitar e n t r e
ellas a sedição , e a d e s o r d e m ? Q u a n d o se t r a t a , Se-
n h o r C o m p a d r e , de r e g e r a opinião pública de h u m a
N a ç ã o , e conduzi-la a h u m mesmo f i m , he p r e c i s o
começar p o r m o s t r a r - l h e os seus verdadeiros i n t e r e s s e s ,
de que o primário de todos he unirem-se em h u m
m e s m o voto , como e m c e n t r o c o m m u m , todos os i n -
divíduos q u e a c o m p õ e m . C o m o poderá, Senhor Com-
p a d r e , a máquina de h u m E s t a d o t o m a r h u m , e o mes-
m o u n i f o r m e m o v i m e n t o , se as rodas que a fazem mo-
v e r , se m o v e r e m e m sentidos oppostos , e contrários?
R o m a esteve p o r m u i t a s vezes a p o n t o de perder-se no
t e m p o da nascente Républica, pela cabala , e i n t r i g a
que os seus T r i b u n o s m a l i c i o s a m e n t e sopravão e n t r e
a P l e b e , e os Patrícios. À m o d e r n a França t a l v e z não
v e r i a assassinar h u m R e i , q u e senão era j u s t o não e r a
t y r a n n o , e alagar-se em sangue a sua C a p i t a l , se Es-
c r i p t o r e s malévolos, e sediciosos não atiçasí>cm com seus
escritos o fogo da rebelião, e da discórdia e n t r e os
tres Estados. D i z e r m a l de t u d o he q u e r e r d e i t a r a per-
d e r t u d o ; q u e r e r c o r r i g i r abusos inveterados e n t r e nós
6

pelo longo curso de muitos séculos com increpar , ar-


g u i r , e desacreditar os q u e p o r h a b i t o , ou pouco a m o r
da o r d e m os estão ainda p r a t i c a n d o , he o m e s m o que
p e r t e n d e r fazer c o m q u e os e m p e r r a d o s Sebastianistas
l a r g u e m os prejuízos d a sua arraigada s e i t a , chaman-
do-lhes os o p p r o b r i o s o s nomes de toleirÕes , menteca-
p t o s , bestas moares , &c. O único m o d o , Senhor Com-
p a d r e , de c o r t a r a b u z o s , d e s t e r r a r prejuízos he o dis-
s i p a r c o m m e t h o d o as sombras q u e os c o b r e m , i n s p i -
r a r sem desordem o a m o r d a o r d e m , e b e m g e r a l de
todos. D e que não he c a p a z , Senhor C o m p a d r e , h u m
p o v o numeroso p o r i l l u s t r e , e p o l i d o q u e s e j a , quan-
do seduzido pelo falso a p p a r e n t e b e m de h u m a m a l
entendida l i b e r d a d e , se d e i x a a r r a s t a r pelas sediciosas
m á x i m a s de h u m O r a d o r f u r i o s o , q u e lhes i r r i t a os
ânimos, q u e lhes accende as i r a s , e q u e atêa o fogo
da discórdia e n t r e e l l e , e o u t r a classe t a m b é m nume-
rosa , mas a r m a d a , b r i o s a , e c o b e r t a de g l o r i a ! Ago-
r a sei e u q u e V. m. está d i z e n d o lá p a r a os seus bo-
tões : eis-ahi vem á baila o n u n c a assás fallado d i a 11
de N o v e m b r o ; pois não he o d i a 1 1 , he o N.° V I I L
do A s t r o , e seu Suplemento. A h ! Senhor C o m p a d r e ,
que dois A s t r o s ! ou p a r a m e l h o r d i z e r , q u e A s t r o e
m e i o ! O volcão de J a v a ( d e i x e - m e s e r v i r desta p e -
quena comparação que aclara m u i t o ) p o r onde satanaz
r o m p e o p a r a e m p e c e r os P o r t u g u e z e s no d e s c o b r i m e n -
t o da índia , não v o m i t o u então de s i m a i s lavas d o
que os dois A s t r o despedirão de raios p a r a e m p e c e r e m
os progressos d a nossa começada liberdade ( e ainda b e m
que não pegárão) senão teríamos de vêr o A n n o G r a n d e
de Platão! N o .breve i n t e r r e g n o de seis dias arguio-se
o bárbaro p r o c e d i m e n t o d o C h e f e , e da T r o p a ; notá-
rão-s e defeitos , que não h a v i a , de alguns dos m e m b r o s
do então e x t i n e t o G o v e r n o ; g r i t o u - s e , r a l h o u - s e , até
c h o r o u - s e ; mas q u e i m p o r t a , dirá V. m. q u e t u d o i s -
so se fizesse , se este f o i o v e r d a d e i r o m e t h o d o de c o n -
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7
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solidar ao p i n i a o p u b l i c a l D i z b e m , Senhor Compa-


d r e , senão fossem estes dois A s t r o s , o u lanternas da
liberdade do povo ; como poderia elle chegar-se então
a persuadir q u e o E x e r c i t o estava sujeito , e devia obe-
decer ás legitimas Authoridaiíes C i v i s ? q u e os Chefes
obravão in< o m p e t e n t e m e n t e , todas as vezes q u e e m l u -
gar de v o l t a r e m as armas a favor d a Pátria, as v o l t a -
vão c o n t r a ella? que o G o v e r n o então e s t a b e l e c i d o , e
sanccionado pelo consenso dos povos era l e g i t i m o ,
c o n t r a o q u a l ninguém t i n h a d i r e i t o de a t t e n t a r ? q u e
o povo da C a p i t a l , a p e z a r de indefezo , e desarmado ,
t i n h a d i r e i t o a q u e i x a r se de h u m tão injusto p r o c e d i -
m e n t o , e t i r a r mesmo desforra se o caso o pedisse ? H e
assim , Senhor C o m p a d r e , q u e se firma, e consolida a
opinião pública! e f o i assim q u e o a s t u t o , mas verda-
d e i r a m e n t e P a t r i o t a M e n e n i o A g r i p a congraçou as Le-
giões Romanas c o m os Patrícios ; mas este , Senhor
C o m p a d r e , e r a menino , e p o r isso se servio do doce
m e i o da persuasão, contando-lhe historias d a c a r o c h i -
nha ; mas o A s t r o , q u e não he m e n i n o , mas A s t r o ,
e m p r e g o u h u m o u t r o estratagema ainda mais podero-
so , e p e r s u a s i v o ; sabe q u a l f o i , Senhor C o m p a d r e ,
o* de c h o r a r ! ! aposto e u , que agora se está V. m. r i n -
do ! pois t a m b é m e u ; n e m posso d e i x a r de o fazer ,
quando vejo h u m Astro a chorar no momento em q u e
escreve a sua e x e m p l a r i s s i m a c a t i l i n a r i a ao p r i m e i r o C h e f e !
C h o r o u , Senhor C o m p a d r e ! e f o i áquella peça, d i -
g n a d e o u r o , e c e d r o , e ás suas enternecidas l a g r i -
mas, capazes de a b r a n d a r e m rochedos, que esta C a p i t a l
deveo o inestimável beneficio de vêr restituidas as cou-
t a s ao seu a n t i g o e s t a d o , de vêr r e i n a r a o r d e m n o
m e s m o l u g a r onde t i n h a reinado a desordem ; de vêr ...
•Que i m p o r t a pois q u e V. m., e eu notemos n o seu
disco radioso algumas manchas, o u nodoas : Non ego
paucis offendar maculis, d i z i a a rançoso H o r a c i o ; não
devemos fazer caso de bagatellas , quando remos tan-

1
i
tos fachos que nos deslumbrão; e a ffogueião !!! V e r d a d e
he , que o A s t r o reconhece o seu n a d a , quando não
a t r i b u e só ás suas forças a operação de tantas m a r a v i -
l h a s ; mas ao Deos de Aftbnso H e n r i q u e s , que elle t a l -
vez v i s s e , como aquelle M o n a r c a v i o , afFugentando para
longe o A n j o e x t c r m i n a d o r , que estava já pousado s o b r e
as muralhas do Castello a decretar m o r t e s ! ! feliz m o r t a l !
a q u e m não só f o i concedido o d o m de tão b e m enca-
minhares a opinião pública; mas até de penetrares os se-
gredos celestes ; Até a q u i , Senhor C o m p a d r e , o m e u
j u i z o c r i t i c o sobre o modo c o m que o A s t r o soube i l -
l u m i n a r , e d i r i g i r a opinião pública da N a ç ã o nos dias
J4 , e 15 de N o v e m b r o . Passo a gora a e x a m i n a r
em breve as suas judiciosas observações sobre o mesmo
objecto ; c procedendo c o m aquella i m p a r c i a l i d a d e c o m
que c o s t u m o ; t e r e i de censurar h u m a s , a p p r o v a r o u -
t r a s , è accrescentar outras. D i z V. m., e com aquella
ênfase, e sal attico c o m q u e t u d o sabe d i z e r , r e f e r i n -
do-se a h u m N. , o u J o r n a l que agora me não l e m -
bra ; q u e não havendo differença a l g u m a e n t r e h u m a
Constituição feita , e o u t r a q u e se ha de f a z e r , t i n h a
sobeja razão o luminoso A s t r o de e x i g i r dos E x c e l -
lentissimos B i s p o s , que p o r m e i o de Pastoraes mode-
ladas pela da sua b i t o l l a , fossem desde já d i s p o n d o os
ânimos dos seus Diocesanos , p a r a abraçarem esse n o v o
Código C o n s t i t u c i o n a l ; e q u e se no t e m p o de N a p o -
leão o G r a n d e , ou do seu T e n e n t e R e i J u n o t as f a -
zião cheias de unção, e graça Apostólica, c o m q u a n t a
mais razão as devião fazer a g o r a que se lhes a n t o l h a -
v a h u m f u t u r o l u m i n o s o , &c. A h ! Senhor Compa-
dre, forte o b r a ! D e taes princípios, taes conseqüên-
cias! N o t e m p o de J u n o t , o u do seu i n t r u z o G o v e r n o ,
de q u e m t u d o h a v i a a r e c e a r , fazião os V e n e r a n d o s B i s -
pos Pastoraes aos seus Diocesanos ; agora q u e he l e g i -
t i m o , e de q u e m nada ha a t e m e r , mas a e s p e r a r s

t a m b é m as devem fazer! n o t e m p o em q u e todos es des-


9

graçados habitantes das nossas Províncias se achavão


opprimidos com o pezo dos males, que sobre elles car-
regava; era preciso despertar-lhes idéas de Religião, e
exorta-los a soffrer resignados os flagellos da fome ,
da miséria, e do despotismo; agora que vivem satis-
feitos debaixo de h u m Governo l i b e r a l , que principia
a uizer-lhes seatir os benéficos effeitos de huma nova or«
dem de cousas, também he preciso anima-los a soffrer
com paciência esse bem que se lhes faz , ou espera de fa-
zer-se-ihes! forte Lógica! forte A s t r o ! Mas que quer,
V. m. se elles são meninos l Proclamarão no tempo de
J u n o t ; mas he porque podião affoitamente chegar a bra-
za para sua sardinha , sem se queimarem ; mas agora
que podem queimar-se . . . • E então vio V. m. já des-
Q He bico ,
ou he cabeça ? A taes insultos peja-se de responder o
E s c r i t o r sensato. Mas vamos á Constituição que se ha
de fazer. Que he o que nós juramos , Senhor Compar
dre ! p o r ventura ignora que jurámos já huma Consp
tituição ? jurámos , e se está ainda in jieri, e não in
esse9 como se explicão os Escolasticos, isso he o mes-
mo ; havemos de t e - l a ; pois que assim no-lo assegu-
rou o Governo Supremo; e se a havemos de t e r daqui
a mezes, vamos já amoldando-nos a essa t a l , ou q u a l ;
ella ha de ser mais l i b e r a l do que a Hespanhola; e co-
mo não sabemos até onde se estenderá a sua l i b e r a l i -
dade , vamo-la já prégando em grão summo ; para o
que será b o m , e conveniente que os meninos se vão desde
logo i m b u i n d o nos rudimentos de liberdade, igualdade,
e fraternidade, que era a T r i n d a d e dos nossos passadqs
P r o t e c t o r e s ; que se adoptem nas Escolas de primeiras
letras Catecismos, que tenhão p o r base estes luminosos
princípios de moral , e poderá servir de modelo h u m
que ha pouco se i m p r i m i o , e gastou logo. A h ! Se-
nhor C o m p a d r e , que portento não virá a ser h u m mie-
, a quem desde a p r i m e i r a infaacia s e l h e forepi
dando ã cõfn?^ -efctíis verdadesí A p a r e c e r á o érn <v.ez dé^
lrúm , taíiUvs A s n m , quanto* os q u e b r i l h o na azu-
lada e s f e r f t , fól rn%ataõ os sábios a m i l h a r e s ! Q u e glo-
r i a não s e r ; ]>ira h u m Pai vôr h u m filho logo aos dez
annos começur p o r quebrar a cabeça aos seus C o l e g a s /
p;tirar já a sua pedradasinha aos v i d r o s de h u m a j a n e l *
la ; amutinar-se c o m os outros , e recusar obediência
áòs seus Mestres ! — somos todos livres (dirá c o m
m u i t a graça) logo posso fazer o que q u i z e r , somos t o -
dos iguaes : l o g o ninguém t e m d i r e i t o sobre t n i m ; so-
mos todos Irmãos; logo niviguem me p o d e castigar o u
i r á m ã o . D e i x o ao seu atilado pensar , Senhor Com-
p a d r e , o advinhar as outras muitas conseqüências q u e
se seguem de tão liberaes princípios, que.eu v o u con-
t i n u a n d o na aaalyse das suas judiciosas observações ; cor-
ye V. m. de novo -após do A s t r o , e postando-se e m
'opposição c o m e l l e , faz-lhe soffrer h u m eclipse quasi
t o t a l , exigindo-lhe contas de se t e r arriscado a r e p r e -
hender rebuçadamente o G o v e r n o , p o r não t e r já l e -
> a r i t a d o os direitos do Pescado aos pescadores d a Pedre-
íidra ; assim como os terços, q u a r t o s , e oitavos aos
:*rioradores de Alcobaça, &c. M a s a q u i , Senhor Com-
p a d r e , ( c o m bastante magoa do m e u .coração o d i g o )
áberrou V. m.; p o r este lado sustento eu o A s t r o , b
àté se f o r preciso me i r e i pôr adiante delle , e f a r e i
' d a l l i h u m a P a s t o r a l para que se levantem logo logo o*
d i r e i t o s d o P e s c a d o , não só aos pescadores da P e d r e -
i * e i r a , mas até aos d a C o s t a ; pois diga-me , Senhor
C o m p a d r e , se o G o v e r n o lhes tivesse já levantado este*
d i r e i t o s , vè-los-hiamos nós Sfctar todos os dias de I n v e r n o
-ás moscas na R i b e i r a do p e i x e , sem q u e r e r e m i r ao m a r ,
forite da sua r i q u e z a > só p o r b i r r a c o n t r a a C o n s t i t u i -
ção, que se ha d e f a z e r ? A h ! Senhor C o m p a d r e , se
- i s t o se tivesse já f e i t o , vevia V. m. e m breve t o d a esta
^ C a p i t a l c o n v e r t i d a em h u m i n d u s t r i o s o p o v o de Sa-
leiros, <l • u e
quereria viver aenão sobre as águas d o
11
Oceano; veria o Commercio do Bacalháo passar todo
das mãos dos Inglezes para as nossas, e transplanta-
rem-se na Ericeira os Bancos de T e r r a N o v a ; ve*
r i a o amaldiçoado g a n c h o , com que lhes cizão o pro-
ducto da sua industria , convertido em charrua com que
os cizadpres irião lavrar a t e r r a ; veria o Algarve man-
dar para aqui o a t u m de graça > e a pescada escalada
andar aos pontapés pelas Ruas de Lisboa. V. m. c o m
t u d o lá parece deixa vêr alguns vislumbres de razão,
quando diz que a d i z i m a , terços, e quartos deste, e
dos outros impostos são applicados para a decente pus*
tentação dos M i n i s t r o s do C u l t o ; e que levantados
aquellesficariãoestes a morrer de f o m e , e fazendo cruze»
na boca; e que p o r conseguinte, em quanto se não p r o t
videnciar de o u t r a maneira sobre este o b j e c t o , não he
j u s t o , nem razoável sejão os Povos alliviados dscquel-
;

les t r i b u t o s ; valha-me D c o s , Senhor C o m p a d r e ! Pois


já ficavão a m o r r e r todos de fome se de alguma equjr
dade se usasse para com aquelles escravosinhos , que n e m
•sombra de liberdade ainda virão ? Se se começasse por pe
lhes levantar já hum terçosinho , ou h u m quartosinho hão
ficarião elles contentes? E não abençoarião a m ã o qije
í começava p o r se mostrar l i b e r a l , quebrando-li*es os fer-
ros de huma escravidão feudal, que data desde o estabe-
lecimento da M o n a r q u i a ? Por o u t r o lado aquelles i i e -
dios cachaços (para ao depois não estranhar) não se hião
desde já costumando a h u m j u g o que tarde , ou ,cedo
lhes ha de pezar em c i m a ? N ã o se hião avezando a
olhar para aquelles simples feitores, como seus iguaefc,
e a quem com mais justiça compete o direito de pro-
priedade , de que a elles ? V. m. falia ; o A s t r o escreve ;
ambos ralhão a trocho-mocho ; e eu não sei decidir-me
as qual de V v . mm, t e m razão, o que sei he que se elle
insta a fazer Evangelhos , e V. m. a compor Homílias
- tenho m u i t o receio que vão ambos de companhia , e ar-
o m a d o s de bexigas soprar as taes bollas de s a b s o p a j a
B ii
12
* I

onde V. m. sabe onde lhes não faltará agiia para sacar


t

espuma p o r se d a r alli de graça ! O que eu não posso |


levar porém á paciência , Senhor C o m p a d r e , he o que-
r e r o A s t r o , assim como e m b i r r a em t u d o , metter-se
a fallar de t u d o ; e sempre coberto c o m a capa d a o p i * ]
nião pública; A r t e s , Sciencias, A g r i c u l t u r a , M a r i n h a ,
C o m m e r c i o , Le-islação , F a z e n d a , Política; e até Com- :
posições Tragico-Comicas para os T h e a t r o s Nacionaes ;
t u d o , Senhor C o m p a d r e , em O r t o g r a f i a mesmo não j
h a quem o i m i t e ; he h u m i n e x t i n g u i v e l Oceano de
l u z ! O h ! parece-me que o estava advinhando , neste
m e s m o instante me chega á m ã o huma belia peça d o •
seu luminoso Jornal , ( q u e eu p o r meus peccados !
t a m b é m cahi este t r i m e s t r e ) he o áureo N.° 31); que
m i n a de Política, Senhor C o m p a d r e ! P o r isso elle v e m (

hoje mais f o r m o s o , e risonho do seu costume ! A h ! Traz- j


DOS a faustosa nova do lugar onde S. M a g e s t a d e deve t e r
a sua C o r t e ! B e m v i n d o seja ! C o m e ç a logo p o r f a -
xer-nos h u m a descripção Geométrica do c o n t i n e n t e
de P o r t u g a l , e do B r a z i l ; pinta-nos este m u i t o gran-
d e ; aquelle m u i t o p e q u e n i n o ; este i g u a l em extensão a
t o d a a E u r o p a , encravado n o meio de duas Zonas ,
Senhor de grandes P o r t o s , banhado p o r grandes ma-
res , regado p o r grandes r i o s , abundante e m drogas
medicinaes ; mas p r i n c i p a l m e n t e em minas de f e r r o , e
o u r o (este he o que mais l h e faz Ju.ir o olho) aquel-
l e h u m p o b r e miserável, sóbrio, f r u g a l , a v e n t u r e i r o ;
mas fecundo em grandes recursos e semelhante a h u m
y

acanhado proprietário, q u e pela sua habilidade soube


augmentar c e m vezes mais o seu patrimônio; que são
as suas c o n q u i s t a s , ou d e s c o b r i m e n t o s , M a d e i r a , Aço-
res , Cabo-Verde , África S e p t e n t r i o n a l , e M e r i d i o n a l
( onde t a m b é m ha ouro ; mas q u e se não c u l t i v a p o r
nosso d e s m a z e l l o , &c.) D e p o i s de t u d o isto lança h u m
rasgo d e penna , e e m h u m instante a* aparece estabe-
lecido e n t r e todos estes Reinos unidos h r v> s y s t e m a
de G o v e r n o f e d e r a t i v o * 'que pega-desde a F o 2 do M i -
fího até á de M a c á o ! q u e A s t r o i m m o r t a l ! Mas , oh t
desgraça f a t a l ! q u e m t a l d i r i a , Senhor C o m p a d r e ! quan-
do depois de h u m a descripção tão p i t o r e s c a , esperá-
vamos anciosos, que elle nos apresentasse a Pessoa de
S. M a g e s t a d e a l l i no Caes de B e l é m , ficamos a olhar
p a r a o sete E s t r e l l o , deixa-o ficar no R i o de J a n e i -
r o ! m u i t o ufano de q u e isto l h e devia ser p e r m i t t i -
do ; p o r t a n t o serem seus estes , c o m o aquelles Esta-
dos ; e q u e h u m a v e z estabelecida em Lisboa h u -
Jma Regência , o u G o v e r n o com plenos poderes ;
-pouco nos devia i m p o r t a r q u e elle ficasse lá, ou viesse
arara cá : O h ! A s t r o , Brazão I l l u s t r e da nossa L u s i t a -
tnã j abençoados os A s t r o s Pais que t e gerarão ! i n e x -
tingüivel seja a sua l u z em q u a n t o assim nos regalares
c o m a i n f l u e n c i a dos teus raios ! S. Magestade ficar n o
R i o de J'aneiro! no R i o de J a n e i r o ! ! O r a e u , Senhor
C o m p a d r e , não q u e r i a parecer-me c o m o A s t r o , m e t -
tendo-me t a m b é m n p o l i t i c a r ; mas não posso d e i x a r de
o fazer q u a n d o assim vejo atacada a opinião pública,
e postergados os princípios da l u m i n o s a C r i t i c a ,
Q u a l q u e r q u e s e j a , Senhor C o m p a d r e , esse sys-
t e m a f e d e r a t i v o , essa sonhada Santa Alliança, que se
pertenda estabelecer e n t r e os tres R e i n o s ; sempre ella
ha de ser p a r a P o r t u g u a l r u i n o s a , e o p p r e s s i v a , n u m a
vez q u e S. Magestade não venha assentar a sua Côrte
e m L i s b o a ; será sempre P o r t u g a l o P i g m e o nas m ã o s
do G i g a n t e , o p o m b o nas unhas da Águia. E ?enãp
s u p p o n h a , Senhor C o m p a d r e , que se estabelece esse
s y s t e m a g i f b e r n a t i v o de m u t u a Alliança entre os c x t e n -
sissimos Estados de P o r t u g a l , e do B r a z i l ; que a af-
te une ainda m a i s e s t r e i t a m e n t e , o q u e a n a t u r e z a des-
u n i o pela interposição de immensos m a r e s , q u e se ins-
t a u r a h u m G o v e r n o , ou Regência; não como a velha
que D e o s t e m , mas i n v e s t i d a de amplíssimos poderes ;
que a F o z d o M i n h o , e t a m b é m a do T e j o se beijão
» • -4 «*-
com á de M a c i o ; e que S. Magestade Constituído o 1
centro de todos os movimentos desta grande M a q n i n a 1
se deixa ficar no R i o de Janeiro ; pergunto agora , fi-
cara , ou não P o r t u g a l dependente do R i o ? FicaráI
tou não P o r t u g a l pequena Colônia do Brazil? A respos- I
ta está saltando; ficando S. Magestade no R i o , se- I
jão quâes forem os poderes conferidos # essa Re* |
gencia ; nunca elle poderá ficar despojado daquelles
que são inherentes á Soberania; como são o de saneci-
nar as Lev> , o de prover , e nomear os altos Empre-
gos das tres Ordens Política , C i v i l , e Ecclesiastica ,
o de mandar o E x e r c i t o , o de fazer tratados de Com** I
xnercio, o de assignar a paz, e declarar a guerra \ &c., 1
senão fica só com o nome de Rei : suppostos estes
princípios ; pergunto agora novamente : fica, ou não I

Portugal dependente do Rio ? Fica , ou não P o r t u g a l Co* j

lonia do B r a z i l ? E tão dependente, Senhor Compadre, J

como está a L e i do que asaneciona, o Exercito do Chefe I

que o manda, e o Empregado daqueile que o emprega: J

e então, que lhe parece a tal Alliança federativa? P o r I


outro lado ficando S. Magestade no R i o de necessida-
de a Nação, isto he Portugal lhe ha de assignar h u -
ma prestação annual de dois , ou tres milhões para a
decente sustentação da sua Côrte e Casa; e este n u -
merário , Senhor Compadre , torno a perguntar , não
he sangue que todos os annos ha de correr das veiàs j
abertas do Enfermo P o r t u g a l , para i r animar os mem- I

bros daqueile grande Colosso, o B r a z i l ? As immensas I

sommas que necessariamente se hão de sacar sobre e l l e , I

para sustentar os Áulicos, e Cortezões, que alli estãfr I


rão
irão
estabelecidos
rendas
c
qüasi
seus
outros
abrazando
sempre
?feitores,
Os tantos
;corpos
as
mas
os
emesmas
p
golpes
desgraçados
que
omoraes,
r conseqüência
aqui
Lde
e i *Senhor
traio
e
dos
lavradores
m as
, compostos
que
suas
o
Compadre
Estado,
suecessivãmente
casas
seusf,y,colonos
tsnão
seguem
ias
c o ssuas
se*
; e
, I
1
M s i m como impossivel he (sirva-mo rios de h u m e x e m p l o
tirado dos Astros) q u e os satélites de Júpiter se móvão
independentes do centro .daqueile grande P l a n e t a ; assim
também o he que as partes de h u m Estado Político
se conservem , ou movao independentes do primeiro
C h e f e c e n t r o , e cabeça dos seus movimentos; e appli-
cando para o nosso caso esta doutrina , impossível he
que P o r t u g a l deixe de ser hum Reino verdadeiramente
independente , tendo S. Magestade C h e f e , e centro do#
seus movimentos a sua C o r t e no R i o de Janeiro; se me
não entende , entenda-me .. • M a s , Senhor Compadre, eu
quero agora ser mais generoso , e liberal que o A s t r o
da Lusitânia; quero ponderar-lhe as razões que .devem
assistir a S. Magestade, para v i r estabelecer antes a sua
em Lisboa , do que no R i o ; i s t o , Senhor Com-
p a d r e , já he outra o b r a ! Primeiramente o B r a z i l p o r
vasto, p o r igual que seja em extensão a toda a Eu-
r o p a , he nada comparado a P o r t u g a l , i;sto h e , a sua
população , porque eu não meço terrenos , meços povos ;
he h u m Gigante em verdade ; mas sem braços , nem
pernas ; não fallando no seu clima ardente , e pouco
«adio, o B r a z i l está hoje reduzido a humas poucas de
.hordas de - Negriuhos , pescados nas Costas d'África,
únicos, e scS capazes de supportarem, (e não p o r m u i t o
t e m p o ) os dardejantes raios de huma zona abrazada ;
o seu terrèno anterior está i n c u l t o , e seria preciso que
decorressem Séculos para cultivar-se, ou que S. Ma-
^.gestade adoptando o systema do Auto-Crato de todas
r.as Russias, estabelecesse/, e criasse alli de novo os an-
tigos míatigaveis Jesuítas, que com suas moças de pao
fossem christianisando, e domesticando todos os índios
• B o t e c u d o s , Coroados, e Purís ; ou então que o A s t r o ,
pelas suas benéficas influencias fizesse transportar para
lá todos os Calcetas da E u r o p a , e M e r e t r i z e s de L i s -
boa (que não havia de fazer m á colheita) ! P o r este
, *aodo tiohamoíj logo povoado o Brazil, e cultivado
o seu terreno. Mas voltemos 'agora os olhos da*-
quelle Paiz selvagem , e inculto cá para a terra de
gente , para Portugal ! A h , Senhor Astro , que
também vou já cançando na descripção da minha Or-
b i t a ! Portugal como eu , V. m. , e todos sabemos,
he o Jardim das Hesperides, os Elisios deste pequeno
mundo, chamado Europa! O Edem que habitarão nos-
sos primeiros Pais, regado pelos quatro maiores Rios
do Mundo, não era tão fértil, e delicioso, como he
a Pátria dos antigos Lusos; parece que a natureza mes-
mo o destinou para ser o centro, e Imporio de todos
os prazeres, de todas as delicias, e riquezas da t e r r a ;
Senhor dos melhores Portos da Europa, enlaçado por
mútuos vinculos de Commercio , e amizade com toda»
as Potências Europeus, banhado pelas águas do Ocea-
no , que o fazem communicavel com o mesmo Ocea-
no , e .Mediterrâneo, situado debaixo de hum Ceo o
mais benéfico, e temperado; productor de todos os gê-
neros , e fructos necessários á vida , sóbrio , frugal ,
industrioso, A h ! Senhor Astro , que torrãosinho es-
te ! olhe que também tem minas de o u r o ! Agora
destes princípios ha de ser V. m. mesmo quem ha
de tirar a conclusão, e não os Áulicos do R i o ;
ora d i g a , d i g a , qual dos dois Reinos está con-
vidando com mais meiguice a S. Magestade, para vir
estabelecer nelle a sua Côrte o Brazil , ou Portugal ?
A terra dos macacos, dos pretos, e das serpentes, ou
Q Paiz de gente branca, de povos civilisados, e aman-
tes do seu Soberano? Aquelle despovoado, e incluto,
ou este povoado, ridente, e delicioso? H u m a Zona ar-
dente, tostada, e insalubre; ou outra risonha, tempe-
rada , e benéfica ? O seu Paiz n a t a l , Solar de seus Au-
gustos Ascendentes; ou aquelle que nunca o vio ; e
só o amava por fé antes da invasão Franceza ? Puche,
e senão Aquer,
Senhor s t r o ,astenha
Côrtesanimo,
a .tiraráõj
t i r e ,.que
tire eu
a ji não.«s«
conclusão!
f:
W pi ,

teu para o soffrer boje , que está de peer catadura,,


do que no d i a em q u e v i o o A n j o da m o r t e , sobran-
ceiro á C a p i t a l , de quem V. m. nos l i v r o u pela sua
habilidade ! e o Deos de Affonso H e n r i q u e s !
Mas assim mesmo insoffrido como e s t o u , não pen-
se que o perco de v i s t a ; ou V. m. ande na l i n h a , o»
passe para os Trópicos , lá estou com V. m. feito seu
satélite o b s e r v a d o r ; agora deixou V. m. *o Equador,
e vem. arrastando o seu eburneo carro cá para os Bootes,
ou U r s a do Norte. Então avista clahi já a poderosa A l -
biãe, a pátria de N e p t u n o , a Reinha dos mares ? E que
lhe p a r e c e , será, ou não capaz de.fazer l i u m desem-
barque em P o r t u g a l , sem o apoio dos Portuguezes ?
diz-me logo que não; mas isso he odio que t e m aos-
Inglezes ; pois não t e m razão que elles são nossos i r -
m ã o s ^ e amigos !!
Í H e o que eu digo., Senhor Compadre, o A s t r o
quando p r e s t o u j u r a m e n t o á Constituição , que se ha
de f a z e r , p r e s t o u logo também o u t r o de andar sempre
em opposição com a qpinião p i i b l i c a ; esta a verdadeira
causa dos repetidos eclipses, que lhe vemos soffrer; e
este de sustentar , que não he provável que os Inlge-
zes tentem h u m desembarque nas nossas C o s t a s , sem
o nosso apoio., e coadjuvação ( que ainda e m cima os
havíamos de i r a j u d a r , e dar-lhes as boas vindas!) he
tão grande, que quasi o cobre t o d o , e sepulta em hu-
ma s o m b r a , pelo menos de doze dígitos, ou polegadas
bem medidas; assim mesmo envolvido é m sombras pe-
de licença aos seus Compadres , para resolver esta fa-
mosa questão ; e começa logo p o r atirar-nos lá de c i -
ma com h u m retalho de H i s t o r i a Portugueza , e Penin-
sular; pelo qual intenta provar-nos: = Que assim co
mo f o i infructifero o desembarque C|ue elles tentarão
no tempo da Rainha Isabel , para colocar sobre o Thro-
no o Senhor D. Antônio , P r i o r do Crato ; por não f e -
irem em seu apoio os Portuguezes ; assim como f e i

0
18

i n f r u c t i f e r o o t e n t a d o , e f e i t o na I l h a de w a l c h r e n , pa-
ra d i v e r t i r as forças da F r a n ç a , que então c a b i a sobre
a Áustria, por não t e r e m e m seu apoio os H o l l a n d e ^
zes: assim t a f n b e m o ha de ser q u a l q u e r o u t r o que
t e n t e m s o b r e as Costas de P o r t u g a l ; h u m a vez que
não sejão apoiados p o r nos outros os P o r t u g u e z e s ! M a s
e s p e r e , Senhor C o m p a d r e , que o A s t r o ainda.senão con-
t e n t a c o m i s t o ; q u e r mais a l g u m a cousa! e se não v e j a :
q u e r que assim c o m o o E x e r c i t o I n g l e z , c o m m a n d a d o pelo*
b r a v o M o o r , d e p o i s da desgraçada expidição f e i t a nav
Península , p i c a d o , e c o l h i d o na sua r e c t a - g u a r d a p e l o
E x e r c i t o F r a n c e z de S o u l t , se v i o o b r i g a d o a p r e c i -
p i t a d a m e n t e se r e e m b a r c a r úú C o r u n h a , p e r d e n d o a h i
bag\j;*eiis , A r t i l h e rias e até as pernas os cavallos ; t i - -
cand ) o mesmo G s n e r a l , q u a l outro Epaminondas , es-
tendido no C a m p o da b a t a l h a ; e isto porque lhe f a l -
tou o a p o i o dos l i e ^ K i n h o M ; o atesmo ha de acontecer
a q u a l q u e r o u t r o , se ca v i e r , huma vez que lhe falte tf
auxilio dos Portuguezes. E senão, diga-me, Senhor,
C o m p a d r e , se esta conclusão he bem deduzida das suas
p r e m i s s a s , que a q u i lhe a p r e s e n t o em f o r m a = M a i o r =
P a r a que os ínglezes p o d e s s e m com p r o v e i t o fazer h u m
d e s e m b a r q u e nas C o s t a s de P o r t u g a l , era necessário o
a p o i o dos P o r t u g u e z e s tíi M e n o r fcs Mas os ínglezes
não o p o d e m fazer sem o apoio dos P o r t u g u e z e s , e p r o -
va-se; p o r q u e o f e i t o . n o tempo da R a i n h a Isabel fi-
cou malogrado por f a l t a desse a p o i o ; e o e x e c u t a d o p o r
M o o r no t e m p o cia g u e r r a P e m n s u l a r , não só f o i ma-
l o g r a d o , p o r q u e l h e f a l t o u o apoio dos Hespanhoes ,
más ahi perdeo este General parte do seu E x e r c i t o ,
bagagens, e A r t i i h e r i a s & Conclusão s£h L o g o não só
não p o d e m os Ínglezes fazer h u m desembarque em
P o r t u g a l sem o apoio dos P o r t u g u e z e s ; mas se o
t e n t a r e m f a z e r , a h i perderão E x e r c i t o , , bagagens.,
e A r t i i h e r i a s : B r a v o , Senhor A s t r o ! isto he que
he Lógica! agora he que V. m. b r i l h o u mais que n u n -
•ca , a pezar der estar s u b m e r s o e m mais de m e i a d e de
seu E c l i p s e ! Está d e c i d i d o , não p e d e m os fugle/es t e n -
t a r h u m desembarque em P o r t u g a l sem nos p e d i r e m
licença, e ao A s t r o ; p o d e m o s estar descalçados, es-
c u s a m o s de f o r t i f i c a r os nossos Portos ; pôr em esta-
d o de defeza as nossas f r o n t e i r a s 'marítimas ; porque
elles não v e m cá sem nós os h i r m o s a j u d a r ( esperem
lá por isso) a s s i m o d i z o A s t r o , assim o entende. O r a
m e u Senhor , eu p a r a l h e responder , pedia a compe-
tente v e n i a , começarei p o r negar a M a i o r , a M e n o r ,
e depois a Conclusão*
V. m. s a b e , j u l g o e u , que a força armada de
h u m a N a ç ã o , he q u e m sustenta a s u a l i b e r d a d e , e i n -
dependência, e no estado açtu I da E u r o p a , a I n g l a t e r -
r a não só pelas suas forças de t e n a , mas p r i n c i p a l m e n -
te pelas de m a r , oecupa o p r i m e i r o , e mais d i s t i n e t o
l u g a r ; se a experiência ainda o não desenganou, lêa a
H i s t o r i a N a v a l d a quella grande Nação , e ficará d<s-
enganado , supposto este p r i n c i p i o innegavel , que par-
t i d o , Senhor A s t r o , poderá t i r a r P o r t u g a l se elle ten-
tar deveras f a z e r nas suas costas h u m desembarque ?
P o r t u g a l cujas forças estão em proporção para aquel-
l a s , como as de h u m P i g u i e o , para as de h u m G i -
g a n t e , ou c o m o os raios de h u m pequenino astro da V i a
Láctea p a r a os do A s t r o do dia? Dir-me-ha que P o r t u -
gal t e m h u m E x e r c i t o b r a v o , a g u e r r i d o , 'cliberto de g l o r i a ;
( d o q u a l oitenta reclutas sempre valerão mais alguma c o u - *
sa , do que os cinco c h e l i n s , de que falia o seu a m i g o J o r -
nalista l u g l e z ) ; que P o r t u g a l he hoje h u m a N a ç ã o , anima-
da de hupi. espirito m a r c i a l , e de independência, que consen-
tirá vêr antes talados os sens campos, r e d u z i d a s a pavorosa
solidão as suas habitações, do que c o n s e n t i r , que h\uA
E x e r c i t o de Iiheos lhes venha dar a M , e b i a r sektâ
bens , suas mulheres , seu vinho , e sua liberdade ; e
que finalmente h u m a Nação , q u a n d o quer ser l i v r e
ke*-o; t u d o i s t o concedo aba! prazer; mas tudo kt*
30

he p o u c o se corri p a r a r m o s os r e c u r s o s , e passibilida*«
de desta c o m os grandes r e c u r s o s , e possibilidades d a
q u e l l a ; V. m. não s a b e , que 40 o u 5 0 m i l h o m e n s
são capazes de d a r a l e i a 4 o u 5 millioes de h a b i ^
t a n t e s ? S ó se V. m, h< d a q u e l l c s , q u e a i n d a crêem ejst
massas populares , i r r e g u l a r e s , e iiíormes; lêa a H i s -
t o r i a m o d e r n a , senão q u e r ler a antiga-, e suinuirâ a es»
tá Verdade. E u sei que h u m a N -ação , q u a n d o - q u e r ser
l i v r e he-o; m i s t a m b é m s e i , q u e este- p r i c i p i o o l h a d o
hoje c o m o a x i o m a Político, he mais c e r t o em t h e o r i a ,
do q u e em prátici; ninguém o p r o c l a m a v a m a i s , q u e
o C o n q u i s t a d o r m Sr da E u r o p a , ninguém o p r o c l a m o u
t a n t o depois delle , c o m o os Austríacos, P r u s s i a n a s ,
e Iíespanhoes ; mas a q u e l l e , sem r e s p e i t o pelo ídolo ,
q u e fingia a d o r a r , hia ps c o a ^ u b t a u c f e a t o d o s , e este»
vendo-se c o n q u i s t a d a hiarlues imitando t a m b é m a fé p a r a
a c r e d i t a r e m h u m a b r i l h a n t e q u i m e r i a , q u e os d e s l u m -
b r a v a , sem os s a l v a r , e g a r a n t i r ; e fique c e r t o , q u e
senão fosse a geral-coalisão, que d e i t o u p o r t e r r a a q u e l l e
p r o c l a m a d o r d \ independência das N a ç õ e s , e a p r e s e n t o u
e o m elle a c u l t i v a r b a t a t a s n o J a r d i m Botânico dos r o -
chedos de S a n t a H e l e n a ; a i n d a h o j e V. m.», e eu c o m
todòs elles estaríamos m a i s e s c r a v o s i n h o s , do q u e a q u e l ^
letk de Alcobaça, de q i e m h a p o u c o f a l t e i ; e a r a -
zão he c l a r a ; p o r q u e a força m a i o r q u e f a z s e m p r e
sucumbir a menor. Os e x e m p l o s a d u z i d o s p a r a p r o -
v a r a i m p r o b a l i d a d e dc h u m d e s e m b a r q u e , não q u e r e -
n d o , ou não c o n s e n t i n d o os P o r t u g u e z e s , provão na--b
d a ; V. mu i g n o r a i n d a , que de premissas p a r t i c u l a r e s
se não pode d e d u z i r h u m a conclusão g e r a l ? isto até-
os ra-paz s da r u a o sabem ; p o r q u e o d e s e m b a r q u e
feito em Portugal no tempo da R a i n h a . Isabel ,
f o i m a l o g r a d o p o r l h e f a l t a r o a p o i o dos Portugue-
zes ; p o r q u e o de W a l c h r e n , e d a C o r u n h a o forão*
i g u a l m e n t e , pelas mesmas r a z S e s , se g u e se que t o d o s
* sejão ? P o r q u e R j m x r e p e t i d a s vezes venceo Carta-

m
,go ( e mais erao Potências quasi iguiaes em forças)
.segue-se, que esta não poderá ao menos vencer h u m a
v e z aquella ? p o r q u e V. m. huns dias apparece em quar-
t o crescente , o u t r o s em m i n g u a n t e , segue-se que nun-
ca poderá apparecer c o m o L u a cheia ? Q u a n t o m a i s ,
que V. m. erradamente a t r i b u e á f a l t a de a p o i o , e
coadjuvação da<|uellas Nações , o m á o suecesso daquel-
les desembarques; não f o i a f a l t a de apoio , f o i pelo
c o n t r a r i o o a p o i o , e reunião de maiores forças, que os
fez m a l o g r a r , e a t i r o u c o m os ínglezes ao mar. Q u e
as>im mesmo desses desembarques que V. n x dá o nome
de m a l o g r a d o s , o u i n f r u c t o o s o * ; colherão elles, que são
meninos, ímtnensas vantagens-; olhe forão a Copenhaoue,
passórão o Sunda p o r b a i x o de F o r t i n s eriçados de basl
ta a r t i l h e r i a , abra/.árão p a r t e daquella C a p i t a l , e t r o u -
xerão de \h h u m a uumerosa E s q u a d r a , forão a W a l -
ehren incendiarão Flessinga, e combiárão de là o u t r a ;
forão ao N i lio fizerão saltar pelos ares a m a i e r p a r t e
da A r m a d a Francezà, e fizerão a b o r t a r a expedição de
B u o n a p a r t e , e do seu M a m e l i i e o ; forão a M o n t e V i -
t e m p. > que quizerão; e a final pou-
co lhes faltou p a r a t r a z e r e m a reboque aquella Praça,
e convertidos em patacoes os seus N a v i o s ; se lhes não
f o i t a m b é m na expidição da C o r u n h a , he porque n e m
sempre se assão quantas se espeta ò; isto , meu A s t r o ,
não he D i r e i t o F e u l a l , p r o v a d o pelas Cartas R e g i a s
d a Abbadeca de A r o u e a ; he D i r e i t o de razão p r o v a -
do pela experiência , e pelos factos. P o r t a n t o á vista
disto .,, e mais dos A u t o * , temos d e c r e t a d o , decreta-
mos», q u e não só são falsas- c o m o J u d a s a premissas
alegadas , e p o r consegusnte falsa em toda a extencão do
t e r m o a sua conclusão; mas q u e V. m. em vez de d i -
r i g i r c o m o A s t r o , cujos a t r i b u t o s ,í."p e m b l e m a a si a r -
r o g o u , a opinão pública, e chama-la a h u m mesmo
c e n t r o ; h e v e r d a d e i r a m e n t e h u m C o m e t a desastroso ,
c s e m p r e excêntrico, fique n a sua m a i o r p r o x i m i d a d e
t i s n a , a b r a z a , calcina a j u s t a opinião, e pensar d e h u n s ,
e na sua maior d i s t a n c i a , o u aphelio obscurece , e s f r i a ,
e gella a de o u t r o s ; v i n d o a ser todos os seus J o r n a e s ,
q u e formão já h u m não p e q u e n o calhamaço, e m t u d o
semelhantes aquelle q u a d r o , de que falia H o r a c i o , onde
só. idéas ocas se reprezentão, quaes os sonhos d o d e l i -
r a n t e e n f e r m o ; de maneira que nem pés, nem cabe-
ça , a h u m a só f o r m a quadrão : ut nec pes, nec caput
uni rcddatur forma. E disse p o r esta vez. O r a adeos f

Senhor C o m p a d r e , até mais vêr, que não tardará m u i -


t o , pois q u e já fico c o m as mãos na m a ç a ,

F I M.
I

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