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Questões ambientais entre controvérsias e conflitos:

ecologia política e sociologia pragmática na França1

Francis Chateauraynaud
Professor e Diretor de Estudos da École des Hautes Études en Sciences Sociales, fundador e diretor
do Groupe de Sociologie Pragmatique et Réflexive

Resumo
Malgrado a produção crescente desde o fim dos anos 1970 de colóquios e livros, assim como a
criação de revistas, em especial, serão necessárias diversas décadas para que as ciências sociais do
meio ambiente se constitua em uma área de estudos dotada de quadros de análises e de linguagens
de descrição não só distanciados se comparados com as produções militantes, mas também mais
técnicos nas suas análises dos eventos que se passam no campo. Nesta contribuição, meu interesse
primordial se concentra nas consequências do cruzamento ocorrido no início dos anos 1990 entre as
preocupações ambientais e a renovação teórica da sociologia francesa, retraçando brevemente a
história de suas correntes para examinar em seguida algumas questões contemporâneas. No presente
artigo, após um breve reexame das bases teóricas fornecidas pela primeira onda de sociologias
pragmáticas, tomo a medida da extensão contínua do domínio do alerta em matéria ambiental e das
restrições que devemos superar para ―seguir os atores‖. Em seguida, a partir de uma abordagem
argumentativa fundamentada no estudo comparado das trajetórias de múltiplas causas, me concentro
nas oscilações dos sociólogos entre a preferência pela regulação ou consenso, e a preferência pelo
conflito ou a expressão dos litígios. Poderei, assim, retornar às principais fontes de fricção que,
como testemunha a ascensão da justiça ambiental nas arenas transnacionais, vão marcar
duravelmente as situações de provas futuras. Concluo que para além das grandes narrativas sobre a
globalização, uma sociologia pragmática das transformações pode ajudar a compreender como se
articulam ou se afrontam, nos meios e nas localidades, as duas lógicas em curso: a da nova
economia política dos bens públicos, e a da afirmação de valores ou de modos de existência
irredutíveis.

Palavras-chave: Questões ambientais. Sociologia pragmática das transformações. Ecologia política.

1
Este artigo provém de uma proposição de contribuição à obra ―Ciências sociais e meio ambiente na Alemanha e na
França‖, elaborada em primeira versão em maio de 2010. Tradução de Maurício Serva e Gustavo Matarazzo Rezende.

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ecologia política e sociologia pragmática na França
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Environmental issues between controversies and conflict: political ecology and pragmatic
sociology in France

Abstract
Despite the crescent productions‘ growing, since the end of the 1970s, of colloquy and books, as
well as the creation of journals, in particular, it will be necessary several decades to make the social
sciences of the environment constitute an area of study equipped with analysis table and proper
languages description far apart as militant productions, but also with more technical analysis in the
events that occur in the field. In this contribution, my primary interest focuses on the consequences
of the intersection, in the early 1990s, between environmental concerns and the theoretical renewal
of French sociology, briefly retracing the history of its currents to look at contemporary issues. In
this article, after a brief reexamination of the theoretical foundations provided by the first wave of
pragmatic sociologies, I take the measure of the continuous extension of the environmental alert
domain and the constraints we must overcome to "follow the actors.". Then, from an argumentative
approach based on the study of the trajectories of multiple causes, I focus on the sociologists'
oscillations between a concept of concentration or consensus, and an expression of knowledge or an
expression of litigation. I will thus be able to return to the main sources of friction which, as
witnessed by the rise of environmental justice in transnational arenas, will mark durably situations
of future proof. I conclude that in addition to the great narratives about globalization, a pragmatic
sociology of transformations can help to understand or confronted in the media and localities, how
the two logics in progress are articulated: that of the new political economy of public goods, and the
affirmation of values or irreducible modes of existence.

Keywords: Environmental issues. Pragmatic sociology of transformations. Political ecology.

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1. Introdução

Em um espaço de cerca de 20 anos, a literatura das ciências sociais ligada às questões


ambientais assumiu uma virada borgesiana2. É o que se verifica quando após ter longamente
caminhado dos meios visionários ou lares militantes para o coração das instituições, uma questão
política se instala ao ponto de saturar o conjunto de espaços de expressão pública. Concernente à
sociologia do meio ambiente na França, ainda se sente o impacto do intervalo histórico que foi
produzido: de um lado, a evidenciação das questões ecológicas no curso dos anos 1960 e 1970,
fenômeno marcado em 1971 pela criação do Ministério do Meio Ambiente, resultado da
categorização administrativa da poluição ambiental e seus prejuízos (CHARVOLIN, 2003), e, no
nível mundial, pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada em Estocolmo
em junho de 19723; de outro lado, a institucionalização tardia de um ramo da sociologia, ainda
inacabado (BOUDES, 2008). Malgrado a produção crescente desde o fim dos anos 1970 de
colóquios e livros, assim como a criação de revistas, em especial, Natures Sciences Sociétés lançada
em 1994, serão necessárias diversas décadas para que as ciências sociais do meio ambiente se
constitua em uma área de estudos dotada de quadros de análises e de linguagens de descrição não só
distanciados se comparados com as produções militantes, mas também mais técnicos nas suas
análises dos eventos que se passam no campo (CLAEYS-MEKDADE, 2006). Nesse processo, a
sociologia das controvérsias teve um papel importante, o que também é o caso do outro lado do
Atlântico (YEARLEY, 2008).

Nesta contribuição, meu interesse primordial se concentra nas consequências do cruzamento


ocorrido no início dos anos 1990 entre as preocupações ambientais e a renovação teórica da
sociologia francesa, retraçando brevemente a história de suas correntes para examinar em seguida
algumas questões contemporâneas. Se múltiplos espaços já tinham aberto a via de entrada do meio
ambiente nas ciências sociais (LASCOUMES, 1994; ABÉLÈS et al, 2000), o surgimento das novas
sociologias voltadas para controvérsias contribuiu para reconfigurar um domínio marcado no meio

2
Que se refere aos romances dos escritos do argentino Jorge Luis Borges, ou seja, texto de características ligadas ao
realismo-mágico.
3
O papel do Clube de Roma, cujo primeiro relatório marcante data precisamente de 1972, é igualmente decisivo na
inflexão geral das políticas ambientais.

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dos anos 1990 pela multiplicação das crises4. O meio ambiente é compreendido essencialmente por
meio da lógica do risco, com o regime de precaução se impondo gradualmente como o regime
político e cognitivo dominante. Fortemente centrado sobre o manejo de tecnologias, esse quadro
deslocou para o segundo plano a relação com a natureza, como também descentrou o ponto de vista
de uma ―ética ambiental‖ — para certos filósofos, a análise dos riscos é comprometida por um
―sociocentrismo‖ (LARRÈRE; LARRÈRE, 1997). A ascensão correlativa do tema da globalização e
o destaque do clima como primeira causa ecológica acabaram por transformar o regime político das
questões ambientais (BECK, 2007). No mesmo período, na França, a lei Barnier (1995) generaliza
os procedimentos de concertação e de debate público, e desde então sua implementação não para de
se desenvolver (REVEL, 2007). Todas essas transformações pesaram sobre as relações entre as
sociologias e as causas ambientais: enfrentando ainda dificuldades para fixar suas bases acadêmicas,
a sociologia do meio ambiente se encontrava no centro das tensões entre dispositivos de regulação e
lógicas dos conflitos. Solicitado pelos múltiplos portadores de questões (stakeholders, segundo a
retórica européia), o sociólogo é compelido a endossar as disposições normativas ligadas às políticas
ambientais, encarregando-se de refinar sua avaliação pela restituição das práticas efetivas, como
também é transformado em animador de concertações e de debates, o que se traduz por uma nova
engenharia do social, e ainda propenso à difundir as críticas e as contestações. Apesar de tudo,
poderia o sociólogo construir alguma posição interior mais profunda? A démarche que consiste em
dotar os instrumentos de análise de um forte grau de autonomia frente aos desafios normativos,
concedendo-lhes uma capacidade de explicação cuja performatividade está entre as mãos dos atores
não é compartilhada pelo conjunto da disciplina. Não obstante, essa autonomia é necessária para
produzir uma justa distância no próprio movimento de apreensão dos processos complexos.

De uma maneira geral, a análise de controvérsia conduz a tratar o meio ambiente como um
desafio em meio a outros, como a saúde pública, o risco tecnológico, a economia de energia, a
expertise e a democracia, ou ainda as questões do direito e de responsabilidade. Não é difícil
evidenciar atualmente que todos esses elementos estão constantemente em interação, e compõem
todos os processos críticos compreendidos no centro das arenas jurídicas (HERMITTE, 2007). No
presente artigo, após um breve reexame das bases teóricas fornecidas pela primeira onda de

4
Esta conjunção é particularmente sensível na França por meio dos seminários do Programa Riscos Coletivos e
Situações de Crise, desenvolvido no CNRS por Claude Gilbert. Para um balanço ver Gilbert (2003) e Borraz et al
(2005).
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sociologias pragmáticas (1), tomarei a medida da extensão contínua do domínio do alerta em matéria
ambiental e das restrições que devemos superar para ―seguir os atores‖ (2). Em seguida, a partir de
uma abordagem argumentativa fundamentada no estudo comparado das trajetórias de múltiplas
causas (3), me concentrarei nas oscilações dos sociólogos entre a preferência pela regulação ou
consenso, e a preferência pelo conflito ou a expressão dos litígios (4). Poderei, assim, retornar às
principais fontes de fricção que, como testemunha a ascensão da justiça ambiental nas arenas
transnacionais, vão marcar duravelmente as situações de provas futuras (5).

2. Da “cidade verde” às políticas da natureza. O meio ambiente visto por duas correntes
alternativas da sociologia francesa

No início dos anos 1990, duas correntes inovadoras da sociologia francesa, conhecidas sob o
nome de ―sociologia das cidades‖ (BOLTANSKI; THÉVENOT, 1991) e da ―teoria do ator-rede‖
(AKRICH; CALLON; LATOUR, 2006) alcançavam a maturidade. Enquanto elas começavam a
ultrapassar os primeiros círculos, as questões ambientais, que já tinham mobilizado setores inteiros
do mundo social há aproximadamente 30 anos embora sem se impor massivamente sobre a agenda
política (exceto na Alemanha), tomavam uma dimensão nova. É necessário dizer que Tchernobyl já
tinha tomado espaço nas discussões e que as teses de Hans Joas começavam a se difundir na França,
o que nutriu a polêmica sobre o ―catastrofismo‖, a qual não cessava de se estender: o apelo de
Heidelberg que em 1992 respondeu à cúpula do Rio representou uma virulência comparável à
reação ―climato-cética‖ contemporânea face às recomendações do Intergovernmental Panel on
Climate Change (IPCC). O ensaio crítico de Luc Ferry consagrado à ―nova ordem ecológica‖ surgiu
no mesmo período e corresponde à uma mutação bastante profunda do campo intelectual francês.
Ou seja, não é em reação às polêmicas em torno da ―ecologia profunda‖ ou do ―catastrofismo‖ que
os sociólogos pragmatistas embarcaram nas questões ambientais, mas ao constatar que os diversos
atores que eles estudavam nas pesquisas de campo engajavam novos tipos de argumentos e de
dispositivos. Pelo fato da característica macroscópica, temas como natureza, ecologia e meio
ambiente só poderiam interpelar quadros teóricos forjados a partir de uma dupla ruptura: ruptura
com a etnometodologia e o interacionismo, e ruptura com aquilo que era designado como
―sociologia crítica‖, isto é, um pouco de quase todas as sociologias precedentes, e com a de
Bourdieu em particular. A integração das questões ecológicas se fez de duas maneiras: pelo lado das
gramáticas da justificação, a questão é rapidamente colocada sobre a existência de uma ―cidade
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verde‖; de outro lado, a observação das mudanças nas relações entre natureza, ciências e sociedade
conduziu a levar em conta os novos tipos de porta-vozes (LATOUR, 1995, 1999). Inspirando-se no
trabalho de Rémi Barbier intitulado Une cité de l’écologie (BARBIER, 1992), Claudette Lafaye e
Laurent Thévenot tentaram projetar os argumentos ecológicos mais comuns na estrutura axiomática
das cidades: pode-se opor sem dificuldade o ―grande‖ que se preocupa com a proteção da natureza
com o ―pequeno‖ que polui ou pilha o planeta, e assim desenvolver o repertório dos objetos que
animam os ecologistas e todos os tipos de entidades que trabalham pelo verde (LAFAYE;
THÉVENOT, 1993). Aparentemente, esse esforço valia, sobretudo, como exercício de estilo
retórico, já que não se constituiu enquanto um programa de pesquisa consistente5. Sem dúvida, o
repertório dos objetos levado em conta era bastante vasto, dando à tal ―cidade da ecologia‖ uma
característica bastante compósita. Mas, na realidade, um dos axiomas fundamentais das cidades se
encontrava fortemente questionado: o caráter antropocêntrico da cidade legítima ligado à condição
de humanidade comum tornava-se bastante problemático. Pois mesmo que seja sempre possível
estender a humanidade aos aspectos tomados individualmente, personalizar o urso dos Pirineus ou a
floresta de Compiègne, se comover pelas abelhas, se ligar à sina dos lagartos ou rogar pela neve
cada vez menos eternas no Himalaia, as questões ambientais engajam sistemas complexos que não
se deixam requalificar facilmente nos termos de uma filosofia moral. Ironia do esporte intelectual, é
o próprio Bruno Latour que em um texto intitulado Moderniser ou écologiser? A la recherche de la
septième cité (LATOUR, 1995) prolongou a construção da ―cidade verde‖, ao propor o abandono do
axioma principal do quadro das cidades!

As questões ambientais, elas mesmas, colocaram à prova os quadros teóricos das duas
correntes mais inovadoras da sociologia francesa dos anos 1990? As duas abordagens tinham em
comum a busca por uma refundação pragmática da ordem social, no entanto, procedendo de
maneiras radicalmente opostas. Em um dos casos, se tratava de reconectar com a filosofia moral, a
qual governa toda a axiomática das cidades, a política, esta última sendo posta sob uma forte pressão
de justiça — axiomática que Laurent Mermet aproxima à extensão dos princípios fundamentais de
direitos do homem (MERMET, 2007). Ora, em matéria de ecologia se levanta a questão da extensão
da humanidade a todos os seres naturais, extensão que inverte o movimento da ecologia profunda

5
Contrariamente ao mundo anglo-americano onde, principalmente sobre o clima e os organismos geneticamente
modificados (OGM), as questões ambientais deram lugar a numerosos trabalhos sociológicos (YEARLEY, 1992).

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que concebe a natureza em sua plenitude ontológica fora de todo artifício humano. Ao mesmo
tempo, as recentes evoluções no Direito, relativas aos danos ambientais, podem realizar
transformações das entidades naturais em ―sujeitos de direito‖, realizando assim um dos sonhos
filosóficos de Michel Serres6. Do lado da escola concorrente, após mil e uma voltas nas redes
emaranhadas de humanos e não-humanos, vê-se surgir um projeto de nova Constituição com o
intuito de reconectar as ligações entre natureza e sociedade, e de realinhar as ciências com a
democracia. Apesar de suas oposições frontais, as duas abordagens apresentam em comum o
privilégio à axiologia e o distanciamento da lógica processual — suspeita de desconectar as pessoas
e os grupos de todas as formas de visar o bem-comum, levando-os ao agir estratégico de curta
duração. Outra propriedade comum, muito típica dos anos 1990: as duas escolas marcam uma
posição que prefere o consenso e rompe com a lógica do conflito, com o risco de subestimar as
disputas mais fundamentais. Tal partilha coloca em evidência o seguinte problema: é possível
desenvolver quadros conceituais visando unicamente o acordo ou o alinhamento dos atores, quando
os objetos e os processos são também, se não essencialmente, fatores de divisão e de conflito? Por
que não ver no meio ambiente, como no passado se via no trabalho, o local privilegiado da
expressão do conflito e da disputa?

A priori, a primeira tarefa do sociólogo não é a de desqualificar este ou aquele grupo de


atores, mas de compreender as lógicas de ação e de julgamento. Não obstante, Bruno Latour não
hesita em romper a regra de simetria e se prender ao ecologismo (LATOUR, 1999). Evidentemente,
esta posição é coerente com a reconstrução metafísica à qual ele se propõe, uma vez que se trata de
repensar o meio ambiente em um projeto global de refundação do ―coletivo cosmopolítico‖. Tal
projeto metafísico considera como singularmente redutores tanto os dispositivos e as normas de
gestão — os valores ambientais considerados como os parâmetros de um cálculo, do mercado de
carbono aos sistemas de classificação da Responsabilidade Social das Empresas (RSE) —, como
também a crítica ecológica radical julgada ela mesma como ―excessivamente assimétrica‖. Para
Latour, a ecologia política perde o alvo ao reconduzir à separação moderna entre a natureza, a
ciência e a sociedade. Seu próprio projeto de Constituição, que assume em certos momentos a forma
de um ―parlamento de coisas‖, ressalta a inevitável redistribuição da expressão pública entre
humanos e não-humanos. Todos os porta-vozes devem ser avaliados segundo suas capacidades de

6
SERRES, M. La nature doit devenir um sujet de droit, La Tribune, 22/12/2009.
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agir em conjunto, pois somente as associações de humanos e não-humanos são viáveis. E assim, é
justamente sobre suas articulações que deve se basear a ecologia: ―para convocar o coletivo, não
vamos mais nos interessarmos na natureza e na sociedade, mas somente na questão de saber se as
proposições que o compõem são mais ou menos bem articuladas‖ (LATOUR, 1999, p. 123). Para
compor o mundo comum, é necessário, então, distinguir dois poderes: um ―poder de levar em
consideração‖ (o qual incluiria, por exemplo, todos os alertas, as mobilizações e as reclamações) e
um ―poder de ordenamento‖, que permitem hierarquizar as preocupações (o que é próprio de toda
política verdadeira). Esses dois poderes são para o princípio da nova ―Constituição‖ necessários à
―paz das ciências‖, da qual depende a produção de um ―bom mundo comum‖. Com essa
metalinguagem mais filosófica que sociológica, busca-se a (re)configuração das sociedades
desarticuladas ou desorientadas devido ao surgimento de entidades resistentes e desestabilizantes.
Latour pretende de tal modo influenciar os atores políticos, únicos membros do coletivo capazes de
agir sobre as formas de regulação. Mais recentemente, o autor encontrou inspiração na obra
abundante de Peter Sloterdijk, tornada célebre pela polêmica em torno de seu estudo Régles pour un
parc humain (1999). Existiria assim uma maneira de ultrapassar o impasse das redes, ao se partir de
uma ―sphérologie‖ (LATOUR; GAGLIARDI, 2006).

Dessa abordagem englobante, retém-se, sobretudo, o caráter aberto das associações por meio
das quais os atores tentam rearticular o mundo social, neste incluindo a natureza e as ciências7. Para
Latour, é tempo de romper definitivamente com a lógica do ―social‖ herdada de Durkheim e de
desenvolver plenamente a lógica das ―associações‖ (LATOUR, 2006). Concretamente, para uma
sociologia pragmática, isso significa acompanhar precisamente como se elaboram as ditas
―associações‖, estudando seriamente as transformações dos jogos dos atores e dos argumentos, ou
seja, estudar ao mesmo tempo as atividades, os instrumentos e os valores desenvolvidos pelos
protagonistas em seus meios.

3. A entrada pelos alertas: alcances e limites da sociologia das provas

No fim dos anos 1990, introduz-se no repertório dos objetos da sociologia os processos de
alerta e a maneira pela qual eles são levados em conta ou não, qualificados, controversos, tratados e
7
O impacto considerável das teses de Latour se verifica em múltiplos setores. Em antropologia, é muito sensível o fato
de um autor como Philippe Descola que se inspirando do programa da antropologia simétrica desenvolveu o conjunto
das formas de cosmologia ligando os homens e a natureza, demonstrando assim o caráter muito particular do
―naturalismo‖ produzido pela modernidade ocidental (DESCOLA, 2005).
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retratados. Tal produção impõe duas novas rupturas no seio do movimento pragmatista: reintroduzir
as séries de provas de longa duração cuja orientação e finalização estão no próprio centro das
provas; e desenvolver uma verdadeira pragmática dos visionários, ao levar a sério as operações
realizadas por aqueles que veem chegar os processos e tentam comunicar suas percepções aos outros
(CHATEAURAYNAUD; TORNY, 1999). Relendo a obra de Hans Jonas, avalia-se a ―obrigação do
porvir‖ localizada no centro de sua ética do futuro — que forneceu desde os anos 1970 uma
formalização metafísica aos dilemas e às incertezas próprias a quaisquer visões do futuro — que
procede de instituições ligadas às experiências contínuas do mundo, ou de uma racionalidade técnica
encarnada nos cenários e nas previsões baseadas em modelos e probabilidades (DAHAN, 2007).
Ora, se existe uma área em que as conjunturas sobre o futuro são predominantes, é a ambiental, área
acessada por atores que se declaram constantemente em estado de alerta.

Regressemos por alguns instantes à noção de ―trajetória‖ ou de ―carreira‖ dos alertas.


Quando a noção de lançador de alerta surgiu ao início de 1996 ao longo dos primeiros trabalhos
realizados sobre riscos, foi por um motivo técnico específico: interessava-se na ―trajetória dos
anúncios de catástrofe‖. Para sair da oposição entre risco predefinido pelas instâncias oficiais e
anúncio apocalíptico lançado pelos profetas da desgraça, era necessário autonomizar os processos de
alertas e criar uma função de lançador. Ficou evidente que esse espaço poderia ser tomado por todos
os tipos de entidades, de pessoas ordinárias até as instâncias oficiais. Evidentemente, como no
aforismo zen, olhando apenas para o lançador perdemos rapidamente de vista todo o processo: qual
é o alvo pretendido? Em qual meio está inserido o lançador de alerta? Quais forças e alianças são
necessárias para passar seu sinal? Esse sinal é inédito ou está inscrito em uma série? A qual tipo de
controvérsia está relacionado? O lançador segue seu caso até o fim — caso em que ele se torna um
denunciante — ou ele encontra revezamentos com poderes de ação suficientes? O sucesso de um
alerta, mesmo de aparência puramente técnica, reside sempre no estado de relações de poder entre os
múltiplos atores que asseguram uma distribuição mínima de poderes, de saberes, de procedimentos e
de competências. Atualmente, pode-se dizer que em matéria ambiental os instrumentos de
vigilância, os canais de informação, as arenas de discussão, as disposições legais e regulamentares, e
os contrapoderes necessários estão bastante desenvolvidos, de modo que a lenta difusão de
advertências — operada com esforço por atores críticos — acabou por se transformar numa forma
de saturação do espaço de comunicação pública ocupado por termos de ordem contínuos, incorrendo

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assim no risco contrário, tematizado pelos próprios atores, de uma verdadeira ilegibilidade de
urgências e de prioridades!

Quando uma ONG põe em circulação um documento intitulado ―A floresta amazônica terá
desaparecido em 2030!‖, trata-se de um alerta ou de uma profecia de desgraça? Nós sabemos que
esse tipo de anúncio engaja atores em controvérsias e polêmicas, ao longo das quais entram em jogo
sua credibilidade e a força dos seus argumentos — e, ao mesmo tempo as prises8 coletivas sobre os
processos que podem se tornar irreversíveis. O caso do erro do IPCC sobre as geleiras himalaias, por
exemplo, foi o assunto principal da crônica do início de 2010, num período marcado pela escala de
negociações internacionais sobre o clima (Cúpula de Copenhague). Ao afirmar em seu relatório de
2007 que se o aumento de temperaturas continuasse no mesmo ritmo, ―a probabilidade de
desaparecimento (das geleiras) em 2035 ou talvez antes é bastante elevada‖, os experts do IPCC
suscitaram a dúvida sobre a confiabilidade do seu sistema de avaliação, o qual teria contudo sido
adaptado após as críticas virulentas no anos 1990 — notadamente quanto ao lugar de opiniões
divergentes ou minoritárias (LECLERC, 2009). Face aos glaciologistas, que dizem publicamente
que esta predição é sem fundamento, pois as geleiras do Himalaia são muito volumosas para derreter
tão rápido, os dirigentes da instância de expertise internacional admitiram que ―os processos não
foram aplicados corretamente‖. O dispositivo sai um pouco desestabilizado da crítica reguladora
interna ao campo científico, sobre a qual deveriam se apoiar as políticas, e deixa de aparecer como
infalível9. Face aos ataques lançados pelas redes ―climato-céticas‖, múltiplos atores demandam uma
mobilização cidadã mundial, denunciando a vulnerabilidade das instâncias frente ao trabalho de
negação e de desestabilização realizado pelos lobbies — figura clássica em matéria de controvérsia
em torno de riscos10.

8
Nota dos tradutores: o conceito de prise foi elaborado por Bessy e Chateauraynaud (2014). Segundo essa noção, na
elaboração de provas, coloca-se ao público as prises sobre o mundo sensível e os agenciamentos dos operadores que
tornam uma prova factível e que são necessários para produção do senso comum. A noção de prise, portanto, pode ser
traduzida por analogia como preensão, com isso, ao se ter preensão sobre determinada coisa, tem-se aderência a ela.
9
Na Web, a polêmica ganhou o conjunto dos suportes de mídia do planeta. Parece que o IPCC tinha como única fonte
um relatório da WWF datado de 1995, o qual retomava uma informação da New Scientist — revista semelhante à
Science&Avenir e à Science&Vie, que não são revistas científicas com um comitê de leitura. Para uma análise dessa
polêmica, ver: GOUDET, J.-L. Le GIEC admet une grosse erreur sur la fonte des glaciers himalayens. Futura-
Sciences, 21/01/2010.
10
Ver, por exemplo, o ponto de vista de FELLOUS, J.-L.; HOURCADE, J.-C. et al. Un étonnant effet collatéral du
changement climatique. Le Monde, 06/04/2010.
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A série de eventos, estudos e decisões que alimentam cotidianamente o campo ambiental


levanta um problema particular para a sociologia: não é necessário somente enfrentar a
heterogeneidade e a proliferação das causas e dos processos, mas além disso superar sua
interdependência — noção frequentemente ressaltada pelos próprios atores. Tal interdependência se
intensifica quanto mais os pontos de entrada na rede emaranhada de fenômenos em contínuas
interações não cessam de se renovar. É o caso, por exemplo, de um estudo publicado na revista
americana Science em maio de 2010, que diz que ―o aquecimento global poderia provocar a
extinção de 20% do conjunto de lagartos do planeta de hoje até 2080‖. Esqueçamos das florestas e
das geleiras, e sigamos então os lagartos! Sem dúvida, seu declínio demográfico teria repercussões
consideráveis sobre a cadeia alimentar e o ecossistema: predadores de insetos e presas maiores para
numerosas espécies, dos pássaros às serpentes, os lagartos endossam por um tempo o papel de sinal
forte da degradação do meio ambiente e da biodiversidade11. Em todo o caso, Barry Sinervo,
professor de ecologia e biologia na University of California, Santa Cruz, não hesita em predizer a
extinção das populações de lagartos devido ao aumento das temperaturas desde 197512. Mas os
lagartos não tem uma propensão evidente a se expor ao sol? O estudo busca mostrar que as
temperaturas mais elevadas os restringem a se manterem na sombra, o que lhes causa uma restrição
de alimentação e uma mudança radical de seu modo de existência. A convergência das causas do
clima e da biodiversidade é assim constantemente apoiada pelos atores que exploram o leque de
indícios e a rede de laços entre todos os tipos de entidades e de meios.

Desde várias décadas, o desenvolvimento suportado das políticas ambientais poderia dar a
pensar que a era das catástrofes ficou para trás e que a entrada em uma nova economia política,
baseada num dispositivo conceitual rico em ―governança‖, em ―desenvolvimento sustentável‖, em
―princípio de precaução‖, e em ―democracia participativa‖ tornaria obsoletas as disputas em torno
da ―sociedade vulnerável‖13. Finalizado o alerta, então a controvérsia vai longe, dando lugar às

11
A circulação desse tipo de sinal é ligada ao fato de que em 2010 foi celebrado o ano internacional de biodiversidade...
12
SINERVO, B. et al, Erosion of Lizard Diversity by Climate Change and Altered Thermal Niches. Science,
14/05/2010, vol. 328, pp. 894-899; SINERVO, B. et al. Lizards facing extinction because of climate change.
Telegraph, 13/05/201.
13
Jean-Pierre Dupuis relançou essa disputa com o ―catastrofismo esclarecido‖ (2002). Segundo o autor, não é a
incerteza que deve embasar a relação à possibilidade da catástrofe, mas pelo contrário a certeza de que ela se
produzirá, sendo a única maneira de evitá-la, ou, sobretudo, de evitar pensar como se ela fosse impossível. A derrota
da prevenção, incapaz de antecipar a catástrofe que não se constata senão quando efetivamente ocorre, não pode ser
compensada pela precaução.
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verdadeiras políticas públicas e à elaboração de normas eficientes! Entretanto, tudo indica que não é
bem assim. As crises e as catástrofes jamais acabaram, e a figura, tornada clássica, do sinal ―não
compreendido‖ ou ―negligenciado‖ não cessa de se reproduzir. Em 20 de abril de 2010, após a
explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, além da observação de uma flagrante
negligência em matéria de manutenção e de procedimentos de segurança, múltiplas conjecturas
circularam sobre a dimensão real da catástrofe. A título de referência comum, as avaliações utilizam
como unidade de medida a maré negra do Exxon Valdez — encalhado na costa do Alaska em 1989,
o petrolífero que derramou a bagatela de 37.000 toneladas de petróleo. Fixando uma ordem de
grandeza, o caso precedente é mobilizado para quantificar o novo desastre: enquanto a British
Petroleum (BP) relata 5.000 barris por dia, os experts citados pelo New York Times estimavam que
70.000 barris poderiam ser derramados cotidianamente no golfo do México. Em outras palavras, ―a
região sofre um Exxon Valdez a cada quatro dias‖. Em um artigo articulado Marée noire: le
Tchernobyl de l’industrie pétrolière, Rick Steiner, biólogo marinho, não hesita em mover o cursor
do apocalipse:

É uma catástrofe sem precedentes, um evento histórico, muito mais grave do que o que
deixam a entender o governo e a BP. É a primeira explosão de uma plataforma petrolífera
no mar e a primeira vez que um vazamento de petróleo bruto ocorre a 1.500 metros de
profundidade. [...] O impacto mais importante dessa maré negra se fará sentir no fundo do
golfo, onde nós chamamos ecossistema pelágico‖14.

O papel dos grandes precedentes na produção de argumentos e de análises não mais


necessita ser demonstrado, mas uma vez que sua coleção enriqueceu consideravelmente, se tornou
necessário de um ponto de vista analítico estudar seriamente os procedimentos argumentativos pelos
quais se operam as reconciliações e as hierarquias, que se trate de anunciar o pior ou de defender a
confiabilidade dos dispositivos de segurança. Seja como for, as catástrofes que põem em causa as
políticas de planejamento (Tsunami, Katrina, Xinthia …) ou as escolhas industriais (Erika, AZF,
poluição do Rhône, incidentes de Tricastin) tem um impacto profundo sobre as categorias do
julgamento ordinário: como demandar aos cidadãos fazerem de tudo cotidianamente para salvar o
planeta e proteger o meio ambiente se os desastres vêm para relativizar rapidamente tudo isso?
Sendo assim, apesar dos instrumentos de comunicação destinadas a promover as escolhas
ambientais no espaço público, a catástrofe se mantém como um modo de existência maior nas
causas ambientais. Para generalizar, pode-se dizer que há três modalidades decisivas em jogo: a

14
Matéria publicada no site Rue89, 16/05/2010.
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catástrofe ou crise maior, criando um precedente capaz de engendrar uma nova matriz política e
cognitiva; o acordo político, o tratado ou convenção que cria obrigações por certo tempo; o trabalho
de fundo em contato com as coisas, realizado pelos atores em seu próprio meio.

O alinhamento dos atores sobre um alerta global engendra uma infinidade de operações de
conciliações e de comprovação que produzem às suas maneiras os alertas derivados. De fato, com as
causas ambientais, a sociologia não deve mais passar pela dificuldade de religar os microprocessos
às macroestruturas. Mas o tipo de complexidade incremental assim produzida explica sem dúvida o
fosso produzido entre as batalhas epistemológicas consubstanciadas pela tradição sociológica e as
pesquisas de campo mais aptas a compreender a dinâmica dos eco-socio-sistemas complexos. Além
disso, as assimetrias de competências são radicalmente inversas no caso dos objetos ambientais, de
modo que a sociologia acadêmica tem dificuldades para apreendê-las: o alto nível de reflexividade e
de tecnicidade dos atores que mantém e produzem a expertise continuamente tornam penoso seguir
os dossiês. Para reconquistar uma posição de observação, a sociologia deve partir de mais longe:
renunciar, ao menos intermitentemente, à paráfrase da normalização e da certificação ambientais
para reconstruir uma teoria do conflito renovada; desenvolver uma sociologia da globalização atenta
aos confrontos nas localidades (ABÉLÈS, 2008); levar a sério os jogos da sociedade da informação
que redistribuem em tempo real a capacidade de pesquisa e as competências críticas.

4. Convergência ou divergência dos planos? Axiologias, epistemologias e ontologias

O acompanhamento por longa duração dos dossiês marcados pelas mudanças de fase
sucessivas (o nuclear, o clima, os transgênicos, os pesticidas, os campos eletromagnéticos, as
nanotecnologias, etc.) permite observar em diferentes esferas a evolução dos jogos de atores e de
argumentos. Uma tal abordagem leva a considerar o meio ambiente como um conjunto de
dispositivos e de argumentos avançados, criticados ou readequados pelos atores apreendidos antes,
durante e após as fases de discussão pública. A comparação sistemática dos dossiês permite
―(des)globalizar‖ um pouco o objeto de pesquisa, sem por isso o ―(re)localizar‖, examinando em
detalhe a maneira como se operam as transferências de argumentos ou de dispositivos, e todos os
efeitos de força ou de resistência associados. Pode-se, por exemplo, comparar os desenvolvimentos
ligados aos transgênicos e aos pesticidas (LAMINE, 2010). Este último dossiê tem em seu centro os

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acordos Grenelle15 do meio ambiente, o que o tornou uma das pedras-de-toque dos dispositivos de
regulação, subsumidos pelas palavras de ordem ―redução de insumos‖ ou ―agricultura racional‖, as
quais são doravante constitutivas do senso ordinário dos atores. Longe de se contentar em
generalizar, esses últimos aprendem a articular ou rearticular, em contexto, os diferentes tópicos
ambientais. O uso do plural não deveria surpreender: porque com a evidência, não há um argumento
ambiental, fundado sobre uma ―cidade‖ ou uma ―constituição‖, mas uma pluralidade de usos
argumentativos do ambiente, como também de formas de tradução e de integração nas atividades,
nos meios e nos dispositivos. Esse pluralismo gera certamente problemas ao teórico ou ao militante,
uma vez que ele se confronta com duas lógicas contrárias. A primeira visa à unificação dos
problemas em um espaço de cálculo comum — para o qual contribuem as ciências da natureza, a
economia ou o direito ambiental —, unificação que coloca como auto-evidente a busca por consenso
em torno de objetos e de procedimentos, de normas e padrões de avaliação, de rótulos e de
dispositivos de certificação, instrumentos colocados ao serviço de uma nova economia política do
ambiente. A segunda lógica remete ao nível de radicalidade ou ao ―guia de contestação‖ que podem
impulsionar os atores a jogar segundo as cenas de ação e o alcance de suas causas, o que incentiva
acima de tudo uma lógica do dissenso, na qual o conflito faz surgir incomensurabilidades e
diferenças irredutíveis. O objeto de uma pragmática sociológica consiste então a tratar
simetricamente essas duas lógicas. Para conseguir isso, convém distinguir claramente os planos
sobre os quais se situam os atores e como eles fazem convergir ou divergir suas causas e seus
argumentos.

No desdobramento dos assuntos públicos, a natureza, o meio ambiente e a biodiversidade


aparecem doravante como ―bens em si‖ (DODIER, 2003) ou ―valores universalizáveis‖
(CHATEAURAYNAUD, 2010) que servem não somente para dotar os atores de quadros legítimos
para ação e julgamento, mas também e, sobretudo, de operadores de totalização, ou seja, de fatores
de convergência argumentativa. Deste ponto de vista, a força da expressão de temas ambientais
nunca foi tão intensa, irradiando ao conjunto de setores de atividade que se encontram projetados em
um mesmo espaço de cálculo, como bem testemunha a fórmula da ―pegada de carbono‖. Isso suscita
controvérsias sobre o risco de uma homogeneização de bens, submetida a uma forma de

15
Debate reunindo representantes do governo e de associações profissionais ou de ONGs, abordando um tema preciso e
visando legislar ou tomar posição.

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reducionismo radical beneficiando, em última instância, à lógica de mercado16. A diversidade de


fórmulas tópicas se impõe assim que olhamos de perto os usos argumentativos do meio ambiente.
Sem ir mais além sobre as redes argumentativas observadas, os alertas e as controvérsias permitem
construir um repertório aberto dos tópicos mais comumente engajados, por vezes em conflito e
frequentemente em concorrência pela definição daquilo que verdadeiramente importa: da natureza
entendida como entidade soberana (deep ecology) passa-se à biodiversidade e à proteção das
espécies, supondo instrumentos de medida e de regulação, e em seguida à agricultura orgânica com
seus cadernos de normas sempre controversos; posteriormente, saltamos para a luta contra todas as
formas de poluição e seus efeitos sobre a saúde (CRANOR, 1993); daí para as questões de território
e de planejamento, as jazidas e os recursos naturais, amiúde fontes de conflitos (MELÉ, 2004);
então, encadear com as energias renováveis e o inigualável poder da energia eólica, para terminar
sobre a paisagem cuja estética não cessa de se fazer objeto de redefinição e reapropriação
(BERQUE, 1990). O que importa aqui, é menos a promoção de tal ou qual tipologia de argumentos
ambientais que a ideia segundo a qual os princípios e os valores, comumente provenientes da
axiologia, são constantemente colocados em ligação com os dispositivos e os meios, engajando as
dimensões epistêmicas e ontológicas que servem de princípios de realidade aos atores. Dito de outra
forma, a argumentação não é concebida como uma ordem do discurso autônoma, mas como uma
maneira de ligar planos logicamente diferentes. Conduzindo a uma fenomenologia renovada dos
meios e adaptada à era cosmopolita, a análise de dossiês complexos via trajetória pública das causas
obriga a dar atenção às modalidades de ancoragem dos atores e ao sentido que tem para eles o fato
de argumentar segundo este ou aquele tópico ambiental (LEBORGNE, 2010). Como ilustração,
apresentamos no box 1 abaixo excertos do caso das algas verdes na Bretanha.

Box 1

Para mostrar a maneira como os tópicos ambientais são engajados nas arenas
argumentativas, tomemos o exemplo de uma curta sequência extraída no dossiê das
algas verdes na Bretanha. A batalha contra as algas verdes, que repercutiu de maneira
espetacular no verão de 2009 com a morte de um cavalo e depois de um homem, vem
acontecendo há muito tempo. Se a maioria dos atores concordam sobre a curva
descendente de nitratos em cursos d‘água, os alertas e expertises se encadeiam para
estabelecer que os produtos fitossanitários e o fósforo poluem sempre os rios. Para os
agricultores, é necessário suspender a lógica de acusação e levar em conta todos os
atores da cadeia, pois ―os jardineiros de domingo e os indivíduos que também
acrescentam uma camada com pesticidas, detergentes e sabões‖. No outono de 2005, um

16
Ver a conferência de KARSENTY, J.-P. La science politique peut-elle inspirer une voie humaine et moderne au
développement durable? Paris: ISEP, 11/06/2008.
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debate foi organizado na Câmara da Agricultura do Côtes-d‘Armor, em Plérin. O


presidente da Câmara Regional da Agricultura, o fundador da organização Eau et
Revières e o presidente da rede Cohérence cruzaram seus argumentos. Ressaltamos o
surgimento da fórmula ―tudo se sustenta, tudo se encaixa‖ e a orientação dos
protagonistas em sentido a um compromisso entre os interesses a priori divergentes:

―A nova norma do fósforo que foi introduzida hoje polui o debate e ―frita‖ os
atores. Ora, o problema do fosfato agrícola é antes de tudo ligado à erosão‖ (agricultor).

―Se o problema da água foi relativamente levado em conta, o do solo e da erosão


foi negligenciado. É necessária uma abordagem global. Tudo se sustenta: a
biodiversidade, a paisagem que condiciona a possibilidade de um turismo rural, a
madeira para energia, a circulação da água… O agricultor pode se tornar um cultivador
de energia‖ (ecologista).

―Com a exceção do camponês que não vai se tornar. É preciso levar em conta que
seu tempo de trabalho não é extensível‖ (agricultor).

―Seria necessário na Bretanha um tipo de instituto de desenvolvimento


sustentável. Se a poluição pode desembocar em novas colaborações entre agricultores e
ambientalistas, se se pode trabalhar conjuntamente e realizar projetos sobre a água, a
energia e a relocalização da economia em direção a políticas, eles serão obrigados a
entrar no movimento‖ (ecologista)17.

Não é um pouco redutor tratar o meio ambiente como um repertório de argumentos? Talvez
intencionalmente relativista? Especialmente, o repertório em questão pode compreender os usos da
―natureza‖ destinados a relativizar os perigos ou os riscos como no caso da ―radioatividade natural‖
ou ―o amianto que existe na natureza‖, ou ainda o famoso argumento das empresas biotecnológicas
que defendem a ideia de uma perfeita continuidade de suas técnicas tendo em vista ―o que a natureza
faz com os genes‖ (JASANOFF, 2005). Partindo das controvérsias nos negócios e dos alertas em
mobilizações, os argumentos ambientais servem de operadores de convergência ou de divergência
argumentativa (―o nuclear auxilia a lutar contra o efeito estufa‖ versus ―o nuclear polui o planeta ao
produzir dejetos radioativos de maneira irreversível‖). Dito de outra forma, mais que buscar
fundamentos de uma causa ambiental adornada de todos os ingredientes da legitimidade política,
trata-se de seguir as transformações do repertório argumentativo mobilizado pelos atores, repertório
cujos elementos formam um espaço de variação complexo em que a combinatória não cessa de ser
explorada nos contextos e nas arenas mais diversos.

17
Ver: Eau: mener la bataille ensemble, Ouest-France, 30/10/2005.

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Apreender o meio ambiente como argumento mobilizado nos momentos de controvérsias e


no debate público exige utilizar outros conceitos, permitindo ao mesmo tempo compreender
racionalmente os jogos ambientais e também deixar em aberto a lista dos tópicos ou dos princípios
de julgamentos aos quais os atores recorrem. Assim, a noção de ―meio‖, por exemplo, tem uma
amplitude maior que a de ―ambiente‖. Um meio pode ser engajado em uma causa ambiental, seja
como problema, seja como recurso, seja ainda como horizonte — como é o caso da biodiversidade
(SELMI, 2006). Outro interesse da noção de meio é de tornar visíveis as fricções pelas quais passam
os padrões e os dispositivos portados pelos atores. Em diversos dossiês, observamos as tensões entre
as formas de totalização, modos de mobilização e modalidades de expressão: em quais condições se
pode expressar publicamente sua experiência do meio, desenvolver sua atividade sob a forma
narrativa ou de testemunho, e em quais contextos isso tem um impacto, um peso sobre os processos
coletivos?18 Nesse nível de análise, nos é necessária uma socioantropologia da violência engendrada
pelas fricções entre meios e dispositivos, fricções que se acoplam a conflitos de valores (TSING,
2005).

A divergência dos planos não é em si negativa. De início, há apenas a lógica do plano


epistêmico, e notadamente a produção de estudos e relatórios, ainda que abertamente orientados para
a ação, corresponde ponto por ponto às expectativas normativas de um lado, e aos modos de
existência, de outro lado. Em seguida, a divergência força os atores a explicitar seus pontos de
desacordo. Enfim, ela permite quando possível engajar um trabalho político ou elaborar prises sobre
o meio que não dependem de um acordo prévio obtido sobre outros planos. Se nós tomarmos
rapidamente o caso dos relatórios entre ciência e política construído a muito custo pelo IPCC
(DAHAN, 2007; MUNAGORRI, 2009) após a cúpula de Copenhague e a avalanche de críticas
contra os experts do IPCC, é possível considerar que a causa climática atingiu um limite e que ela
vai sem dúvida se fragmentar ou se redistribuir, tendo sido de alguma forma superaquecida pelo fato
da hipertotalização dos problemas planetários. Ao mesmo tempo, o alerta climático alcançou um tal
grau de universalização e suscitou tantas mobilizações que ela já é uma causa [climática] bem
sucedida. De fato, mais do que falar de malogro, julgamento que faz tudo repousar sobre o
formalismo de um acordo político internacional, é muito pertinente examinar o trabalho efetuado

18
No caso do Probo Koala e dos rejeitos tóxicos de Abidjan se cruzaram as regras do direito internacional, a atividade
de alerta e de vigilância de ONGs dotadas de uma potente expressão transnacional, e a experiência local dos habitantes
raivosos, o que provocou uma crise política na Costa do Marfim (CHATEURAYNAUD, 2010).
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nos campos mais diversos. Ora, o que se observa não são os atores que rejeitam o desafio do clima
— cada cidade, território, região, cada dispositivo, cada debate público o incorpora amplamente —
mas, sobretudo, atores que adaptam em contexto os instrumentos do espaço de cálculo ligado à
emissão de gases do efeito estufa, produzindo uma ―ressimetrização‖ das tensões: ao trabalhar as
articulações entre clima e outras preocupações (biodiversidade, agricultura orgânica, energias
renováveis, transportes e planejamento do território), eles desenvolvem suas prises e, ao fazê-lo, não
se transformam em agentes dóceis de um regime climático baseado num novo sistema de poder. Nas
localidades, nos meios, a conquista de prises se faz sempre por meio de situações de provas de
forças, das fricções.

5. Controvérsias, formas de regulação e lógicas de conflito

Se suspendermos a busca de grandes interpretações para vermos nos dossiês como os atores
elaboram, contestam, estabilizam, fazem convergir ou divergir suas bases, observamos que o uso
argumentativo do meio ambiente se mescla constantemente a outras formas de argumentos com as
quais se criam laços mais ou menos inquebráveis (como os argumentos sanitários ou os argumentos
econômicos), o que por sua vez engendra dois processos: de um lado, a proliferação de dispositivos
de totalização que reúnem em uma grande matriz discursiva os recursos e as restrições, sob as
noções indefinidamente extensíveis de ―governança‖ e de ―desenvolvimento sustentável‖
(RUMPALA, 2008); do outro lado, as novas formas de conflitos e de críticas radicais (TSING,
2005; BECK, 2007). Os atores acordam suas ações e seus julgamentos ao se referirem a uma matriz
discursiva definida ao longo de cúpulas internacionais desde Rio (1992), Kyoto (1998), Aarhus
(1998), ou ainda Bali (2007), um tipo de meio natural para os argumentos ambientais. Não se trata
apenas de palavras de ordem ou de lugares comuns alimentando a retórica em situação de
comunicação política, mas de disposições e de dispositivos que informam as representações, os
instrumentos e as atividades. Porém, subjacente à banalização desses tópicos, duas lógicas se
configuram: a primeira concerne a adoção de regras e padrões visando um novo modo de regulação;
a segunda remete a uma lógica de conflito por meio da qual se exprimem todos os tipos de atores,
que nem sempre conseguem constituir uma causa comum, como mostra a trajetória irregular da
―Outra Globalização‖. Se a referência à interdependência e à complexidade se tornam apoios
interpretativos comuns para os atores, os novos padrões, incluindo aqueles que estabelecem novas
formas de consulta e de participação, provocam fricções na elaboração local de prises sobre o

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mundo. Nessa perspectiva, o caso dos organismos geneticamente modificados (OGM) é um ponto
de vista exemplar.

A análise da longa série de situações de prova que marcou o dossiê dos OGM na França e na
Europa entre 1987 e 2009 mostra que a dimensão ambiental do conflito é fortemente ampliada pelas
questões econômicas. Do ponto de vista da oposição aos OGM, o ponto focal é, na verdade, a
patente dos seres vivos. A apropriação dos recursos naturais por empresas privadas lhes dá um pleno
controle da agricultura, forçando os produtores a comprarem de volta as sementes que tornaram as
empresas ―proprietárias‖19. No caso limite do famoso projeto Terminator, não havia mais
necessidade de patente para controlar completamente as culturas. A controvérsia sobre os riscos de
contaminação das culturas convencionais ou biológicas pelas culturas OGM gerou reviravolta
particular: se mantivermos um quadro ambientalista, esse último permite às firmas sementeiras
reivindicar os royalties junto aos agricultores que não tem utilizado intencionalmente o OGM,
ameaçando-os com processos judiciais — como são os casos do processo Schmeiser, e também do
processo Chapela no México (FOYER, 2010). Assim, os OGM não são denunciados somente como
uma ameaça ao ambiente, como por exemplo os pesticidas, mas engendram uma forte dependência
econômica: ao suprimir as condições de possibilidade de um retrocesso, o desenvolvimento dos
OGM suscitou um deslocamento do enquadramento saúde-ambiente inicial — muito ligado à
proteção e à informação dos consumidores (em virtude do efeito vaca louca) — em direção a um
conflito de economia política.

Pode-se, nessas condições, falar de uma derrota da comunicação pública em torno dos OGM
e daí tirar conclusões sem uma maior reflexividade sobre outros dossiês — como atualmente sobre
as nanotecnologias? Desde muito tempo, a sociologia saiu de uma visão irênica da troca de
argumentos em uma discussão ideal (o verdadeiro debate), notadamente por meio da crítica do
modelo habermasiano do ―espaço público autônomo‖. Uma sociologia das controvérsias não decide
sobre o bom procedimento do debate público, mas fornece os instrumentos de análise para observar
como nascem, evoluem, se deslocam, permanecem ou desaparecem os argumentos nos campos de
forças. Pois, a noção de espaço público oblitera ao menos três coisas essenciais: a maneira pela qual
se forjam as competências dos atores, em particular seu senso crítico (que se baseia muito mais nas

19
No quadro do Certificat d’Obtention Végétable (COV), o agricultor tem o direito de semear a cada ano.

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experiências marcantes que em um repertório revestido por princípios de justiça); a ancoragem nos
meios que liga os atores aos interesses e às representações, às formas de vida e aos valores; a
importância nas batalhas argumentativas de figuras contrárias, em virtude das quais passamos
constantemente da controvérsia à acusação, da figura de retórica à produção de factualidades, da
convergência de fontes de convicção à consolidação de oposições categóricas — tantos elementos
que ajudam a compreender os choques e as interações que levam à expressão de uma ―cólera
legítima‖. A negação da competência, a política do fato consumado e a experiência da perda de
prise são as explicações mais correntes fornecidas pelos atores ao se engajarem em uma lógica do
conflito.

Sobre os diferentes dossiês, observamos os movimentos de ―vai e vem‖ constantes sob um


continuum que opera a contraexpertise, seja pontuando as alternativas (as energias renováveis como
alternativas à nuclear no dossiê das energias), seja empreendendo até a ação radical (como os
ceifadores de OGM). Para compreender esses processos, a análise das causas ambientais deve
renunciar à cidade ideal ou ao mundo comum e reconectar-se com uma sociologia dos conflitos. Vê-
se, por exemplo, ao se abrir um dossiê como o da gestão de rejeitos radioativos cuja politização
traduzida pela lei Bataille (1991) criou uma exigência forte para os engenheiros: a ―reversibilidade
do estoque‖ (BARTHE, 2006). Desde que os atores críticos apreenderam o dossiê, as provas se
construíram sobre a base de uma conjunção entre os atores-redes agindo à distância e os porta-vozes
das populações locais. Apesar de uma real atualização por parte da Agence Nationale de Gestion des
Déchets Radioactifs para ―cuidar de sua comunicação‖ e ―abrir amplamente a concertação e o
debate‖, o teatro de operações na Meuse20 evoluiu novamente para o conflito (CÉZANNE-BERT
eCHATEAURAYNAUD, 2009). Ora, a radicalização dos atores, que fazem valer uma ―cólera
legítima‖, só se compreende se examinarmos o conjunto das bases normativas, dos dispositivos de
investigação ou de tomada de informação, e das forças em ação nos meios.

Com a fragmentação dos meios e das causas, a sociedade civil nunca está em ação sob a
forma idealizada proposta por uma leitura rousseauniana da história política. Ao mesmo tempo, as
ideias, as técnicas, as relações e as experiências passam constantemente de um meio a outro. De um
ponto de vista político, os atos de desobediência e de resistência se colocam em um plano de ação e

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Região situada no Leste da França e habitada por aproximadamente 200 mil pessoas.

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de julgamento que se opõe tanto ao Estado, sempre suspeito, como ao mercado, tratado como fator
de dominação econômica: um plano de experimentação coletiva que engaja a possibilidade de uma
expressão democrática livre dos dispositivos instituídos (BERNARDI, 2008). Em todo caso, a
maneira pela qual são qualificados e requalificados os atos de protestos enredados num jogo
complexo de participação, ativismo não violento e radicalização política, não é um epifenômeno, e
constata-se frequentemente a definição do compartilhamento entre controvérsia, regulação e
conflito. Nesse contexto, a sociologia do meio ambiente não tem por vocação tentar erradicar os
conflitos — como na figura cada vez mais contestada da ―aceitabilidade social‖ —, mas de
desdobrar as formas e as modalidades de expressão possível do conflito e da disputa.

Quando um processo resulta na constatação de um profundo desacordo, os atores tem ao


menos aprendido alguma coisa sobre os elementos irredutíveis e sobre os enraizamentos políticos
em virtude dos quais só poderá haver sucessões de momentos de disputa, fases de negociação e
períodos de compromisso. Essa versão que foi a do modelo do direito social, representando tanto a
irredutibilidade do conflito entre capital e trabalho como a multiplicação de dispositivos de
compromisso, é adaptável aos conflitos referentes ao meio ambiente e ao desenvolvimento? A
fórmula de Grenelle que introduz os eleitos locais e as associações em um gigantesco dispositivo de
concertação/negociação dificilmente pode absorver todas as fontes de tensão e de conflito. Mas o
dispositivo pode servir como um grande distribuidor, tornando possível a emergência de novas
frentes conflituais. De fato, as tendências recentes parecem marcadas por esse retorno a uma lógica
do conflito. Por exemplo, denunciando as modalidades de passagem da lei Grenelle I à lei Grenelle
II, um coletivo de especialistas do direito ambiental vê na formação do Ministério da Ecologia, da
Energia, do Desenvolvimento Sustentável e do Mar, uma relativização extrema do espaço do meio
ambiente — reduzido, segundo eles, a um ―insignificante secretariado de Estado cujo poderes e
meios são equivalentes a um pequeno departamento francês‖ — redução que coincide, segundo os
atores, à fórmula excessivamente concisa atribuída ao Presidente da República, expressa durante um
evento sobre agricultura na primavera de 2010: ―o meio ambiente, isso começa a fazer bem‖21. Esse
tipo de questionamento é às vezes dramatizado, e às vezes tratado como um epifenômeno;
numerosos atores que consideram que se as bases de uma ação pública ambiental perene já foram
estabelecidas, apesar das pressões exercidas pelos meios econômicos, não há como voltar atrás.

21
Conforme BRAUD, X.; et al. Les impostures du Grenelle. Rue89, 06/04/2010.
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6. A causa ambiental entre lugar comum e fonte de ação radical

Tornou-se banal constatar que a configuração criada no começo desse milênio produziu uma
ruptura completa com o período anterior — essa espécie de configuração fluida e razoavelmente oca
dos anos 1980-1995, marcada pelo enfraquecimento contínuo das lutas operárias como referência
maior da crítica social. Quatro processos se intercalaram para provocar essa ruptura que mudou
completamente as modalidade de uma sociologia das mobilizações e das controvérsias: 1) O
aumento das tensões de um novo tipo tornou obsoleta a visão irênica dos anos que se seguiram à
queda do muro de Berlim, anos em que se falava constantemente de equidade e de justiça, de
intercompreensão e de ética: citando frequentemente 11 de setembro de 2001, os atores falam de
uma nova era de violência, e até de hiperviolência, um ciclo ininterrupto de catástrofes e crises,
reforçando as visões negras suscitadas pela obsessão do terrorismo; 2) Nas áreas da saúde, do meio-
ambiente e das tecnologias, assistimos a um processo de globalização dos riscos e a chegada de um
regime de alerta global, quase permanente, baseado em padrões internacionais e em redes de experts
transnacionais. Apesar de caracterizados por constituições diferentes, o clima e o risco de gripe
pandêmica (H5N1, e depois H1N1) forneceram uma matriz para numerosos dossiês (ver a
biodiversidade de um lado; as doenças emergentes de outro lado). Além disso, observamos cada vez
mais os entrelaçamentos das questões de saúde, de ambiente e de tecnologia, impulsionados ao
mesmo tempo pela vulnerabilidade manifestada nos eventos extremos (tsunami, tremores de terras,
furacões e tempestades, inundações, incêndios de florestas…) e pelo efeito de uma crítica
crescentemente fundamentada com respeito às expertises e às escolhas científicas e técnicas (OGM,
telefonia móvel, nanotecnologias); 3) A transformação evidente dos quadros epistêmicos de todos os
setores de atividade, através da Web e da circulação rápida de causas, de expertises e de quadros
interpretativos. Para além das questões relativas à democracia eletrônica e à governança da internet,
a Web se tornou incontornável na trajetória dos alertas, das controvérsias e das formas de protesto:
as causas, os atores que as defendem e os argumentos que sustentam são atualmente dependentes de
seus modos de existência na Web; 4) As mobilizações transnacionais e os atores do movimento
Outra Globalização tem criado uma frente permanente desde Seatle (1999), fornecendo um quadro
de referência a múltiplos movimentos locais, ainda que o espaço político instituído não chegue a
integrar essa dinâmica em um contraprograma político.

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Nessa configuração geral, as causas ambientais, produtos de um longo trabalho político que
lhes dotaram de uma função de universalização, servem de apoio em uma série inumerável de cenas
de ação e de julgamento. Nessas trocas de argumentos e nos jogos de forças, a questão das
desigualdades ambientais é cada vez mais presente, o que amplia a tensão entre regulação e conflito
(TSING, 2005; BECK, 2007; PELLOW, 2007). De fato, um dos paradoxos ao qual deve fazer face a
sociologia contemporânea do meio ambiente está relacionado à tensão crescente entre, de um lado, a
multiplicidade dos dispositivos de concertação e de modos de regulação, e de outro lado, o
desenvolvimento de formas de ativismo e de críticas radicais, novas radicalidades que engendraram
uma categoria eminentemente repressiva, a do ―ecoterrorismo‖, conforme ilustrado no box 2 abaixo.

Box 2

A extensão contínua do setor de ―segurança‖ dá lugar a uma grande vigilância sobre


movimentos de contestação, empregando técnicas próximas das utilizadas para controlar os
movimentos mais abertamente bélicos. Nesse sentido, a fronteira entre ―ativistas‖ e
―terroristas‖ pode facilmente ser desfeita. Em um artigo intitulado ―Vive les écoguerriers!
Evviva!‖, Fabrice Nicolino22 declara sua admiração pelos ―bandidos oceânicos do Sea
Shepherd‖, grupo formado por Paul Watson, ex-Greenpeace, que lançou garrafas de ácido
butírico em um barco baleeiro japonês na Antártida — o que suscitou fortes protestos do
Japão. E Nicolino comenta:
―Os ecowarrios — os ecoguerreiros — são irmãos. Nem mais nem menos. Nos
Estados Unidos, esses ativistas são caçados pelo FBI de uma maneira que surpreenderia
ainda um pouco na França. No último congresso da Associação Americana para o Avanço
das Ciências, um sociólogo visivelmente amigo dos policiais, advertiu contra o
―ecoterrorismo‖, o qual seria pior nos Estados Unidos que a violência de extrema direita.
[...] Após ter defendido bastante o uso da violência em minha juventude, eu confesso que
mudei de ponto de vista. Eu me tornei um ativista não violento. O que isso quer dizer? Quer
dizer que contanto que não se ataque os homens e tudo o que vive, a oposição a esse mundo
deve conservar um espaço [...] E eu, eu continuo a me perguntar até onde podemos ir para
defender uma causa tão essencial que é a vida na Terra? Até onde?‖ (NICOLINO, 2008).

7. Considerações finais

Na conclusão de sua obra sobre a ecologia e o direito, François Ost (1995) faz uma mea
culpa ao observar que tudo que ele escreveu procede de um ponto de vista particular, o do
Hemisfério Norte, ―seu meio ambiente‖ e ―suas gerações futuras‖: ―é apenas como um incidente que
se abordou as populações do Sul do planeta‖, enquanto que elas são as ―primeiras vítimas da
degradação do meio ambiente‖. Ironizando sobre o fato de que ―nossa civilização hiperdesenvolvida
parece ‗ter perdido o Sul‘‖, ele se pergunta se é ainda possível ―crer nas nossas boas intenções para

22
Jornalista francês, cronista no jornal Charlie Hebdo ferido no atentado de 07 de janeiro de 2015.
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com o meio e as gerações futuras se já está faltando solidariedade, ou mesmo simplesmente a


consciência da interdependência em relação às gerações presentes‖ (OST, 1995, p. 338-339). Desde
o meio dos anos 1990, as mobilizações nos países do Sul não cessam de se desenvolver por meio de
uma dialética sutil com o movimento da Outra Globalização. De fato, hoje em dia uma parte
importante do jogo de atores remete ao que se instituiu em cúpulas e convenções internacionais sob
a categoria de ―povos autóctones‖. Esses atores não são somente relés para as ONGs e outros
elementos ambientalistas, pois eles modificam sustentavelmente a maneira pela qual se elaboram
nossas cosmologias, inclusive na produção do direito internacional.

Nesses últimos anos, o deslocamento da análise em direção às causas internacionais é uma


tendência forte e constitui um dos eixos maiores da sociologia das mobilizações. Para além das
grandes narrativas sobre a globalização, uma sociologia pragmática das transformações pode ajudar
a compreender como se articulam ou se afrontam, nos meios e nas localidades, as duas lógicas em
curso: a da nova economia política dos bens públicos, e a da afirmação de valores ou de modos de
existência irredutíveis.

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