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XXVIII CONGRESSO INTERNACIONAL DA ALAS

6 a 11 de setembro de 2011, UFPE, Recife-PE

GT15 - Meio Ambiente, sociedade e desenvolvimento sustentável


Sessão 7-Sociedade e Meio Ambiente: abordagens teóricas

Do meio ambiente ao crescimento econômico:


Novas questões para a esquerda francesa nos anos 1970

Ana Flávia Pulsini Louzada Bádue


Universidade de São Paulo

Agência de fomento: CNPQ


Orientadora: Ana Claudia Duarte Rocha Marques

XVIII Congresso Internacional da Associação Latino Americana de Sociologia. Recife, 2011 1


Do meio ambiente ao crescimento econômico:
Novas questões para a esquerda francesa nos anos 1960 e 70
Ana Flávia Pulsini Louzada Bádue
Mestranda em Antropologia Social, Universidade de São Paulo
anabadue@yahoo.com.br

Resumo
Nos anos 1970 começaram a emergir na Europa movimentos sociais e certas linhas de produção
acadêmica que colocavam em xeque teorias e práticas políticas e econômicas da esquerda
tradicional. O crescimento econômico, antes visado por todos, começou a figurar nesse cenário como
um problema na medida em que o aumento da produção e do consumo levava a uma destruição da
liberdade humana e ainda era incompatível com os recursos naturais existentes no planeta.
A partir dos trabalhos de Charbonneau,Ellul, Illich e Gorz, bem como da emergência de movimentos
ecológicos, é possível remontar à constituição de novas esquerdas na França nos anos 1960 e 1970.
A recusa ao marxismo, a ênfase nos modos de vida e a configuração de novas modalidades de luta e
resistência política são três eixos centrais para compreender a reformulação da contestação política e
da mobilização nesse momento, e que reverberam até os dias atuais.

***

Das catadoras de mangaba do Sergipe até a política energética alemã, o meio ambiente
parece ter entrado definitivamente na agenda política mundial. E é comum que isso seja visto como
um avanço da "consciência ambiental" 1. Na medida em que um governo, um grupo específico ou as
pessoas começam a falar sobre ecologia e rever políticas e práticas em nome dela, ou que empresas
investem em "sustentabilidade", isso é considerado uma grande evolução.
Uma visada crítica permite, entretanto, colocar em questão essa visão da história como uma
sucessão de fatos e ideias em direção à razão. Em primeiro lugar, não há uma homogeneidade nem
um consenso sobre o que seja "meio ambiente". Em segundo lugar, considerando-se historicamente,
o processo de politização da natureza, do meio ambiente e da constituição da ecologia política é
permeado por tensões, indicando que o suposto caminho da consciência não é tão evidente como se
afirma.
Soma-se a isso a questão da relação entre material e espiritual (problemas ambientais e
consciência ambiental), que geralmente é concebida unilateralmente, como se a segunda fosse uma
resposta à primeira. Mas, analisando o nascimento da ecologia política, a relação parece ser muito
mais complexa. Por um lado, os problemas materiais estão em profunda relação com jogos políticos e
econômicos. A poluição gerada por automóveis, por exemplo, está ligada a uma série configurações
de poder que estabelecem certos tipos de urbanismo em detrimento de outros. A poluição, por sua
vez, na medida em que é constituída como problema ecológico (e não de saúde) coloca em relação
uma série de elementos que não estavam necessariamente ligados antes.
Este paper busca questionar a visão progressista da história da ecologia a partir da leitura da
obra de quatro intelectuais franceses das décadas de 1950 e 70, que são considerados atualmente
precursores da ecologia política e do decrescimento2: Bernard Charbonneau, Jacques Ellull, Ivan Illich

1 Tanto especialistas quanto leigos compartilham dessa visão. Cf Cans, 2006. Cf. também Viola, 1996, que além de defender
o argumento da conscientização em nível global, discute o desenvolvimento da ecologia no Brasil.
2 O movimento de decrescimento é o tema de meu mestrado, o qual vem sendo realizado no departamento de Antropologia
da FFLCH-USP. O decrescimento, em termos gerais, defende que o crescimento econômico é incompatível com o meio

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e André Gorz. A retomada dos debates entre esses autores evidencia que a ecologia política, seja na
dimensão da militância política ou das críticas mais teóricas, não é uma resposta evidente e óbvia
dada aos problemas materiais. Ao contrário, veremos com esses autores que tratava-se antes da
constituição de um novo corpo de conhecimentos e práticas que articulava natureza e humanidade de
forma inédita.
Preocupados em fundar uma esquerda desligada do marxismo tradicional e da esquerda
clássica, os quatro autores faziam críticas ao mundo em que viviam e estavam antes preocupados
com a liberdade humana do que com o meio ambiente. Mas as lutas ecológicas lhes pareciam
extremamente adequadas na medida em que, afinadas com suas críticas, buscavam novas formas de
vida e de relações sociais, além de terem um inimigo comum – um sistema social, político e
econômico orientado pelo progresso, pela ciência, pela técnica e pelo crescimento econômico, os
quais não levavam em consideração as necessidades reais da natureza e da humanidade. Veremos
com esses autores como, desde os anos 1950, política e meio ambiente vêm fomentando um novo
espaço de reflexão e militância política. A hipótese deste trabalho é que as questões ecológicas só se
configuraram enquanto tais em profundo diálogo com o corpo de conhecimentos sobre novas formas
sociais e novas formas de ação política proposto por tais autores.
Basta observar as mudanças qualitativas em curso nesse período. Antes dos anos 1960,
grupos em defesa de pássaros não se consideravam "ecologistas"; Bernard Charbonneau não
encontrava editoras para publicar seus textos sobre técnica e destruição do equilíbrio entre homem e
natureza; o documentário Le monde du silence de Jean Yves Cousteau venceu em 1956 o festival de
Cannes e um Oscar sem ter como argumento a defesa do mar. A partir de meados da década de
1960, os grupos em defesa dos animais começaram a crescer e associarem-se entre si;
Charbonneau teve seus livros publicados e o cineasta tornou-se um conhecido "ambientalista". Esse
momento foi decisivo na configuração de um novo campo de saberes na Europa e nos Estados
Unidos (Bramwell, 1989; Cans, 2006; Dalton, 1994). A ecologia política constituiu-se como uma nova
tentativa de compreender o mundo e agir sobre ele – no mesmo momento em que emergiam os
feminismos, as lutas estudantis, as teorias pós-estruturalistas (e pós-modernas), a reorganização da
política institucional e novas formas de trabalho.
A partir de uma leitura de Ellul, Charbonneau, Gorz e Illich, defendo que uma crítica social de
esquerda que não passava necessariamente pelo marxismo deu ensejo à formulação de novas
realidades e novos problemas. Vale ressaltar que a explosão de manifestações "ecológicas"
acompanhou transformações políticas e econômicas na França. Os "trinta gloriosos" depois da
Segunda Guerra promoveram o enriquecimento generalizado da população francesa, a consolidação
de uma sociedade de massas e a industrialização. A ecologia política que se configurava nesse
momento não era apenas uma preocupação com a natureza, mas um corpo de conhecimentos e
práticas que articulavam as questões da natureza com questões de política e de economia, visando

ambiente, já que o objetivo de crescer infinitamente acabará com os recursos naturais, limitados. O decrescimento se
constitui como movimento político, como teoria de ecologia política, como teoria de economia ecológica e como modo de
vida, na França, na Itália, na Espanha e recentemente no Brasil. Normalmente, essa diversidade de pessoas, coletivos,
modos de ação e perspectivas são concebidas por militantes e simpatizantes do decrescimento na França como
"nebulosa". cf. Bayon, Flipo, Schneider, 2010.

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compreender que novo mundo era esse em que o enriquecimento generalizado é acompanhado por
sofrimento e crises sociais.
Se levarmos em conta as diversas "esquerdas" de Maio de 1968 na França, pode-se
perceber que a ecologia não era um fenômeno isolado. Nesse momento eram comuns os
diagnósticos de um novo mundo, que colocava questões e problemas inéditos (entre eles,
ambientais). Junto com esse diagnóstico, vinha a insuficiência de "velhas" teorias, sobretudo o
marxismo defendido pelos partidos. A dominação do(a) trabalhador(a) 3 era revista à luz da dominação
da natureza, da dominação das mulheres, da dominação de minorias étnico-raciais. E as novas
"realidades" da sociedade do consumo e sociedade do espetáculo são pensadas sob o prisma da
crítica da razão, da falência do estruturalismo, da guinada da psicanálise, do maoísmo e do
trotskismo. A subjetividade tornou-se elemento central de reflexão e de intervenção para a esquerda
(Arvon, 1977), somando-se à crítica às instituições tradicionais, como partidos políticos e sindicatos.
O resultado dessa combinação foi a ênfase inédita nos modos de vida como ação política. A tão
antiga fuga da cidade ao campo, por exemplo, torna-se uma recusa da sociedade do consumo.
Jacques Ellul, Bernard Charbonneau, Ivan Illich e André Gorz buscavam compor um conjunto
de reflexões que desse conta do mundo contemporâneo a partir de um diálogo ambíguo com "o
marxismo" – que, quase sempre é tomado como sinônimo do marxismo oficial do partido – e pela
abordagem de temas clássicos dos debates da esquerda: trabalho, capitalismo, propriedade privada,
produção e consumo. É possível visualizar três eixos nos trabalhos desses autores. Em primeiro
lugar, a revisão do marxismo a partir de um diagnóstico do mundo pós-segunda guerra. O novo
diagnóstico se constrói sobre um novo recorte analítico: a vida cotidiana. É por meio dela que os
autores tecem reflexões sobre sociedade do consumo, trabalho, propaganda e meio ambiente, tema
do segundo eixo. Por fim, diante de um novo quadro, propõe-se novas formas de ação política e de
práxis. Modos de vida e transformação social entram em cena em contraposição à luta de classes e à
revolução socialista.

1. Da contradição de classes à soberania da técnica


Na França tornou-se comum empreender críticas aos países socialistas sem, no entanto,
recair em argumentos da direita. No caso de Charbonneau, Ellul, Illich e Gorz, essas críticas eram
pautadas em uma aproximação dos sistemas socialistas e capitalistas. Charbonneau (1973)
identificava frequentemente a União Soviética aos Estados Unidos a fim de mostrar que os problemas
sociais e ambientais eram análogos já que ambos compartilhavam a ideologia do progresso. Além
disso, tanto em um sistema com em outro, as estruturas técnicas dominantes moldavam as formas de
vida cotidiana suprimindo a liberdade de todos os indivíduos. Ellul dizia que o grande problema nos
anos 1930 e 40 era "à quelle sauce nous allions être mangés: hitlérienne, stalinienne ou américaine"
(Ellul, 1982: 12), ou seja, todos os sistemas apresentavam grandes ameaças totalitárias e deveriam
igualmente ser combatidos.

3 Para a redação deste trabalho adotei linguagem inclusiva de modo a contemplar a representação igualitária de mulheres e
homens. Utilizei o sinal gráfico dos parênteses (ex. autoras(es) ou pesquisadores(as)) e inverti a ordem de apresentação
de ambos ao longo do texto.

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Illich, que viveu no México e em Porto Rico por muitos anos, direcionava sua críticas
sobretudo aos Estados Unidos e às intervenções deste país na América Latina. Mas não deixava de
compartilhar reflexões sobre o socialismo com Ellul e Charbonneau. Afirmava que os mesmos
processos se verificavam nos países capitalistas e socialistas: contra-produtividade,
subdesenvolvimento e monopólio radical. Seu argumento (Illich, 2006a) era que, uma vez que a
industrialização eliminara a política, pouco importava a orientação do país. A industrialização
imperava, gerando um crescente dano irreparável em todos os setores, em todas as partes do
mundo.
Gorz, nos anos 1960, discordava que se pudesse comparar os regimes capitalistas entre si
bem como comparar capitalistas e socialistas. No entanto, anunciava um processo comum que se
difundia por todo o planeta: o consumo era subordinado à produção, assim como as necessidades, as
exigências criadoras, a cultura e a educação eram subordinadas às exigências do processo de
acumulação. Em suma, em nenhum dos países as necessidades econômicas se submetiam às
exigências de libertação humana, ao contrário, as finalidades humanas se submetem às técnicas. A
acumulação era prerrogativa também no socialismo real, com a especificidade de ser pública e não
privada(Gorz, 1968a; 1968b).
A aproximação dos regimes capitalistas e comunistas implicava uma revisão das teorias
sociais que preconizavam os segundos como alternativa (por vezes inevitável) aos primeiros. Era
preciso compreender o que entrara em jogo para fazer com que ambos se aproximassem e não se
opusessem. Isso levava inevitavelmente a um diálogo, senão uma ruptura, com o marxismo, já que
este, na visão dos autores em questão, não conseguia dar conta de uma nova realidade que
subjugava todo o mundo, independentemente do regime político. Suas teses, ao fim, tinham o
objetivo de ser uma nova luz para reabilitar a esquerda.

Ellul e Charbonneau se conheceram quando jovens quando faziam parte do movimento


personalista. Em 1935 os dois amigos já defendiam as teses que publicariam nos anos 1950 e 1960.
A organização social, política e econômica funcionava sem passar pelas escolhas reais dos
indivíduos, os quais viam-se subjugados a uma ordem que lhes era exterior (Charbonneau e Ellul,
2011). Nesta nova ordem, a renúncia ao ser humano, à consciência e à medida humana levou a um
novo quadro no qual não eram mais pessoas que dominavam pessoas, mas as fábricas, as
instituições, o Estado, o lucro e os armamentos que dominavam a humanidade e minavam as
"liberdades humanas". O personalismo seria uma nova civilização que só se alcançaria mediante um
novo estilo de vida verdadeiramente humano, caracterizado por "juízos que nós temos sem pensar,
pelas nossas reações em face a todos os eventos diários"(ibid: 155). Seria como uma conjugação
entre espontaneidade e consciência.
A questão central para os dois amigos era a perda da liberdade provocada pela hipertrofia
das estruturas técnicas e de gestão, mais do que com uma eventual "crise de civilização", diz
Cérézuelle (2006: 20-1). Pretendiam mostrar que as experiências totalitárias não foram uma
anormalidade, uma exceção mas, ao contrário, a sociedade contemporânea herdara, por meio da

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técnica, o totalitarismo. Essas reflexões pautaram toda a obra subsequente de ambos autores.
De 1947 a 1979, Ellul deu um curso de marxismo no Instituto de Estudos Políticos de
Bordeaux4. Marx lhe parecia oferecer instrumentos poderosos para pensar a sociedade. Mas, dizia
Ellul, era preciso compreender as diferenças do capitalismo no final do século XIX e o capitalismo do
fim do século XX. Enquanto a economia dominara no primeiro momento, agora era a técnica, dizia.
Na sociedade industrial de tipo capitalista, a verdadeira força produtiva do valor era o trabalho. Já na
sociedade técnica, as máquinas funcionam sem intervenção humana. Ellul propunha reformular toda
a teoria do valor, mas o fez de forma muito simplista. Afirmava, sem levar em conta os
desdobramentos dialéticos da contradição entre capital e trabalho, que seriam as máquinas as
criadoras do valor e a alienação seria fruto da conformação dos homens e mulheres a uma sociedade
técnica. Essa revisão da teoria do valor foi compartilhada por Gorz em seus trabalhos posteriores,
quando começou a defender as novas tecnologias. Ele as considerava libertadoras porque o valor
que produziam não advinha da exploração do trabalho, já este era apenas criativo 5.
Em suma, na visão de Ellul, Marx não mais ajudava a ler a nova realidade na qual a técnica
substituíra a indústria em termos de exploração. Em 1954, Ellul publicou La technique ou l'enjeu du
siècle, livro no qual defendia essa tese a partir do argumento que a técnica que servia ao homem se
autonomizou, dominando-o. Mas o que seria a técnica? Muito mais do que máquinas; dizia respeito a
uma lógica que se estende por domínios sociais diversos. A burguesia, visando assegurar a produção
técnica para satisfazer seus interesses de classe escolha, acabou por produzir uma situação inédita
quando a dinâmica da produção se espraiou para todos os níveis. No século XIX, completa Ellul,
Marx fez penetrar nas massas a ideia de que a técnica poderia ser libertadora desde que estivesse
nas mãos do proletariado, fazendo com que as massas aderissem às técnicas. Desde a origem o
marxismo teria sido marcado por um elogio do progresso técnico, o qual carregava a possibilidade de
libertação do proletariado.
Historicamente, diz Ellul no livro Illusion Politique publicado em 1965, a Primeira Guerra
Mundial teve papel fundamental na nova configuração social 6. Foi a primeira vez que todo o mundo
esteve envolvido em um mesmo conflito. Uma guerra total implicava envolvimento total da sociedade:
da produção de armamentos à produção de alimentos, passando pela organização das tarefas e
trabalhos, tudo regido pela lei da eficácia (Ellul, 1977). Ao mesmo tempo, como justificativa moral à
guerra surgia a propaganda, a qual se institucionalizou como nova forma de comunicação e se
infiltrou nas subjetividades (Ellul, 1967). Ellul parece substituir a explicação de classes apresentada
em La technique ou l'enjeu du siècle de dez anos antes por uma explicação histórica em função da
dinâmica da técnica, na qual a organização do mundo em torno de uma guerra transformou todas as
dimensões da vida.
Mas independente da origem do processo, Ellul parece estar preocupado com seu
desdobramento, já que o processo esconde a própria origem. Uma vez desencadeado o

4 Ele é considerado um dos primeiros a lecionar Marx na França. Cf. Rognon, s.d.
5 Os trabalhos recentes de Gorz são alvo de pesadas críticas, já que parecem confundir trabalho imaterial com liberdade
criadora. Cf. Lamaud, 2011.
6 Cf. também Charbonneau e Ellul, 2011.

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desenvolvimento técnico, seja em função dos interesses das classes dominantes, seja em função das
exigências materiais de uma guerra mundial, as técnicas vão se multiplicando por diversas
dimensões, fazendo com que um aumento quantitativo se converta em mudança qualitativa. Deixa de
ser um meio para se estender a todos os domínios e todas as atividades dos homens, e inverte a
situação eliminando qualquer atividade não técnica. A mudança não está na técnica em si, mas na
relação entre técnica e sociedade.
A técnica dominou todos os elementos da civilização – economia, arte, literatura,
subjetividade – e seu progresso é irreversível. Cada invenção técnica provoca outras invenções em
outros domínios, ainda mais quando se trata de resolver problemas causados por seu próprio uso
(Ellul, 1968: 118). É o caso das destruições infligidas ao mundo natural, como a redução de recursos
naturais e poluição, que requerem novas técnicas para superarem-se (ibid: 222).
A origem do processo não é a questão central de Ellul, e sim sua autonomização, que garante
sua reprodução e continuidade. Em nome da eficácia, a técnica subjugou a civilização. Se a eficácia é
a principal razão de escolha das técnicas, o homem não é mais um agente das escolhas, pois a
eficiência e a eficácia se impõem. Pessoas que não falam a mesma língua se entendem quando
operam uma mesma máquina. Independentemente de qual tenha sido sua origem, o progresso
técnico se impessoalizou, se desenvolveu automaticamente, sem interferência do homem.
O diálogo com Marx aparece mais uma vez quando Ellul encaixa a economia nesse esquema
explicativo. Na visão do autor, a economia é apenas uma nova técnica criada como resposta a
necessidades criadas por técnicas precedentes e que também cria novas necessidades, como a
técnica do trabalho, que por sua vez produz o cansaço e requer a elaboração de técnicas de
entretenimento. Ellul argumentava que a eficácia da técnica supõe sua autonomia e independência
com relação à economia e à política. Todo o sistema está igualmente submetido à técnica, e não a
técnica submetida a economia.
Esse é o caso também da concentração de capitais – tema caro a Marx. Visto que os
investimentos em meios técnicos são cada vez maiores, indivíduos sozinhos não conseguem
financiá-los. Logo, a "concentração necessária dos capitais dá origem, seja à economia anônima, seja
à economia de Estado" (Ibid: 157). Mas essa concentração não gera aumento de lucros, apenas gera
vantagens técnicas (melhorias mecânicas e novas técnicas de trabalho). O domínio da economia
sobre cada vez mais domínios sociais se dá por intermédio da técnica, como ocorre com esse caso.
Neste esquema, Marx não estaria totalmente errado em adotar uma perspectiva materialista cujos
fundamentos são econômicos. Mas, na opinião de Ellul, seria preciso mais do que isso. O primado da
economia na verdade é um desdobramento do primado da técnica. A rentabilidade passou a ser mero
elemento de cálculo e o capital diminui de importância na medida em que a técnica avoluma-se,
afirma Ellul.
A técnica alcança todo o mundo (mesmo os não civilizados), de modo que todas(os) estão no
mesmo caminho, embora em pontos diferentes – eis a explicação do subdesenvolvimento. A principal
clivagem social não é mais a de classes e não há uma real diferença político-econômica entre
socialismo, capitalismo e totalitarismo. O principal critério para a escolha de um sistema capitalista ou

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socialista não é filosófico, mas a eficácia e o êxito.
Se a escolha de um sistema político é determinada pela técnica, a política como um todo
também o é. O interessante de sua análise sobre esse tema é que ali ele parece tratar de algo como
a ideologia nas sociedades técnicas. Na visão de Ellul, a política mantêm a aparência de liberdade
enquanto as decisões seguem as prerrogativas da técnica e o imperativo da eficácia e não são livres.
A outra face da mesma questão é o modo como as pessoas vivem a política. Os homens e mulheres
de hoje são então engolidas pela atualidade, que se impõe como critério para participar da política.
Visto que a legitimidade do Estado repousa sobre a participação de todos(as), cada um(a) passa a
ser chamado(a) a participar e o requisito para fazê-lo é conhecer tudo, sobretudo os fatos mais
recentes.
A produção desses fatos, por sua vez, é totalmente problemática porque se descola da
realidade. Segundo Ellul, um evento qualquer só se torna fato político na medida ao adquirir sentido
para as pessoas por meio de instituições (mídia, partidos, etc), as quais produzem imagens e
traduções a partir de preconceitos e contextos existentes. Finalmente, o evento original, na visão de
Ellul, já não é mais imediatamente acessível, e sim é reconstruído pela propaganda (1967).
A capacidade de reflexão, de criar uma memória, de relacionar acontecimentos ficam, no
mundo da técnica, submetidos à nova configuração do político – propaganda, atualidade, opinião
pública. E para não submergir em meio ao fluxo incessante de novidades, as pessoas são obrigadas
a esquecer. Ao mesmo tempo, não se consegue mais fazer previsões, já que no dia seguinte haverão
novas atualidades. Consequentemente, "l'obéissance à l'instant, la réaction à l'actualité sont les plus
radicales négations possibles de la liberté" (ibid: 91).
Diante de tudo isso, Ellul enfatiza que o marxismo não consegue mais explicar nada,
esgotou-se – embora tenha sido a única ideologia que exprimiu de fato a situação econômica, jurídica
e política do século XIX. Um sistema de produção que visa produzir sempre mais, orientado
exclusivamente pela eficácia, aniquila as capacidades subjetivas por meio da propaganda e da
atualidade, produzindo uma homogeneização por todas as dimensões em que se instala (na política,
na economia, no consumo, etc). O marxismo, tão frutífero entre as gerações passadas, não mais
serviria para pensar essa nova ordem da técnica que elimina o acaso e quaisquer outras formas de
produção, de política e de vida.
Como Ellul, Charbonneau refletia sobre os custos e consequências do progresso tecnológico
e ambos enfrentaram resistência do marxismo predominante entre a esquerda francesa no
pós-guerra (Cérézuelle, op. cit). As teses dos autores era que a técnica passara a ocupar lugar
fundamental na sociedade, antes ocupado pelo capitalismo. Ellul afirma que ele e Charbonneau
pensavam que se Marx fosse pensar o mundo em que viviam, não caracterizaria a sociedade pelo
capital nem pelo capitalismo, mas pelo desenvolvimento da técnica e o fenômeno do seu crescimento
(Ellul, 1982: 13).
Charbonneau (1973) defendia que a autonomia da economia e da técnica no capitalismo e no
socialismo levavam à destruição da liberdade porque invadiriam todas as esferas da vida com suas
leis e com sua organização. Essa autonomia seria um processo histórico cujo fundamento é antes

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espiritual que material. Se vivemos em uma sociedade em que o materialismo domina, defendia
Charbonneau, isso se dá não porque as relações materiais de produção orientam a organização
social, mas porque temos uma nova crença. Antes era Deus que ocupava o lugar central na
organização do cosmos, mas agora esse papel cabe à ciência, à razão, ao método e à técnica ( ibid).
Marx estaria certo ao dedicar seus pensamentos à economia política, já que esta orienta
todas as dimensões da vida social no capitalismo, dizia Charbonneau. Mas ao considerar o material
como produto de crenças,o autor não deu a devida atenção à dialética entre material e espiritual.
O processo histórico que deu origem ao novo sistema, que seria caracterizado nas palavras
de Cérézuelle como totalização social, estava ancorado na Guerra Fria. O capitalismo sempre foi
orientado para o crescimento, mas a competição entre Estados Unidos e União Soviética fez com que
essa orientação se transformasse em motor do mundo. Ou um país crescia (se nos moldes comunista
ou capitalista, pouco importava) ou estava perdido, ou seja,um país não tinha mais a escolha de estar
em equilíbrio. A novidade não é o crescimento em si, mas ele ter se tornado a única opção viável.
Gorz, quando fala em neocapitalismo ou capitalismo monopolista, está falando exatamente sobre
isso: um novo tipo de capitalismo cujo motor é o crescimento contínuo de produção e consumo.
Pelo próprio funcionamento e lógica interna do desenvolvimento da técnica, todas(os) estão
igualmente submetidos a ela, de modo que o mundo se torna uniforme. Tanto Tokio quanto Buenos
Aires estão diante da mesma realidade material "objetiva" da técnica, e não há duas formas de fazer
um avião aterrissar ou duas maneiras de fazer uma siderúrgica funcionar.
Mas a técnica não é só máquina, defende Charbonneau em profundo diálogo com Ellul. Para
que uma cadeia de produção funcione, é necessário que tudo esteja integrado e que haja uma
organização de tudo o que está envolvido. Quando essa organização é feita de forma hierárquica,
aparece a figura da administração. O Estado, a economia, a propaganda, a urbanização, o turismo e
o lazer como espaços de relação com a natureza, a burocracia, tudo isso são mediações técnicas da
vida social.
Consequentemente não faz mais sentido, diz Charbonneau, pensar a sociedade
exclusivamente em termos de classes já que todos estariam igualmente submetidos a um único
sistema. A burocracia, por exemplo, é uma forma de unir a organização humana com a organização
das máquinas. Ela se despersonaliza cada vez mais, processo que se dá também no interior do
Estado, fazendo com que o poder não se concentre mais nas mãos de pessoas determinadas, mas
que todos(as) o exerçam igualmente para fazê-lo funcionar. Não há, então, uma diferença essencial
entre as classes, não há mais dominadores(as) de um lado e dominados(as) de outro pois agora
todas(os) se associam em um aparelho burocrático, mesmo que alguns(as) tenham excelentes
salários e outras(os) não. Até mesmo os(as) diretores(as) passaram a servir ao sistema, mas não
percebem porque continuam exercendo autoridade, o que acaba por amenizar e esconder sua
posição de servidão (Charbonneau, 1973: 92).
Não são mais as classes ou o sistema político que definem as diferenças entre os países. O
marxismo e o socialismo "reduziram a questão social à oposição da burguesia e do proletariado"
(Charbonneau, 1988: 37), mas burguesia e proletariado "têm com efeito a mesma religião da indústria

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e o mesmo terreno de jogo – a cidade. Para um como para outro, o campo é um corpo estranho que
se suporta pior ou melhor, enquanto se aguarda o momento de eliminá-lo, brutalmente pela revolução
e metodicamente pela técnica" (ibid: 37). Charbonneau queria dizer que outras oposições passam a
ser mais significativas do que as classes, como aquela entre campo e cidade 7, ou entre sociedade
industrial e sociedade tradicional; ou ainda entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos, sendo os
primeiros aqueles totalmente organizados e os últimos, os que ainda resguardam espaços de
espontaneidade e não-organização técnica.
Assim como Ellul, Charbonneau analisa diversas dimensões, como política e economia, para
compreender de que modo se forma uma nova sociedade na qual toda realidade se submete à lógica
tecnicista e industrial. Mas, diferentemente do companheiro, parece conferir à produção material
industrial uma centralidade a partir da qual a organização se irradia para outras dimensões. Já Ellul
vê como central a prerrogativa da eficácia, que se espalha também para a produção material.
No sistema em que a técnica impera, a economia ocupou lugar fundamental, passando a ser
a nova religião universal. O dinheiro funciona como um signo que submete tudo à economia, que
serve à produção e à técnica, que media as relações privadas. O Estado assume função análoga à do
dinheiro, tornou-se mediador de relações públicas e também tem como finalidade única a produção 8.
As relações de exploração do trabalho se dão na mesma chave. Não mais é uma questão de
enriquecer o patrão e sim para enriquecer a indústria. O trabalhador se libertou do Capital para se
submeter à Produção, diz Charbonneau, pois a exploração do trabalhador agora não se dá mais pelo
homem, mas pela economia e todas as pessoas passam a ser igualmente exploradas como recursos
naturais. O dinheiro e o Estado não servem mais a classes específicas, mas à produção – basta ver
que uma parte da mais-valia sempre volta para a aquisição de novas máquinas e meios de produção
(ibid: 105).
O processo que faz com que não haja mais classes é o mesmo que imobiliza os indivíduos e
elimina sua liberdade. As máquinas, a organização, a burocracia, os saberes técnicos e científicos
especializados controlam as forças sociais e podam as relações materiais e sociais espontâneas e
livres. Se o progresso nasceu para libertar o homem de Deus e das antigas formas sociais, ele trouxe
novos sofrimentos, diz Charbonneau. O produtor é reduzido à produção e o consumidor, ao consumo.
A origem da totalização social é a produção. Ela impõe sua organização por todos os níveis
para que possa continuar funcionando. Logo, ao invés de a organização permitir um real controle
social da economia, ela faz o inverso. Serva da economia, a organização comanda a política, as
cidades, as vidas das pessoas para que a produção não pare. (Charbonneau, 1973).
Em nome da organização, os indivíduos sequer podem ter ideias e correr riscos. Para que a
produção continue em perfeito funcionamento, todo o risco (exceto a guerra) deve ser garantido pelo
Estado, que assume formas burocráticas e replica os métodos de trustes privados, criando até

7 No livro Sans feu ni lieu de 1975 Ellul faz uma metáfora religiosa do nascimento da cidade por oposição ao campo, como
se a primeira tivesse nascido pela destruição da segunda. Cf. Dufoing, 2011.
8 Segundo Cérézuelle, Charbonneau confere importância fundamental ao Estado na constituição da nova configuração
social pautada pela técnica. Com a Primeira Guerra, os Estados viram-se diante da necessidade de controlar a produção
de forma total, unificada e eficaz. Assim, a organização e a eficácia foram se espraiando para outros setores, resultando
em uma totalitarização social.

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mesmo um sistema de seguridade social. A urbanização é outra face deste mesmo processo,
(Charbonneau, 1988: 49), que organiza materialmente a vida dos indivíduos para realizar os
imperativos da produção. Por isso Charbonneau diz que a produção é totalitária: ela impõe sua
organização por todos os níveis para que possa continuar funcionando. Assim, ao invés de a
organização permitir um controle da economia para que esta seja o meio, ela faz o inverso.
Illich, até os anos 1980, escrevia textos panfletários, sem longas reflexões teóricas, mas com
um objetivo claro: mostrar que em todas as dimensões sociais e em todas as instituições verifica-se
um processo análogo de contradições inerentes ao que se chama de progresso e de
desenvolvimento. Com a publicação do famoso relatório do Clube de Roma em 1972, o qual previa
uma diminuição da produção industrial e um aumento da produção de serviços para manter a
economia em funcionamento e ao mesmo tempo salvar a natureza (Meadows et al. 1973), Illich
passou a dedicar seus trabalhos a mostrar que não só a indústria destrói a natureza como também os
serviços destroem a cultura (Illich, 2006a; Robert e Borremans, 2010).
As críticas ao sistema produtivista não tinham uma filiação marxista, embora
esporadicamente Illich citasse Marx e não mencionasse outros predecessores. Isso indica que Illich
visava constituir uma crítica à sociedade que fosse independente da crítica do capitalismo. Os
trabalhos de Illich foram, já na época de publicação, difundidos em meios militantes franceses de
estrema esquerda não-marxistas (Robert; Paquot, 2010).
Assim como Ellul e Charbonneau, Illich argumentava que tanto os ricos como os pobres estão
submetidos ao mesmo sistema, o qual consiste em uma interversão dos meios em fins. Esse sistema
é mais significativo do que a exploração capitalista. Ao invés de pensar em termos de contradições,
Illich fala em contra-produtividade, fenômeno que se verifica em todas as sociedades industrializadas,
capitalistas ou socialistas. Contra-produtividade designa o modo como o desenvolvimento e o
progresso carregam em si sua destruição tanto bio-física quanto social e política . Illich verificava isso
nos transportes, na educação e na saúde – três temas importantes para a análise já que, segundo o
autor, são os elementos do desenvolvimento e da modernidade por excelência.
Com esse raciocínio, Illich se aproxima de Ellul e Charbonneau, ao mostrar que os problemas
de nossa sociedade não são desvios, mas constitutivos desta. Os três argumentam que aquilo que
nasce para nos libertar acaba por nos aprisionar. Segundo Boaventura de Sousa Santos (1975), Illich
buscava provar a lei hegeliana da transformação da quantidade em qualidade. Veja-se o caso do
consumo de energia: ultrapassando-se determinado limite, há um "efeito corruptor do poder
mecânico" (Illich, 1975: 27) que faz com que as pessoas não consigam mais controlar tal consumo e
que os poderes sejam transferidos para a técnica, deixando de ser políticos. Até agora, diz Illich, a
luta entre Estados e classes havia sido o principal agente de miséria. O indivíduo tinham que lutar
com a natureza e com suas(seus) vizinhas(os) (debates propriamente políticos na visão do autor)
para sobreviver, mas a situação mudou e a maior parte das misérias provocadas são resultado das
instituições originalmente desenhadas para proteger o homem em sua luta contra o meio ambiente e
contra as injustiças cometidas pelas elites (Illich, 2006a: 168). É o caso dos transportes, da educação
e da saúde.

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Uma vez que autoriza o deslocamento de maiores distâncias, o transporte motorizado
provoca o desaparecimento das relações e comércio local, já que obriga que as pessoas fiquem
presas ao carro para chegar a outros lugares, e também passa a determinar a configuração do
espaço social. "Ao ultrapassar certo limite de velocidade, os veículos motorizados criam distâncias
que só eles conseguem reduzir" (Illich, 1975: 48) e quem não dispõem de veículos motorizados não
consegue se locomover. Além da geografia, o transporte motorizado também altera o tempo social
quando o aumento do raio de circulação é acompanhado por um maior dispêndio de tempo com o
trânsito. Somando todo o esforço de uma pessoa para dirigir (tempo de trabalho para comprar o carro
e pagar as contas mais o tempo dirigindo), tem-se que uma hora avança apenas seis quilômetros. Em
países onde não há carros, uma pessoa também passa uma hora para se deslocar por seis
quilômetros, com a diferença de que gastam apenas 3% da sua vida se movimentando, contra os
25% gastos em países "motorizados", calculava Illich (2006c).
O indivíduo não domina mais seu próprio espaço e seu próprio tempo, nem as relações
sociais e políticas: "o motor mediatiza a sua relação com o meio ambiente e depressa o aliena de tal
modo que depende do motor para definir o seu poder político" (ibid: 42). A transformação da
quantidade em qualidade, como sugere Souza Santos, diz respeito, então, a uma nova forma social
na qual a tecnologia se sobrepõe às relações da humanidade entre si e com a natureza. O
desenvolvimento da indústria, afirma Illich, se dá em detrimento da plena participação das pessoas,
da autonomia dos indivíduos e dos grupos de base.
Illich refletiu também sobre as ambiguidades da medicina. Da mesma forma que o transporte
motorizado implica imobilidade e escravização da maioria das pessoas ao carro, a medicina prolonga
o tempo da doença, cria novas normas a cada nova doença 'descoberta', os serviços médicos
encarecem e tudo isso contribui para a criação de uma população submissa e dependente, que ao
mesmo tempo não tem acesso por igual aos serviços médicos (Illich, 2006b).
A produção e distribuição de serviços médicos acarretam no processo de iatrogênise, ou seja,
na produção de doenças, sofrimento e morte pela própria medicina, cujo objetivo seria curar. "Las
dolencias, el desamparo y la injusticia que prevalecen son las consecuensias de las estrategias del
progreso", diz Illich (2006a: 168). Pode-se dizer que na leitura de Illich esse processo de
contra-produtividade da medicina só se dá à medida em que esta se torna a forma única e legítima de
saúde. Ou seja, a medicina só provoca mais sofrimento por ocupar todo o espaço da cura e da
relação com o corpo nas sociedades modernas. Consequentemente, aqueles que optam por não
entrar no sistema não conseguem ter êxito, pois uma vez legitimada, a medicina eliminou meios
tradicionais de lidar com a dor e a morte.
O mesmo processo se dá com a educação, que cada vez mais se reduz à escolarização. O
direito a aprender só se realiza pela escola (Illich, 2006d) e, mais do que isso, só por seu intermédio
podem ser formadas as elites dirigentes e profissionais que orientam a sociedade. Em países pobres,
a escolarização é ainda mais intensa na medida em que somente pela escola um indivíduo pode
obter um diploma para inserir-se na sociedade de consumidores disciplinados da tecnocracia (1973c).
Nos países latino-americanos investiu-se em educação com vistas a "tirar a maioria não-rural

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da sua marginalidade nos bairros de lata e numa agricultura de subsistência e levá-la para o tipo da
fábrica, de mercado e de vida cívica correspondentes à tecnologia moderna" (1973d: 140). Mas
concretamente a educação não gerou os frutos prometidos. Ao contrário, a escola produziu frustração
porque aparece como garantia de integração social mas não a realiza. A escolarização que nasceu
para incorporar igualmente todas as pessoas ao Estado industrial e que serviu para derrubar o
feudalismo, tornou-se um "ídolo opressor" que só protege aqueles que já foram educados, produzindo
desigualdades.
Essa realidade não é exclusiva de países pobres, diz Illich. Nos EUA a educação também é
aquilo que designa quais pessoas são qualificadas ou não. A diferença maior é que enquanto em
países ricos há escola para todos, em países pobres, não há. Mas nestes, a escola aparece como o
único meio de acender à riqueza, de modo que representa um fardo (Illich, 1973d: 155).
Fica em aberto, no entanto, uma questão. Por que mesmo escolarizadas as pessoas não
ficam ricas? A riqueza é excludente? As respostas estão ligadas à tentativa de Illich de reformular a
crítica social sem passar pela contradição de classes. Em sua visão, interessa menos a "oposición
entre uma clase de hombres explorados y otra clase propietaria de las herramientas" e mais a
"oposición qui se sitúa primero entre el hombre y la estructura técnica de la herramienta y, luego,
como consecuencia, entre el hombre y las profesiones cuyo interés consiste en mantener esta
estructura técnica" (Illich, 2006b: 468).
Illich não deixa explícito se a escolarização, a medicalização e o carro são produto de alguma
classe que pretende manter-se em sua posição de dominação ou se as instituições operam de forma
contraditória produzindo desigualdades entre aqueles que a consomem e aqueles não o fazem. Mas
novamente, ter acesso a certa instituição pressupõe, em algumas passagens dos escritos de Illich,
que se tenha dinheiro e não são todos que o tem.
Ao tentar contornar a questão das classes, Illich oscila entre duas explicações. Ora é o
sistema que cria as desigualdades, ora ele se impõe a uma realidade já cindida. Os diplomas criam
uma diferenciação social, mas essa diferenciação só se dá a partir de uma diferença anterior: os que
tiveram e os que não tiveram acesso ao ensino formal. Com os carros, passa-se uma ambiguidade
semelhante. Illich afirma que o automóvel nasceu como produto de luxo, o que quer dizer que existem
ricos e pobres antes que o trânsito se transforme em espaço exclusivo de veículos motorizados. E
uma vez que isso ocorre, os transportes criam uma desigualdade social entre os que têm e os que
não têm carro.
Illich poderia sugerir que as novas desigualdades são uma transformação das contradições
de classe, mas não é isso que ele faz. Ao afirmar que todos e todas estão igualmente presos a uma
sociedade escolarizada, médica e de carros, ele não dá conta de explicar como, em um mesmo
sistema, alguns conseguem e outros não. Mas apesar de não conseguir explicar satisfatoriamente a
desigualdade a partir de seu quadro conceitual, Illich dá mais atenção ao Terceiro Mundo do que seus
companheiros, os quais também viam no novo sistema uma ruptura com os sistemas anteriores.
Estes estavam mais atentos a um sistema que perpassa igualmente o socialismo e o capitalismo,
enquanto Illich refletia sobre um sistema que submetesse ambos e também os países pobres.

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Gorz distanciava-se de seus contemporâneos por submeter suas análises a um vocabulário
marxista, e não por tentar superá-lo. Mas também aproximava-se deles no que se refere ao
diagnóstico de uma nova forma social desenvolvida com o pós-guerra, bem como à constatação da
submissão das necessidades e criatividade humana à técnica. Gorz entrara em contato com os
trabalhos do grupo de Illich no fim da década de 1960 e lera os manuscritos de Nemesis Médica em
1974. Sua impressão na época foi de que Illich revigorava as teorias de Ellul (Gorz, 2008: 54). Antes
de começar a se dedicar à ecologia, nos anos 1970, Gorz se debruçava sobre a configuração do
capitalismo contemporâneo e sua preocupação principal era produzir reflexões para a luta de
trabalhadores, coroando suas reflexões com a temática da auto-gestão.
Como dizia Charbonneau, a competição entre EUA e URSS criou um novo critério de
comparação entre os países: instituiu um novo sistema de produção e consumo voltado para o bem
estar e para o crescimento. Gorz, observando os países capitalistas, chama de capitalismo
monopolista o sistema cujo fundamento é a expansão da produção voltada para o consumo de
massas. Em outras palavras, tratar-se-ia de um sistema que, pela primeira vez, teria feito uma ligação
imediata entre crescimento econômico e consumo de massas. O capitalismo monopolista seria
pautado na venda de produtos e serviços para consumidoras(es) e sua manutenção dependeria das
pessoas comprarem e usarem os serviços oferecidos pelo sistema, donde a manipulação das
necessidades e desejos.
O consumo das massas se transformou no motor do crescimento econômico. Não mais se
trata de industrialização maciça como sinônimo de crescimento econômico, e sim de produção de
bens de consumo e de serviços. E, uma vez que os desejos das massas tornam-se peças tão
importantes não poderiam ser deixados por sua própria conta. Foi assim que a publicidade assumiu
papel central no sistema, já que era a ela que cabia criar desejos e necessidades entre as massas de
consumidores. Tudo se passa como se a economia se desenvolve para satisfazer as necessidades
humanas, mas a realidade, diz Gorz, é que as necessidades são forjadas para produzir lucro (Gorz,
1991).
Uma vez que o capitalismo monopoliza as necessidades dos indivíduos, a consequência é a
homogeneização e a padronização dos comportamentos e aspirações dos indivíduos. Normalmente
isso era visto com bons olhos, como um processo de aburguesamento do proletariado.
Evidentemente, Gorz opunha-se a essa leitura otimista e defendia que a homogeneização produzia
uma dominação generalizada de modo que tanto proletários como colarinhos-brancos padeciam de
alienações similares; até mesmo as necessidades mais íntimas estão foram sujeitas à determinação
do capital.
O capitalismo monopolista caracteriza-se também por uma reconfiguração da organização do
trabalho, ou melhor, da divisão do trabalho. No lugar do(a) empresário(a) individual apareceram
grupos de técnicos(as) especializados(as) em planejamento e organização racional que tentavam
suprimir qualquer imprevisto, improvisação ou intervenção pessoal. As empresas passaram a
obedecer critérios impessoais e objetivos de funcionamento, que demandavam especialização tanto
das camadas dirigentes quanto das massas e a produção deixou de estar sujeita a determinações

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pessoais ou de classe. Quanto ao proletariado, este foi quantitativamente reduzido e qualitativamente
transformado em mão-de-obra qualificada. A isso Gorz (1978a) dá o nome de heteronomia: todos(as),
patrões(as) e empregadas(os), se transformaram igualmente em engrenagens de um mecanismo que
não mais lhes diz respeito. Charbonneau diagnosticava também a "despersonalização" de todo o
sistema e dava pistas de que isso alterava a composição das classes, embora não usasse o termo
heteronomia.
Nos anos 1970, quando começou a se engajar com questões ecológicas 9, conferindo especial
atenção à heteronomia provocada pela submissão das necessidades e desejos à técnica, Gorz trouxe
novas reflexões sobre a transformação do mundo da produção e do trabalho. Os trabalhadores são
agora substituídos por máquinas. Tais máquinas custam caro e seu valor é repassado para a
mercadoria. Na concorrência, cada capitalista busca rentabilizar suas máquinas o mais rápido
possível, investindo em máquinas mais eficazes, mais caras e que necessitam de menos
trabalhadores para aumentar a produtividade. Assim, a composição orgânica do capital muda (diminui
o capital investido em salários e aumenta o investido em máquinas) promovendo uma queda
tendencial da taxa de lucro10. Se o lucro cai, torna-se mais difícil investir em novas máquinas mais
caras pois há menos dinheiro. A esse processo segundo o qual o peso do capital na produção cresce
de tal modo que o capital não pode mais se reproduzir em ritmo normal, Gorz dá o nome de
sobreacumulação (1978b).
Trata-se de uma contradição: a tendência do capital de investir em máquinas produtivas para
manter seu crescimento leva a uma inviabilidade de crescimento porque o crescimento baixa os
lucros. E para que essa crise não aconteça, Gorz afirma que os capitalistas adotam duas medidas:
diminuir o tempo útil dos produtos para aumentar o número de mercadorias vendidas e sofisticar
produtos para que seus preços aumentem cada vez mais. Ambas as soluções, por sua vez,
encontram novos problemas. A produção cada vez maior de bens implica a utilização de recursos
naturais finitos como água e petróleo; o consumo de bens descartáveis gera uma quantidade cada
vez maior de lixo (ibid). Mas essa nova crise não pode ser resolvida tão facilmente quanto a outra,
porque a contradição agora não é interior à lógica do sistema, e sim vem de fora, dos limites da
natureza.
Pode-se ver, aqui, um desenvolvimento particular da ideia de contra-produtividade
desenvolvida por Illich. Gorz enfatiza que a contra-produtividade é inerente ao sistema – por isso
Souza Santos insistira sobre o caráter dialético e não histórico e/ou temporal do desenvolvimento das
contra-produtividades. A diferença é que Gorz liga essa contradição a um sistema maior: a
contra-produtividade é inerente ao sistema pois o crescimento é uma exigência do capital e supõe um
investimento que acaba por limitar o próprio crescimento do lucro. E quando o capital acha uma
solução para essa crise, essa solução carrega em si outra crise, agora ecológica. A
contra-produtividade é, portanto, uma contradição que se desdobra de outras contradições do

9 Esse engajamento se estendeu por toda a sua vida. Em 1991 publicou o livro Capitalisme, socialisme, écologie, composto
por artigos recentes publicados em outros locais. Contribuiu também com artigos para a revista EcoRev', onde foi publicado
seu último texto, escrito logo antes de seu suicídio.
10 Para compreender melhor o desenvolvimento de Gorz, cf. Marx. 1985.

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capitalismo (como a queda tendencial da taxa de lucro).
Segundo o próprio autor, as análises de Illich sobre contra-produtividade e monopólio radical 11
são muito próximas do que os marxistas entendem como extensão das relações de produção para
outras esferas (Gorz, 1978c). Falar em contra-produtividade significa fazer uma crítica das relações
de produção capitalistas, fundadas na divisão social do trabalho. Por divisão do trabalho Gorz se
refere à separação social dos trabalhadores e a sua separação com relação aos meios de produção
para que sirvam exclusivamente ao capital. Se o capital controla a organização social do trabalho,
também controla a dimensão técnica, que por sua vez, não é neutra e sim submetida à produção. Por
exemplo: moinhos de vento foram extintos não por sua ineficácia, mas porque o vento é acessível a
todos e isso poderia colocar a produção capitalista em xeque, afirma Gorz. O capitalismo produz
apenas as técnicas compatíveis com sua lógica de dominação, convertendo as técnicas em matriz
das relações de poder, das relações sociais de produção e da divisão hierárquica do trabalho. A
energia nuclear, por exemplo, supõe e impõe uma sociedade hierarquizada, centralizada e policiada.

2. Sociedade de massa e os modos de vida


Os quatro autores argumentam que não faz mais sentido pensar a sociedade em termos de
classes porque há um sistema impessoal, racional e técnico de produção que se espalhou por todas
as dimensões da vida social, criando uma nova forma de alienação que concerne a todas(os),
independentemente da ocupação, do nível sócio-econômico, do país e do regime político. Até mesmo
a vida cotidiana foi submetida aos imperativos do crescimento, da técnica, do capitalismo
monopolista.
Gorz e Charbonneau viam uma transformação inédita na economia, que passou a se destinar
às massas fazendo com que crescimento econômico fosse sinal de bem estar e de consumo. Ao
contrário do que se dizia à época, os quatro autores discordavam de que o aumento do poder de
consumo fosse sinal de melhoria da qualidade de vida, ou sinal de democratização. Diante da
estandardização e homogeneização da produção e do consumo, Ellul recusava o argumento do
aumento da liberdade na massificação do consumo: "onde não há mais escolha, o que há é ditadura"
(1968: 218). Todas as escolhas das pessoas passaram a ser pautadas pela técnica, sobretudo pela
propaganda (que não se reduzia apenas à publicidade, mas se estendia por todas as dimensões
sociais, dizia Ellul).
A partir de seu diagnóstico, o autor constatava que a mulher e o homem tornaram-se
definitivamente seres econômicos, como preconizavam as teorias: inserem-se por inteiro em um
mecanismo cujos valores são reduzidos ao dinheiro. E para que as pessoas consigam lidar com essa
nova realidade, cria-se o mito revolucionário cujo principal fundador, nas palavras de Ellul, foi Marx.
Tratar-se-ia de um mito na medida em que o proletariado apenas quer tomar o lugar da burguesia. E
tanto para o(a) proletário(a) quanto para o(a) burguês(a), um ser humano não passa de uma máquina
de produzir e consumir e o importante não são suas necessidades, mas o escoamento de produtos.
Charbonneau via nesse processo todo o fim da espontaneidade, a perda da liberdade, a

11 O conceito de monopólio radical será explorado adiante.

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homogeneização e o fim da multiplicidade cultural e a angústia vivida por cada indivíduo. Diante das
mudanças constantes e das novas necessidades que devem ser supridas, o resultado é o sentimento
de que jamais conseguiremos atingir a felicidade. (Charbonneau, 1973: 187). Illich, preocupado com
as desigualdades sociais, vê nisso que Charbonneau chama de angústia o elemento fundamental
para definir o subdesenvolvimento. Desenvolvidas(os) são aquelas(es) que tem meios para consumir
e/ou acessar o sistema que se lhes impõe, e subdesenvolvidos(as) são aqueles(as) que estão diante
do mesmo sistema mas não têm como usufruir dele. O que Illich e Charbonneau estão mostrando é
que os sofrimentos são sociais, tanto no sentido de que são produtos de novas configurações, como
também geram uma situação social inédita de subdesenvolvimento.
As imposições do sistema à vida social e individual configuram-se como monopólio, defende
Illich. Considerando-se que a partir de certos limites a técnica ou a instituição deixam de ser uma
opção e se convertem em necessidade, estas só podem ser satisfeitas pela produção técnica e
industrial. Com o advento dos transportes motorizados, por exemplo, tudo é reorganizado de modo
que não há mais possibilidade de transitar de outra forma e as pessoas veem-se obrigadas a
utilizarem um produto industrial (Illich, 1975).
O monopólio cria duas alienações: a primeira diz respeito às necessidades, as quais resultam
de um processo técnico e industrial alheio aos transeuntes; a segunda vem do fato de a satisfação
dessas necessidades forjadas só se darem por mercadorias produzidas por terceiros, no caso, as
grandes indústrias automotivas. É importante frisar que o monopólio se exerce em detrimento de
produtos, meios de produção e formas de organização tradicionais. Daí a expressão monopólio
radical para designar a situação na qual a indústria e as instituições controlam a produção e os
desejos humanos por seus próprios produtos.
Gorz considerava os monopólios radicais destruidores das condições da auto-determinação
humana, pois quem determinava tudo, da produção econômica aos desejos mais íntimos, era o
capitalismo, de modo a impossibilitar os(as) trabalhadores(as) de produzir aquilo que necessitam ou
desejam. A(o) operária(o) trabalha servindo à máquina ao invés de servir-se dela. Isso atrofia as
faculdades dos indivíduos e sua capacidade de produzirem a si mesmos. E a divisão social e
territorial do trabalho esfacela o tecido social e as relações mútuas. Por conseguinte, esse
esfacelamento é suprido pela atividade institucional do Estado: proteção, saúde, educação (Gorz,
1978: 47).
Todas essas críticas a um sistema que destruía a liberdade humana centravam-se nos
modos de vida. A emergência da sociedade de massas no lugar da sociedade de classes foi
acompanhada por outra inflexão nas análises de esquerda nos anos 1960 e 70, que dizia respeito à
atenção a outras dimensões da vida social antes não exploradas: a vida cotidiana, o trânsito, a
escola, o lazer, a fábrica, os desejos de consumo, a televisão tornaram-se alvo de análise.
Pode-se dizer que a vida cotidiana tornou-se o cerne das análises sociais na França, de três
maneiras. Em primeiro lugar, passou a ser vista como alvo de intervenção do novo sistema técnico
(Arvon, 1977), sendo a propaganda e a sociedade de massas duas faces do mesmo processo. Em
segundo lugar, é por meio de uma análise das vidas cotidianas que os autores apreendem todo o

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sistema. O trânsito, a medicina e o turismo eram ao mesmo tempo espaços nos quais a técnica
intervinha e eliminava as liberdades individuais ao mesmo tempo em que, através deles, poder-se-ia
vislumbrar todo o sistema. Por fim, a vida cotidiana, torna-se o novo locus da ação política e da
transformação social, como veremos a seguir. As obras de todos dos quatro autores não eram
meramente contemplativas e carregavam em seu seio reflexões acerca da transformação do mundo.

3. Práxis e transformação social


A defesa e conservação da natureza não eram o elemento chave da obra de nenhum desses
autores, embora se engajassem em movimentos ecológicos 12 e dedicassem trabalhos ao tema. O
meio ambiente era um problema como tantos outros, decorrente de um sistema que subjuga a
humanidade, as relações políticas reais, as relações de sociabilidade, o trabalho e também a
natureza. Mas as lutas ecológicas representavam, para os autores, importantes meios para se
questionar o sistema ao jogarem luz sobre os estragos que promovidos pelo crescimento e pelo
progresso técnico. Além disso, as pessoas que militavam por movimentos ecológicos propunham
novas formas de relações sociais e relações com a natureza e enfatizavam a aspectos concretos da
vida cotidiana como alvo de transformações.
Se há algo a ser feito, na visão dos quatro autores aqui em questão, não se trata de uma
revolução em sentido abstrato, e sim de uma transformação que seja vivida no cotidiano, nas
relações políticas, na produção, no consumo, nas relações sociais e na relação com a natureza.
Quando o trabalho desaparece por conta das máquinas e quando a diferença de classes é
esterilizada pela dominação imposta pela técnica, como sugerem os autores, o motor da
transformação social não está mais na luta no interior da sociedade, ou mais precisamente, deixa de
ser uma luta entre patrões(as) e proletárias(os).
Se considerarmos outras novas correntes de esquerda que explodiram na França em Maio de
1968, veremos que Illich, Gorz, Ellul e Charbonneau não estavam sozinhos. Como afirma Arvon:
Le gauchisme désire unir en une seule gerbe d'espoir la transformation de la société et le
changement de la vie. Cette recherche d'une vie nouvelle naît de la conviction que l'homme n'est
pas seulement un être pratique mais qu'il lui faut satisfaire des besoins imaginaires, qu'il est en
même temps un être politique et un être affectif
Arvon, op. cit.: 11

Illich visava outra forma de vida que passasse tanto por novas relações de produção como
por novas subjetividades, novas relações com o meio e novas relações entre as pessoas, a
convivialidade. Essa nova forma social seria caracterizada pela determinação social e política da
produção, de modo que esta não se sobrepusesse às capacidades humanas, inclusive culturais, de
lidar com a natureza e com a humanidade, e que não promovesse desigualdades. I llich chega a
apresentar sugestões práticas: investimento em transporte coletivo; distribuição dos custos da
educação especializada entre as empresas já que elas próprias deveriam formar sua mão de obra,
independentemente da idade; redução do tempo diário de escola e extensão do aprendizado por 20

12 Charbonneau presidiu o Comitê de defesa da Costa Aquitânia entre 1973 e 77, seguido por Ellul, de 1977 a 79. Além disso,
escrevia no periódico La Gueule Ouverte. Promoviam discussões do grupo Esprit em locais abertos no interior da França.
Gorz se mudou com sua esposa para o interior da França onde buscavam ter uma vida alternativa.

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ou 30 anos para que a educação formal (gramática, matemática e técnicas) possa ser feita de
maneira rápida e pontual, enquanto a sabedoria deve ser aprendida por toda a vida; consideração de
outras formas de educação, como aquelas intermediadas por guerras de guerrilha 13.
No lugar da medicina, Illich sugere uma reação autônoma e viva às mudanças de ambiente,
ao crescimento, ao envelhecimento, às doenças, ao sofrimento e à morte. Uma vida autônoma é
necessária para lidar bem com a dor, a doença e a morte. É preciso reintegrar o sofrimento à vida
pois é isso que constitui a natureza humana (Illich, 2009). As ciências podem continuar a existir, já
que oferecem conhecimentos interessantes para criar novas ferramentas para que as pessoas
modelem seu meio ambiente imediato sem deixar de carregá-lo de sentido e signos. Mas só podem
fazê-lo sob a condição de serem aplicadas em aliança com saberes tradicionais, que não serão mais
desqualificados.
O ideal seria um mundo da eficácia pós-industrial 14, no qual o novo sistema de produção
estivesse ligado a uma dimensão pessoal e comunitária, "onde a modalidade industrial de produção
complementa a produção social sem a monopolizar" (Illich, 1975: 78). Uma ferramenta justa "es
generadora de eficiencia sin degradar la autonomía personal; no suscita ni esclavos ni amos;
expande el radio de acción personal" (Illich, 2006b: 383). No lugar da produtividade industrial, deve
estar a convivialidade.
A mesma questão da liberdade é posta por Ellul, que acreditava que a revolução só existiria
se as pessoas mudassem o seu interior. Somente uma "revolução da civilização" levaria a uma
"revolução personalista", instaurando novos estilos de vida (Troude-Chastenet, 1998). Pequenos
grupos auto-organizados substituiriam pouco a pouco os Estados, fortalecendo a participação política
e limitando as possibilidades de guerra, já que funcionariam como contra-sociedades. Seriam como
uma espécie de revolução imediata, pois poderia se espalhar para além das fronteiras – fazendo-as
mesmo desaparecer. Ellul e Charbonneau chegaram a organizar acampamentos nos Pirineus nos
anos 1930 para provar que um modelo de sociedade personalista (pequenos grupos em contato
direto com a natureza) poderiam existir concretamente (Troude-Chastenet, 2005).
Para Charbonneau, liberdade é autonomia para lidar com o próprio corpo, com as relações
com outras pessoas e com a natureza. A exploração da natureza não deve estar submetida às leis da
ciência, da técnica ou da razão, mas tudo isso deve se submeter à busca de liberdade humana. É
preciso desenvolver o campo, e não destruí-lo. É preciso adequar as máquinas às necessidades
humanas e não o contrário. O progresso da liberdade não significava a "impessoalidade do poder",
como se acreditava em sua época (Charbonneau, 1973: 190). Liberdade era autonomia, mais do que
libertação do trabalho e aumento do tempo de lazer (Charbonneau, 2010; Lamaud, 2011).
Uma nova sociedade apenas florescerá quando as dicotomias existentes forem reconhecidas
enquanto tais e superadas. Trabalho e lazer, natureza e humanidade, campo e cidade. Para de fato
salvar a natureza e resguardar as relações humanas, "é necessário caminhar a contrapelo da
natureza" (Charbonneau, 1988: 203). Se as novas críticas continuarem postulando dicotomias, elas

13 Illich sempre citava Paulo Freire em suas reflexões sobre novas formas de educação desescolarizada.
14 Illich usa o termo pós-industrial porque recusa uma volta ao passado. Cf. Illich, 2006b.

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apenas serão incorporadas por movimentos de direita (como movimentos nazistas). A liberdade só
será alcançada quando os polos opostos conviverem harmoniosamente. O equilíbrio só será de fato
atingido quando, por fim, os valores forem invertidos, quando os fins comandarem os meios; quando
as necessidades e a liberdade humana comandarem o desenvolvimento da técnica, da economia e
da política. Em suma, a liberdade só se realizará na medida em que as pessoas aceitarem as
contradições entre a liberdade humana e os mecanismos para atingi-la.
Assim como seus companheiros, Gorz não divinizava a natureza. O problema sobre o qual se
debruçava também era a liberdade humana, minada pelo capitalismo e pela heteronomia. Na visão de
Gorz, o movimento operário italiano oferecia potenciais contribuições para recusar o capitalismo:
defesa incondicional da integridade física e cultural dos(as) trabalhadores(as), luta pela igualdade de
salários, pela supressão das tarefas não qualificadas, repetitivas e embrutecedoras, defesa da
auto-gestão do trabalho da reconquista da escola. Tudo isso só viria a se realizar na medida em que
cada setor da classe trabalhadora se reconhecesse como explorada e percebesse que a
fragmentação do trabalho é uma ferramenta de controle do capital. Cada setor, como os técnicos e os
intelectuais, só poderia se emancipar juntamente com outros setores, negando interesses
corporativos. Além disso, os sindicatos deveriam superar a organização verticalizada pela
auto-gestão, com assembleias livres.
A ecologia política dava ensejo a tudo isso, acreditava Gorz. Não era uma questão de
divinizar a natureza; sua contribuição era de outra ordem: jogar luz sobre o fato de que a produção
incessante, o consumo de massas e as instituições criadas para resguardar a acumulação de capital
acabam com a natureza e com a humanidade (Gorz, 1978b).
Gorz não pretendia sugerir novas ações, já que defendia a auto-gestão 15, mas ainda assim,
aponta algumas ideias para que a auto-gestão se realize em oposição ao capitalismo. O ideal, diz ele
(1978i), seriam imóveis coletivos, com poucas máquinas e ambientes comuns; uma produção de
produtos que duram muito tempo, apenas poucos modelos que sejam suficientes para todos;
máquinas fáceis de serem consertadas; jornada de trabalho de 20 horas. Não seria uma sociedade
uniforme, porque haveriam ateliês em cada bairro para que as próprias pessoas construíssem para si
mesmas aquilo que é supérfluo. Essa utopia pode se converter em um programa, que corresponde à
forma mais avançada do socialismo.
A autogestão pressupõe necessariamente unidades econômicas e sociais pequenas para que
suas atividades produtivas e a divisão de tarefas possam assegurar a uma mesma unidade territorial,
diversidade de capacidades e talentos, riqueza das trocas humanas, possibilidade de ajustar parte da
produção aos desejos e necessidades locais e um mínimo de autarquia local (1978b: 50). Além disso,
a autogestão requer métodos de produção utilizáveis e controláveis em nível local (quarteirão, bairro),
geradores de autonomia econômica das coletividades locais, não destrutivos e compatíveis com o
poder que produtores e consumidores exercem na produção (ibid: 27).

15 A auto-gestão, no entanto, não é uma panaceia, diz Gorz (1968a). Em uma situação de penúria material, se não houver
reflexões constantes, a busca por maiores rendimentos materiais pode apenas reproduzir a separação entre trabalho e
lazer, de modo que o primeiro continue sendo o "purgatório" (: 144) para se atingir a liberdade no último.
Em situações de pobreza, são necessárias intervenções políticas na economia com objetivos a longo prazo, o que requer
decisões centralizadas.

XVIII Congresso Internacional da Associação Latino Americana de Sociologia. Recife, 2011 20


Qualquer que seja a linha ou o desdobramento argumentativo dos autores, fica evidente que
havia uma preocupação de ordem prática, ou mais precisamente, de ordem da realização da
transformação social. As teorias sobre capitalismo monopolista ou sobre sociedade técnica foram
desenhadas tendo em vista as brechas e os modos de ação possíveis para superar o sistema
vigente, e como o sistema mudara, a ação política deveria mudar também. Vimos que não se fala em
revolução, e que o socialismo deixa de ser horizonte para Ellul, Charbonneau e Illich enquanto Gorz
só aceita o termo se passado por uma revisão.
A entrada em cena da subjetividade e dos modos de vida acompanhou o "diagnóstico" do fim
da luta de classes como motor da história. Sindicatos e partidos deixaram de fazer sentido como
instrumentos de luta e foram cada vez mais perdendo espaço para outras formas de organização
política, marcadas pela reivindicação de outras formas de vida (sendo a própria ação política muitas
vezes reduzida à adoção de modos alternativos de vida cotidiana). A ecologia aparecia aos autores
como uma esperança por ser uma luta contra uma forma de sociedade, de economia e de política que
afetava igualmente todos os indivíduos e que provocava transtornos até nos níveis mais íntimos da
vida humana. Pela ecologia os autores vislumbravam novas formas de ação e novas formas de vida.

4. Ecologia política, uma nebulosa da nova esquerda anti-marxista.


As reflexões sobre o que veio a ser chamado de ecologia política eram parte de um quadro
de questões mais amplas, associadas a uma crítica mais geral da sociedade. Troude-Chastenet
(1998) faz uma lista dos temas trabalhados pela ecologia política e então afirma que esses temas já
estavam presentes nos trabalhos de Ellul nos anos 1950 16: recusa da clivagem entre direita e
esquerda, crítica do Estado e da burocracia, do produtivismo, da organização capitalista do trabalho,
da primazia do econômico, do consumo, do centralismo e defesa da democracia direta, da escala
local, da auto-gestão e autonomia nos planos político e econômico, da frugalidade e de um certo
ascetismo, do meio ambiente e conservação da natureza. Troude-Chastenet diz ainda que as ideias
de Ellul e Charbonneau prefiguravam as teses que seriam desenvolvidas nos anos 1970 por
Castoriadis, Gorz, Illich, Schumacher e Dumont. Contra a corrente, Ellul e Charbonneau se opunham
ao produtivismo e ao consumo.
O que vimos, até aqui, foi que as teses desses autores estavam em profundo diálogo como
marxismo de sua época. Mas ainda hoje podemos a relação entre ecologia e marxismo continua
presente e marca as reflexões sobre o que vem a ser ecologia política. Esta é vista como uma fonte
revigorante do marxismo, a qual consegue dar conta de problemas que o último supostamente não
conseguiu resolver.
Assim como o comunismo foi uma resposta de Marx aos limites da Revolução Francesa, a
ecologia política, de fato, parece destinada a ser a resposta à tragédia do comunismo hoje. Assim
como a teoria de Marx foi uma resposta ao problema-chave do século XIX, a elaboração de uma
teoria e de um programa ecológico parece fadada a ser a resposta da humanidade ao grande
problema do século XXI.
Lipietz, 2002: 12

16 Dufoing (2011) refuta as interpretações que afirmam que Ellul criticava uma forma de sociedade distanciada da natureza.
Sua tese é que Ellul estava antes preocupado com questões religiosas e suas críticas eram direcionadas a uma separação
entre sociedade e Deus.

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Andrea Zhouri também vê na ecologia política a possibilidade de superação do marxismo.
Crítica em relação aos custos crescentes da reprodução do sistema produtivo, a ecologia política
ia além da análise das contradições do modo de produção capitalista para denunciar uma
alienação mais radical que a simples expropriação da mais-valia, qual seja, a alienação entre a
sociedade industrial e a natureza.
2004: 211

Nos anos 1960 e 70, na França, essa denúncia, no entanto, não constituía um corpo unívoco
de conceitos; eram nebulosas (Jacob, 1999: 8) ou correntes diversas que se cruzavam em vários
pontos comuns que viam na ecologia um projeto revolucionário pós-marxista (Dufoing, 2011; Ekovich,
1996)17. Algumas correntes criticavam a sociedade moderna em nome dos velhos tempos; outras
acusavam a busca do lucro desenfreado por ser indiferente aos equilíbrios ecológicos (Jacob, op. cit).
A ecologia científica incorporou questões de outras ciências, como a demografia, a agricultura, a
economia (cf. Déléage, 1991). Enquanto isso, o antigo sentimento de retorno à terra e as
preocupações sobre o esgotamento da natureza (proteção de espaços "naturais" e de certos animais,
sobretudo pássaros) transformaram-se em preocupações sobre a vida, o consumo, a poluição e
outros domínios que ultrapassam em grande medida conhecimentos exclusivamente sobre a natureza
(Cans, op. cit.: 86 ).
Ao lado das teorias sobre ecologia, verifica-se uma reconfiguração da esquerda em sentido
mais geral. No que tange à produção política-intelectual, havia um descontentamento com o
marxismo, por um lado e, por outro, uma defesa ferrenha de leituras "fiéis" dos trabalhos de Marx
(Oelgart, 1970). A reconfiguração dava-se também nas práticas de militância política e maio de 68 foi
um marco fundamental na constituição de novas formulações de ação. Novos atores políticos
entraram em cena: grupos não ligados à identidade de classes (feministas, estudantes) e cientistas e
especialistas, que saíram de seus laboratórios para defender causas políticas ligadas a aquilo que
estudavam. Os ecologistas aprenderam com as revoltas de maio a desafiar o poder, a clamar por
suas convicções e a lidar com o público não engajado (Cans, op. cit: 110).
Nos anos que se seguiram, a questão da intervenção humana sobre a natureza
intensificou-se. Em 1972, foi realizada uma grande manifestação de bicicletas contra a construção de
uma pista para automóveis na margem esquerda do Sena. Brice Lalonde, que viria a ser ministro do
meio ambiente na França entre 1988 a 1992, participou dessa manifestação e em 1973 seguiu com
mais quatro homens em um pequeno barco de madeira da Nova Zelândia à Polinésia Francesa,
representando a associação Amis de La Terre, em oposição à política de energia nuclear de
Pompidou. Uma série de associações se formou e vários jornais começaram a publicar artigos sobre
ecologia como vocabulário político. Além disso, publicações "ecológicas" começaram a aparecer,
como o jornal La Gueule Ouverte e o Le Sauvage. Militantes em defesa do meio ambiente
mudavam-se para o campo onde cuidavam de ovelhas e vendiam queijo orgânico (ibid: 115).
As novas questões ecológicas eram acompanhadas de um novo tipo de militância pautado na
17 Vale notar que autoras(es) contemporâneas(os) como Michael Löwy (2005) e Isabel Loureiro (2004) estão preocupados
conjugar uma crítica ecológica com reflexões marxistas sem a pretensão de "superar" as últimas. Loureiro (2004; 2011)
defende que Marcuse, nos anos 1960, teria tecido profícuas críticas ao capitalismo sem defender um retorno romântico a
um passado de conciliação com a natureza.

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vida cotidiana e em problemas "concretos". O modo como Roger Cans descreve Brice Lalonde ilustra
essa nova militância.
Ce fils de la grande bourgeoisie, élevé dans le confort et la liberté, se méfie autant du dogmatisme
marxiste que de la rhétorique gauchiste. Ce qu'il veut, ce n'est pas renverser le régime ni
bouleverser la société, mais rendre la vie quotidienne non seulement plus vivable, mais agréable,
et notamment en ville où la 'bagnole' est en train de trout dévorer.
Ibid: 135

No interior do governo, o meio ambienta também passou a figurar depois de 1968. A criação
de um Ministério do Meio Ambiente na França, em 1971, passou pela reorganização de outros
ministérios: o da Indústria perdeu as prerrogativas de controle e o da Agricultura perdeu a tutela sobre
a pesca, a caça e a água. Pompidou, na visão de Cans, era favorável à industrialização, mas deu
espaço a um ministério verde porque era afeito à modernidade e considerava o meio ambiente um
tema do futuro (ibid: 125).
Alguns autores defendem que a ecologia política e os movimentos ecológicos,
independentemente da corrente ou da posição no interior da nebulosa, trouxeram ganhos por
questionar a dicotomia fundante da modernidade, qual seja, entre natureza e humanidade. Viveiros
de Castro (2007) afirma que “a crise [ambiental] se instala quando se perde de vista o caráter relativo,
reversível e recursivo da distinção entre ambiente e sociedade”. A crise emerge quando “nós” nos
damos conta de que é necessário abandonar a perspectiva antropocêntrica, segundo a qual o “nós”
exclui “ambiente”. No demos conta que a dominação da natureza pela humanidade era problemática,
segundo Déléage (1991), com a industrialização em massa depois da Segunda Guerra que gerou
problemas ambientais de escala global, como a ameaça nuclear e a poluição.
Mas parece mais interessante não pensar a ecologia política como uma resposta inevitável a
problemas que já estavam postos, pois a existência de problemas ecológicos é contemporânea à
ecologia política. Basta observar aquilo que se passa a chamar de catástrofes ambientais: problemas
naturais causados pela intervenção humana, seja na dimensão política, econômica ou social. É esse
o argumento de Latour (2004): a ecologia política se caracteriza por uma crise da Constituição
Moderna, ou melhor, uma crise da separação entre natureza e política. A ecologia política é paralela à
emergência de vínculos de risco, elementos que não são propriamente objetos, mas relações entre
objetos, efeitos, causas e consequências. Tais vínculos não tem contorno nítido: os produtores
aparecem à luz do dia, ao lado de seus produtos borrando as fronteiras entre política e natureza. A
produção científica, técnica e industrial passaram a ocupar lugar central na definição de um problema
ambiental.
Além disso, os problemas ambientais são concebidos como problemas de ordem universal,
no sentido de que não reconheciam limites geográficos, temporais ou sociais. Uma intervenção na
natureza em um ponto específico do globo geraria desdobramentos por todo o planeta, implicando em
uma necessidade de se criar políticas ambientais, ações e intervenções ecológicas que não estejam
ancoradas exclusivamente em fronteiras políticas tradicionais.
Os problemas ambientais só passam a existir juntamente com a crítica ao progresso e a
crítica da técnica. Pois os problemas ambientais são aqueles causados pela indústria, pela técnica e

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pela ação humana. Ou seja, emergem os problemas ambientais na medida em que a indústria, a
técnica e a ação humana deixam de figurar como solução futura para se converterem em problema
presente.

Considerações Finais
Mesmo que Ellul, Charbonneau, Illich e Gorz tenham sido pouco conhecidos nos anos 1960 e
70 (Cans, op. cit: 151), e que suas preocupações não fossem exclusivamente o meio ambiente
(Dufoing, 2011), podemos identificar uma série de elementos em seus trabalhos que permitem aos
intérpretes atuais classificá-los como precursores do decrescimento.
Esses autores estavam defendendo teses, cada um à sua maneira, de que o mundo mudara
consideravelmente e que eram necessárias novas abordagens e novas formas de intervenção na
realidade para poder transformá-la. A ecologia política e os movimentos ambientais que explodiram
sobretudo depois de 68 na França não se distanciavam desse projeto. Como mostra Jean Jacob, os
anos 1960 e 70 foram marcados pelo fim das esperanças oferecidas pela razão. A ciência não mais
levaria a um futuro melhor e inelutável, o progresso deixou de ser solução para tornar-se problema, a
industrialização tinha elevado o nível de vida material mas trouxera consigo novas formas de
restrições às liberdades humanas. Jacob (op. cit: 34-8) mostra ainda outras correntes teóricas e
outras disciplinas que teciam críticas ao progresso, como a antropologia de Pierre Clastres e as
teorias pós-modernas.
Os movimentos ecológicos, as correntes da ecologia política, juntamente com as teorias
sobre sociedade técnica ou sobre capitalismo monopolista surgiram como tentativas de responder a
um novo mundo. O progresso deixou de ser o horizonte, fazendo com que o futuro deixasse de ser
uma certeza. O presente entrou para o centro das reflexões e ações.
A rebours des principales forces politiques qui se proposent de maîtriser et dominar toujours
davantage la nature pour construire un monde meilleur, l'écologie politique se satisfait ainsi
volontiers du présent. Elle refuse de subordonner des privations actuelles à l'avènement d'un
paradis futur.
Ibid: 27

Na virada dos anos 70 para 80, a crise do padrão ouro, o desmantelamento das sociedades
de pleno emprego, o fracasso dos projetos de modernização nos países periféricos, o fim dos Trinta
gloriosos e a queda do Muro, tudo isso estendeu a crítica ao progresso tanto pela direita quanto pela
esquerda nos países centrais, e a única perspectiva que tinham diante de si era a guerra (Arantes,
2007). Paulo Arantes defende que diante da iminência da catástrofe, as políticas sociais e
econômicas se reorientam sob uma nova forma, a qual traz novamente para o primeiro plano o
mecanismo jurídico-político do estado de sítio (Arantes, 2010).
O que os autores aqui analisados construíram em suas teses, argumentos e mesmo em suas
vidas e militâncias foi algo análogo. Ao lado do diagnóstico da crise do progresso e da insuficiência do
progresso e das propostas de revolução socialista, estavam as críticas ao progresso, à ciência, ao
crescimento econômico e ao estado de bem estar social. Com os trabalhos de Ellul, Charbonneau,
Illich e Gorz, apreendemos todo um esforço de retraçar os rumos da esquerda diante do diagnóstico

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de falência das promessas do progresso por basicamente três vias: analiticamente, pela recusa da
luta de classes e pela identificação de uma nova forma de dominação; pela ênfase na vida cotidiana
como locus para se compreender as novas dominações, já que estas agora atuavam também nas
subjetividades; e finalmente pela definição de novos sujeitos da transformação social e proposta de
novas modalidades de luta.
A insuficiência da análise de classes nas sociedades ocidentais pós-Segunda Guerra era
produto de uma dominação ainda maior, de uma nova forma de exploração e dominação. A técnica, a
indústria, a economia, a propaganda, o lazer e o turismo, a medicina, e escola submetem todas(os) e
tudo a regras, valores e modos de vida heterônimas, cujos princípios e modos de funcionamento são
determinados pelo crescimento econômico e pela eficácia. Marx não era mais suficiente, diziam, pois
nessa sociedade heterônoma (o termo de Gorz sintetiza as teses dos outros autores) não há mais
uma dominação entre pessoas, mas uma dominação despersonalizada.
Certamente essa análise é bastante interessante. Trata-se de mostrar que uma pura forma,
sem qualquer conteúdo, determina as relações sociais e as relações entre humanidade e natureza
(inclusive, essa forma é que determina essa divisão na medida em que subjuga o que lhe é exterior).
Ao mesmo tempo, esses autores parecem não dar conta de pensar continuidades entre o que lhes
precedeu e o sistema com o qual estariam lidando. Mesmo que apontem o desenvolvimento histórico,
como faz Ellul com o desenvolvimento das técnicas e da organização na Primeira Guerra Mundial,
tudo se passa como se o sistema atual tivesse nascido em decorrência das necessidades da técnica,
ou que fosse algo novo sem qualquer precedente. São também expressivas dessa aparente
descontinuidade as reflexões de Illich sobre o subdesenvolvimento. Certamente o autor teve o mérito
de fazer uma análise considerando os países latino-americanos, enquanto os outros três (ao menos
entre os anos 1950 e 70) não pareciam dar a mesma atenção a realidades de países onde a técnica
não teria atingido o mesmo nível de totalização social. Mas Illich esbarrou em diversas explicações
ambíguas e contraditórias. Excluindo uma concepção de classes, as desigualdades apareciam ora
como produto do monopólio da técnica, da indústria, etc; ora como produtoras de um novo sistema de
dominação. Consequentemente, ora a pobreza parece ser inerente ao sistema, ora parece ser
anterior e exterior.
A questão é que os quatro autores não vêem um desdobramento dialético entre os modos de
produção e dominação anteriores e aqueles que analisam nas décadas de 1950 a 1970. É como se
houvesse toda uma nova configuração social sem qualquer relação com formas precedentes –
embora Gorz mantenha no início de sua obra, a terminologia neocapitalismo – que passa por novas
definições das relações sociais e da ação.
Marx, que foi deixado de lado e ainda hoje o é em nome de sua suposta insuficiência para
compreender o mundo contemporâneo, já anunciava n'O Capital a questão que esses autores
estavam defendendo. O burguês não explora o proletariado porque quer – e se assim fosse, o
capitalismo seria apenas um sistema moral. Segundo Marx, a relação contraditória de exploração
entre burguesia e proletariado é a forma que a contradição entre capital e trabalho assumem no
capitalismo já na sua origem. Ou seja, as relações de sociabilidade no capitalismo do fim do século

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XIX são tão heterônimas quanto nas chamadas sociedades técnicas ou no neocapitalismo dos anos
197018. Se há uma diferença entre esses dois momentos, trata-se antes de compreendê-los através
do desenvolvimento dialético do capitalismo do que como uma ruptura.
As teses de Charbonneau, Ellul, Illich e Gorz, ao lado dos movimentos ecológicos e das
correntes da ecologia política19 se constituíram como tentativas de compreender o mundo sem passar
pelo marxismo. As respostas que formularam deram ensejo a novas realidades. Por um lado, ao
recusar uma continuidade entre o sistema de dominação de classes e a dominação da técnica abriam
espaço para a reconfiguração da militância política fora dos meios tradicionais – o que se verifica hoje
no movimento contemporâneo de decrescimento na França, mas também nos movimentos
contemporâneos em São Paulo (Passa Palavra, 2011). Tudo se passa como se não fizesse mais
sentido pensar as lutas no "interior" da sociedade, e sim todas as pessoas tivessem que se unir para
lutar por algo que se tornou maior do que elas.
As questões ambientais constituíram, elas também, uma nova modalidade de compreensão
do social e de ação política. Uma sociedade subjugada pelo domínio da industrialização, da ciência e
do progresso corre riscos de catástrofes ambientais, geradas justamente por tal domínio desenfreado.
A transformação dessa situação passa por uma reconfiguração das ações das pessoas, que agora
devem se juntar. E, assim como vimos nos trabalhos dos quatro autores, a vida cotidiana e as
subjetividades são novos loci de reflexão e atuação no mundo, já que as novas dominações são
experimentadas até mesmo nos níveis mais íntimos da vida de uma pessoa.
Por outro lado, a ecologia política, as teses desses autores e todo o corpo de conhecimentos
e práticas instauradas no fim dos anos 1960, deram margem para uma configuração do social que
nega contradições no interior da sociedade em nome de um "problema maior", que é o meio
ambiente. Em nome dele as pessoas devem mudar seus modos de vida, muitas vezes como uma
determinação de políticas públicas ou por razões econômicas. Mészáros (1987) faz pesadas críticas
às propostas de restruturação da vida cotidiana para resolver problemas ambientais, principalmente
no que tange ao controle demográfico entre asiáticos, africanos e latino americanos: o sistema de
expansão da produção de supérfluos não é sequer questionada enquanto os custos ambientais desse
sistema são repassados para a população em geral. É como se, sob o pretexto da sobrevivência da
espécie humana, a população custeasse a sobrevivência de um sistema sócio-econômico permeado
por deficiências.
Quando vemos, atualmente, que o meio ambiente se transformou em requisito básico para
qualquer ação política e mesmo econômica, podemos pensar, como sugere Arantes, em que medida
as perspectivas de futuro (no caso, crises ambientais) passam pela realização efetiva de novas
configurações sociais. Uma vez eliminada a luta de classes do horizonte da ação política e enfatizada
a vida cotidiana como espaço de militância em muitos circuitos de esquerda, as crítica ao progresso,
à ciência, à propaganda, ao consumo de massas e à dominação da natureza trouxeram novas
maneiras de conceber e intervir na realidade que se verifica em diversos países, de diversas

18 Para uma crítica nessa linha feita a Gorz e à despersonalização do trabalho – que pode ser estendida às teses de Ellul e
Charbonneau sobre a organização técnica como nova forma de socialização – cf. Queiroz, 2006.
19 E ainda outras correntes e movimentos que explodiram no fim da década de 1960. Cf. Oelgart, op. cit; Arvon, op. cit.

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maneiras, inclusive do "lado" do capitalismo, que agora usa os problemas ambientais como
argumento para continuar a desenvolver sua lógica sem ter que se defrontar com conflitos sociais –
como defende o filósofo brasileiro Renato Janine Ribeiro:
O ideal [do desenvolvimento capitalista não predatório] é audacioso: o exemplo é o da água que a
indústria devolve ao rio, tão limpa como entrou. Quer dizer: que o uso humano dos recursos
planetários lhes cause o menor dano possível e, com o avanço da ciência, um dia até os melhore.
Estamos a mil léguas do uso de combustíveis fósseis, da predação dos minérios, do aquecimento
global. É uma utopia, mas com forte base na ciência – e, o que é raro na história das utopias, nas
ciências da vida mais que nas ciências humanas.
Esse projeto não se choca diretamente com as ideologias. Não divide as pessoas em direita e
esquerda, em mundo do trabalho e do capital, em movimentos socialistas e liberais. Por isso, é um
movimento simpático. Mas é exigente. Requer uma mudança radical do nosso trato com a
natureza e também com o ser humano. Para isso, o que falta? A tradução da linguagem científica,
que é um de seus pontos fortes, em convicção moral.
Ribeiro, 2011. Grifos meus

Novas nebulosas da esquerda sugeriam outra forma de compreender o "social". Transferiram


o conflito "no interior da sociedade" para um conflito entre "humanidade" e "técnica". Jacob ( op. cit.)
afirma que as "mudanças sociais" foram transformadas em "mudanças nos modos de vida". Logo, a
própria noção de sociedade não poderia mais se manter intacta. De um todo cindido, passa-se à
pluralidade de pontos de vista e à diversidade. Segundo Oelgart (1970), as novas tendências de
esquerda em voga a partir do fim dos anos 1960 não buscavam mais uma totalidade. Afinal, a
totalidade, defendiam Charbonneau, Ellul, Illich e Gorz, era produto de um sistema que submetia
tudo, sobretudo as necessidades e desejos, à técnica e à economia – totalidade era totalitarismo.
A combinação entre crise do marxismo, fim da luta de classes e atenção às subjetividades e
modos de vida reconfiguraram o social e a ação. Ações "em rede", "multiplicidade", "pontos de vista",
"impossibilidade de se acessar a verdade" ou "a totalidade", as teorias pós-modernas, tudo isso se
configurou ao lado da emergência da ecologia política e de movimentos ecológicos. O movimento
contemporâneo de decrescimento em Lyon permite vislumbrar esse argumento. Não mais luta de
classes por um lado, nem mais sociedade totalizada por outro. O decrescimento se organiza como
nebulosa, defendem militantes e analistas, sem centro, sem limites precisos. E se há uma tentativa de
militar por uma transformação em larga escala, ela se dá pela mobilização individual, quando uma
militante frequenta associações feminista, de saúde, contra a publicidade, consome produtos
orgânicos e busca espaços de convívio pouco individualistas.
Não são aleatórias as referências do decrescimento a Deleuze e Guatarri e a Bruno Latour.
Mas também não é aleatório o esforço de Renato Janine Ribeiro em restabelecer um capitalismo
simpático, sem luta de classes.

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