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outras condutas:
feminismos e humor gráfico nos
quadrinhos produzidos por mulheres
"Nu frontal". Chiquinha. 2013, fotografia (detalhe).
resumo abstract
O artigo chama a atenção para o hu- The article draws attention to the graphic
mor gráfico de mulheres cartunistas humor produced by women cartoonists
no Brasil, centrando o enfoque na in Brazil, focusing on the production of
produção da cartunista Fabiane Lan- cartoonist Fabiane Langona, who signs as
gona, que se assina como Chiquinha. Chiquinha. The aim is to discuss how her
O objetivo é discutir como seu trabalho work entails new nuances that suspend
comporta novas nuances que colocam categories and standards considered sta-
em suspensão categorias e normas ble and permanent, thus reinvigorating
consideradas estáveis e permanentes, the contemporary debate developed by
revigorando, desse modo, o debate feminist groups. This approach aims to
contemporâneo desenvolvido pelos explore the critical and subversive poten-
grupos feministas. Com tal aborda- tial of feminist-focused graphic humor,
gem pretende-se explorar o potencial marking the commitment to express
crítico e subversivo do humor gráfico a critique and problematization of the
com enfoque feminista, assinalando normative standards imposed on women,
o empenho em expressar uma crítica while highlighting the plural and complex
e problematização dos padrões nor- networks of power and their different
mativos impostos às mulheres, ao forms of manifestation.
mesmo tempo em que lança luz sobre
as plurais e complexas redes de poder
existentes e as suas distintas formas de
manifestação.
palavras-chave: humor gráfico; femi- keywords: graphic humor; feminism;
nismo; cultura. culture.
℘
1
O artigo é parte da pesquisa
desenvolvida no Programa A história cultural do humor é um campo que se consolidou no âm-
de Pos-doctorado en Ciencias
Sociales de la Facultad de Cien-
bito dos estudos históricos a partir dos anos 1990 tendo como suporte as
cias Sociales da Universidad de questões abertas pela história cultural entendida, em linhas gerais, como
Buenos Aires (UBA). o analise das práticas e dos processos de constituição identitárias e de
2
Ver SALIBA, Elias Thomé. Tre- construção de sentidos do mundo social.2 Nesse campo de investigação,
ze obras para conhecer a histó-
ria cultural do humor. In: FA-
as “manifestações humorísticas” passaram a ser pensadas como operações
RIA, João Roberto (org.). Guia intelectuais que oferecem formas de apreensão e estruturação da sociedade
bibliográfico da FFLCH, São Pau- em que se insere, bem como um modo de acessarmos representações cultu-
lo, USP, 2016, v. 1. Disponível
em <https://www.fflch.usp.br/ rais de uma época, aspectos que despertam para os seus usos, apropriações
sites/fflch.usp.br/files/2017-11/ e, também, para os vetos sociais impostos.
Histo%CC%81ria%20cultu-
ral%20do%20humor.pdf >.
As pesquisas em torno desse tema apresentam dois aspectos impor-
Acesso em 10 mar. 2018. tantes: primeiro, a pluralidade das fontes empregadas, dando visibilidade
O universo de Chiqsland
Muitas vezes ouvi comentários de que eu seria um autor disfarçado, que adotara
um codinome para testar e expor uma nova linguagem sem grandes traumas. Ou 33
LANGONA, Fabiane, op. cit.
seja, com base em alguns temas que até então divergiam do que se esperava de uma 34
A partir de 2006, Fabiane
singela mocinha – como sexo, que na mentalidade de alguns é obsessão exclusiva adotou o pseudônimo de Chi-
qsland, o mesmo que dava
do sexo masculino – minha produção era frequentemente identificada como a de um nome ao seu blog Chisqsland
autor se passando por mulher. Essa constatação estapafúrdia era mais crível que a Corporation hospedado no Uol.
Em outubro de 2017, quando
de uma mulher estar produzindo quadrinhos de humor.35
reassumiu na Folha de S. Paulo,
anunciou a vontade de come-
Formada em comunicação, Chiquinha foi assistente de redação e arte çar a assinar com seu próprio
nome, algo que ainda não
finalista da revista MAD no Brasil entre os anos de 2005-2008. Trabalhou concretizou. Em suas palavras,
como cartunista no Jornal do Brasil (2005), Jornal do Comercio (de Porto Ale- “Sempre gostei muito do ‘Pas-
quim’, da velha guarda, e todos
gre, 2006-2007), Diário de Pernambuco (2006-2008), Zero Hora (2006-2009), O eles tinham nomes incríveis,
Estado de S. Paulo (2010), Folha de S. Paulo (2007-2015), além de ter publicado como Jaguar. O meu nome não
em várias revistas nacionais e internacionais. Participou de 16 exposições, parecia um nome de alguém
que fazia humor. Agora cansei
sendo 3 individuais e as demais coletivas e em 2012 foi premiada na cate- disso. De uns tempos para cá,
goria Melhor publicação de humor, do Troféu HQ Mix, considerada uma comecei a ficar com vontade de
ter um nome”. LANGONA, Fa-
das mais tradicionais e importantes premiações dos quadrinhos brasileiros. biane apud RIBEIRO, Amanda.
Entre 2006 e 2016 hospedou no portal Uol o blog Chiqsland Corporation, Série ‘Chiqsland’, de Fabiane
onde informava seus leitores sobre suas publicações, projetos, atividades e Langona, estreia como tira di-
ária na Folha. Folha de S. Paulo,
publicações a seu respeito, além de reunir grande parte do material produ- São Paulo, 3 out, 2017. Disponí-
zido. Atualmente o blog não é alimentado de forma contínua, mas em sua vel em <http://m.folha.uol.com.
br/ilustrada/2017/10/1923751-
fanpage encontramos informações atualizadas sobre suas atividades e as -serie-chiqsland-de-fabiane-
novas tiras publicadas. A partir de 3 de outubro de 2017 foi convidada para -langona-estreia-como-tira-
substituir Allan Sieber na publicação das tiras diárias na Folha de S. Paulo. -diaria-na-folha.shtml>. Acesso
em 4 jan. 2018.
Produziu dois livros: o primeiro em 2011, Uma patada com carinho:
35
LANGONA, Fabiane. Uma
as histórias pesadas da Elefoa cor-de-rosa, publicado pela editora paulista mulher cartunista? Explique-se
Leya, apresenta as tiras e quadrinhos da Elefoa cor-de-rosa, a primeira sobre isso, op. cit.
45
A série consiste em quatro
cartuns em que a autora protag-
oniza condutas que, em geral,
são camufladas no convívio
social.
Figura 6. “Segredinhos revelados”. Chiquinha. 2014.
47
RUSSO, Mary. O grotesco fe-
minino: risco, excesso e moder-
nidade. Rio de Janeiro: Rocco,
2000, p. 24.