• No Brasil, segundo a ABEDA (2018), mais de 90% dos pavimentos são flexíveis, sendo que o dimensionamento dessas estruturas é realizado empregando o método de projeto de pavimentos flexíveis desenvolvido pelo engenheiro Murilo Lopes de Souza, em 1981 (SOUZA, 1981), do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, DNER, mais conhecido como método do CBR, que tem como base o método americano que foi desenvolvido a partir dos resultados dos estudos realizados na pista experimental da AASHO (AASHO Road Test), construída em 1960, nos Estados Unidos. • O método é baseado na classificação de solos do TRB (Transportation Research Board), no ensaio de índice de suporte Califórnia, ISC, mais conhecido como CBR (California Bearing Ratio) e no tráfego, N, que solicitará o pavimento. • Além do ISC ou CBR, o método considera o coeficiente de equivalência estrutural, k, de cada material que vai compor o pavimento. • Os diferentes materiais constitutivos do pavimento foram comparados com o material granular, considerado padrão, k = 1,0, sendo definidos coeficientes de equivalência estruturais apresentados na Tabela 3.3. • Os coeficientes estruturais das camadas constituintes do pavimento são designados por R k (revestimento), B k (base), S k (sub- base) e Re f k (reforço do subleito). • O dimensionamento do pavimento consiste em determinar as espessuras das camadas que vão constituir o pavimento, considerando o tráfego (N) e a capacidade de suporte de cada material (ISC ou CBR). • A Figura 3.9 apresenta um esquema de uma estrutura de pavimento com todas as camadas que pode ter um pavimento e suas respectivas espessuras. • Os símbolos R, B, h20 e hn designam, respectivamente, as espessuras do revestimento, da base da sub-base e do reforço do subleito. • A espessura H20 corresponde à soma das espessuras das camadas de revestimento e base (R+B), que estarão apoiadas sobre a camada de sub-base ( h20 ). • Mesmo que o CBR do material da sub-base seja superior a 20, determina-se a espessura para CBR = 20, por esta razão, usam-se sempre, os símbolos H20 e h20 para designar as espessuras de pavimento sobre a sub-base e da sub-base, respectivamente. • A espessura Hn corresponde à soma das espessuras das camadas de revestimento, base e sub-base ( R+B +h20), que estarão apoiadas sobre a camada de reforço do subleito (hn), que possui ISC ou CBR = n. A espessura Hm corresponde à soma das espessuras das camadas de revestimento, base, sub-base e reforço do subleito ( R+B+h 20+hn ), que estarão apoiadas sobre o subleito de CBR = m. • A espessura mínima do revestimento asfáltico, R, é definida em função do tráfego N, de acordo com a Tabela 3.4. • A espessura mínima recomendada para os revestimentos asfálticos é utilizada tanto para proteger a camada de base dos esforços impostos pelo tráfego, como para evitar a ruptura do próprio revestimento por esforços repetidos de tração na flexão (SOUZA, 1981). • Para determinar os valores de H20 , Hn e Hm , deve ser utilizado o gráfico da Figura 3.10, que fornece a espessura total do pavimento em função do N e do ISC ou CBR. • A espessura H é determinada da seguinte forma: entra-se em abscissa com o valor do N, procede-se verticalmente até encontrar a reta representativa ao valor de CBR. • Em seguida, procede-se horizontalmente até as ordenadas e determina-se a espessura total do pavimento, H. • A espessura fornecida corresponde aos materiais com coeficiente estrutural k =1, material granular. • Uma vez determinadas as espessuras H20 , Hn e Hm pelo gráfico da Figura 3.10 e R pela tabela de espessura mínima de revestimento asfáltico, as espessuras da base (B), sub-base (h20) e reforço do subleito (hn) são obtidas pela resolução sucessiva das seguintes inequações: • Para sub-base com CBR >= 40% e N <= 106 , admite-se substituir na primeira inequação H20 por 0,80xH20. • Para N>107 , recomenda-se substituir na primeira inequação, H20 , por 1,2XH20 . • A espessura mínima a considerar para camadas granulares é de 15 cm. • Exemplo: • Apesar de atualmente se falar em desenvolvimento de um método mecanístico, ainda o do CBR, como é conhecido o método desenvolvido por Souza (1981), é o que está em vigência e sendo adotado pelos órgãos rodoviários e empresas de projetos de pavimentos brasileiros. Dimensionamento de pavimento rígido • Dentre os métodos de dimensionamentos de pavimentos rígidos, os mais difundidos são o da Portland Cement Association (PCA) de 1966 e 1984 e o método da American Association of State Highway and Transportation Officials (AASHTO) (1993). • O método da PCA (1984), atualmente um dos mais empregados no Brasil, está fundamentado na teoria de Westergaard (1925) e nos ábacos de Pickett e Ray e emprega a teoria de Boussinesq, em que o deslocamento é diretamente proporcional à pressão exercida, expresso pelo coeficiente de recalque (k) também denominado de módulo de reação ou módulo de Westergaard (DNIT, 2005). • A diferença entre os métodos da PCA é que o método de 1984 considera o uso de barras de transferência de cargas entre as placas, em que a posição crítica está na borda longitudinal. • A espessura da placa de concreto é definida em função da resistência à flexão do concreto, com base no consumo de resistência à fadiga (CRF), quando essa placa é submetida à ação repetida de carga de tráfego durante o período de projeto (DNIT, 2005). • O consumo da resistência à fadiga é associado à relação tensão de tração/ módulo de ruptura do concreto ao qual a placa de concreto será submetida durante a vida de serviço. • Quando a relação tensão de tração/módulo aumenta, ocorre a diminuição do número de solicitações, que pode gerar falha à placa de concreto e, quando essa relação diminui, o número de solicitações para que ocorra a falha aumenta. • Dessa forma, pode-se concluir que a passagem de uma única carga, suficiente para gerar tensões de tração a uma dada placa de concreto, não ocasionará dano. • No entanto, a passagem de sucessivas cargas (na ordem de milhões) ocasionará a falha por fadiga da placa. • O parâmetro tensão de tração é obtido através dos ábacos desenvolvidos por Picket e Ray, que teve como base a equação de Westergaard e foi concebido considerando carga dinâmica, uma vez que se trata de cargas de veículos em movimento, enquanto o módulo de ruptura é um parâmetro determinado em laboratório através de um ensaio estático (DNIT, 2005). • Devido à diferença da forma de atuação da carga, é preciso aplicar um fator de segurança de carga (FSC). • FSC = 1,0 para tráfego leve – estradas rurais, ruas residenciais. • FSC = 1,1 para tráfego médio – rodovias e vias urbanas com tráfego de caminhões pesados. • FSC = 1,2 para tráfego pesado – rodovias. • FSC = 1,3 para tráfego especial. • O método de dimensionamento do pavimento consiste em verificar se a espessura inicialmente adotada é compatível, considerando o consumo de resistência à fadiga provocada pela ação do tráfego. • O método usa como dados de entrada as características do subleito da via (valor do CBR da camada subjacente), os dados do tráfego (obtidos através de contagem volumétrica classificatória) e as propriedades do concreto (expressas em resistência). • No pavimento rígido, a placa de concreto tem a função de base e de revestimento. • A camada subjacente onde a placa de concreto está assente é a sub-base e abaixo dessa está o subleito. • Sempre que nos referirmos à camada subjacente à placa de concreto estaremos nos referindo ao conjunto da sub-base e subleito. • As teorias que foram empregadas para desenvolvimento do método da PCA consideram a tensão de tração das placas que, por sua vez, depende do coeficiente de recalque (k) das camadas subjacentes (sub-base e subleito). • Os coeficientes devem ser determinados no topo da camada onde a placa é assente e também no topo do subleito através de um ensaio em uma prova de carga estática, conforme a norma DNIT 055-ME (DNIT, 2004), onde são correlacionadas as pressões verticais transmitidas ao subleito por meio de uma placa rígida (com 76 cm de diâmetro) e os deslocamentos verticais correspondentes. • No entanto, como é um procedimento muito demorado e dispendioso, admite-se considerar a correlação entre os valores do coeficiente de recalque do solo do subleito e os valores obtidos para o índice de suporte Califórnia (ISC ou CBR) deste subleito. • A seguir são apresentados os passos para o dimensionamento de um pavimento rígido (DNIT, 2005): a) Definição dos parâmetros de dimensionamento: • Determinação do tráfego esperado para cada nível de carga e de acordo com a vida de projeto do pavimento. • seleção do tipo de acostamento e adoção ou não de barras de transferência. • determinação da resistência à tração na flexão aos 28 dias. • determinação do coeficiente de recalque, k. • seleção do fator de segurança, FSC. • b) Seleção de uma espessura tentativa de concreto (15 a 30 cm): • Determinação da tensão equivalente, obtida dos Quadros 12 e 13 (pavimento sem acostamento de concreto) ou 14 e 15 (pavimento com acostamento de concreto) do Manual de Pavimentos Rígidos do DNIT (DNIT, 2005 - páginas 111 a 114), para eixos simples, tandem duplos e tandem triplos, em função da espessura estimada da placa, H, e do coeficiente de recalque do sistema, k. c) Determinação dos fatores de erosão, de acordo com o tipo de junta considerada e o tipo de acostamento, para os eixos simples, tandem duplos e tandem triplos, obtidos nos Quadros 16 a 23 do Manual de Pavimentos Rígidos do DNIT (DNIT, 2005 - páginas 105 a 112). d) Cálculo dos fatores de fadiga para os eixos simples, tandem duplos e tandem triplos, dividindo as tensões equivalentes pela resistência de projeto. e) Com o fator de fadiga e as cargas por eixos simples e tandem duplos, determinam-se as repetições admissíveis (análise por fadiga, obtidos das Figuras 27 a 29 do Manual de Pavimentos Rígidos do DNIT (DNIT, 2005 - páginas 112 e 115)). Os eixos tandem triplos são considerados para a determinação das repetições admissíveis como 3 eixos simples, cada um com um terço da carga total. f) Com o fator de erosão e as cargas por eixo simples e tandem duplos, determinam-se as repetições admissíveis. g) Dividem-se as repetições esperadas pelas respectivas repetições admissíveis, determinadas tanto na análise por fadiga como na análise por erosão, determinando-se as porcentagens de resistência à fadiga consumida e o dano por erosão. h) Verifica-se se a espessura estimada cumpre os requisitos solicitados. Caso a espessura tentada seja insuficiente, deve- se repetir o cálculo com uma espessura maior. • Se a porcentagem de resistência à fadiga consumida ou a porcentagem de dano por erosão ficar próxima de zero, as condições são consideradas satisfeitas, mas a placa estará superdimensionada. • Sendo assim, recomenda-se diminuir a espessura do pavimento para buscar obter porcentagens o mais perto possível de 100%.