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RESENHA: O Movimento Modernista, de Mário de Andrade

Giullian Monteiro Carneiro¹

O texto oriundo de uma palestra de Mário de Andrade para Casa do Estudante do


Brasil, em celebração aos 20 anos da Semana da Arte Moderna conta com as memórias e as
reflexões do autor de Macunaíma a respeito de tão importante evento para cultura brasileira.
O texto reúne não só ponderações a respeito do Modernismo em si, mas também revela
acontecimentos que antecederam a Semana, bem como curiosidades dos seus bastidores
reveladas por alguém que é considerado um dos seus principais ideólogos.

A respeito do contexto em que se deu a palestra, cabe ressaltar que foi bastante distinto
do que influenciou a Semana de Arte Moderna, pois em 1942 o Brasil passava pelo Estado
Novo de Getúlio Vargas e o mundo enfrentava temerário a Segunda Guerra Mundial. Desse
modo, as preocupações artísticas e sociais de Mário de Andrade já não podiam ser as mesmas
de duas décadas no passado. Ademais, o próprio estado físico e mental do autor sofrera
mudanças significativas quando o próprio enfatiza já está “na rampa dos cinquenta anos”.

Diante do exposto acima, é completamente aceitável que em o Movimento Modernista


não encontremos mais o autor “destruidor” e “revolucionário” que idealizou o Modernismo,
mas sim alguém que rememora com saudosismo as festas, reuniões e “orgias” intelectuais,
reconhecendo esse clima frenético como algo que o manteve resoluto diante das vaias e
represálias por propor uma estética tão provocante quanto a do Modernismo. Mário de
Andrade reconhece que, não fosse o caráter coletivo da Semana, ele teria retrocedido, o que se
torna evidente quando ele reconhece ter se “enceguecido pelo entusiasmo dos outros”.

A respeito da ação coletiva dos artistas na década de 20 (incluindo-o nessa leva), o


autor reconhece que embora tenham travado uma luta sincera e que tenham levado a sério sua
proposta, conseguiram algo que, passado 20 anos, já não possui tanto sentido, isto deve-se a
terem discutido a moda da época e terem “cutucado” os valores tradicionais eternos, a
combinação desses equívocos teria gerado um aspecto de caduquice a obra de alguns deles.

Contudo, Mário de Andrade reconhece a inevitabilidade do Modernismo, bem como


sua necessidade de ter se apresentado naquele momento, ele admite ainda que, no passado,
houveram outros movimentos que buscaram ideias semelhantes aos ansiados pelos
modernistas revolucionários. Ao afirmar que o Modernismo gerou uma liberdade de criação e
¹Licenciando do curso de Letras Português da UFAC – Campus Floresta
pesquisa que é bastante usufruída por artistas após a Primeira Geração Modernista e que
muitas vezes tais artistas se quer reconhecem o débito que possuem com os modernistas.

Em suma, é importante e interessante compararmos os dois momentos de um mesmo


autor e mesmo teórico da Literatura, vendo suas evoluções e correções a respeito de dada
época no passado, desse modo podemos comprovar o quanto o contexto de produção pode
influenciar as conclusões extraídas a partir do mesmo indivíduo.

¹Licenciando do curso de Letras Português da UFAC – Campus Floresta

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