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CO M
257 # 09.03.2008
Jornal Diário | Ano LX I | Nº19007 | 0,55 e
Fundado em 1946 | Terceira | Açores
efeméride
em nemésio
Açorianidade
museu aberto 062 NOTA DE ABERTURA
FOTOGRAFIA antónio araújo José Lourenço
Computador Portátil
04 Vitorino Nemésio - 30 anos depois
Nemésio:
[REPORTAGEM] em nome da açorianidade
1.Em 1975, Vitorino Nemésio redige
14 Maduro-Dias
conceito de “Açorianidade” para se in-
[VELA DE ESTAI] surgir, embora de forma pouco estri-
dente, contra a convulsão política que
16 Celebrar Nemésio
se vivia no País e nos Açores nessa altu-
[REPORTAGEM] ra. Os quatro textos de Vitorino Nemé-
sio são, ao mesmo tempo, um grito de
20 Principezinho de Saint-Exupéry
mas também um contributo para a rea-
[REPORTAGEM] firmação – e eventuais esclarecimentos
– da “Açorianidade”, conceito que defi-
niu em 1932. Entretanto, na Praia da Vi-
tória, decorreram, recentemente, cele-
brações, a propósito do trigésimo ani-
versário da sua morte. O que mais ficou
evidente foi a natureza açoriana enraiza-
da na pessoa do escritor praiense que,
crescendo por esse mundo fora, mante-
ve e fermentou o espírito da açorianida-
de que ele próprio inventou na palavra.
2.Filipe La Féria trouxe a Angra uma
adaptação para teatro de “O Principe-
zinho”, a obra de referência do nosso
imaginário infanto-juvenil. Recorrendo
às potencialidades que o texto ofere-
ce ao nível da dramaturgia e também
às novas tecnologias (vídeo, som e
luz), Filipe La Féria deu um toque mui-
to peculiar a uma história que encan-
ta gerações e que se baseia na poesia
24 Guilherme Marinho
e no imaginário de um pequeno prínci-
[OPINIÃO] pe que vive num asteróide e que visita
a terra. A obra-prima do francês Antoi-
25 Arnaldo Ourique
ne de Saint-Exupéry tem 80 milhões de
[OPINIÃO] livros vendidos, em cerca de 500 edi-
ções, distribuídas por quase 160 lín-
26 Fernando Lopes
guas, sendo a obra mais lida em todo
[DESPORTO] mundo depois da Bíblia.
3.Graças aos seus métodos inovado-
28 Sugestões
res, Fernando Lopes revolucionou o fu-
Computador Portátil, Hewlett Packard, nitor de LCD (cristal líquido) considerado grande, e, como [AGENDA] tebol terceirense nas décadas de 60 e
Portable Vectra CS. acessório, um adaptador para um monitor externo. Este 70, conquistando diversos êxitos ao ser-
29 Cartoon
Séc. XX. C 41,5 x L 35,5 x A 9 cm. MAH.R.2008.128. computador portátil foi introduzido no mercado em 1987. viço do União Praiense, SC Praiense e,
Disponível em duas configurações de armazenamento – Todavia, devido à sua dimensão e custo significativo, o [TIRO&QUEDA] sobretudo, SC Angrense. Crítico da Sé-
duas drives de disquetes ou uma drive de disquete e um Vectra CS não teve sucesso. rie Açores, defende as virtudes da for-
disco rígido de 20MB –, o Vectra CS apresentava um mo- Este computador pertence ao acervo do Museu de Angra do Heroísmo. mação.
DI DOMINGO 09.MARÇO.2008
reportagem rui messias fotografia António araújo Os quatro textos que Vitorino Ne-
No convulso ano de 1975, Vitorino Nemésio redige fora sobre o rumo a seguir.
quatro escritos (dois deles publicados, primeiro, no E nesses textos Vitorino Nemésio não só recupera os
Jornal Novo) onde se insurge contra as sucessivas traços essenciais que havia definido no seu texto de
celeumas que se iam dando nos Açores, particular- 32 (“O Açoriano e os Açores”) como se coloca ao la-
mente as tentativas políticas de influenciar o curso do da vontade insular pela autonomia.
da vontade autonómica que sagrava no arquipélago. “Os Açores sentem-se como gente – este é um facto.
Recuperando os traços essenciais da “Açorianidade” São uma forte variedade de nação portuguesa criada
– que definira em 1932 – o escritor praiense – “ilhéu em meio milénio no isolamento norte-atlântico. Se
e cidadão do mundo” – usa o conhecimento intrín- geograficamente distribuem os ventos e índices tér-
seco que da alma insular tinha para explicar aos lo- micos que hão-de tocar à Europa, porque demónio,
cais e aos “continentais” que o povo das ilhas nada politicamente, não decidirão das correntes de ideias
queria das revoluções, dos activismos e do confronto e interesses que os agitam, das instituições que lhes
ideológico que se registava no resto do território na- convêm?”, escreve a 05 de Outubro, no texto intitu-
cional: «(…) ilhas de má morte para a politização de lado “Açores: de onde sopram os ventos”, o tercei-
encomenda, para onde é pena não se poder mandar ro da série.
meia dúzia de chaimites e uns milhares de pistolas- E é neste texto que Nemésio critica a postura de mui-
metralhadoras com hortênsias em de vez dos cravos tos nacionais para com o arquipélago: «Seja qual for
que já faltam nos canos. a configuração de direito público que o povo dos
Se bem que ilhéu, depois de morto, ainda dá coice», Açores venha a tomar, o que é notável, imediatamen-
escreveu num desses textos. te histórico, é o grau de consciência a que chegou da
vitorino nemésio «Ao sol ouro-verde do amanhecer da minha velha sua singularidade territorial e cívica. Já se falou de
Em defesa da
Angra, entregue ao acaso de ruas e travessas, nis- «Estado federado», que um alto responsável decla-
to eu pensava, e entendia então que ninguém de fo- rou «imaturo». Ora, o que é imaturo significa também
ra parte tem nada que ensinar a esta gente», escre- que pode vir a amadurecer. (…) Felizmente a «aço-
veu noutro. rianidade», a força do carácter açoriano, só é pes-
Os quatro textos – publicados entre Setembro e Ou- te para certos progressistas que fazem imperialismo,
Açorianidade
tubro no Diário Insular – traçam o perfil do açoriano, como Monsieur Jourdain fazia prosa, sem se aperce-
fazendo, em paralelo, denotar a simpatia de Nemé- berem de tal. Para nós outros, meus natos, contuma-
pormenor do quadro de antónio dacosta | museu de angra do heroísmo sio pela estabilidade construída nas ilhas durante vá- zes, açorianidade é o nosso modo de afirmação no
rios séculos. mundo e alma que sentimos, na forma de corpo que
“Perante as injunções do «processo revolucionário» levamos”, assume, para logo garantir que esta vonta-
o açoriano, em geral, reage mal. Apesar de ter mui- de de se governar não é sinónimo de qualquer senti-
to a reivindicar no plano da justiça social, põe acima mento separatista ou de procura de uma identidade
Em 1975, Vitorino Nemésio redige quatro textos – que Diário de tudo o nível da paz existencial e pública que atin- diferente da assumida durante séculos.
giu. Detesta que o catequizem em nome de qualquer “Lusos somos, português falamos, com o algarvio
Insular publicou na íntegra nesse ano e que reedita nesta forma de progresso”, alega Vitorino Nemésio no pri- e o baiano, o minhoto e o madeirense, o cabo-ver-
meiro texto, intitulado “Açores, gente arcaica”, que diano e o nativo do Rio Grande do Sul, que povoa-
edição – onde recupera o conceito de “Açorianidade” para leva, primeiro, à página no Jornal Novo – quase co- mos. Lá está Portugal, Alegre, antigamente chamado
mo um aviso à navegação – e depois deixa publicar «dos Casais («açoritas», como lá dizem), para o po-
se insurgir, embora de forma pouco estridente, contra a no Diário Insular (a 23 de Setembro de 1975), abrin- voar com alguns milhares de descendentes de nos-
do a série de quatro redacções que, em boa verdade, sos avós emigrantes, idos em arca de Noé com suas
convulsão política que se vivia no País e nos Açores nessa demonstram a vontade do escritor em intervir, em, mulheres, enxadas, vestimentas, nomes – os Barce-
usando a sua prosa, lançar mão dos valores que su- los, os Goulartes, os Terras, os Ornelas que dos lago-
altura.» portam a alma açoriana e alertar para dentro e para ais de São Pedro às raias do Paraguai e da Argentina
DI DOMINGO 09.MARÇO.2008
ainda hoje proliferam”, sublinha. rino Nemésio (que no texto “De onde sopram os Açores, gente arcaica?
Dos quatro textos – embora o último, publicado a ventos”, publicado a 05 de Outubro de 1975, ex- É fácil surpreender a atitude das populações dos Açores na
15 de Outubro de 1975, Nemésio demonstre não ter plica essa influência) observou a terra, procuran- tremenda crise histórica que vivemos. Outro tanto não direi da
vontade de ser mais um escritor ao serviço da polí- do no empirismo do quotidiano a alma do ilhéu. focagem dos problemas que as preocupam, cujas soluções a
tica – ressaltam os traços que o escritor, anos antes, Por isso, considerou o micaelense o mais trabalhador, longo prazo se não deixam formular com transparência. Pe-
definira como característicos do povo açoriano. o mais introvertido e talvez o mais rude nos tipos ru- rante as injunções do «processo revolucionário» o açoriano,
Gente calma, ordeira, acostumada à solidão, com rais, o terceirense bem menos trabalhador, mais fes- em geral, reage mal. Apesar de ter muito a reivindicar no pla-
uma vida marcada pela dureza, mas assente nos va- teiro e convivente, com traços de certa manha rural, no da justiça social, põe acima de tudo o nível da paz existen-
lores da família, da honra e do trabalho. Gente que agrupando a ele os açorianos “das ilhas de baixo”. cial e pública que atingiu. Detesta que o catequizem em nome
prefere a paz e o sossego ao rebuliço da urbanidade, Nessa caracterização, o escritor destacou o pico- de qualquer forma de progresso. Isso, para ele, equivale a di-
mas indivíduos capazes de reagir perante situações ense, chegando ao ponto de o considerar a “na- zerem-lhe que é retrógrado – não o consente, como quem lho
contrárias ao seu credo. ta do insulano”: “homens do mar, homens de pa- diz é «continental», em regra, ou se apoia em critérios e na au-
“Os casos contados de «continentais» actualmente lavra, dando conta da vida com frontalidade e brio”. toridade da metrópole, o ilhéu ou finca-se, rejeita o ferrete.
marginalizados ou mesmo expulsos das ilhas pelos Nos textos que escreveu sobre os Açores – pensa- Para se entender isto é preciso ter convivido muito nestas pla-
naturais indignados devem-se ao papel sectário que dos, sobretudo, para mostrar ao mundo o seu mun- gas, nestes rincões de apartamento, de solidão saturada. A
se prestaram a desempenhar no recente improviso do, a sua terra natal – Nemésio fixou o torpor da ne- imagem do «continental», hoje transtornada, era benvinda nas
ilhéu revolucionário. Mas até com patrícios que to- gra lava, imagem constante no seu imaginário, feito ilhas. A gente de fora tinha para o ilhéu o prestígio dos meios
maram idêntica posição o ilhéu procedeu da mesma de homens rijos, de honra, extraídos da solidão im- grandes, o antigo contacto da corte, da capital, da moda. Só
maneira, como ainda há pouco tempo nesta ilha Ter- posta pelo mar pela necessidade da sobrevivência. era detestado o exactor, o magistrado prepotente, o burocrata
ceira, onde escrevo”, conta Nemésio do “Açores, gen- A sua “Pátria Açoriana” acabou resgatada pelas nar- que se dava ares de dono de roça.
te arcaica”, relatando a história de um jovem local rativas autonomistas, consagrando-se como a subs- Mas o tipo de intruso acintosamente assumido era relativa- romperam no aeroporto, sem quererem saber do controlo, até
que, portador de documentos de activistas no Con- tância teórica justificadora da diferenciação dos ha- mente raro. Ou o funcionário de fora se mostrava alérgico ao ao terminal. Aí, em acalorado diálogo com o comandante do
tinente, foi acompanhado por uma extensa comitiva bitantes das ilhas. clima, aos usos, à lentidão das gentes – e muitas vezes era primeiro avião a partir, obrigaram-no a receber o proscrito a
até ao aeroporto e recambiado para a metrópole no Nessa altura, e mesmo em intervenções posteriores, ele próprio que, não podendo mais, partia – ou se resignava bordo apesar de não incluído na lista de passageiros sem le-
primeiro avião que deixou a Terceira. Nemésio sempre garantiu a sua falta de vontade em ao diferente e até, em muitos casos, se adaptava entusiásti- var a pasta dos «dossiers» que previamente confiscaram. Tudo
“O exemplo citado pertence à tipologia de levantes assumir-se como interventor político, como agente co ao modo de viver insular, exaltando a paisagem, adoran- isto com resistência manifesta à intervenção da autoridade e
de uma sociedade de um querer colectivo arcaiza- de mudança, ou mesmo como autor de palavras com do os pitéus – a alcatra, as lapas – e em tudo revelando-se clara decisão de ali jogarem as últimas.
do, - a mesma que outrora esbulhada das suas rega- intuitos para além da escrita e da busca pela identi- conforme. Imediatamente a sociedade insulana naturalizava Semelhante estado de espírito de uma população proverbial-
lias costumeiras de pastorícia, ia «esborralhar» (der- dade da sua terra natal. Deixou claro que a sua “aço- o adventício. Ilhéu e continental passavam a viver como deus mente pacata mostra bem até que ponto o seu sentimento de
rubar) alta noite as paredes de lava solta que duran- rianidade” resultava da vontade em explicar aos ou- com seus anjos. autodeterminação chegou. O exemplo citado pertence à tipo-
te o dia alguns deles embuçados, tinham erguido, tros o mundo onde nascera. E como não havia assim ser se as ilhas se povoaram de gente logia de levantes de uma sociedade de um querer colectivo
pagos à jorna por grandes proprietários usurpadores No entanto, no primeiro dos quatro textos com que do Minho e da Beira, do Algarve e em geral do Tejo ao Sul com arcaizado, - a mesma que outrora esbulhada das suas rega-
de baldios ou mesmo apenas empenhados em re- reage às convulsões políticas e sociais em curso no fortíssimos contingentes de colonos, como o provam em parte lias costumeiras de pastorícia, ia «esborralhar» (derrubar) alta
cuperar pastagens de que, durante longos pousios, País em 1975, após a Revolução dos Cravos, assim dos documentos e sobretudo a etnografia das formas da habi- noite as paredes de lava solta que durante o dia alguns deles
os criadores de gado pobres se tinham costumado a como nos Açores, Vitorino Nemésio mostra-se mais tação e do rarulato em certas ilhas e zonas delas. embuçados, tinham erguido, pagos à jorna por grandes pro-
usufruir em compactuo. interventivo. Sem falar dos madeirenses e de alguns flamengos que na pri- prietários usurpadores de baldios ou mesmo apenas empe-
A estes bandos paroquiais de revindita chamavam “Escrevi à pouco, daqui um artigo nos Açores, sem meira hora rumaram aos Açores (e os madeirenses que eram, nhados em recuperar pastagens de que, durante longos pou-
Justiça da Noite. Os actuais, motorizados, à escala da problemas, para hoje me vir enredar nalguns desses senão continentais deslocados, com menos de um século de sios, os criadores de gado pobres se tinham costumado a usu-
ilha, serão talvez crismados de Justiça Noite e Dia”, mesmos problemas que então quisera evitar. Como- vida à Robinson?), todo o fôlego humano que respira à flor fruir em compactuo.
sublinha Nemésio. dismo reutróide fruto da fadiga de velho? Um pou- da cordilheira atlântica veio do Portugal ibérico. Só é preci- A estes bandos paroquiais de revindita chamavam «Justiça da
Segundo o cronista praiense, em 1975, permanecem co. Mas sobretudo desencanto, autêntico desânimo so abrir casilhos, de excepção para alguns hebreus, e para Noite». Os actuais, motorizados, à escala da ilha, serão talvez
nas ilhas os mesmos sentimentos que, em 1932, des- de um português ilhéu que viveu tempos convulsos algum tardio polvilho de ingleses e franceses comerciantes. crismados de «Justiça Noite e Dia». Em todo o caso, um claro
crevera como elementos cruciais do “ser-se ilhéu”. – regicídio, duas guerras mundiais, várias batalhas Pouco mais. contra-sinal de tempos de escalada bandeada do poder, em
O açoriano é “um português da segunda metade nas colónias, um câmbio de regime ou dois (28 de Os casos contados de «continentais» actualmente marginali- que minorias activistas, ajuramentadas no secreto e de qua-
de Quatrocentos, introduzindo nele os coeficien- Maio), a Monarquia do Norte, a Camioneta-Fantas- zados ou mesmo expulsos das ilhas pelos naturais indigna- dros bem pagos, projectam destruir o clássico Estado de Di-
tes de correcção que o viveiro insular elaborou”, co- ma… Nada porém comparável a esta convulsão apo- dos devem-se ao papel sectário que se prestaram a desempe- reito, para sobre a «terra queimada» levantarem outro Esta-
mo escreveu no artigo “O açoriano e os Açores”, re- calíptica que oxalá ainda traga no ventre a verdadei- nhar no recente improviso ilhéu revolucionário. Mas até com do com outro Direito, mas este totalitário e social-fascista (co-
publicado no seu livro “Sob os Signos de Agora”. ra Revolução”, reconhece. patrícios que tomaram idêntica posição o ilhéu procedeu da mo agora se diz).
“Meio milénio de existência sobre tufos vulcânicos, mesma maneira, como ainda há pouco tempo nesta ilha Ter- Escrevi à pouco, daqui um artigo nos Açores, sem problemas,
por baixo de nuvens que são asas e de bicharocos DI republica nesta edição os quatro textos da ceira, onde escrevo. Um jovem sindicante, daqui natural, sus- para hoje me vir enredar nalguns desses mesmos problemas
que são nuvens, é já uma carga respeitável de Tem- autoria de Vitorino Nemésio, redigidos em peito de portador de um rol de pessoas a sanear, de posições que então quisera evitar. Comodismo reutróide fruto da fadi-
po - e o tempo é espírito em fieri (...)”, escreveu. 1975. Os documentos foram editados em qua- chave a garantir, além de trazer instruções para reintegrar, in- ga de velho? Um pouco. Mas sobretudo desencanto, autêntico
“Como homens estamos soldados historicamente tro edições de Diário Insular: um em Setem- demnizando-os, militantes activistas que haviam sido segrega- desânimo de um português ilhéu que viveu tempos convulsos
ao povo de onde viemos e enraizados pelo habitat bro (“Açores, gente arcaica?”), e três duran- dos dos quadros do trabalho onde pressionavam os camara- – regicídio, duas guerras mundiais, várias batalhas nas coló-
a uns montes de lava que soltam da própria entra- te o mês de Outubro: “Uma cidade das ilhas das e seguidamente expulsos da ilha, foi por sua vez obrigado nias, um câmbio de regime ou dois (28 de Maio), a Monarquia
nha uma substancia que nos penetra. A geografia, contesta”, “Açores: de onde sopram os ven- a abandoná-la imediatamente. A multidão procurou-o em ca- do Norte, a Camioneta-Fantasma… Nada porém comparável
para nós, vale outro tanto como a história (...)”, fi- tos” e “O cavaleiro da figura triste”. São, actu- sa, fez-lhe o ultimato. Não contente com as promessas de êxo- a esta convulsão apocalíptica que oxalá ainda traga no ventre
xou, resumindo em palavras o sentimento do povo almente, tidos como um complemento ao tex- do em poucos dias, obrigou o jovem a vestir-se sumariamen- a verdadeira Revolução.
que habita as ilhas perdidas no meio do Atlântico. to de 1932, onde define “Açorianidade”. te e a acompanhá-la.
Influenciado pela “Hispanidad” de Unamuno, Vito- Duzentos ou mais automóveis seguiam o carro do detido e ir- Publicado no Diário Insular nº8805, de 23 de Setembro de 1975, pág. 1 e 4.
O “FACTO”
reis leite
ESPECULAÇÃO
TAMBÉM SE CRIA… Não sei o que é mais
fantástico em tudo isto,
se a notícia em si, se os
no Regional poderia vir
a candidatar-se, caso
o Estatuto seja aprova-
Eu aceitei e aqui es-
tou tentando cumprir o
acordo.
te do Governo, líder do
PS e grande timoneiro
da Autonomia dito, ju-
comentários à notícia, do depois das próximas A notícia sobre o calen- rado e apregoado que
Os jornais não nos tra- dentro do ritualismo par- ta” é que tal preocupação A ironia só seria mesmo se as especulações so- eleições regionais. dário para a aprovação dois mandatos eram o
zem só notícias. Forne- lamentar, muito mais cer- “democrática” existe, pois completa se o PSD invia- bre a notícia. Os comentários, em que do Estatuto, não sen- ideal em democracia pa-
cem-nos opinião, comen- to do que o tempo medi- que: bilizasse a aprovação por Notícia, em doa verda- até aparecem opiniões do nova, é preocupante, ra ocupar o cargo políti-
tário, publicidade e…an- ático. Mas afinal há unani- a)Não foi o PSD que pro- dois terços desta norma, de, só pode ser consi- de juristas, esses valem porque já se percebeu co de Presidente do Go-
siedades que, por serem midade e manifestações pôs tal medida; que alguns defendem derada a parte referente sobretudo pelos dese- que mesmo com o em- verno Regional, acabado
reais, acabam por se trans- dos partidos no sentido b)Aliás, ainda se está pa- ser necessária para a sua ao calendário da apro- jos do subconsciente purrão, a birra e a ame- o 2º mandato, logo mu-
formar numa real notícia, de, até Junho, termos o ra saber se o PSD nacional aprovação. vação do novo Estatu- dos comentadores. aça do líder do PS nos dou de opinião e acei-
por os sentimentos que Estatuto aprovado. concorda com ela e a vo- Mas a transformação do to Político-Administrati- O meu colega de cróni- Açores, os deputados da tou um terceiro e acaba-
transmitam objectivam-se Mas, além dos títulos fica- tará. Deixará Jardim? quadro legal é bem mais vo da Região Autónoma cas, entusiasmado com maioria não morrem de do este se preparar para
e passam a ser realidade. ram…os sentimentos. O c)Até o PCP-Açores, por importante que as inco- dos Açores. tudo isto, sugeriu que amores pela proposta o quarto?
Vem isto a propósito de PSD/Açores parece muito mor duns dinossáurios erências dos outros, pe- A especulação ocupa nos juntemos às notí- que o parlamento aço- Não é pois de excluir que
uma preocupação que as- apostado no mandato de autárquicos, não morre lo que esperamos que tal quase todo o resto e re- cias, à especulação e ao riano lhes enviou, não se a lei, mesmo sendo a
saltou a nossa comunica- …2012-2016. Já terá de- de amores pelo princípio não aconteça. Como ali- fere-se essencialmente comentário e com esses sendo de excluir que lei que ele propõe (tal-
ção social na última sema- sistido do “quarto”…, que da limitação de mandatos ás os factos são mais im- a um hipotético quinto ingredientes façamos acabem por a deixar vez agora também retar-
na: César pode fazer um vai de 2008 a 2012? E de- para os líderes de órgãos portantes que as sensa- mandato a que o actu- uma crónica para esta morrer na comissão em de) vier a permitir, ain-
quinto mandato! Os fac- pois, só com alguma “la- executivos… ções… al Presidente do Gover- semana. vez de a discutir. da que por mero atraso
tos são…uma mera hipó- Da parte do PSD, tam- de calendário, ele pró-
tese, um grande descon- bém, apesar das “expli- prio aceite um quinto
forto e (pasme-se!) uma cações, reuniões e ou- mandato. E não faltará
conferência de imprensa tras complicações”, não a costumada corte dos
de Costa Neves! se percebe que haja apoiantes, devotos, in-
Porque a cronologia é ou- maior entusiasmo. teresseiros e conselhei-
tra: aquando da sua audi- Quanto aos comentá- ros que lhe dirão ao ou-
ção pela Comissão Parla- rios, o que posso é jun- vido aquilo que preten-
mentar que preparou a re- tar a minha voz à dos de ouvir para descanso
visão do Estatuto, o actu- comentadores, dos ju- de consciência ou seja,
al Presidente do Governo ristas, dos políticos e que é indispensável.
Regional defendeu, na li- dos jornalistas e dizer, Fará como aquela per-
nha das preocupações do tal como eles, que se sonagem da anedota e
seu partido, a limitação de houver vergonha, o que quando lhe pergunta-
mandatos para Presidente nem sempre há, não ha- rem se não sente ganas
do Governo Regional. Tal verá quinto mandato. de abandonar o cargo
proposta foi consagrada e Quanto à especulação... de Presidente, ele res-
seguiu para a Assembleia Bem, quanto à especu- ponderá:
da República, sendo mais lação isso é o mais fácil “Sinto, mas domino-
um aspecto do importan- e até também posso es- me”.
te ímpeto reformador da pecular. Aqui fica o meu contri-
mesma. Pois não é que ten- buto para a especulação,
Afora isso, tudo normal, do o actual Presiden- já que não há notícia.
VELA DE ESTAI Faz mais: cria aversão e orienta para a sua destruição do precisam de orientação (dialogada, interveniente e
sistemática, por muitos anjos da guarda que hajam! aberta, mas orientação, mais que não seja na pesqui-
Francisco Maduro-Dias Património quer dizer recurso! sa de soluções).
maduro.dias@mail.telepac.pt Recurso é o arroz que posso usar numa canja; recurso Quando as cartas de condicionantes em planeamen-
é o lençol que ponho na cama; a toalha da mesa; o di- to são feitas há dois tipos de condicionantes, pelo me-
nheiro na carteira, por pouco que seja! nos, na cabeça das pessoas: as “que se metem pelos
A ideia de recurso só se termina e acaba quando faze- olhos dentro”, como por exemplo eu não poder, em
A NEGAÇÃO
mos alguma coisa com ele! princípio, fazer uma casa barata numa falésia a pique,
Ora, no que diz respeito ao nosso património cultu- e outras “mais estranhas” que não parecem valer a pe-
ral e natural, dizem-nos preferencialmente para não na ter em conta, como as obrigações de salvaguarda
tocar, não usar, não mexer, e por aí fora uma série de do património cultural e natural.
nãos! Mas há mais! Quando se determina que o incumpri-
DO PATRIMÓNIO
Recurso assim transforma-se em bolor e em peso. Co- mento da lei deve ser anotado pelos serviços, mas que
mo o arroz podre, que poderia ter servido de alimen- a solução a encontrar deve ser procurada pelo particu-
to, mas vai para o lixo (e como já não há porcos de lar requerente, uma, duas, as vezes que for necessário,
criação por aí, nem sequer pode ser reciclado em fu- à sua custa, até conseguir a aprovação do projecto, es-
turas linguiças e presuntos). tá-se mesmo a pedir que ele “se mande ao ar!”.
Puro desperdício! Outra nota ainda interessante é a fórmula oficial fre-
Fala-se em património cultural e natural! património – seja ele cultural imóvel ou seja natural – Por outro lado – e estou a lembrar-me das gravuras de quentemente usada: “nada a opor” ou “há a opor o
Classificam-se coisas e loisas e fazem-se inventários! devem ser resolvidas ao nível do planeamento do ter- Foz-Coa – mesmo quando se proclama futuros usos gran- facto de o requerente desrespeitar o determinado no
Publicam-se livros e organizam-se debates! ritório, como condicionantes e como recursos. diosos, no fim da festa pouco mais fica que o encargo. artigo tal do decreto tal”.
Comemoram-se aniversários e colocam-se legendas Acrescente-se ainda que, quando se trata de produ- É esse o cenário da maioria do património que temos no Não é preciso mais para evidenciar aos olhos de toda
em rótulos de produtos! ção humana, são energia gasta e concentrada com País – mesmo daquele que, bem conservado à custa do a gente que as entidades “protectoras” estão ali pa-
Com isto tudo por aí não devia ser possível continuar um objectivo. erário público ou privado, parece estar mais bonitinho. ra opor ou não opor, mas pouco estarão para ajudar.
a acontecer o conjunto de maus-tratos a que o patri- Vão nesse sentido as leis e regulamentos mais inte- É que boniteza não significa integração. E património E como continua a ser verdade que “se não faz par-
mónio natural e cultural é sujeito diariamente. ressantes, mas, de facto, desde o particular, interes- desintegrado não é património! te da solução faz parte do problema”, está o caldo en-
No entanto acontece! sado numa qualquer obra, ao funcionário, ao político O conjunto de bens que temos por aí, identificados tornado!
E a gente renova as leis de protecção e as leis de pu- que em dado momento ocupa uma cadeira, ao em- como património e bem tratados, são pouco mais que A solução dos “problemas com o património” só exis-
nição. preiteiro e empresário o jogo é feito no sentido de os “enjeitados engravatados”. tirá se nos decidirmos a trabalhar na envolvente eco-
Mas tudo ou quase tudo parece ficar pelos votos pios atirar para as malhas de um sistema que nega ao pa- Dar a volta a isto até seria simples, se as coisas não nómica, social, técnica.
e sem força. trimónio o direito de existir como tal! fossem como são. O Património estuda-se, percebe-se e usa-se fora de-
Cada vez mais estou convencido que as questões do Não é uma afirmação de leve! O problema começa na incapacidade de identificar o le! Antes de chegar a ele!
HOMENAGEM À AÇORIANIDADE
TODOS SOMOS
NEMÉSIO
No decorrer das celebrações seu carácter, maneira de estar e de olhar, vendo os
outros e neles se revendo, escrevendo como açoria-
(homenagens), a propósito do no, como açoriano falando, mesmo quando em Paris
ou em Nova Iorque, em Lisboa ou no meio da ilha, to-
trigésimo aniversário da morte de cando (mal), violão ou viola e cantando (esmagado- vivências, e, quem diria, até de algumas lágrimas. E is- do, do que outra coisa, o Representante da República,
ramente mal), apesar de poucos terem sido os que de so apenas veio confirmar aos nossos olhos, que o es- quando chamado a usar da palavra, pareceu ficar, as-
Vitorino Nemésio, o que mais ficou coragem, houveram por lho dizer. critor permanece bem vivo e se vai perpetuando. sim como que sem jeito. Mas logo se compôs e levan-
Do merecimento de todas as homenagens não have- Nemésio, quando criança, viveu na Praia da Vitória do a mão ao bolso do casaco disse que sempre que
evidente e assente, foi a natureza rá quem sequer esboce um pensamento de dúvida, e e usufruiu dos seus belos areais, como escreve em saía para qualquer cerimónia, acostumado que esta-
sobre a forma como elas foram realizadas, claramente “Mau Tempo no Canal”, porém, nunca aprendeu a na- va às mais diversas solicitações, levava sempre consi-
açoriana enraizada na pessoa do com uma “mão” de António Machado Pires, sobretu- dar, ficando-se pelas areias ou pelas rochas, provavel- go uma ”merendazinha”,e puxou de um papel onde
do na escolha de muitos catedráticos, nenhum deles mente congeminando os primeiros poemas que a Li- guardava o poema de Vitorino Nemésio, para ler no
escritor praiense, que crescendo enfatuado; nenhum deles em bicos de pés, mas an- vraria Andrade, na Rua Direita, haveria de editar no seu jeito único, um dos poemas mais caros a Nemé-
tes, sim, curvando-se de forma humilde e estudiosa, “Canto Matinal”, título sugerido por um professor, mas sio, o “Poeta Falecido”.
por esse mundo fora, manteve e perante um dos maiores vultos da literatura portugue- que demonstravam já, a grande maturidade técnica e Recordamos o almoço, em 1979, de celebração do
sa do século XX, e de um dos poucos, como ficou dito, de pensamento, do ainda imberbe escritor. primeiro aniversário da morte do escritor, que decor-
fermentou o espírito da açoriani- que perdurará no contexto nacional e mundial. “POETA FALECIDO” reu na quinta de Luís Gaspar de Lima, na freguesia
DA CRIAÇÃO As celebrações a Nemésio tiveram em todos os inter- dos Biscoitos, com uma entrada de mão alçada ao la-
dade que ele próprio inventou, na Sabe-se que Vitorino Nemésio foi criado parcialmente venientes, momentos altos, podendo mesmo afirmar- ranjal, descascando com as mãos as doces e suma-
na Casa das Tias, e por isso, o início da obra de restau- se, que foram elevados e plenos de beleza, nas pala- rentas laranjas, seguida de uma lagosta suada que só
palavra. ração, ampliação e melhoramentos do edifício, onde vras medidas ou improvisadas e nem um só dos in- mesmo o Gaspar de Lima, então director escolar da
até se gritaram “aleluias” (num grito que teve tanto de tervenientes deixou de ter o condão de tocar a alma ilha Terceira, sabia temperar para o prazer dos seus
fim de revolta pelo marasmo de até então, como de de todos os açorianos, nos quais Nemésio fez ques- comensais, entre os quais também Nemésio havia es-
júbilo pela formalização de um velho desejo praien- tão de se rever em todos os momentos da sua ilustre tado.
Não há melhor conclusão para as recentes cele- se), sentiu-se, mais uma vez, a presença forte do escri- vida, desde as suas paixões até às mágoas que tam- Tudo simples, tudo em beleza e carinho, com a pre-
brações na passagem do trigésimo aniversário sobre tor a que a Praia da Vitória bem pode orgulhar-se de bém em muitos momentos da vida lhe assolaram a sença dos filhos do escritor e de muitas outras figu-
a morte terrena do escritor praiense universal, Vitori- ter tido a sorte de servir de berço, como, decert o, Ne- alma. Também essa se fez fraca como é norma do ras terceirenses que sentiam afectos por Vitorino Ne-
no Nemésio, do que entender a forma profunda como mésio também lhe estará grato pela sorte que teve de açorino ferido. mésio.
ele se retratou em todos os açorianos, na sua postu- aqui nascer, ao contrário de Garrett que um dia escre- E da mesma forma plena de galhardia com que assis- E agora, no trigésimo aniversário sobre a sua morte,
ra de ilhéu sem fronteiras, emigrante dentro e fora do veu, referindo-se a Angra do Heroísmo, sobre a “pena tia a uma tourada à corda, ou descia a Rua do Paço do com excepção da lagosta suada, a singeleza catedráti-
seu País; homem feliz e sofredor; açoriano dos quatro de ali não ter sido nado”. “Não tive a sorte de nascer Milhafre, a caminho do Largo da Batalha, também se ca das emoções, esteve ao mesmo nível: uma home-
costados, mas ao mesmo tempo um homem do mun- neste torrão”, escreveu Almeida Garrett. Nemésio terá negou a ser o presidente dos Açores, quando foi con- nagem ao senhor doutor cá da terra, entre sorrisos,
do, como ele próprio se definia. sido mais feliz, pela sua Praia da Vitória. vidado para isso pela Frente de Libertação dos Açores, respeito, saudade e profundidade singela.
As homenagens que foram prestadas a Vitorino Ne- As denominadas palestras que ocorreram no dia 20 de em época conturbada, aí por volta de 1976, alegando Tudo perfeito. Vitorino Nemésio bem que merece que
mésio, desde as palavras quer de saudade, quer de Fevereiro, homenageando Vitorino Nemésio, decorre- que o seu açorianismo era de português. sejamos sempre muito açorianos quando dele falar-
análise à sua obra, e a forma como foi esmiuçado o ram sob o signo da exaltação do homem, da obra, das Na sessão solene, que o foi mais simples e de estu- mos. Foi-lhe feita, mais uma vez, a vontade.
Tão de vistas
pequenas
Mandam as boas regras que os cronistas variem os do que estava gloriosamente a bater no mais fraco, se
seus temas de escrita, de modo a que o leitor não alargou, entusiasmado, em inúmeros ataques, soezes
pense que eles só sabem falar de uma dada coisa – e pessoais, à cidadã que, tendo abdicado do sossego
ou que os tomem por um daqueles chatos que, di- da sua condição de professora, aceitou ser Ministra da
gam o que disserem, nunca conseguem mudar de as- Educação. Não vale a pena repetir tais despropósitos;
sunto. Eu sei disso, e na medida do possível faço por mas valerá a pena deixar aqui, na íntegra, a carta que,
dar de mim a ideia de um homem de horizontes lar- dias depois, o mesmo professor escreveu ao Delega-
gos, que apesar de ter nascido na Serreta conseguiu do Regional do Norte da Inspecção Geral de Educa-
dar um salto para o Mundo, e que tanto pode repetir ção, e que deixo aqui à reflexão de quem quiser olhar
as sabenças da Tia Guilhermina da Fajã como comen- para além do seu umbigo:
tar, com igual proveito, uma obra da grande literatu-
ra universal. “Relativamente às declarações proferidas por mim, […
Passe a imodéstia, é claro. vou omitir o nome do rapaz…], docente do grupo 500,
Não obstante isso, tenho a impressão, quando me re- a leccionar na Escola EB2,3 de Ribeirão, no programa
leio criticamente, de que passo a vida a escrever a Prós e Contras do dia 25 de Fevereiro de 2008, refiro
mesma crónica: e nessa crónica sem fim (e recordo que não foi minha intenção ofender o rigor, a compe-
que a palavra “crónica” tem a ver com “tempo”, que tência e o profissionalismo do Sr. Inspector, pelo que
em grego se dizia “crónos”), eu não consigo passar do lhe apresento o meu arrependimento, assim como, a
rapaz da Serreta que, passados tantos anos de vida todos aqueles que se tenham sentido lesados.
e percorridos tantos quilómetros de caminho, ainda Aproveito a oportunidade para expressar as minhas
não consegue fechar a boca de espanto ao olhar para desculpas pela forma como me dirigi à Ex.ma Sr.ª Mi-
o vasto Mundo onde habitamos. nistra da Educação, pois considero-me uma pessoa de
Já nesta página eu falei de tudo: de política, de lite- bem, educada, íntegra e acima de tudo profissional.
ratura, de enganos, de gente gira, de bocas, de médi- As declarações ocorreram num momento de profun-
cos, de professores, de restaurantes, de jovens prome- da emoção, vivida de forma intensa pelo ambiente
tedores, enfim… De tudo um pouco já me ocupei, fa- propício do debate televisivo.” – e, depois de deixar os
zendo destes meus trezentos e sessenta e tal folhetins seus melhores cumprimentos, este jovem professor
uma coisa parecida com a simpática montra do Pedri- data e assina esta sua carta de desculpas.
nho Amiguinho – onde encontramos de tudo, incluin- Tiro-lhe o chapéu. Mas não o tiro àqueles todos que
do a nossa própria alma. na altura histericamente o aplaudiram – e que ago-
Mas, contra o tal princípio do bom cronista que se não ra, mesmo depois de conhecida e divulgada esta car-
deve repetir, eu entendo que hoje devo fazê-lo e, os- ta, vêm para a rua gritar, nos seus magros entenderes,
tensivamente, vou voltar a falar de professores e, ain- em nome de uma Educação que julgam sua, nas coi-
da mais descaradamente, do programa “Prós e Con- sas boas, e do governo, nas coisas más.
tras”, da RTP, que há quinze dias foi um mero “Con-
tras” à Ministra da Educação. Nesse programa, todos (Escrevo este folhetim a voar de Lisboa para New
se lembrarão, apareceu, para além de uma professora York. Acho que estou a sobrevoar os Açores. E tenho
loira e malcriada, um jovem professor que, levado pe- saudades do meu país, ali em baixo, tão triste e tão
la actual histeria anti-Ministra da Educação, e pensan- de vistas pequenas…).
o principezinho
Reino do sonho
Filipe La Féria trouxe a Angra do Heroísmo uma adap- 160 línguas ou dialectos, sendo a obra mais lida em
tação para teatro de “O Principezinho”, a obra de re- todo mundo depois da Bíblia.
ferência do nosso imaginário infanto-juvenil do autor Não deixa se ser surpreendente que uma história
francês Antoine de Saint-Exupéry. construída em torno de um pequeno príncipe conti-
Recorrendo às potencialidades que o texto oferece ao nue a ter uma mensagem actual, apesar do texto de
nível da dramaturgia e também às novas tecnologias Antoine de Saint-Exupéry ter sido escrito em 1943 du-
(vídeo, som e luz), Filipe La Féria deu um toque mui- rante o seu exílio nos Estados Unidos e numa altura
to peculiar a uma história que encanta gerações e que em que o mundo estava mergulhado num rasto de
se baseia na poesia e no imaginário de um pequeno destruição e morte provocado pela II Guerra Mundial.
príncipe que vive num asteróide e que visita a terra. Piloto das forças aliadas, Saint-Exupéry desapareceu a
O alcance da mensagem da obra-prima francês Antoi- 31 de Julho 1944 no mediterrâneo. A sua história aca-
ne de Saint-Exupéry pela sua aceitação ao longo das bou por ter um final menos feliz do que a do aviador
últimas seis décadas com 80 milhões de livros vendi- acidentado no deserto e que se transforma em confi-
dos em cerca de 500 edições distribuídas por quase dente de “O Principezinho”.
Sim ou não
ra. Há debates recorrentes, nunca resolvidos, nunca clari- tónio José Telo, director do Instituto de Defesa Nacional,
ficados, com muitas, demasiadas, reticências. Há interes- no Diário Insular de 3 de Fevereiro (disponível só para
ses, mais individuais que colectivos, mais privados que assinantes), cuja passagem seguinte sublinho:
públicos, que os fazem emergir ou submergir conforme “Diário Insular - há quem defenda que os Açores podem
a conjuntura. Há uma tensão permanente na busca de beneficiar deste aumento de funções através, por exem-
ao RR?
uma falha, uma contradição ou uma cedência. Ninguém plo, da presença de empresas locais na base para o apoio
questiona a quem interessa que, no dia anterior ao eco-
nomista açoriano Mário Fortuna apresentar, na comis-
técnico necessário a estas aeronaves. Acha possível?
António Telo - Duvido que isso seja possível em relação ao (2/3)
são parlamentar eventual Impacto na Região Autónoma núcleo duro – chamemos-lhe assim – das necessidades.
dos Açores do Acordo entre a República Portuguesa e os O núcleo duro que aqui refiro representa as tecnologias
Estados Unidos da América, um estudo, sobre o impac- centrais destes sistemas de armas, que são de tal forma
to económico da Base das Lajes na economia açoria- avançadas que mais nenhum Estado ou máquina militar Sim ou não ao Representante da República. No diminui o poder político do Estatuto e da Autonomia,
na, se torne público (1) que o impacto directo e indirec- detém. Portanto, nem vale a pena pensar nisso. Tenho a primeiro texto vimos aquilo que repetidamente temos porque um órgão tão significativo do procedimento
to da base norte-americana das Lajes na economia da certeza que os EUA não vão querer olhares exteriores so- vindo a sublinhar: o cargo de Representante da Repú- autonómico sai precisamente daquela lei que caracte-
Terceira foi, no em 2007, de 113.9 milhões de dólares? bre os sistemas centrais que permitem o funcionamen- blica, apesar de tudo, é importante para uma autono- riza a Autonomia Constitucional. Diminui o seu esta-
Para quem quer dar o peito às balas nestas refregas, pa- to destes novos sistemas de armas. “ Claro como água! mia sã. Por natureza o homem é torto, como aliás o tuto de figura central, é certo, mas isso também dimi-
ra quem quer, de facto, tomar posição, só ideias podem Foi com o mesmo interesse que li a entrevista do Profes- mundo em geral; isso leva à conclusão que vem des- nui a dimensão política da autonomia. Do ponto de
interessar. As ideias, e a clareza na exposição das mes- sor Carlos Amaral, da Universidade dos Açores, no Cor- de Aristóteles de que é na conjugação de vários pode- vista material, é uma declaração sem precedentes: a
mas, capitalizam quem, um dia, quiser, ou tiver de, deci- reio dos Açores, de 23 de Fevereiro, (3) cujo excerto se- res distribuídos que melhor se garante governos com Região Autónoma perde qualquer poder de influên-
dir sobre os Açores e o futuro da Base das Lajes. Repro- guinte reproduzo: tendência para o abuso (consciente e inconsciente). cia na caracterização do cargo, a Região Autónoma di-
duzo um excerto de um artigo, já com 2 anos, da autoria “Correio Açores - Um dos argumentos norte-americanos No texto anterior sublinhámos aquele aspecto, agora vorcia-se da possibilidade de com o cargo aproveitar
deste vosso criado, publicado no Diário Insular a 29 de é que a base nos Açores tem servido o interesse NATO. interessa-nos finalizar com outra parte: as alterações arrecadar outras valências que o cargo sempre pôde
Janeiro de 2006 (2): Carlos Amaral - Este é o argumento nuclear dos norte- que neste momento decorrem, primeiro com a expur- ter ao longo da história, e assim declara, por exemplo,
“O senso comum diz-me que não se pode, em consciên- americanos. E é preciso fazer uma separação das águas: gação do cargo no Estatuto Político dos Açores, de- que não se importa com os açorianos que pertencem
cia, defender às segundas, quartas e sextas um reforço da O que é interesse NATO, e por isso mesmo, aquilo em pois com a proposta de lei avulsa sobre o cargo que à organização do Estado nas ilhas.
actividade militar na Base das Lajes e às terças, quintas e que a base pode ser um instrumento de serviço deste foi aprovada na generalidade na Assembleia da Re- O Estatuto perdeu algumas coisas com a Revisão
sábados os benefícios das escalas técnicas da aviação ci- interesse; e o que é interesse norte-americano. O cer- pública. Constitucional de 2004: de entre tantos esta: já não é
vil. A ideia que pode transmitir esta rocambolesca ambi- to é que na base não há uma presença militar NATO, Por imperativo da lei de revisão da Constituição em aquela lei suprema como dantes, pois que se juntou
valência é que algumas pessoas com responsabilidades mas sim uma presença militar americana. A defesa do 2004, as regiões autónomas, quanto aos seus pode- ao processo próprio da feitura do Estatuto a feitura lei
estão desesperadas quando ao futuro da Ilha sendo capa- Atlântico e a segurança da Europa carecem destas ilhas. res legislativos, ficaram com a incumbência de apre- eleitoral. As leis eleitorais não têm a dignidade própria
zes de, por um punhado de dólares, sacrificar o bem-estar Não é possível assegurar a defesa da Europa se estas sentar propostas de Estatuto Político. A Madeira apre- de um Estatuto. Esse ajuntamento pernicioso é uma
e a qualidade de vida colectivas. Se é do domínio público ilhas tombarem em mãos hostis. E a relação de coopera- sentou a sua proposta em 2005 (entretanto retirou- declaração política algo contundente: o Estatuto ainda
que a Base das Lajes sofreu um reforço da sua importân- ção com os Estados Unidos tem-se vindo a transformar, a nesse mesmo ano; sobre isso, ver o nosso texto mantém por via de outras normas constitucionais (por
cia após o fim da Guerra-Fria tal deveria ser suficiente pa- na minha perspectiva, num mau negócio para Portugal. nº31 em Açores, Direito e Política) e mantinha no ar- exemplo, da fiscalização) uma natureza de lei de va-
ra uma reivindicação sólida em sede de eventual revisão Mas, acima de tudo, um mau negócio para os Açores na ticulado do estatuto o cargo. Os Açores entregaram a lor reforçado, mas se hoje a lei eleitoral também está
do acordo luso-americano. As entidades americanas sa- medida em que serve mais os interesses de outros, no sua proposta em 2007 e expurgaram as normas so- neste Olimpo, amanhã terá que descer e com ela pos-
bendo disso, e da intenção pública de se rever o acordo, caso concreto, dos Estados Unidos, do que serve os nos- bre aquele cargo. As notícias mais recentes dizem-nos sivelmente também o Estatuto. Como se isso não bas-
fazem surgir no espaço público a hipótese de uma base sos.” Claro como água! que a proposta de Estatuto será aprovada antes do tasse, retirar do Estatuto o cargo de Representante da
de treinos. É a sua indicação de que para haver mudan- É que, meus amigos leitores, aqueles que todos os dias verão e que a proposta de lei avulsa sobre o cargo do República é despir o estatuto de elementos que o ca-
ça os EUA teriam que ter novos benefícios militares. Ora, gostam de dramatizar os interesses dos Estados Unidos Representante da República foi pedida pelo Presiden- racterizam como uma lei constitucional material tor-
o que a Terceira tem que definir é, mais do que fugir pa- nestas ilhotas teimam, ou não têm interesse, em reco- te da República. nando-o numa mera lei avulsa como tantas outras.
ra a criação de uma nova pista, o quer dessa sua estrutu- nhecer que “Se os americanos não tivessem interesse As notícias, portanto, não são as melhores. Retirar do A tendência hodierna é simples: descaracterizar a
ra fundamental. Se a quer condicionada por um punhado em estar nos Açores, já teriam andado exactamente co- Estatuto a figura do Representante da República man- autonomia da lei constitucional, remeter as normas
de dólares a uma base militar ou se a quer potenciar para mo os franceses fizeram.” Claro como água!!! tendo o cargo é prejudicial à autonomia: do ponto de constitucionais autonómicas para o Estatuto, masca-
as actividades civis. Ou seja, questão fundamental é, mais (1)http://www.correiodosacores.net/view.php?id=5779 vista formal, é uma perca substancial porque o Estatu- rar o Estatuto parecendo rico pelos riscos grossos de
que a sua geostratégia militar, a avaliação da sua geostra- (2)http://buledocha.blogspot.com/2006_01_01_archive.html to é uma lei exclusivamente proposta pelo parlamen- tinta paupérrima, e colocar o Estatuto num lugar me-
tégia civil”. Claro como água! (3)http://www.correiodosacores.net/view.php?id=5269 to regional enquanto a lei avulsa não; e acresce que nor da hierarquia das normas do Estado.
Capitão saudade
se e SC Angrense. Sendo sportinguista confesso, sem- riam ter alcançado patamares mais elevados.
pre tive uma imensa paixão pelo Angrense. Felizmen- “Lusitânia, Angrense, Praiense, União e Marítimo, por
te, passados todos estes anos, continuo a ter grandes exemplo, tinham jogadores bastante dotados. Quan-
amizades na Terceira”. do cheguei à Terceira, treinávamos somente duas ve-
Quando regressou ao continente, Fernando Lopes zes por semana. O trabalho modifica os sistemas de
Graças aos seus métodos inovado- “Guardo belas memórias da minha passagem pe- abraçou o futsal. “Fui seleccionador nacional duran- jogo. Ainda assim, a entrega, carácter e qualidade dos
la Terceira. Na altura, tínhamos imensas dificuldades te quase uma década e treinador do Sporting CP. Pre- atletas proporcionavam espectáculos extraordinários”.
res, Fernando Lopes revolucionou o aos mais diversos níveis. Hoje, as coisas estão sobre- sentemente, ocupo o cargo de secretário técnico da Embora considere que se trata de um problema na-
maneira diferentes, a começar pelos campos”. É des- Associação dos Moradores da Portela, clube que com- cional, o nosso interlocutor sustenta que a entrada
futebol terceirense nas décadas de ta forma nostálgica e, ao mesmo tempo, emociona- pete na Segunda Divisão Nacional de futsal”, sublinha nos nacionais retirou paixão ao futebol das ilhas de
da que Fernando Lopes se ‘apresenta’ à reportagem com justificado orgulho. bruma.
60 e 70, conquistando diversos êxi- do DI/Revista. Para o conceituado treinador, a formação é a única via “Lembro-me que os Campeonatos Açorianos eram
Com os olhos colocados no sintético do municipal da que pode salvaguardar os interesses do desporto-rei aguardados com enorme expectativa. As pessoas gos-
tos ao serviço do União Praiense, SC cidade açoriana Património Mundial, o antigo treina- por estas paragens e não só. tavam de ver bons jogos e os campos estavam sempre
dor, agora com 65 anos de idade, inicia uma curta via- “O futebol açoriano perdeu alguma expressão com a vin- cheios, num ambiente de saudável rivalidade. Os na-
Praiense e, sobretudo, SC Angrense. gem ao passado. da de muitos atletas de qualidade duvidosa. O melhor cionais acarretam despesas elevadas e não creio que
“Recordo com saudade os jogadores com quem tra- caminho é colocar a juventude a praticar a modalidade. a Série Açores, pelo menos nos moldes vigentes, se-
Crítico da Série Açores, defende as balhei: Álvaro Pereira, Abel Lima, Humberto, Félix, Car- Aí, acredito que não haverá necessidade de ir buscar jo- ja benéfica para os interesses do futebol regional”, ter-
los Alberto, Faustino, José Agostinho, Aníbal Borges, gadores continentais ou estrangeiros em fim de carreira mina, não sem antes classificar a liguilha como “uma
virtudes da formação. Jorge Laureano e tantos outros. O Laureano era um que, na verdade, pouco ou nada acrescentam”. verdadeira aberração”.
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