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ANUAL

A REPRODUÇÃO
PROFESSOR
LIVRO DO

8
PROIBIDA

História
Capa 8º ano - professor.indd 9 19/11/2019 13:44:19
HISTÓR
IA
PROFES
SOR

8. PROIBIDA A REPRODUÇÃO
ENSINO
o ANUAL

FUNDAMENTAL
ANOS FINAIS
HISTÓRIA
RESPEITO AO OUTRO
8. o ANO

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
2o. BIMESTRE

O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DO ESTADO NO BRASIL
A POLÍTICA BRASILEIRA NO
PRIMEIRO REINADO.................................................4
A primeira Constituição brasileira (1824)................7
A abdicação de D. Pedro I e o estabelecimento
do governo regencial...............................................14
A chegada do café ao Brasil....................................27

O SEGUNDO REINADO
NO BRASIL
D. PEDRO II, IMPERADOR DO BRASIL...................30
Início do Segundo Reinado ....................................30
A economia brasileira durante o
Segundo Reinado....................................................35
O imaginário nacional e a produção das
identidades no Brasil do século XIX......................47
A capital do Império do Brasil durante o
Segundo Reinado....................................................51
A Guerra do Paraguai (1864-1870)..........................54
As transformações sociais do Segundo Reinado....58
PROIBIDA A REPRODUÇÃO
ar Imagens uls
Cesar Diniz/P
Memorial da Balaiada, centro histórico-
-cultural que guarda um extenso acervo
sobre a história da Balaiada, uma das
revoltas populares mais importantes
na época do império de D. Pedro I.

os.
alha dos Farrap
São Paulo.
José Wasth. Bat
a do Estado de
1937. Pinacotec
RODRIGUES,
Outro movimento de grande
relevância no contexto do Primeiro
Reinado foi a Guerra dos Farrapos,
ocorrida no Rio Grande do Sul.
Janeiro
Estado do Rio de
Arquivo Público do

Manifestação dos membros da Aliança Nacional


Libertadora, em 1935, que reivindicava a reforma
agrária e a nacionalização de empresas estrangeiras.
Brasil
Agência JB/Jornal do

Grupo de atrizes em manifestação


contra a censura durante o período da
ditadura militar no Brasil (1964-1985).
Após a proclamaç
ão da independên
de 1822, era nece cia do Brasil, em
ssário construir um setembro

UNIDADE
conciliasse as pa país e adotar um
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1.
1  Tanto
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PROIBIDA A REPRODUÇÃO
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algumas ações no de que maneira vo
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2  No exercício da po
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O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
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nhece algum pe ssam feri-lo. Você
não foram respei ríodo da história
tados? Registre. em que esses pr
incípios

DO ESTADO NO BRASIL
1. Os alunos podem citar fatos corriqueiros, como andar e sair sozinhos pelo bairro ou mesmo
pela cidade, a liberdade de expor ideias em casa e no grupo de convívio sem sofrer censura,
independência e liberdade para escolher o que comer ou vestir, entre outros.

2. Os alunos podem citar exemplos de regimes ditatoriais tanto do passado quanto do pre-

sente, quando há restrição à liberdade de expressão ou aos direitos políticos dos cidadãos.
A política brasileira
no Primeiro Reinado
No início do Primeiro Reinado, a primeira grande tarefa de D. Pedro I foi

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
consolidar a independência no país.
Conforme já estudado na Unidade 2, a independência do Brasil, realizada
por D. Pedro I, que pertencia à família real portuguesa, levou à instalação de
um Estado centralizado, sob regime monárquico, no qual o trabalho escravo
ainda persistia. Essa situação deveria garantir uma transição pacífica do Brasil
da condição de colônia portuguesa para império, assegurando os privilégios dos
grandes proprietários, preservando a ordem interna e, sobretudo, a manuten-
ção das instituições tradicionais.
Com a formação do Império brasileiro, tornou-se necessário organizar ra-
pidamente instituições como ministérios, leis, exército, entre outras medidas.
Decretada a independência política do Brasil em relação a Portugal, o po-
der concentrou-se nas mãos de um grupo reduzido que ainda não havia definido
claramente a sua posição em relação ao novo reino que surgia no Brasil e à sua
fidelidade ao reino de Portugal.
De qualquer forma, as camadas populares continuaram excluídas da par-
ticipação política e do exercício da cidadania. Assim, pode-se perceber que a
independência não alterou significativamente o panorama que vigorou durante
todo o período colonial.
Além dessas questões internas, havia o problema do reconhecimento
externo da independência brasileira, pois as demais nações latino-americanas,
que adotaram a república como forma de governo, não aceitavam a adoção da
monarquia e o comando político do Brasil por um imperador português.
O Primeiro Reinado caracterizou-se como um período de transição e foi
marcado por uma grave crise econômica, financeira, social e política.

1 Observe as obras a seguir do artista francês Jean-Baptiste


Debret, que esteve no Brasil entre 1816 e 1831 e pintou inúmeras
telas que retratam o cotidiano do país durante esse período.

4 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Esta leitura permite a
utilização do segundo
Apesar de ter pintado sobre os mais diversos temas, Debret procedimento proposto
para o ensino de histó-
pouco se afastou da paisagem urbana do Rio de Janeiro.
ria na BNCC, para tanto,
lance mão da análise
de fontes iconográficas
para que se permita um
olhar diferenciado que

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
nos auxilia a entender
um pouco de que forma
a sociedade do século
XIX funcionava. Por
mais que saibamos que
é impossível reproduzir
uma realidade qual-
quer da maneira como
pretensamente ela teria
sido, até o século XIX
era comum a tentativa
de os artistas transpor-
tarem uma realidade
diferente ou anterior à
época em que viveram
para suas telas, aquare-
las e esculturas. Dessa
forma, muitos artistas
DEBRET, Jean-Baptiste. Mercado da Rua do Valongo. 1834-1839. brasileiros e estrangei-
ros buscaram reproduzir
em suas obras a vida
cotidiana no Brasil em
diferentes tempos.
As obras de Debret es-
tão disponíveis na web
em alta resolução. Para
acessar, use o link
<https://artsandculture.
google.com/search?q=-
jean%20baptiste%20
debret>.

DEBRET, Jean-Baptiste. Senhora de algumas posses. 1834-1839.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 5


Após ter observado as obras representadas anteriormente, res-
ponda a estas questões.
a) Quais são as atividades retratadas e quem as exercia?
Registre.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Na primeira obra proposta, Mercado da Rua do Valongo, Debret retrata a venda

de escravizados africanos em péssimas condições físicas no casarão de um

senhor. Em Senhora de algumas posses, são retratadas mãe e filha brancas e

escravizadas africanas realizando atividades de artesanato.

b) Como são os trajes usados pelos homens e pelas mulheres


representados em ambas as obras? Descreva-os.
Os escravizados usavam trajes simples, compostos de panos enrolados, de calças

ou saias de algodão. As pessoas brancas usavam roupas de melhor qualidade,

chapéus (inclusive sapatos).

2 Como você pôde observar, as obras de Debret retratam um pouco


como os estrangeiros viam o Brasil. Faça uma relação das ima-
gens da questão anterior ao contexto em que a independência do
Brasil ocorreu.
Os alunos podem inferir que, mesmo após a independência, os privilégios dos grandes

proprietários continuaram assegurados, preservando a ordem interna e, sobretudo, a

manutenção das instituições tradicionais e dos principais valores então vigentes, como

a escravidão.

6 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


A primeira Constituição brasileira (1824)
A consolidação do Império brasileiro e seu reconhecimento pelo próprio
país e pelas demais nações foi muito difícil. D. Pedro I enfrentou sérias dificul-
dades, principalmente com relação à aceitação de sua autoridade por parte de
muitas províncias no Brasil.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Antes mesmo de a independência acontecer, havia sido criado o Partido
Brasileiro, o qual estava dividido em duas facções: a conservadora, que preten- Assembleia
Constituinte:
dia um governo fortemente centralizado, com uma monarquia de amplos pode- órgão
res e assessorada por um ministério; e a liberal, que defendia uma monarquia composto
por cidadãos
constitucional que restringia o poder do monarca, sendo favorável à descentra- politicamente
lização administrativa e à ampla autonomia das províncias. organizados,
responsáveis
por redigir
ou alterar a
Constituição.
Constituição:
lei geral que
integra um
conjunto de
normas e
princípios
que regem
determinado
Estado,
normalmente
codificada por
meio de um
documento
escrito.

DEBRET, Jean-Baptiste. Coroação de D. Pedro I. 1828.


Óleo sobre tela, 380 x 630 cm. Ministério das Relações
Exteriores. Palácio do Itamaraty, Brasília (DF).
Na imagem, Debret retratou a coroação de D. Pedro I. Note que, na
pintura, D. Pedro I aparece com a coroa na cabeça e um cetro na mão
e, sentado no trono, faz o juramento de fidelidade em nome do povo.

Apesar de muitos pontos em comum, como a recusa em aceitar a auto-


ridade de D. Pedro I, havia algumas questões conflitantes entre os liberais, por
exemplo: os proprietários rurais opunham-se ao fim do tráfico de escravizados,
enquanto alguns setores da sociedade, formados por advogados, jornalistas,
padres, professores e pelas classes populares, defendiam posições mais ra-
dicais, inclusive a abolição da escravatura, liberdade de expressão e iniciativa.
A reunião de uma Assembleia Constituinte, em maio de 1823, seguin-
do uma convocação feita no ano anterior, foi marcada inicialmente pelas ideias
conservadoras de aprovar uma Constituição que fortalecesse o poder do im-
perador D. Pedro I.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 7


Contudo, desentendimentos internos determinaram a apresentação de
um projeto que ficou conhecido como Constituição da Mandioca, o que levou
D. Pedro I a recusar o encaminhamento dos trabalhos.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
CONSTITUIÇÃO DA MANDIOCA
O projeto recebeu essa nominação ao estabelecer que o voto seria censitá-
rio, ou seja, só votariam ou se candidatariam aqueles que tivessem determinado
nível de renda, por exemplo: para votar para deputado, um cidadão deveria ter um
rendimento anual equivalente a 150 alqueires de mandioca; para votar para sena-
dor, 250 alqueires. Para candidatar-se a esses cargos, a renda deveria ser de 500
ou 1 000 alqueires, respectivamente.

No dia 12 de novembro de 1823, D. Pedro I destituiu a Assembleia Consti-


tuinte e um novo projeto de Constituição foi elaborado pelo Conselho de Estado
composto por 10 pessoas indicadas por ele.
A primeira Constituição do Brasil, que perduraria até fevereiro de 1891,
foi aprovada em 25 de março de 1824, ou seja, criada sem a participação da
população e instituída no país. Essa Constituição estabeleceu um governo mo-
nárquico e hereditário seguindo as ideias francesas e inglesas, mas a divisão
dos poderes apresentava, apesar disso, um toque original. O poder Executivo
seria exercido pelo imperador e por ministros nomeados e demitidos por ele;
o poder Legislativo seria exercido por deputados eleitos por quatro anos e se-
nadores nomeados em caráter vitalício; o poder Judiciário cabia ao Supremo
Tribunal de Justiça; e o poder Moderador, da competência do próprio imperador,
assessorado por um Conselho de Estado por ele nomeado. Na prática, o poder
Moderador conferia poderes absolutos a D. Pedro I.
Essa Constituição, além de estabelecer uma rígida centralização de po-
der, estabeleceu o catolicismo como religião oficial, o poder do Estado sobre a
Igreja, o voto censitário (por renda) e o voto a descoberto (não secreto).
O reconhecimento externo do Império brasileiro, criado por D. Pedro I,
foi obtido em 1825, após três anos de negociações, pela concessão do Brasil
do título de imperador perpétuo a D. João VI e ao pagamento da quantia de
2 milhões de libras que Portugal devia à Inglaterra.

8 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Esta leitura permite a exploração do documento histórico em algumas dimensões de interes-
se, por exemplo, a diferença entre a grafia de algumas palavras em 1824 e na atualidade. É
possível acessar o documento na íntegra no site <planalto.gov.br> para que outros trechos
possam ser analisados pelos alunos, dando oportunidade para que eles explorem aspectos
do voto, da propriedade, da composição dos demais poderes.

[...] Art. 98 – O Poder Moderador é a chave de toda a organisação

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política, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supre-
mo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemen-
te vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia
dos mais Poderes Politicos.
Art. 99 – A Pessoa do Imperador é inviolavel, e Sagrada. Elle não
está sujeito a responsabilidade alguma. [...]
Constituição Politica do Imperio do Brazil (de 25 de março de 1824). Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm>. Acesso em: 29 jan. 2018.

O poder Moderador se sobrepunha aos demais poderes. Em sua


opinião, quais seriam as dificuldades enfrentadas por um país recém-criado
como o Brasil para organizar o seu futuro tendo o poder concentrado na
figura do imperador D. Pedro I?
O aluno pode inferir que a concentração de poder nunca é boa, pois toda a população fica refém da

vontade de uma única pessoa e, no caso do Brasil independente, onde tudo estava para ser organi-

zado, essa questão poderia ser ainda mais complicada.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 9


A independência do Brasil foi feita aos poucos. Bem

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depois do famoso Grito do Ipiranga, um bom pedaço do
país mantinha-se fiel ao império português. [...]
GALVEZ, Marcelo Cheche. São Luís de Portugal. Revista de História
da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, n. 38, p. 68, nov. 2008.

Explique por que, segundo o autor, a independência do Brasil


“foi feita aos poucos”.
D. Pedro I enfrentou sérias dificuldades, principalmente com relação à aceitação de

sua autoridade por parte de muitas províncias no Brasil.

OS MOVIMENTOS CONTRÁRIOS AO GOVERNO DE D. PEDRO I

A concentração de poder obtida por D. Pedro I gerou enorme desconten-


tamento. No Nordeste, persistiam sérios problemas econômicos e sociais que
já haviam sido revelados antes da proclamação da independência do Brasil.
Em 1817, na cidade de Recife, em Pernambuco, havia ocorrido um mo-
vimento contra a opressão colonial liderado pelos padres João Ribeiro (1766-
-1817) e Miguelinho (1768-1817) e pelo comerciante Domingos José Martins
(1781-1817), entre outros participantes, incluindo alguns militares. Nesse movi-
mento, denominado Revolução Pernambucana de 1817, os rebeldes formaram
um governo provisório constituído por um Conselho de Estado, adotaram uma
bandeira e elaboraram a Lei Orgânica, que estabelecia a liberdade de consciên-
cia e de imprensa, a tolerância religiosa e a abolição de tributos ligados aos
produtos indispensáveis à subsistência da população. O movimento se propa-
gou pela Paraíba, por Alagoas e pelo Rio Grande do Norte, foi reprimido e seus
líderes condenados ao fuzilamento.

10 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Os participantes do movimento que haviam escapado da prisão e da mor-
te em 1817 continuaram a luta, defendendo os ideais liberais e republicanos,
que culminaram na proclamação da Confederação do Equador em 1824, cujas
regiões participantes estão destacadas no mapa a seguir.

A CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

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Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2007. (Adaptado).
A exploração dos mapas
históricos brasileiros envolve
Desde 1822, a província de Pernambuco vivia um clima de agitação em um conjunto de habilidades
virtude da destituição da Junta Democrática e Independente que governava importantes no que diz respeito
às dimensões de espaço-tempo.
a província. Essa junta foi substituída por uma mais conservadora e o antigo Para o 7.º ano, há a possibilida-
governador, Pais de Andrade (1774-1855), negou-se a entregar o governo. No dia de da construção de um atlas
2 de junho de 1824, teve início a luta por meio da proclamação da Confederação do histórico com mapas elaborados
pelos alunos, integrando infor-
Equador, que, pela publicação de um manifesto, convidava outras províncias do mações sobre diversos aspectos
Norte e do Nordeste a aderirem ao movimento. A Confederação do Equador e ressignificando-as. Neste
adotou o regime republicano nos moldes do norte-americano, e recebeu esse contexto, é possível propor aos
alunos o uso de técnicas de
nome pela proximidade geográfica da linha do Equador. Porém, divisões internas mapa mudo com a elaboração
ocorridas entre os revolucionários, como as relativas à abolição da escravatura, de legendas. O trabalho com o
facilitaram a repressão pelo governo imperial de D. Pedro I. Foram contratadas atlas pode envolver os vários
mapas contidos nesta unidade e
esquadras e mercenários ingleses, pagos com um empréstimo de milhões de nas posteriores.
libras esterlinas, para reprimir o movimento.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 11


Desse modo, a afirmação do governo imperial de D. Pedro I no Brasil in-
dependente teve um alto custo, do ponto de vista político, econômico e social,
uma vez que os interesses da maioria da população não foram atendidos.

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LA GRECA, Murillo. A execução de Frei
Espera-se que os alunos destaquem os procedimentos para Caneca. 1924. 2 quadros. Óleo sobre
tela. Acervos Murillo La Greca, Museu
a elaboração da Constituição de 1824, o que foi a Assem- do Estado de Pernambuco (Brasil).
bleia Constituinte, quem a compôs, as novas leis estabele- Joaquim da Silva Rabelo (1779-1825),
cidas, a existência do poder Moderador, o voto censitário, mais conhecido como Frei Caneca,
o governo monárquico, hereditário e vitalício, além de participou da Revolução Pernambucana
de 1817 e da Confederação do
outros fatores. Podemos pensar que, se estavam ocorrendo Equador. Sua condenação à forca teve
importantes transformações na Europa, é natural que essas de ser modificada para fuzilamento,
transformações também fossem disseminadas nas colônias, por causa da recusa do executor em
porque quem as controlava eram justamente as metrópoles aplicar a pena de enforcamento.
europeias, porém os fatos não se desenvolveram assim
tão facilmente. Como explicar a
continuidade da escravidão nas
colônias, enquanto na Europa se
escrevia a Declaração dos Di-
reitos do Homem e do Cidadão,
A Constituição de 1824 aplicava alguns dos ideais pregados pelo Ilumi-
que estabelecia a igualdade de
direitos, a liberdade, a justiça, nismo, como a divisão dos poderes e princípios ligados à liberdade, mas não
entre outros princípios? Muitos aboliu a escravidão. Tendo como referência a luta por uma sociedade igualitária,
defensores da independência
explique como a Constituição de 1824 alcançou ou não esses princípios.
das colônias usaram argumentos
a favor da separação política
e econômica que desejavam,
contudo, na maioria das vezes, a
liberdade das colônias não sig-
nificava a criação de uma socie-
dade mais igualitária. Os alunos
podem refletir sobre cidadania,
direitos e deveres, participação,
entre outros aspectos.

12 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Leia o fragmento de texto a seguir, sobre a Constituição de 1824,
extraído da obra 1822, do jornalista Laurentino Gomes.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Uma das novidades da Constituição de 1824 era a li-
berdade de culto. [...] Ninguém podia ser preso sem culpa
formada em inquérito policial nem condenado sem amplo
direito à defesa. Apesar de todos esses avanços, excluía
dos direitos políticos os escravos, os índios, as mulheres,
os analfabetos, os menores de 25 anos e os pobres em ge-
ral. Só podiam votar e ser candidatos aos cargos eletivos os
cidadãos do sexo masculino e “ativos”, assim definidos pelo
critério de propriedade e renda anual. [...]
GOMES, Laurentino. 1822. Como um homem sábio, uma princesa triste e
um escocês louco por dinheiro ajudaram Dom Pedro a criar o Brasil – um país
que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010. p. 219.

Com base no fragmento apresentado, responda às seguintes questões.


1 Qual é o assunto tratado no texto?
O trecho enfoca alguns artigos da Constituição de 1824, outorgada dois anos após a

independência do Brasil.

2 A Constituição de 1824 estabelecia a igualdade entre todas as


pessoas que viviam no Brasil? Justifique sua resposta.
Não, pois ela privilegiava apenas os cidadãos do sexo masculino em atividade econô-

mica, assim definidos pelo critério de propriedade e renda anual. O voto era censitário.

3 De acordo com ela, todos podiam votar e ser candidatos?


Não. Escravizados, indígenas, mulheres, analfabetos, menores de 25 anos e pobres em

geral não podiam votar ou ser candidatos a nenhum cargo.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 13


A abdicação de D. Pedro I e o
estabelecimento do governo regencial
Em 1826, com a morte de D. João VI, rei de Portugal, D. Pedro I foi proclamado seu sucessor.
Contudo, ele renunciou ao trono de Portugal em favor de sua filha menor, Maria da Glória, deven-
do ela casar-se com D. Miguel, irmão de D. Pedro I, que exerceria o poder como regente. Porém,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
D. Miguel foi aclamado rei de Portugal em 1828, o que desencadeou uma crise sucessória.
Diante de tal situação, D. Pedro I abdicou do trono brasileiro no dia 7 de abril de 1831, em favor de
seu filho, Pedro de Alcântara, que tinha cinco anos de idade, e partiu para assumir o trono de Portugal.
A renúncia de D. Pedro I ao trono do Brasil possibilitou ao Partido Brasileiro ocupar o gover-
no por meio de um sistema regencial durante 16 anos, até que D. Pedro de Alcântara atingisse a
maioridade. A Constituição de 1824 previa a eleição de três membros para formar uma regência,
caso o imperador estivesse impossibilitado de governar.
Desse modo, iniciou-se o período regencial de 1831 a 1840, um dos mais instáveis da vida
política brasileira, quando o Brasil foi governado por alguns regentes, conforme é possível verificar
no quadro abaixo.

• Regência Trina Provisória (1831) – Nicolau de Campos Vergueiro, José Joaquim de


Campos e Francisco de Lima e Silva
• Regência Trina Permanente (1831-1835) – Costa Carvalho, Bráulio Muniz e Francisco
de Lima e Silva
• Regência Una (1835-1837) – Padre Antônio Feijó
• Regência Una (1837-1840) – Pedro de Araújo Lima

Quando D. Pedro I abdicou, a maioria dos deputados e senadores estava em férias, e como o
Brasil não podia ficar sem governo, escolheram provisoriamente três regentes entre os presentes,
estabelecendo-se a Regência Trina Provisória. Logo após, em junho de 1831, com a presença de
todos os parlamentares, foi nomeada a Regência Trina Permanente, que deveria, então, permane-
cer no poder até entregar o governo a D. Pedro II, quando este completasse a maioridade.
Durante os nove anos de período regencial, o Estado brasileiro realmente se consolidou e
o governo se fortaleceu, reprimindo com violência as manifestações populares. As intensas agi-
tações políticas e sociais, agravadas com a crise das exportações de açúcar, algodão e fumo, a
desvalorização da moeda, o aumento de impostos e as divergências entre os regentes, levaram
os deputados e senadores a promoverem uma reforma na Constituição de 1824, por meio da pro-
mulgação do Ato Adicional.
O Ato Adicional de 1834 alterou artigos da Constituição de 1824. Por esse Ato Adicional, a
Regência Trina foi substituída por uma Regência Una (um só regente), eleita por um período de
quatro anos, e foram criadas as assembleias legislativas provinciais em substituição aos conselhos
provinciais, o que permitiu maior autonomia às províncias.
Esse ato fortalecia o poder centralizado por meio do cargo exercido pelo regente único, es-
colhido entre os eleitores e não mais pelo parlamento. Apesar de conceder maior autonomia às

14 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


províncias, a escolha dos presidentes das províncias continuou sob a indicação
do poder central.
Já no início desse período, uma figura começou a destacar-se: o padre
Diogo Antônio Feijó (1784-1843), nomeado como Ministro da Justiça durante
a Regência Trina Permanente. Sua principal preocupação era garantir a ordem
pública, acabando com as agitações e os levantes populares. Foi ele o respon-
sável pela criação da Guarda Nacional, que se tornou um instrumento de defesa

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
usado pela aristocracia para preservar seu poder.

José Arturo Scotto


uía em uma
de posses e se constit
formada por pessoas promovidas
A Guarda Nacional era con sta nte s reb eliõ es
par am ilita r cuj a fun ção era combater as ial, rep rim indo de
for ça o reg enc
intensa durante o períod ando da Guarda
no país. Sua atuação foi os con trár ios . O com
os vários moviment nde
forma firme e violenta re Feijó, que obteve gra
nal cou be ao ent ão Ministro da Justiça, pad and o da Gu ard a.
Nacio meio do com
or da ordem pública por
projeção como defens

PERÍODO REGENCIAL
Durante esse período, os três grupos políticos que se formaram – liberais
moderados, liberais exaltados e restauradores – tinham propostas diferentes, no
entanto, mantinham-se unidos quando corriam o risco de perder seus privilégios.
Esses três grupos políticos eram ligados, principalmente, aos ricos proprietários.
Entre os liberais exaltados, havia uma participação maior da classe média urbana;
os restauradores tinham como principal objetivo restaurar o governo de D. Pedro I,
ou seja, queriam que ele voltasse para governar o Brasil. Como D. Pedro I morreu
em 1834, esse partido deixou de existir e a maioria de seus participantes juntou-se
aos liberais moderados.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 15


Diogo Antônio Feijó pertencia ao grupo dos moderados, perseguindo os
restauradores e os liberais exaltados. Era muito austero e não aceitava, com
facilidade, críticas e opiniões diferentes da sua. Renunciou como ministro, mas
continuou influente na política, elegendo-se regente uno após o Ato Adicional.
Dois anos depois, com a saúde debilitada, renunciou também à regência, pois

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
não suportou a oposição da maioria dos deputados dentro do próprio partido e
as rebeliões que surgiram em diversas províncias.
Em seguida, Pedro de Araújo Lima foi, então, nomeado regente. Muito
conservador, apoiou o fortalecimento do poder central, anulando algumas mu-
danças feitas pelo Ato Adicional, que davam maior autonomia às províncias.
Enquanto os políticos definiam os rumos do Estado brasileiro, o regente
Pedro de Araújo Lima (1793-1870) tentava reprimir com violência as revoltas
austero: rígido,
inflexível.
que continuavam eclodindo pelo Brasil.

Da luta entre liberais radicais, de um lado, e moderados e con-


servadores, de outro, resultaria o Ato Adicional de 1834, forma conci-
liatória encontrada temporariamente pelos vários grupos em jogo.
COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos
decisivos. São Paulo: Unesp, 1999. p. 154.

Com base na leitura do trecho e no que foi estudado anterior-


mente, o que foi o Ato Adicional de 1834 e que tipo de conciliação a
publicação desse ato permitiu?
O Ato Adicional foi uma reforma na Constituição que pretendia atender a todos os grupos, fa-

zendo concessões a um e a outro, dependendo da situação. Os exaltados conseguiram extinguir

o Conselho de Estado e aumentar a autonomia das províncias.

16 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Veja orientação didática.

1 Assinale a alternativa que apresenta o principal fator que favoreceu a ab-


dicação de D. Pedro I ao trono no Brasil.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
a) Houve a modificação da estrutura de poder que atendia aos interesses
capitalistas.
b) Houve a permanência de interesses portugueses nas províncias do Sul.
c) Houve a implantação do sistema parlamentar de governo.
d) Houve o golpe de Estado de seu irmão D. Miguel, que assumiu indevi-
damente o trono de Portugal.

2 Durante o período regencial, mais uma vez consolidou-se a seguinte afir-


mação: “A aristocracia mandando e o povo obedecendo”.
Assinale a alternativa que reflete o significado dessa afirmação.
a) O governo fortaleceu os privilégios dos latifundiários e manteve o povo
fora das decisões políticas.
b) O governo fortaleceu a participação política do povo e, consequente-
mente, seus privilégios.
c) O governo reprimiu com violência as manifestações populares expres-
sas por meio do voto.
d) O governo agravou a crise social e política, desvalorizando a moeda e
fortalecendo as manifestações populares.

AS REBELIÕES REGENCIAIS

Durante o período regencial eclodiram revoltas em todas as regiões do


Brasil, tanto no campo como nas cidades. Conforme abordado no início desta
unidade, não foi tarefa simples para D. Pedro I obter o reconhecimento da in-
dependência do Brasil e de seu governo pelas províncias, o que gerou diversos
movimentos contrários.
Apesar da reforma constitucional realizada por meio do Ato Adicional, que
promoveu maior autonomia às províncias, os conflitos continuaram, embora
de forma descentralizada. Muitos desses movimentos chegaram a colocar em
risco a unidade brasileira.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 17


Entre os principais movimentos desse período estavam a Sabinada, a
Balaiada, a Cabanagem e a Revolução Farroupilha. Observe no mapa a seguir
as regiões nas quais esses movimentos se concentraram.

REVOLTAS DO PERÍODO REGENCIAL

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2007. (Adaptado).

Sabinada (1837-1838)

Ao contrário de outros movimentos, não incluía a defesa dos interesses


mais populares. Foi chefiada por elementos das camadas intermediárias, como
o médico Francisco Sabino (1796-1846), motivo da origem do nome. Os revolu-
cionários baianos pretendiam tornar a província independente até a maioridade
do imperador. A repressão desse movimento foi cruel, pois casas foram incen-
diadas e prisioneiros lançados ao fogo.

Cabanagem (1835-1840)

Ocorrida no Pará, começou com as tentativas de deposição do presidente


dessa província, o que representou um conflito político entre os grupos de poder,
mas a partir de 1835 se transformou em uma rebelião popular. As pessoas de
renda mais baixa – indígenas e mestiços – dedicavam-se principalmente ao
extrativismo vegetal, à caça e à pesca. Pelas dificuldades de comunicação da
época, tinham mais ligação com Portugal do que com o governo central do Brasil.

18 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Para a população de baixa renda do Pará, a independência não tinha ne-
nhum significado de conquista social e, portanto, o descontentamento popular
permanecia. As agitações se intensificaram com a situação de instabilidade po-
lítica gerada pela abdicação de D. Pedro I, ocasião em que o governo regencial
nomeou autoridades para a província, as quais foram contestadas pelas lideran- charque: carne
ças locais que se associaram ao povo na rebelião. De um lado estavam os caba- bovina salgada,
que pode passar

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
nos, pertencentes às camadas mais humildes da população, que se revoltaram por processo de
contra as classes mais abastadas e identificadas com os portugueses; de outro secagem ao sol
ou de produtos
estavam as lideranças políticas locais, que se rebelaram contra as decisões do químicos.
governo central. Os cabanos chegaram a tomar a capital da província e, por três
anos, permaneceram lutando no interior, até os últimos rebeldes, mais de mil,
renderem-se em 1840.

Revolução Farroupilha (1835-1845)

No Sul do país, a Revolução Farroupilha, também conhecida como Guerra


dos Farrapos, durou dez anos. O principal motivo de descontentamento dos
sulistas foi de ordem econômica. Os estancieiros gaúchos lutavam por maior
autonomia política e administrativa no Sul. A principal riqueza da província era a
produção do charque e a criação de mulas.

LITRAN, Guilherme. Carga de cavalaria. 1893. Óleo sobre tela. Museu Júlio
de Castilhos, Porto Alegre (Brasil).
As cores preto, amarelo e vermelho compunham a bandeira
da chamada República Rio-Grandense e são, na atualidade,
as cores da bandeira do estado do Rio Grande do Sul.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 19


O governo taxou com elevados impostos a
comercialização do charque, parte integrante da
economia gaúcha. Isso fez com que o produto
ficasse muito mais caro que o charque vindo da
Argentina e do Uruguai e as vendas caíssem.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Além disso, o presidente da província e alguns
funcionários não compartilhavam das mesmas
ideias dos farroupilhas. Embora o movimento fosse
liderado pelos proprietários rurais, também houve
grande participação popular.
O comandante da Guarda Nacional do Rio
DESCONHECIDO. Retrato de General
Bento Gonçalves da Silva. 1840-1847. Grande do Sul, Bento Gonçalves da Silva (1788-
Óleo sobre tela, 54 x 65 cm. Museu
Histórico Nacional, Rio de Janeiro (Brasil).
-1847), iniciou a revolução tomando a cidade de
Criador de gado, o gaúcho Bento
Porto Alegre em 1838 e, um ano depois, proclamou
Gonçalves da Silva foi o principal chefe a República de Piratini, da qual se tornou o primeiro
farroupilha, que liderou a rebelião contra
o presidente da província do Rio Grande presidente.
do Sul. Em 1835, tornou-se presidente
da República de Piratini, proclamada por
ele. Preso em seguida, foi conduzido
à Bahia, de onde fugiu em 1837,
retornando ao Rio Grande do Sul para
reassumir o comando dos farroupilhas.

Com o apoio do italiano Giuseppe Garibaldi


(1807-1882), o movimento se propagou exigindo
que, em 1842, o então barão de Caxias fosse indi-
cado para fazer a pacificação no Sul, onde obteve
várias vitórias como a de Ponche Verde, Piratini e
Canguçu. Para evitar o prosseguimento da revolu-
ção, Caxias, depois de cortar estrategicamente o
suprimento alimentar dos farrapos, propôs habil-
Library of Congress

mente a anistia, sendo-lhes dado o direito de in-


gressar no Exército brasileiro, com os postos que
já possuíam, além do que, por meio do acordo Paz Giuseppe Garibaldi dedicou sua vida ao
de Ponche Verde, uma série de reivindicações dos combate, de armas na mão, motivado
por várias causas. Além da Revolução
revoltosos foi atendida, como: o direito de esco- Farroupilha, participou também das
guerras pela independência da Argentina
lherem o presidente da província e as mudanças e do Uruguai e ainda dispensou anos
sobre as taxas do charque platino. seguidos à luta pela unificação da Itália.
Casou-se com a brasileira Anita Garibaldi.
Com ela e David Canabarro, o “Ministro
da Guerra” dos Farrapos, em julho de
1839 tomou Laguna, em Santa Catarina,
onde proclamou a República Juliana.

20 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Balaiada (1838-1841)

Foi um movimento tipicamente popular ocorrido no estado do Maranhão.


Dá-se o nome de Balaiada a esse movimento porque um de seus líderes,
Manuel Francisco dos Anjos Ferreira (1784-1840), assim como grande parte
da população, era fabricante de balaios. Com uma força de 11 mil homens,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
composta de lideranças populares e escravizados fugidos, percorreu o sertão
organizando os revoltosos.
Marcado pelo protesto contra prisões arbitrárias, contra o recrutamento
forçado de elementos para comporem a Guarda Nacional e contra as desigual-
dades sociais, caracterizadas pela miséria da população, essa luta teve dois gru-
pos contestadores diferentes: um era composto pelos dirigentes da província,
pertencentes aos grupos políticos, que estavam descontentes com o governo
central; o outro era popular e reivindicava melhores condições de vida.
Como ocorreu na Cabanagem, a Balaiada foi sufocada pelo governo re-
gencial, depois de muitas lutas e muitos mortos.

1.
1  Tendo como referência as rebeliões ocorridas no período regencial, rela-
cione as revoltas com suas respectivas características.
I. Cabanagem
II. Sabinada
III. Balaiada
IV. Farroupilha

( II ) Ocorrida na Bahia, foi reprimida fortemente pelo regente Araújo de


Lima.
( I ) Ocorrida no Pará, os revoltosos chegaram a proclamar uma república.
( IV ) Ocorrida no Rio Grande do Sul, tinha como líder Bento Gonçalves.
( III ) Ocorrida no Maranhão, teve como um dos líderes o Negro Cosme.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 21


3.
2  Retorne às páginas de abertura e às suas anotações sobre os conceitos
de liberdade e independência.
Tendo como referência os acontecimentos narrados nas revoltas do pe-
ríodo regencial, escreva um parágrafo explicando as dificuldades para a
construção da independência nessa fase da história do Brasil.
A resposta do aluno poderá abordar:

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
• O Brasil tinha uma complexidade muito grande – muitas culturas diferentes, dificuldades de

comunicação e interesses regionais divergentes.

• A liberdade aconteceu no campo político, mas não alcançou toda a população, apenas as elites

brancas conseguiram a liberdade, e durante as revoltas regenciais todas as contradições do

período inicial da independência afloraram como conflitos.

4.
3  Agora, reflita sobre os limites impostos pelo novo regime político criado
no Brasil para as liberdades individuais. Registre sua reflexão em um pa-
rágrafo.
Resposta pessoal.

O aluno poderá abordar os aspectos ligados à continuidade da escravidão, à perseguição aos indí-

genas, ao acesso restrito à participação política daqueles que não tinham alta renda e à exclusão

de mulheres e militares da vida política.

22 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


4.
4  Após a leitura do texto sobre as rebeliões regenciais, responda às ques-
tões a seguir.
a) Cite duas causas comuns dessas rebeliões que demonstraram a insa-
tisfação popular com o governo regencial.
A Cabanagem, ocorrida no Pará entre 1835 e 1840, começou com as tentativas de deposição

do presidente dessa província, o que representou um conflito político entre os grupos de poder,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
mas, a partir de 1835, transformou-se em uma rebelião popular. As pessoas de renda mais

baixa – indígenas e mestiços – dedicavam-se principalmente ao extrativismo vegetal, à caça e

à pesca. Para a população de baixa renda do Pará, a independência não tinha nenhum signifi-

cado de conquista social e, portanto, o descontentamento popular permanecia. No Maranhão,

a Balaiada foi um movimento tipicamente popular, ocorrido entre 1838 e 1841, marcado pelo

protesto contra prisões arbitrárias, contra o recrutamento forçado de elementos para compor a

Guarda Nacional e contra as desigualdades sociais, caracterizadas pela miséria da população.

b) Como o governo reprimia esses movimentos?


O governo regencial combatia as rebeliões por meio de muitas lutas, as quais deixaram muitos

mortos.

c) Houve alguma diferença entre o tratamento dado pelo governo às lide-


ranças dessas rebeliões? Justifique.
Enquanto em revoltas como a Cabanagem e a Sabinada, que tiveram maior participação popu-

lar, houve forte repressão, prisões e milhares de mortos, na Revolução Farroupilha o governo

regencial propôs uma anistia, sendo-lhes dado o direito de ingressar no Exército Brasileiro, com

os postos que já possuíam, além do que, por meio do acordo Paz de Ponche Verde, uma série

de reivindicações dos revoltosos foi atendida, como: o direito de escolherem o presidente da

província e mudanças sobre as taxas do charque platino.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 23


POLÍTICAS OFICIAIS COM RELAÇÃO AO
INDÍGENA DURANTE O IMPÉRIO

Conforme apontado anteriormente, aconteceram várias rebe-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
liões regenciais, entre elas, a Cabanagem, que ocorreu entre 1835 e
1840 na região norte do país e afetou de maneira intensa a população
de baixa renda e os indígenas da região. Agora vamos conhecer como
se deram as orientações e políticas governamentais durante o período
imperial no Brasil em relação aos diversos grupos indígenas do país.
Em estudos anteriores, tanto no período colonial quanto no Im-
pério foram muitos os desafios a serem enfrentados com relação a
este importante segmento da população brasileira.
Políticas governamentais relacionadas à promulgação da Lei de
Terras de 1850, que tinha entre os seus principais objetivos regularizar
juridicamente a propriedade da terra no país, transformou extensas
parcelas do território brasileiro, ocupadas pelos mais variados grupos
indígenas, em terras públicas ou devolutas. Esse processo, que pres-
supunha que as denominadas terras devolutas poderiam ser adqui-
ridas por meio de compra por particulares, resultou em uma intensa
luta com os indígenas. As populações indígenas que habitavam essas
terras passaram a ser expulsas e, com o tempo, aniquiladas.
Em alguns estados, como São Paulo, a apropriação das terras in-
dígenas aconteceu pela criação de aldeamentos, buscando com isso a
terras devo-
lutas: terras integração dos indígenas à população nacional e descaracterizando a
públicas sem sua cultura e a forma como historicamente praticavam a relação com a
destinação
pelo Poder
terra e a produção de sua sobrevivência.
Público e que De modo geral, foi por meio da violência que se desenvolveu a
em nenhum
política governamental em relação aos grupos indígenas e foi nesse
momento
integraram o período que se desenvolveu a primeira política indigenista do Estado
patrimônio de brasileiro com o “Programa de Catequese e Civilização dos Índios”, ins-
um particular,
ainda que es- tituído por decreto do imperador D. Pedro II, em 24 de junho de 1845,
tejam irregu- que consistia no aldeamento das populações indígenas citado anterior-
larmente sob
sua posse. O mente. Essa política perdurou até o final do período imperial, em 1889,
termo devolu- e buscava prioritariamente integrar o indígena como trabalhador rural e
ta relaciona-se
ao conceito também liberar as terras das populações tradicionais para os imigran-
de terra devol- tes europeus, que começavam a chegar ao Brasil.
vida ou a ser
devolvida ao
Estado.

24 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


1.
1  Descreva as bases da política oficial em relação ao indígena durante o
Império.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
• A criação da lei de terras e a classificação das terras indígenas como terras devolutas.

• A venda das terras devolutas para migrantes europeus.

2.
2  Analisando o contexto do império brasileiro é possível afirmar que as po-
líticas oficiais para as populações indígenas visavam eliminar o modo de
vida tradicional dessas populações.
Apresente argumentos que sustentem essa afirmação.
Os principais argumentos são:

• O acossamento das populações tradicionais para que se integrassem ao modo de vida criado

pela sociedade portuguesa/brasileira no período colonial.

• A substituição de mão de obra tradicional, já aculturada, pela mão de obra de imigrantes.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 25


Leia com atenção o texto a seguir.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
[...] O manto imperial destinava-se a criar a ilusão de um
Estado nacional em um país cuja sociedade civil estava dis-
persa na Geografia e História, apoiada no trabalho escravo,
na massa de trabalhadores considerados de outra raça, outra
casta. Uma população impossibilitada de circular em qualquer
esfera de poder em que dominava o senhor, o branco, aquele
que dispunha de “direitos”. Um manto imperial que dependia
da legitimidade emprestada do absolutismo lusitano, dando a
impressão de uma continuidade real e imaginária. Uma legitimi-
dade apoiada no cetro e na espada, à sombra da cruz. [...]
IANNI, Otávio. A ideia de Brasil moderno. São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 160-165.

A cidadania obtida pela população brasileira pela Constituição de


1824 foi bastante frágil e parcial, pois os negros, os índios, as mulhe-
res e as pessoas de baixa renda ficaram excluídos da participação, pois
não tinham direito ao voto.
Reflita sobre esse aspecto da Constituição de 1824 e registre
suas conclusões nas linhas a seguir. Depois, forme uma equipe de
trabalho com três colegas e pesquisem em jornais, revistas e livros
de História fatos, notícias, depoimentos, entre outras fontes, que pos-
sam retratar a dificuldade de acesso dos brasileiros aos direitos como
cidadãos na atualidade em relação à saúde, à educação e à moradia.
Ao final, organize com seus colegas um painel em sala de aula com
ilustrações e fotografias que possam traduzir para vocês o sentimento
de cidadania.
O texto de Otávio Ianni possibilita a reflexão sobre a formação do Brasil com as suas dimensões
continentais e os aspectos e fatores que determinaram essa configuração. É importante refletir
com os alunos sobre as dimensões geográficas, culturais, econômicas e políticas do país, tendo
como referência a história, o contexto do Estado ou região em que os alunos vivem e sobre a
visão que apresentam sobre esse tema.

26 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


A chegada do café ao Brasil
Durante o império no Brasil, a economia manteve a estrutura agrícola,
escravocrata e cíclica herdada do período colonial. O Brasil continuava como
fornecedor dos chamados “artigos de sobremesa” (açúcar e cacau) e consu-
midor dos produtos industrializados importados da Europa. A grande diferença

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
ocorreu com o produto a ser plantado. A produção de açúcar, que já estava em
crise desde o século XVIII, foi sendo gradativamente substituída pela produção
do café.

CAFÉ
Originário da Arábia, foi introduzido em nosso país no ano de 1727 pelo
militar luso-brasileiro Francisco de Melo Palheta (1627-1750). As mudas foram
trazidas da Guiana Francesa e as primeiras plantações foram no Pará. Após al-
gum tempo, as plantações se espalharam por outras regiões. A princípio, beber
café não fazia parte dos hábitos alimentares da população do Brasil. Era muito
comum ver o pé de café ser utilizado como planta ornamental nos jardins de
algumas casas nas cidades.

Henrique Cavalleiro

Esta obra, que faz parte do acervo do Museu do Café


de Santos, representa o recebimento dos grãos e da
primeira muda de café por Francisco de Melo Palheta.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 27


O declínio da mineração na região de Minas Gerais e da concorrência
do açúcar brasileiro no mercado externo apontavam para a região Sudeste do
Brasil, de clima favorável e um solo rico, como o melhor local para o desenvol-
vimento da produção cafeeira.
O aumento do consumo do produto, tanto na Europa como nos Estados
Unidos, aliado aos preços bastante favoráveis à compra, fizeram com que o in-
teresse pelo cultivo da planta crescesse no país. Inicialmente, as plantações de

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
café localizavam-se no Vale do Paraíba, na província do Rio de Janeiro.
Não se tem notícia de como a primeira muda de café chegou ao Rio de
Janeiro, por volta de 1776, pois essa planta não despertava, a princípio, nenhum
interesse comercial nos fazendeiros, pois eles estavam preocupados apenas
com a produção de cana-de-açúcar.
Entre os fatores que determinaram o desenvolvimento da produção ca-
feeira nessa região foi a grande quantidade de mão de obra disponível, em vir-
tude do declínio da atividade mineradora, principalmente na província de Minas
Gerais, além da proximidade do porto.

DEBRET, Jean-Baptiste. Carregadores de café a caminho


da cidade. 1826. Aquarela sobre papel, 15,9 x 22 cm.
Museus Castro Maya, Rio de Janeiro (Brasil).
No início, o trabalho nas lavouras de café era feito por africanos que
foram trazidos à força para o Brasil, onde foram escravizados.

A partir de 1870, com o esgotamento das terras do Vale do Paraíba, o café


foi, pouco a pouco, conquistando a região do oeste paulista.
Em Ribeirão Preto, formou-se um importante núcleo produtor. O solo
avermelhado da região, bastante fértil, popularmente conhecido como terra
roxa, garantia uma ótima produtividade. No decorrer do século XIX, o café ex-
pandiu-se também para o sudeste de Minas Gerais e para o norte do Paraná.

28 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Editora Nova Fronteira

GOMES, Laurentino. 1822. Como um


homem sábio, uma princesa triste e um
escocês louco por dinheiro ajudaram
D. Pedro a criar o Brasil – um país
que tinha tudo para dar errado. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.

Nessa obra, o jornalista Laurentino Gomes relata como era o país


quando a corte de D. João VI retornou a Lisboa, em 1821, apontando
as dificuldades e todo o processo que envolveu o Primeiro Reinado, da
abdicação de D. Pedro I, em 1831; sua volta a Portugal para enfrentar o
irmão, D. Miguel, que havia usurpado o trono; à sua morte, em 1834.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 29


O SEGUNDO REINADO NO BRASIL
de dife-
en s. N elas en contramos pessoas
ente as imag melhores condiç
ões de
Observe atentam ra si l em bu sc a de
oB
e migraram para Ásia ou na Améric
a e pro-
rentes épocas qu em na Eu ro pa , na
us países de orig colegas sobre as
condi-
vida. Saíram de se . C on ve rse co m os
raízes nesta terra passaram a viver
no Brasil.
curaram fixar suas m igra r e co m o
essas pessoas a sobre os itens a se
guir.
ções que levaram

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
vo cê s ch eg aram
conclusões a que
Depois, registre as ar e se fixar no
do s pe lo s im ig rantes para cheg
as enfrenta
1.1  Os problem
Brasil. nte.
rporou essa população migra
Como a socied ade brasileira inco
2 
2.

1. Os alunos podem inferir que os imigrantes sofreram com as dificuldades de


transporte – particularmente aqueles que vieram há mais tempo –, as dificuldades
com a adaptação ao clima e à sociedade já constituídos no Brasil, além das barrei-
ras de língua (idioma) e costumes.

2. Os alunos podem inferir que a sociedade brasileira já constituída pode ter re-
cebido essas populações imigrantes de diferentes maneiras. Por um lado, havia
o racismo e o preconceito já arraigados, que impediam que algumas populações
migrantes fossem integradas rapidamente, por outro lado, os novos trabalhadores
vieram para ocupar os postos de trabalho dos antigos escravizados, então eram
tratados de modo semelhante pelos senhores de terras.

Nestas páginas, o foco está em apresentar o tema gerador do bimestre – o respeito ao outro – por meio do início do
estudo sobre a migração e o impacto da movimentação de populações sobre o modo de vida, organização e interação
da sociedade já estabelecida no Brasil.
Este é um tema de suma importância, pois vivemos tempos de intensa mobilidade de populações pelas causas mais va-
riadas – questões econômicas, políticas, religiosas e culturais. Tal mobilidade gera, no entanto, tensão social e conflitos
ligados aos preconceitos, aumentando a tensão em regiões onde a entrada de migrantes se dá com maior intensidade.
Veja o caso dos migrantes venezuelanos que buscam na região Norte do Brasil um caminho de fuga dos graves ­problemas
4

UNIDADE

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
O primeiro grupo de imigrantes
alemães chegou à região sul da Bahia
em 1818, porém a primeira colônia
formada por eles localizou-se
em São Leopoldo – atual região
metropolitana de Porto Alegre (RS).

A imigração italiana para o Brasil


tornou-se significativa a partir da
década de 1870 e transformou-se
num fenômeno de massa entre
1887 e 1902, principalmente para
a região Sudeste (São Paulo).

Em 1908, iniciou-se a imigração de japoneses


para o Brasil. Em geral, destinaram-se às
áreas de produção agrícola, principalmente
na produção de café no Sudeste. Porém, na
região amazônica formou-se uma colônia
dedicada à produção de pimenta-do-reino.
Hoje o Brasil tem a maior população de
japoneses e descendentes fora do Japão.

vividos naquele país. Também é possível buscar referên-


cias em outros países (Estados Unidos – endurecimento
da política de migração; França – aumento dos conflitos e
segregação em relação aos muçulmanos).
Incentive os alunos a buscar referências nas famílias – se
há migrantes entre os antepassados ou migrantes recen-
tes –, assim como a analisar de que forma a comunidade Em 2010, o Brasil começou a receber um grande número
local se comporta em relação aos migrantes. de migrantes haitianos. Após a catástrofe que se abateu
Também é possível abordar as migrações internas, isto sobre a população do Haiti, quando um terremoto destruiu
a capital e parte da infraestrutura do país, milhares de
é, o deslocamento de populações brasileiras – de região
haitianos entraram no Brasil pelas fronteiras da região Norte.
para região.
D. Pedro II,
imperador do Brasil
Início do Segundo Reinado

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
O Segundo Reinado no Brasil teve início sob a crise política que se arras-
tava desde a abdicação de D. Pedro I.
Durante a segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira passou
por mudanças fundamentais. Iniciou-se a substituição do trabalho escravo pelo
trabalho assalariado, as fazendas de café e outras lavouras brasileiras moderni-
zaram-se, as cidades cresceram e nelas as primeiras indústrias se instalaram.
É importante que você perceba que a divisão da História do Brasil desse
período em Primeiro Reinado, Regências e Segundo Reinado ocorre apenas
para tornar mais didático o seu estudo, porém um período não é isolado do ou-
tro, ao contrário, existe uma continuidade dos interesses que vai se manifestar
novamente no chamado “golpe da maioridade”.

TAUNAY, Félix Émile. Retrato de Sua Majestade, o Imperador


D. Pedro II. 1837. Óleo sobre tela, 202,5 x 131,4 cm. Museu
Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (Brasil).
D. Pedro de Alcântara, herdeiro do trono brasileiro,
teve a sua maioridade antecipada de 18 para 14
anos para tornar-se imperador do Brasil.

30 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Como você estudou anteriormente, durante o governo imperial de
D. Pedro I e, posteriormente, durante o período regencial, ocorreram sérios pro-
blemas e foram muitas as dificuldades enfrentadas pelo governo para implantar
soluções. Na questão política, dois grupos representados pelo Partido Liberal e
o Partido Conservador lutavam para ter o controle do governo.
Em 1840, o poder ainda estava nas mãos do regente uno Araújo Lima,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
que era representante do Partido Conservador. Os membros do Partido Liberal
iniciaram uma séria oposição ao regente, defendendo a ideia da antecipação da
maioridade de D. Pedro de Alcântara. Para isso, justificavam que somente um
novo imperador poderia impor respeito, conseguir unir a sociedade e manter a
ordem no país, acabando assim com as rebeliões nas províncias.
Com esse objetivo, formou-se o Clube da Maioridade e, já com o apoio do
futuro imperador, a proposta foi levada à Assembleia Nacional, que aprovou o
projeto nomeando D. Pedro de Alcântara como D. Pedro II, imperador do Brasil,
dando início ao Segundo Reinado (1840-1889).
No dia seguinte à sua aclamação como imperador, D. Pedro II nomeou
seu primeiro ministério, composto por liberais que apoiaram a antecipação da
maioridade e que passaram a se confrontar com a Câmara, formada majoritaria-
mente por políticos do Partido Conservador. A solução para a disputa das duas
facções foi dissolver a Câmara e convocar novas eleições, as quais passaram
a ser conhecidas como “eleições do cacete”, pela fraude e a violência que as
caracterizaram, tornando-se prática comum durante todo o Segundo Reinado.

AGOSTINI, Ângelo. Bazar eleitoral. O Cabrião, São Paulo, 1867.


Nas chamadas “eleições do cacete”, eram cometidos
os mais variados tipos de abusos, como agressões
físicas, assassinatos e espancamentos.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 31


Na charge anterior, que ilustra como ocorria o processo eleitoral no
Segundo Reinado, é possível notar que as cédulas de votação ficam

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
expostas como se estivessem à venda em uma loja. Além disso, também
podemos ver a farta oferta de armamento. Observe esses e outros deta-
lhes da imagem e responda às questões a seguir.
1 Quais os produtos que estão sendo oferecidos no “Bazar eleitoral”?
Vendem-se cédulas eleitorais (votos), porretes, revólveres, espadas e rifles.

2 Em sua opinião, o que os cartazes pretendem dizer?


Pretendem dizer que para os compradores interessados não se vende fiado, que as armas

representam a violência que existia no processo e que os votos podem ser comprados e

vendidos, indicando, inclusive, o preço do voto.

32 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


OS PRIMEIROS ANOS DO GOVERNO DE D. PEDRO II

Sucessivamente, novos ministérios foram formados, ora de maioria con-


servadora, ora de maioria liberal, anulando leis anteriores e aprovando novas leis.
A reforma do Código de Processo Penal centralizou a ação judicial e poli-
cial quando os juízes deixaram de ser eleitos e passaram a ser nomeados pelo
imperador e pelo Conselho de Estado. Desse modo, passaram a ser cometi-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
das diversas arbitrariedades, opressão e favoritismo nas deliberações penais,
inclusive a prisão arbitrária das pessoas. Entre 1842 e 1844 foram muitas as
manifestações e conflitos entre liberais e o governo central de D. Pedro II.
O governo ainda enfrentou a Revolução Praieira, um movimento armado,
dirigido por liberais exaltados, ocorrido em Pernambuco. Os pernambucanos
reivindicavam tanto o controle do comércio por estrangeiros, principalmente
portugueses, quanto o controle da política local por um mesmo grupo de la-
tifundiários. Assim, setores do Partido Liberal, identificados com as camadas
populares, lutaram por reformas sociais; colocaram-se contra, prioritariamente,
os comerciantes portugueses e senhores de engenhos.
Na Revolução Praieira, que aconteceu em Pernambuco entre 1848 e 1850, arbitrariedade:
os revolucionários liberais foram chamados de praieiros porque a sede de seu ato abusivo,
injusto.
principal jornal, o Diário Novo, ficava na Rua da Praia, em Recife. No entanto, ou-
tros jornais locais também foram importantes para o movimento que defendia
o voto livre e universal, a liberdade de imprensa, a nacionalização do comércio
varejista, a liberdade de trabalho, a extinção do poder Moderador, entre outros.
Vencidos pelo governo imperial, muitos participantes foram presos e, alguns
anos depois, anistiados.

Arquivo Público do Estado de Pernambuco

O comércio em cidades como Recife ainda continuava dominado


por comerciantes estrangeiros, principalmente portugueses.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 33


Em 1847, foi criado o cargo de presidente do Conselho de Ministros,
ocupado por Manuel Alves Branco (1797-1855), formalizando o parlamentarismo
brasileiro.
A prática do sistema parlamentarista, nos demais países que o adotam,
ocorre pela eleição de um primeiro-ministro escolhido pelo partido que tem o
maior número de representantes na Câmara. No Brasil acontecia ao contrário,
a Câmara era dissolvida caso não tivesse maioria de parlamentares do partido

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
do ministério nomeado pelo imperador.
Com esse sistema, o imperador nomeava um primeiro-ministro para fazer
o papel de presidente, pois tinha o poder Executivo nas mãos. Porém, com a
continuidade da existência do poder Moderador, o imperador D. Pedro II podia
intervir e dissolver o ministério quando quisesse.

2. Na questão política, dois gru-


pos políticos representados pelo
Partido Liberal e pelo Partido
Conservador, que lutavam para
ter o controle do governo, gera- 1 Registre a seguir quais foram os principais fatos que desencadearam o
ram uma intensa disputa nesse
golpe da maioridade de D. Pedro II e como foram as condições políticas
período. Enquanto o Partido Con-
servador era mais favorável à em que ele ocorreu.
centralização do poder, o Partido Durante o período regencial ocorreram várias crises políticas, econômicas e sociais que demons-
Liberal defendia maior autono-
mia para as províncias. Havia, traram insatisfação popular e divergências entre os interesses regionais. Essa situação colocou em
contudo, uma forte preocupação
por parte de toda a aristocracia risco a própria unidade brasileira, levando, desse modo, a aristocracia brasileira a acreditar na ur-
rural brasileira com relação
ao que temiam ser excesso de gência de criar um Estado forte, representado na pessoa do imperador. Para isso, foi criado o Clube
liberalismo político e autono-
da Maioridade e, já com o apoio do futuro imperador, ainda com 15 anos incompletos, a proposta
mia das províncias, praticados
pelos regentes e que resultaram foi levada à Assembleia Nacional, que aprovou o projeto, nomeando D. Pedro de Alcântara como
nas rebeliões regionais. Tais
disputas foram marcadas por D. Pedro II, imperador do Brasil, dando início ao Segundo Reinado no Brasil (1840-1889).
excessos de ambos os partidos,
desde a forma de condução das
eleições até a forma de orga-
nizar o país. Sucessivamente, 2 A política do Segundo Reinado foi marcada pela disputa de dois partidos:
nos primeiros anos do governo o Partido Conservador e o Partido Liberal. Escreva um parágrafo nas linhas
de D. Pedro II, novos ministérios
eram formados, ora de maioria a seguir sobre algumas consequências desse tipo de disputa ao poder.
conservadora, ora de maioria li-
beral, anulando leis anteriores e
aprovando novas leis. De modo
geral, ao longo de seu governo,
D. Pedro II procurou conciliar
os dois partidos, alternando-os
no poder ou dividindo o mesmo
ministério, o que possibilitou
uma alternância da influência
dos partidos nos acontecimentos
desse período.

34 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


A economia brasileira durante
o Segundo Reinado

A EXPANSÃO DO CAFÉ NO BRASIL

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Durante todo o Segundo Reinado, o café permaneceu como o produto
de maior importância das exportações brasileiras. A expansão cafeeira deu-se
gradativamente. Observe os dados a seguir.

Expansão cafeeira
Quadro da produção brasileira (em quilogramas), entre 1821 e 1870
1821-1830.................. 190 680
1831-1840..................625 800
1841-1850................1 102 020
1851-1860............... 1 640 340
1861-1870................ 1 746 180
PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. 37. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 160.

As fazendas de café da época lembravam muito os engenhos açucareiros


do Nordeste, pois havia o casarão, a senzala, a capela, algumas oficinas, a casa
dos trabalhadores livres e a área de plantação de café, conforme é possível
observar na imagem a seguir.

Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles

é
Sede da fazenda de caf
Chacrinha, em Valença,
Rio de Janeiro.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 35


Inicialmente havia senzalas nas fazendas de café, uma vez que a mão de
obra continuou sendo a dos escravizados. Somente mais tarde, com a imigra-
ção de trabalhadores da Europa e com a abolição da escravatura, é que a mão
de obra passou a ser assalariada.

Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Grupo de escravizados
l do
negros em um cafeza
2.
Rio de Janeiro, em 188

A produção cafeeira trouxe grandes mudanças para o Brasil. Surgiram


novas cidades e a classe média cresceu, vieram imigrantes de várias partes do
mundo e abriram-se muitas estradas, principalmente estradas de ferro, para
escoar a produção para os portos brasileiros.

Autor desconhecido/Museu da Imigração/Arquivo Público do Estado de São Paulo

Imigrantes ensacando
grãos de café no galpão
de uma fazenda.

36 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Os grandes cafeicultores que recebiam títulos de nobreza – e por essa
razão ficaram conhecidos como “barões do café” – passaram a investir os gran-
des lucros da produção cafeeira em indústrias, comércios, bancos, companhias
de seguros, entre outros.

Guilherme Gaensly/Biblioteca Nacional

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Delfim Martins/Pulsar Imagens

O palacete representado nas imagens acima


foi propriedade de Veridiana Silva Prado, filha
do Barão de Iguape. Construído em 1884,
no bairro Higienópolis, simbolizava o poder
econômico da elite cafeeira do final do século
XIX. Atualmente, após obras de restauração,
abriga a sede social do Iate Clube de Santos.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 37


As cidades que iam surgindo com as ferrovias passaram a crescer a partir
das estações de trem e passaram a ser, em muitos casos, o ponto de referên-
cia de toda a cidade. As cidades próximas das linhas férreas passaram a ter
grande importância em comparação com outras que ficavam distantes delas.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Marc Ferrez/Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles
a de
Inauguração da estrad
-M ina s, con stru ída
ferro Rio
sobre o Rio Paraíba.

Veja orientação didática.

As ferrovias marcaram uma grande mudança nos costumes da popula-


ção brasileira, assim como também mudaram a organização dos povoados e
das cidades. Antes da construção das ferrovias, normalmente as cidades se
aglomeravam e se direcionavam perto dos rios, pois era por meio deles que as
comunicações eram feitas. Além disso, o transporte marítimo era, até então,
um importante meio para o transporte de grandes quantidades de mercadorias
para longas distâncias.
Forme um grupo com dois colegas e desenvolvam uma pesquisa sobre o
transporte ferroviário no Brasil na atualidade, destacando os seguintes pontos:
• como são os trens existentes no Brasil na atualidade;
• levantamento sobre quanto esse tipo de transporte é ainda utilizado
no nosso país;
• quais são as regiões onde existem mais ferrovias;
• quais são os produtos transportados;
• quais são os locais e as linhas onde ainda há trens de passageiros em
funcionamento no Brasil.

38 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


OUTROS PRODUTOS NACIONAIS

No final do século XIX, o café era responsável por 60% das exportações
do Brasil, porém outros produtos também se destacavam no mercado brasi-
leiro, como a borracha e o cacau, itens que começaram a adquirir importância

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
econômica à época. O açúcar, o algodão e o tabaco continuavam com índices
significativos na exportação. Observe atentamente o mapa a seguir, que traz os
principais produtos da economia brasileira e as respectivas regiões produtoras
do século XIX.

MAPA DA ECONOMIA BRASILEIRA NO SÉCULO XIX

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2007. (Adaptado).


Explore o mapa contendo as principais atividades econômicas no Brasil do século XIX em comparação com o mapa de clima/vegeta-
ção atuais. Há vários aspectos a serem trabalhados, por exemplo, o tipo de clima que favoreceu o desenvolvimento das várias ativi-
dades produtivas, o impacto das atividades produtivas sobre biomas, como o da Mata Atlântica e do Cerrado, ainda no século XIX.
Se possível, explore essa análise com o professor de Geografia, pois terá mais ferramentas conceituais para a exploração do mapa.
A exploração e a comercialização do cacau ganharam impulso no fim do
século XIX. O cacaueiro é uma planta tropical que apresenta mais de 30 es-
pécies. O cacau, fruto do cacaueiro, nasce em pequenos talos, bem junto ao
tronco. As sementes do cacau contêm alto valor nutritivo e são utilizadas para

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 39


fabricar chocolate, seu principal produto. Nesse período, o sul da Bahia foi o
mais importante centro produtor de cacau brasileiro, uma vez que apresentava
clima e solo favoráveis, além da oferta de mão de obra barata.
O incentivo à criação de gado mais para o interior do país ocorreu após o
declínio da mineração. No início da colonização do Brasil, a pecuária era apenas
uma atividade complementar às atividades principais de exportação do açúcar.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Mais tarde, durante os séculos XVII e XVIII, a criação de gado foi se expandindo
e se tornando uma atividade independente.
Como essa atividade necessitava de muito espaço para a pastagem
dos animais, houve o deslocamento para o interior do território e, a partir
do século XIX, tornou-se um elemento importante da colonização da região
Centro-Oeste e do interior do Nordeste brasileiro.
Assim, as atividades mineradoras, que tiveram seu apogeu na região do
atual estado de Minas Gerais, também migraram para a região Centro-Oeste a
partir do século XIX.
A produção algodoeira, que havia se iniciado no século XVIII, era quase
toda voltada para a exportação, principalmente para a Inglaterra. Desenvolvida
com o uso da mão de obra dos escravizados africanos, era produzida em gran-
des propriedades nos estados do Maranhão e Ceará.
Com relação à borracha, já havia registro do seu uso entre os indígenas do
Haiti e do México, por meio da confecção de bolas para jogos, couraças e ca-
pas. Na Amazônia, os indígenas nominavam “Cau-chu” (cautchu ou cao o’chu,
árvore que chora) a árvore da qual extraíam o látex. Os portugueses passaram a
denominá-la “seringa”, porque o produto foi inicialmente empregado na fabrica-
ção de seringas (recipiente com a forma de uma pera oca, com um canudo na
ponta, em que era colocada água).
Em 1743, o francês Charles Marie La Condamine (1701-1774), ao descer o
Rio Amazonas, conheceu o extrativismo da borracha e, ao regressar à Europa,
relatou sobre o produto à Academia de Ciências de Paris. Condamine foi quem
abriu a era das grandes expedições científicas na região amazônica. Enviado
para Quito para medir o raio equatorial da Terra, o pesquisador decidiu descer o
Rio Amazonas da nascente até a foz em 1743.
Essa jornada, que durou dez meses, o consagrou como descobridor
da borracha, do quinino e da platina. Após estudos em 1751, a Academia de
Ciências de Paris comunicou outras utilidades possíveis para a borracha, mas,
apesar disso, não houve mais tanto interesse sobre o assunto, até surgirem,
algum tempo depois, outros produtos derivados da borracha que adquiri-
ram grande importância e ainda são largamente utilizados na atualidade.

40 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


OUTROS PRODUTOS DERIVADOS DA BORRACHA

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Em 1770, Joseph Priestley (1733-1804) descobriu que a borracha apagava os
traços deixados pelo grafite no papel, e assim surgiu a borracha tão utilizada nas
escolas e nos escritórios de trabalho.
vulcanização:
é um trata-
mento dado
a borracha,

boygovideo/iStockphoto
com enxofre
e calor, que
tornam mais
duradouras as
propriedades
elásticas.

Em 1839, Charles Goodyear (1800-1860) descobriu o processo de vulca-


nização da borracha e, em 1842, Thomas Hancock (1786-1865) tornou a borra-
cha mais resistente e quase insensível às variações de temperatura, asseguran-
do sua elasticidade e impermeabilidade, o que foi essencial para a invenção dos
pneus utilizados em diversos tipos de automóveis.
Believe_In_Me/iStockphoto

Após essas descobertas, a borracha foi se transformando em uma maté-


ria-prima cada vez mais procurada para confecção de objetos de uso industrial,
hospitalar, de material bélico e na construção naval.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 41


Do ponto de vista econômico, o potencial financeiro e mercantil da bor-
racha passou a despertar interesse de alguns negociantes norte-americanos
desde 1800. Contudo, foi somente após 1853, com a introdução da navegação
a vapor na região pelo Barão de Mauá e pela posterior quebra do monopólio
estabelecido por ele para grupos estrangeiros, que a borracha amazônica pas-
sou a abastecer o mercado mundial.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
BARÃO DE MAUÁ

Fotografia de Sébastien Auguste Sisson, 1858


Irineu Evangelista de Sousa (1813-1889)
foi o empreendedor de maior destaque do
Segundo Reinado no Brasil. Entre 1845 e 1870,
foi dono de estaleiros, investiu no setor da co-
municação, por meio da montagem de um
cabo telegráfico submarino ligando o Brasil à
Europa, montou fábricas, criou o Banco Mauá,
com filiais em Londres, Paris, Nova Iorque e em
várias cidades brasileiras, incentivou a constru-
ção da primeira ferrovia brasileira, a implanta-
escambo:
troca, permu- ção da iluminação a gás e o abastecimento de
ta, câmbio. água no Rio de Janeiro, entre outros feitos.

Nesse período, foi introduzido na região o sistema de “aviamento”, ou


seja, o fornecimento de mercadorias a crédito para os trabalhadores para pa-
gamento com produtos em espécie. Os agentes norte-americanos ou ingle-
ses, especializados em exportar, transferiam aos importadores de seus bens
de consumo, geralmente portugueses, a função de comprar na Amazônia e
financiar os empresários da borracha.
Esse sistema tornou-se uma novidade, uma vez que até meados do sécu-
lo XVIII não se usava moeda metálica no Pará, pois todas as transações comer-
ciais eram realizadas por intermédio do escambo.

42 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Assim, a introdução do dinheiro nessa economia baseada no escambo
gerou uma grande transformação na sociedade local. O sistema de aviamento
tornou ainda mais miserável a vida do seringueiro, uma vez que o lucro de seu
trabalho passava para as mãos das casas aviadoras e finalmente para os em-
presários estrangeiros.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Dana Merrill

pneumático:
material à base
de borracha
que reveste
rodas de veí-
culos.

Com o ciclo da borracha, o contingente de trabalhadores tornou-se insuficiente


e foi necessário mobilizar mão de obra em outras regiões, principalmente
no Nordeste, que vivenciava uma decadência do ciclo açucareiro desde
a segunda metade do século XVII. Atraídos pela propaganda, pelos
subsídios para os gastos com transporte e adiantamento de dinheiro
para as primeiras necessidades, muitos nordestinos migraram para a
região amazônica, num total estimado de meio milhão de pessoas.

A explosão da procura pela borracha ocorreu a partir de 1890 com a in-


venção do pneumático e provocou na Amazônia uma total transformação, com
todos os interesses convergindo para a exploração da borracha. As demais ativi-
dades foram abandonadas e a extração da borracha colocou a região amazônica
no cenário internacional.
Entre 1890 e 1920, a extração vegetal de borracha foi determinada pela
procura mundial do produto, decorrente das várias aplicações dessa matéria-
-prima, principalmente na nascente indústria automobilística.
O estabelecimento da estrutura econômica do seringal passou a exigir
também a legalização das posses e a formação jurídica da propriedade. Contu-
do, a posse da terra não se deu pacificamente, pois envolvia grandes interesses
e capitais.
De modo geral, nas várias regiões do Brasil, à medida que a economia e
a produção iam se transformando, a sociedade e a cultura brasileira também
passavam por importantes mudanças. Veja orientação didática.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 43


Esta leitura permite a aplicação do segundo procedimento proposto para
o ensino de história pela BNCC, particularmente pela possibilidade de
exploração do texto de Euclides da Cunha como um relato histórico do
modelo de exploração dos seringais.

Na pesquisa sobre a
atividade da extração da
1 Na obra À margem da história, publicada em 1909, o escritor
borracha e dos aspectos
brasileiro Euclides da Cunha descreveu a solidão do seringueiro,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
que envolvem o se-
ringueiro e o seringal, suas dificuldades, seu isolamento da família, do seu grupo social,
espera-se que os alunos
da sua cultura. Normalmente, após algum tempo, o seringueiro
explorem as dificuldades
dessa atividade realizada devia ao seringalista muito mais do que produzia e passava a vi-
em meio à floresta, a ver quase em regime de escravidão. Leia um trecho desse relato
exploração do trabalho,
a seguir e, depois, faça o que se pede.
os mecanismos de con-
trole sobre a produção, [...] Admitamos agora uma série de condições favoráveis, que
as doenças e os perigos jamais concorrem: a) que seja solteiro; b) que chegue à barraca em
da floresta, as condições
maio, quando começa o “corte”; c) que não adoeça e seja condu-
de vida, entre muitos
outros aspectos, durante zido ao barracão, subordinado a uma despesa de 10$000 diários;
a grande exploração do d) que nada compre além daqueles víveres – e que seja sóbrio,
fim do século XIX e início
tenaz, incorruptível; um estoico firmemente lançado no caminho
do século XX, buscando
resgatar quais são as da fortuna arrostando uma penitência dolorosa e longa. Vamos
dificuldades que ainda além – admitamos que, malgrado a sua inexperiência, consiga tirar
existem na atualidade
logo 350 quilos de borracha fina e 100 de sernambi, por ano, o que
com relação ao extrativis-
mo da borracha. é difícil, ao menos no Purus. Pois bem, ultimada a safra, este tenaz,
O seringal abrangia uma este estoico, este indivíduo raro ali, ainda deve. O patrão é, confor-
grande extensão de terra,
me o contrato mais geral, quem lhe diz o preço da fazenda e lhe
em virtude da distância
de dezenas de metros escritura as contas [...] No ano seguinte já é “manso”: conhece os
entre as árvores, e era segredos do serviço e pode tirar de 600 a 700 quilos. Mas conside-
dividido em “margem” e
re-se que permaneceu inativo durante todo o período da enchente,
“centro”. O centro era o
interior do seringal, onde de novembro a maio – sete meses em que a simples subsistên-
os seringueiros trabalha- cia lhe acarreta um excesso superior ao duplo do que trouxe em
vam, armavam barracas
víveres, ou seja, em números redondos, 1:500$000 – admitindo-se
cobertas de palha e onde
se fazia a defumação do ainda que não precise renovar uma só peça de ferramenta ou de
látex. roupa e que não teve a mais passageira enfermidade. [...] Adicionai
As condições de vida e de
a isto o desastroso contrato unilateral, que lhe impõe o patrão. Os
trabalho do seringueiro
eram precárias, traba- “regulamentos” dos seringais são a este propósito dolorosamente
lhando cerca de 16 horas expressivos.
diárias, morando em
CUNHA, Euclides da. À margem da história. São Paulo: Lello Brasileira, 1967. p. 25.
barracos e se alimentan-
do mal. Toda a despesa a) Registre no caderno alguns dos aspectos apresentados no
necessária à instalação fragmento de texto sobre o seringueiro, destacando as condi-
de um seringal e sua
ções para o início do trabalho no seringal e como era apresen-
posterior manutenção era
financiada pelo patrão, tada a figura do patrão.
que cobrava juros e b) Em seguida, procure mais informações sobre os seringueiros
comissões, fazendo com
e registre, na página 73 do Material de Apoio, aspectos do seu
que muitas vezes o serin-
gueiro ficasse endividado.

44 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


As ferrovias marcaram
trabalho, da sua moradia, seu vestuário, sua alimentação no início uma grande mudança nos
do século XX e como essa atividade é desenvolvida na atualidade. costumes da população
brasileira, assim como
c) Em sala de aula, sob a orientação do professor, converse com os
mudaram a organiza-
colegas sobre os fatos que mais chamaram atenção sobre essa ção dos povoados e
atividade no Brasil, no passado e na atualidade. Destaque a pá- das cidades. Antes da
construção das ferrovias,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
gina utilizada do Material de Apoio e exponha a sua pesquisa no
normalmente as cidades
mural da sala de aula. se aglomeravam e se
direcionavam perto dos
2 O uso do trem no Brasil, a existência das estações e as muitas his-
rios, pois era por meio
tórias que cada viagem pode contar fazem parte da memória de deles que as comunica-
muitos brasileiros. Leia a letra da canção “Encontros e despedidas”, ções eram realizadas.
Ainda existem algumas
de Milton Nascimento e Fernando Brant, que trata desse tema de linhas de trens no Brasil,
forma poética. porém, em sua maioria,
Mande notícias do mundo de lá são usadas para trans-
porte de cargas. Por meio
Diz quem fica das entrevistas e da cria-
Me dê um abraço tividade, os alunos devem
Venha me apertar retratar as suas memó-
rias e imagens sobre esse
Tô chegando meio de transporte. Peça
Coisa que gosto é poder partir que organizem algumas
Sem ter planos perguntas como: Você já
viajou de trem em algum
Melhor ainda é poder voltar momento da sua vida?
Quando quero Quando foi? Quais as
Todos os dias é um vai-e-vem lembranças sobre essa
viagem? Como era a esta-
A vida se repete na estação ção de trem onde iniciou
Tem gente que chega pra ficar e onde terminou a sua
Tem gente que vai pra nunca mais viagem? Quem estava
com você? Conte alguma
Tem gente que vem e quer voltar curiosidade ou fato que
Tem gente que vai e quer ficar aconteceu nessa viagem.
Tem gente que veio só olhar Os alunos podem não
conseguir que alguém
Tem gente a sorrir e a chorar do seu convívio tenha
E assim chegar e partir [...] tido uma experiência
com viagens de trens,
NASCIMENTO, Milton; BRANT, Fernando. Encontros e despedidas. In: Encontros e
mas, nesse caso, podem
despedidas. Rio de Janeiro: Barclay Records, 1985. 1 disco sonoro. Lado 2, faixa 1.
fazer indagações para o
entrevistado sobre se já
Forme um grupo de trabalho com dois colegas e, inspirados pela morou ou esteve perto
letra da canção que vocês acabaram de ler, sigam estes passos: de linhas de trens ou
a) Entrevistem pessoas do seu convívio sobre lembranças e histó- estações ferroviárias e
assim descrever como via
rias ligadas aos trens. o movimento dos trens,
b) Em seguida, montem cartazes e retratem, em formato de painel, por exemplo, e finalmente
algumas dessas histórias e sentimentos por meio de desenhos os entrevistados podem
fazer considerações sobre
ou textos. histórias que conhecem
sobre esse veículo de
locomoção.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 45


Ao realizar esta ativi-
dade, oriente os alunos
a fazer uma reflexão Leia o texto a seguir, segundo o qual o emprego público no pe-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
sobre o que sabem ou já ríodo imperial era uma estratégia de política partidária, tornando oficial
ouviram falar a respeito
a prática de favores na esfera pública.
da nomeação de cargos
públicos e como, muitas
vezes, a prática de
indicações de pessoas
para assumir postos de
trabalho sem a devida
capacitação pode preju- Quem precisava de um salário para sobreviver lançava-se
dicar muito a organiza- a uma verdadeira caça ao emprego público.
ção e o desenvolvimento A partir de 1840 o critério de competência para esses
dos poderes públicos,
devendo ser combatida serviços tinha pouca ou nenhuma importância. Tanto num pos-
de forma intensa pela to chave quanto em funções humildes, todo funcionário no-
população. meado pelo partido derrotado era demitido. A relação entre a
Peça que organizem as
conclusões após a con- política partidária e a criação ou perda de empregos exprimia o
versa e o levantamento predomínio do poder privado sobre todos os aspectos da vida
de dados que puderem brasileira.
obter sobre essa prática
e apontem alguns aspec- [...] Era a política de favores, que se estendia a todos os
tos negativos, a saber: níveis da vida pública, dos conselheiros e barões do Império
o favorecimento de aos mais obscuros delegados e subdelegados dos municípios.
pessoas não competen-
tes para aquela função, BRASIL: 500 anos – 1831-1851. São Paulo: Abril, 1999. p. 438.
a descontinuidade de
trabalhos importantes, o
mau uso da função para
privilégios pessoais,
entre outros.
Na atualidade, o preenchimento dos cargos públicos, em sua
maioria, ocorre por meio de concursos públicos. Ainda assim, os cha-
mados cargos de confiança normalmente seguem a prática descrita no
texto, ou seja, pela filiação partidária, sendo substituídos ou mantidos
a cada gestão.
Forme uma equipe com três colegas e organizem, na página 75
do Material de Apoio, uma lista de aspectos negativos quando ocorre
essa prática. Em seguida, troquem os relatos com os colegas sobre o
tema.

46 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Veja orientação didática.

Atual/1997
O livro trata da história do látex extraído das árvores
da Floresta Amazônica, que promoveu um período de luxo e

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
fortuna na região Norte brasileira, entre o final do século XIX
e as primeiras décadas do século XX. A obra trata sobre o
processo de produção e comercialização da borracha, como
era a vida nas cidades, particularmente em Belém, durante o
período áureo da extração do látex.

FIGUEIREDO, Aldrin Moura


de. No tempo dos seringais:
o cotidiano e a sociedade da
borracha. São Paulo: Atual, 1997.

O imaginário nacional e a produção das Romantismo:


identidades no Brasil do século XIX foi um movi-
mento cultural
que se iniciou
Como enfocamos anteriormente ao abordarmos o processo de constru- no século XIX
após a Revolu-
ção do Estado no Brasil, a vida e as manifestações culturais brasileiras também ção Francesa
passaram por profundas alterações desde a chegada da Corte portuguesa ao e que defendia
um novo tipo
país e a posterior independência política da nação.
de arte que
Tais transformações trouxeram novidades no campo cultural, como as retratasse a vi-
reformas no ensino, a criação de escolas de nível superior, a vinda das missões são burguesa
do liberalismo
culturais estrangeiras que impulsionaram o setor das artes e das ciências, além político, eco-
da instalação de bibliotecas públicas, museus e arquivos. nômico, social
e educacional.
Foi, em especial, pela obra de artistas estrangeiros, principalmente os Dentre as
franceses, que vários aspectos da sociedade brasileira no século XIX foram suas principais
características
retratados. estão: a va-
Durante o século XIX no Brasil, a exemplo do que ocorreu na Europa, lorização dos
sentimentos
houve a predominância do movimento intitulado como Romantismo, marcado pessoais, o
por alguns elementos como o chamado “indianismo”, movimento que celebra- culto à nature-
za, o patriotis-
va de forma idealizada os indígenas brasileiros, atribuindo-lhes nobreza e força
mo, a liberda-
heroica; o nacionalismo e o regionalismo marcado também pela idealização do de de criação
homem do campo, mostrado como exemplo de bravura, honra e lealdade. e a idealização
da mulher
amada.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 47


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
AMOEDO, Rodolfo. O último tamoio. 1883. Óleo sobre tela, 180,3 x 261,3 cm.
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (Brasil).

O indígena brasileiro aparecia de formas variadas na literatura romântica


do período. Por exemplo, José de Alencar (1829-1877), importante autor que
escreveu obras ligadas ao tema, mostra, no livro Ubirajara (1874), o indígena
sem o contato urbano. Já na obra O guarani (1857), ele revela o contato dos
indígenas com o branco e em Iracema (1865), o autor trata da questão da mis-
cigenação entre indígenas e brancos.
Dentro desse contexto cultural, a produção literária brasileira fazia tam-
bém uma leve abordagem da vida no país por meio de romances célebres que
retratavam o ambiente da aristocracia burguesa, descrevendo hábitos, costu-
mes e padrões de comportamento dessa camada social. Eram temas comuns
que as obras retratassem perfis femininos como em Lucíola (1862) e Senhora
(1874), de José de Alencar, e em Helena (1876), A mão e a luva (1874) e Iaiá
Garcia (1878), de Machado de Assis (1839-1908).
Contudo, apesar da forte influência romântica na produção literária, era
comum também que aparecessem conflitos sociais que marcavam o cotidiano
urbano das cidades no Brasil.

48 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


O Texto 1 é um fragmento do capítulo IV de O guarani, em que

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
José de Alencar descreve fisicamente o personagem Peri. Já no Texto
2, Alencar faz o mesmo tipo de descrição em relação à heroína indíge-
na Iracema. Leia-os atentamente.

Texto 1

CAÇADA

Quando a cavalgata chegou à margem da clareira, aí se


passava uma cena curiosa.
Em pé, no meio do espaço que formava a grande abó-
bora das árvores, encostado a um velho tronco decepado pelo
raio, via-se um índio na flor da idade. Uma simples túnica de
algodão, a que os indígenas chamavam aimará, apertada à cin-
tura por uma faixa de penas escarlates, caía-lhe dos ombros
até ao meio da perna, e desenhava o talhe delgado e esbelto
como um junco selvagem.
Sobre a alvura diáfana do algodão, a sua pele, cor de co-
bre, brilhava como reflexos dourados, os cabelos pretos cor-
tados rentes, a tez lisa, os olhos grandes com os cantos exte-
riores erguidos para a fronte, a pupila negra, móbil cintilante, a
boca forte, mas bem modelada e guarnecida de dentes alvos,
davam ao rosto um pouco oval a beleza inculta da graça, da
força e da inteligência. Tinha a cabeça cingida por uma fita de
couro, à qual se prendiam do lado esquerdo duas plumas mati-
zadas, que descrevendo uma longa espiral, vinham roçar com
as pontas negras o pescoço flexível.
Era de alta estatura; tinha as mãos delicadas; a perna ágil e
nervosa, ornada com uma axorca de frutos amarelos, apoiava-se
sobre um pé pequeno, mas firme no andar e veloz na corrida.
ALENCAR, José. O guarani. 20. ed. São Paulo:
Ática, 1996. (Bom Livro). Cap. IV. p. 14.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 49


Texto 2

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no ho-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
rizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel,
que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais
longos que seu talhe de palmeira. O favo de jati não era doce
como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como
seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a mo-
rena virgem corria o sertão e as matas do ipu, onde campeava
sua guerreira tribo. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava ape-
nas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da floresta.
Banhava-lhe o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o
orvalho da noite. Os ramos da acácia silvestre esparziam flores
sobre os últimos cabelos. Escondidos na folhagem, os pássa-
ros ameigavam o canto.
ALENCAR, José. Iracema. 24. ed. São Paulo: Ática, 1996. (Bom Livro). p. 7.

De que maneira as manifestações das artes do século XIX, re-


produzidas nesta unidade, ajudaram na produção das identidades no
Brasil desse período? Apresente suas conclusões nas linhas a seguir.
Para que o aluno consiga desenvolver a reflexão proposta, cabe comparar ambos os trechos

com a obra O último tamoio. Essa leitura comparada permitirá identificar os signos e seus

significados presentes nas obras e como esses ajudaram a construir a ideia do “bom índio” ou

do “herói selvagem”, presentes no romantismo brasileiro. Caso considere possível, amplie a

análise por meio de outras obras que retratem o cotidiano da sociedade brasileira pela inter-

pretação dos artistas daquela época.

50 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


A capital do Império do Brasil
durante o Segundo Reinado
Durante o Segundo Reinado, mais precisamente entre 1850 e 1870, cres-
ceu muito a importância das cidades em virtude dos intensos investimentos
de empresários, como o Barão de Mauá, na implantação de estradas de ferro,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
iluminação a gás, calçamento das ruas com paralelepípedo, rede de esgoto, abas-
tecimento de água em domicílio, bondes puxados a burro, entre outros.
A cidade do Rio de Janeiro, por ser o centro do Império, recebeu inúmeras
melhorias, além do crescimento urbano caracterizado pela construção de palácios
e palacetes, como o Paço Real e o Paço de São Cristóvão; os prédios da Academia
Imperial de Belas-Artes e o Palácio do Comércio; e os primeiros jardins públicos,
como o Campo de Santana e a Quinta da Boa Vista.
A influência da moda de Paris e da Inglaterra podia ser notada nesses
locais onde transitavam as pessoas abastadas do Rio de Janeiro e de outras
localidades do Brasil. Frequentar teatros, onde eram apresentadas peças adap-
tadas de romances ou assistir a apresentações de músicos nacionais e interna-
cionais, tornou-se programa obrigatório para esses grupos de pessoas.

A Rua do Ouvidor tornou-se o


centro das melhores lojas de
roupas, de joias e de flores,
além das mais variadas
confeitarias e cafés, que
concentravam as pessoas de
Bridgeman/Fotoarena

maiores posses da cidade.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 51


Os saraus eram o local de encontro de amigos para ouvir modinhas, de-
clamar poemas e debater assuntos de interesse da sociedade como economia,
política e cultura. Era comum também a organização de bailes pelas principais
famílias da corte.
A cidade do Rio de Janeiro atraía muitas pessoas que vinham do interior,
de outras regiões do país, bem como estrangeiros de diversas nacionalidades.
Mesmo com algumas inovações importantes sendo implantadas, o crescente

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
número de habitantes tornava difícil a administração da cidade. Antigos proble-
mas de abastecimento, saúde, falta de serviços públicos e dificuldades com rela-
ção à moradia aumentavam muito e atingiam principalmente a população pobre.
Durante as décadas de 1870 e 1880, as epidemias tomaram a população
modinha: varie-
dade de com- de toda a cidade, chegando inclusive a atingir as classes mais ricas.
posição musical Nas ruas do Rio de Janeiro, os diversos grupos que habitavam a cidade
urbana de origem
portuguesa, cujo dividiam os espaços e era comum o convívio entre o burburinho natural da po-
conteúdo das pulação e o som de tambores, batuques e comemorações de festas religiosas
canções costuma
ser sentimental. que cultuavam tanto o catolicismo como rituais africanos.
Entre as festas populares, o batuque era uma das mais concorridas.
Tratava-se de uma dança que acontecia em comemorações especiais, como
casamentos, mas também nos dias não festivos no cotidiano das ruas. O ba-
tuque também podia ser entendido como um ritual de libertação dos negros
ao cativeiro, pois nessas ocasiões alguns escravizados africanos podiam se
entregar livremente à dança nos arredores da cidade.
Outra celebração muito comum que havia sido trazida de Portugal desde
o início da colonização era o chamado entrudo, que mobilizava muitas pessoas.
A participação no entrudo de rua se dava pelas janelas, onde líquidos de origens
diversas eram jogados nas pessoas que passavam pelas ruas.

entrudo: festa
popular realizada
durante os
três dias que
antecediam a
quaresma, em
que os foliões
lançavam farinha,
água e areia uns
nos outros.

no Rio de
os durante o Carnaval
EARLE, Augustus. Jog 2. Aq uar ela , 21, 6 x 34 cm.
). c. 182
Janeiro (entrudo familiar berra (Au strá lia).
Austrália, Can
Biblioteca Nacional da nas rua s enquanto as pessoa
s das
brin cav am
As classes populares ied ade e a elit e fica vam em suas casas.
s da soc
camadas intermediária

52 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Mesmo sendo proibido em 1854, o entrudo continuou a ser realizado,
porém em menor escala. O ritual foi dando lugar aos festejos de carnaval, que
teve seu apogeu entre 1854 a 1871, quando os foliões começaram a ir para as
ruas, fazendo da festa um feriado nacional.
Para permitir aos alunos o melhor entendimento do modo de vida da corte brasileira, acesse o
link <http://www.xyz360.com.br/clientes/museu_imperial/>, no qual é possível realizar a visita
virtual, em imagens compostas e interativas em 360º, das principais salas do Museu Imperial

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
de Petrópolis (RJ), antigo palácio de verão da família real brasileira. A cidade de Petrópolis foi
criada especialmente por D. Pedro II em 1843.

[...] num país escravocrata fortemente hierarquizado, as


festas dos “brancos” ocorriam – em sua maioria – no interior
dos palácios e teatros, cenário para bailes e saraus, ao passo que
as festas dos “negros” se realizavam nas ruas das cidades e nas
senzalas das fazendas. Enquanto nos bailes a corte se vestia à
europeia, e transformava a escravidão numa cena quase transpa-
rente, nas festas populares os adereços eram outros. Além dis-
so, nos dias de festa religiosa vários grupos sociais convergiam
para um mesmo espaço e comungavam, por meio de rituais for-
malmente católicos, algo além da hóstia consagrada.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca
nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 258.

Após ler o fragmento de texto, reflita sobre o que a autora quis


dizer com a frase destacada a seguir e registre as conclusões a que
você chegou.
“Além disso, nos dias de festa religiosa vários grupos sociais con-
vergiam para um mesmo espaço e comungavam, por meio de
rituais formalmente católicos, algo além da hóstia consagrada.”
Os alunos podem citar alguns aspectos ligados à sociabilidade e ao convívio dos diversos gru-

pos que formavam a população do Rio de Janeiro e o cotidiano das ruas que, mesmo em dias

comuns, abrigava toda sorte de acontecimentos.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 53


Apesar da distância de estilo de vida e da diversidade cultural que sepa-
rava as pessoas mais abastadas do Rio de Janeiro dos demais moradores da
cidade, em alguns momentos essas instâncias conseguiam se aproximar.
Com base no que foi apresentado sobre a vida cultural do Rio desse pe-
ríodo, procure estabelecer um paralelo com a vida em sua cidade com relação

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
aos seguintes aspectos:
• modo de vida, hábitos e festas com manifestações culturais nas áreas
de maior poder aquisitivo;
• modo de vida, hábitos e festas com manifestações culturais nas áreas
de menor poder aquisitivo.
Após comparar e refletir sobre os dois tópicos anteriores, responda: Em
sua opinião, ocorre uma relação entre os dois contextos? Como? Registre suas
conclusões na página 77 do Material de Apoio.

A Guerra do Paraguai (1864-1870)


A bacia do Rio da Prata, formada pelos rios Paraná, Uruguai e Paraguai,
era uma região estratégica para o comércio no século XIX, uma vez que era por
meio desses rios que a Argentina, o Uruguai e o Paraguai transportavam os seus
produtos até o Oceano Atlântico, a fim de que fossem exportados para a Europa.

PARAGUAI
Tornou-se independente em 1811, por meio de um processo articulado por
José Gaspar Rodríguez de Francia (1766-1840), que se tornou seu primeiro presi-
dente. Seu longo governo entre 1814 e 1840 criou condições para um desenvolvi-
mento econômico autossuficiente, apoiado nas massas camponesas, e praticando
um isolamento dos países vizinhos, que eram muito dependentes da Inglaterra.

Palácio
do Governo,
em Assunção,
no Paraguai.
Donyanedomam/iStockphoto

54 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Os rios da Bacia do Prata também eram importantes para o Brasil, pois
eram usados como via de comunicação entre a região Sudeste e as províncias
de Mato Grosso e Goiás. Havia, desse modo, grande interesse do governo bra-
sileiro em garantir a livre navegação na região.
A política desenvolvida no Paraguai por Carlos Lopez (1790-1862), presi-
dente do país, e depois por seu filho, Solano Lopez (1827-1870), permitiu ao
Paraguai chegar em 1865 com alguns avanços importantes, como linha telegrá-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
fica, indústrias de material para construção, tecidos, telhas, louças e pólvora,
além de ter a primeira ferrovia da América do Sul. O país produzia algodão,
milho, tabaco, cana-de-açúcar, legumes, trigo e frutas e exportava a erva-mate,
o tabaco e a madeira.
Porém, Solano Lopez pretendia estabelecer uma política com o objetivo de
dar ao Paraguai uma saída para o mar, ampliando a área de cultivo agrícola e liber-
tando o país das altas taxas cobradas para exportar as mercadorias paraguaias.

GUERRA DO PARAGUAI – ÁREAS DE CONFLITO

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2007. (Adaptado).

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 55


O pretexto para o início da guerra foi o aprisionamento do navio brasilei-
ro Marquês de Olinda, seguido da invasão da cidade de Dourados, no Mato
Grosso, e da Argentina pelas tropas paraguaias, fazendo com que, em maio de
1865, Brasil, Argentina e Uruguai assinassem o Tratado da Tríplice Aliança para
combater o Paraguai.
O Brasil não estava preparado para uma guerra, uma vez que pratica-
mente não tinha Exército. Havia a Guarda Nacional, destinada ao policiamento

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
interno, mas que era formada principalmente por soldados recrutados pelos
fazendeiros nas várias regiões do Brasil. A formação do Exército deu-se com a
maioria dos soldados formados por escravizados africanos. Criaram-se tropas
improvisadas que se chamaram Voluntários da Pátria, que na teoria se apresen-
tariam livremente para defender o país, mas o que ocorria de fato é que eram
capturados e enviados à frente de batalha.
A atuação das tropas brasileiras, argentinas e uruguaias foi bem-sucedida
inicialmente. Pela Batalha do Riachuelo, o Brasil conquistou o domínio do Rio
Paraguai, encurralando o inimigo em seu território.

MEIRELLES, Victor. A batalha naval do Riachuelo.


1882-1883. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro (Brasil).
A Batalha do Riachuelo aconteceu no dia 11 de junho de 1865,
quando a frota de navios brasileiros comandada por Francisco
Manuel Barroso investiu contra a esquadra paraguaia.

Os paraguaios, porém, estavam preparados para resistir aos ataques e


promoveram algumas derrotas à Tríplice Aliança. Em 1867, os brasileiros fracas-
saram na tentativa de retomar o Mato Grosso, culminando com a Retirada da
Laguna, quando Uruguai e Argentina se retiraram da guerra.
Depois de cinco anos de guerra, o Paraguai estava derrotado e destruído.
A população, que era de 800 mil pessoas, ficou reduzida em 75%. Dos 194 mil
sobreviventes, apenas 14 mil eram homens, dentre os quais apenas 2,1 mil tinham
mais de 20 anos. Da população feminina, de 400 mil sobraram 180 mil, das quais
cerca de 40 mil eram adultas.

56 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Brasil e Argentina tomaram 140 mil quilômetros quadrados do território
paraguaio. As terras que restaram foram divididas entre grandes empresas la-
tifundiárias com sede em Londres e Nova Iorque. Seus habitantes tiveram de
trabalhar para os novos proprietários e retroceder para uma lavoura de subsis-
tência, transformando o país em um paraíso para os produtos estrangeiros.
Os países vencedores – Brasil, Argentina e Uruguai – ficaram endividados
com os bancos ingleses. A Guerra do Paraguai teve um significado que ultra-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
passou os limites do conflito, uma vez que revelou sérias questões políticas e
sociais, tornando-se um dos principais elementos que determinaram o fim do
regime imperial no Brasil e a proclamação da república.

1 Descreva a situação econômica do Paraguai antes da guerra de


1865-1870.
No Paraguai havia linha telegráfica, indústrias de material para construção, tecidos, telhas, lou-

ças e pólvora. Sua ferrovia, a primeira da América do Sul, foi construída com recursos próprios.

O governo estimulava a cultura de vários produtos como algodão, milho, tabaco, cana-de-açúcar,

legumes, trigo e frutas. O Paraguai também exportava a erva-mate, o tabaco e a madeira.

2 Podemos afirmar que o único vencedor da Guerra do Paraguai foi a


Inglaterra? Justifique sua resposta com um argumento.
Para responder e argumentar, os alunos devem considerar fatos envolvendo a guerra como: depois

de cinco anos de conflito, o Paraguai estava derrotado e destruído. Brasil e Argentina tomaram

140 mil quilômetros quadrados do território paraguaio, mas as terras que restaram foram divididas

entre grandes empresas latifundiárias com sede em Londres e Nova Iorque. Os países vencedores,

Brasil, Argentina e Uruguai, ficaram endividados com os bancos ingleses. A Guerra do Paraguai,

aliada a outros fatores, determinou o fim do regime imperial no Brasil e a proclamação da república.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 57


Os números e estatísticas sobre a Guerra do Paraguai são bastante
imprecisos. Da mesma forma, são muitas as versões sobre os fatos, prin-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
cipalmente em relação ao número de soldados ou ao número de mortos,
às condições das batalhas e à atuação de seus comandantes. A Batalha de
Acosta Ñu, também conhecida como Batalha de Campo Grande, realizada
em 16 de agosto de 1869, foi um episódio coberto de várias narrativas,
principalmente pela participação de 3 mil crianças e adolescentes que fo-
ram dizimados.
O dia da Batalha de Acosta Ñu, 16 de agosto, é hoje o Dia da Criança
no Paraguai.
Escreva a seguir sobre os efeitos negativos de um conflito como a
Guerra do Paraguai na população de um país.
O Paraguai teve perdas irreparáveis na guerra, assim como os países vencedores. Apenas a I­ nglaterra

obteve lucros, e ainda arrasou com o Paraguai, o único país que lhe fazia frente na América Latina.

O crescimento populacional e a densidade demográfica são elementos importantes no desenvolvi-

mento de uma nação, o que ficou bastante comprometido após a Guerra do Paraguai.

As transformações sociais
do Segundo Reinado
Na segunda metade do século XIX, o Brasil passava por grandes mudan-
ças econômicas e sociais, conforme você observou anteriormente. As ferrovias
se espalhavam por várias regiões do país, a agricultura começava a se diversifi-
car, embora nos campos e nas cidades ainda predominasse a mão de obra dos
negros escravizados.
Os escravizados trabalhavam nos engenhos de açúcar, nas fazendas de
café, nas lojas comerciais e nas pequenas indústrias que estavam surgindo. Até
mesmo entre a classe média era comum ter escravizados que realizavam ser-
viços domésticos ou serviços remunerados, cuja parte do valor era repassada
aos seus senhores. O Brasil ainda era o único país da América que mantinha o
regime de escravidão.

58 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


O crescimento das lavouras de
café exigiu um grande número de
trabalhadores, que inicialmente foi
suprido pelos escravizados africanos.
Em 1870, 62% da mão de obra escra-
vizada do Brasil estava concentrada
em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
e Rio Grande do Sul.
Contudo, a Inglaterra estava em
plena revolução industrial nesse perío-
do e desejava acabar com o tráfico de
escravizados africanos, pois, com essa
medida, contribuiria para a extinção da
escravatura e, consequentemente, teria
a oportunidade de ver crescer o merca-
do consumidor no Brasil, quando então
obteria ainda mais lucros.

FROND, Victor. Escravos trabalhando


no pilão de café. c. 1858. Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro (Brasil).

A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA

No ano de 1845, o parlamento inglês aprovou uma lei que ficou conhecida como Bill
Aberdeen. De acordo com essa lei, navios ingleses poderiam prender embarcações que
estivessem traficando africanos para serem escravizados.
Em 1850, foi decretada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós, que extinguia o tráfico de es-
cravizados africanos, e o problema da mão de obra foi resolvido com o tráfico interno, ou seja, os
escravizados da região do Nordeste açucareiro eram vendidos para as regiões de maior potencial
econômico, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde a lavoura cafeeira crescia rapidamente. Além
das dificuldades em se manter um grande número de trabalhadores escravizados, a compra deles
começou a ficar muito cara.
A promulgação em 1850 da Lei da Terra, que regularizava o regime de propriedade no Brasil,
dividiu as áreas em duas categorias, públicas e particulares, e tinha como principal objetivo proibir
a aquisição de terras públicas, por posse ou doação, restando somente a possibilidade da compra.
A propaganda abolicionista crescia no Brasil paralelamente à resistência dos escravizados
por meio de fugas e rebeliões.
A partir de 1880 foram fundadas no Rio de Janeiro a Sociedade Brasileira contra a Escravi-
dão e a Associação Central Emancipacionista, que mais tarde se uniriam para formar a Confede-
ração Abolicionista, com atuação em todo o país.
Gradativamente, algumas leis estavam sendo aprovadas, no sentido de atingir a abolição da
escravatura, como a Lei Visconde do Rio Branco ou Lei do Ventre Livre, em 1871, e a Lei Saraiva
Cotegipe, mais conhecida como Lei dos Sexagenários, em 1885.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 59


Faça a leitura orientada do trecho da Lei do Ventre Livre com
os alunos, explicando que a grafia empregada é a original,
ou seja, da época em que a lei foi publicada (1871).

LEI DO VENTRE LIVRE


LEI N. 2.040, DE 28 DE SETEMBRO DE 1871

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Declara de condição livre os filhos de mulher escrava que nascerem desde a data desta lei,
libertos os escravos da Nação e outros, e providencia sobre a criação e tratamento daquelles filhos
menores e sobre a libertação annaul de escravos.
A Princeza Imperial Regente, em nome de Sua Magestade o Imperador e Senhor D. Pedro II, faz
saber a todos os subditos do Imperio que a Assembléa Geral Decretou e ella Sanccionou a Lei seguinte:
Art. 1.º: Os filhos de mulher escrava que nascerem no Imperio desde a data desta lei, serão
considerados de condição livre.
§ 1.º Os ditos filhos menores ficarão em poder o sob a autoridade dos senhores de suas mãis,
os quaes terão obrigação de crial-os e tratal-os até a idade de oito annos completos. Chegando o
filho da escrava a esta idade, o senhor da mãi terá opção, ou de receber do Estado a indemnização
de 600$000, ou de utilisar-se dos serviços do menor até a idade de 21 annos completos. No primeiro
caso, o Governo receberá o menor, e lhe dará destino, em conformidade da presente lei. A indem-
nização pecuniaria acima fixada será paga em titulos de renda com o juro annual de 6%, os quaes
se considerarão extinctos no fim de 30 annos. A declaração do senhor deverá ser feita dentro de 30
dias, a contar daquelle em que o menor chegar á idade de oito annos e, se a não fizer então, ficará
entendido que opta pelo arbitrio de utilizar-se dos serviços do mesmo menor.
§ 2.º Qualquer desses menores poderá remir-se do onus de servir, mediante prévia indemniza-
ção pecuniaria, que por si ou por outrem offereça ao senhor de sua mãi, procedendo-se á avaliação
dos serviços pelo tempo que lhe restar a preencher, se não houver accôrdo sobre o quantum da
mesma indemnização.
§ 3.º Cabe tambem aos senhores criar e tratar os filhos que as filhas de suas escravas pos-
sam ter quando aquellas estiverem prestando serviços. Tal obrigação, porém, cessará logo que
findar a prestação dos serviços das mãis. Se estas fallecerem dentro daquelle prazo, seus filhos
poderão ser postos à disposição do Governo.
§ 4.º Se a mulher escrava obtiver liberdade, os filhos menores de oito annos, que estejam
em poder do senhor della por virtude do § 1.º, lhe serão entregues, excepto se preferir deixal-os, e
o senhor annuir a ficar com elles. [...]
Publicada na Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas,
em 28 de setembro de 1871. José Agostinho Moreira Guimarães.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/LIM2040.htm>. Acesso em: 8 fev. 2018.

LEI SARAIVA COTEGIPE


Mais conhecida como Lei dos Sexagenários, não trouxe benefícios para os escravizados,
uma vez que poucos deles atingiam essa idade, além de ser muito difícil conseguir emprego ou
ter para onde ir ao ficar livre. Essa lei, na realidade, só beneficiou os proprietários desses trabalha-
dores, que se viam livres de alguém que, nessa idade, quase não produzia. Por essa lei, todos os
escravizados maiores de 65 anos de idade estariam livres, mas sujeitos à prestação de serviços
por mais três anos. Essa lei apresenta muitos artigos pertinentes aos custos, às indenizações, ao
destino e à moradia dos libertos.

60 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


O engajamento da sociedade brasileira na luta pela defesa dos escraviza-
dos foi ficando cada vez mais forte, por meio de jornais, revistas e discursos em
praças públicas. Finalmente, em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, filha de
D. Pedro II, assinou a Lei Áurea com apenas dois artigos:

Artigo 1 – É declarada extinta a escravidão;

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Artigo 2 – Revogam-se as disposições em contrário.

Dessa forma, a abolição significou uma etapa jurídica na emancipação


dos escravizados africanos, pois, a partir de então, teve início uma longa luta
para a busca da cidadania e de seus direitos.

1 Após ler e analisar o fragmento de texto com alguns dos artigos da Lei do Ventre
Livre, destaque alguns aspectos que, em sua opinião, tornaram limitadas as pro-
postas de libertação dos escravizados africanos por essa lei. Veja orientação didática.
2 Analise a seguir os interesses da Inglaterra com relação à abolição do tráfico de es-
cravos e à abolição da escravatura.
Você pode abordar um aspecto extremamente cruel do tráfico de escravizados africanos após a proibição imposta

pela Inglaterra, que era o de jogá-los ao mar quando havia aproximação e fiscalização de navios de patrulhamento

inglês. É importante destacar a interferência da Inglaterra no processo abolicionista. A Inglaterra estava, naquele

período, em plena Revolução Industrial e desejava acabar com o tráfico de escravos, pois essa medida contribuiria

para a extinção da escravidão e, consequentemente, teria a oportunidade de ver crescer o mercado consumidor no

Brasil, quando, então, obteria ainda mais lucros.

No ano de 1845, o parlamento inglês aprovou uma lei que ficou conhecida como Bill Aberdeen. De acordo com essa

lei, navios ingleses poderiam prender embarcações que estivessem traficando africanos.

Em 1850, foi decretada no Brasil a Lei Eusébio de Queirós, que extinguia o tráfico de escravos da África. O pro-

blema da mão de obra foi resolvido com o tráfico interno, ou seja, os homens escravizados da região do Nordeste

açucareiro eram vendidos para as regiões de maior potencial econômico, como São Paulo e Rio de Janeiro, onde

a lavoura cafeeira crescia rapidamente. Além das dificuldades em se manter um grande número de escravos, a

compra deles começou a ficar muito cara.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 61


3 O fim do sistema de escravidão no Brasil não garantiu condições de
trabalho, de moradia etc. aos africanos que deixaram de ser escra-
vizados. O desrespeito aos direitos que cabiam aos africanos livres,

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
bem como o preconceito existente pela sociedade em relação a
eles, é responsável por muitos problemas sociais que ainda existem.
Com base nesses dados, responda às questões seguintes.
a) Explique se, na atualidade, no Brasil, os afrodescendentes pos-
suem os mesmos direitos que os outros cidadãos.
Resposta pessoal.

b) Os afrodescendentes possuem as mesmas garantias de acesso à


educação de qualidade, a serviços de saúde, a empregos etc. que
os demais cidadãos? Por quê?
Resposta pessoal.

62 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


c) Atualmente, os atos que demonstram preconceito contra afrodes-
cendentes são considerados crimes no país? Dê alguns exemplos
de como isso pode acontecer no dia a dia, por exemplo.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Resposta pessoal.

No nosso racismo, não temos um partido racista, mas te-


mos repetidas manifestações de racismo no seio da sociedade.
É dificílimo, para um negro, ascender socialmente. A discrimina-
ção se exerce de forma muitas vezes dissimulada, mas que os
marca muito. Mas está mudando. Sinto mudanças.
É importante que os descendentes de africanos saibam
que eles têm uma história tão bonita quanto a história da Grécia.
Que eles não eram bárbaros, que não são descendentes de es-
cravos. São descendentes de africanos que foram escravizados.
ESCÓSSIA, Fernanda da. Descendentes precisam saber que história
da África é tão bonita quanto a da Grécia. BBC Brasil, 20 nov. 2015.
Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151120_
entrevista_historiador_fe_ab>. Acesso em: 8 dez. 2018.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 63


Você pôde perceber que desde os tempos de colônia, quando
muitos africanos foram trazidos para o Brasil e escravizados, eles so-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
freram as mais variadas formas de preconceito, muitos dos quais per-
manecem até os dias atuais em nossa sociedade. Junte-se com mais
três colegas e conversem sobre a questão a seguir.
• Você já foi testemunha ou leu alguma notícia que tratasse sobre
o preconceito contra os afrodescendentes? Converse com os
colegas do grupo a respeito do assunto. Em seguida, descreva
os exemplos de atitudes preconceituosas sobre os quais vocês
conversaram e proponham soluções para que essas situações
possam ser evitadas. Veja orientação didática.

Daniel Pereira/Companhia das Letras/1997


FTD/1996

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. 13 de REIS, João José; GOMES, Flávio


maio – Abolição. Por que comemorar? Santos. Liberdade por um fio: história
São Paulo: FTD, 1996. (Coleção dos quilombos no Brasil. São Paulo:
Construindo Nossa Memória). Companhia das Letras, 1997.

Esta obra trata da abolição Este livro reúne artigos so-


da escravatura no Brasil e da evo- bre quilombos em vários locais
lução desse tema, envolvendo a do Brasil, constituindo-se uma
integração e o preconceito contra amostra das várias maneiras
os afrodescendentes. como o tema vem sendo tratado
atualmente.

64 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


A IMIGRAÇÃO E O TRABALHO ASSALARIADO

A partir de 1850, com a extinção do tráfico negreiro pela Lei Eusébio de


Queirós, teve início no Brasil a imigração com o chamado “sistema de parceria”.
Já em 1860, os problemas com os gastos e com a manutenção do grande
número de escravizados preocupou enormemente os fazendeiros que prefe-
riram a mão de obra livre e assalariada encontrada entre os imigrantes. O go-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
verno imperial, pressionado por essa classe social de forte poder econômico,
incentivou a vinda de imigrantes europeus para o Brasil.
O sistema de parceria teve início com a iniciativa do senador Nicolau
Vergueiro (1778-1859), na Fazenda Ibicaba, em São Paulo. Por meio desse
sistema o proprietário cedia uma parcela da terra para os colonos cultivarem,
devendo a produção ser dividida entre as duas partes. Inicialmente os próprios
fazendeiros incentivaram e custearam a vinda de imigrantes.

Autor desconhecido/Arquivo Público do Estado de São Paulo

As dificuldades dos colonos eram muitas, uma vez que a parceria se revelou desigual, pois eram enganados
pelos fazendeiros na pesagem dos produtos, no cálculo dos juros das dívidas e no preço alto das mercadorias
dos armazéns que também pertenciam aos fazendeiros. Dessa forma, muitos imigrantes ficavam com
grandes dívidas e os ganhos obtidos com seu trabalho não cobriam o compromisso da parceria. Tais fatos
levaram a conflitos entre colonos e fazendeiros, além de desestimular a vinda de novos imigrantes.

Anteriormente, já em 1824, D. Pedro I havia incentivado a imigração de


alemães para a região de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, incentivado pela
esposa D. Leopoldina.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 65


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
D. LEOPOLDINA
Era filha do imperador
­Francisco I da Áustria. O casa-
mento com D. Pedro I aconte-
ceu em maio de 1817 sem que
ambos se conhecessem. Teve
sete filhos e morreu em 1826
em consequência de um parto.
subvenção: KREUTZINGER, Joseph. Maria
ação de Leopoldina de Áustria, imperatriz do
auxiliar ou Brasil. 1815. Óleo sobre tela. Palácio
ajudar em de Schönbrunn, Viena (Áustria).
determinada
situação.

No mesmo ano, uma nova leva de imigrantes se instalou no Rio Grande


do Sul, onde receberam sementes do governo para iniciar plantações e cabeças
de gado para prover o seu sustento.
Durante todo o século XIX, a Europa passou por profundas mudanças
políticas e econômicas. O surgimento das fábricas, que produziam uma grande
quantidade de produtos por um preço menor, e o crescimento do uso das máqui-
nas na produção agrícola geraram um aumento no número de desempregados.
Muitos europeus que não viam mais condições de sobreviver em seus
países optaram por recomeçar a vida em outro lugar. O Brasil representava uma
boa alternativa, uma vez que precisava de mão de obra nas fazendas de café.
No entanto, foi a partir de 1850 que o governo tomou para si a subvenção
da imigração europeia para o Brasil, financiando as passagens das pessoas que
desejavam trabalhar no país e por meio de propagandas de incentivo à imigra-
ção feitas na Europa.
Os imigrantes que se dirigiram ao Sul do país receberam terras do governo
para produzirem, contudo o maior problema foi a pouca assistência que esses gru-
pos recebiam do governo, além das condições em geral que eram bem difíceis,
pois além dos problemas de adaptação ao clima e aos costumes, as condições
de trabalho não eram as esperadas. Além dos alemães, chegou ao Brasil nesse
período um grande número de italianos, espanhóis, portugueses e poloneses.
Diante disso, começaram a diversificar as atividades para poderem sobre-
viver, dedicando-se a atividades já conhecidas em seus países, desenvolveram a
pecuária, a agricultura, as produções caseiras e artesanais (queijo, salame, vinho,
instrumentos de trabalho e utensílios domésticos). Com o tempo, essa produção
começou a aumentar e passaram a vender muitos produtos nas cidades.

66 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Os europeus que vieram para o Brasil passaram por dificuldades. A via-
gem de vinda era, em si, bastante sofrida, tendo em vista que as acomodações
e as condições de higiene eram precárias. Por esse motivo, muitos europeus
chegavam enfraquecidos e doentes e, às vezes, até morriam antes mesmo de che-
gar ao território brasileiro.
Em muitos casos, por causa da localização dos lotes recebidos pelo go-
verno, sem comunicação e com problemas para distribuir as mercadorias que

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
produziam, muitos deles abandonaram as terras recebidas e migraram para as
cidades em busca de outras oportunidades.

ROCCO, Antonio. Os emigrantes. c. 1910. Óleo sobre tela,


231 x 202 cm. Pinacoteca de São Paulo (São Paulo).
Os destinos mais frequentes dos imigrantes que abandonavam
suas terras ou desistiam do trabalho nas fazendas eram as
cidades de São Paulo, que estava iniciando uma nova fase com o
estabelecimento de indústrias, e o Rio de Janeiro, que na época
era a capital do Brasil. Porém, as condições de trabalho na cidade
eram tão difíceis quanto as que haviam vivenciado no campo.

Trabalhando principalmente nas indústrias, homens, mulheres e crianças


recebiam baixos salários, cumpriam longas jornadas de trabalho e não pos-
suíam qualquer tipo de proteção contra acidentes e doenças.
Muitos desses imigrantes se envolveram em movimentos grevistas e
ajudaram a fundar associações operárias que tinham o objetivo de lutar pelas
melhorias nas condições de trabalho.
Outros imigrantes resolviam trabalhar por conta própria como: vendedo-
res ambulantes, artesãos, garçons, engraxates, jornaleiros ou mesmo abrindo
pequenos comércios.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 67


Marcados pelo desencanto, 40% dos imigrantes italianos retornaram à
Europa. Os que ficaram criaram raízes. Na cidade de São Paulo, por exemplo,
alguns se tornaram grandes comerciantes e industriais, e outros se tornaram
operários da nascente indústria paulista.
O trabalho dos imigrantes contribuiu para a modernização do país, pois se
constituíram como uma camada intermediária na sociedade brasileira. Passa-
ram a compor um importante segmento para o desenvolvimento do país.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Peça aos alunos para
retornar às páginas 1 Com o fim do sistema escravista, os grandes produtores e donos das fazen-
de abertura e reler as das buscaram uma alternativa de mão de obra. O que os produtores brasilei-
observações que fizeram ros fizeram para solucionar as dificuldades da mão de obra nas fazendas?
sobre as populações
migrantes no Brasil. Os grandes produtores e donos das fazendas brasileiras sentiram a necessidade de substituir a
Resgate os elementos mão de obra dos escravizados africanos, já que o processo de libertação deles era inevitável.
centrais apresentados
por eles no início do Nesse contexto, optaram por trazer trabalhadores imigrantes de países europeus para trabalhar
estudo sobre o Brasil do
em terras brasileiras.
Segundo Império.
Peça que reescrevam as
anotações, agora com
maior bagagem informa-
cional.
Esta retomada auxiliará
a produção indicada na 2 Explique como era a situação de muitos trabalhadores na Europa no
página 69 – itens 6 e 7.
século XIX.
Durante todo o século XIX, a Europa passou por profundas mudanças políticas e econômicas. O
surgimento das fábricas, que produziam uma grande quantidade de produtos por um preço menor,
e o crescimento do uso das máquinas na produção agrícola geraram um aumento no número de
desempregados, o que fez com que se mudassem para o Brasil e outros países da América em
busca de melhores condições de vida.

3 Tendo como referência o texto sobre a vinda dos imigrantes europeus


para o Brasil, descreva como as condições das viagens costumavam ser
nessa época.
As condições de acomodação e higiene eram precárias, o que fazia com que os europeus chegas-
sem ao Brasil abatidos e, por vezes, doentes ou mortos.

68 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


4 A partir de 1850, a imigração passou a ser subvencionada pelo governo
brasileiro. Na prática, o que isso significava?
Significava que o governo brasileiro fornecia passagens de navios para os imigrantes e transporte
até a região onde eles iriam se instalar.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
5 Você acha que a vinda para o Brasil foi como os imigrantes europeus es-
peravam? Por quê?
O aluno pode pensar sobre como os imigrantes que se dirigiram ao Sul do país receberam terras do
governo para produzirem, mas tiveram muitos problemas de adaptação ao clima e aos costumes,
além das condições de trabalho não serem as esperadas, por exemplo.

6 Para compreender melhor os fatores que envolveram a imigração euro-


peia para o Brasil no século XIX e início do século XX e a sua importância
na constituição da população brasileira na atualidade, desenvolva os itens
a seguir. Veja orientação didática.
a) Informe-se, com sua família, a origem de seus antepassados. Se são
imigrantes estrangeiros, procure saber a origem, fatos que determina-
ram sua vinda para o Brasil, locais onde se estabeleceram, atividades
que desenvolveram. Anote essas informações no caderno.
b) Forme uma equipe com dois outros colegas e escolham um bairro ou
outros locais da cidade ou município em que moram (parques, clubes,
praças ou bairro) que tenham agrupado pessoas de um mesmo grupo
de imigrantes e levante dados sobre o local escolhido.
c) Organize com o seu grupo todo esse material pesquisado e promovam
uma exposição em sala de aula.
7 A grande diversidade cultural existente no Brasil foi condicionada por mui-
tos fatores e a imigração estrangeira foi um deles.
Essas pessoas foram influenciadas pelos hábitos e costumes dos locais
para onde se dirigiram, assim como exerceram forte influência cultural no
país.
Pesquise sobre algum tipo de comida que você goste ou que já experi-
mentou e que tenha influência vinda de outro país. Aponte a sua origem
e, depois, escreva a receita do prato que você pesquisou na página 79 do
Material de Apoio. Ao final, com o auxílio do professor, reúnam as receitas
pesquisadas pela turma e criem um livro. Veja orientação didática.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 69


Este livro retrata o encontro

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
imaginário de Dom Pedro II com
Helena Costa, aluna da segunda
série do Ensino Fundamental
do Colégio D. Pedro II do Rio de
Janeiro, que venceu um concurso
de cartazes e, como prêmio,
ganhou uma visita ao Palácio
Imperial. Apesar de ser uma obra
de ficção, a narrativa é baseada em
características e fatos ligados à vida
do segundo imperador do Brasil,
Editora DCL

que se tornou príncipe regente aos


5 anos de idade, quando seu pai,
SCHWARCZ, Lilia Moritz; Dom Pedro I, abdicou do trono, e
OLIVEIRA, Rui de. O príncipe
triste. São Paulo: DCL, 2010.
aos 15 anos foi declarado maior,
sendo coroado imperador do Brasil.

A obra apresenta contos so-


bre os imigrantes italianos em São
Paulo da década de 1930, descritos
em linguagem envolvente.
Editora Martin Claret

MACHADO, Antônio de Alcântara.


Brás, Bexiga e Barra Funda. São
Paulo: Martin Claret, 2012.

70 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Marco Zero/2008
Os autores narram memórias
de sua família, desde a primeira
geração de imigrantes até a quarta
geração, a de bisnetos, composta

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
de jovens e adolescentes. Relatam
as barreiras impostas pelo idioma,
hábitos alimentares, modo de vida
e diferenças climáticas que redun-
daram em um choque cultural ex-
tremo, e também as conquistas e
realizações, resultado de sua ca-
pacidade de integração, trabalho e
disciplina.
KUAZAQUI, Edmir; KUAZAQUI, Edna.
Sol nascente: um relato foto-histórico-
-geográfico da imigração japonesa.
São Paulo: Marco Zero, 2008.
Unicamp/2008

A obra procura analisar o sig-


nificado da Lei dos Sexagenários no
processo da abolição, por meio dos
debates, travados no Parlamento e
nos tribunais, sobre os destinos da
escravidão.

MENDONÇA, Joseli Maria Nunes.


Entre a mão e os anéis: a Lei dos
Sexagenários e os caminhos da abolição
no Brasil. Campinas: Unicamp, 2017.
Ática/1999

O conteúdo deste livro permi-


te a reflexão sobre a identidade e o
respeito à cor, às diferenças de pele,
possibilitando um diálogo acerca do
preconceito e da tolerância racial.

MACHADO, Ana Maria. Menina bonita


do laço de fita. São Paulo: Ática, 1999.

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 71


e m b r a r !
Para l

PROIBIDA A REPRODUÇÃO

72 HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE


Material de apoio
UNIDADE 4 – PÁGINA 44
NOME TURMA DATA

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
OS SERINGUEIROS NA ATUALIDADE

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 73


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Material de apoio
UNIDADE 4 – PÁGINA 46
NOME TURMA DATA

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
CARGOS DE CONFIANÇA E DESVANTAGENS

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 75


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Material de apoio
UNIDADE 4 – PÁGINA 54
NOME TURMA DATA

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE DIFERENTES CLASSES SOCIAIS

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 77


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Material de apoio
UNIDADE 4 – PÁGINA 69
NOME TURMA DATA

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
RECEITAS DE ORIGEM ESTRANGEIRA NO BRASIL

HISTÓRIA · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE 79


PROIBIDA A REPRODUÇÃO
ENSINO
FUNDAMENTAL

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
2o. BIMESTRE

HISTÓRIA
PROFESSOR
UNIDADE 3

O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DO ESTADO NO BRASIL

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Para o entendimento da economia e da sociedade no projeto imperial, é fundamen-
tal fazer a relação com a Revolução Industrial em pleno curso na Europa, principalmente
na Inglaterra, o que vai determinar a sua forte influência nos acontecimentos no Brasil,
uma vez que a nossa economia estava fortemente condicionada a fatores externos,
apesar da independência política ocorrida em 1822.
Toda a organização econômica e social desse período deve ser relacionada com a
interferência da Inglaterra, destacando o processo abolicionista. É importante ressaltar
as contradições do Primeiro Reinado, quando os ideais do antigo regime se chocavam
com os ideais do liberalismo (Constituição de 1824).
Relembre com os alunos as condições em que se encontrava o Brasil ao se tornar in-
dependente de Portugal, ressaltando os aspectos de uma economia ainda inteiramente
baseada na produção agrícola destinada às exportações e que a classe dos proprietá-
rios de terra continuava a ser a mais poderosa do país.
É importante analisar os aspectos anteriores ao fato histórico do dia 7 de setembro
de 1822, destacando, por exemplo, as questões que podem gerar um melhor entendi-
mento para os alunos, como: Por que foi D. Pedro, o herdeiro do trono português, quem
efetivou a independência? Por que foi adotada como forma de governo a monarquia e
não a república? Quais eram os mecanismos de pressão da época? Como foi a partici-
pação popular?
Será bastante enriquecedor trabalhar de forma interdisciplinar com a Geografia par-
tindo do conceito de “país-continente” e explorando, por meio de pesquisas em grupo,
as características das regiões brasileiras. Podem ser levantados aspectos culturais (fol-
clore, sotaques, produção artística) e econômicos, entre outros.

OBJETIVOS
• Identificar e analisar o equilíbrio das forças e os sujeitos envolvidos nas disputas
políticas durante o Primeiro e o Segundo Reinado.
• Identificar os mecanismos de organização do poder político com o objetivo de com-
preender a ideia de Estado.
• Destacar a importância e os reflexos das mudanças econômicas, políticas e sociais
que culminaram com o estabelecimento do império no país.
• Analisar o significado da atuação de D. Pedro I e do contexto político e econômico
que conduziram à independência do Brasil.
• Refletir sobre os limites da cidadania no Brasil imperial a partir da Constituição de 1834.
• Identificar, comparar e analisar a diversidade política, social e regional nas rebeliões
e nos movimentos contestatórios ao poder centralizado.
• Analisar a formação da cultura nacional, relacionando-a com a ocupação do território
pelos diversos grupos que fizeram parte desse processo.
• Apresentar as principais rebeliões regenciais, considerando as principais semelhan-
ças e diferenças entre si, além das motivações e dos objetivos que cada uma teve.

FUNDAMENTAÇÃO · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE · PROFESSOR


• Relacionar as transformações territoriais, em razão de questões de fronteiras, com
as tensões e os conflitos durante o Império.
• Compreender o processo de estabelecimento do império no Brasil, vinculado a fato-
res externos e envolvendo as questões europeias.

CONTEÚDOS

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
2.º Bimestre Unidade temática indicada na BNCC
Respeito ao outro • O Brasil no século XIX
Correspondência com os objetos de
Unidade 3
conhecimento indicados na BNCC
• O processo de construção do Estado • Brasil: Primeiro Reinado
no Brasil • O Período Regencial e as contestações
• A política brasileira no Primeiro ao poder central
Reinado
• A primeira Constituição brasileira
(1824)
• A abdicação de D. Pedro I e o esta-
belecimento do governo regencial
• A chegada do café ao Brasil

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS

PÁGINA 17
ATIVIDADES
No 8.º ano é comum a introdução de questões objetivas, semelhantes àquelas usa-
das em processos seletivos de universidades ou do Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem). Para o trabalho com este tipo de questão, é preciso orientar o aluno na leitura
e interpretação de informações.
Devemos lembrar que uma questão objetiva pode ter vários formatos, porém o mais
comum é formado por três partes:
• Suporte – texto verbal ou não verbal que apresenta o contexto ao aluno.
• Situação-problema – uma situação clara e definida que configura-se em um proble-
ma no contexto apresentado no suporte.
• Alternativas de resposta – geralmente há uma resposta excelente (que corresponde
corretamente à situação-problema e três ou quatro outras respostas possíveis, po-
rém que não correspondem à situação-problema).
Caso defina uma estratégia ativa para iniciar o uso desse tipo de questão, poderá
orientar os alunos a construírem suas questões, seguindo o roteiro descrito acima. Trata-
-se de uma forma divertida e estimulante de trabalho, particularmente se for seguida de
um jogo (tipo show de respostas) no qual, por sorteio, as questões são apresentadas às
equipes formadas na turma e os alunos marcam pontos quando acertam as respostas.
1. Após a morte de D. João VI, D. Pedro I foi proclamado o sucessor do trono de
­Portugal. Porém, ele havia renunciado em favor de sua filha menor, Maria da Glória,
que estava prometida em casamento a D. Miguel, irmão de D. Pedro, que exerceria
o poder como regente. Entretanto, D. Miguel se autoproclamou rei de Portugal, o
que desencadeou uma crise sucessória. Diante dessa situação, D. Pedro I abdicou
do trono brasileiro e partiu para Portugal para assumir o reino do país.

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2. O Ato Adicional de 1834 alterou os artigos da Constituição de 1824. Por essa razão, a
Regência Trina foi substituída por uma Regência Una (de apenas um regente), eleita
por um período de quatro anos. Esse Ato fortalecia o poder centralizado por meio do
cargo exercido pelo regente único, e isso favoreceu as camadas mais abastadas da
população, além de garantir a ordem pública, uma vez que o Ato visava acabar com
as agitações e os levantes populares.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
ANOTAÇÕES

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UNIDADE 4

O SEGUNDO REINADO NO BRASIL

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
Com a extinção do tráfico negreiro, a situação da economia no Brasil baseada no tra-
balho escravo apresentava-se particularmente difícil. Ao mesmo tempo, um novo setor
da economia despontava pelo seu dinamismo e pela sua capacidade em desenvolver a
produção não mais apoiada na escravidão e sim no trabalho assalariado.
Quando no dia 13 de maio de 1888 foi declarada extinta a escravidão no Brasil, fi-
caram evidentes as limitações das leis abolicionistas e o seu reflexo na condição dos
escravizados africanos no país.
Concomitantemente a esse processo de modernização do Brasil e à chegada
dos imigrantes europeus, a partir de 1870, tornou-se evidente o declínio do regime
monárquico.
A monarquia estava de tal forma identificada com a escravidão que a sua extinção
implicou também a mudança dessa forma de governo. Por fim, a ascensão dos milita-
res, notadamente após a Guerra do Paraguai (1865-1870), inconformados com a posição
subalterna a que eram relegados pelo regime imperial e cada vez mais encantados com
as ideias republicanas, favoreceu o fim do império e a sua substituição pela república.
É importante destacar a interferência da Inglaterra no processo abolicionista por
meio da proibição do tráfico oficialmente, influindo sobre os interesses ingleses no
complexo processo de libertação que culminou com a assinatura da Lei Áurea.
Existem também nesse período muitos pontos importantes a serem observados a
respeito da transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil e a consequen-
te imigração europeia. Tendo como referência o processo de abolição da escravidão,
converse com os alunos sobre questões relativas à posição dos afrodescendentes na
sociedade brasileira, sobre as sérias situações de racismo ainda presentes no nosso
cotidiano, desde a existência de legislação pertinente e o seu cumprimento até as im-
portantes manifestações de resistência e a consciência sobre essa questão.

OBJETIVOS
• Identificar as questões internas e externas sobre a atuação do Brasil na Guerra do
Paraguai e debater diferentes versões sobre o conflito.
• Formular questionamentos sobre o legado da escravidão nas Américas, com base
na seleção e consulta de fontes de diferentes naturezas.
• Identificar e relacionar aspectos das estruturas sociais da atualidade com os legados
da escravidão no Brasil e debater a importância de ações afirmativas.
• Compreender as relações que se estabelecem entre grupos sociais, por meio das
condições de vida e o papel que cada grupo exerceu na sociedade imperial brasileira
e sobre as quais se assentam ainda na atualidade.
• Notar a influência dos africanos na formação da cultura nacional e do povo brasileiro.
• Perceber e valorizar as diferentes formas de reação do africano contra a escravidão
e debater sobre a discriminação racial existente na sociedade brasileira ainda na
atualidade.
• Analisar a política interna e as eleições no Segundo Reinado.
• Refletir sobre as causas e os efeitos da Guerra do Paraguai.

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• Identificar e analisar as políticas oficiais com relação ao indígena durante o Império.
• A produção do imaginário nacional brasileiro: cultura popular, representações vi-
suais, letras e Romantismo no Brasil.
• Debater o papel das culturas letradas, não letradas e das artes na produção das
identidades no Brasil do século XIX.
• Analisar as contradições do processo de abolição da escravidão.
• Identificar os aspectos que determinaram o processo de imigração europeia para o
Brasil.

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
CONTEÚDOS
2.º Bimestre Unidade temática indicada na BNCC
Respeito ao outro • O Brasil no século XIX
Correspondência com os objetos de
Unidade 4
conhecimento indicados na BNCC
• O Segundo Reinado no Brasil • O Brasil do Segundo Reinado: política
• D. Pedro II, imperador do Brasil e economia
• Início do Segundo Reinado • A Lei de Terras e seus desdobramentos
• A economia brasileira durante o na política do Segundo Reinado
Segundo Reinado • Territórios e fronteiras: a Guerra do
• O imaginário nacional e a Paraguai
produção das identidades no • Políticas de extermínio do indígena
Brasil do século XIX durante o Império
• A capital do Império do Brasil • O escravismo no Brasil do século XIX:
durante o Segundo Reinado plantations e revoltas de escravizados,
• A Guerra do Paraguai (1864-1870) abolicionismo e políticas migratórias no
• As transformações sociais do Brasil Imperial
Segundo Reinado

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
PÁGINA 38
ATIVIDADES
No Brasil, as ferrovias predominaram até a Segunda Guerra Mundial, na década
de 1940. O trem foi o principal meio de transporte brasileiro até esse período. A rede
ferroviária formava um traçado em direção aos portos, pois a economia brasileira ainda
apresentava caráter exportador e começava a diversificar a produção de bens e serviços,
principalmente os ligados à metalurgia. A transformação da economia trouxe a decadência
da rede ferroviária. A partir de então, acabou prevalecendo a opção rodoviária. Atualmente,
o Brasil apresenta mais de 2 milhões de quilômetros de rodovias contra menos de 40
mil quilômetros de ferrovias. A única linha de passageiros que ainda oferece serviço de
longa distância é a ligação entre Belo Horizonte e Vitória. Existem serviços suburbanos de
passageiros em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Maceió, João Pessoa, Natal, Recife,
Fortaleza e Teresina. Existem linhas de interesse exclusivamente turístico, como os que
ligam Curitiba a Morretes, Campinas a Jaguariúna e a linha do Memorial do Imigrante
de São Paulo. Os serviços de carga transportam, na atualidade, minérios, produtos
agrícolas como a soja, o milho e o arroz, bobinas de aço, toras de madeira, combustíveis,
contêineres e carvão mineral, sobretudo na ferrovia Tereza Cristina (Santa Catarina).

FUNDAMENTAÇÃO · 8o. ANO · 2o. BIMESTRE · PROFESSOR


PÁGINA 43
Outros produtos nacionais
A produção da borracha seguia as técnicas rudimentares já utilizadas pelos indíge-
nas, ou seja, consistia na abertura dos caminhos na selva que deviam ser mantidos
constantemente. Cada estrada tinha em média 200 árvores e cada seringueiro cuidava
de três estradas.
A extração de borracha era realizada durante o período menos chuvoso do ano (maio

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
a novembro). No restante dos meses, a maior intensidade das chuvas dificultava o
acesso às árvores e à seiva, que, ao ser recolhida, era contaminada pela água excessi-
va. Por essa razão, essa seiva tinha qualidade inferior para a produção de látex.
O trabalho de extração seguia a seguinte sistemática: o seringueiro passava pelas
árvores, fazendo sulcos com uma machadinha e colocando pequenas tigelas para rece-
ber o látex. Após a inserção dessas tigelas, retornava pelo mesmo caminho recolhendo
as tigelinhas e se encaminhava para o acampamento para a defumação do produto.
As bolas de látex geralmente eram entregues ao dono do seringal a cada 15 dias e
levadas para Belém ou Manaus para as casas aviadoras.
Os aviamentos eram compostos dos utensílios para a extração, vestuários, alimen-
tação, remédios, entre outros que o seringalista comprava para manter seu negócio.
O seringalista era o patrão no seringal e todo o aviamento era de sua responsabili-
dade, obtendo grandes lucros com os seringueiros. Mantinha, também, poder total nas
suas terras, fazendo justiça por conta própria e utilizando mecanismos de punição com
relação aos seus empregados.

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AMPLIAÇÃO
Além dos livros sugeridos no livro do aluno, é possível também exibir filmes relacio-
nados ao assunto estudado. A seguir constam alguns títulos sugeridos para ampliar o
conteúdo. Entretanto, ao se decidir pelo uso de filmes em sala de aula, é importante que
você assista aos títulos sugeridos com antecedência e analise a pertinência em trabalhar
com os alunos a sua totalidade ou apenas um fragmento. Destaque também que se
tratam de obras de arte e muitas vezes não transmitem a realidade dos fatos, havendo
assim uma forte influência do olhar e da perspectiva do diretor de cada filme. Geralmen-
te um filme histórico revela mais a época em que foi feito do que o passado ali repre-
sentado. Ao decidir usar um filme em sala de aula, cumpra determinadas etapas, como:
• assistir ao filme antecipadamente;
• marcar os aspectos que pretende destacar e enfocar com os alunos;
• orientar os alunos sobre dados da produção para que situem o contexto;
• organizar um roteiro com as problemáticas a serem observadas;
• verificar se a indicação da obra se adequa à faixa etária dos alunos.
Os filmes sugeridos a seguir podem complementar o trabalho realizado.

A MORENINHA. Direção de Glauco Mirko


Glauco Mirko Laurelli/Casablanca
Filmes/Brasil/1970

Laurelli. Brasil: 1971. (96 min).


Baseado no romance homônimo de Joaquim
Manuel de Macedo, o filme retrata situações da
Corte do Rio de Janeiro e a ilha de Paquetá, onde
jovens se reuniam em torno da personagem prin-
cipal.

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Homero Sérgio/Folhapress
AMAZÔNIA em chamas. Direção de John Frankenheimer.
EUA: 1994. (123 min).
Faz um relato da vida de Chico Mendes, líder dos seringuei-
ros que empreendeu longa e pacífica luta contra a exploração
dos trabalhadores locais e o desmatamento da Floresta Amazô-
nica. Baseado em acontecimentos reais e no livro The burning

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
season, de Andrew Revkin.

O QUATRILHO. Direção de Fábio Barreto. Bra-

Fábio Barreto/Paramount/Brasil/1995
sil: 1995. (92 min).
O filme trata da história de dois casais, filhos
de imigrantes, e a organização de sua vida no Bra-
sil. Constitui-se de material interessante para que
os alunos percebam as dificuldades e as realiza-
ções dessas pessoas ao se estabelecerem num
país como imigrantes. Os alunos devem observar
os costumes da época quanto a vestuário, ali-
mentação, moradias, relações humanas, relações de negócios, legislação etc.

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PENSE NISSO
1. A Lei do Ventre Livre foi inoperante na maioria das vezes, uma vez que as crian-
ças “libertas” permaneciam sob o jugo do proprietário de escravizados. Além disso,
os escravizados teriam de pagar pela liberdade, negando assim um direito que já lhes
pertencia legalmente por nascimento.
Os alunos podem destacar aspectos como as duas possibilidades que a lei oferecia:
poderiam ficar com seus senhores até atingir a maioridade, que era de 21 anos à época,
ou serem entregues ao governo para arriscar a sorte na vida. É importante destacar que,
por razões óbvias, a maioria dessas crianças ficava com seus senhores e prestava ser-
viços como se estivesse na condição de escravizada. Por outro lado, como os senhores
já não tinham mais a obrigação de sustentar os filhos dos escravizados, esses libertos
normalmente adquiriam dívidas com o senhor até a maioridade que, para serem salda-
das, exigiam a continuidade de serviços, o que conduzia a uma situação de escravidão.

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EU, CIDADÃO
Esta reflexão pode apoiar o desenvolvimento do terceiro procedimento proposto
para o ensino de história na BNCC. Neste contexto, cabe buscar diferentes interpreta-
ções da escravização de africanos e americanos ao longo do período colonial e impe-
rial. Nesse sentido, cabe aproximar o tema para o contexto da comunidade na qual a
escola se insere e verificar se há presença de comunidades indígenas ou quilombolas
na região.
Reforce com os alunos que o comércio de pessoas trazidas da África para vendê-las
na América foi um negócio altamente lucrativo, que durou mais de 300 anos. Explique
que esse negócio envolvia a captura dos africanos no território de origem e o transporte
deles para o Brasil ocorria nas condições mais precárias possíveis.

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Estimativas aproximadas dão conta de que foram trazidos para as Américas cerca de
15 milhões de africanos, sendo que desse contingente 40% deles, ou seja, 6 milhões de
pessoas, foram trazidos para o Brasil. Esses africanos trouxeram consigo não apenas a
força de trabalho, mas também a cultura, que hoje é parte do modo de vida do país.
Os escravizados africanos eram vistos na sociedade colonial também como símbolo
do poder e do prestígio dos senhores, cuja importância social era avaliada pelo número
de escravos que possuíam.
É importante que seja reforçado com os alunos que a presença de povos tão dife-

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
rentes em um gradual processo de miscigenação no Brasil determinou um pluralismo
cultural importante para o país. Destaque que esse processo não foi harmonioso, re-
lembrando que o contexto da ocupação do território brasileiro foi construído por meio
de lutas e conflitos sociais, tanto no campo como nas cidades, e que ainda podem ser
sentidas as desigualdades em vários aspectos na atualidade.
A população africana está entre as que mais contribuíram para essa pluralidade cul-
tural, apesar do forte preconceito que sempre existiu com relação aos seus traços
culturais e influências, consideradas menores por serem pertinentes aos escravizados.
No Brasil, incontáveis estudos afirmam a presença de elementos culturais africanos
recriados em nosso contexto histórico, social e cultural. É importante que os alunos
analisem que os modos de ser, os conhecimentos, as tecnologias, os costumes, a
musicalidade e a corporeidade de outros grupos étnico-raciais compõem a nossa po-
pulação.
Destaque que, por mais que esse processo seja uma realidade, também é fato que
ele convive, no Brasil, com uma prática racista. Esse racismo se faz presente em nossa
estrutura de desigualdade e em nossas ações cotidianas.
Normalmente vivenciamos na escola algumas situações sobre o silenciamento a
respeito da África e sobre a questão afro-brasileira, e ainda convivemos e conhecemos
literaturas, jornais, revistas, televisão carregados de estereótipos raciais.
Tendo em vista o contexto descrito, oriente os alunos na proposição de atitudes e
medidas que visem diminuir e extinguir o preconceito e o racismo. Por exemplo, desde
2003, o dia 20 de novembro é comemorado no calendário das escolas como o dia da
Consciência Negra, cujo objetivo é fazer uma reflexão sobre a importância do povo e da
cultura africana, assim como o impacto que tiveram no desenvolvimento da identidade
da cultura brasileira.
Converse com os alunos que nos últimos anos houve um grande avanço no país
com relação às chamadas políticas afirmativas que visam fazer um resgate social e
valorizar os afrodescendentes, contudo essas medidas precisam se fortalecer e se con-
cretizar por meio de políticas públicas ligadas à educação e às melhorias das condições
gerais de igualdade de oportunidades para todos os brasileiros.
É importante destacar a visão preconceituosa sobre o negro, visto como força de tra-
balho passível de ser objeto de punição e castigo. Ressalte também a forma de aceitação
do negro na sociedade da época apenas por meio do trabalho, sem direitos políticos.

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ATIVIDADES
6. O trabalho em equipe proposto enfoca as principais características e contribui-
ções dos grupos imigrantes no Brasil (italianos, poloneses, alemães, ucranianos, entre
outros) na composição da população e da cultura brasileira.
• Cada aluno deve fazer um registro sobre a sua ascendência, com histórias, dese-
nhos e fotografias disponíveis.

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• Levantamento de fatos, eventos e organizações existentes em sua cidade específi-
cas de grupos étnicos.
É importante que os alunos analisem as dificuldades, a adaptação e as influências
dos grupos pesquisados.
O objetivo da atividade é levar os alunos a descobrirem como se deu o processo da
chegada dos imigrantes na região em que eles vivem e de que maneira pode ser perce-
bida a presença desses grupos. Quais os povos que vieram para o estado? A imigração
esteve mais concentrada em algum período específico? O que motivou a chegada dos

PROIBIDA A REPRODUÇÃO
imigrantes? Quais são as influências culturais que podem ser percebidas no estado em
que os alunos vivem?
Oriente a entrevista, ajudando-os na elaboração de um roteiro de perguntas, tais como:
• nome e idade do entrevistado;
• o que ele sabe sobre o local de origem de seus antepassados;
• quem eram esses antepassados e como vieram para o Brasil;
• outras informações que possam contribuir para o entendimento de temas relaciona-
dos à imigração, como casamentos realizados e atividades que esses antepassados
desenvolviam.
Ao final pode ser organizada uma síntese com as principais ideias e os aspectos le-
vantados por eles. Depois, promova um debate com os alunos sobre essas conclusões.
7. Os alunos podem citar pratos diversos que os imigrantes introduziram na culinária
nacional, tais como pizzas e massas (italianos), esfirras e quibes (sírio-libaneses), salsi-
chas e cervejas (alemães), sushis e sashimis (japoneses), carnes salgadas e defuma-
das, além de doces à base de ovos (portugueses), entre tantas outras contribuições.
Auxilie os alunos na elaboração do livro coletivo de receitas, recolhendo as páginas do
Material de Apoio com as receitas pesquisadas de maneira individual pelos alunos.
Reúna-as e encaderne para que o livro seja formado. Antes da encadernação, vocês
podem elaborar juntos uma carta de apresentação para ser inserida antes das receitas
produzidas pelos alunos. É possível também sortear uma ou mais receitas para serem
feitas em sala de aula. Verifique a possibilidade com a coordenação da escola e selecio-
ne tempo suficiente da aula para a preparação do prato sorteado.

ANOTAÇÕES

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