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HISTÓRIA 1
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Educação a Distância
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CDD 960
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HISTÓRIA 2
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SUMÁRIO
Aula 01_Porque (só agora) estudar a África? A Lei 10.639 ......................................................................5
Aula 02_O negro nos livros didáticos .......................................................................................................8
Aula 03_ “Todo dia era dia de índio”? ...................................................................................................10
Aula 04_A escola e as relações de raça e etnia......................................................................................13
Resumo_Unidade I .................................................................................................................................15
Aula 05_O que sabemos sobre a África? Aspectos Gerais do Grande Continente ................................18
Aula 06_África: berço da humanidade...................................................................................................22
Aula 07_A África do século IX ao XV ......................................................................................................25
Aula 08_As sociedades africanas ...........................................................................................................28
Aula 09_A presença do mágico-religioso na cultura africana ................................................................31
Aula 10_A escravidão na África..............................................................................................................34
Resumo_Unidade II ................................................................................................................................37
Aula 11_A África do século XV ao XVIII ..................................................................................................38
Aula 13_A África no século XIX: no contexto do Imperialismo I ............................................................43
Aula 14_A África no século XIX: No contexto do imperialismo II...........................................................46
Aula 15_A África hoje .............................................................................................................................48
Resumo_Unidade III ...............................................................................................................................50
Aula 16_O tráfico de escravos no Brasil: o grande comércio de gente. ................................................51
Aula 17_A chegada dos “malungos”: tentativas de sobrevivência ........................................................54
Aula 18_A dura vida de um escravo.......................................................................................................57
Aula 19_A resistência escrava I: as comunidades quilombolas .............................................................62
Aula 20_A resistência escrava II: a capoeira e as irmandades de homens pretos ................................65
Aula 21_O Abolicionismo I: Grandes nomes que fizeram a luta abolicionista ......................................69
Aula 22_O abolicionismo II: grandes nomes que fizeram a luta abolicionista e o negro na pós-abolição
................................................................................................................................................................73
Resumo_ Unidade IV ..............................................................................................................................76
Aula 24_A cultura indígena ....................................................................................................................80
Aula 25_Índio, “O negro da terra”¹ ........................................................................................................83
Aula 26_Europeus na América:O Grande Etnocídio ..............................................................................86
Aula 27_Índio quer terra: A Questão Fundiária. ....................................................................................89
Resumo_Unidade V ................................................................................................................................92
Aula 29_As religiões africanas no Brasil: sincretismo e trocas culturais ...............................................95
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Até a próxima!
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1 NASCIMENTO. Elisa Larkin. “Introdução à História da África”. In: Educação
Africanidades Brasil. Brasília: CEAD/UNB, 2005.
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1ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. “O racismo nos livros didáticos”. In: SILVA,
Aracy Lopes da. A questão indígena na sala de aula. São Paulo: Brasiliense, 1987
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Agora que refletimos um pouco sobre a forma como o negro aparece nos livros
didáticos, que tal agora focar nossa atenção no índio?
Responda rápido: quando estudante você já pintou um índio com arco e flecha
no dia 19 de abril? Qual a imagem que lhe vem à mente quando falamos em índio?
Geralmente associamos o índio à natureza, à Amazônia e a uma vida livre, não é
mesmo? Veja então um trecho da música “Baila Comigo” composta por Rita Lee:
Será que a vida do índio é assim mesmo tão fácil, tão livre e aparentemente
descompromissada? Da mesma forma que a letra da música nos transmite essa ideia
de uma vida boa, os livros didáticos têm hora e lugar para contar a história do índio: o
momento da chegada dos portugueses ao Brasil; o contato com o homem branco, o
trabalho escravo, a cristianização, o bandeirantismo (muitas vezes caracterizado
como heroísmo, apesar das suas atividades de aprisionamento de índios para a
escravidão), a substituição da mão de obra indígena pela africana. E, depois disso, o
índio desaparece de cena, como se tivesse deixado de existir...
Dificilmente encontramos material didático que traga informações sobre a
situação dos índios atualmente. E, na grande maioria das vezes, o indígena será
tratado pela mesma história que enfatiza a cultura ocidental e silencia as outras
culturas. Chamamos essa história de etnocêntrica e nossos manuais de história estão
carregados de etnocentrismo. O que seria esse etnocentrismo senão:
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Observe as pessoas da sua comunidade, do seu bairro, sua igreja, sua faculdade...
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Negros= escravos
Índios = selvagens.
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povos atrasados que entraram em contato com uma cultura “civilizada” e “superior”,
precisa ser revista urgentemente em nossas salas de aula, pois afinal que tipo de povo
civilizado pode massacrar e dizimar mais de 5 milhões de pessoas como fizeram
espanhóis e portugueses na América?
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1 CUNHA JR. Henrique. “Falando do escravismo criminoso em sala de aula”.
Revista Espaço Acadêmico, nº. 69 – Fevereiro/2007.
(www.espacoacademico.com.br/ acesso em 03/02/2007).
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Nesta unidade, a intenção foi iniciar uma discussão sobre a questão de negros
e indígenas em nossa sociedade. Falamos sobre a lei 10.639, que instituiu a
obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-Brasileira nos currículos do
ensino fundamental e médio, nas escolas públicas e particulares e sobre a importância
de avaliarmos de que forma são abordados esses temas nos livros didáticos.
Podemos observar que os livros didáticos ainda apresentam uma forma de
mostrar a nossa história fartamente imbuída de um caráter etnocêntrico, ou seja,
mostram a história dos povos negros e índios com um olhar rápido e que os coloca
como personagens de momentos específicos: o descobrimento e a escravidão,
estando ausentes do restante do processo de formação do nosso país. A realidade
atual de negros e índios não está presente em nossas salas de aula, porém a cara do
Brasil está e é necessário que tragamos à tona a sua história, que continua relegada
a um segundo plano.
Também pudemos compreender que os livros didáticos são uma fonte e
aprendizado para crianças e adolescentes e que o professor de História desempenha
um papel fundamental na forma como os conteúdos dessas obras são trabalhados. É
preciso que conheçamos a história da África e dos povos indígenas para que
mudemos o enfoque e o espaço dado a essas populações na História do Brasil!
REFERÊNCIAS
SILVA, Aracy Lopes da. (org.). A questão indígena na sala de aula: subsídios para
professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense, 1987.
ALMEIDA, Mauro William Barbosa de. “O racismo nos livros didáticos”. In: SILVA,
Aracy Lopes da. A questão indígena na sala de aula: subsídios para professores de
1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense, 1987.
HISTÓRIA 16
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REIS, Elisa, ALMEIDA, Maria Hermínia e FRY, Peter. (orgs.). Política e cultura.
Visões do passado e perspectivas contemporâneas. São Paulo: Hucitec, 1996.
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HISTÓRIA 19
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no Golfo da Guiné; o Rio Congo, extensa bacia hidrográfica que abastece a floresta
fluvial; nos platôs tropicais da porção meridional estão o Vaal, Orange, Limpopo e o
Zambeze que desembocam nos oceanos Atlântico e Índico. E temos ainda o famoso
rio Nilo, que nasce à leste, próximo ao Planalto dos Grandes Lagos e cruza dez países
estreitando-se pelo deserto do Saara até desaguar no mar Mediterrâneo.
Apesar da considerável extensão de seus desertos, a vegetação típica do clima
tropical que recobre o continente africano é a savana - muito semelhante ao cerrado
brasileiro - que mistura plantas arbóreas e herbáceas e que se espalha a partir do
sul do Saara, favorecendo uma rica flora e fauna com leões, elefantes, girafas, zebras
e rinocerontes, entre outros. Essa fauna deu fama ao continente de “selvagem”,
gerando mitos que criaram obras-primas do colonialismo norte-americano, como o
personagem Tarzan. Contudo, essa rica fauna se encontra ameaçada de extinção e
atualmente se restringe a algumas reservas ambientais. Há ainda, em termos de
vegetação, a mata equatorial das florestas do Congo, as estepes e a vegetação
mediterrânea.
Existem várias divisões regionais do continente utilizadas para que possamos
abordar cada região especificamente:
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Portanto, pelo rápido panorama apresentado, você pode perceber que a África
é um continente de múltiplas situações que se refletem na diversidade cultural e social
existente. O reconhecimento dessa diversidade é a tendência atual dos estudos sobre
a África, ao contrário dos estudos antigos que homogeneizavam a sua história, unindo
os diversos povos pela pobreza que os cerca.
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1 DIOP, Cheikh Anta. Origem dos antigos egípcios, História Geral da África II. A África
Antiga, 1983, p. 56. APUD MUNANGA, Kabengele e GOMES, Nilma Lino. Para
entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São
Paulo, Graal, 2004.
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cabaça de areia e uma galinha. A galinha teria espalhado a areia e formado as terras
do povo iorubá. Havia grandes cidades como Ifé, Oió Benin e Lagos. Ifé era
considerada uma cidade sagrada e constituía o centro da civilização. Não havia uma
administração centralizada nas cidades, os descendentes de Oduduwá as
governavam. Os diversos reinos possuíam cultura, língua e religião que lhe davam
uma unidade, porém eram independentes. Em Lagos formou-se uma comunidade de
remanescentes retornados do Brasil. Entre os séculos XVII e XVIII, Oió destacou-se
por sua organização militar, mas rendeu-se a ataques muçulmanos. Apesar do contato
com o islamismo mantiveram seus cultos tradicionais e os trouxeram para o Brasil,
deixando-nos uma rica cultura da qual falaremos mais adiante.
Império do Monomotapa: este império teria surgido por volta do século
XI mais ao sul, entre as terras do que hoje são os países do Zimbábue,
Moçambique, Malawi e África do sul. Formado pelos chamados xonas e povos
islamizados, eram criadores de gado e deixaram construções monumentais em pera
como os muros do Grande Zimbábue. Eram governados pelo Monomotapa que quer
dizer “senhor das terras arrasadas”. Também eram comerciantes e chegaram até ao
Norte para negociar tecidos e cobre, exportavam marfim e ouro. Este império durou
até o século XIX.
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1 Sahel é uma palavra de origem árabe que significa “borda do deserto”, e que se
refere ao Deserto do Saara.
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Guerreiros Massai
Quando a sociedade africana era mais extensa, era liderada pelo chefe que
vivia em uma capital, porém, sempre com consideração aos chefes menores das
aldeias que compunham o seu reino. A administração respeitava o conjunto, e
dificilmente havia despotismo. Os reinados e impérios eram governados de forma
comunal, realizavam-se reuniões constantes para que o chefe maior tomasse contato
e resolvesse problemas. Havia um conselho que auxiliava o chefe em seu governo.
Ao chefe, cabiam as funções vitais para o funcionamento da comunidade: reinava
para que normas e regras fossem obedecidas, liderava os guerreiros em caso de
disputas, fazia a distribuição das terras e administrava o que era produzido para que
nada faltasse à comunidade, em troca recebia uma parte do que as pessoas
produziam.
O parentesco é uma característica marcante das sociedades africanas, a
importância da vida comunal, do indivíduo enquanto ser que “fazia parte” daquela
comunidade nos dá a dimensão do conceito de administração que mantinha os povos
africanos em relativa harmonia. Num continente onde as fronteiras territoriais são
pouco definidas, pertencer era a chave para a sobrevivência.
Um exemplo é a civilização ioruba, cujo reino era composto por várias cidades-
estado independentes: Lagos, Ifé, Oió, Ota, Eseyin, Ilesah Ibadan Abeokuta, Akure,
entre outras, todas fundadas por descendentes de Oduduwá.
As longas genealogias de chefes e dos reinos são resgatadas na cultura
africana através da história dos antepassados contada pelos mais velhos. Quando
não podem ser conhecidas por registros escritos, a arqueologia também tem papel
fundamental na análise dos vestígios materiais deixados por esses povos. A figura
dos mais velhos era essencial nas sociedades africanas, era através deles que eram
passados todos os ensinamentos importantes. Os ancestrais também eram figura
central, pois mesmo depois de mortos influenciavam a vida da comunidade. Veremos
a relação com os ancestrais na próxima aula.
O casamento com várias mulheres era muito valorizado, a poligamia era sinal
de prestígio; ampliava o poder do chefe que mantinha relações com a linhagem de
suas esposas, pois, apesar de ser uma sociedade de dominação masculina, a
ascendência e o poder coletivo eram dados pela mulher, ou seja, era uma sociedade
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onde a “sucessão do poder linhageiro era transmitida pela linha materna”, segundo
Redinha:
O sistema matrilinear é observado para efeito do direito sucessório, de
cargos, de títulos e até de ofícios. A regra normal da sucessão dos
chefes nas sociedades do Nordeste [de Angola], é hereditária,
matrilinear, cabendo ao primogênito da irmã mais velha do chefe
reinante, em virtude da linha feminina defender a estirpe e os direitos
de sangue pela evidência da maternidade. (...) O chefe da linha traz
consigo um valor de nome e de símbolo, que a assimilação
administrativa deve não só poupar mas também preservar o mais
possível, uma vez que ele corresponde a disposições ancestrais das
sociedades não de todo desligadas da organização tradicional. (...)
Nem mesmo os mais importantes chefes exercem hegemonia sobre a
totalidade de qualquer das tribos existentes. A regra observada é a de
uma grande repartição do território e do povo que o ocupa, por áreas
políticas da chefia de sobas principais, subdivididas por sobas
menores ou sobetas. O sistema governativo informa de processos de
monarquismo e democratismo, e o regime despótico, através da
história, apenas se verificou por abuso 1.
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HISTÓRIA 32
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ou um peixe, ou ser conhecido pelo seu próprio nome. Uma das formas da mahamba
era jogar semente na terra dentro de casa: se a semente germinasse sem água era
porque ali habitaria um antepassado. A crença de que os espíritos podiam habitar as
árvores era amplamente difundida.
Os povos iorubás, descendentes de Oduduwá, cultuavam diversas “deidades”,
seres que faziam a ligação com mundo sobrenatural. O universo religioso ioruba é de
extrema complexidade, entre as deidades: ebura, ebora, imola e orisà, esta última
traria o seu panteão para as terras brasileiras e aqui ficariam conhecidos com o nome
de orixás. Essas deidades representavam elementos e forças da natureza e
compuseram o quadro das religiões afro-brasileiras, merecem um capítulo a parte em
nossos estudos; falaremos sobre isso mais adiante.
Como já afirmamos, os africanos estavam imbuídos, em suas práticas
cotidianas, do sentimento de pertencimento. Suas tradições e sabedoria eram
transmitidas não somente através da oralidade, mas também a partir de alguns mitos
de origem, através do “recebimento”, do sinal de que aquela pessoa deveria receber
tal conhecimento, seja uma prática técnica, como no caso dos ferreiros, ou prática
ritual mágica de cura e adivinhação.
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1 REDINHA, José. Op. Cit., p. 33
2 SILVA, ALBERTO DA COSTA E. A manilha e o libambo: a África e a escravidão de
1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Fundação Biblioteca Nacional, 2002, p.
105.
3 Idem, p. 91.
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Resumo_Unidade II
Nesta unidade pudemos ter contato com uma nova abordagem em relação à
História da África. Constatando a complexidade das sociedades africanas foi
importante compreender como o continente africano abrigou e ainda abriga, uma
variedade de grupos com culturas próprias e complexas que foram reduzidas a um
imaginário eurocêntrico de “tribos primitivas e incivilizadas”.
Conhecemos um pouco mais dessas sociedades, sua estrutura político-social
e especialmente seu mundo mental, dominado pela presença do mágico-religioso, que
muito choque causou aos europeus. Vimos a importância dos indivíduos mais velhos
nessas sociedades, a intensa relação entre o mundo dos vivos e o universo espiritual,
habitado pelos ancestrais e por seres que intermediavam as relações com o “ser
supremo”, como no caso do povo iorubá
Também pudemos derrubar alguns “mitos” constituídos sobre a escravidão
africana, percebendo a sua dinâmica intrinsecamente relacionada a formas de vida e
incorporada ao cotidiano social de aldeias, reinos e impérios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIOP, Cheikh Anta. Origem dos antigos egípcios. In: História Geral da África, A
África Antiga. Vol.II: São Paulo/Paris/UNESCO, ORG. G. Mokhatar,1983.
SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.
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1578, Paulo Dias de Novais fundou a cidade de São Paulo de Assumpção de Luanda,
território mbundu. Havia a necessidade de abrir território, pois já no início do XVI, os
portugueses se associaram aos imbangalas (chamado por eles de jagas) com os
quais negociavam escravos, porém os mbundus controlovam a rota naquele
momento. O rei mbundu Ngola Kiluanji pai de Nzinga resistiu a todo custo e mandou
sua filha negociar com os portugueses. Em troca de sua conversão ao catolicismo,
prometeram abandonar as terras invadidas, porém não cumpriram sua promessa e a
guerra se iniciou. O comando estava com seu meio-irmão Ngola Mbandi, que hesitou
em atacar os portugueses. Nzinga, então, após mandar degolar seu tio que havia se
encontrado com os portugueses, envenenou o próprio irmão e assumiu o poder.
Sucedeu-se um período de longas batalhas em que Nzinga se aliou aos jagas
do leste. Contudo num ataque ao forte de Massangano,suas irmãs Cambu e Fungi
foram capturadas e, para reavê-las, Nzinga prometeu converter-se ao catolicismo
novamente. Fungi foi executada. Após longa negociação territorial e estratégica, Nziga
recuperou Cambu, pagando como resgate, uma centena de escravos além do
território cedido. Segundo Carlos Serrano, a resistência de Nzinga à ocupação colonial
e ao tráfico de escravos no seu reino por cerca de quarenta anos, usando de várias
táticas e estratégias que vão desde a conversão ao cristianismo até as práticas jagas,
é fonte para a criação de um imaginário que se impôs como símbolo de luta contra a
opressão.
.
Vamos ver muitas histórias de luta e resistência como a de Nzinga, mais adiante.
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HISTÓRIA 41
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O escravo, quando não era vendido (e isso ocorria com frequência), era
incorporado à sua nova sociedade, as mulheres eram as preferidas para a
permanência nas aldeias, dessa forma houve também um aumento no número de
crianças. O contrário se observou nas regiões que eram objeto do apresamento de
escravos: houve um esvaziamento das aldeias e a desorganização econômica. É
preciso reforçar que esse processo se deu de modo mais contundente nos sertões
que cercavam os estabelecimentos portugueses em Angola:
Nas outras regiões da África, no decorrer do século XVII, havia áreas, inclusive
no litoral, onde a presença dos brancos era ínfima ou inexistente. Para algumas elites
africanas, o comércio de escravos se tornara importante, exemplo do reino do
Cassanje e dos imbangalas. Contudo, para a maioria das comunidades africanas, o
comércio de gente representava uma parcela muito pequena de sua economia e, em
alguns casos, não havia interesse em desfazer-se do escravo que, incorporado à sua
sociedade, daria mais rendimentos vivendo em seu grupo.
Não obstante todas essas relações conflituosas, o aumento da demanda
escravista a partir do século XVIII, viria acompanhado com o princípio da
desumanização do escravo. O desenvolvimento do capitalismo traria consigo um
ataque pesado ao território africano, dessa vez, as mudanças serão profundas e trarão
consequências irremediáveis.
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Mais tarde o Egito ficaria sob domínio da Inglaterra que rivalizaria com a França
por sua posse. A Etiópia esteve sob intervenção italiana durante poucos anos. Quanto
à Libéria, foi uma possessão norte-americana criada em 1847 para deportar africanos
excedentes, ex-escravos e degredados.
O imperialismo trouxe profundas transformações para o continente africano e a
superexploração, em nada semelhante ao colonialismo vigente até fins do século XIX,
ocasionou a definitiva desestruturação de organizações políticas muito antigas, não
somente através da ocupação de seu espaço territorial, mas, principalmente, pela
privatização da terra, espaço sempre destinado ao coletivo, nas sociedades
tradicionais. Houve um emergente processo de urbanização acompanhado do
surgimento de novos estratos sociais.
A ocupação da África foi um grande negócio para os países capitalistas.
Literalmente, pois, fizeram parte das negociações e dos interesses de partilha grupos
econômicos emergentes, aos quais podemos chamar de empresas concessionárias e
que ficaram encarregadas de estabelecer a extração da matéria-prima. A Inglaterra
adotou bastante essa prática.
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1 Idem, p. 72.
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Resumo_Unidade III
REFERÊNCIAS
MARTINEZ, Paulo. África e Brasil: uma ponte sobre o Atlântico. São Paulo:
Moderna, 2000.
OLIC, Nelson Bacic e CANEPA, Beatriz. África: terra, sociedades e conflitos. São
Paulo: Moderna, 2005.
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O nome malungo surgiu junto com o mundo Atlântico, um mundo novo para os
africanos. Ele podia significar barco, parente ou irmão e serviu para aproximar
pessoas de etnias e origens diferentes, colocadas num mesmo destino. Era assim que
se identificavam os africanos na travessia do oceano.
Já comentamos a variedade de etnias que compunham o continente africano,
rivalidades e ódios foram colocados de lado no novo destino. Não foi fácil e, algumas
vezes, os conflitos étnicos se reproduziram aqui também. Havia a dificuldade de
comunicação, pois os diferentes grupos étnicos africanos falavam diferentes línguas.
Segundo Roberto Slenes 1, novas formas de contato foram sendo desenvolvidas no
trajeto do apresamento em território africano, na grande travessia e sedimentadas em
solo brasileiro, onde, muitas vezes, os escravos ficavam aguardando meses por quem
os comprasse.
A chegada dos malungos era cercada por rigoroso policiamento. Podemos
observar através da imagem a seguir, a chegada dos navios negreiros, que era
cercada de intensa vigilância por parte das autoridades: vemos oficiais em barcos no
entorno dos navios e aguardando o desembarque.
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HISTÓRIA 56
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Falar que a vida do escravo era dura parece desnecessário, diante do que já
ouvimos sobre o período da escravidão. Porém, ao falarmos sobre as senzalas, o
trabalho na lavoura ou os castigos, não devemos esquecer que o trabalho do escravo
africano foi fundamental para o desenvolvimento social e econômico de nosso país.
O primeiro grande desafio para os negros era a travessia do Atlântico, que
durava de dois a três meses. Vinham sempre em grande número; numa caravela
podiam caber 500 negros e num navio maior até 700. Em péssimas condições de
higiene, urinavam e defecavam onde dormiam e com uma alimentação precária
muitos morriam antes de chegar ao destino, de fome ou de doenças comuns naquela
época, como o escorbuto, a avitaminose e a cólera. Os negros viajavam acorrentados.
Muitas vezes, os doentes eram jogados, ainda vivos, ao mar, para evitar a
contaminação.
Dependendo das condições do tempo e da habilidade da tripulação, essa
terrível viagem podia demorar mais de três meses, podendo chegar a seis meses. No
Brasil colonial, costumava-se dizer que a chegada do navio negreiro era pressentida
pelo terrível mau cheiro. Nos portos era amontoados e expostos muitas vezes nus,
aos olhares dos compradores:
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HISTÓRIA 58
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Manter um escravo era algo muito dispendioso. Além de ser caro, o escravo
gerava despesas de vestimenta e alimentação. Em períodos de crise, a solução
encontrada por alguns senhores era “alugar” o seu escravo. Eram os chamados
“ganhadores” ou escravos de ganho, isto é, escravos que exerciam tarefas no
comércio local, tais como: vendas de aves e cestos, as famosas quituteiras que
vendiam doces e ensopados. Trabalhavam o dia todo e ao final do dia entregavam o
que ganhassem ao seu proprietário, ficando com uma quantia mínima para suas
despesas pessoais. Muitos escravos faziam desse sistema um meio de comprar a sua
alforria. Essa forma de contrato gerou uma enorme quantidade de ganhadores
espalhados pelas cidades e propiciou a reunião de alguns deles em associações
chamadas de “cantos”. O livre circular pelas cidades permitia a troca de informações
e especialmente, no século XIX, a circulação desses escravos trouxe tensões sociais
devido ao seu envolvimento em tentativas de rebelião.
Uma dessas rebeliões foi a Revolta dos Malês, ocorrida em Salvador, na Bahia,
no ano de 1835. Essa revolta gerou pânico na cidade e, segundo alguns
pesquisadores, contou com o apoio dos escravos de ganho. Os malês eram africanos
de diferentes etnias que tinham em comum a religião muçulmana. Reunidos a um
grupo de libertos ocuparam a cidade na madrugada do dia 25 de janeiro. A rebelião
durou somente algumas horas, mas teve repercussões importantes, servindo de
exemplo para outras tentativas. O plano era aproveitar-se da comemoração da Festa
de Nossa Senhora da Guia para fugir e reunir-se com escravos e libertos dos
engenhos e quilombos da região do Cabula e da Mata Escura. O dia 25 de janeiro
também era especial para os muçulmanos, pois marcava o final do Ramadã 1 .
No dia da festa, os revoltosos aproveitariam a cidade vazia, pois a procissão
levaria todos até a localidade do Bonfim, para poderem mobilizar-se. Porém o plano
foi delatado e, a partir da denúncia, seguiram-se horas de violento combate. Alguns
revoltosos foram presos e deportados, outros foram fuzilados, caso dos escravos
Pedro, Gonçalves e Joaquim, e dos libertos, Jorge da Cunha Barbosa e José
Francisco Gonçalves. Entre os revoltosos deportados estava uma escrava liberta de
nome Luisa Mahin, a mãe de Luís Gama, que mais tarde seria um dos grandes
baluartes da luta abolicionista.
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de 120 quilômetros, proporcionava uma certa proteção que também contribuiu para a
longevidade. A maioria das expedições contra Palmares acabou por se perder na
densa mata.
Sua população, segundo dados, era composta por africanos provenientes da
região centro-ocidental da África (especialmente Congo e Angola), porém havia
muitos mestiços, inclusive índios, incorporados à rotina de Palmares. Eram muito
organizados militarmente, e procuravam reunir-se em famílias, mesmo com o número
reduzido de mulheres. Quando um mocambo era atacado, seus membros se
refugiavam em outro. A extensa região que abrangiam os mocambos tornava
impossível atacar Palmares de uma só vez. Os mocambos possuíam uma
infraestrutura que abrigava além das residências, armazéns para a estocagem de
alimentos, santuários, capelas e locais onde se reuniam os chefes.
Produziam para consumo próprio, feijão, milho, mandioca, banana e cana de
açúcar, praticavam o artesanato e dominavam as técnicas de metalurgia. E nisso eram
extremamente organizados e articulados entre si, enquanto um mocambo produzia
manteiga de amêndoa o outro fabricava o vinho de palma 2. Negociavam o excedente
com os moradores das regiões circunvizinhas, construindo uma relação social de
comércio e trocas, que inclusive gerava uma rede de proteção no seu entorno. Muitos
taberneiros e sitiantes foram acusados de dar guarida e de mandar avisar aos
palmarinos sempre que havia perigo de expedições punitivas. Em respostas as
ofensivas os palmarinos organizavam ataques nos quais saqueavam e amedrontavam
quem se atrevia a enfrentá-los.
Um dado interessante sobre o quilombo dos Palmares foi a sua importância
para a economia da região. Ao mesmo tempo em que interferiam na produção das
grandes lavouras, atendiam à demanda dos pequenos comerciantes, abastecendo os
mercadinhos e o comércio ambulante, e gerando um espaço social de convivência e
de respeito.
O fato é que antes da destruição de Palmares, houve por parte do governo da
capitania de Pernambuco, várias tentativas de acordo. Ganga-Zumba, um dos líderes
tentou, no ano de 1678, um acordo com D. Pedro de Almeida, no qual prometeu se
retirar das cobiçadas terras do mocambo Macaco em direção ao Cucaú. No entanto,
um importante líder militar chamado Zumbi resolveu discordar e permanecer no
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Mestre Bimba foi o grande precursor desse estilo, praticante desde os 12 anos de
idade, desenvolveu um estilo diferente da capoeira Angola à qual juntou o Batuque.
Já aqueles que defendem a capoeira angola, acreditam que seja uma tradição
vinda dessa região e foi sedimentado no Brasil pelo famoso Mestre Vicente Pastinha,
um baiano que conta ter aprendido a luta com um ex-escravo vindo de Angola. Esse
ex-escravo, chamado Benedito, ficou com pena do menino que sempre apanhava
quando ia ao mercadinho para a madrinha e resolveu ensinar aquele moleque 1 a se
defender.
A luta da capoeira causava pânico entre a população das cidades, era sinal de
arruaça e de perigo. Especialmente depois da “traumática” experiência de Palmares,
pela lei, qualquer “ajuntamento” com mais de quatro ou cinco negros era
considerado “quilombo”. E, como muitos escravos praticavam a capoeira como forma
de defesa pessoal, a sua prática foi proibida durante muitos anos, sendo revogada a
lei que a proibia, somente no ano de 1937.
Rugendas, 1835
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denominavam.
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Luís gama nasceu em 1830, era filho de uma africana livre de nação Nagô
chamada Luiza Mahin e de um comerciante baiano. Sua mãe foi deportada para a
África acusada de envolvimento na Revolta dos Malês, em 1835.
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Com apenas 10 anos, foi vendido como escravo por seu próprio pai, notório
gastador que havia perdido todas as suas economias. Como escravo, chegou ao porto
de Santos e de lá foi enviado a pé até a cidade de Campinas. Mas ninguém queria
comprá-lo pelo fato de ser baiano. Os escravos baianos eram mal vistos, pois tinham
fama de fujões e de revoltosos — eram os ecos da Conjuração Baiana e da Revolta
dos Malês.
Assim ele acabou voltando para São Paulo com o seu agenciador que o fez
seu escravo. Lá aprendeu e trabalhou como escravo doméstico, exercendo várias
funções como as de copeiro, sapateiro e engomador. Certo dia, por volta de 1847,
esteve em casa do seu senhor, um jovem rapaz, estudante de direito, de nome Antônio
Rodrigues do Prado, com quem travou amizade. Esse rapaz o ensinou a ler e a
escrever. As letras lhe trouxeram uma nova visão do mundo, pois era um aluno
dedicado e com inteligência apurada. Logo Luiz Gama percebeu que a sua condição
de escravo era ilegal e no ano de 1848 fugiu. Durante alguns anos serviu na Guarda
Urbana como soldado, até dedicar-se completamente às letras. Tornou-se jornalista
famoso e escrevia em jornais ligados ao Partido Liberal como o Cabrião. Mais tarde
ajudaria a fundar o Partido Republicano Paulista, sempre defendendo o fim da
escravidão.
Corria em suas veias o sangue da liberdade e da justiça, com o auxílio de
amigos influentes circulava em um meio social incomum para um homem negro.
Autodidata, tornou-se grande conhecedor das leis e começou seu trabalho como
advogado de escravos. Atuava como rábula (pessoa que pratica o exercício da
advocacia sem diploma) nos tribunais. Aplicando a lei de 1831, que tornara ilegal o
tráfico, conseguiu a emancipação de mais de 1.000 escravos. Em sua casa ocultou
muitos negros fugidos e a sua morte, em 1882, levou centenas de pessoas às ruas,
tendo sido uma grande comoção. Por ocasião de sua morte, Raul Pompéia escreveu:
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Luiz Gama morreu em 1882 e não viveu para ver o final da escravidão.
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José do Patrocínio
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trabalhos como jornalista, por volta de 1875. Na ocasião, já estava casado com a filha
de um militar abastado que, na época, havia se oposto ao casamento pelo fato de
Patrocínio ser “mulato”.
Frequentou diversas entidades emancipadoras e escreveu em diversos jornais,
iniciando a sua campanha abolicionista. Juntamente com Nabuco, fundou a
“Sociedade Brasileira Contra a Escravidão”. Com a ajuda de seu sogro comprou o
jornal Gazeta da Tarde e, em 1883, fundou a Confederação Abolicionista. Em 1885,
visitou a sua cidade natal e foi buscar a sua mãe que fora escrava durante toda a vida
e que morreria meses mais tarde.
André Rebouças
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pessoas que iam de fazenda em fazenda, incentivando fugas e dando abrigo aos
escravos fugidos. Antonio Bento, a exemplo de Luiz Gama, escondeu vários negros
fugitivos em sua casa e advogou em seu favor. Os caifazes costumavam mandar os
escravos para o quilombo do Jabaquara em Santos e de lá eram enviados para o
Ceará, onde a escravidão já estava abolida desde 1882.
Apesar dos esforços valorosos de todas as pessoas envolvidas no movimento
abolicionista e de a escravidão ter sido extinta definitivamente em 1888, a situação do
negro, agora liberto, não foi fácil. A ação do movimento abolicionista parou no
momento da abolição. Não houve um plano de apoio ao ex-escravo, salvo ações
isoladas.
A realidade da liberdade mostrou-se dura. Ao se abrirem as senzalas não foram
dadas aos negros, as oportunidades no campo do trabalho. Em uma sociedade
acostumada a tratar o negro como objeto, dificilmente as relações entre senhores e
ex-escravos seria diferente. Muitos escravos preferiram sair das fazendas e uma
massa de homens e mulheres negros rumou para as cidades onde as condições se
mostraram iguais, senão piores. Havia para o ex-escravo, além da concorrência dos
nacionais pobres, a concorrência da mão de obra imigrante, trazida em larga escala
para o Brasil, a partir das últimas décadas do século XX.
Segundo o sociólogo Florestan Fernandes, grande estudioso das relações de
trabalho gestadas ao final da escravidão, houve, por parte dos grandes proprietários,
um processo intencional de substituição da mão de obra escrava pela livre,
especialmente a do imigrante. Como a abolição já era tida como inevitável, a transição
da mão de obra escrava para a livre foi manipulada estrategicamente, a fim de se
manterem os interesses econômicos, sociais e políticos. O preconceito racial já
estabelecido não permitia ao ex-escravo portar as mesmas oportunidades que seus
pares. O negro, portanto, fora excluído deliberadamente do processo produtivo.
Para pensar: Agora que refletimos um pouco sobre as condições do negro na História
do Brasil, vamos tentar pensar também na situação do indígena nesse contexto? Mais
um desafio para as próximas aulas!
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Resumo_ Unidade IV
Nesta Unidade nos pudemos perceber como foi chegada dos africanos ao
Brasil. A empresa escravista colonial foi violenta, pudemos comparar com as unidades
anteriores que a escravidão na África era diferente daquela que foi praticada aqui no
Brasil.
O cotidiano do escravo foi marcado pelo sofrimento e pela dureza de sua
condição; no entanto, pudemos constatar que sempre encontraram meios de resistir,
seja através das fugas, nos quilombos, no jogo da capoeira ou nas irmandades.
Sempre encontraram estratégias de resistência, souberam também recriar os laços
perdidos na dura travessia, associando-se e assumindo uma nova identidade forjada
no mundo colonial. Tinham mobilidade, apesar da rigidez, violência e do extremo
controle e, assim, conseguiam heroicamente driblar os difíceis percalços do ser
escravo.
O movimento abolicionista é outro destaque e foi interessante perceber a
participação de homens negros nessa dura batalha. Apesar da luta abolicionista as
condições do negro não se alteraram e uma nova luta se iniciou para essa população,
a luta contra o preconceito racial.
REFERÊNCIAS
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Todos aprendemos na escola que o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares
Cabral em 22 de abril de 1500, certo? Aprendemos também que os portugueses
vieram parar aqui procurando o caminho para as “Índias” em busca das famosas
especiarias, e que, quando aqui chegaram, estranharam o povo diferente, seus
costumes e seus hábitos, julgando-os selvagens e primitivos.
Começamos a estudar a “História do Brasil” sempre a partir do descobrimento.
Passamos a existir, historicamente, a partir do momento em que aportaram em nosso
litoral as primeiras naus e caravelas portuguesas. Estamos incluídos na visão
eurocêntrica da História. É difícil encontrar elementos que nos levem a pensar como
era o Brasil antes da chegada dos portugueses. O que sabemos sobre os povos que
aqui habitavam vem dos registros daqueles que mais tarde seriam nossos
colonizadores.
Já comentamos que nossos conhecimentos sobre os índios esbarram na
criação de um estereótipo reproduzido em larga escala: o índio era um ser selvagem,
livre, que vivia nu pelas florestas, sobrevivendo da caça e da pesca, moravam em
grupos que foram denominados tribos. Pintavam o corpo e cultuavam seres da
natureza. Sabemos que habitavam o litoral brasileiro, porém nossa referência
geográfica atual os remete para a região do Xingu ou à Amazônia. São seres exóticos
e diferentes, praticamente extintos a quem se reservam espaços cada menores em
nossa sociedade. Como chegamos a tal ponto de redução da cultura indígena a um
mero estereótipo? Afinal o que é ser índio?
Segundo Darcy Ribeiro:
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1 Ser índio se relaciona com a identidade e abordaremos esse assunto mais
adiante. A colonização do Brasil foi um processo longo e violento, muitas vidas foram
ceifadas em nome da civilização europeia. Diferentemente dos escravos africanos que
foram retirados de suas origens, os índios tiveram a sua terra invadida e a sua cultura
arrasada pela mão do colonizador, deslocados territorialmente, tiveram ainda de
aceitar costumes, hábitos e a religião do dominador. Porém, nunca sem resistência,
que de tão violenta reduziu a população indígena de estimados 6 milhões de
indivíduos, para apenas cerca de 220 mil! Para a América, como um todo,
contabilizava-se de 40 a 50 milhões de habitantes. O padre Bartolomeu de Las Casas,
em seus escritos, denunciou o genocídio de 40 milhões de índios em apenas 60 anos
!2
No princípio, o contato entre europeus e indígenas foi apenas de interesse
mútuo e trocas. Logo de início, o que interessou aos portugueses foi o pau-brasil. Não
houve povoamento maciço do território, deixavam-se apenas alguns indivíduos em
feitorias ou até mesmo hospedados em aldeias para que cuidassem da madeira
guardada até a chegada de algum navio. Como são escassas as informações sobre
os 30 primeiros anos da descoberta, não há registros de que houvesse trabalho
escravo indígena. O que parece mais seguro afirmar é que se estabeleceram trocas
de pau-brasil, víveres, por objetos de metais e contas com os indígenas.
Porém as relações pacíficas são alteradas a partir do momento em que os
portugueses passaram a experimentar o plantio de cana para a fabricação do açúcar.
São necessários terra e braços para a lavoura e os índios, que esporadicamente
cortavam e empilhavam as toras de pau-brasil, eram escravizados. Tem início um
período de hostilidades com a chegada dos primeiros donatários designados para
ocupar e explorar o território.
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1 RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização. O processo de integração dos índios no
Brasil moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970.
2 RIBEIRTO, BERTA. O Índio na história do Brasil. São Paulo: Global, 1983.
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O que talvez mais chame a atenção seja o contraste entre a simplicidade das
tecnologias e a riqueza dos universos culturais. As sociedades indígenas
elaboraram cosmologias e sistemas sociais complexos, nos quais o
patrimônio imaterial parece ter um privilégio sobre o patrimônio material.
Enquanto a propriedade privada da terra, por exemplo, é inexistente, direitos
sobre bens imateriais, tais como nomes próprios, cantos, ornamentos rituais,
são objeto de detalhada regulamentação. A arte indígena, por sua vez,
parece preferir suportes perecíveis: em muitas dessas sociedades, o corpo
humano, a palha e as plumas são objeto de um trabalho artístico intenso -
pintura corporal, cestaria, arte plumária - sobre objetos essencialmente
efêmeros. 1
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1 Negro da terra era um termo correlato à denominação dos negros da Guiné, seu uso
para qualificar negros e índios, caiu em desuso devido ao avanço da mão de obra
escrava africana. SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos. São Paulo: Cia. Das Letras,
1988.
2 MONTEIRO, Jonh Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de
São Paulo. São Paulo: Cia. Das Letras, 2005, p. 29.
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A réplica indígena reproduzida por Manuel da Nóbrega, não poderia ser mais
lapidar: morte física com a doença e morte cultural com a doutrina religiosa.
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A ação dos jesuítas conseguiu eliminar a nudez ostensiva dos índios, vestindo-
os com longas vestes ou cobrindo seus órgãos genitais, apagando as marcas de sua
cultura. Abaixo, pintadas por Debret, estão uma índia Camacã e uma índia civilizada
indo à missa.
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Tanto em Manaus como em São Paulo, onde os índios sem aldeias moram em
favelas e são discriminados, têm de esconder a sua “identidade” literalmente para
conseguir melhores condições de vida. O indígena, na atualidade, está longe de
superar os desafios que começaram com a chegada dos portugueses ao Brasil.
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A questão da terra para o índio ainda está para ser resolvida. Desde a lei de
1570 foram criados mecanismos de defesa do índio, porém o desrespeito sempre foi
flagrante.
Dependendo do interesse na região, as terras foram mais ou menos
demarcadas como reserva indígena. No Nordeste, Centro-Oeste, no Sul e Sudeste os
índios se encontram em pequenas porções de terra. Na região da Amazônia, a
extração de borracha diminuiu muito a área indígena, porém, em algumas regiões
sobrevivem grupos muito pequenos que ainda não tiveram contato com o homem
branco — alguns são herdeiros de grupos que já tiveram esse contato e preferem o
isolamento.
A Constituição de 1988 definiu de modo claro o que todas as outras já
garantiam: a propriedade da terra.
• Reconhecimento da identidade cultural própria e diferenciada dos grupos
indígenas (organização social, costumes, línguas, crenças e tradições), e de
seus direitos originários (indigenato) sobre as terras que tradicionalmente
ocupam. As terras indígenas devem ser demarcadas e protegidas pela União. O
reconhecimento da organização social das comunidades indígenas determina a
orientação da política indigenista. O abandono implícito da vocação
integracionista encontrada nos textos constitucionais anteriores abriu espaço
para uma nova ótica que valoriza a preservação e desenvolvimento do
patrimônio cultural indígena. Por sua vez, a recuperação jurídica do instituto do
indigenato (figura comum nas leis e cartas régias do período colonial) assentou
o reconhecimento de que a posse indígena da terra decorre de um direito
originário, que por isso independe de titulação, precede e vale sobre os demais
direitos (art. 231, caput);
• As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são aquelas por eles habitadas
em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-
estar, e as necessárias à sua reprodução física cultural, segundo seus usos,
costumes e tradições (art. 231, parágrafo 1º);
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Resumo_Unidade V
Nesta Unidade nos pudemos perceber como foi chegada dos africanos ao
Brasil. A empresa escravista colonial foi violenta, pudemos comparar com as unidades
anteriores e concluir que a escravidão na África era diferente daquela que foi
praticada aqui no Brasil.
O cotidiano do escravo foi marcado pelo sofrimento e pela dureza de sua
condição, no entanto, pudemos constatar que sempre encontraram meios de resistir,
seja através das fugas, nos quilombos, no jogo da capoeira ou nas irmandades.
Sempre encontraram estratégias de resistência, souberam também recriar os laços
perdidos na dura travessia, associando-se e assumindo uma nova identidade forjada
no mundo colonial. Tinham mobilidade apesar da rigidez, violência e do extremo
controle e, assim, conseguiam heroicamente driblar os difíceis percalços do ser
escravo.
O movimento abolicionista é outro destaque e foi interessante perceber a
participação de homens negros nessa dura batalha. Apesar da luta abolicionista, as
condições do negro não se alteraram e uma nova luta se iniciou para essa população,
a luta contra o preconceito racial.
REFERÊNCIAS
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SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006, p. 135.
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Um tigre que vive nas savanas e florestas tropicais pode chegar a pesar 324
quilos e um pequeno gatinho doméstico, no máximo 5 quilos. Bom, não é preciso
pensar muito para afirmar que são animais de uma mesma espécie que jamais se
reproduzirão. Quanto à espécie humana o que impede a união entre um nigeriano e
uma australiana? Somente o preconceito. A inferioridade do negro foi uma teoria
criada com vistas à dominação.
O surgimento do ideal de inferioridade do negro tem relação direta com o
processo de desumanização do negro viabilizado pelo tráfico negreiro. A ideologia
liberal, nascente no século XVIII, entrou em contradição com a utilização da mão de
obra escrava. A escravidão não teria durado mais de 300 anos caso não houvessem
sido criadas formas de justificá-la.
No começo havia a justificativa religiosa: era preciso levar o “caminho certo”
para as almas impuras, selvagens e “sem religião”. Utilizou-se em larga escala o mito
da maldição de Caim. Segundo a teoria religiosa, Caim, Sem e Jafet eram filhos de
Noé e haviam embarcado com ele na arca que sobrevivera ao grande dilúvio.
.
Por ter zombado do pai, Caim e seus descendentes teriam sido condenados à
escravidão perpétua. À justificativa religiosa sobrepôs-se a explicação racional
calcada no cientificismo, dando origem ao racismo. Segundo essa nova teoria
sedimentada no século XVIII, a espécie humana se dividiria em três raças: a negra, a
branca e a amarela — era o início do critério de classificação racial pela cor da pele.
A partir do século XIX, entram conjuntamente às características físicas, valores
psíquicos e morais: a cor da pele, o formato do queixo, o tamanho da cabeça de das
narinas estariam relacionados à racionalidade, altivez, preguiça, sensualidade,
imoralidade.
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É claro que as qualidades ditas positivas ficaram para os brancos; aos negros
e amarelos foram atribuídas características psico-morais consideradas negativas. O
clima também foi associado a cor da pele para justificar supostas diferenças
de comportamento: os brancos por serem oriundos de climas frios, seriam mais
racionais e trabalhadores; enquanto os negros e índios, oriundos de climas tropicais,
seriam temperamentais e indolentes.
Na verdade, as alterações de pele se devem às adaptações ao meio ambiente
da seguinte maneira:
Nos séculos XVIII e XIX houve um contato intenso das elites com o mundo
europeu. Como teriam chegado essas ideias ao Brasil? É o que veremos na próxima
aula!
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Como tudo o que vem do exterior, as teorias raciais não demoraram a chegar
ao Brasil e foram incorporadas de forma eficaz em nossa terra. No final do XIX, o
Brasil enfrentava, além da abolição da escravidão e da instauração da República, um
processo de construção de sua identidade nacional.
Como já vimos, os negros não foram incorporados no mercado de trabalho
imediatamente após a sua liberdade. Eles ficaram a sua própria sorte. A elite pensante
brasileira, oriunda em grande parte da elite agrária, foi obrigada a considerar a questão
do negro.
Logo, surgiram, sob influências trazidas da Europa, ideias sobre a inferioridade
do negro. Em primeiro lugar, houve uma preocupação grande com a herança negativa
que pudesse ser deixada pelos negros na sociedade brasileira. Sílvio Romero
acreditava que haveria predominância cultural e biológica branca e que os elementos
“não brancos” — aí incluídos os indígenas — desapareceriam. Ele usou como
referências a teoria da “seleção natural” de Darwin, a imigração europeia e o fim do
tráfico.
Raimundo Nina Rodrigues, médico baiano, foi outro idealizador das teorias
raciais brasileiras. Segundo ele, não poderia haver misturas raciais, pois estas
poderiam acarretar desequilíbrios psíquicos e psicológicos na formação do povo
brasileiro. Para ele a mistura racial geraria elementos que não serviriam para nada,
elementos sem valor. Ele propunha a criação de uma legislação específica para esse
grupo que possuía deformidades psicológicas; ele queria institucionalizar a diferença.
Rodrigues afirmava que a mestiçagem era maléfica para a formação do povo, pois a
união de raças inferiores e superiores apagaria as qualidades das superiores gerando
um atavismo.
Outra personalidade que dissertou sobre a questão racial foi Euclides da Cunha
autor de “Os Sertões”, que acreditava que o sertanejo, fruto da união de brancos e
índios, era a raça brasileira autêntica e não deveria misturar-se com o negro, que era
uma raça impura.
Essas teorias surgiram no Brasil no início do século XX e vigoraram durante
muito tempo. A teoria da mestiçagem gerou uma ideia de que o Brasil era fruto de
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relações harmônicas entre as três raças que o formaram. Essa ideia foi divulgada por
Gilberto Freyre que, em sua obra “Casa Grande e Senzala”, propagou ideias que,
posteriormente, fundamentaram o mito da chamada “democracia racial” brasileira.
Segundo Freyre, as relações entre as diferentes classes e grupos étnicos no Brasil
eram muito mais suaves do que em outros lugares do mundo. Essa “suavidade” era
fruto da tolerância racial dos portugueses.
Segundo Kabengele Munanga, 1 a mestiçagem é a armadilha social do negro,
pois desconstrói a sua identidade, desmobiliza e maquia o preconceito racial. Há,
dessa forma, uma interferência na percepção da realidade desses negros, que
acabam julgando fazer parte de um país democrático e igualitário que, diferentemente
dos EUA, não segrega, mistura.
A comparação com os EUA é necessária, porque foi um país onde a
segregação racial foi institucionalizada, isto é, legalizada, até pelo menos os anos de
1960. Até esse período, havia espaços reservados para brancos e negros. Aos afro-
americanos era vedado o acesso às universidades em alguns estados e a perseguição
aos negros era declarada, havendo até instituições criminosas criadas somente com
o intuito de eliminá-los, como a famosa Ku Klux Klan.
Comparou-se muito o modelo racial brasileiro, calcado na miscigenação, ao
norte-americano. Aqui, o negro não era perseguido, era aceito em todos os ambientes
e podia frequentar universidades. Jamais houve, após a abolição, legislação que
segregasse deliberadamente negros ou índios. Essas teorias ajudaram a sedimentar
a teoria da igualdade entre as raças no Brasil; se, num primeiro momento, tratavam o
negro como um elemento nocivo à sociedade, em um segundo momento apagavam-
se todos os percalços da escravidão, da exclusão social pós-abolição, escondendo-
se o preconceito sob o manto da democracia racial.
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empresas. Mas a questão das cotas ainda caminha a passos lentos e causa grande
controvérsia. A escola é o local por excelência para se debaterem tais questões. O
preconceito, seja de qualquer tipo, não nasce com a pessoa, ele é adquirido
socialmente, nos locais onde vivemos coletivamente, na família, igreja, escola etc.
É preciso colocar tais questões em pauta. Espero que esse curso tenha
ajudado você minimamente a pensar sobre o tema, agora é mãos à obra!
HISTÓRIA 104
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
Núcleo de Educação a Distância
Resumo_Unidade VI
Nesta unidade tivemos contanto com a rica cultura material e imaterial deixada
por nossos antepassados. Negros e ameríndios deixaram suas marcas no Brasil e
ajudaram na formação de nossa identidade.
Nas artes, música, tradições populares e no mundo do trabalho, deixaram
técnicas e tradições de seus povos, misturado crenças e práticas e criando novas
formas de expressão.
A religiosidade tem papel de destaque com as religiões afro-brasileiras, como
o Candomblé e a Umbanda que muitas vezes misturam elementos das tradições
africanas, ao catolicismo e ao kardecismo. O culto aos orixás tem se difundido e
ganhado adeptos, mas mesmo assim continua sendo vítima do preconceito.
Preconceito este que nos levou a expor a discussão sobre ações afirmativas e
sistema de cotas, assunto polêmico que ainda se encontra em desenvolvimento e
implantação no Brasil.
REFERÊNCIAS
BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo: EDUSP, 1960, vol.
II.
MUNANGA, Kabengele. “Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,
identidade e etnia”. In: BRANDÃO, André Augusto. Programa de educação sobre o
negro na sociedade brasileira, Rio de janeiro: EDUFF, 2004.
____________________. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade
nacional versus identidade negra. Petrópolis: Vozes, 1999.
SILVA, Vagner Gonçalves. Candomblé e Umbanda: caminhos da devoção
brasileira. São Paulo: Ática, 1994.
SOUZA, Marina de Mello e. “Santo Antônio de nó-de-pinho e o catolicismo afro-
brasileiro”. Rio de Janeiro: Tempo, nº. 11, Julho de 2001, pp. 171-188.
______________________. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.
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