O Futuro da Inteligência Artificial um robô aprender, indo além de sua programação
original, é o Deep Learning, ou aprendizado profundo,
Ela já faz parte do cotidiano, mas as próximas ondas constituído de velocidade de processamento e volume de inovação definirão o mundo como o conhecemos de dados. Durante 100 anos, desde a peça de Tchapék, cientistas da computação correram atrás do cálice Por Sergio Figueiredo Atualizado em 12 mar 2021 – sagrado que temos hoje: poderosos programas e bilhões Publicado em 08 de janeiro de 2021. de pessoas municiando-os de dados, voluntariamente ou não. Em janeiro de 1921, há exatos 100 anos, Isso nos traz ao momento de transformação que estreava a peça A Fábrica de Robôs, do escritor checho o doutor em computação, o taiwanês-americano Kai-Fu Karel Tchápek. Misto de ficção e crítica social, o texto de Lee, define como as “quatro ondas de IA”. Segundo Lee, Tchápek – disponível em português – fazia uma previsão autor de um reputado livro sobre o tema, duas dessas assustadoramente acurada do futuro, considerando-se ondas já estão em andamento. A primeira é a da que foi escrito quando a linha de produção de Henry Internet, que já mudou hábitos de compra, Ford não tinha nem dez anos de funcionamento. Da relacionamento, educação e informação, apenas para fábrica imaginada pelo escritor checo saíam seres citar alguns. Nessa fase, a IA aprendeu mais do que mecânicos feitos para substituis o homem em atividades ensinou, já que a Internet extrai de nós mais dados do braçais, causando uma crise social. O termo original que nós pegamos dela. E foi isso que viabilizou a robot, usado pela primeira vez na peça, foi adotado Segunda onda: o Banco Central acaba de lançar o PIX, pelas principais línguas europeias até se tornar que permite pagamentos sem cartão e transferências corriqueiro. E, uma vez que hoje é ouvido à exaustão, é instantâneas. Trata-se de mais um avanço em serviços fundamental saber que advém do substantivo feminino oferecidos por aplicativos de transporte, música e robot, que significa “trabalho forçado” ou “escravidão”. comida. O PIX não passa de um escravo cibernético, Contudo, os robôs continuam a ser mal mas a cada transferência ele aprende mais sobre o compreendidos. Em uma rádio paulistana, um usuário. comentarista afoito, ao ouvir a notícia de que 30% da As demais ondas, quando arrebentarem na mão de obra seria substituída por autômatos até 2030, praia, mudarão a paisagem para sempre. A seguinte é a prometeu nadar no rio poluído da cidade se isso da percepção: os dispositivos da Amazon já conversam acontecesse. Se alguém lhe explicasse que robô não é a com pessoas, mas em breve todos os eletrodomésticos máquina da antiga série Perdidos no Espaço, ele se comunicarão com seus donos de uma forma ou de retiraria a promessa. A IA (Inteligência artificial) está outra. Geladeiras estarão conectadas ao mercado para entre nós há algum tempo e não para de se espalhar. que nunca falte o que o cliente deseja, enquanto Enquanto você lê esta reportagem, um chip acaba de sensores sofisticados monitorarão a saúde substituindo ganhar mais capacidade de processamento e, em algum exames de rotina. Mas o maior desafio, tanto para lugar do mundo, um novo software foi inventado ou implementar quanto para lidar com as consequências, instalado para realizar a função que antes era de uma, será a quarta onda: a da automação. É vital esclarecer dez ou 100 pessoas. que autônomo não é o mesmo que automático. Robôs Em fevereiro de 2020, nos Emirados Árabes, um de verdade não necessitam de supervisão: são drones robô conduziu uma orquestra com músicos de carne e que se autoabastecem e decolam para pulverizar a osso. Foi a melhor performance de Alter 3, androide plantação ou caminhões que vão de um ponto a outro Japonês que marcou sozinho o ritmo da música e até sem interferência humana. Para chegar a esse estágio, cantou. Mas os céticos disseram que ele havia sido as máquinas continuarão aprendendo com os dados que apenas o maestro da sinfonia, não seu compositor. Eles são fornecidos a elas, não por programadores, mas por seriam apenas ferinos se soubessem que, na Califórnia, bilhões de pessoas. Teoricamente, se a IA da Tesla o programa de computador Experiments in Musical pudesse ver como todos os motoristas dirigem, os carros Intelligence (EMI) aprendeu, por sete anos, tudo sobre autônomos já estariam à venda. Bach, um dos maiores compositores clássicos, para E o que será da humanidade quando a quarta então fazer a própria música. onda chegar? Analistas estimam que a IA adicionará Diante de uma plateia, três peças foram mais de 15,7 trilhões de dólares à economia mundial até executadas por pianistas: uma composição do EMI, uma 2030. Por outro lado, profissões como contador, original de Bach e uma terceira de Steve Larson, autor bancário, operador, controlador, caminhoneiro, contemporâneo. Ao final, o público foi convidado a assistente jurídico e muitas outras estarão extintas antes apontar quem tinha feito o quê. A maioria disse que a que esta década acabe. Kai-Fu Lee afirma que a China peça de Bach fora composta por Larson, que Larson era superará os Estados Unidos em IA, porque terá mais o computador e, espantosamente, que a música do EMI hardware e mais dados sem as restrições de privacidade era Bach autêntico. ocidentais. Analistas e jornalistas, ele vaticina, também O que se conclui dos dois casos é que, se a IA precisarão arrumar outra coisa para fazer. Em relação terá ou não forma humanoide, é irrelevante. O que faz aos últimos, pelo menos, tomara que Lee esteja errado. Revista VEJA, 13 de janeiro de 2021. Edição nº 2720.