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São Paulo – SP
2013
Liliana Camargo de Oliveira
São Paulo – SP
2013
Liliana Camargo de Oliveira
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Prof. Dr. Marco Antonio Leon Roman
São Paulo - SP
2013
Dedico este trabalho à Andréa Podolski e Moacir Heberle, in memoriam, por terem me
“introduzido” no mundo dos gatos, especialmente os ferais do Projeto Bicho no Parque, e para
esses seres incríveis, por poder aprender cada dia mais.
AGRADECIMENTOS
Pela minha saúde, física e mental, e pela ajuda que recebi de todos que aqui citarei, para
conseguir concluir este trabalho, especialmente dos meus guias e amigos espirituais e à minha
Vó Éda, pela eterna ligação.
Às minhas amigas, pelos ouvidos abertos nas horas de desespero, em especial à Marcela
Malvini, por seu apoio, “puxão de orelha” e incentivos mil que me impulsionaram e, enfim,
consegui!
“Há no olhar do animal mudo, palavras que somente compreende a alma dos que
sabem.”
Poeta Hindu
RESUMO
Lista de Tabelas:
Lista de Ilustrações:
INTRODUÇÃO................................................................................................................. 11
1. ASPECTOS GERAIS SOBRE A DENTIÇÃO FELINA.............................................. 13
1.1. Dentição Felina.................................................................................................... 13
1.2. Erupção Dentária.................................................................................................. 16
2. ANATOMIA DO DENTE FELINO.............................................................................. 17
2.1. Esmalte................................................................................................................. 18
2.2. Dentina................................................................................................................. 19
2.2.1. Túbulos Dentinários................................................................................ 20
2.2.2. Permeabilidade Dentinária...................................................................... 21
2.3. Polpa Dentária...................................................................................................... 21
2.3.1. Citologia Pulpar....................................................................................... 22
2.3.2. Odontoblastos.......................................................................................... 23
2.3.3. Fibroblastos............................................................................................. 23
2.3.4. Células Mesenquimais Indiferenciadas................................................... 24
2.3.5. Outras Células......................................................................................... 24
2.4. Vascularização da Polpa...................................................................................... 24
2.5. Inervação da Polpa............................................................................................... 25
2.6. Delta Apical......................................................................................................... 25
2.7. Periodonto............................................................................................................ 27
3. PATOGÊNESE.............................................................................................................. 28
4. ETIOLOGIA................................................................................................................... 33
4.1. Particularidades Metabólicas............................................................................... 34
4.2. Argumento Biomecânico..................................................................................... 35
5. ASPECTOS CLÍNICOS................................................................................................ 36
6. DIAGNÓSTICO............................................................................................................. 36
7. TRATAMENTO............................................................................................................ 38
8. CONCLUSÃO................................................................................................................ 40
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 41
11
INTRODUÇÃO
DELAURIER, BOYDE, et al., 2005; EUBANKS, 2011; REITTER, 2012) e também não
existe predisposição em relação à raça ou sexo (REITTER, 2012).
Entender a anatomia dentária normal dos gatos é o primeiro passo para reconhecer
afecções orais. Há muita confusão sobre a quantidade e sequência dos dentes felinos. A
dentição permanente nessa espécie conta com trinta dentes, diferente dos cães que possuem
quarenta e dois, devido ao fato dos gatos possuírem uma mandíbula menor (WEST, 1990).
permanentes, seguindo uma sequência que tem início na região mesial e corre até distal, ou
seja, iniciando em incisivos e terminando em pré-molares e molares.
Quadro 1: Erupção dos dentes decíduos e permanentes nos felinos.
O dente é dividido em três porções anatômicas, sendo elas, coroa, raiz e colo
dentário. A Coroa é a porção do dente coberta por esmalte e a única parte a se apresentar
acima da margem da gengiva. A ponta da coroa é chamada de Cúspide. A Raiz é a porção do
dente que se encontra abaixo da gengiva e é recoberta por uma camada de tecido fina e dura
chamada Cemento. A ponta da raiz recebe o nome de Ápice e em dentes de raízes múltiplas
observamos que a área onde as raízes começam a se dividir chama-se Furca. E o Colo (ou
região cervical) do dente é a junção da coroa com a raiz, onde se insere a gengiva normal
(MITCHELL, 2004).
retenção do dente dentro da boca. É composto por quatro componentes principais, sendo eles
Gengiva, Cemento, Ligamento Periodontal e Osso Alveolar.
2.1. Esmalte
2.2. Dentina
abrasões e erosões. Sua produção será irregular, com aspecto desorganizado, podendo conferir
coloração acastanhada no local da injúria dental (TROWBRIDGE, 1998; LYON, 1998).
O fluido contido nos túbulos dentinários ocupa vinte por cento do volume total da
dentina. É um filtrado de sangue dos capilares pulpares que podem se movimentar ao redor
dos odontoblastos e no interior da cavidade pulpar. A sensibilidade dentinária esta
21
1998), além dos outros tipos celulares encontrados como odontoblastos, células mesenquimais
indiferenciadas e macrófagos dispersos na substância intercelular amorfa
(glicosaminoglicanas, proteoglicanas) (LAGE-MARQUES; ANTONIAZZI, 2002).
2.3.2. Odontoblastos
2.3.3. Fibroblastos
disso, a polpa também apresenta vasos linfáticos que junto com a circulação venosa ira atuar
na drenagem da cavidade pulpar (EMILY, 1998).
De acordo com estudo realizado por MASSON et al., 1992 e GAMM et al., 1993,
foi caracterizado que a idade do animal tem um papel importante na análise das ramificações
apicais, pois pela aposição dentinária ocorre obliteração dos condutos e por isso a
padronização da idade se torna importante. Muitos condutos visualizados em animais de três
anos não são vistos quando os mesmo estão com oito anos de idade.
No entanto a complexidade do delta apical dos cães é muito maior que em gatos e
humanos (GAMM, et al., 1993; GIOSO, et al., 1997). Os quartos pré-molares apresentam
mais ramificações apicais do que os primeiros e sua raiz distal possui um maior número de
condutos secundários (HERNANDEZ, et al., 2001).
Alguns animais podem apresentar esmalte perolado que são depósitos de esmalte
nas bifurcações da raiz dos molares permanentes, sendo muito comum ocorrer em molares
permanentes e na maxila de humanos. São considerados desenvolvimentos anormais, pois no
decorrer do desenvolvimento do dente as células do epitélio da lâmina da raiz se destacam e
se diferenciam em mieloblastos e produzem coroa perolada. Essa má formação embriológica
resulta em abcesso periodontal.
2.7. Periodonto
3. PATOGÊNESE
Há casos em que os dois tipos podem ocorrer juntos no mesmo dente, e nem
sempre é possível distingui-las (MIHALJEVICS, 2008).
Fonte: www.dentistavet.com.br
Figura 9: Reabsorção dentária inflamatória no terceiro pré-molar inferior esquerdo, com perda da
coroa clínica e presença de gengivite acentuada.
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Fonte: www.dentistavet.com.br
Figura 10: Radiografia confirma a reabsorção dentária de origem inflamatória do dente da figura 9.
Há perda da coroa clínica, e área de radioluscencia no remanescente da coroa, além da presença das
raízes e preservação do ligamento periodontal.
Fonte: www.dentistavet.com.br
Figura 11: Reabsorção dentária por substituição no terceiro pré-molar esquerdo, com avanço da
gengiva sobre a área reabsorvida, e presença de gengivite discreta.
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Fonte: www.dentistavet.com.br
Figura 12: Radiografia revela grave reabsorção por substituição das raízes do mesmo dente pré-molar
da figura 11. É possível visualizar a perda do espaço do ligamento periodontal, o que dificulta
diferenciar raiz de osso alveolar, denotando anquilose.
4. ETIOLOGIA
Um estudo com cento e oitenta e dois gatos selecionados para tratamento dentário
especializado mostrou que os animais que apresentavam lesão reabsortiva tinham índices
séricos de vitamina D maiores do que os animais que não tinham reabsorção (112,4 +ou- 41,1
nmol/l contra 89,8 +ou- 33,4nmol/l) e a densidade urinária foi menor nos gatos com lesão
(1,0263 contra 1,0366). Os autores ressaltam que todos os valores da vitamina D estavam
dentro do intervalo de limites normais, e não houve diferenças significantes quanto aos níveis
sanguíneos de paratormônio, ureia e fósforo (GIRARD, 2009; GIRARD, SERVET, et al.,
2010).
foram obtidos no grupo com lesões (139 +ou- 8,3 nmol/l contra 157 +ou- 8,9 nmol/l sem
lesões). Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de cálcio, fósforo,
paratormônio e cálcio ionizado. (1) O outro estudo, com sessenta e quatro gatos alimentados
por semanas, meses e até anos, com a mesma dieta comercial contendo um teor de vitamina D
entre 1000 e 1500 UI/Kg, demonstrou menor concentração de vitamina D (164 +ou- 78,8
nmol/l) em gatos com, pelo menos, uma lesão reabsortiva que nos gatos sem qualquer lesão
(226,8 +ou- 88,2 nmol/l) (GIRARD, 2009; GIRARD, SERVET, et al., 2010).
Em estudo com cento e nove gatos alimentados apenas com alimento seco,
observou-se divergências quanto a localização dos diferentes tipos de reabsorção. Nos gatos
sem raça definida, lesões do tipo I foram mais frequentes ao redor do dente carniceiro e as
lesões do tipo II em volta do terceiro pré-molar inferior. Já no grupo de gatos de raça, as
lesões do tipo II foram frequentes nos dentes incisivos e as do tipo I nos carniceiros. Uma
análise detalhada de quatorze critérios clínicos e radiográficos, associados à doença
periodontal, foi utilizada e revelou uma forte associação com as reabsorções dentárias. As
reabsorções do tipo I foram relacionadas com oito das catorze variáveis estudadas e, portanto,
fortemente ligadas à doença periodontal. Nas lesões do tipo II apenas dois parâmetros foram
relacionados, ou seja, são fracamente ligadas à doença periodontal. A idade mais alta foi
associada com mais frequência às lesões do tipo II (GIRARD, 2009). Os resultados de estudos
recentes revelam a existência da associação entre a reabsorção dentária e a presença de perda
óssea vertical, e que lesões do tipo I foram associadas à inflamação de origem periodontal
com uma frequência oito vezes superior para as verificadas nas lesões do tipo II (GIRARD,
2009).
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5. ASPECTOS CLÍNICOS
A dor é muito difícil de ser avaliada nos animais e, no caso da dor facial e oral,
nem sempre ela é percebida no exame clínico de rotina. Alguns sintomas, como sialorréia,
ligeira ou completa redução do apetite, perda de peso, postura alterada da cabeça e pescoço,
arranhar a face, halitose, gengivite, podem ser percebidos (GIRARD, 2009; GIRARD,
SERVET, et al., 2010; WIGGS, 2011; REITTER, 2012), porém a maioria dos proprietários só
percebe que o animal tinha dor, quando após o tratamento dentário, notam melhora no
comportamento do animal (GIRARD, 2009; WIGGS, 2011).
Nas lesões reabsortivas, a dor originada por estimulação tátil é sempre observada
no caso de reabsorção supragengival e esta associada a inflamação periodontal e/ou formação
de tecido de granulação inflamatório sobre a lesão. Nas lesões de reabsorção subgengival,
como não há associação de inflamação periodontal, a presença de dor é de difícil percepção.
A extensão do processo de reabsorção no canal radicular ocorre na fase avançada da doença e
a resposta inflamatória da polpa foi descrita histologicamente apresentando-se como um
fenômeno degenerativo e não como uma pulpite inflamatória. Assim, é sugerido que a dor em
lesões subgengivais é um evento terminal, mas mesmo assim, deve alertar o clínico para sua
existência (GIRARD, 2009).
6. DIAGNÓSTICO
do dente podem ser sinais de que uma lesão possa estar escondida por baixo (figura 13)
(WIGGS, 2011). Já o exame radiográfico revela lesões que envolvem a superfície do dente
em contato com o osso alveolar e que normalmente passam despercebidos no exame clínico.
O exame radiográfico complementa o exame clínico e é o único meio de avaliar as lesões
radiculares, que são encontradas em oitenta por cento dos casos (HARVEY, 2004;
EUBANKS, 2011; WIGGS, 2011), e nos fornece informações sobre o estágio e tipo da lesão.
Portanto, a radiografia intraoral é essencial para o diagnóstico da reabsorção dentária felina, e
por isso deve ser recomendada para todos os gatos, principalmente àqueles que apresentem
lesões clinicamente aparente ou com sinais avançados de inflamação periodontal (GIRARD,
2009; EUBANKS, 2011; WIGGS, 2011).
Fonte: www.dentistavet.com.br
Figura 13: A reabsorção dentária no quarto pré-molar e primeiro molar inferior esta oculta
por tecido gengival hiperemiado e hiperplásico. Tocando a lesão irá provocar uma resposta à dor
apresentada como retirada ou tremor da mandíbula. Mandíbula tremendo muitas vezes pode ser
observada mesmo quando o gato está sob anestesia.
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Fonte: www.dentistavet.com.br
Figura 14: Radiografia intra-oral do mesmo paciente (figura 13) com área de radioluscencia em
porção coronal e cervical, e anquilose da raiz mesial do quarto pré-molar inferior, além da ausência do
terceiro pré-molar inferior, possivelmente reabsorvido.
7. TRATAMENTO
A extração cirúrgica deve ser bem planejada, com avaliação prévia radiográfica
(KLEIN, 1999; EUBANKS, 2011; WIGGS, 2011), visando esclarecer a natureza das lesões e
o risco de anquilose radicular. A técnica utilizada deve ser o menos traumática possível e
permitir a resolução completa da dor e da infecção associada enquanto se conserva os tecidos
circundantes. Uma boa técnica cirúrgica utilizada é feita através de uma abertura em flap na
mucosa para facilitar a alveolectomia (KLEIN, 1999; REITTER, 2012). Em dentes de
múltiplas raízes, este é seccionado e seus segmentos são elevados e removidos. Restos de
raízes reabsorvidas são extraídos de modo similar, porém, raízes remanescentes, onde a
gengiva encontra-se íntegra e sem sinais de lesões endodônticas ou periapicais ao exame
radiográfico intraoral, devem ser mantidas assim, onde estão (REITTER, 2012).
8. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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