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INSTITUTO FEDERAL DA BAHIA – CAMPUS BARREIRAS

CURSO: ANO: TURMA:


DATA: UNIDADE:
DISCIPLINA: Sociologia
PROFESSOR: Saul
ESTUDANTE:

A busca por uma interpretação científica da realidade social


Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 2022,
demonstrou que os números globais de fome subiram para cerca de 828 milhões em 2021,
46 milhões a mais em relação ao ano anterior e 150 milhões a mais desde 2019. O relatório
também apontou que a maior parte dos que passavam fome vivem em países
subdesenvolvidos. Isso nos mostra que, em pleno século XXI, antigos problemas
continuam a desafiar a humanidade. Por isso, é cada vez mais importante compreender o
mundo e os fenômenos que fazem parte do dia a dia.
Para cada problema vivenciado por homens e mulheres em vários lugares da
Terra, como a falta de comida ou a distância entre duas cidades, diferentes sociedades
encontraram diferentes soluções. Entretanto, tendo como referência a história ocidental
até o final do período medieval, essa busca por conhecimento e soluções não acontecia
em relação às transformações e aos conflitos sociais: os choques entre religiões, os
conflitos geracionais, a estrutura familiar e a organização política e econômica, entre
outros, eram entendidos como fenômenos naturais ou como resultados da providência
divina. Nesses casos, não cabia à humanidade interferir. Uma realidade na qual não se
pode intervir não é vivida como um problema, mas como um destino, e um destino não
pode ser objeto da ação humana e do conhecimento científico.
Isso começa a mudar a partir do século XIV, com o movimento que ficou
conhecido como Renascimento, que propunha o ideal do homem como artífice do seu
próprio destino, tanto por meio de conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), como por
meio da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia,
navegação) e das artes (pintura, escultura, poesia, teatro). Entre os nomes mais
importantes do período se destacam Nicolau Maquiavel e Johannes Kepler.
No século XVII, um período que foi designado de Grande Racionalismo Clássico,
restaurou e propagou o ideal filosófico presente na antiguidade clássica greco-romana, da
possibilidade de conhecimento racional verdadeiro e universal. Apostando na capacidade
humana de conhecer e representar a realidade natural e social por meio de conceitos
científicos, esse movimento foi fundamental para o surgimento e desenvolvimento das
ciências.
Deste modo, passou-se a entender que a realidade é racional porque é um sistema
ordenado de causalidades físico-matemáticas perfeitas e plenamente conhecíveis pela
razão humana. Essa ideia deu origem à ciência clássica, na qual prevalece o ponto de vista
da mecânica, isto é, nas relações de causa e efeito entre as coisas, a causa é sempre o
movimento e este segue leis universais necessárias que podem ser explicadas e
representadas matematicamente. Todas as coisas e os fatos da realidade (na astronomia,
na física, na química, na psicologia, na política e nas artes) são percebidas pelo
conhecimento que se tem as relações necessárias de causa e efeito que os produzem, os
conservam e os destroem. Entre os nomes mais importantes do período se destacam
Francis Bacon, Rene Descartes, Galileu Galilei, Thomas Hobbes, John Locke, Isaac
Newton, entre outros.
E somente a partir do século XVIII por causa das grandes revoluções que
ocorreram no período, as sociedades e suas diferentes realidades começaram a ser
discutidas e vistas como construções passíveis de serem transformadas pela ação humana.
Mais do que isso, essas transformações poderiam ser realizadas considerando objetivos
traçados pela própria sociedade, com base em princípios éticos modernos que propunham
a liberdade, a igualdade e a fraternidade contra a servidão, a hierarquia e a exploração.
O contexto social que mudou o modo como as sociedades ocidentais olhavam para
si mesmas e as converteu em objeto da ciência foi um processo sócio-histórico que
envolveu três grandes revoluções: Iluminismo, Revolução Industrial, e Revolução
Francesa.
Iluminismo foi um movimento intelectual surgido na Europa no século XVIII.
Esse período também crê nos poderes razão, também chamada de As Luzes (por isso o
nome iluminismo). O Iluminismo teve grande influência nas transformações políticas e
econômicas ocorridas nesse período. Suas propostas mais relevantes foram a defesa da
liberdade econômica e política e a valorização da razão e da ciência como principal meio
de compreensão do mundo. Para este movimento o desenvolvimento da razão levaria ao
aperfeiçoamento e ao progresso da humanidade e marcaria o advento da civilização. Seus
ideais serviram aos interesses da burguesia nascente contra a estrutura social do Estado
absolutista. Entre os nomes mais importantes do período se destacam Voltaire,
Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau, Adam Smith e Immanuel Kant.
Nesse contexto, o conhecimento religioso e filosófico construído ao longo dos
séculos foi confrontado com outro modo de compreender a realidade social: o
conhecimento científico. Somente então foi possível o surgimento da Sociologia, ciência
que objetiva compreender os conflitos, as permanências e as transformações das
sociedades contemporâneas. Em conjunto com a Antropologia e a Ciência Política, a
Sociologia constitui o campo do conhecimento denominado Ciências Sociais. O
estabelecimento da ciência como principal meio de explicar o mundo influenciou o modo
como a realidade social passou a ser interpretada a partir do século XIX.

BIBLIOGRAFIA
SILVA, Afrânio et al. Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2017.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2020.
ROUANET, Sérgio Paulo. As razões do Iluminismo. São Paulo: Companhia das
Letras, 1987

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