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CAPA

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 1


Redação:
Stéfano Bozza

Diagramação:
Stéfano Bozza

Crédito das imagens:


Freepik.com
Stories.freepik.com
Produção:
Conexão Freelancer
Stéfano Bozza

Edição:
2ª edição (2021)

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 2


Olá!
Bem-vindo ao seu Guia de Finanças Pessoais.

Já não é nenhuma grande novidade que boa parte das pessoas possui certa difi-
culdade para lidar com as suas finanças pessoais no Brasil.

Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e


Turismo (CNC), aproximadamente 70% dos brasileiros possuíam algum tipo de
dívida em 2020. É um número assustador e que representa que sete em cada
dez brasileiros possuem algum tipo de dívida. É muita gente.

Na maior parte das vezes, esse problema surge justamente pela falta de educa-
ção financeira no país, área que representa o conhecimento necessário para
uma boa gestão do dinheiro. Infelizmente, há pouco conteúdo sobre isso nas
escolas, configurando-se em um desafio estrutural.

O que é educação financeira?

A educação financeira é um processo onde as pessoas


aprendem a lidar com dinheiro por meio de acesso ao
conhecimento e aos produtos do mercado. Com base
nele, podemos tomar melhores decisões.

A falta da educação financeira é um fator relevante e um dos principais motivos


pelos quais as pessoas se perdem um pouco ao lidar com dinheiro. Sem uma
orientação adequeda, os brasileiros encaram sua realidade financeira com olhar
de curto prazo. Isto é, gastam o que ganham no mês (ou gastam mais do que ga-
nham no mês, o que é ainda pior). No longo prazo, isso pode levar a algum tipo
de problema financeiro, como o endividamento.

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É por isso também que, para muita gente, a independência financeira se torna
um sonho distante. Se você gasta tudo que ganha (ou pior, até mais do que ga-
nha), como vai se preparar para o futuro? Como vai acumular dinheiro que per-
mita a composição de uma aposentadoria?

Todo problema, portanto, está originado justamente na falta de conhecimento


sobre educação financeira, algo que afeta todos os tipos de profissionais. Não
por acaso, em nossa pesquisa sobre o mercado freelancer, a instabilidade fi-
nanceira lidera a lista entre os principais desafios apontados pelos profissionais
independentes.

Pensando em todo cenário apresentado, surgiu a ideia de criar um conteúdo


completo voltado para a educação financeira: o Conexão Finanças. Trata-se de
um conjunto que iniciativas que permitirão a você começar a ter total domínio
das suas finanças e deixar de ter “medo” de lidar com o seu dinheiro.

O que é o Conexão Finanças?

O Conexão Finanças é uma iniciativa gratuita que visa


ajudar pessoas a lidar melhor com as suas finanças. O
nosso grande objetivo é proporcionar educaçãofinan-
ceira de maneira gratuita e permitir que, finalmente,
você tenha total domínio sobre o seu dinheiro.

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E quais seriam essas iniciativas? Em primeiro lugar, a criação de um curso gra-
tuito sobre finanças pessoais. O conteúdo completo será composto por mais
de 50 vídeo-aulas abordando diversos temas como controle financeiro, como
driblar as dívidas e as diversas modalidades de investimentos. A ideia é parar de
ter medo do dinheiro e fazer com que ele comece a trabalhar por você — e não
o contrário.

Além disso, claro, teremos este livro, o Guia de Finanças Pessoais, que vai fun-
cionar como um material complementar ao curso online. Assim, você pode ter a
informação acessível para consultar e revisar sempre que julgar necessário.

Você encontrará, ao longo do conteúdo, caixas


como essa aqui ao lado. Elas representam um
link direto para assistir uma aula do curso Cone-
Nome da aula
xão Finanças no YouTube, trazendo uma aborda-
gem do assunto em vídeo também, onde consi-
VER AULA
go explicar melhor alguns conceitos.

A melhor parte é que tudo isso será oferecido de maneira gratuita. Ou seja, você
não vai precisar investir nada além de tempo para ter acesso ao nosso conteúdo
completo sobre finanças. A proposta é, como adiantei, promover e democratizar
a educação financeira.

Antes de começarmos a entrar nos assuntos que separei para o seu Guia de
Finanças Pessoais, preciso dizer que esse manual ainda está em construção. Ou
seja, ele não foi finalizado. É por isso que, a depender do momento em que você
baixar o material, talvez não tenha a abordagem completa dos temas.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 5


Desta forma, não se assuste ao receber apenas uma parte do conteúdo inicial-
mente. Entendo que, pela abordagem completa dos temas que pretendo reali-
zar nas próximas páginas, seria mais interessante compartilhar com você a cada
etapa concluída do que esperar a finalização do material, algo que vai levar al-
guns meses. Assim, você já pode ir estudando e aplicando tudo que for aborda-
do enquanto o restante do conteúdo ainda é produzido.

AVISO IMPORTANTE

O Guia de Finanças Pessoais ainda está em


desenvolvimento. Assim que novas atualizações
estiverem disponíveis, enviarei para o seu e-mail de
cadastro gratuitamente.

Por enquanto, espero que você goste desse conteúdo tanto quanto gostei de
produzi-lo. E aviso que, em caso de qualquer tipo de dúvida ou dificuldade, pode
entrar em contato comigo. Os canais estão na próxima página, onde vou me
apresentar para você.

Bons estudos!

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“Investir em conhecimento sempre
rende os melhores juros"

Benjamin Franklin

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Sobre o autor

Stéfano Bozza

Sou formado em Administração e, desde a faculdade, já desenvolvi um interesse


maior pelas matérias de exatas (como matemática financeira e finanças).

Comecei minha carreira no Banco Itaú BBA e passei pela BRMALLS antes de op-
tar pela carreira freelancer. Em 2016, deixei meu último emprego formal e pas-
sei a trabalhar com a produção de conteúdo online, com foco na área de finan-
ças e investimentos.

Desde então, passei a me dedicar também a alguns projetos pessoais de conteú-


do, como o Conexão Freelancer, o meu portal para o profissional independente.
É nesse canal que está todo curso do Conexão Finanças.

Caso você queira conhecer mais sobre o meu trabalho, convido a acessar meu
portfólio (link abaixo) e conferir outros materiais já produzidos por mim.

Como adiantei, a seguir estão os meus contatos. Sinta-se livre para enviar uma
mensagem sempre que tiver alguma dúvida. Como produtor de conteúdo, gosto
muito da oportunidade de ajudar pessoas.

E-mail: stefanovbozza@gmail.com

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SUMÁRIO

1. Controle financeiro
Os tipos de receitas.............................................................................................12
Os tipos de despesas...........................................................................................16
Como montar um controle financeiro?.............................................................24
Reserva de emergência.......................................................................................29
Instabilidade financeira.......................................................................................37

2. Finanças para MEI


Como ser MEI?......................................................................................................46
Dicas para MEI......................................................................................................47
Imposto de Renda para MEI...............................................................................49

3. Como pagar dívidas


O que é uma dívida?............................................................................................56
Como pagar uma dívida?....................................................................................58
Como pagar o cartão de crédito?......................................................................66
Dicas para não se endividar...............................................................................69

4. A hora de investir
Por onde investir..................................................................................................75
Conceitos fundamentais para investir..............................................................77
Perfil de investidor...............................................................................................80

5. Renda fixa
Como funciona a renda fixa?..............................................................................87
Quais são os riscos da renda fixa?.....................................................................90
Os principais tipos de investimentos da renda fixa........................................91
Como funciona a tributação?.............................................................................96

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SUMÁRIO

6. Fundos de investimentos
O que são fundos de investimentos?................................................................98
As vantagens dos fundos de investimentos.....................................................100
As desvantagens dos fundos de investimentos...............................................101
Os principais tipos de fundos de investimentos..............................................102
Como é a tributação dos fundos de investimentos?.......................................105
Como analisar fundos de investimentos?........................................................106

7. Fundos imobiliários
O que são fundos imobiliários?.........................................................................117
As vantagens dos fundos imobiliários..............................................................119
As desvantagens dos fundos imobiliários........................................................120
As principais estratégias dos fundos imobiliários...........................................121
Os princiais tipos de fundos imobiliários.........................................................122
Como analisar fundos imobiliários?..................................................................129

Estamos em atualização!....................................................................................138

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“A importância das coisas pode ser
medida pelo tempo que estamos
dispostos a investir.

Quanto maior o tempo dedicado a


alguma coisa, mais você demonstra
a importância e o valor que ela tem
para você.

Se você quiser conhecer as


prioridades de uma pessoa,
observe como ela utiliza o tempo."

Rick Warren

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CAPÍTULO 1
CONTROLE
FINANCEIRO

Como já conversamos, a educação financeira é um dos pilares para que você


consiga lidar com o seu dinheiro. E tudo começa no controle das suas finanças,
permitindo um equilíbrio entre receitas e despesas.

Na prática, aliás, é muito mais uma questão de organização do que propriamen-


te o desenvolvimento de uma habilidade técnica. Portanto, nada mais justo que
começarmos aprendendo os principais tipos de receitas e despesas, assim como
os impactos de cada um deles no nosso orçamento mensal.

Os tipos de receitas
Para uma boa organização financeira, o primeiro
passo é entender o modelo das suas entradas
de capital, isto é, das suas receitas. Elas podem Tipos de receitas
ser fixas, variáveis ou mistas (uma mescla das
duas opções anteriores). VER AULA

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Receita fixa

O primeiro formato para receber pelo seu trabalho é usar da receita fixa. Como
o próprio nome sugere, aqui estamos diante de uma entrada de capital definida
com antecedência e recorrente, sem qualquer alteração ao longo do tempo (a
não ser para reajuste).

A grande vantagem desse formato é, claro, a segurança. Por ser uma renda está-
vel e sem oscilações, torna-se mais fácil organizar o seu fluxo de caixa e, conse-
quentemente, saber quanto você pode ou não gastar com atividades de lazer.

Esse é um cenário mais comum quando trabalhamos como contratados de uma


empresa. Ou seja, o seu salário nada mais é do que uma receita fixa: todos os
meses, em data acordada, você recebe o seu pagamento.

Veja abaixo como se comporta a receita de um profissional que trabalha com


salário fixo de R$5.000. Como você pode perceber, não há qualquer tipo de alte-
ração na renda, o que significa que há grande previsibilidade das receitas. Essa
é, aliás, justamente o maior benefício desse modelo.

Gráfico 01 • Receita fixa

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Receita variável

A receita fixa é simples e adorada pelos brasileiros em função da sua seguran-


ça. No entanto, outros modelos de trabalho utilizam de uma remuneração dife-
rente: a renda variável. É o caso de quem atua como freelancer, recebendo de
acordo com a participação nos projetos. Geralmente, é uma remuneração mais
atrativa para pessoas produtivas.

Embora seja vista como arriscada, a receita variável oferece um benefício que
você não tem com a receita fixa: a ausência de um limite. Isso significa que, em-
bora não exista a segurança de uma previsibilidade de ganhos, é possível tam-
bém ganhar muito mais do que um salário fixo.

Por outro lado, é importante ter uma mentalidade de longo prazo. Ou seja, evi-
te julgar os seus ganhos apenas por um mês. É possível sim que, isoladamente,
algum deles não apresentem receitas suficientes para cobrir seus custos. No
entanto, pegando um horizonte temporal maior, essas variações se anulam.

Veja abaixo como se comporta o gráfico de ganhos de quem tem como remune-
ração a receita variável. É uma verdadeira montanha russa, não?

Gráfico 02 • Receita variável

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Receita mista

O cenário ideal para um profissional é conseguir uma forma de ser remunerado


pelos dois modelos que vimos anteriormente ao mesmo tempo. Isto é, ter uma
parte do seu salário fixo, mas também que uma parcela dele seja de forma vari-
ável. Neste caso, você consegue maximizar seus ganhos com a parcela variável,
mas tem maior segurança e estabilidade por meio da parcela fixa.

Para os empregados no modelo tradicional, esse é um modelo possível quando


há um salário fixo, mas a empresa reserve uma parte da remuneração de acor-
do com o desempenho mensal e atingimento de metas. É um modelo bem co-
mum para vendedores.

Já para um freelancer, o modo de utilizar esse formato de remuneração é ter


clientes que precisem de demanda recorrente, ao mesmo tempo em que se tor-
na possível pegar outro freelas e incrementar a sua renda mensal.

Neste modelo, portanto, temos um gráfico de receita mais estável, mas com
alguns “picos” que indicam maiores receitas em um mês em relação aos demais.
Observe como há uma linha média na faixa de R$5 mil que representa um ga-
nho fixo, mas alguns picos que elevam o salário de vez em quando.

Gráfico 03 • Receita mista

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Os tipos de despesas
As receitas são importantes, afinal quanto mais
ganhamos, mais podemos gastar. No entanto,
sem um grande controle sobre os seus gastos,
Tipos de despesas
vai ser muito difícil manter a sua saúde financei-
ra. De que adianta ter um ótimo salário se você
VER AULA
acaba se endividando por gastar demais?

Assim, da mesma forma que fizemos com as receitas, precisamos conhecer tam-
bém os tipos de despesas que existem no Brasil. Vamos a elas, sempre de olho
nas suas características e implicações para o nosso dia-a-dia.

Custos

Vamos começar pelos custos, que são aqueles gastos necessários para o seu
trabalho. Ou seja, são despesas necessárias para que você possa ter a sua ativi-
dade profissional como computador, softwares, materiais de escritórios, entre
outros.

Aqui, claro, é importante economizar, mas ainda mais importante ter condições
para a execução de um bom desempenho em termos de produtividade e quali-
dade. Por vezes, como já diz o ditado, o barato sai caro.

Ademais, esses custos devem ser embutidos no seu preço cobrado pela execu-
ção de um serviço como forma de não gerar perdas financeiras. Assim, o cená-
rio mensal para esse tipo de despesa deve ser mais ou menos como um gráfico
abaixo, onde as receitas geradas pelo trabalho superam os custos para a sua
realização (de preferência, com boa folga).

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Gráfico 04 • Custos

Despesas fixas

Custos explicados, podemos olhar agora para as nossas principais despesas


que, afinal, são os gastos que temos mensalmente na nossa vida pessoal. Assim
como no caso das receitas, as despesas fixas também possuem alta previsibili-
dade. Isto é, todos os meses os valores estão ali para pagamento.

E quais seriam as despesas fixas? Veja abaixo alguns exemplos:

• Assinatura da televisão a cabo


• Assinatura de internet
• Escola dos filhos
• Mensalidade da academia
• Salário de funcionários

Assim como no caso dos custos, é importante ter o total controle dessas des-
pesas fixas (os custos podem, inclusive, ser adicionados nesta categoria no seu
controle financeiro). Isso porque, como elas se repetem mensalmente, é preciso
gerar receitas que sejam suficientes para pagar esses valores com alguma folga
— essas não serão suas únicas despesas no mês, certo?

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Gráfico 05 • Despesas fixas

Despesas semifixas

Parecidas com as despesas fixas, as despesas semifixas são aquelas que tam-
bém aparecem mensalmente, mas cujos valores podem flutuar um pouco de um
mês para o outro. Ou seja, apesar de uma característica menos previsível, você
também precisa de um orçamento mensal para lidar com elas.

Existe um enorme grupo de despesas que se encaixam nessa categoria. É o caso


das contas de água, luz, telefone ou gás, dos gastos com supermercado ou até
mesmo alguns gastos não essenciais, mas frequentes — como a gasolina paga
para abastecer o seu carro.

Repare que, apesar de não possuírem um valor fixado, essas despesas são ex-
tremamente importantes na vida pessoal de todas as pessoas. Você precisa,
mensalmente, de água, luz e alimentação para sobreviver em boas condições.
Portanto, trata-se praticamente uma extensão das despesas fixas. Você pode,
inclusive, somá-las no seu orçamento financeiro.

A seguir, ilustrei o comportamento de um gráfico com essas despesas semifixas.


Observe como a linha flutua de um mês para outro, mas mantém um média
similar, sem fugir tanto de uma linha reta imaginária.

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Gráfico 06 • Despesas semifixas

Despesas variáveis

Nem só de obrigações vive o trabalhador brasileiro, certo? Até aqui, vimos ape-
nas as despesas obrigatórias — seja para a sua qualidade de vida, seja para a
oferta de um trabalho em boas condições. No entanto, o objetivo também deve
ser aproveitar a vida com outros gastos (como o seu lazer).

Neste ponto, entram as despesas variáveis: os gastos pessoais com serviços e


produtos, assim como algumas atividades de lazer. Esses gastos devem vir sem-
pre depois de você garantir as suas contas, mas não há mal nenhum em dar a
si mesmo algum tipo de recompensa durante um mês como um jantar em um
bom restaurante ou uma roupa nova.

Aqui, portanto, entram todos os gastos da sua vida pessoal. Veja exemplos abai-
xo e perceba como nenhum deles é essencial (você não vai morrer sem eles):

• Bares e restaurantes
• Cinema
• Presentes
• Roupas
• Viagens

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Por ser algo ainda menos previsível dentro de um mês e dependente dos valo-
res que sobram do seu salário, a curva das despesas variáveis é mais aleatória.
Em alguns meses você vai gastar mais, em outros vai segurar a mão. Assim, os
custos fogem mais de uma média, justamente o que os diferencia das despesas
semifixas.

Apesar disso, também é importante ter um planejamento para esse grupo de


despesas. Você não precisa passar vontade se tiver um dinheiro sobrando, mas
também não precisa “torrar” suas receitas e não economizar nada no mês. Nós
vamos conversar mais sobre isso futuramente, quando chegar a hora de falar
sobre orçamento.

Gráfico 07 • Despesas variáveis

Despesas extraordinárias

Por fim, mas ainda importante, temos que mencionar as despesas extraordiná-
rias. Esse é o grupo de gastos que não planejamos para o mês — que tem um
significado diferente de não se preparar para ele.

E o que seriam despesas extraordinárias? É aquela visita ao médico por conta


de uma dor que começou a incomodar, uma visita ao hospital que o seu plano
de saúde não cobre ou mesmo o pagamento de um mecânico por conta de um
problema com o carro.

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Pela característica atípica, essas despesas aparecem em alguns meses e somem
em outros. É recomendável que você tenha sempre uma reserva de capital para
lidar com elas e não apertar o seu mês quando surgirem.

Gráfico 08 • Despesas extraordinárias

Controle financeiro: como equilibrar


receitas e despesas?
Como vimos, existem diversos tipos de receitas
e despesas com as quais precisamos lidar nas
finanças pessoais. Portanto, a organização fi-
nanceira vai muito além de simplesmente pegar Controle financeiro

seus ganhos e subtrair os gastos. É preciso mo-


VER AULA
nitorar cada um deles de perto.

Ao dominar a forma pela qual você é remunerado e também a composição dos


seus gastos mensais, fica muito mais fácil administrar e equilibrar os seus ga-
nhos e as suas despesas. O segredo está no domínio de tudo que envolve a sua
vida, inclusive sobre aquilo que é mais instável na medida em que você se pre-
para para a imprevisibilidade.

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“Cuidado com as pequenas despesas.
Um pequeno vazamento afundará
um grande navio."

Benjamin Franklin

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Agora, vamos juntar tudo que conversamos até agora de uma maneira mais prá-
tica e objetiva para as suas finanças pessoais: como o controle financeiro ajuda
no uso adequado do seu dinheiro sem prejudicar a sua saúde financeira?

O que é controle financeiro?

O controle financeiro é um processo, geralmente


mensal, que visa uma pequena organização de todos
os ganhos e gastos durante o período de análise.

A divisão 50-35-15

Em outras palavras, quando falamos em controle financeiro, estamos buscan-


do o equilíbrio ideal das nossas receitas e despesas de modo que os ganhos
sejam, ao menos na maioria das vezes, superiores aos seus gastos. O objetivo é
que não exista tanta emoção ao longo do tempo e que, na medida do possível,
você possa garantir todas as suas contas sem sustos.

A missão de equilibrar as suas finanças fica mais fácil ao usar de uma ferramen-
ta muito conhecida no ambiente financeiro: a divisão 50/35/15. Ela é bastante
intuitiva e consiste em dividir os seus ganhos mensais da seguinte maneira:

• 50% da receita deve ser destinada para as despesas fixas


• 35% da receita deve ser destinada aos seus gastos pessoais
• 15% da receita deve ser poupado para gerar uma reserva financeira

Esses percentuais são apenas uma referência comum. Você pode alterá-los ou
adaptá-los, mas tente sempre ter uma parcela para cada uma dessas três contas
(despesas fixas, despesas variáveis e reserva financeira).

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Gráfico 09 • Divisão 50-35-15

Supondo que você tenha um salário mensal de R$5.000, por exemplo, teríamos
então um cenário em que a sua receita, idealmente, fosse distribuída da seguin-
te maneira:

• R$2.500 para o pagamento das despesas fixas


• R$1.750 para gastos pessoas e lazer
• R$750 para a sua reserva financeira

Como montar o controle financeiro?


Como vimos anteriormente, existem diversos tipos de receitas e despesas, algo
que pode deixar o controle financeiro um pouco mais confuso. Não se preocu-
pe: vamos conferir agora o passo-a-passo para juntar tudo que conversamos até
aqui e ter uma forma prática de organizar as suas finanças.

1. Organizar as receitas

O primeiro passo para garantir o seu controle financeiro é organizar quais são
as suas fontes de receitas, principalmente separando-as entre entradas de capi-
tal que são fixas e as entradas de capital que são variáveis.

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Veja abaixo um exemplo com alguns tipos de fontes de receitas. Perceba que
as duas primeiras são ganhos fixos, recorrentes em todos os meses. Já as duas
últimas representam uma maior variação. Não recomendo que você considere
o dinheiro originado de receitas variáveis para o cálculo. Não que ele seja ruim,
mas não podemos contar com essas entradas sempre.

• Trabalho fixo: R$3.200


• Cliente com demanda mensal: R$600
• Freelas pontuais: R$550
• Venda de e-book: R$300

Desta forma, podemos perceber que o nosso exemplo tem a seguinte estrutura
de receitas:

• Receitas fixas: R$3.800


• Receitas variáveis: R$850

2. Aplicar a divisão 50-35-15

Agora que você já sabe como funcio-


nam os seus ganhos, pode começar a
projetar o seu controle financeiro por
meio da divisão 50/35/15.

Um ponto importante é que, quando se


trata do seu orçamento pessoal, é reco-
mendável ignorar as eventuais receitas
variáveis. Isso porque, como já mencio-
nei acima, elas oscilam — e depender
delas para pagar as suas contas pode gerar alguns sustos desnecessários.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 25


Sendo assim, vamos sempre focar naquelas receitas que são fixas. Se a sua es-
trutura de ganhos é composta exclusivamente por receitas variáveis, faça uma
projeção da média de rendimentos para trabalhar com uma base real.

Aplicando os percentuais estabelecidos pela divisão 50/35/15, temos então o


seguinte cenário:

• Despesas fixas: R$1.900


• Despesas variáveis: R$1.330
• Reserva financeira: R$570

3. Identificar as suas despesas

Agora nós já sabemos quais são as nossas receitas para pagamento das contas
de uma forma equilibrada, mas esse é apenas o cenário ideal. O que realmente
importa é o que você efetivamente gasta e, portanto, precisamos organizar as
nossas despesas também.

Nesta etapa, precisamos agrupá-las para o uso adequado das receitas. A minha
recomendação é que você utilize o racional abaixo:

• Custos e despesas semifixas são gastos que variam de mês para mês, mas
possuem uma grande recorrência. Assim, podemos agrupá-los em conjunto
com as despesas fixas.
• Os gastos com a sua vida pessoal, como compras de roupas, passeios ou
presentes, vão pertencer ao grupo de despesas variáveis. Apesar de mais
irregulares, eles são mais fáceis de gerenciar.
• Por fim, temos ainda os gastos não planejados, que são as despesas extra-
ordinárias. Como eles não são esperados, você deve usar sua reserva finan-
ceira para garanti-los.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 26


Suponha que, por exemplo, você tenha as seguintes contas:

• Aluguel: 1.200 • Academia: 150


• Supermercado: 500 • Água: 80
• Restaurante: 300 • Gás: 50
• Software de trabalho: 200 • Celular: 50
• Netflix: 50 • Presentes: 100
• Luz: 80 • Roupas novas: 200

Ao agrupá-las conforme a minha sugestão anterior, você encontraria o resultado


dividido entre despesas fixas e despesas variáveis, conforme abaixo:

• Despesas fixas: R$2.110


• Despesas variáveis: R$850

4. Confrontar as despesas com o seu orçamento

Agora sim, nós podemos partir para um cruzamento das nossas informações en-
tre o cenário ideal, que projetamos seguindo os princípios da divisão 50-35-15, e
o que de fato você gastou no mês. Veja as diferenças no gráfico abaixo, sendo a
primeira coluna de orçamento e a segunda coluna de gastos reais.

Gráfico 10 • Orçamento vs. despesas

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Como podemos perceber, as despesas fixas estão um pouco acima do ideal,
mas esse adicional é compensado tanto pelas despesas variáveis, com gastos
abaixo do que era permitido com as suas despesas pessoais, como pela reserva
financeira, pois há maior sobra de capital do que o projetado.

Em resumo, portanto, o cenário apresentado nos trouxe a seguinte situação:

• As despesas fixas foram altas e estouraram


o seu orçamento em R$110.
• Por outro lado, houve uma economia de
R$480 nos gastos variáveis.
• Assim, a diferença entre esses dois valores
trouxe uma sobra de R$270 para a sua reser-
va financeira.

Sendo assim, apesar de um gasto acima do esperado nas despesas fixas, pode-
mos dizer que há um equilíbrio saudável entre as receitas e as gastos.

5. Ajustar os gastos para o orçamento

Em alguns momentos, porém, esse cenário pode não ser tão positivo, com gas-
tos acima do planejamento nas duas classes de despesas. Quando você se depa-
rar com uma situação desconfortável, será necessário buscar uma melhora do
controle financeiro por meio de ações como, por exemplo:

• Busca de novas receitas que permitam o aumento dos seus ganhos


• Negociação de despesas fixas, com pedidos de desconto em mensalidades
• Redução de gastos semifixos, evitando a compra de itens superficiais (bes-
teiras no supermercado, por exemplo)
• Redução das despesas pessoais, saindo menos para almoçar ou evitando
compras desnecessárias — como roupas novas ou presentes caros

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 28


Outro ponto interessante é que, para quem trabalha de maneira independente,
o cenário não costuma ser tão linear. Sendo assim, tente fazer essa avaliação em
períodos de tempo mais longos de modo a mitigar os efeitos da instabilidade fi-
nanceira. O importante não é que todo mês você ganhe mais do que gaste, mas
sim que, no longo prazo, o seu controle financeiro seja saudável e sustentável.

Reserva de emergência
Uma parte relevante das nossas preocupações financeiras está originada na
chance de não conseguir pagar as contas no final do mês. É por isso que fiz
o exercício anterior com você sobre controle financeiro, algo que recomendo
como uma prática mensal para ter maior domínio sobre a sua realidade e evitar
sustos pela falta de planejamento.

No entanto, por melhor que seja a sua organização, em alguns momentos as


coisas podem sair um pouco do esperado. Imagine, por exemplo, que o seu
principal cliente não precise mais dos seus serviços. Ou então que a empresa
para a qual você trabalha decida demiti-lo. Como você lidaria então com as suas
contas?

É neste ponto que entra a reserva de emergência, uma das formas pelas quais
você pode usar a sua reserva financeira, que já aprendemos a criar no tópico
passado, guardando ao menos 15% do nosso salário.

O que é a reserva de emergência?

A reserva de emergência é uma quantia de capital que


você deve reservar pensando nos imprevistos. Ela ser-
ve para promover tranquilidade caso você perca sua
fonte de renda ou tenha uma despesa não planejada.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 29


A menos que você tenha a capacidade de prever o futuro, não dá para saber
com exatidão quando um determinado problema vai aparecer. No entanto, é
possível (e necessário) estar preparado para ele.

Esse é, inclusive, o grande objetivo de uma re-


serva de emergência: ter uma quantidade de
dinheiro separada que permita, em caso de
Reserva de emergência
eventualidade, que você tenha capital disponível
para os seus com gastos e, assim, possa evitar o VER AULA
endividamento.

Imagine, por exemplo, uma pessoa com emprego estável cujo salário seja sufi-
ciente para pagar as suas contas mensais. Essa pessoa, em função dessa estabi-
lidade, não se preocupa em criar uma reserva de emergência. E eis que o impre-
visto aparece: ela perde o emprego no final do ano. O gráfico abaixo demonstra
a relação entre receitas e despesas desse personagem.

Gráfico 11 • Fluxo de caixa

Observe como, a partir de outubro, a renda dessa pessoa despenca. Ainda que
consiga algum ganho extra, não chega nem perto de compensar os seus custos.
Se houvesse uma preocupação em criar uma reserva de emergência, ela poderia
contribuir como uma fonte de receita neste momento de dificuldade e, conse-
quentemente, evitar que o nosso personagem contraísse algumas dívidas.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 30


“O otimismo significa esperar o me-
lhor, mas confiança significa saber
como se lidará com o pior. Jamais
faça uma jogada por otimismo ape-
nas. Confiança nasce do uso cons-
trutivo do pessimismo.

O jogador de pôquer sabe o que fa-


zer se as cartas se voltarem contra
ele. Naturalmente, espera que isso
não ocorra, mas entra no jogo pre-
parado para, se estiver em maré de
pouca sorte, manter a cabeça fria.
Pessimismo construtivo é isso."

Max Gunther

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 31


Quem ignora a importância dessa proteção, muitas vezes acaba se desesperan-
do em situações extremas, como a perda da principal fonte de renda — algo
que, repito, ninguém deseja, mas pode acontecer. E você precisa estar prepara-
do para lidar com elas.

A frase que deixei na página anterior é formulada com dois trechos do livro Os
Axiomas de Zurique, onde o autor Max Gunther explica a sua visão sobre os con-
ceitos de otimismo e pessimismo, criando o “pessimismo construtivo”. Aliás, se
você investe na renda variável, recomendo fortamente a leitura completa.

O que é pessimismo construtivo?

O pessimismo construtivo é uma abordagem do


pessimismo como ferramenta de proteção. Não se
trata de esperar o pior, mas saber o que fazer
caso ele, de fato, venha a acontecer.

A ideia do pessimismo construtivo é muito interessante para a compreensão da


importância da reserva de emergência. Você não vai torcer pela perda do seu
emprego ou ter uma mentalidade negativa sobre a vida, mas vai se preparar
para saber o que fazer quando alguma situação inesperada aparecer. Isso é fun-
damental para garantir a sua segurança financeira.

Como calcular a reserva de emergência?

Engana-se quem pensa que apenas profissionais com renda variável que devem
se preocupar com a formulação de uma reserva de emergência. Esse é um re-
curso válido para qualquer pessoa, independente da sua ocupação ou da sua
classe social.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 32


O que vai variar de caso para caso é a quantia destinada à reserva de emergên-
cia. Podemos considerar que o capital guardado para as eventualidades deve ser
proporcional ao risco do seu trabalho, utilizando entre três e doze meses das
suas despesas médias.

Ou seja, se a sua atividade profissional é mais


estável, garantindo uma renda mesmo em caso
de demissão (como um seguro desemprego), três
meses será mais do que suficiente para evitar
qualquer susto. Já para quem lida com maior risco
nas suas receitas, a recomendação é para garantir
de seis a doze meses dos seus gastos recorrentes.

De qualquer forma, uma vez definido o período que a sua reserva de emergên-
cia deve garantir das suas despesas mensais, basta fazer uma multiplicação sim-
ples. Veja alguns exemplos a seguir considerando um gasto médio de R$3.000:

• 3 meses: 3 x 3.000 = 9.000


• 6 meses: 6 x 3.000 = 18.000
• 12 meses: 12 x 3.000 = 36.000

Como montar uma reserva de emergência?

Se você nunca se preocupou em reservar uma parcela dos seus ganhos para co-
brir eventuais despesas inesperadas ou a perda da sua fonte de renda, talvez os
valores calculados anteriormente assustem um pouco. No entanto, o que real-
mente importa é começar, mesmo que isso demore um tempo.

Sendo assim, até que você alcance os valores necessários para o seu objetivo
com a reserva de emergência, o funcionamento deve ser poupar uma parcela do
seu salário para a sua reserva financeira, como já aprendemos a calcular. Pode
ser 5%, 10%, 15% ou qualquer outro percentual.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 33


Uma dica bacana é que, finalizado o processo de criar a sua reserva de emergên-
cia, você pode manter esse hábito de poupar para começar a investir pensando
na sua aposentadoria. É um ótimo exercício para a sua saúde financeira.

Vamos retomar o exemplo de um salário de R$3.500 com despesas mensais de


R$3.000. Se o nosso personagem se propuser a poupar 10% do seu salário todo
mês, ele já encontraria um valor acumulado de R$4.200 logo no primeiro ano.
Em dois anos, seriam R$8.400, capital suficiente para cobrir quase três meses
das suas despesas.

Gráfico 12 • Reserva acumulada

E a velocidade de construção da sua reserva de emergência depende da sua ca-


pacidade de economizar. O percentual poderia ser de 15% ou 20%, por exemplo,
alcançando os resultados com maior velocidade.

Onde deixar o dinheiro da reserva de emergência?

A montagem de uma reserva de emergência não significa que o dinheiro será


utilizado no curto prazo. O melhor, aliás, é que você nunca precise dele para pa-
gar as suas contas. Sendo assim, o que podemos fazer é deixá-lo investido. Des-
ta forma, enquanto ele não se faz necessário, podemos valorizá-lo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 34


No entanto, é fundamental que você compreenda que o objetivo de uma reser-
va de emergência não é ganho de capital, mas segurança. Assim, para escolher
onde deixar o seu dinheiro, é necessário seguir algumas “regras de ouro”.

1. Segurança é mais importante do que rentabilidade


2. O rendimento deve ser diário, para não perdermos os ganhos acumu-
lados em caso de um resgate.
3. O ativo precisa oferecer liquidez diária, permitindo que você receba
o dinheiro em no máximo um dia.

Dentro dessas características, que não são negociáveis, nós temos algumas
oportunidades de investimentos para manter a reserva de emergência. Vamos
conhecê-las, mas sem aprofundamento na medida em que explicarei cada mo-
dalidade nos capítulos sobre investimentos.

Tesouro Direto

A primeira e melhor possibilidade para deixar o seu dinheiro é o Tesouro Dire-


to, nome popular dado a um título de renda fixa oferecido pelo governo, a Letra
Financeira do Tesouro (LFT). Aqui, você “empresta” seu dinheiro para uma das
instituições com menor risco de crédito, isto é, o próprio Governo Federal.

Além disso, a remuneração acompanha a Taxa Selic, que é a taxa básica de juros
do Brasil. Isso já o torna mais atrativo que a tradicional caderneta de poupança,
oferecendo ganhos maiores. Ao mesmo tempo, também apresenta liquidez diá-
ria, permitindo o resgate com muita facilidade.

Títulos bancários

Alguns títulos bancários também podem ajudar a guardar o dinheiro da sua re-
serva de emergência. Entre eles estão o Certificado de Depósito Bancário (CDB),
as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e as Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 35


Todos eles informam a sua rentabilidade como percentual do CDI, uma taxa
muito próxima da Taxa Selic. Assim, também batem com certa facilidade a ca-
derneta de poupança em termos de ganho financeiro.

A diferença entre eles é que a LCA e a LCI são investimentos cujo dinheiro deve
ser usado em segmentos importantes para a economia brasileira — o setor
agrícola e o setor imobiliário, respectivamente. Desta forma, eles possuem uma
vantagem importante: a isenção do Imposto de Renda. Fique atento a esse deta-
lhe ao comparar taxas.

Por fim, certifique-se também de que os ativos oferecem liquidez diária, pois o
resgate facilitado é uma das regras de ouro de investimentos que podemos uti-
lizar para deixar o dinheiro da nossa reserva de emergência. Lembre-se sempre:
a rentabilidade é um bônus, não um objetivo nesse tipo de aplicação.

Fundos DI

Se você prefere deixar seu dinheiro em fundos


de investimentos, a alternativa em termos de
renda fixa são os chamados fundos DI. Essa ca-
tegoria de fundo recebe esse nome em função
do seu objetivo que é replicar um benchmark
(nome técnico de um indicador ou índice). É o
caso, por exemplo, da Taxa Selic e do CDI, am-
bos mencionados anteriormente.

Além do perfil mais seguro ao investidor, um


fundo DI oferece, geralmente, liquidez diária. Não é o caso de outras categorias
de fundos de investimentos, que pedem alguns dias para a devolução do dinhei-
ro. Evite-os quando o assunto for a sua reserva de emergência, pois pode preci-
sar do dinheiro de um dia para o outro e demorar para recebê-lo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 36


NuConta

Finalmente, temos ainda a NuConta, que é a conta corrente oferecida pelo


Nubank. A vantagem aqui é ter liquidez máxima (o dinheiro, afinal, está pronto
para uso) ao mesmo tempo em que você tem uma rentabilidade melhor do que
a poupança, pois a NuConta acompanha 100% do CDI.

Portanto, como vimos, qualquer pessoa precisa organizar uma reserva de emer-
gência para lidar com eventualidades sem sustos. Se você ainda não tem uma,
comece a organizar a partir de agora, sem pressa, mas com comprometimento.

Como lidar com a instabilidade


financeira?
Para profissionais autônomos e independentes, tudo que conversamos até aqui
tem ampla importância. Isso porque eles lidam com algo que o empregado tra-
dicional não precisa conviver: a instabilidade financeira.

O que é instabilidade financeira?

A instabilidade financeira é um modelo de remune-


ração em que não há um salário fixo, com os ganhos
atrelados aos desempenho. Com isso, há menor
previsibilidade das receitas mensais.

A instabilidade financeira está ligada a dois fatores principais:


• A variação da renda, sem um salário fixo mensal
• A oscilação de projetos (ou clientes, se você assim preferir)

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 37


Em alguns meses, você terá muita demanda.
Solicitações de trabalho, pedidos de orçamento
e clientes com pressa em receber algum mate-
rial. Em outros momentos, porém, eles somem. Instabilidade financeira

E é aqui que muitos profissionais se assustam e


VER AULA
temem essa instabilidade.

A questão é que esse cenário de maior variação na sua renda não é, necessaria-
mente, ruim. Você discorda? Vamos considerar então alguns fatores.

A instabilidade financeira pode ser positiva

Essa visão negativa da instabilidade é extremamente normal. Não são poucas as


pessoas que pensam dessa forma, algo que, inclusive, acaba por afastá-las do
trabalho independente em função dessas oscilações. Particularmente, contudo,
encaro a instabilidade de maneira positiva.

Se pode ser ruim não ter “piso salarial” (um valor mínimo a receber), por outro
lado também não há “teto salarial” (um limite de ganhos). Abaixo, trouxe um
exemplo das minhas receitas no ano de 2020. Observe como há, no meio desse
gráfico, uma linha média que oferece um “piso” para os meus ganhos. Ainda as-
sim, em alguns meses posso aumentar muito os rendimentos, como ocorreu em
fevereiro, março e junho, por exemplo.

Gráfico 13 • Receitas em 2020

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 38


Esse é justamente o cenário que apresentei para você como ideal, onde há um
salário mínimo mesclado com receitas variáveis. É a melhor maneira para oti-
mizar os seus ganhos: a segurança de um valor fixo aliada a um potencial maior
dos valores variáveis.

Ou seja, se você trabalha via CLT, provavel-


mente tem um salário e, no máximo, um adi-
cional sobre metas alcançadas. Já atuando
de maneira independente, os seus ganhos
serão diretamente proporcionais às entregas.
E, neste contexto, quanto mais projetos você
participa, mais dinheiro você ganha.

Para que isso funcione, porém, é preciso evitar um olhar mensal das suas finan-
ças pessoais. Quem atua com renda variável precisa ter uma visão de longo pra-
zo. Pouco importa se você ganha menos do que gasta em um determinado mês
se o período seguinte compensa. O que realmente vale é que, ao longo de seis
meses ou ano ano, seus ganhos sejam maiores do que as despesas.

Novamente, nada melhor do que trazer um exemplo real para você entender na
prática como isso funciona, certo? Pois vamos então olhar para o comportamen-
to das minhas receitas e despesas ao longo dos últimos três anos.

Gráfico 14 • Receitas vs. despesas (2020)

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 39


Eu gostaria que você observasse alguns pontos importantes:

• Em três oportunidades eu gastei mais do que ganhei: janeiro/18, setem-


bro/18 e janeiro/19.
• Em outras quatro oportunidades, meus ganhos e gastos praticamente se
anularam: agosto/18, março/19, outubro/19 e janeiro/20.
• Em dezembro de 2019 eu tive um gasto extraordinário, mas que foi com-
pensado por uma receita bem acima da média também.
• Na enorme maioria dos meses as minhas receitas cobrem, com alguma
folga, as minhas despesas.

Onde quero chegar? Que a instabilidade financeira exige um olhar de longo pra-
zo. Mesmo com alguns meses um pouco mais apertados, os ganhos maiores de
outros meses compensam. E, em um horizonte temporal mais amplo, os meus
resultados são bem confortáveis para lidar com essa situação da oscilação na
minha renda, o que torna esse cenário positivo.

A instabilidade financeira pode reduzir riscos

Como vimos logo no começo deste tópico, existem dois motivos pelos quais a
instabilidade financeira aparece. Já aprendemos como lidar com a oscilação da
renda. Mas, se você atua de maneira independente, como lidar com a variação
de demanda? Novamente, a melhor forma é olhar para o lado positivo: a redu-
ção de riscos. Parece doido pensar assim, não é? Pois vou comprovar.

O ponto que defendo é a diversificação das suas fontes de renda. Isto é, ao invés
de receber o seu salário exclusivamente de uma empresa, você cria uma prote-
ção na medida em que os ganhos são originados de diferentes clientes.

Assim, caso você perca uma fonte de renda, o impacto é reduzido sobre os seus
ganhos mensais. Não há uma dependência tão grande de apenas uma “fonte
pagadora”, digamos assim.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 40


Mais uma vez, trouxe um exemplo real para complementar a teoria. Veja, logo
abaixo, como fica a distribuição das fontes de receitas em dois cenários: em pri-
meiro lugar, uma pessoa que é empregada de uma empresa e, portanto, recebe
100% do seu salário diretamente desta companhia. Depois, o caso de um free-
lancer com alguns clientes distintos e sem relação direta entre si.

Gráfico 15 • Fontes de receitas

O que podemos concluir? Que a variedade da demanda do freelancer, ao mes-


mo tempo em que gera alguma instabilidade financeira, também faz com que
ele tenha uma natural diversificação de renda. Assim, mesmo que ele perca seu
principal cliente, ainda terá quase metade dos ganhos protegidos. Já o emprega-
do, caso perca sua atividade, ficará sem nenhum tipo de receita.

Ou seja, ao contrário de quem tem um emprego fixo com o recebimento apenas


de uma empresa, neste cenário você tem receitas de diferentes clientes. E pode
trabalhar com a fidelização deles para que essa renda seja mensal e recorrente,
reduzindo assim sua exposição às variações de demanda.

Por fim, vale lembrar que a segurança de um emprego é, na prática, muito mais
psicológica do que real. Isso porque o salário fixo e garantido que encontramos
em alguns empregos pode, de um dia para o outro, desaparecer. Estou falando,
claro, do risco de demissão.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 41


É verdade que, dependendo das condições da rescisão, você terá alguns meses
de Seguro Desemprego. Mas… E depois? O que acontece? Você acaba ficando
sem renda. Sem nenhuma renda. Preocupante, não?

Posso dar meu próprio exemplo. Antes de me tornar um freelancer, eu trabalhei


como empregado de carteira registrada em duas empresas. Em ambas eu tinha
um salário fixo que parecia seguro, mas isso duraria até uma eventual demissão.

Hoje em dia, eu tenho diferentes clientes e o maior deles representa menos de


50% do meu faturamento. Ou seja, mesmo perdendo meu trabalho mais repre-
sentativo, ainda teria mais de metade da minha renda preservada e com tempo
para procurar novos trabalhos. Esse é o benefício da diversificação.

Como lidar com a instabilidade financeira?

Tudo isso que mencionei neste tópico é uma visão extremamente pessoal sobre
a questão da instabilidade financeira. Talvez você, por qualquer razão, não con-
corde comigo e tenha uma mentalidade diferente.

Por mais que a teoria seja muito bonita, a prática nem sempre é simples assim.
Cada pessoa lida com suas dificuldades de uma forma diferente e, como eu
adiantei, pode ser que você não consiga aplicar uma visão mais otimista sobre a
instabilidade financeira. E isso não é bom ou ruim: são apenas perfis distintos.

De qualquer forma, existem algumas dicas que ajudarão a lidar com a instabili-
dade financeira caso ela apareça na sua vida pessoal. São elas:

• Crie uma reserva de emergência que garanta o pagamento das suas des-
pesas por alguns meses. Ela ajuda a dar tranquilidade para suas finanças.
• As receitas variáveis são ótimas para melhorar seus ganhos, mas uma fon-
te de receita fixa é sempre bem-vinda. Tente fidelizar clientes.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 42


• Crie o hábito de poupar uma parte dos seus ganhos. Separe uma parte
dele para sua reserva de emergência e, a outra parte, para investimentos.
• Gerencie os seus gastos de acordo com a média dos seus ganhos. Não seja
muito otimista na hora de acumular despesas, evitando acumular dívidas.

Por tudo que conversamos até aqui, acredito que possa ter ajudado a trazer um
novo contexto para a instabilidade financeira. Da mesma forma que ela assusta
de vez em quando, a variação nos ganhos pode jogar a favor tanto na redução
de riscos, como também na ausência de um limite para ganhos.

Portanto, se você souber lidar bem com essas questões e aplicar tudo que
aprendemos ao longo deste capítulo sobre controle financeiro, pode ter um
ganho mensal mais atrativo ao que conseguiria com o modelo de remuneração
tradicional.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 43


“Se você não pode medir, você não
pode gerenciar."

Peter Drucker

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 44


CAPÍTULO 2
FINANÇAS
PARA MEI

O número de microempreendedores individuais (MEI) no Brasil cresce ano após


ano. Em 2020, o país bateu a marca de 10 milhões microempreendedores, um
número muito significativo. E, com o crescimento do trabalho independente, a
tendência é de que esse crescimento se mantenha.

Isso porque, como talvez você já saiba, o MEI é o formato mais simples para
quem deseja formalizar o seu negócio e levar a sério uma atividade profissional.
Isso vale tanto para você que trabalha de maneira independente, sem vínculo
empregatício, como também para pequenos projetos de empreendedorismo.

A formalização apresenta muitos benefícios. Um deles é a imagem profissional


que você transmite aos seus clientes. Enquanto Pessoa Física, haverá sempre
algum tipo de desconfiança sobre a qualidade do trabalho/serviço. Além disso, é
uma forma para poder emitir Notas Fiscais — que são obrigatórias para receber
de empresas (Pessoa Jurídica).

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 45


Entre os formatos de empresa no Brasil, é também o mais barato em termos de
tributação. Você tem um imposto mensal, o Documento de Arrecadação do Sim-
ples Nacional (DAS), que é bem inferior a outras modalidades fiscais.

Em um primeiro momento, a depender da sua posição profissional, talvez não


precise abrir uma empresa. No entanto, caso essa seja a sua realidade, quero
aproveitar para passar algumas dicas e mostrar como funciona a declaração do
Imposto de Renda da modalidade, algo que levanta algumas dúvidas.

Como ser MEI?


Atualmente, a formalização é muito prática, simples e rápida através do modelo
de microempreendedor individual (MEI). Tudo pode ser feito online pelo Por-
tal do Empreendedor.

O que é MEI?

O MEI é uma sigla para microempreendedor individual.


É um modelo de empresa simplificado, tanto em cus-
tos, como em burocracia, visando oferecer condições
mais justas ao pequeno empreendedor.

Além de obter um CNPJ, você também deverá escolher as atividades que vai
exercer dentro de uma lista aprovada para poder usufruir das vantagens que
apresentei anteriormente. Há também que seguir algumas regras:

• O MEI não pode ser sócio ou ter participação em empresas.


• Há limite para faturamento anual. Em 2020, esse limite era de R$81 mil.
• Enquadramento entre as atividades oferecidas pelo sistema.
• Ter no máximo um empregado e não possuir filiais.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 46


A maioria dessas regras merecem atenção até o momento de abertura do seu
CNPJ, como no caso da seleção das atividades permitidas. No entanto, no caso
do faturamento ou das limitações ao negócio, são pontos de monitoramento
constante. Você não pode estourar o valor anual de ganhos — ou então será
obrigado a aderir a outro formato de tributação bem mais caro.

Como o objetivo do MEI é ajudar os pequenos negócios (algo que inclui o traba-
lho independente), essa margem oferecida inicialmente é bem aceitável. Caso
venha a superar os valores permitidos, talvez esteja preparado para migrar para
outras modalidades de Pessoa Jurídica.

Dicas para MEI


No ato de formalização da própria atividade,
muitos profissionais optam pela constituição
como MEI. Existem alguns motivos para isso,
como vimos, em especial o imposto fixo mensal
que permite melhor organização das finanças,
sem impactar tanto no faturamento que, neste
modelo, não é dos mais elevados.

No entanto, por mais simples que seja esse formato de empresa, alguns deta-
lhes acabam passando batido na organização financeira dos microempreende-
dores. Portanto, separei quatro dicas simples, mas eficientes, de finanças para
um MEI.

1. Organize o pagamento do DAS

O principal compromisso que um MEI assume com o governo é o pagamento do


DAS. Esse é nome dado ao imposto pago pelo microempreendedor. Em 2020, o
valor para serviços, que é o caso da maior parte dos profissionais independen-
tes, era inferior a R$60.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 47


Ainda que você não considere um valor elevado, é fundamental que não deixe
de pagá-lo até a data de vencimento, evitando problemas de multas. Para isso,
pode-se tanto emitir todos os boletos do ano e já deixar os pagamentos agen-
dados, como criar lembretes automáticos (no celular ou no e-mail, por exemplo)
para não se esquecer de honrar o compromisso.

Para amantes dos aplicativos, o MEI Fácil permite rápida obtenção dos boletos e
pagamento pelo seu banco de preferência. O importante é não perder as datas
de vencimento.

2. Mantenha um planejamento financeiro

Toda empresa trabalha com um planejamento financeiro. Por que seria diferen-
te para um pequeno negócio? Essa é, portanto, uma etapa importante da sua
atividade como MEI.

O primeiro ponto a cuidar é que todas as suas finanças (pessoais e profissionais)


sejam acompanhadas. Isso pode ser feito, por exemplo, em uma planilha do
Excel ou do Google Sheets. Crie o hábito de, ao menos uma vez por mês, acom-
panhar o que foi planejamento e o que foi efetivamente gasto.

Desta forma, fica fácil perceber se você pode ou não fazer aquela compra es-
pecial ou uma viagem para relaxar naquele feriado sem comprometer as suas
finanças.

3. Crie metas e desafios

Juntamente ao planejamento financeiro, você pode criar também metas e desa-


fios. Essa é uma boa forma de estimular a sua produtividade e, ao mesmo tem-
po, gerar um esforço extra para economizar e alcançar reservas financeiras que
podem tanto permitir a realização de sonhos, como ajudar a gerar estabilidade
para momentos de maior oscilação.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 48


Um caso típico de meta é a de salário mensal. Ela diz respeito ao valor médio de
ganho que você tem ao longo de um ano. De preferência, tenha gastos médios
bem abaixo desse valor, pois significará que o seu fluxo de caixa está saudável.

Particularmente, também gosto de definir uma meta de valor que tento econo-
mizar mensalmente. Nem sempre ela é alcançável, mas ter esse parâmetro me
ajuda a organizar melhor meus gastos em função dos projetos que vou conquis-
tando ao longo do mês.

4. Não se esqueça da emissão de Notas Fiscais

Uma grande vantagem de ter um CNPJ é poder trabalhar com empresas. Esse
tipo de parceria, por outro lado, exige a emissão de Notas Fiscais — e você deve
realizar o processo com cuidado para evitar problemas na hora de declarar o
seu Imposto de Renda.

A sugestão é, assim como no caso do DAS, selecionar um dia do mês para fazer
todas as emissões necessárias. Dê preferência ao começo do mês, pois assim
será possível realizar correções em casos de erros. Ao deixar para a última hora,
você pode ultrapassar a data limite de cancelamentos das Notas Fiscais.

Como funciona o Imposto de Renda


do MEI?
Quando chega o mês de abril, os brasileiros precisam dar atenção a um evento
anual importante: o Imposto de Renda. Realizar uma declaração correta é essen-
cial para não precisar lidar com dores de cabeça futuras.

E o MEI? Como fica nessa história? Precisa declarar os valores ganhos no ano
anterior? Essas são dúvidas muito comuns. Vamos ver então como funciona a
declaração de um microempreendedor.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 49


AVISO IMPORTANTE

Não sou contador e, portanto, o meu objetivo é apenas


esclarecer questões sobre a declaração do Imposto de
Renda de um MEI. Em caso de dúvidas, recomendo que
você busque um profissional da área, ok?

MEI precisa declarar Imposto de Renda?

A primeira grande dúvida de todo trabalhador é se a declaração do Imposto de


Renda é obrigatória. Em 2020, você estaria obrigado a declarar caso tivesse ren-
dimentos tributáveis acima de R$28.559,70.

A questão começa a embaralhar um pouco ao separar a nossa Pessoa Física da


nossa Pessoa Jurídica. Isso porque, no caso do MEI, elas podem acabar se con-
fundindo em muitas vezes. Assim, visando simplificar esse entendimento, vamos
separar as suas obrigações:

• Pessoa Jurídica: em função do seu CNPJ, você deve lidar com duas obriga-
ções básicas. Em primeiro lugar, pagar mensalmente o seu imposto (DAS).
Além disso, anualmente deve-se realizar a Declaração Anual do Simples
Nacional (DASN-Simei) com o seu faturamento total.
• Pessoa Física: já enquanto Pessoa Física, você deve realizar a declaração
do tradicional Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).

Vale observar ainda que, dentro do seu Imposto de Renda, os valores recebidos
como MEI que foram para a sua conta bancária precisam ser declarados. Como
normalmente um microempreendedor usa a mesma conta tanto em PF, como
em PJ, acaba declarando basicamente tudo que recebe dos seus clientes.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 50


Além disso, mesmo que você só tenha obtido receitas por meio da sua empresa
(MEI), isso não o isenta de declarar o Imposto de Renda Pessoa Física. São obri-
gatoriedades complementares. Fique atento sobre isso.

Como declarar o Imposto de Renda?

Achou tudo isso muito confuso? Para ajudar de


maneira ainda mais objetiva nesse processo,
vamos passar pelas etapas de declaração do Im-
posto de Renda como MEI. Para começar, não se
esqueça de garantir que todas as parcelas do seu
DAS tenham sido pagas e que a Declaração Anual
do Simples Nacional já tenha sido informada.

1. Calcular a Receita Bruta

O primeiro passo, já realizado na declaração anual, é somar todos os seus ren-


dimentos para saber qual foi a sua Receita Bruta. Aqui, em suma, o objetivo é
somar todas as Notas Fiscais emitidas, chegando ao valor faturado no ano ante-
rior sem qualquer tipo de desconto.

Vamos considerar, a título de exemplo, que o valor da sua Receita Bruta tenha
totalizado R$65.000. Observe que, neste cenário, nós temos um faturamento
relativamente alto na categoria, mas ainda sim dentro do permitido pela lei (ao
menos até o momento em que este material foi produzido).

2. Calcular o lucro isento de tributação

Muita gente talvez nem saiba, mas uma parte do seu faturamento é isenta de
tributação. Essa não é uma isenção 100% real, pois ao pagar mensalmente o seu
DAS já há uma contribuição. Contudo, você tem direito a descontar uma parte
dos ganhos antes de aplicar a tributação.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 51


Basicamente, esse desconto depende da área de atuação. Em resumo, existem
três alíquotas. São elas:

• Comércio, indústria ou transporte de carga = 8%


• Transporte de passageiros = 16%
• Serviços gerais = 32%

Como a maioria dos profissionais independentes atua com serviços, vamos con-
siderar então a nossa alíquota de desconto de 32%. Retomando nosso exemplo,
temos então o seguinte racional:

65.000 x 32% = 20.800

Ou seja, do faturamento total de R$65.000, nós temos uma parte dele (R$20.800)
que será isenta de Imposto de Renda. Mesmo assim, contudo, ele precisa ser de-
clarado na ficha de Rendimentos Isentos e Não Tributáveis. Utilize o código 13
(Rendimento de sócio ou titular de microempresa ou empresa de pequeno porte
optante pelo Simples Nacional) para essa finalidade.

3. Calcular o lucro tributável

Agora que você já calculou o seu lucro isento de tributação, chegou a hora de ve-
rificar se você tem algum ajuste a fazer com a Receita Federal. Para isso, vamos
considerar que você teve uma despesa comprovada como MEI de R$10.000. São
exemplos disso contas de água, luz, telefone, etc.

Essas despesas também podem ser abatidas do seu faturamento antes do cálcu-
lo do Imposto de Renda devido. Abaixo, veja todo racional do exercício:

• Faturamento total: 65.000


• Lucro isento: 20.800
• Despesas: 10.000

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 52


Para calcular o lucro tributável, você deve desconsiderar tanto a parcela isenta,
como as despesas do seu faturamento. Ou seja, neste caso teríamos o seguinte
racional:

65.000 – 20.800 – 10.000 = 34.200

Esse valor de R$34.200 é superior à faixa de isenção (R$28.559,70), o que signi-


fica que há Imposto de Renda a pagar. Para isso, você deve preencher a quantia
na ficha de Rendimentos Tributáveis Recebidos de Pessoa Jurídica. Portanto,
informe o seu CNPJ como fonte pagadora e o valor encontrado que, neste exem-
plo, foi de R$34.200.

Espero que este capítulo sobre MEI tenha sido elucidativo para ajudá-lo a enten-
der o contexto de ver a si mesmo como uma empresa. Além disso, tente sempre
separar a sua vida pessoal da sua vida profissional, algo que ajuda ainda mais
no controle financeiro.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 53


“Não deixe o dinheiro dominar a
sua vida. Faça o dinheiro ajudar
você a fazer uma vida melhor."

John Rampton

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 54


CAPÍTULO 3
COMO PAGAR
AS DÍVIDAS

O grande propósito que tenho com o Conexão Finanças é melhorar o nível da


educação financeira no Brasil. Assim, eu espero que você nunca precise se endi-
vidar e que este capítulo, sobre endividamento, seja completamente inútil.

Infelizmente, contudo, sabemos que essa não é a realidade de boa parte da


população brasileira. Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo (CNC),o índice de famílias endividadas no país era
de 67% em junho de 2020. Isso significa que praticamente sete em cada dez
famílias possuíam algum tipo de dívida.

O profissional freelancer não vive em uma bolha e, considerando que há uma


oscilação nos recebimentos mensais e, portanto, um maior risco de inadimplên-
cia, o cenário não é muito diferente para a nossa categoria.

Neste capítulo, eu quero abordar brevemente esse assunto e como você pode,
com um pouco de organização, pagar suas dívidas e retomar o cenário positivo
para a sua saúde financeira.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 55


O que é uma dívida?
Em primeiro lugar, é importante entender que uma dívida é qualquer valor que
você esteja devendo. Ou seja, contas a pagar que estão atrasadas ou que você
não possui o dinheiro na data de vencimento para honrar o compromisso.

Do ponto de vista financeiro, todo tipo de compra ou aquisição pode gerar uma
dívida. Mas não somos apenas nós que acumulamos pagamentos: empresas e o
governo também devem tomar o cuidado na hora de gerenciar os seus recursos.

O que é uma dívida?

A dívida é um valor (em dinheiro) devido para alguém,


podendo este ser uma pessoa, uma empresa, uma
instituição financeira até mesmo o governo.

Por que me endividei?

Ao contrair uma dívida, a primeira dúvida que pode aparecer são os motivos pe-
los quais o problema surgiu. Esse questionamento é ótimo, pois busca a origem
do endividamento e permite que você possa corrigir o comportamento.

De um modo geral, alguns fatores costumam justificar um processo de endivida-


mento. São eles:

• Ausência de controle financeiro


• Exagero nos gastos pessoais
• Padrão de vida incompatível com os ganhos mensais
• Excesso de parcelamentos no cartão de crédito
• Gastos extraordinários ou não esperados
• Perda da fonte de renda

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 56


Observe como, na maior parte desses fatores, temos um cenário em que as
dívidas são geradas por erros comuns e que nós mesmos somos os principais
responsáveis pela situação. No entanto, existem exceções que vão além de uma
simples falta de organização.

Em alguns casos, o motivo do endivida-


mento pode ser um gasto não esperado,
como um problema de saúde. Ou então
a perda do seu trabalho ou de um cliente
importante. Neste cenário, mesmo que
você organize uma reserva de emergência
como vimos anteriormente, o valor pode
não ser suficiente para pagar suas contas
até uma nova fonte de receita — e a culpa
da dívida não é, necessariamente, sua.

O que quero dizer aqui é que, se você vem se endividando por questões exter-
nas, não se culpe e tente usar esse capítulo para resolver o problema. Por outro
lado, caso as dívidas possuam origem em descontrole ou falta de organização, é
necessário revisar alguns comportamentos e gastos para evitar que esse cenário
volte a se repetir em um momento futuro.

De qualquer forma, independente do motivo pelo qual você acumulou dívidas,


é necessário pagá-las. É que vamos aprender em breve. Antes, contudo, precisa-
mos conversar sobre os principais problemas de acumular dívidas.

Quais são os riscos das dívidas?

Não é nenhuma novidade que as dívidas são um problema para a sua saúde fi-
nanceira. No entanto, o nome sujo e o valor devido são apenas parte das conse-
quências negativas desta situação. Abaixo, listei algumas das principais questões
que tornam o endividamento tão perigoso:

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 57


• Perda do controle financeiro: ao se endi-
vidar, você provavelmente terá perdido um
pouco o controle das suas finanças. E, com
as dívidas crescendo, fica ainda mais desa-
O risco das dívidas
fiador reorganizar. Isso sem falar que é pre-
ciso reservar parte dos ganhos para pagar VER AULA
os valores devidos, algo que reduz o seu
orçamento mensal.

• Juros compostos: um dos maiores problemas das dívidas é o modelo de


cobrança. Os juros compostos (juros sobre juros) aplicam taxas acumulati-
vas. Assim, conforme os meses passam, a dívida tende a ser cada vez maior
e mais cara. Em pouco tempo, você pode se ver com uma verdadeira “bola
de neve” financeira.

• Efeito cascata: o efeito diz respeito a uma causa que gera consequências
sequenciais. É algo que encontramos ao acumular dívidas. O valor devido é
apenas parte do problema que se converte em não poder mais ir a um res-
taurante, abrir mãos de programas sociais ou mesmo afetar a sua saúde,
como o aumento de ansiedade e do estresse.

Como pagar uma dívida?


Dentre os riscos que vimos agora, o maior problema das dívidas é que elas ge-
ram juros que vão, conforme o tempo passa, aumentando o valor devido. É por
isso que recomendo que, sempre que possível, você corte o problema pela raiz,
quitando a pendência com maior brevidade possível.

Além disso, as dívidas trazem problemas como a perda do controle financeiro


e até mesmo de saúde. É comum que pessoas endividadas apresentam traços
de estresse, irritação ou ansiedade — algo que pode, inclusive, prejudicar o seu
relacionamento com outras pessoas.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 58


Se tudo isso tem alguma relação com a sua situação financeira de hoje, eu pre-
parei um passo-a-passo com seis etapas para organizar o pagamento de uma
dívida. Não há milagre: o processo vai exigir esforço e disciplina. Contudo, sem
dúvidas, é possível estruturar os valores em aberto de uma forma que você pos-
sa pagá-los e limpar o seu nome.

Vamos lá!

1. Diagnóstico financeiro

O primeiro passo para pagar sua dívida é rea-


lizar um diagnóstico financeiro, atividade que
consiste em levantar os seus principais ganhos
e gastos para avaliar sua situação atual. Não se Como pagar dívidas?

esqueça de elencar também os valores em aber-


VER AULA
to, pois eles são necessários nessa etapa.

Aqui, busque entender as fontes de rendas e as despesas mensais. Divida-as em


fixas e variáveis, pois precisaremos delas na próxima etapa. Veja um exemplo
para o José, nosso personagem para este capítulo:

• Receita mensal: R$4.500


• Despesas fixas: R$3.000
• Despesas variáveis: R$1.400
• Dívidas acumuladas: R$8.100

Como podemos concluir, o nosso personagem não tem uma situação confortá-
vel. Ele tem o hábito de gastar praticamente tudo que ganha no mês, algo que
provavelmente contribuiu com o seu endividamento. O valor da dívida, aliás, é
consideravelmente alto: quase o dobro do ganho mensal. Embora a situação se
apresente como difícil, vamos encontrar uma solução para pagar essa dívida.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 59


2. Análise dos gastos

O próximo desafio é rever as despesas e encontrar oportunidades para econo-


mizar. O objetivo desta etapa é aumentar a sobra de dinheiro ao final do mês.

Comece se perguntando sobre cada tipo de despesa. Existem despesas fixas que
podem ser negociadas? Esse grupo costuma ser menos flexível, pois contempla
gastos essenciais (como água, luz ou gás, por exemplo) e mensalidades. Ainda
assim, pode haver margem para negociação. Veja alguns exemplos:

• O aluguel é fixo, mas pergunte ao proprietário se ele consegue conceder


um desconto explicando sua situação financeira.
• Em relação ao mercado, será que os gastos são mesmo essenciais ou você
vem gastando com besteiras (como salgadinhos e refrigerantes)?
• Mesmo em gastos essenciais, existe alguma margem para redução de valo-
res. Banhos mais rápidos ou evitar o ar condicionado podem contribuir com
a conta de água e luz, respectivamente.

O mesmo exercício também se aplica às despesas variáveis, sendo essas ainda


mais fáceis de negociá-las. Esses gastos costumam ser superficiais e que, em
momentos de problemas financeiros, podem ser cortados provisoriamente. Veja
alguns exemplos:

• Se você gosta muito de sair, tente comer mais em casa. É mais barato e até
mais saudável, em muitos casos.
• Gastos com roupas novas ou outros produtos que não sejam essenciais
devem ser reduzidos neste momento.
• Evite comprar presentes caso esteja endividado. Se houver algum aniversá-
rio, explique a sua situação. Não faz sentido gastar com os outros enquanto
você está devendo para o banco.
• Veja se existem serviços que você não esteja utilizando e que possam ser
cancelados, como assinaturas digitais.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 60


“Não nos tornamos ricos graças ao
que ganhamos, mas com o que não
gastamos."

Henry Ford

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 61


Importante entender que não significa que você não faça mais nada no mês,
mas sim uma grande revisão e corte de custos. O dinheiro para pagar a dívida,
afinal, precisa sair de algum lugar. E, a menos que você consiga uma nova fonte
de renda, a melhor prática é reduzir os gastos.

Se o nosso personagem conseguisse deixar de gastar 50% das suas despesas va-
riáveis, já teria uma economia mensal de R$700. Isso somado a algum ajuste nas
despesas fixas, como menos gastos no mercado, poderia alcançar uma sobra
financeira próxima a R$1.000. Já seria um ótimo começo.

3. Organização das dívidas

Antes de começar a pagar a sua dívida, é essencial entender quais pendências


devem ser priorizadas. O nosso personagem possuía uma dívida de R$8.100.
Considere que ela era composta pelas seguintes pendências:

• Conta de luz: R$2.000


• Conta de água: R$1.000
• Cartão de crédito: R$3.000
• Empréstimo: R$1.500
• Escolinha de futebol: R$600

Veja que existem diferentes tipos de custos que devem ser analisados. A minha
recomendação é que você organize-as em lista de prioridade, respeitando os
seguintes critérios:

1. Necessidades essenciais: priorize aqueles gastos que representam ne-


cessidades básicas como água, luz ou gás. Embora não possuam multas tão
altas, esses serviços podem ser cortados e interferir na sua qualidade de
vida. Evite ao máximo ficar inadimplente.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 62


2. Bens alienáveis: alguns tipos de compras também precisam de um cui-
dado especial — é o caso de imóveis, carros e motos. Além de toda parte
financeira (taxa de juros), esses bens podem ser tomados pela parte vende-
dora em casos de inadimplência.

3. Taxas de juros: por fim, não esqueça de considerar também as altas ta-
xas de juros. Quanto maiores, mais perigosas serão para a sua saúde finan-
ceira. A cada mês sem pagamento, maiores serão os juros acumulados.

Olhando para o nosso personagem, o José, luz e água devem ser o nosso foco,
pois são necessidades básicas e o corte do serviço seria muito comprometedor.
Na sequência, como não existem bens alienáveis, o foco pode estar nas dívidas
com bancos, pois as taxas praticadas são elevadas e perigosas.

4. Reserva de emergência

Caso você tenha uma reserva de emergência, essa acaba por ser outra boa
oportunidade. Isso acontece porque a ideia de criar uma proteção financeira
consiste justamente em situações em que o seu dinheiro não é capaz de lidar
com os gastos, como em um endividamento.

Sendo assim, a próxima etapa é utilizar a reserva de emergência para quitar o


máximo das despesas. Essa recomendação, afinal, impede que os juros sejam
mais pesados, algo que complicaria a sua saúde financeira.

Supondo que o nosso personagem tenha uma quantia de R$3.500 guardada, ele
pode usar esse dinheiro para resolver as dívidas mais urgentes. Com esse valor,
portanto, seria possível reduzir os valores em aberto para R$4.600, uma vez que:

• O valor é suficiente para pagar integralmente as dívidas de luz e água.


• Há ainda uma quantia restante de R$500, que pode ser usada para abater
parte das dívidas bancárias (cartão de crédito ou empréstimo).

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 63


5. Controle financeiro com dívida

No primeiro capítulo deste livro, você conheceu a regra 50-35-15 para realizar o
seu controle financeiro. No entanto, essa estrutura é adequada para uma situa-
ção normal, na qual não existam dívidas. Não faz sentido poupar 15% dos seus
ganhos para investir enquanto existem valores em aberto.

Sendo assim, caso você possua dívidas, eu recomendo que você adapte esse
sistema para uma nova regra: 50-20-30. Assim, temos um controle financeiro
emergencial provisório até que a situação seja regularizada. Ela funcionará da
seguinte maneira:

• 50% do ganho mensal para as despesas fixas


• 20% do ganho mensal para despesas variáveis
• 30% do ganho mensal para pagamento das dívidas

Gráfico 16 • Regra 50-20-30

Veja que o sistema é muito similar, apenas com algumas adaptações para o uso
do dinheiro. O objetivo de controlar o dinheiro que você recebe, contudo, per-
manece o mesmo.

Além disso, essa nova divisão ajuda a compreender a sua estrutura de capital
para esse momento desafiador. Isto é, qual é a parcela do seu salário que você
realmente pode usar ao repactuar uma dívida. Assim, tudo é feito de maneira
planejada, aceitando parcelas que realmente caibam no bolso.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 64


6. Renegociação da dívida

Somente agora, depois de cumprir todos esses passos que percorremos ao


longo do artigo, é que você pode sentar com as empresas para as quais deve e
negociar as condições de pagamento. Veja que, neste momento, você já pagou
o que poderia ser antecipado, encontrou oportunidades de economizar e sabe
qual é o valor máximo que pode guardar por mês.

Não se empolgue demais para quitar a dívida de uma vez. Se o valor máximo
que você consegue economizar por mês é de R$1.170, como no caso do José,
assumir uma parcela próxima disso é muito perigoso. Os gastos esporádicos
podem voltar a aparecer. Adote uma margem de segurança.

Para repactuar uma dívida existem duas soluções:

• Renegociação de dívida: você repactua as condições de pagamento dire-


tamente com a empresa para a qual deve dinheiro. Nesta operação estão
inclusos juros, mas ela permite que as parcelas caibam no seu bolso.
• Portabilidade de crédito: há uma alternativa em que você leva a sua dívi-
da para uma nova empresa, que será responsável por pagar tudo que você
deve. A partir desse momento, passamos a dever apenas para essa compa-
nhia, em condições acordadas.

O que é renegociar dívida?

A renegociação de dívida é um processo em que


podemos repactuar valores em aberto, com novas
condições de pagamento (parcelas, taxas e prazos).
Pode ser feita com a empresa para a qual devemos ou
para uma terceira (portabilidade de crédito).

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 65


Os dois caminhos são viáveis, mas é mais frequente encontrar taxas atrativas
usando da portabilidade de crédito. Isso permite que você busque por diversas
instituições financeiras, filtrando as melhores condições.

Lembre-se que, neste ponto, o importante é que as parcelas caibam no bolso.


Ainda que leve um bom tempo para limpar o seu nome, tenha paciência. Querer
apressar o pagamento pode apenas trazer novos problemas, como o aumento
do endividamento.

Por fim, quando finalizar o pagamento da dívida, lembre-se de manter um rigo-


roso controle financeiro para evitar que essa situação retorne futuramente.

Cartão de crédito: como pagar?


O cartão de crédito pode ser um grande amigo ao conceder fôlego financeiro,
mas também um inimigo porque acumulamos despesas que podem fugir do
controle. E quando você não tiver dinheiro para pagar a sua fatura? O que fazer?

Neste caso, restam duas alternativas. A primeira


delas é o pagamento mínimo, que é uma quantia
mínima de pagamento definida pelo seu banco
para o acerto do valor gasto no mês. O restante Como pagar o cartão?

será adiado, mas não sem incluir os juros rotati-


VER AULA
vos, um dos mais caros do mercado.

Esses juros rotativos são extremamente perigosos para a sua saúde financeira,
com uma taxa média superior a 10% ao mês. Por esse motivo, não podem ser
usados por mais de 30 dias — e é por isso que o seu banco vai renová-la men-
salmente. Ao deixar a sua fatura chegar a esse modelo de cobrança, a sua taxa
pode superar 300% ao ano.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 66


A alternativa ao pagamento mínimo é o parcelamento. Aqui, você nada mais tem
do que uma nova negociação dos valores devidos, incluindo prazos e taxas. Os
juros também se aplicam a cada nova parcela, mas são menores no longo prazo
do que no rotativo usado para o pagamento mínimo.

Pagamento mínimo vs. parcelamento: qual escolher?

Uma dúvida muito comum na hora de acertar o pagamento do cartão está entre
qual dos dois métodos é melhor para evitar o crescimento de um endividamen-
to. E, para encontrar essa resposta, você precisa compreender primeiramente
como os juros são calculados em cada modelo.

No caso do pagamento mínimo, temos uma conta


simples que consiste em aplicar os juros rotativos
(que não são baixos) diretamente no valor devido.
No mês seguinte, é preciso pagar o valor total (dí-
vida + juros), sem qualquer tipo de folga. Em caso
de nova inadimplência o processo se repete, algo
que vai aumentando exponencialmente a dívida.

Já ao optar do parcelamento, há também a aplicação de juros, mas eles são dis-


tribuídos ao longo do prazo acordado de modo que o custo da operação é bem
menor para um horizonte temporal maior.

De um modo geral, portanto, podemos dizer que o parcelamento é mais inte-


ressante para o pagamento do cartão de crédito na medida em que ele concede
fôlego e não pressiona as suas finanças (como ocorre no parcelamento mínimo).

Para que tudo isso fique mais fácil de entender, vamos a um exemplo. Conside-
re um cenário em que o nosso personagem José tenha uma fatura de R$3.000 e
não possa pagá-la. Assim, ele tem duas opções:

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 67


• Pagamento mínimo: o banco oferece a ele a opção do pagamento míni-
mo, mas com aplicação de juros rotativos de 12,5% ao mês.
• Parcelamento: o banco também permite que o valor seja parcelado em
doze vezes, com uma taxa de 7,5% ao mês.

O que isso representa para a dívida do José? Que, considerando apenas o pró-
ximo mês, a dívida passaria a ser de R$3.386,40 para o pagamento mínimo e de
R$4.653,96 no caso do parcelamento. No entanto, não se iluda: os cenários são
completamente diferentes.

Embora pareça muito mais atrativo a dívida do pagamento mínimo, você precisa
quitá-la integralmente no próximo mês. A depender do valor, como no caso do
José, é algo bastante inviável. Já no parcelamento, embora a dívida seja maior
neste momento inicial, as parcelas são menores e, teoricamente, compatíveis
com o seu orçamento.

O gráfico abaixo demonstra o valor acumulado da dívida conforme os meses


passam e você não consegue pagar o que sobrou do pagamento mínimo. Veja
como, ao final de doze meses, um endividamento que começou em R$3.000 se
converte em uma dívida de quase R$12.000. É o efeito dos juros rotativos. Uma
multiplicação de quatro vezes em apenas um ano.

Gráfico 17 • Pagamento do cartão

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 68


Observe também que o “empate” entre o valor total da dívida acontece no quar-
to mês. Isso significa que o pagamento mínimo só é vantajoso se você consegue
pagar a dívida do cartão de crédito no mês seguinte. Em outras palavras, quan-
do você tiver a certeza de que o atraso foi pontual e que já regularizará a situa-
ção com os próximos recebimentos.

Em qualquer outro cenário, se houve um estouro de orçamento, sugiro que opte


pelo parcelamento. Embora a dívida aumente logo no acordo, você terá tempo
e parcelas mais amigáveis para pagar o valor devido. O risco de aceitar o paga-
mento mínimo e ter uma “bomba” estourando em pouco tempo conforme as
condições não são acertadas pode ser catastrófico para sua saúde financeira.

Dicas para não se endividar


Como falei no começo desta capítulo, a minha torcida é para que você sequer
precise estudar essa parte do endividamento. No entanto, considerando o cená-
rio desafiador que temos no Brasil para a maioria das famílias, vamos encerrar
com algumas dicas simples para evitar as dívidas. São elas:

• Controle financeiro: a melhor forma de fugir das dívidas é criar o hábito


de realizar o acompanhamento das suas finanças. Com um cenário mais cla-
ro dos gastos que você possui, as despesas só vão superar o seu orçamento
em caso de eventualidade ou emergência — e não por falta de controle.

• Cartão de crédito: como vimos, os juros rotativos (utilizados pelos bancos


em caso de inadimplência do cartão de crédito) estão entre os mais perigo-
sos do mercado. Assim, tome um cuidado adicional com os seus parcela-
mentos, evitando ao máximo acumular dívida. Se acontecer de estourar seu
orçamento, dê preferência ao parcelamento do valor devido em relação ao
pagamento mínimo pelo fluxo de caixa menos agressivo para suas finanças.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 69


• Gastos pessoais: outro ponto que costuma atrapalhar a saúde financeira é
o exagero dos gastos pessoais. Isso vale tanto para gastar mais do que você
ganha, como também em situações nas quais quer comprar coisas que não
condizem com o seu padrão de vida. Pesquise preços, compare orçamentos
e respeite os seus ganhos mensais.

• Reserva de emergência: em diversos pontos deste livro abordei a impor-


tância de manter uma reserva de emergência. E essa dica vale ainda mais
para evitar o endividamento. Ao ter um dinheiro separado, você tem como
resolver uma questão de estouro de orçamento pontual, evitando assim
acumular uma dívida.

• Metas e objetivos: criar metas é uma boa forma de estimular o seu con-
trole financeiro. Um exemplo disso é tentar seguir a regra 50-35-15, que
aprendemos anteriormente. Além disso, crie alguns objetivos de economia.
Ao atingir as metas, você pode dar algum tipo de prêmio a si mesmo, como
um celular novo ou uma viagem com parte da economia realizada.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 70


• Taxas de juros: um dos maiores inimigos
para nossa saúde financeira são as taxas de
juros. Tente fugir, sempre que possível, dos
caros empréstimos bancários. Além disso, Dicas para finanças
fique de olho em oportunidades, comparan-
do taxas oferecidas por diferentes institui- VER AULA
ções financeiras.

• Saiba dizer “não”: por incrível que pareça, tem muita gente que acaba se
endividando pela dificuldade em negar algo para outras pessoas. É preciso
entender o nosso padrão de vida e saber quando podemos ou não partici-
par de um evento, comprar um presente ou viajar com amigos. Quem vai
pagar a conta é você, portanto pensa na sua saúde financeira antes de acei-
tar qualquer convite.

• Comece a investir: para finalizar, não podemos nos esquecer dos investi-
mentos. Eles são extremamente úteis para geração de valor, algo que con-
tribui diretamente com uma melhor estrutura financeira e, portanto, um
menor risco de endividamento.

Falando em investimentos, é sobre isso que vamos conversar no próximo capí-


tulo: como você pode começar a investir o seu capital para não depender ape-
nas do salário no objetivo de aumentar o seu patrimônio e pagar as suas contas
mensais.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 71


“Muitas pessoas gastam dinheiro que
não tem, para comprar coisas que
não precisam, para impressionar
pessoas que não gostam"

Will Smith

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 72


CAPÍTULO 4
A HORA DE
INVESTIR

Ao longo de todo conteúdo, eu falei algumas vezes sobre como os investimentos


são importantes para diversas estratégias como criar uma reserva de emergên-
cia, uma aposentadoria ou mesmo o simples hábito de poupar uma parte do
seu salário mensalmente — que pode produzir ótimos resultados.

Agora que passamos por toda estrutura financeira, pela gestão de receitas e
despesas, pelo planejamento do uso do dinheiro e, claro, pelo pagamento de
dívidas, é hora de falar sobre investimentos.

Mas, afinal, por que investir? Como já adiantei em algumas oportunidades, exis-
tem diversas razões para você deve se preocupar com o crescimento do seu
patrimônio pensando no longo prazo. Eis algumas delas:

• Reserva de emergência: a reserva de emergência é uma ferramenta fun-


damental tanto para proteção financeira, como para evitar as dívidas. E esse
dinheiro, enquanto não é necessário, pode ficar investido para crescer com
segurança.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 73


• Aposentadoria: como também já conversamos, é importante pensar no
futuro. Os investimentos ajudam diretamente no crescimento do seu pa-
trimônio, gerando uma aposentadoria para manter o seu padrão de vida
quando você não quiser mais trabalhar.

• Renda passiva: os investimentos funcionam de uma forma a gerar ganhos


com o seu dinheiro mês após mês. Assim, eles também oferecem uma ren-
da passiva. Isto é, um ganho financeiro que não depende da sua atividade
profissional em si — e permite elevar a sua receita média mensal.

• Juros compostos: por fim, não podemos nos esquecer do efeito dos juros
compostos, chamados de “a oitava maravilha do mundo” no mercado finan-
ceiro. Essa é a prática de gerar juros sobre juros (a estratégia favorita dos
bancos). Quanto mais você tem, mais você ganha.

Apenas para ilustrar esse último motivo, imagine que você tenha, hoje, um valor
guardado de R$10.000, além do compromisso de economizar outros R$200 por
mês para aportes. Vamos supor que consiga uma taxa média com investimentos
de 7% ao ano. Quanto você acha que teria ao longo de 50 anos?

Pois bem: você se tornaria uma pessoa milionária. Exatamente o que acabou
de ler! A estratégia dos juros compostos permitiria o acúmulo de uma quantia
mais de 100 vezes maior do que o seu valor inicial. Nada mal, concorda?

Gráfico 18 • Juros compostos

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 74


Por onde investir?
Por todos os motivos que mencionei na abertu-
ra deste capítulo, espero que você tenha com-
preendido que investir é um hábito necessário
Onde investir?
para quem busca melhorar a relação com o seu
dinheiro e valorizar o seu capital sem depender
VER AULA
exclusivamente do seu trabalho.

No entanto, por onde podemos investir? Existem duas opções principais:

• Banco: a primeira opção para investir o seu dinheiro é usar dos próprios
bancos. Eles podem ser tanto as empresas tradicionais (Itaú, Banco do Brasil
e Bradesco), como as fintechs digitais (Nubank, Banco Inter ou Next), desde
que ofereçam esse tipo de serviço.

• Corretora de valores: além dos bancos, nós temos as corretoras, que são
agentes intermediários entre você e os produtos do mercado financeiro. Ou
seja, trata-se de uma plataforma de investimentos.

E, entre essas duas instituições financeiras, qual é a melhor opção para os nos-
sos investimentos? As corretoras são muito superiores aos bancos no quesito,
mas eu quero compartilhar com você os motivos dessa resposta. Vamos lá!

Segurança

Quanto o assunto é dinheiro, a prioridade de qualquer pessoa é bem clara: se-


gurança. E, neste sentido, os bancos tradicionais oferecem uma ótima imagem
pela sua popularidade. Não por acaso, muitas pessoas começaram a investir
com as mesmas empresas que elas utilizam para deixar o dinheiro de rotina.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 75


Apesar de menos conhecidas do público geral, as corretoras regulamentadas
são até mais seguras. Isso porque os seus investimentos são atrelados aos ati-
vos escolhidos. Assim, mesmo que elas quebrem, você não perderá o seu capital
(a menos, claro, que deixe esse dinheiro na sua conta, sem investir).

Produtos

Outro ponto em que as corretoras se destacam é a variedade de ativos. Os ban-


cos tendem a dar preferência para os produtos internos — que nem sempre
possuem qualidade ou então oferecem altos custos. Já as corretoras, pela sua
função de centralizar investimentos, possuem oportunidades de diversas insti-
tuições financeiras (inclusive dos próprios bancos).

Atendimento

Está começando a investir e sente que precisa de um contato mais próximo?


Talvez seja mais uma razão para dar preferências às corretoras. Elas possuem
serviços personalizados e conteúdo de apoio. Os bancos, além de apresentar
conflito de interesse nos seus próprios produtos, ainda possuem outras atribui-
ções que vão além dos investimentos.

Custos

Por fim, outro ponto importante é o custo que você terá com o seu dinheiro. E,
novamente, a vantagem é das corretoras. Os bancos, como adiantei, abusam
das taxas. Não que elas não existem nas corretoras, mas são mais justas e ofere-
cem melhor qualidade. Isso sem falar em muito produtos que são isentos delas.

Desta forma, podemos concluir que temos uma ampla vantagem de investir nas
corretoras em relação ao que temos nos bancos. No entanto, isso não significa
que as instituições financeiras tradicionais não possuam também a sua utilidade
e importância para nossas finanças pessoais.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 76


Desta forma, a minha recomendação é para que você utilize os bancos (tradicio-
nais ou digitais) para as suas atividades de rotina (como saques, pagamentos e
transferências), mas deixe para investir nas corretoras pelas vantagens citadas
anteriormente.

Conceitos fundamentais para investir


Ao começar a investir, você irá se ver diante de alguns conceitos específicos do
mercado financeiro. Não é necessário que sejamos especialistas de finanças,
mas é fundamental compreender o significado de três deles: Taxa Selic, inflação
e juros reais. Esses termos, na prática, estão altamente relacionados.

Taxa Selic

O que é a Taxa Selic?

A Taxa Selic é a taxa básica de juros do Brasil. Ela é


definida pelo Banco Central a cada 45 dias com o
intuito de garantir a meta de inflação do país.

O termo SELIC é uma abreviação para o Sistema Especial de Liquidação e Custó-


dia, o nome do sistema utilizado para controle e monitoramento da negociação
dos títulos públicos — isto é, aqueles emitidos pelo governo.

A Taxa Selic é derivada dessas negociações, sendo definida pelo Banco Central a
cada 45 dias, em reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), com o obje-
tivo de manter o controle sobre a inflação (que veremos a seguir). Trata-se, por-
tanto, de uma ferramenta para a política monetária do Brasil.

Em resumo, essa é a taxa básica de juros do nosso país.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 77


Em termos práticos, a Taxa Selic afeta tanto os
custos das operações financeiras dos bancos
(isto é, as taxas de juros em empréstimos e fi-
Conceitos de finanças
nanciamentos), como também a rentabilidade
dos investimentos de renda fixa que utilizam de
VER AULA
taxas de juros para definição de rentabilidade.

Ou seja, se a Taxa Selic está em patamares elevados, os custos de empréstimos


ficam mais altos e a população tende a se sentir mais receosa ao consumo —
afinal, os custos são maiores e passa a ser arriscado assumir o endividamento.
Por outro lado, em termos de investimentos, maiores são os ganhos mensais.

Já quando a Taxa Selic está em patamares baixos, a situação é exatamente inver-


sa. Assim, assumir parcelamentos e novas dívidas fica mais convidativo, enquan-
to que os investimentos de renda fixa que utilizam de taxas de juros se tornam
menos atrativos pela queda da rentabilidade.

Inflação

Como mencionamos, o segundo conceito fundamental para investimentos é a


inflação. Esse é o nome dado para o efeito econômico de aumento dos preços
dentro de uma determinada economia. O inverso (redução de preços) é chama-
do de deflação, mas é um fenômeno mais raro.

O que é inflação?

A inflação é um conceito financeiro que representa


o aumento dos preços em uma economia.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 78


Você mesmo já deve ter percebido que muitas coisas que compramos atual-
mente são mais caras do que há alguns anos atrás, certo? Um pão de forma, por
exemplo, custava R$1,32 em 2000. Passou a valer R$3,92 em 2020, um aumento
de 197% do seu preço. E o mesmo efeito se aplica a tanto outros produtos, um
resultado prático da inflação.

No Brasil, a principal referência inflacionária é o IPCA (Índice de Preços ao Con-


sumidor Amplo). Esse é um indicador medido mensalmente e que tem como
objetivo monitorar o aumento de preços do nosso país, em especial nas grandes
cidades. Assim, o governo pode atuar caso identifique algum problema.

Juros reais

Por fim, temos ainda os juros reais que representam quanto realmente ganha-
mos com os nossos investimentos ao longo do tempo. O que acontece é que,
como a inflação traz um aumento dos preços de produtos e serviços, a primeira
missão dos investimentos é proteger o nosso poder de compra. O ganho adicio-
nal é o que será, de fato, um aumento do seu capital.

O que são juros reais?

Os juros reais são os ganhos efetivos que


obtemos com os nossos investimentos, já
descontando o aumento dos preços (inflação).

Para que esse conceito faça mais sentido, vamos a um exemplo. Suponha que
você faça um investimento de renda fixa por um ano com rendimento associado
à Taxa Selic de 5% ao ano. Neste mesmo período, considere que a inflação apu-
rada tenha sido de 4%. A fórmula abaixo resume o cálculo dos juros reais:

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 79


Juros reais = Juros Nominais - Inflação

Veja, portanto, que os juros reais são simplesmente os ganhos do seu investi-
mentos (juros nominais) após o desconto da inflação. Nesta situação fictícia, nós
teríamos juros reais de 1% (5% - 4%). Em outras palavras, os juros reais são os
ganhos “líquidos” do seu poder de compra.

Perfil de investidor
Antes de começarmos a falar sobre as oportunidades de investimentos na prá-
tica, é preciso compreender o seu perfil de investidor. Esse é o nome de uma
classificação pessoal de acordo com os seus próprios objetivos financeiros e os
riscos que você está disposto a assumir para atingi-los.

O perfil de investidor é encontrado ao respon-


der perguntas de múltipla escolha, apresentan-
do algumas situações sobre o mercado financei-
Perfil de investidor
ro. O teste de suitability, como é chamado este
questionário, pode ser encontrado na internet e
VER AULA
é de aplicação obrigatória para as corretoras.

De acordo com as respostas, você pode ser classificado em três perfis distintos:
conservador, moderado e agressivo. Vamos conhecê-los antes de seguir para
as classes de investimentos, de modo a identificar as oportunidades adequadas
aos seus objetivos.

Perfil conservador

O perfil de investidor conservador é aquela pessoa que tem pavor só de pensar


em perder dinheiro. Para ela, portanto, o mais importante é a segurança ofereci-
da para o seu capital. Ou seja, não ter chance de qualquer prejuízo é prioridade
em relação aos ganhos que podem ser obtidos com os seus investimentos.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 80


Outra característica comum ao perfil conservador
é a busca pela liquidez. Isto é, uma facilidade em
resgatar o dinheiro quando necessário. Isso repre-
senta a tranquilidade de não ter que se preocupar
com prazos de resgate. Ou seja, ativos que ofe-
reçam liquidez imediata ou diária são preferíveis
para essa classificação de investidor.

Há também uma relação lógica entre a idade e os objetivos financeiros. É bem


comum que pessoas mais velhas, com patrimônio já acumulado, apresentem
esse perfil. Nesta etapa da vida, queremos a proteção para manter um padrão
de vida — e não correr riscos.

No entanto, de um modo geral, o público brasileiro costuma apresentar essas


características. Em parte, talvez isso se deva ao histórico de altas taxas de juros
da renda fixa, que dispensavam a necessidade de riscos para ganhar dinheiro.

E quais são os investimentos que podem ser feitos para esse objetivo de segu-
rança? A maior parte do patrimônio (igual ou superior a 80% do capital) deve es-
tar em ativos pós-fixados, que acompanhem taxas de juros. É o caso do Tesouro
Selic ou de títulos como o Certificado de Depósito Bancário (CDB).

É recomendável também que uma parcela restante do dinheiro esteja ligada


a algum ativo de inflação para preservação do poder de compra. Um pequeno
montante (até 5% do valor total) pode ainda ser usado para diversificação em
renda fixa global ou até ações “seguras” e pagadoras de bons dividendos.

Veja um exemplo de carteira conservadora:

• Títulos pós-fixados: 85% do capital


• Títulos de inflação: 15% do capital
• Renda fixa internacional: 5% do capital

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 81


Perfil moderado

Passando para o perfil moderado, nós temos um tipo de investidor que já tem
um maior interesse no crescimento do seu dinheiro e costuma estar disposto a
incrementar o risco dos seus investimentos. Trata-se, portanto, de uma pessoa
que está no meio do caminho entre o conservador e o agressivo.

Também por esse motivo, há uma tendência de que esse investidor tenha um
pouco mais de experiência no mercado financeiro, ainda que não seja nenhum
especialista. O foco passa da segurança para uma flexibilidade, oferecendo uma
carteira de investimentos com mescla de proteção e rentabilidade.

Por outro lado, essa classificação de perfil também não abre totalmente mão da
sua segurança. Sendo assim, ainda existe uma boa presença de ativos seguros,
como os pós-fixados e a inflação que mencionamos anteriormente. O que muda
é a participação deles na carteira, com boa redução.

Isso acontece porque, para atingir os seus objetivos, o perfil moderado precisa
incluir novos ativos em seu portfólio em relação ao perfil conservador. Aqui, já
cabe a inclusão de alguns fundos de investimentos e até mesmo um pouco de
renda variável, desde que sem exagerar na exposição.

Vale lembrar que, embora mais aberto ao risco, o perfil de investidor moderado
ainda não está preparado para grandes oscilações patrimoniais.

Veja um exemplo de carteira de investimentos moderada:

• Títulos pós-fixados: 40% do capital


• Títulos de inflação: 10% do capital
• Fundos multimercados: 30% do capital
• Renda variável: 15% do capital
• Fundo internacional: 5% do capital

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 82


Perfil agressivo

Por fim, temos o perfil agressivo. Esse investidor tem a mentalidade oposta ao
perfil conservador. Isto é, ao invés de ter o seu foco em proteção patrimonial,
ele vai querer crescer o seu capital. Portanto, temos aqui um estilo amplamente
aberto a assumir riscos e com o objetivo de rentabilidade e ganho de capital.

Importante mencionar que, para atingir o seu objetivo, o investidor agressivo


precisará contar com uma boa dose dos seus investimentos em renda variável.
Desta forma, é vital que ele compreenda que as oscilações patrimoniais de curto
prazo são normais. A renda variável,
como o próprio nome indica, varia.

Esse estilo de investir exige também


um grande controle emocional para
suportar perdas. Em alguns momen-
tos, o patrimônio pode sofrer fortes
oscilações positivas (valorização) e
negativas (desvalorização). É preciso
entender que tudo isso pertence ao
contexto da renda variável e que o
foco está no longo prazo.

Podemos dizer, portanto, que essa estratégia tem por objetivo potencializar o
crescimento patrimonial. Assim, é comum em um público mais jovem com o
intuito de formar uma aposentadoria para o futuro. Como geralmente há uma
fonte de renda, o peso dos resultados desses investimentos é menor.

Por outro lado, não significa que todo dinheiro deva estar em ativos de risco,
pois a rotina oferece gastos e despesas. Assim, mais uma vez, a montagem de
uma reserva de emergência se faz necessária mesmo ao perfil agressivo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 83


Abaixo, deixei um exemplo genérico de carteira para o investidor agressivo:

• Títulos pós-fixados: 10% do capital


• Títulos de inflação: 10% do capital
• Fundos multimercados: 20% do capital
• Renda variável: 45% do capital
• Investimentos internacionais: 15% do capital

Observe, para finalizar este capítulo, como as classes de ativos se alternam de


acordo os objetivos e aceitação de risco de cada perfil de investidor. Além disso,
as carteiras desses investidores tendem a oferecer as características que eles
gostam em termos de segurança, liquidez e rentabilidade.

Uma vez que você tenha compreendido este aspecto, podemos passar a conver-
sar sobre os ativos existentes no mercado financeiro. É o que faremos a partir
do próximo capítulo, iniciando pela tradicional renda fixa — que vai muito além
da caderneta de poupança do seu banco.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 84


“Se investir é entretenimento, e
se você está se divertindo, então
provavelmente não está ganhando
dinheiro. O bom investimento é
chato."

George Soros

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 85


CAPÍTULO 5
RENDA FIXA

A renda fixa é uma das categorias de investimentos mais utilizadas pelos brasi-
leiros. A razão para isso é simples: por muito tempo, o Brasil praticou altas taxas
de juros, tornando essa classe de ativos muito atrativa para valorização patrimo-
nial.

Só que agora a situação mudou. O Brasil não traz o mesmo cenário de taxas de
juros elevadas, algo que obriga quem deseja crescer seu patrimônio a buscar
maior risco. Ao mesmo tempo, não significa que a renda fixa não tenha seu valor
para objetivos específicos.

Isso vale em especial para o investidor iniciante,


que ainda está aprendendo como rentabilizar o
seu dinheiro. Nesta categoria, afinal, estão al-
guns produtos bem seguros como a Caderneta O que é renda fixa?
de Poupança e o Tesouro Selic. Contudo, não
VER AULA
confunda renda fixa com segurança.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 86


O que é renda fixa?

A renda fixa é uma categoria de investimento que


oferece uma previsibilidade de rendimentos ao seu
investidor. Os títulos possuem rentabilidade atrelada
a um indexador ou prefixada.

Ao contrário do que pensam muitas pessoas, a renda fixa não é sinônimo de se-
gurança, mas sim para previsibilidade de caixa. Isto é, no momento em que você
investe, as condições de lucro já estão bem definidas.

Neste sentido, ela se difere da renda variável que não oferece essa previsibili-
dade sobre o seu comportamento. Uma ação, por exemplo, pode gerar lucros e
prejuízos a depender dos resultados dos próximos meses. Ou seja, é um investi-
mento mais incerto.

Portanto, a primeira coisa que você deve saber é que a renda fixa permite a pre-
visibilidade de caixa. Embora alguns ativos sejam, de fato, seguros, nem todos
funcionam dessa maneira. Em outras palavras, é preciso conhecer o produto
antes de investir caso o objetivo seja a segurança do seu dinheiro.

Como funciona a renda fixa?


A renda fixa funciona, basicamente, por meio da
emissão de títulos de dívida por parte de empresas,
de bancos ou até mesmo do governo. Como assim?
Simples: essas instituições podem precisar captar re-
cursos para suas atividades. São exemplos disso:

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 87


• Novos projetos que exigem investimentos, como abertura de filiais
• Atualização de infraestrutura com a criação de escolas, hospitais e estradas
• Pagamento de colaboradores ou fornecedores
• Reforço de caixa para eventualidades

Assim, para esses objetivos, elas emitem esses títulos de dívida. Na prática, eles
funcionam como uma espécie de “pedido de empréstimo”. Assim, os investido-
res podem “emprestar” o seu dinheiro para as instituições em troca de, futura-
mente, receber esse dinheiro de volta com acréscimo de juros acordados.

Em resumo, esse é o fluxo da renda fixa:

• Investidor “empresta” o seu dinheiro comprando um título de dívida;


• No título, o emissor compartilha dados como remuneração dos juros e a
data de vencimento (dia do pagamento);
• O emissor do título usa o dinheiro para suas atividades necessárias, en-
quanto o investidor aguarda;
• Na data de vencimento acordada, o emissor do título deve devolver o di-
nheiro do investidor com o acréscimo dos juros.

Como funciona a rentabilidade da renda fixa?

Para o pagamento dos seus investidores, os emissores dos títulos podem optar
por uma das três modalidades abaixo:

• Títulos prefixados: possuem a remuneração definida com antecedência.


Permite uma programação dos pagamentos de forma objetiva, pois não há
variação. Exemplo: 5,0% ao ano.
• Títulos pós-fixados: esse segundo grupo possui sempre uma remune-
ração atrelada a um indexador (geralmente um índice). Assim, de acordo
com a movimentação deste, a remuneração dos juros pode variar também.
Exemplo: 105% do CDI.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 88


• Títulos híbridos: por fim, os títulos híbridos são aqueles que mesclam os
dois formatos anteriores. Isto é, uma parcela prefixada e outra pós-fixada.
Exemplo: IPCA + 2,0%.

O que são os indexadores?

Como você deve ter percebido, os títulos de renda fixa pós-fixados ou híbridos
possuem a sua rentabilidade associada a um indicador econômico, acompa-
nhando assim o seu desempenho. Esses são justamente os famosos indexado-
res. Em suma, esses são os mais comuns nos investimentos de renda fixa:

• Certificado de Depósito Interbancário (CDI): por determinação do Banco


Central, nenhum banco pode encerrar o dia com caixa negativo. Assim, eles
fazem transações entre si para ajustar o balanço de saques e resgates. Essa
operação, que contém uma cobrança de juros, é chamada de Certificado
de Depósito Bancário. A média do custo desses empréstimos entre bancos
determina a Taxa CDI, um dos principais indexadores da renda fixa.
• Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC): o sistema SELIC fun-
ciona de maneira similar ao que vimos no CDI, mas aplicado aos títulos pú-
blicos (aqueles emitidos pelo governo). A Taxa Selic se origina deste sistema.
• Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA): o IPCA é um dos principais
indicadores de inflação, que é o aumento dos preços do mercado. Além de
indicar essa variação de precificação dos produtos e serviços brasileiros, o
índice é utilizado como referência para alguns investimentos de renda fixa.

Lembrando que, apesar de serem os principais indexadores, esses não são os


únicos. Antes de investir em um título pós-fixado é essencial entender qual é o
índice que ele utiliza para o cálculo da remuneração.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 89


Quais são os riscos da renda fixa?
Afinal, a renda fixa é segura? Não necessariamente! Há muita gente que, de
maneira equivocada, associa a renda fixa com segurança. O que é seguro, na
prática, é o ativo (e não a categoria).

Ou seja, a sua Caderneta de Poupança, o CDB de um grande banco (como Itaú


ou Bradesco) ou o Tesouro Selic são investimentos seguros. No entanto, o que
traz essa segurança são as suas próprias características. Um título de dívida de
uma empresa pequena, por outro lado, pode ser bem arriscado.

A categoria da renda fixa, portanto, também oferece seus riscos. Veja, logo abai-
xo, alguns deles:

• Risco de crédito: na data de vencimento, o emissor do título deve pagar


a remuneração acordada com o investidor. No entanto, nem sempre isso
acontece. Pode acontecer o popular “calote” e o dinheiro ser perdido. Quan-
to maior o porte da empresa, menor esse risco, mas ele sempre existe, hein!
• Risco de liquidez: a liquidez consiste na facilidade de resgatar o seu inves-
timento. Em alguns títulos, o resgate antecipado não é possível. E, ainda que
seja, pode ser necessário abrir mão de parte dos ganhos nessa situação.
• Risco de mercado: as condições do mercado também influenciam os re-
sultados. Se você investe em um título indexado à Taxa Selic e o Banco Cen-
tral reduz o seu valor, o investimento acaba perdendo rentabilidade.

Perceba que a renda fixa também tem seus riscos. Ou seja, é necessário ponde-
rar todo cenário econômico antes de tomar uma decisão de investimento. Aqui
você terá previsibilidade de caixa, mas a tranquilidade depende de uma série de
condições. E, se há segurança, também haverá menor rentabilidade.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 90


Quais são os principais tipos de
investimentos da renda fixa?
Agora que você domina o funcionamento da renda fixa, podemos falar de algu-
mas oportunidades para investimentos. Vale lembrar que a categoria permite
tanto o uso de ativos seguros (para deixar o dinheiro sem correr riscos), como
também títulos mais arriscados (oferecendo um potencial retorno mais atrativo).

A seguir, apresentamos brevemente os mais conhecidos títulos de renda fixa


que você pode utilizar para investir. Lembrando que a escolha deve levar em
conta uma série de fatores como perfil de investidor ou objetivos estratégicos.

Títulos públicos

O primeiro grupo é de títulos públicos que são


os ativos emitidos pelo governo. Por regra, são
seguros na medida em que o governo tem diver-
Títulos Públicos
sos recursos para pagar suas dívidas — incluin-
do a emissão de moeda, embora isso traga uma
VER AULA
série de impactos negativos para a economia.

No Brasil, existem três modalidades de títulos de renda fixa emitidos pelo go-
verno. Eles podem ser negociados por uma plataforma online, criada em 2002,
chamada de Tesouro Direto. Há também como comprá-los por meio da sua cor-
retora. São eles:

• Letra Financeira do Tesouro (LFT): popularmente chamado de Tesouro


Selic, é o título pós-fixado que acompanha a Taxa Selic. Assim, basicamente
você estaria investindo na taxa de juros brasileira. Como há esse acompa-
nhamento de taxa e o emissor é confiável, temos um ativo muito seguro.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 91


• Letra do Tesouro Nacional (LTN): é a versão prefixada dos títulos públi-
cos. Assim como outros ativos no formato, você define a sua remuneração
no ato do investimento. É ideal quando há expectativa de queda nas taxas
de juros, preservando a rentabilidade em relação ao Tesouro Selic. Quanto
mais longo o título, maior o risco do investimento.
• Notas do Tesouro Nacional (NTN): por fim, temos a NTN que é chamada
de Tesouro IPCA, justamente pela rentabilidade pós-fixada atrelada à infla-
ção. Aqui, o título oferece uma proteção contra o aumento dos preços na
medida em que vai acompanhar o principal indicador da categoria.

Lembrando que, apesar da segurança oferecida pelo governo brasileiro em re-


lação aos seus títulos, o risco de crédito nunca pode ser descartado. Neste con-
texto, podemos lembrar o que acontece com a Argentina, que se aproxima do
décimo calote em seus investidores. É uma situação, contudo, atípica.

Os títulos prefixados e atrelados ao IPCA oferecem maiores riscos também pela


incerteza. Isso porque as características são mais expostas aos cenários econô-
micos. Assim, caso você pretenda resgatar antes da data de vencimento, pode
ter de aceitar uma perda. No caso do Tesouro Selic, isso é mais raro.

Em geral, podemos elencar algumas vantagens e desvantagens gerais sobre os


títulos públicos, como destaquei abaixo. Contudo, importante mencionar que é
necessário dividir cada um deles em função dos riscos bem diferentes entre os
títulos mais seguros (Tesouro Selic) e aqueles mais voláteis (Tesouro IPCA).

Títulos bancários

O segundo grupo da renda fixa abriga os títulos bancários que, como o próprio
nome sugere, são os ativos emitidos pelos bancos e instituições financeiras.
Para esse tipo de organização, em que o dinheiro é o próprio serviço oferecido
ao mercado, a captação de recursos é essencial.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 92


O risco desses ativos está diretamente associado
com o emissor. Em outras palavras, títulos do
Itaú, do Santander, do Bradesco ou do Banco do
Brasil são extremamente confiáveis. No entanto, Títulos Bancários
conforme o porte da instituição bancária reduz,
VER AULA
esses riscos aumentam. A depender do cenário,
você deve exigir uma melhor rentabilidade.

Um ponto importante sobre esse grupo de títulos é que eles são protegidos pelo
Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma entidade privada mantida pelos pró-
prios bancos para remuneração do investidor em caso de calote da instituição
financeira. Ou seja, é uma forma de aumentar a segurança dos títulos.

O que é o FGC?

O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) é uma instituição


privada mantida pelos bancos para cobertura de
inadimplência. É uma forma de aumentar a segurança
dos títulos bancários para os investidores.

Em suma, esses são os principais títulos bancários nos quais você pode investir:

• Certificado de Depósito Bancário (CDB): é o formato de empréstimo


invertido (é o investidor quem empresta dinheiro ao banco). Possui carac-
terísticas como liquidez diária e prazo de vencimento (embora seja possível
vender o título antes do prazo). Devem pagar mais do que o Tesouro Selic,
uma vez que o risco bancário é, geralmente, maior do que o do governo.
• Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): esse é um ativo similar ao CDB,
mas com obrigatoriedade de que o dinheiro seja empregado no agronegó-
cio. Há isenção do Imposto de Renda como forma de incentivar os investi-
mentos na categoria.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 93


• Letra de Crédito Imobiliária (LCI): tem exatamente o mesmo funciona-
mento da LCA, mas aplicável ao mercado imobiliário.
• Caderneta de Poupança: longe de ser um bom investimento atualmen-
te, ainda é muito usada pelos brasileiros pela facilidade de resgate. Com as
novas regras aprovadas em 2012, tornou-se uma péssima opção, perdendo
em rentabilidade para quase todos os ativos.

Como escolher um título bancário?

Uma dica importante ao analisar os títulos bancários é observar as rentabilida-


des líquidas (isto é, descontando o Imposto de Renda). Isso porque, como vimos,
LCA e LCI não oferecem essa tributação, enquanto que o CDB sim.

Suponha, por exemplo, que você tenha dois títulos


para definir um investimento. As rentabilidades ofe-
recidas seriam as seguintes:

• CDB: 121% do CDI


• LCI: 105% do CDI

Em qual deles você investiria?

A princípio, pode parecer que o CDB é mais atrativo, afinal, oferece maior retor-
no. No entanto, é preciso descontar o Imposto de Renda. Suponha ainda um CDI
de 5% ao ano no momento deste cálculo. Vamos conferir os resultados?

• CDB: 121% x 5,0% = 6,05% x (1 – 20%) = 4,84%


• LCI: 105% x 5,0% = 5,25%

Veja, portanto, que há um resultado melhor na rentabilidade do LCI, mesmo que


aparentemente ela seja menor. O investidor que não se atenta para esse deta-
lhe pode acabar tomando uma má decisão.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 94


Gráfico 19 • Análise de Rentabilidade

Títulos privados

Por fim, temos os títulos privados, aqueles emiti-


dos por companhias privadas (as empresas que
não sejam governamentais ou bancárias). De um
modo geral, esse é o grupo de maior risco den- Títulos Privados

tro da renda fixa já que não possui a proteção


VER AULA
do FGC, tampouco a estrutura do governo.

Por outro lado, a rentabilidade maior costuma compensar. É bem comum que
os títulos privados ofereçam taxas de juros acima dos títulos bancários e dos
títulos públicos, ao menos em condições de risco similares.

E quais seriam os principais tipos de títulos privados? Eles estão listados abaixo:

• Debêntures: são os títulos mais comuns, mas pode apresentar variações


no seu formato. Existem as debêntures simples (regras definidas pelo títu-
lo), debêntures conversíveis (podem ser convertidas em ações da empresa
emissora) e debêntures incentivadas (exclusivas para negócios de infraes-
trutura, oferecendo isenção do Imposto de Renda), por exemplo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 95


• Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA): é um formato similar a
LCA, com a diferença de que a oferta é feita diretamente pelo mercado pri-
vado por uma securitizadora (e não por um banco). Essa empresa converte
fluxos de pagamento em dívidas ao mercado para o setor do agronegócio.
• Certificado de Recebível Imobiliário (CRI): o modelo é similar ao CRA,
mas aplicado ao mercado imobiliário. Permite que as construtoras anteci-
pem seus recebíveis para novos projetos, sem esperar os pagamentos par-
celados da venda dos seus imóveis.

Como funciona a tributação?


Por fim, não podemos nos esquecer de falar sobre os impostos cobrados sobre
os lucros obtidos com a renda fixa. Basicamente, são dois com os quais deve-
mos nos preocupar:

• Imposto sobre Operações Financeiras (IOF): é um imposto cobrado nos


primeiros 30 dias, iniciando em 96% sobre o lucro e reduzindo progressiva-
mente. A partir do 31º dia do investimento você está livre dessa cobrança,
mas atente-se a esse prazo antes de resgatar o dinheiro logo no começo.
• Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF): é o nosso famoso Imposto de
Renda, que se utiliza da tabela regressiva na cobrança sobre os lucros da
pessoa física. Inicia em 22,5% até 180 dias e pode reduzir a tributação até
15% após 720 dias.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 96


“Investir deve ser mais como ver a
tinta secar ou assistir a grama
crescer. Se você quer adrenalina,
pegue $800 e vá para Las Vegas."

Paul Samuelson

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 97


CAPÍTULO 6
FUNDOS DE
INVESTIMENTOS

Os fundos de investimentos estão entre os produtos financeiros favoritos dos


investidores iniciantes. Motivos para isso não faltam. Estamos falando, afinal, de
uma categoria que oferece inúmeras facilidades para aqueles que não são espe-
cialistas do mercado financeiro, mas querem ver o dinheiro valorizar.

Ao mesmo tempo, existem cuidados importantes a serem tomados antes de um


aporte financeiro. É necessário saber escolher qual o melhor fundo para o seu
objetivo. E, vale mencionar, existem inúmeros deles, com estratégias distintas.

O que são fundos de investimentos?


Quem já estudou um pouco sobre o mercado financeiro muito provavelmente já
escutou aquela clássica comparação entre os fundos de investimentos e os con-
domínios. Pois bem, também vamos usá-la aqui, pois se trata de uma analogia
simples, mas extremamente eficaz para compreender o produto.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 98


Imagine que você seja proprietário de um apar-
tamento. Como morador, terá obrigações entre
as quais está o pagamento da sua mensalidade
Fundos de Investimento
condominial. Ela é um rateio entre os condômi-
nos para a divisão de serviços de interesse co-
VER AULA
mum como segurança ou limpeza, por exemplo.

Nos fundos de investimentos, a lógica é a mesma. Aqui, você pode investir o seu
capital em conjunto com outras pessoas, cada qual com a sua participação nos
lucros proporcional ao dinheiro investido. Cada pedaço do fundo é chamado de
cota (e os investidores são os cotistas).

Além disso, o dinheiro será gerenciado por uma equipe profissional de investi-
dores. Essa equipe deve ser remunerada pelos seus serviços, algo que acontece
por meio da cobrança de uma taxa de administração.

Para que os conceitos técnicos que acabei de te apresentar fiquem mais fáceis
de assimilar, vamos então retomar a nossa analogia condominial para os fundos
de investimentos.

• Os “moradores” de um fundo de investimentos são chamados de cotistas.


• O seu apartamento é a propriedade. Nos fundos de investimentos, as suas
posses são representadas por cotas.
• Para o trabalho da gestão, há o pagamento de uma taxa de administra-
ção, assim como você pagaria a taxa condominial.
• A administradora do condomínio é a responsável por gerenciar todo di-
nheiro e os pagamentos dos serviços. No ambiente dos fundos, essa função
é do time de gestão.
• Por fim, temos as atividades do condomínio que se convertem em benefí-
cios aos moradores. Nos fundos de investimentos, esse benefício comum é
o lucro gerado.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 99


O que são fundos de investimentos?

Os fundos de investimentos são condomínios de


investidores, que se reúnem para acumular capital.
O dinheiro é administrado por uma empresa
especializada, contando com um time de analistas.

Vale destacar que a estrutura dos fundos de investimentos é bem mais com-
plexa do que uma simples relação entre investidor e gestora. Existem diversos
participantes como o administrador (responsável pela burocracia rotineiro do
fundo), o custodiante (quem faz a guarda dos ativos) ou o distribuidor (quem faz
a intermediação entre os investidores e o produto, como as corretoras).

Quais são as vantagens dos fundos de


investimentos?
Como mencionei no começo deste capítulo, existem algumas vantagens bem
atrativas para o investidor iniciante ao usar dos fundos de investimentos. A
maior delas, claro, é justamente contar com um gestor profissional. Desta forma,
você pode “terceirizar” a tomada de decisão sobre o seu dinheiro para um time
de analistas com amplo conhecimento técnico.

Além disso, esse formato de investimento oferece maior tranquilidade. Como


você terá um time de gestão cuidando do seu dinheiro, não há necessidade de
um acompanhamento tão próximo dos ativos.

Esse, aliás, é outro benefício: na maioria das vezes, com um único investimento,
você terá seu capital distribuído em diversos produtos financeiros. A diversifica-
ção, portanto, é praticamente automática.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 100


Por fim, outro ponto que costuma agra-
dar os pequenos investidores é a aces-
sibilidade da categoria. É claro que exis-
tem fundos selecionados para grandes
investidores cujo investimento inicial é
elevado. No entanto, hoje em dia temos
diversos produtos que aceitam cotistas a
partir de R$100. Portanto, ainda que você
tenha pouco dinheiro para investir, não
será difícil começar a acessar essa classe
de ativo com um pouco de organização.

Quais são as desvantagens dos


fundos de investimentos?
Da mesma forma que vários pontos positivos foram destacados, nenhum for-
mato de investimento é livre dos seus pontos negativos. Não é diferente para os
fundos de investimentos, a começar pelos seus custos.

Como já mencionamos, ter acesso a um time de gestão tem seu preço: a taxa
de administração, cobrada geralmente como um percentual para a realização
de todo serviço profissional oferecido. Além disso, em alguns casos você pode
ter que pagar uma taxa de performance também, que é um adicional sobre um
resultado que supere a referência do fundo (benchmark).

Um ponto importante sobre a taxa de performance é que ela não é, necessaria-


mente, ruim. Trata-se de um prêmio adicional para o gestor do fundo caso ele
ofereça resultados acima da expectativa. Nada mais justo do que dividir a re-
compensa, concorda? Ademais, esse tipo de cobrança funciona como uma espé-
cie de estímulo adicional.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 101


Outro ponto de atenção sobre os fundos de investimentos está na baixa per-
sonalização. Se por um lado a gestão oferece tranquilidade para que você não
precise acompanhar de perto os ativos selecionados, por outro você não tem
como sugerir compras e vendas. Portanto, conforme você adquirir experiência,
essa será uma limitação da categoria.

Não podemos esquecer ainda dos riscos dos fundos de investimentos, como o
risco de crédito (o popular “calote” de títulos investidos pelo time de gestão), o
risco de mercado (variação do preço dos ativos em função do cenário econômi-
co) ou o risco de liquidez (prazo para que um resgate volte para sua conta).

Quais são os tipos de fundos de


investimentos?
Engana-se quem pensa que colocar dinheiro em
fundos de investimentos é sinônimo de entregar
o seu capital para que os gestores façam o que
bem entender. Todo fundo possui um regula- Estratégias dos fundos
mento, que é o seu documento oficial com nor-
mas e diretrizes do que os profissionais podem VER AULA
ou não fazer no mercado financeiro.

Ademais, é importante mencionar que a categoria é muito fiscalizada por entida-


des competentes. É o caso da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais) e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

No entanto, sabendo disso, em qual tipo de fundo de investimento é melhor in-


vestir? Tudo depende de qual é o seu objetivo enquanto investidor. A seguir, vou
mencionar brevemente as principais estratégias dos fundos de investimentos.
Para facilitar a compreensão, agrupei por categoria. Vamos lá!

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 102


Renda fixa

Nesta altura do campeonato, imagino que você já esteja craque em investimen-


tos de renda fixa. Esses são aqueles ativos que oferecem uma previsibilidade
de rendimentos aos investidores. Na maior parte das vezes, trazem maior segu-
rança ao investidor. No entanto, não é uma regra: também existem produtos de
renda fixa com alto risco.

Nesta categoria, os gestores são obrigados a utilizar ao menos 95% do patrimô-


nio em ativos de renda fixa. Ainda assim, eles podem variar suas estratégias
em busca da relação entre segurança e rentabilidade. Veja alguns exemplos:

• Juros: como o nome já sugere, são títulos cuja remuneração está atrelada
às taxas de juros. É o caso do Tesouro Selic (LFT), um ativo que acompanha
a remuneração da Taxa Selic. Oferece boa segurança ao investidor já que
segue as oscilações dos juros do Brasil.
• Inflação: da mesma forma, uma estratégia de inflação buscará títulos com
rentabilidade indexada aos indicadores de inflação, como IPCA ou IGP-M. É
uma boa forma de proteger o poder de compra do investidor, mas oferece
maior risco em relação aos ativos atrelados aos juros.
• Crédito Privado: para pessoas mais arrojadas, os fundos de crédito pri-
vado buscam trabalhar com títulos de companhias privadas. É necessário
que ao menos metade do patrimônio esteja neste grupo de ativo. O risco do
fundo depende diretamente do perfil das empresas selecionadas.

Multimercado

O segundo grande grupo de fundos de investimentos é aquele em que não há


uma classe de ativo definida para os investimentos. Nesta classificação, os gesto-
res possuem liberdade para trabalhar com os produtos que julgarem como mais
atrativos para o momento econômico.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 103


Essa liberdade é, em tese, positiva pensando na rentabilidade. Se o governo
eleva as taxas de juros, por exemplo, os fundos podem investir em renda fixa.
Quando os juros perdem atratividade, a renda variável pode ser utilizada tam-
bém. Por outro lado, há maior dificuldade para que o investidor acompanhe
onde está o seu dinheiro.

Ainda assim, existem algumas estratégias de fundos multimercados que ajudam


a direcionar os nossos investimentos. São elas:

• Macro: os investimentos são definidos levando em consideração o cenário


macroeconômico. Uso de indicadores como desemprego, inflação e a pró-
pria taxa de juros.
• Long & Short: focada no mercado acionário, a estratégia consiste em com-
prar (Long) ou vender (Short) ações e praticar arbitragem. Possui risco de
renda variável.
• Trading: outra estratégia para ações, consiste em operações de curtíssimo
prazo aproveitando a volatilidade do mercado financeiro.
• Juros e moedas: outro nome intuitivo, a estratégia baseia-se na negocia-
ção de ativos relacionados com taxas de juros ou ao câmbio internacional
(dólar ou euro, por exemplo).
• Livre: por fim, a estratégia livre concede total autonomia para o gestor,
sem qualquer restrição sobre os ativos.

Ações

Os fundos de ações estão entre os mais arriscados do mercado financeiro, exi-


gindo que seus investidores ofereçam um perfil mais agressivo. É preciso, afinal,
compreender as oscilações naturais do mercado e lidar com tranquilidade quan-
do aparecerem os resultados negativos.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 104


Vale observar que, nesta classificação, a gestão precisa ter ao menos 67% do pa-
trimônio do fundo alocado no mercado acionário. Assim, as estratégias são
semelhantes ao que já vimos nos fundos multimercados. É possível trabalhar
comprando e vendendo ações com diferentes focos.

Para quem ainda não está habituado com o risco da renda variável, o ideal é
começar por fundos Long Only. Eles podem operar apenas comprados, o que re-
duz o risco. Outra dica importante é verificar se o fundo pode atuar alavancado
(com mais dinheiro do que possui em seu patrimônio), algo que eleva o risco.

Os fundos de ações também podem funcionar indexados a um índice (como o


Ibovespa ou o S&P500, principal indicador de ações dos Estados Unidos). É um
investimento mais passivo, porém oferece um pacote bem diversificado de ati-
vos, acompanhando o mercado como um todo.

Fundos de investimentos cambiais

Por fim, temos ainda os fundos cambiais que,


claro, utilizam de moedas estrangeiras em seus
investimentos. É necessário que ao menos 80%
do patrimônio seja utilizado neste mercado.
Não há tanta variação de oportunidades aqui
como nas demais modalidades de fundos.

Como é a tributação dos fundos?


Os fundos de investimentos não estão isentos de tributação. Em primeiro lugar,
como acontece com outros ativos, há cobrança de IOF (Imposto sobre Opera-
ções Financeiras) ao longo dos primeiros trinta dias do investimento. Após o
primeiro mês, esse imposto não se aplica.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 105


Além disso, temos a cobrança do tradicional Imposto de Renda. Ela se aplica de
modos diferentes a depender da tipologia do fundo:

• Fundo de ações: a cobrança é de 15% sobre os lucros gerados no ato de


um resgate. A tributação ocorre na fonte.
• Demais fundos: nos demais casos, a aplicação do Imposto de Renda se-
gue a tabela regressiva. Em fundos de curto prazo, aplicam-se apenas os
dois primeiros níveis (22,5% e 20,0%). A tributação pode descer para 17,5% e
15,0% nos fundos de longo prazo, assim como ocorre na renda fixa.

Outro ponto importante é que a tributação dos fundos de investimentos ocorre


de maneira antecipada. Semestralmente, em maio e novembro, a cobrança é
aplicada. Esse formato ganha o nome de come-cotas, justamente porque ele re-
duz a posição dos cotistas no fundo. Fundos de ações não possuem come-cotas.

Como analisar fundos para investir?


Agora você já conhece os fundos de investimen-
tos e as suas principais estratégias. No entanto,
seguimos com um clássico problema: como es-
colher um ativo para investir? No meio de tantas Como analisar fundos?

opções, é realmente difícil encontrar as melho-


VER AULA
res oportunidades.

A melhor forma de escolher um fundo é por meio de uma série de critérios. Eles
têm por objetivo criar alguns filtros para que você selecione aqueles produtos
que possuem maior aderência ao seu perfil e, ao mesmo tempo, ofereçam um
retorno potencial atrativo.

Ao longo das próximas páginas, listei alguns filtros e indicadores que podem
facilitar a sua busca por um fundo ideal para o seu objetivo financeiro.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 106


“Oportunidades são perdidas pela
maioria das pessoas porque elas
vêm vestidas de forma comum e
parecem com trabalho."

Thomas Edison

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 107


Tipo de fundo

Quando passamos pelos tipos de fundos de investimentos, você já deve ter visto
como a variedade é ampla. E as estratégias precisam conversar com o seu perfil
de investidor, assim como os seus objetivos financeiros.

Se você é daqueles que possui pavor só de pensar em perder dinheiro, não faz
nenhum sentido investir em um fundo de renda variável. Da mesma forma, colo-
car todo dinheiro em um fundo de renda fixa que investe no Tesouro Selic será
frustrante para quem busca rentabilidade.

Desta forma, comece filtrando pelo tipo do fundo que você deseja buscar.

Custos e taxas

Os valores cobrados pela gestão dos fundos de investimentos é outro fator a ser
monitorado. É preciso que exista um diálogo entre a cobrança e o trabalho ofe-
recido. Novamente, o ideal é olhar para o próprio mercado.

Fundos de ações, por exemplo, costumam praticar uma taxa de administração


de 2% ao ano e uma taxa de performance de 20% ao ano. Se um fundo cobrar
acima dessa média, não significa que ele seja ruim. Mas é necessário que os re-
sultados superem a média também.

O entendimento do tipo de gestão que é oferecida ajuda a avaliar as taxas:

• Gestão ativa: são fundos que buscam superar o seu benchmark. É normal
que sejam mais caros, pois exigem maior atuação dos gestores.
• Gestão passiva: é um formato de fundo que busca apenas replicar um
índice. O trabalho é “copiar” o benchmark, então são mais baratos.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 108


Gestora do fundo

Faça uma análise qualitativa sobre a gestora que oferece o produto. Aqui, exis-
tem diversas ações que podem ser realizadas para esse objetivo. Veja alguns
exemplos:

• Avalie o histórico de resultados do time de gestão do fundo, em especial


sobre rentabilidade de longo prazo.
• Visite o site oficial e veja a relevância que é dada ao fundo em questão. O
ideal é que seja um dos destaques da empresa.
• Leia os documentos oficiais como regulamento e a lâmina do fundo para
compreensão da estratégia e dos ativos utilizados.

Indicadores para fundos de investimentos

A análise de um fundo de in-


vestimento não termina com as
observações sobre as suas ca-
racterísticas gerais. Muito pelo
contrário: essa é apenas uma
avaliação inicial que pode servir
como filtro para você selecionar
alguns fundos de investimentos.

A partir disso e garantindo que eles pertençam a uma mesma categoria, você
pode utilizar de alguns indicadores para encontrar a melhor oportunidade. Eles
podem ser acessados e comparados facilmente por ferramentas especializadas.
Particularmente, eu recomendo o comparador de fundos do Mais Retorno.

Nas próximas páginas, vou usar alguns gráficos dessa ferramenta. Caso queira
conhecer, basta clicar no link anterior. Aproveite, pois é gratuita.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 109


1. Rentabilidade

O primeiro filtro que costuma ser aplicado na seleção de investimentos é o de


rentabilidade. Isto é, qual é o ganho percentual que a gestão entregou aos seus
cotistas para cada real investido. Esse é um indicador natural na medida em que
demonstra os resultados do fundo.

No entanto, algumas ressalvas precisam ser feitas:

• Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.


• Altos retornos são gerados por altos riscos assumidos. Entenda o que faz a
gestão antes de investir.
• Jamais olhe para uma taxa mensal isolada. Avalie o histórico apresentado
pelo ativo, preferencialmente em prazos superiores a doze meses.
• Cuidado com ganhos muito rápidos. Alguns fundos fazem apostas arrisca-
das no seu começo em busca de um destaque para os investidores.
• Sempre compare taxas de rentabilidade para fundos semelhantes. Não faz
sentido comparar um fundo de ação com um fundo de renda fixa em juros.

Uma dica aqui é você usar da análise relativa, isto é, um comparativo entre a
rentabilidade de um fundo e um benchmark do setor (como CDI, Ibovespa, IPCA,
entre outros). Será que o fundo gera ganhos consistentes acima do seu merca-
do? É uma maneira mais justa de avaliar os resultados oferecidos.

Para que esse capítulo fique mais prático, vamos usar um comparativo real en-
tre fundos de debêntures incentivadas:

• Journey Capital Endurance Debêntures Incentivadas FIRF CP


• XP Debêntures Incentivadas CP FIC FIM
• Brasil Plural Debêntures Incentivadas 45 CP FIC FIM
• Inter Selection Debêntures Incentivadas FIC RF CP

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 110


Veja a seguir um exemplo de gráfico de rentabilidade de dois deles em relação
ao CDI, que é o benchmark adequado para fundos de renda fixa. A imagem foi
retirada deste comparativo no site do Mais Retorno.

Gráfico 20 • Rentabilidade dos fundos

Quando olhamos para esses dados, podemos ver que o fundo da Journey se-
quer supera o CDI no longo prazo. Assim, um olhar muito curto pode levar a
conclusões precipitadas. Precisamos incluir outros fatores na nossa análise para
entender os motivos pelos quais essa rentabilidade é tão ruim em um horizonte
temporal mais extenso.

Naturalmente que o ideal é que os resultados sejam positivos. Contudo, a ren-


tabilidade diz muito pouco sobre o fundo. É por isso que precisamos seguir com
os nossos filtros antes de tomar uma decisão.

2. Volatilidade

Um segundo indicador para melhorar a nossa análise é a volatilidade de um


fundo de investimentos. Aqui, podemos compreender as oscilações sobre as co-
tas ou, em outras palavras, qual é a intensidade pela qual o seu capital pode se
valorizar ou desvalorizar.

De um modo objetivo, a volatilidade indica o risco do fundo. Isto é, alta volatili-


dade representa risco maior, assim como baixa volatilidade oferece menor risco.
É importante também acompanhar a evolução do indicador, visto que os fundos
podem mudar o seu perfil ao longo do tempo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 111


Veja abaixo como, embora tenha um melhor resultado ao longo do tempo, o
fundo da XP tem maior volatilidade. Ou seja, é preciso de um perfil mais aderen-
te ao risco para não se assustar com as oscilações de curto prazo, pois perdas
podem ocorrer.

Gráfico 21 • Volatilidade dos fundos

Por regra, você pode considerar esse indicador da seguinte maneira:

• Fundo conservador (baixo risco): entre 0% e 2% de volatilidade.


• Fundo moderado (médio risco): entre 2% e 7% de volatilidade.
• Fundo agressivo (alto risco): acima de 10% de volatilidade.

3. Gráfico de Drawdown

Intimamente ligado com a volatilidade, você tem


a possibilidade de acompanhar o Gráfico de
Drawdown de um fundo. Essa ferramenta mos-
tra o prejuízo máximo acumulado de um ativo
ao longo do tempo. Assim, é possível ter uma
melhor leitura sobre o seu perfil de investidor e o
risco oferecido pelo produto.

Basicamente, o Gráfico de Drawdown oferece três informações essenciais ao


investidor:

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 112


• Qual o máximo de perdas que o fundo já apresentou em seus resultados.
• Qual é o tempo que ele leva para se recuperar de um grande prejuízo.
• Com qual frequência as quedas e prejuízos aparecem para os cotistas.

No gráfico abaixo, mantendo os dois fundos em comparação, temos um cenário


parecido. Ambos chegam a oferecer entre 6% e 7% nos piores momentos. Você
suporta esse tipo de desvalorização do capital sem problemas? Então talvez seja
um fundo aderente ao seu perfil. Observe ainda que o fundo da XP também re-
cuperou suas piores perdas mais rapidamente.

Gráfico 22 • Gráfico de Drawdown

4. Índice de Sharpe

Outra ferramenta útil da análise de fundos de investimentos é o Índice de Shar-


pe. Ele é uma forma matemática de compreender a clássica relação entre risco e
retorno de um ativo. Em suma, representa se o retorno compensa o risco ofere-
cido pela estratégia.

Aqui, quanto maior o resultado, melhor. Novamente, contudo, recomendo que


você acompanhe o histórico e tome cuidado para não deixar que apenas o mo-
mento defina a qualidade do ativo. É preciso considerar outros fatores também.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 113


Gráfico 23 • Índice de Sharpe

Com essas ferramentas que aprendemos e sabendo o seu objetivo como inves-
tidor, estou certo de que você encontrará boas oportunidades para escolher os
melhores fundos para os seus aportes.

Ainda assim, siga sempre acompanhando o mercado, pois novos cenários po-
dem trazer desafios adicionais. E, como sempre, não se esqueça de diversificar.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 114


“O pessimista vê dificuldade em
toda oportunidade. O otimista vê
oportunidade em toda dificuldade."

Winston Churchill

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 115


CAPÍTULO 7
FUNDOS
IMOBILIÁRIOS

Os fundos imobiliários (FII) estão entre os investimentos que mais recebem in-
vestidores brasileiros. É o que mostram os números da categoria, em especial
durante 2019, quando o número de pessoas que investem na modalidade mais
do que dobrou.

Em parte, esse crescimento até demorou para acontecer considerando que, his-
toricamente, há uma grande defesa de investimentos em imóveis no nosso país.
E, se você pensa que o setor não é acessível para a sua realidade financeira eu
tenho uma boa notícia: os fundos de investimentos imobiliários permitem que
você, com pouco dinheiro, esteja exposto aos melhores imóveis do país.

Isso mesmo que você acabou de ler! Esse tipo de investimento é extremamente
acessível e populariza o mercado de imóveis do país. É justamente sobre o que
nós vamos conversar neste capítulo, entendendo a dinâmica dessa categoria,
além das principais tipologias de fundos e, claro, como você pode analisar os FIIs
para os seus próprios investimentos. Vamos lá!

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 116


O que são os fundos imobiliários?
Os fundos imobiliários pertencem ao universo
dos fundos de investimentos. Isto é, os inves-
tidores destinam o seu dinheiro a um time de
analistas especializado para a tomada de deci- O que são os FIIs?

são em relação ao seu capital. A lógica geral é a


VER AULA
mesma que aprendemos no módulo anterior.

O que são fundos imobiliários?

Os fundos imobiliários são um formato específico de


fundo que atuam no setor imobilário. Podem investir
tanto em imóveis reais, como em papéis do segmento.

No entanto, existem algumas diferenças em relação aos fundos de investimen-


tos tradicionais. Uma delas é justamente o seu formato de atuação: os ativos
são, necessariamente, relacionados ao setor imobiliário. Além disso, os FIIs são
negociados na Bolsa de Valores, assim como as ações.

Outro ponto muito importante é que os fundos imobiliários devem, mensalmen-


te, compartilhar com seus cotistas ao menos 95% do lucro apurado. Ou seja, é
um formato em que há geração de fluxo de caixa mensal.

Em outras palavras, podemos dizer que se converte em uma boa porta de en-
trada na renda variável para quem ainda não usa da categoria. Afinal, embora
seja negociado na Bolsa de Valores, há uma certa previsibilidade de caixa que se
torna próxima da renda fixa. Vamos discutir um pouco mais sobre isso.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 117


Renda fixa ou renda variável?

Embora existam muitos comentários acerca da proximidade com a renda fixa


em função da distribuição mensal de rendimentos, os fundos imobiliários pos-
suem cotas negociadas na Bolsa de Valores. Isso representa, entre outros fato-
res, que a precificação delas varia de acordo com o “humor” dos investidores.

É importante esclarecer este ponto para que você não se empolgue com a cate-
goria e se exponha mais do que deveria em um produto de renda variável. Por
mais que os rendimentos representem sim um fluxo de caixa mensal (muitas ve-
zes com certa previsibilidade dos recebimentos), o seu investimento pode sofrer
com as oscilações de precificação e, inclusive, gerar prejuízo.

Veja, logo abaixo, um exemplo de precificação das cotas do XP Malls FII


(XPML11), um fundo de investimentos de shopping center, durante o ano de
2021. Se você comprasse cotas em 7 de janeiro, teria um prejuízo de 4,31%, ain-
da que o fundo pague seus rendimentos ao longo deste período.

Gráfico 24 • Cotas de FIIs

É claro que, assim como qualquer investimento, esse prejuízo é “teórico”. Ou


seja, você não perdeu esse dinheiro até que realize a venda do ativo. Contudo, é
importante compreender o cenário. Isso porque, caso precise do dinheiro, pode-
rá se ver obrigado a resgatar o investimento com prejuízo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 118


Quais são as vantagens dos fundos
imobiliários?
Pessoalmente, entendo que existem inúmeras vantagens de investir nos fundos
imobiliários. A maior delas é a acessibilidade ao setor imobiliário. Como sabe-
mos, a aquisição de imóveis é uma exclusividade de uma parcela restrita da
nossa população. O motivo? Os altos custos de aquisição.

Os FIIs modificam totalmente esse


cenário. A maioria dos fundos pos-
suem cotas na faixa de R$100. Isso
significa que, com um dinheiro infi-
nitamente menor, nós conseguimos
nos posicionar em excelentes imó-
veis e explorar a renda gerada por
eles.

Outro ponto relevante é a liquidez.


Se você tem um apartamento e
resolve vendê-lo, muito provavelmente terá alguma dificuldade no processo. No
caso dos FIIs, contudo, diariamente existem milhares de investidores negocian-
do suas cotas.

Por fim, podemos mencionar ainda algumas vantagens interessantes da catego-


ria de fundos de investimentos como um todo: a gestão profissional oferecida e
uma grande facilidade de diversificar investimentos — veremos que os fundos
imobiliários oferecem diversas classificações aos investidores.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 119


Quais são as desvantagens dos
fundos imobiliários?
Todo investimentos tem seus prós, mas também tem seus contras. Não é dife-
rente para os FIIs: existem riscos que devem ser monitorados pelo investidor. O
primeiro deles, como já adiantei, é a variação de preço das cotas. Por se tratar
de um produto de renda variável, as oscilações de valor serão constantes.

Além disso, existem os riscos comuns ao mercado de investimentos como risco


de crédito, risco de liquidez, risco de mercado e, no caso de imóveis físicos, ain-
da questões regulatórias, de apropriação ou mesmo de acidentes.

É necessário ainda ficar de olho em possíveis conflitos de interesses. Gestores


podem ser também inquilinos dos seus imóveis. Não é, necessariamente, ruim.
No entanto, é mais uma questão para o investidor ficar de olho.

Quais são os custos dos FIIs?


Já vimos que o preço das cotas dos fundos imobiliários é bastante acessível para
diversos níveis de investidores. Mas quais são os custos que precisamos aceitar
na hora dos investimentos na categoria? Abaixo, listei os principais.

• Taxa de Administração: é uma parcela dos rendimentos que é paga para


a gestão do fundo pelo trabalho realizado. Geralmente é calculada em fun-
ção do valor de mercado do FII, mas pode variar.
• Taxa de Performance: todo fundo de investimentos possui um indicador
de referência (benchmark) para monitorar resultados. Se os lucros forem
muito acima do projetado, a gestão pode cobrar uma taxa adicional de per-
formance. Como só é cobrada em casos de ótimos resultados, podemos
encará-la como um incentivo ao time de gestão.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 120


• Custo de Corretagem: cada vez mais rara, essa taxa se refere a uma co-
brança da corretora para cada ordem de compra ou venda dos FIIs. Boa par-
te das empresas já isenta o investidor desta taxa hoje em dia.
• Custo com Emolumentos: esse é o nome das taxas cobradas pela Bolsa
de Valores (B3) pela realização do serviço e pela liquidação dos ativos. É um
custo bem reduzido (na média, próximo a 0,03% ao ano), mas em que não
há isenção. O investidor pode verificar os valores nas notas de corretagem.

Quais são as principais estratégias?


Apesar de todos os fundos imobiliários pertencerem a um mesmo setor, existem
diferentes estratégias que podem ser oferecidas aos cotistas. É muito importan-
te que você as entenda para investir com segurança e ciente dos riscos.

• Geração de renda: são fundos de investimentos que compram imóveis


físicos para gerar renda por meio da cobrança de aluguel. Os ativos podem
ser shoppings, escritórios, hospitais, universidades, hotéis, galpões logísti-
cos, entre outros. São chamados de fundos de tijolo.
• Títulos Mobiliários: neste grupo, os fundos de investimentos passam a
usar de títulos associados ao setor imobiliário. É o caso das Letras de Crédi-
to Imobiliário (LCI) ou dos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI). São
chamados de fundos de papel.
• Desenvolvimento: em alguns casos, os FIIs podem trabalhar com o desen-
volvimento de imóveis físicos. Esse é o nome dado ao processo de construir
o próprio imóvel e, posteriormente, utilizá-lo para gerar renda via locações
ou mesmo vendê-lo. Pela maior incerteza do uso do ativo durante a constru-
ção, o risco é maior nesta categoria.
• Fundos de fundos (FOF): por fim, essa é uma categoria de fundo imobili-
ário que investe em outros FIIs. Portanto, o trabalho da gestão é selecionar
os ativos da categoria que oferecem boas oportunidades. Permite uma fácil
diversificação ao investidor.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 121


Os tipos de fundos imobiliários
Um aspecto muito bacana do mercado de fundos imobiliários está na sua tipo-
logia. Existem, afinal, diversas categorias de FIIs nas quais podemos investir. E
cada segmento possui as suas próprias características. Neste tópico, portanto,
vou apresentar brevemente as classificações mais comuns e o que você deve se
atentar em cada uma delas.

Fundos de tijolo

O primeiro grande grupo de fundos imobiliários


são os fundos de tijolos. Esse é o nome dado
para aqueles FIIs que trabalham com imóveis
físicos, como shoppings, escritórios, hospitais, Fundos de tijolo

entre outros. A principal forma de obter renda é


VER AULA
por meio de aluguel desses espaços.

Apesar do agrupamento em “fundos de tijolos”, existem diversas classificações


para esses FIIs. Cada fundo, afinal, pode trabalhar com um grupo específico de
imóveis, apresentando características distintas para os investidores. Se há uma
mescla de tipos de imóveis utilizados, os fundos são chamados de híbridos.

Como existem diversas categorias de


fundos de tijolos, resolvi separar as
principais para que você possa en-
tender a dinâmica de funcionamento
desse grupo. Ao mesmo tempo, tam-
bém já aproveitei para deixar algu-
mas dicas sobre as vantagens e des-
vantagens de cada um deles, além do
que devemos observar.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 122


Shopping center

Os fundos de shoppings são considerados um dos setores mais seguros da ca-


tegoria de FIIs. Isso porque, na sua própria estrutura, existe uma excelente va-
riedade de setores que compõem os seus imóveis. Você encontrará lojistas de
serviços, vestuários, cosméticos, alimentação, entre outros.

Os contratos são outro ponto positivo para o cotista. Geralmente, ele se divide
em uma cobrança fixa e outra parte com um percentual sobre o faturamento. O
lojista deve pagar o que for maior entre os dois. Ou seja, você enquanto cotista
tem uma renda garantida, mas que pode ser maior a depender do desempenho.

Além disso, os shoppings oferecem alguns indicadores que permitem uma aná-
lise do seu desempenho por parte dos investidores. Como as operações são
majoritariamente de varejo, é muito importante que seja feito um comparativo
sempre do mesmo mês por conta de sazonalidade. Veja alguns exemplos:

• Vendas totais: reflete o volume total de vendas do shopping, independen-


te de movimentações, reformas ou ampliações.
• SSS: abreviação para Same Store Sales, reflete o crescimento de vendas
das mesmas lojas, nos mesmos pontos comerciais. Novos lojistas não en-
tram no cálculo.
• SSR: abreviação para Same Store Rent, representa o aumento de receitas
com cobrança de aluguel das mesmas lojas, nos mesmos ponto comerciais.
• Fluxo de veículos: é um relatório de tráfego de veículos no shopping.
Representa tanto o fluxo de pessoas em circulação, como as receitas com
cobrança de estacionamento.

E em relação ao que devemos estar atentos? Em primeiro lugar, shoppings são


locais de consumo. Sendo assim, há uma alta exposição ao ciclo econômico. Em
períodos negativos da nossa economia, os ativos tendem a apresentar uma pio-
ra da sua performance.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 123


Outro ponto de atenção é o e-commerce. No entanto, não acredito que exista
um impacto tão grande no Brasil. O que devemos ter é uma migração na forma
pela qual os shoppings são vistos. Isto é, como um ambiente para experiências
(e não apenas para a realização de compras).

Lajes corporativas

As lajes corporativas são os grandes escritórios, geralmente locadas para empre-


sas (de startups até multinacionais) realizarem suas atividades tradicionais. Nes-
te sentido, é fundamental que estejam em bons pontos comerciais.

O maior risco para o segmento é o cresci-


mento do home office. O trabalho em casa
já é uma realidade para muitos negócios
e tende a crescer ainda mais. No entanto,
isso não significa que os escritórios vão
deixar de existir. É preciso ter calma para
analisar o setor corporativo.

Considerando todo cenário para os escritórios, temos então o foco empresa-


rial. Desta forma, alguns fatores de análise sobre os imóveis são fundamentais
como:

• Localização em grandes centros


• Adaptabilidade para cada negócio
• Estrutura condominial e estacionamento
• Qualidade de avaliação do imóvel (rating)

Os maiores cuidados aqui estão sobre os contratos, geralmente típicos. Desta


forma, o investidor deve dedicar atenção especial aos vencimentos dos instru-
mentos ou mesmo para os ciclos econômicos, que podem trazer um cenário me-
lhor ou pior para cada segmento empresarial.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 124


Galpões Logísticos

Fechando o trio mais relevante entre os fundo de tijolos, temos ainda os galpões
logísticos. Essas são estruturas utilizadas pelas empresas para armazenamento
de produtos e distribuição de entregas. Por esse motivo, é fundamental que os
imóveis tenham fácil acesso às rodovias. Esse cenário, afinal, facilita a circulação.

As estruturas logísticas também exigem algum grau de personalização para a


atividade da companhia. Sendo assim, os contratos costumam ser longos e atípi-
cos, protegendo ambas as partes. O crescimento do e-commerce é positivo para
os galpões logísticos.

O grande desafio do segmento está no equilíbrio entre acessar rapidamente as


rodovias, mas sem se afastar dos grandes centros. Aqui temos, afinal, o maior
volume de pessoas. Portanto, considerando a velocidade de entregas, é essen-
cial estar perto desses espaços.

Agências bancárias

Os fundos de agências bancárias já foram os queridinhos dos investidores. O


motivo é simples: os altos rendimentos pagos pelos FIIs. Isso porque os seus
locatários são justamente os bancos. Além da ótima capacidade de pagamentos,
são empresas com excelente perfil de crédito.

No entanto, nos dias atuais, o crescimento de agências digitais e redução de


custos deste tipo de negócio coloca em risco as renovações de agências físicas.
É algo a monitorar, caso você tenha ou pense em investir no segmento apenas
pelos indicadores de rentabilidade.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 125


Outros tipos de fundos de tijolo

Além desses quatro tipos mencionados anteriormente, temos no mercado de


fundos imobiliários uma série de outras categorias. Em muitas delas, as opções
de FIIs são restritos, sendo dois, três ou quatro fundos disponíveis.

De qualquer forma, vale a pena elencar, pois são opções na montagem da sua
carteira. Esses são os demais tipos de fundos imobiliários que atuam com estra-
tégia de adquirir imóveis para explorar aluguéis (estratégia geração de renda):

• Educacionais: como o nome sugere, os fundos educacionais costumam


focar seus investimentos em universidades. É o caso do Ibmec e do Insper,
duas faculdades renomadas e que possuem como FIIs como proprietários
dos espaços. O risco futuro é o crescimento do EAD e dos cursos online.
• Hospitais: para quem gosta do setor de saúde, os fundos de hospitais po-
dem ser uma boa escolha. Os maiores riscos são a dificuldade em flexibilizar
o uso em caso de saída do locatário e a função social (um juiz dificilmente
aceitará uma ação de despejo, se necessária). Por outro lado, é uma ativida-
de essencial e, portanto, com baixa exposição ao ciclo econômico.
• Hotéis: esses fundos atuam comprando participação em hotéis ou venda
de flats. Pela atividade altamente exposta ao ciclo econômico, acaba por
apresentar alta sazonalidade em suas receitas. Os fundos de hotéis também
oferecem um indicador exclusivo, o RevPAR (receita de hospedagem por
quarto livre).
• Residenciais: imóveis para uso residencial também podem ser adquiridos
e gerenciados pelos fundos imobiliários. Embora seja uma prática mais rara
no Brasil, essa estratégia permite ter como locatários Pessoas Físicas, o que
é um formato diferente para geração de renda.
• Varejo: os fundos de varejo são aqueles FIIs que possuem participação em
imóveis cuja finalidade é uma operação comercial. É o caso de supermerca-
dos, por exemplo.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 126


Fundos de papel

Os fundos de recebíveis imobiliários também


são chamados de fundos de papel. Tudo isso
porque, ao contrário dos fundos de tijolo, eles
Fundos de papel
não trabalham com imóveis físicos. O objetivo
dessa categoria é investir em títulos do setor
VER AULA
imobiliário.

Para esse objetivo, ao contrário dos fundos de tijolos, não há uso de imóveis físi-
cos diretamente com a cobrança de aluguel, mas sim a negociação dos títulos do
setor imobiliário. Esses são os dois ativos mais comuns para a estratégia:

• Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI): são emitidos pelo mercado


privado. É uma operação que visa captar receitas para financiar a atividade
de construtoras, antecipando o recebimento de uma comercialização.
• Letras de Crédito Imobiliárias (LCI): também atrelado ao setor imobiliá-
rio, a LCI tem a diferença de ser emitida pelos bancos. Como possuem pro-
teção do Fundo Garantidor de Crédito, costumam ter taxas menos atrativas.

Outro ponto importante é que um fundo de papel pode trabalhar com dois per-
fis distintos. O primeiro é composto pela empresas com ótimo perfil de crédito,
oferecendo baixo risco de calote, mas menor rentabilidade (High Grade). Já para
títulos emitidos por companhias mais arriscadas, as rentabilidades são mais
atrativas (High Yield).

Entre os pontos negativos, posso destacar dois. O primeiro é a falsa sensação


que alguns investidores possuem de que se trata de um investimento “seguro”.
Lembre-se: fundos imobiliários pertencem à renda variável. Além disso, há difi-
culdade de crescer o patrimônio. Os ganhos dos títulos, afinal, são distribuídos
aos cotistas.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 127


Outros tipos de fundos imobiliários

Além dos tradicionais fundos de papel e de ti-


jolo, ainda existem duas categorias específicas
que merecem menção neste tópico. Estou falan-
Outros tipos de FIIs
do sobre os fundos de desenvolvimento e dos
fundos de fundos (FOFs), que possuem uma di-
VER AULA
nâmica um pouco distante. Vamos conhecê-los.

Fundos de desenvolvimento

Como vimos no tópico de estratégias, os fundos de desenvolvimento são res-


ponsáveis por assumir o papel das construtoras. Ou seja, eles mesmos é quem
vão construir os imóveis usando dos investimentos dos cotistas em caixa.

Por esse motivo, são fundos com maior risco. Po-


demos mencionar o atraso nas obras ou a dificul-
dade de comercialização do imóvel como exemplos
disso. Esse maior risco, contudo, pode se traduzir
também em melhor rentabilidade para os cotistas.

Uma vez que o projeto em desenvolvimento esteja


pronto, o imóvel pode ser usado para duas finalida-
des diferentes:

• Renda: nesta estratégia, o fundo passa a explorar a cobrança de aluguel


pela locação do espaço, assim como a estratégia de geração de renda.
• Venda: em algumas situações, o fundo pode optar pela comercialização do
imóvel. Aqui, o lucro vem da venda ao invés da cobrança de aluguéis.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 128


Outro aspecto importante é que, durante as obras do imóvel, não há geração de
renda. Os fundos costumam reduzir o problema com a oferta de uma Renda Mí-
nima Garantia (RMG). Trata-se de um pagamento mensal, assim como os rendi-
mentos tradicionais. O problema é que essa quantia é originada da captação do
fundo (e não pela valorização do capital).

Fundos de fundos

Por fim, ainda temos os fundos de fundos (FOFs) que se caracterizam por inves-
tir em outros FIIs. A grande vantagem aqui, além de ter um time de gestão espe-
cialista escolhendo os melhores fundos para você investir, é o acesso à diversifi-
cação do setor imobiliário.

Por outro lado, os FOFs também trazem pontos negativos. O maior deles é uma
duplicação de taxas. Você paga tanto a taxa de administração do FOF, como
também dos fundos imobiliários nos quais ele investe. Além disso, também não
tem poder de decisão sobre os FIIs em que você vai investir neste formato.

Como analisar fundos imobiliários?


Agora que você já aprendeu o que são os fundos
imobiliários e quais são as principais estratégias
aplicáveis no setor de imóveis, resta a grande
pergunta: como escolher os melhores FIIs para Como analisar FIIs?

investir? É o que vamos aprender a partir de


VER AULA
agora, para finalizar o nosso módulo.

Em primeiro lugar, você deve saber que precisamos dividir a análise dos FIIs em
dois grandes grupos. A primeira dela, mais fácil, é olhar para indicadores. No
entanto, números frios dizem pouco para a nossa tomada de decisão. Sendo
assim, o processo de escolha requer uma análise qualitativa também.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 129


Dividend Yield (DY)

O primeiro indicador que podemos analisar nos fundos imobiliários é o Dividend


Yield. Ele nos mostra o retorno percentual dos rendimentos distribuídos ao lon-
go do tempo. Em tese, quanto maior, melhor. No entanto, é preciso cuidado
para não cometer um erro básico: olhar apenas para esse indicador.

Isso acontece porque, como sabemos, risco e retorno caminham juntos. Ou seja,
altos rendimentos podem ocultar problemas. É o que aconteceu com o XPCM11.
O fundo por anos liderou a lista de rentabilidade, mas é porque tinha um único
locatário — a Petrobrás. Quando ela optou por sair do imóvel, causou a perda
da totalidade da receita, além de derrubar a cota do ativo.

Outro ponto importante é analisar o indicador em horizontes temporais longos.


O Dividend Yield de um mês isolado pode conter um fato não recorrente como
a venda de um imóvel, o recebimento de uma multa ou mesmo o pagamento
de aluguel antecipado. Em um período de doze meses, fica mais fácil identificar
esses resultados atípicos.

Por fim, busque sempre fazer alguns comparativos entre os indicadores de fun-
do de um mesmo setor, como fiz na imagem abaixo com três FIIs de galpões
logísticos. Gosto também de comparar com o CDI para entender se o risco foi
compensado em relação a investimentos seguros de renda fixa.

Gráfico 25 • Análise de Dividend Yield

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 130


E como você pode calcular o retorno dos rendimentos dos seus fundos imobiliá-
rios? É bem simples! Basta usar essa fórmula abaixo:

DY = Rendimento por cota / Preço da cota

Suponha que você comprou uma cota por R$100 e que, ao longo de um ano
(doze meses), o fundo te pagou R$10,50 em rendimentos. Qual seria então o
valor do Dividend Yield? Vamos aplicar a nossa fórmula:

DY = 10,50 / 100,00 = 0,105 = 10,5%

Ou seja, tivemos um retorno de 10,5% com rendimentos sobre o capital investi-


do no período anual. A partir disso, você pode começar a comparar com outros
fundos do setor ou mesmo com o desempenho histórico do próprio ativo.

Como analisar o DY?

• Comparar com o histórico do próprio fundo imobiliário


• Comparar com fundos que sejam do mesmo setor e do mesmo perfil
• Comparar com a taxa básica de juros vigente (Taxa Selic)

Vacância

Outro indicador muito importante dos fundos imobiliários é a vacância. Ele re-
presenta o total de área vaga de um imóvel que, afinal, significa o espaço de um
FII que está inutilizado. Apesar disso, a análise de vacância deve ser dividida em
duas partes.

Isso acontece porque um locatário pode sair do imóvel, mas ter uma multa para
pagar. Ou seja, aquele espaço ainda vai gerar renda por um tempo. É por isso
que dividimos a avaliação da vacância em dois grandes grupos. São eles:

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 131


• Vacância física: imóvel sem ocupação.
• Vacância financeira: imóvel sem renda.

Para que você entenda essa diferença, imagine um fundo de escritórios que te-
nha dois locatários, cada um com metade do espaço físico. No entanto, o primei-
ro possui um aluguel de R$20.000 e o outro de R$30.000.

Considere agora que, no dia 30 de junho de um determinado ano, o primeiro


locatário opte pela saída com uma multa equivalente a três meses de aluguel
(R$20.000 em cada mês).

O gráfico abaixo ilustra a situação que acabei de escrever. Ou seja, a partir de


julho o fundo já apresentava a sua vacância física, com a saída do locatário. No
entanto, o imóvel ainda manteve as receitas por três meses, até que ela também
fosse afetada no resultado.

Gráfico 26 • Análise de vacância

Como analisar a vacância?

• Comparar com o histórico do próprio fundo imobiliário


• Avaliar vacância física vs. vacância financeira
• Comparar a velocidade de ocupação da vacância do fundo
• Comparar com FIIs do mesmo segmento e do mesmo perfil

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 132


Preço vs. Valor Patrimonial (P/VP)

Um indicador simples, mas útil na análise do preço de um fundo imobiliário, é o


P/VP (Preço/Valor Patrimonial). O conceito da métrica é bem explicativo: avaliar
o preço da cota sobre o valor patrimonial por cota de um fundo.

Importante mencionar que o P/VP possui limitações relevantes. A começar pelo


fato de que nem sempre o valor patrimonial está atualizado. Há também um
fator subjetivo em questão: o preço da cota nem sempre explica bem o que
acontece com o fundo. Um fundo pode estar barato porque possui problemas
estruturais, por exemplo.

Para calcular o P/VP de um fundo imobiliário é muito fácil. Você deve, afinal,
apenas dividir o preço da cota pelo valor patrimonial por cota do FII. Esse cálcu-
lo então apresentará um número. E esse resultado pode apresentar um desses
três cenários, que será a base para a sua análise.

Como analisar o indicador de P/VP?

• P/VP > 1,0: representa que o preço da cota é superior ao “valor justo”.
Logo, o fundo é negociado com ágio e está caro.
• P/VP = 1,0: representa que o preço da cota é igual ao “valor justo”. Logo, o
fundo é negociado com ágio e está caro.
• P/VP < 1,0: representa que o preço da cota é inferior ao “valor justo”. Logo,
o fundo é negociado com deságio e está barato.

Inadimplência

Seguindo a passagem pelos indicadores, o próximo item que você deve dedicar
uma atenção especial é a inadimplência. Ou seja, os locatários que não estão
cumprindo com os pagamentos do seu aluguel (ou, no caso dos fundos de pa-
pel, que deram calote).

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 133


Aqui, precisamos avaliar o desempenho histórico do fundo. É comum que os lo-
catários deixem de pagar seus aluguéis? Como é o trabalho de cobrança do time
de gestão? Qual é o resultado de inadimplência dos seus fundos pares?

Neste ponto, um fundo com mais de um inquilino terá vantagem (e será mais
protegido). Neste caso, a inadimplência é mais controlada e um calote não afeta
tanto o resultado final do mês.

Como analisar a inadimplência?

• Comparar com o histórico do próprio fundo imobiliário


• Ponderar o cenário econômico para as empresas devedoras
• Ler relatórios para entender os motivos da inadimplência
• Comparar com FIIs do mesmo segmento e do mesmo perfil

Gestão do fundo

Passando agora para alguns pontos mais qualitativos, a primeira coisa a obser-
var é a qualidade da empresa que faz a gestão do fundo imobiliário em questão.
Isso porque cada fundo terá uma gestão diferente e é vital para o investidor
compreender a estratégia da companhia.

Uma das melhores formas de acompanhar a gestão é por meio dos relatórios
gerenciais. Por regra, eles possuem uma série de informações relevantes. Além
de indicadores e acompanhamento dos imóveis, esses documentos contém uma
mensagem da gestora do FII.

Os relatórios são compartilhados mensalmente com os cotistas e você pode soli-


citar o envio para o seu e-mail no site das empresas. É muito importante ler esse
documento para acompanhar os indicadores que mencionamos aqui, além de
acompanhar as demais informações qualitativas do fundo imobiliário.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 134


Como analisar a gestão de um fundo imobiliário?

• Qual é o histórico da gestora no mercado financeiro?


• A gestora tem outros fundos imobiliários? Qual é o desempenho?
• No site oficial da gestora o fundo tem destaque ou fica escondido?
• Como é a qualidade dos relatórios gerenciais?
• Qual é o relacionamento com os locatários?

Ativos do fundo

Por fim, mas talvez mais importante do que todos os outros fatores, está a aná-
lise qualitativa sobre os ativos (imóveis, papéis ou outros FIIs) do fundo que você
está analisando. Esse é justamente o diferencial dos grandes investidores: eles
realmente entendem a estratégia do fundo.

Embora seja o principal ponto de análise


em um fundo imobiliários, os ativos são
os mais difíceis de analisar. Isso porque
cada segmento tem a sua realidade. Es-
critórios, por exemplo, devem estar em
regiões centrais, enquanto que galpões
logísticos precisam estar próximos às
rodovias.

Olhar para os locatários também é importante, especialmente pensando na qua-


lidade das empresas que ocupam os espaços. Tudo parece complexo inicialmen-
te, mas a experiência será uma grande aliada para facilitar esse tipo de filtro.

Neste aspecto, também posso recomendar alguns pontos para você avaliar e
facilitar esse processo de compreensão sobre os imóveis e papéis sob gestão de
um fundo imobiliário. Vamos conversar sobre os principais na sequência.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 135


Como analisar os ativos de um fundo imobiliário?

• Localização: verifique onde estão posicionados os imóveis do fundo. Veja,


não apenas onde eles ficam, mas se o posicionamento é estratégico. Gal-
pões logísticos, por exemplo, precisam estar próximos a rodovias. Faça esse
tipo de avaliação e seja criterioso.
• Diversificação: ainda sobre os imóveis, como é a diversificação do fundo?
Tem apenas um ativo ou vários? Se são vários, há diversificação geográfica
também? São questões importantes pensando na redução de riscos.
• Locatários: não basta ter bons imóveis se os locatários possuem um péssi-
mo perfil de crédito. Aproveite os relatórios para checar quem são os inqui-
linos e a quais setores eles pertencem. Um investidor de fundos imobiliários
precisa se atentar aos detalhes para proteger suas cotas.
• Contratos: não deixe de avaliar também os contratos do fundo. Os prazos
de vencimento estão próximos? Como está o fluxo de ações renovatórias? A
gestão posiciona os cotistas sobre o que fará em caso de saída do inquilino?
Tudo isso deve ser respondido antes de um aporte financeiro.
• Riscos: por fim, pense ainda em potenciais riscos para a estratégia do fun-
do. Saber o que pode atrapalhar os seus resultados é essencial para evitar
investimentos ruins. É o que já aprendemos anteriormente sobre o tal do
“pessimismo construtivo”, neste mesmo livro.

Ufa! Chegamos ao fim desse módulo sobre fundos imobiliários. Eu espero, de


verdade, que esse conteúdo tenha contribuído para você conhecer esse formato
de investimentos e que, caso faça sentido para o seu perfil de investidor, você
esteja apto a fazer suas próprias análises sobre a categoria.

No começo, é normal ficar um pouco perdido. No entanto, seguindo esses pas-


sos e o que sobre análise de fundos imobiliários (não deixe de assistir à aula prá-
tica do tema no Conexão Finanças), estou certo de que você fará boas escolhas.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 136


“Existem dois tipos de pessoas que
perdem dinheiro: aquelas que não
sabem nada e aquelas que sabem
tudo."

Henry Kaufman

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 137


ESTAMOS EM ATUALIZAÇÃO!
Como adiantei na introdução, o objetivo do Guia de Finanças
Pessoais é ser o material mais completo e prático sobre finan-
ças, permitindo que você controle de uma vez por todas o seu
dinheiro e faça ele trabalhar para você (e não o contrário).

Para cumprir esse objetivo, contudo, há uma grande exigên-


cia de tempo para que todas as temáticas sejam devidamente
abordadas. Pensando em ajudá-lo com maior velocidade, op-
tei por compartilhar cada atualização de capítulo, assim você
pode ir estudando e aprendendo sem esperar a versão final.

Portanto, isso significa que ainda estou trabalho no conteúdo


e novos capítulos serão adicionados ao guia. As versões atuali-
zadas serão enviadas para o seu e-mail de cadastro.

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 138


Por enquanto, espero que o conteúdo atual tenha sido útil
para você melhorar o controle sobre as suas finanças pesso-
ais. Lembrando que você também pode assistir as aulas com-
plementares do curso Conexão Finanças, onde a nossa con-
versa é mais próxima com o uso de recursos visuais.

Aos poucos, espero cumprir a missão de democratizar a edu-


cação financeira e mostrar que dominar as finanças pessoais
não é tão desafiador quanto parece em um primeiro momen-
to. O grande segredo está na organização e na disciplina.

Caso você tenha alguma dúvida ou sugestão de tema para


esse material, sinta-se convidado a usar dos meus contatos,
disponíveis no começo desta guia.

Vou adorar ajudá-lo dominar de uma vez por todas as suas


finanças pessoais e esclarecer eventuais questões que permi-
tam melhores decisões em relação ao seu dinheiro.

Até logo! =)

Stéfano Bozza

GUIA COMPLETO DE FINANÇAS PESSOAIS 139

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