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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

GABRIELA GUEDES NASCIMENTO

Dissertação De Defesa
Caso Ailton Rosa Marinho

IMBITUBA
2023
Unisul – Modalidade Live
Curso: Criminologia

Unidade Curricular: Ciência e tecnologia forense


Professores: Ronaldo Galvão e Orlando Carvalho

Acadêmico: Gabriela Guedes Nascimento


Imbituba, 16 de junho de 2023

Na noite de 10 para 11/10/2018, o réu Ailton Rosa Marinho (que após o julgamento pelo
Tribunal do Júri foi absolvido por legítima defesa) matou a vítima Denis Anastácio da Silva.
Os dois estavam em um bar ingerindo bebidas alcoólicas, de acordo com o depoimento de
Leonardo de Oliveira Soares, o dono do local, este afirma que Ailton frequentava o seu
estabelecimento frequentemente, porém, diz que via Denis pela primeira vez, a testemunha
declara que os dois envolvidos não conversaram muito no bar, mas saíram juntos do mesmo.
Em seguida, eles rumaram à residência de Ailton e mais tarde naquela madrugada, após uma
suposta discussão/desentendimento, o denunciado acabou esfaqueando a vítima por diversas
vezes, não se sabe se houve algum tipo de luta ou qual foi o estopim que os levou ao resultado
final.

A primeira divergência dos fatos que encontramos, ocorre quando Ailton liga para o 190
por volta das 05:30 daquela madrugada, o denunciado relata aos policiais que, um homem (a
vítima no caso) havia invadido a sua residência e para se defender teria o esfaqueado, este foi
o primeiro relato de Ailton às autoridades. De acordo com outros depoimentos, Ailton depois
de cometer o ato, tentou ligar para a emergência e não conseguiu, então se dirigiu à casa de sua
ex-esposa, e no local conseguiu realizar a chamada e retornou à sua residência para esperar os
policiais. Estes, ao chegarem ao local, encontraram Ailton esperando-os na entrada e conduziu-
os até o corpo da vítima que estava no chão da cozinha. O objeto perfurocortante que resultou
na morte da vítima foi recolhido pelos peritos logo no início após constatarem que a vítima já
havia chegado a óbito.
De início, vamos falar sobre o laudo de necropsia do corpo da vítima, Denis sofreu 14
facadas, sendo 12 lesões perfurocortantes nas regiões abdominais e torácicas, uma lesão
perfurocortante na região posterior do antebraço direito e uma lesão perfurocortante nas costas,
o objeto utilizado para realizar essas lesões foi uma faca de cozinha comum, composta por uma
lâmina de 18cm e um cabo de 12cm. Em conformidade com o laudo de necropsia, a vítima não
sofreu nenhuma lesão craniana e nenhuma fratura, como também não houve nenhuma lesão na
cervical, e mesmo com um total de 14 facadas não ocorreu nenhuma lesão no estômago, nem
no baço, nem nos rins ou intestinos. A real causa da morte foi por traumatismo torácico com
lesão cardíaca, pulmonar e de tronco braquiocefálico esquerdo, portanto, as lesões que
resultaram no óbito foram uma perfuração leve no lobo esquerdo do fígado, uma perfuração no
pulmão direito e uma lesão na parede ventricular direita. Em contraponto, vamos nos lembrar
que, o objeto perfurocortante que foi utilizado por Ailton era uma faca de cozinha com uma
lâmina de 18cm. Prosseguindo com as incongruências cometidas neste caso, iremos analisar
agora os vestígios iniciais que foram encontrados no local do crime, estes possuem uma extrema
importância para a perícia criminal analisar e compreender o que realmente ocorreu no local.
Ailton em seu depoimento primário, relata que Denis era um desconhecido que havia invadido
a sua residência e assim, o atacou para defender-se, de início, já comprovamos que de acordo
com Leonardo, em seu testemunho sendo o proprietário do bar em que Ailton frequenta, o réu
deixou o estabelecimento acompanhado de Denis, então sim, eles se conheciam. Outro ponto a
ser esclarecido, é quando Ailton cita que a vítima havia invadido a sua casa pulando o muro
desta, os peritos ao analisarem o local, deixaram claro no laudo que não encontraram vestígios
de escalada em nenhum muro ao redor do terreno, nenhuma porta ou janela havia sido
arrombada, portanto, estabelecemos que Ailton, em sua primeira declaração, não compactuou
com afirmações verdadeiras, talvez pelo nervosismo na hora ou por medo, sabendo que a
situação era desfavorável para ele. Retomando o ponto inicial, o que temos sim real certeza, ao
que tudo indica, é de que a entrada de Denis na casa de Ailton, foi sim, permitida.

Outro ponto importantíssimo que devemos analisar, são as manchas de sangue


encontradas na cena do crime, como por exemplo, as encontradas no quarto da residência. A
expor, são manchas hematógenas formadas por gotejamento, uma no colchão da cama e
algumas no chão do quarto. A gota encontrada no colchão estava por debaixo do lençol, o
mesmo não continha nenhuma sujidade, mas ao levantar o lençol encontramos a mancha no
colchão. A concentração de espinhos das manchas hematógenas do chão do quarto indicam que
o sentido provável da movimentação da fonte no momento em que elas se desprenderam, era
quarto – sala, porém isso não indica que as gotas se desprenderam do corpo da vítima no
momento em que caíam. Isto nos leva a pensar que, em razão da pequena concentração de
sangue neste cômodo podemos ter duas hipóteses, ou o desentendimento começou no local ou
Ailton, sujo de sangue, foi ao quarto depois de todo o acontecimento, assim respingando
algumas gotas de sangue de suas mãos ou roupas. A pontuar também que, Ailton não sofreu
quase nenhuma lesão e Denis não tinha nenhum outro tipo de hematoma sem serem as facadas,
tudo indica que não houve uma luta corpórea. No laudo do local do crime, podemos analisar
que na sala, há uma concentração de respingos de sangue no braço do sofá, se olharmos bem
para a imagem 23 do laudo do local, onde mostra o braço do sofá com os respingos, vemos que
há uma área onde tem uma concentração das gotas e outra área onde tem um vazio, uma sombra,
na análise dos padrões de manchas de sangue, entendemos que quando ocorre essa ausência de
sangue seria porque tinha algo ali que agora não está mais, como por exemplo, se Ailton tivesse
sentado sujo no local após o delito, consequentemente, respingando algumas gotas das suas
mãos ou roupas enquanto provavelmente tentava ligar para a emergência.

No corredor que faz a ligação entre um cômodo e o outro, ainda possui algumas manchas
hematógenas pequenas, mas é evidente que a grande concentração real de sangue, é na cozinha
onde o corpo foi encontrado. Neste cômodo são visíveis vários respingos de sangue na
geladeira, todos da metade desta para baixo, nenhum acima da maçaneta do eletrodoméstico, a
saber, todos no sentido cima – baixo. Ao lado do corpo da vítima, havia uma mesa, e nesta
também havia manchas de sangue por gotejamento na parte de cima da toalha da mesa e
manchas por escorrimento ao lado da toalha, o sangue escorrido ao lado da toalha estava no
sentido cima – baixo.

Os policiais que efetuaram a denúncia contra Ailton, escreveram que o réu atacou Denis
enquanto este estava dormindo na cama, esfaqueando-o pelas costas, não podendo assim
defender-se, porém isso não faz sentido porque havia uma concentração muito pequena de
sangue no quarto, o que não condiz com a lesão de 3 cm de comprimento que a vítima possuía
no dorso. As autoridades ainda declaram que, foi na sala onde Ailton teria atacado brutalmente
a vítima, enquanto ele, estava ainda meio desacordado e sentado no braço do sofá, o que também
está totalmente errado pelos seguintes fatos: primeiro que o sentido das gotas de sangue no sofá
estariam de dentro para fora se a vítima estivesse sendo atacada sentada no sofá, o que podemos
ver no laudo que o sentido era de cima – baixo e de fora para dentro, outro ponto
importantíssimo que podemos ver na representação das lesões no corpo de Denis, é que a maior
parte das lesões são na parte inferior do tronco frontal, ou seja, se fizermos uma análise
específica, podemos concordar que a vítima não poderia estar sentada para que essas lesões
ocorressem, a ainda se considerássemos que Ailton teria atacado Denis enquanto ele estava
sentado no sofá, cometendo algumas das três lesões perto da clavícula, que podemos ver na
necropsia, a quantidade de respingos de sangue, não harmonizaria com as lesões e nem a
posição do sentido das manchas hematógenas.
Outro detalhe que é pequeno, mas faz total diferença ao reparar bem nas lesões, é que a
maioria delas está de lado, quando alguém ataca com faca no intuito de matar outro seguraria a
faca no sentido abaixo:

De acordo com a posição da maioria das lesões, Ailton segurava a faca como se estivesse
meio com a mão leve, em posição de defesa e não de ataque, como mostrado abaixo:
Em relação à facada que Denis levou nas costas, esta que os policiais afirmam ter sido
de extrema violência da parte de Ailton que impossibilitou a defesa da vítima, pode ter ocorrido
em um abraço (como se Denis estivesse partido pra cima de Ailton, agarrando-o, e este
defendeu-se esfaqueando-o em um abraço), como representado na imagem abaixo, imagine que
estes estão em uma luta corpórea:

A última incongruência dos policiais na denúncia que vou citar, é quando eles dizem
que Denis caiu no chão da cozinha (o que já não encaixa, pois se ele estivesse sem forças e
caído, seria difícil ele cair de costas para baixo se estivesse fugindo de seu agressor como os
policiais descrevem), assim teria Ailton o esfaqueado por diversas vezes na região torácica
enquanto deitado no chão, em concordância com o que vimos anteriormente, ao analisar as
manchas de sangue do local não condiz com o relatado, já que as manchas hematógenas da
geladeira estavam no sentido cima – baixo, só podendo estar nessa direção se a vítima estivesse
em pé, e também se ele estivesse deitado não seria possível haver gotas em cima da mesa na
posição em que estavam, portanto, a análise dos peritos feita no local, se mostra totalmente
desconexa.
É compreensível que os depoimentos de Ailton não o favoreciam desde o início, pois se
mostravam incoerentes e desordenados, mas é de entendimento que, contra fatos não há
argumentos, e qualquer perito competente, ao analisar a cena do crime corretamente sem se
deixar levar por sentimentos, achismos ou preconceito, determinaria provas suficientes para
inocentar Ailton por legítima defesa, visto que todas as evidências corroboram com legítima
defesa, sem citar que Ailton tentou ligar para o 190 logo após o ato e ao não conseguir, se
encaminhou direto para a casa de sua ex-esposa onde realizou a ligação e retornou a sua
residência no aguardo das autoridades, não fugindo do local e nem tentando esconder nenhuma
prova.

Segue em análise todas as lesões encontradas no corpo da vítima e suas descrições:

1. Lesão perfuro-incisa na região supraclavicular esquerda, de 3,5 cm de comprimento;


2. Lesão perfuro-incisa na região clavicular direita, de 2,5 cm de comprimento;
3. Lesão perfuro-incisa na região clavicular direita, de 2 cm de comprimento;
4. Lesão perfuro-incisa na região para esternal esquerda, de 2 cm de comprimento;
5. Lesão contusa na região supra mamilar direita, de 1,5 cm de comprimento;
6. Lesão corto-contusa na região infra mamilar direita, de 4 cm de comprimento;
7. Lesão perfuro-incisa na região infra mamilar esquerda, de 2 cm de comprimento;
8. Lesão perfuro-incisa na borda esternal direita baixa com 2 cm de comprimento;
9. Lesão perfuro-incisa na região do epigástrio com 2 cm de comprimento;
10. Lesão perfuro-incisa na região periumbilical com 2 cm de comprimento;
11. Lesão perfuro-incisa na região periumbilical com 2 cm de comprimento;
12. Lesão perfuro-incisa na região periumbilical com 2 cm de comprimento;
13. Lesão perfuro-incisa na região paravertebral esquerda do dorso, de 3 cm de
comprimento;
14. Lesão perfuro-incisa no antebraço direito, de 2 cm de comprimento.
Lesões enumeradas para uma melhor análise, todas em correta posição:
• Lesão 1: Segue abaixo a representação do tamanho da profundidade da lesão de 3,5
cm de comprimento:
• Lesão 2: Segue abaixo a representação do tamanho da lesão de 2,5 cm de
comprimento;
• Lesão 3, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e a 14: Segue abaixo a representação de todas as lesões de
mesmo tamanho, 2 cm de comprimento:

• Lesão 5: Segue abaixo a representação do tamanho da lesão de 1,5 cm de


comprimento:
• Lesão 6: Segue abaixo a representação do tamanho de profundidade da lesão de 4 cm de
comprimento:
• Lesão 13: Segue abaixo a representação do tamanho da profundidade da lesão de 3 cm de
comprimento:

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