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8 - Conselhos Municipais de Educacão - Alzira Batalha e Donaldo Souza
8 - Conselhos Municipais de Educacão - Alzira Batalha e Donaldo Souza
Conselhos
Municipais
de Educação:
monitoramento
e avaliação de
Planos Municipais
de Educação
relativos ao PNE
2014-2024
Municipal EDUCATION Councils: monitoring and evaluating
Municipal EDUCATION Plans related to the PNE 2014-2024
Consejos Municipales de Educación: monitoreo y evaluación
de los Planes Municipales de Educación relacionados Al PNE
2014-2024
Introdução
N
o âmbito do planejamento estatal da educação brasileira para o
decênio 2014-2024, o novo Plano Nacional de Educação (PNE) – Lei
nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (BRASIL, 2014) – prevê o seu
monitoramento e avaliação no corpo desta lei, determinando que “A execução do
PNE e o cumprimento de suas metas serão objeto de monitoramento contínuo
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ISSN: 1984-7114
[...]” (BRASIL, MEC, SASE, 2014a, p. 17). Em outro documento do MEC articulado
à orientação da elaboração dos planos estaduais, distrital e dos municípios, é
salientado que igualmente cabe a cada um desses entes definirem, além da
periodicidade do monitoramento e da avaliação, quais instâncias ou órgãos
se responsabilizarão por sua efetivação, sugerindo, por exemplo, “Uma ação
compartilhada entre a Secretaria Municipal, a Comissão ou Conselho e Fórum
Municipal de Educação, onde houver, e a Câmara de Vereadores [...]” (BRASIL,
MEC, SASE, 2014b, p. 11). Estes, também, seriam os responsáveis pela promoção
das Conferências Municipais de Educação, que deverão fornecer “insumos para
avaliar a execução do Plano e, consequentemente, subsidiar a elaboração de um
novo plano para o decênio subsequente” (Id.).
ao PNE 2014-2024
A RMRJ, também denominada Grande Rio, veio a ser estabelecida por meio
da Lei Complementar (LC) n° 20, de 01 de julho de 1974 (BRASIL, 1974)5, que, no
Capítulo II, determinou a fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara,
o que também significou união entre as RMs do Grande Rio Fluminense e da
Grande Niterói. Inicialmente delimitada a 14 municípios6, a RMRJ veio ao longo
dos anos sendo modificada pela exclusão e inclusão de localidades, integrando,
em 2010, 19 municípios (RIO DE JANEIRO, 2010). Mais recentemente, em função
da LC nº 158, de 26 de dezembro de 2013 (RIO DE JANEIRO, 2013), duas outras
cidades passaram a integrá-la7, totalizando 21 localidades, conforme adiante
indicado no Quadro 1. Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Municipais
(Munic), realizada pelo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), relativa ao ano de
2014, todas essas localidades possuem CME (BRASIL, IBGE, 2015).
Com base no Quadro 1, observa-se que, transcorridos 12 meses da aprovação
do PNE 2014-2024, apenas dez (48%) dos 21 municípios da RMRJ possuíam
PMEs transformados em norma jurídica, o que significa que vieram a ter os
seus planos efetivamente aprovados dentro do prazo estabelecido na Lei nº
13.005/2014, qual seja, “de 1 (um) ano contado da publicação desta Lei” (BRASIL,
2014, art. 8º), a saber, Belford Roxo, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí,
Japeri, Nova Iguaçu, Paracambi, Rio Bonito, São João de Meriti e Tanguá.
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ISSN: 1984-7114
DATA DE PERÍODO DE
REFERÊNCIA PME LEI Nº
APROVAÇÃO VIGÊNCIA
São João de Meriti (2015) 2.004 17 de junho de 2015 2014-2024
Seropédica (2015a, 2015b) 566 1 de julho de 2015 2015-2025
Tanguá (2015) 971 24 de junho de 2015 2015-2025
Fonte: Elaborado pelos autores ( jul. 2016).
Período não explicitado na lei e nem no documento do PME correspondente, deduzido a
(*)
partir da data de publicação do plano e da indicação do seu prazo de vigência (para todos os
casos, decenal).
Roxo (2015a), Duque de Caxias (2015a), Rio Bonito (2015a) e Seropédica (2015a).
No que remete aos demais seis (32%) planos – Itaboraí (2015), Itaguaí (2015a;
2015b), Japeri (2015a; 2015b), Magé (2015), Paracambi (2015) e Tanguá (2015) –,
em que pese a identificação do texto da lei e do PME digitados ou digitalizados,
não se conseguiu detectar as versões, de fato, publicadas em órgão oficial10.
Sobre as questões relacionadas à publicação da lei e/ou dos PMEs em órgão
oficial11, cumpre esclarecer que, conforme o determinado no art. 1º da Lei de
Introdução ao Código Civil Brasileiro – Decreto-Lei nº 4.657, de 04 de setembro
de 1942 (BRASIL, 1942), cuja ementa veio a ser alterada pela Lei nº 12.376, de 30
de dezembro de 2010 para “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro”
(BRASIL, 2010) –, “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada” (BRASIL, 1942, art.
1º). Além disto, a própria Constituição Federal (CF) de 1988 (BRASIL, 1988, art.
84, IV) consagra o princípio da publicidade relativamente a tais atos normativos,
na medida em que determina ao Chefe do Poder Executivo que publique as leis
aprovadas, princípio também enunciado no seu art. 37.
No que tange aos 19 PMEs da RMRJ sob análise, constata-se que 12 (63%)
– Belford Roxo, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Maricá, Mesquita, Nilópolis, Nova
Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica – incluem, de
forma explícita, o CME no corpo das respectivas leis que os regulamentam, no
sentido de responsabilizá-lo pelo monitoramento contínuo e pelas avaliações
periódicas locais do plano. Dentre estes, Itaboraí (2015) foi o único a incumbir
o CME, exclusivamente, para esta tarefa, já que os demais, com exceção de
Maricá (2015), também evocaram ações conjuntas com a SME. Ou seja, a
maioria dessas localidades destaca que compete ao CME, junto com a SME,
desempenhar tal atribuição.
Outros dois municípios (11%) – Duque de Caxias e Tanguá – não mencionam
explicitamente o CME como órgão competente para o monitoramento e
avaliação do plano, fazendo apenas referência à SME e, respectivamente, aos
“Conselhos pertinentes” (DUQUE DE CAXIAS, 2016, art. 6º) e aos “Conselhos”
em geral (TANGUÁ, 2015, art. 6º), portanto, de modo impreciso quanto ao tipo
Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 17 - n. 3 - Itajaí, Jul-Set 2017 495
Doi: 10.14210/contrapontos.v17n3.p485-508
Considerações finais
Referências
ARRETCHE, Marta. Tendências no estudo sobre avaliação. In: RICO, Elizabeth Melo
(Org.). Avaliação de políticas sociais: uma questão em debate. São Paulo: Cortez;
IEE/PUC-SP, 1998, p. 29-39.
MULLER, Pierre; SUREL, Yves. L´analyse des politiques publiques. Paris: Editions
Montchestien, 1998.
SOUZA, Donaldo Bello de; ALCÂNTARA, Alzira Batalha. O lugar dos Conselhos
Municipais de Educação (CMEs) nos Planos Municipais de Educação (PMEs):
da discussão e elaboração ao acompanhamento e avaliação local. Educação
em Questão, Natal, v. 54, n. 41, p. 191-219, maio/ago. 2016b. http://dx.doi.
org/1021680/1981-1802.2016v54n41.10163
Notas
1
No PNE 2001-2010 é empregada a expressão “acompanhamento e avaliação” para as ações que
viessem a retroalimentar o curso das ações públicas em torno dos objetivos deste plano, dedi-
cando eixo temático específico para esta finalidade, sob mesma denominação. Nesse eixo, o plano
sinaliza o papel estratégico da colaboração entre os entes federados e entre determinadas institu-
ições da sociedade civil, o valor dos dados e análises qualitativas e quantitativas disponibilizados
pelo sistema de avaliação do Ministério da Educação (MEC), ressaltando que essas avaliações
deveriam ser contínuas e periódicas, também contando com iniciativas próprias do Congresso
Nacional, do Tribunal de Contas da União (TCU) e dos Tribunais de Contas dos Estados (TCEs) em
termos da fiscalização e controle (BRASIL, 2001). Já na esfera do PNE 2014-2024, essas ações
são denominadas “monitoramento e avaliação” (BRASIL, 2014), sinonímia do primeiro caso.
2
Ministério da Educação (MEC); Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e Comissão
de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal; Conselho Nacional de Educação (CNE), e
ainda, Fórum Nacional de Educação (FNE) (BRASIL, 2014, art. 5º, I, II, III e IV).
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ISSN: 1984-7114
3
Diferentemente do PNE 2001-2010 (BRASIL, 2001), consta do PNE 2014-2024 (BRASIL,
2014), para cada uma das suas 20 metas, a definição de prazos específicos que implicam
etapas bianuais para o seu monitoramento, contando com um cronograma para o desenvolvi-
mento e a publicação dos estudos a serem realizados pelo INEP, cronograma este registrado
no documento do MEC intitulado “Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024: linha de base”
(BRASIL, MEC, INEP, 2015).
4
“Esse sistema deverá prever a participação de movimentos sociais e dos demais segmentos
da sociedade civil organizada e da sociedade política por meio de instâncias colegiadas, como
os conselhos de educação, dentre outros espaços de participação e mobilização” (BRASIL, MEC,
SASE, 2014a, p. 17).
5
Será nos idos de 1970 que a expansão urbana no Brasil ocorrerá em meio à formação das
grandes RMs (BRITO, 2006), embora algumas experiências isoladas de administração metro-
politana se fizessem notar desde a década de 1960, por iniciativa de alguns governos estaduais
que criaram áreas metropolitanas nas capitais: São Paulo, Porto Alegre, Belém, Salvador e Belo
Horizonte (ROLNIK; SOMEKH, 2000).
6
Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí, Magé, Mangaratiba, Maricá, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu,
Paracambi, Petrópolis, Rio de Janeiro, São Gonçalo e São João do Meriti (BRASIL, 1974).
7
Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu (RIO DE JANEIRO, 2013).
8
Veja-se: <http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao>.
Acesso em: 29 jul. 2016.
9
Num primeiro momento, o levantamento se pautou na identificação das leis e dos PMEs cor-
relatos aos 19 municípios da RMRJ a partir da página da Internet relativa ao Ministério da Edu-
cação (MEC), intitulada “PNE em Movimento: Situação dos Planos de Educação” – disponível em:
<http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao> e ao Ministério
Público do estado do Rio de Janeiro (MPRJ) – disponível em: <http://www.mprj.mp.br/areas-
de-atuacao/educacao/controle-social-na-educacao/planos-de-educacao-dos-municipios-do-rio-
de-janeiro>. Em seguida, de modo a distinguir outras versões desses planos, procedeu-se à
ampliação dos canais de busca, agora considerando, quando existente, as bases pertencentes às
Câmaras Municipais e aos Diários Oficiais (DOs) desses municípios, além da consulta às páginas
das Secretarias Municipais de Educação dos sistemas de ensino em questão.
10
Em complemento ao procedimento de busca descrito na nota 9, em 31 de maio de 2016 en-
viou-se mensagem por e-mail para a SME relativa ao conjunto desses dez (10) municípios cujos
planos apresentaram dificuldades de localização de publicação em órgão oficial – Belford Roxo,
Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Paracambi, Rio Bonito, Seropédica e Tanguá
–, tendo obtido respostas apenas por parte dos municípios de Duque de Caxias e Mesquita,
embora não suficientemente esclarecedoras.
11
De acordo com Soares (2008), é de competência do ente federado a definição da forma
de publicidade dos atos editados, “Mas, conforme reconhecido pelo próprio Supremo Tribunal
Federal, em decisão reportada por Meirelles [...], a publicação adequada para os atos da Ad-
ministração deve ser feita no órgão oficial não valendo a veiculação somente na imprensa pri-
vada, no rádio ou na televisão, enfatizando o mesmo autor que devem ser compreendidos na
expressão órgão oficial, além do Diário Oficial, ‘os jornais contratados’ pelas entidades públicas
para efetivação das publicações oficiais [...]” [grifos no original].
12
Maricá (2015, art. 5°) inclui o Ministério da Educação (MEC), Comissão de Educação da Câ-
mara dos Vereadores, CME, e Fórum Municipal de Educação como instâncias para monitorar
e avaliar periodicamente o PME, como também divulgar os resultados e propor políticas que
assegurem a sua implementação. Ainda que Maricá ressalte a importância do regime de co-
laboração e de mecanismos de cooperação entre os entes federados, causa estranheza que o
MEC tenha sido elencado como uma instância de monitoramento de um plano local e a SME não
tenha sido incluída, o que sugere um equívoco em sua redação.
Revista Contrapontos - Eletrônica, Vol. 17 - n. 3 - Itajaí, Jul-Set 2017 507
Doi: 10.14210/contrapontos.v17n3.p485-508
13
Não se considerou o PME de Duque de Caxias (2015b), pois este se distingue dos demais
planos ora analisados, já que não segue a estrutura organizacional do PNE 2014-2024 (BRASIL,
2014) e tampouco elenca estratégias propriamente ditas, denotando nítido desalinhamento em
relação a este plano nacional. Isto equivale a dizer que este PME se organiza por eixos temáti-
cos e subtemas, a partir dos quais é indicado um extenso conjunto de diretrizes e, sobretudo,
cerca de 383 objetivos/metas, o que impede o confronto com a estrutura dos demais PMEs, a
começar pelo próprio PNE em vigência. Por isso, embora se tenha analisado a lei que instituiu
o plano desse município, o PME em si não integrou as análises em curso.