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Introdução
A Terapia Neural é uma medicina complementar regulatória minimamente invasiva que não possui
quase nenhum efeito colateral (WEINSCHENK, 2012 apud GONÇALVES; VIANNA; ANDRADE,
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2019) e consiste num estímulo através da injeção de anestésicos locais em pontos específicos do corpo,
tendo seu efeito terapêutico sobressaindo o efeito anestésico (FISCHER, 2006 apud GONÇALVES;
VIANNA; ANDRADE, 2019).
Um corpo, seja ele animal ou humano, é formado por energia e matéria, sendo assim um organismo
bioelétrico formado por átomos, fótons, elétrons, nêutrons e outras partículas subatômicas das células
que produzem uma corrente elétrica. Essa corrente é transmitida através de todo o organismo fazendo
com que funcione da forma correta. Se por algum motivo ocorre um transtorno no funcionamento desse
sistema elétrico das células, o organismo adoece. Alguns aparelhos foram desenvolvidos para medir
esse potencial elétrico, como eletrocardiograma, eletroencefalograma e eletromiograma (VIANNA;
GONÇALVES, 2016).
Devido a isso, a Terapia Neural é considerada uma terapia de autorregulação, atuando diretamente
no Sistema Nervoso Autônomo, corrigindo uma disfunção que ocorreu nesse sistema elétrico
(VIANNA; GONÇALVES, 2016). Seu objetivo é descobrir onde estão as células afetadas, que são áreas
chamadas de campos interferentes, onde a polarização e a repolarização celular não estão ocorrendo.
São nesses pontos que é feita a administração dos anestésicos locais, reestabelecendo o potencial elétrico
(CRUZ; FAYAD, 2011).
A Terapia Neural pode ser utilizada para tratar diversas enfermidades como transtornos
ginecológicos, neurológicos, enxaquecas, sinusites, otites, amigdalites, asma, afecções dermatológicas,
entre outras (ROSÉS; MENDOZA, 2008).
A partir disso, o presente estudo reunirá informações sobre o mecanismo de ação da Terapia Neural,
suas vias de aplicação e medicamentos utilizados.
História
A descoberta da Terapia Neural ocorreu através de diversos pesquisadores que ao longo dos anos
foram descobrindo e complementando seus conhecimentos. Tudo começou em 1848 quando o
oftalmologista Carl Köller demonstrou, através do uso tópico da cocaína, seus efeitos anestésicos. Anos
depois, em 1884, o fisiologista Ivan Pavlov demonstrou a essência do sistema nervoso, e em 1886 a
possibilidade de paralisar gânglios temporariamente com o uso da cocaína. Nessa mesma época, o
homeopata August Weihe, mesmo que sem conhecimentos de acupuntura na época, determinou diversos
pontos na pele relacionados a inúmeras enfermidades (FISCHER, 2000 apud VIANNA; GONÇALVES,
2016; CASTRO, 2011 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016).
O cirurgião Carl Schleich apresentou, em 1892, estudos sobre o uso da cocaína para produzir
anestesia através da infiltração. Em 1898 o neurologista Henry Head descobriu que, em enfermidades
viscerais, algumas áreas específicas da pele ficam sensíveis (FISCHER, 2000 apud VIANNA;
GONÇALVES, 2016; CASTRO, 2011 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Em 1902, Spiess afirmou que os anestésicos locais possuíam efeitos curativos. Um ano depois, em
1903, Fernand Cathelin informou sobre a anestesia epidural com cocaína. Em 1905 a novocaína
(procaína) foi descoberta pelo químico alemão Alfred Einhorn. No ano seguinte, em 1906, foi relatado
o efeito anti-inflamatório da aplicação local da procaína pelo russo Wischnewsky. Em 1910 Braun
recomendou a aplicação da procaína na saída dos nervos para tratar neuralgias do trigêmeo, e em 1912
Hartel relatou sobre as técinas de anestesia utilizadas nos gânglios Glasser e Ciliar (FISCHER, 2000
apud VIANNA; GONÇALVES, 2016; CASTRO, 2011 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Em 1920 a procaína foi utilizada pela primeira vez para tratar enxaqueca, através da sua aplicação
na artéria temporal pelo médico Leriche (FISCHER, 2000 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016;
CASTRO, 2011 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Na Alemanha em 1925, os irmãos Fernand e Walter Huneke começaram a utilizar a procaína pela
via intravenosa para estudar seus efeitos em diversas patologias. No mesmo ano, o médico Leriche
começou a utilizar injeções de procaína como tratamento para o gânglio estrelado, fazendo com que não
precisasse mais ser retirado (FISCHER, 2000 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016; CASTRO, 2011
apud VIANNA; GONÇALVES, 2016).
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Após alguns anos de estudo, em 1928, os irmãos Huneke foram responsáveis pelo desenvolvimento
da investigação que sistematizou essa terapia, quando eles publicaram sobre as reações desconhecidas
causadas pelos anestésicos locais e então essa anestesia curativa ganhou o nome de Terapia Neural. Em
1940 eles trataram um paciente com artrite que não estava respondendo bem ao tratamento
convencional, e ao injetarem procaína em uma cicatriz, verificaram que além da recuperação da
movimentação do braço, houve também o desaparecimento súbito da dor. Foi nessa época que eles
descobriram o efeito curativo à distância e de forma imediata, e a existência de campos de interferência
energética a distância (FISCHER, 2000 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016; CASTRO, 2011 apud
VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Definição
O Sistema Nervoso Autônomo, também conhecido como Vegetativo, é responsável por manter a
homeostasia ao controlar os órgãos viscerais do corpo e suas secreções glandulares. Esse sistema regula
funções como frequência cardíaca, salivação, digestão, frequência respiratória, entre outras (UEMURA,
2017).
A Terapia Neural é uma técnica que tem como objetivo tratar um corpo doente com suas próprias
forças internas ao desbloquear campos de interferência internos, usando o Sistema Nervoso Vegetativo
como condutor. Essa parte do Sistema Nervoso possui circuitos reguladores hormonais, humorais,
celulares e neurais, sendo uma parte muito importante de todas as reações do organismo (ADLER, 1983;
LA ROCHE, 2005; LA TORRE et al., 2012).
Sabendo que irritações no tono neurovegetativo desencadeiam doenças, a Terapia Neural tem como
objetivo neutralizar essas interferências através da aplicação de anestésicos locais diluídos,
principalmente nos locais em que o sistema vegetativo sofreu a lesão (BAROP, 2003 apud VIANNA;
GONÇALVES, 2016).
O corpo é estimulado através da aplicação de anestésicos locais diluídos, fazendo com que ocorra a
autorregulação do organismo, combatendo a doença (SERRAT, 2008).
Medicações
Para o tratamento na Terapia Neural, diversas drogas podem ser utilizadas, contanto que tenham
características dielétricos. Alguns exemplos são anestésicos locais diluídos, água de coco, alguns
medicamentos alopáticos como complexos vitamínicos, água do mar e alguns medicamentos
homeopáticos injetáveis (VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Segundo Cassuto et al. (2006), além dos anestésicos locais possuírem ação antimicrobiana e anti-
inflamatória, seu potencial é de 290 milivolts e sua aplicação faz com que a célula repolarize e estabilize
seu potencial de membrana.
Os medicamentos mais utilizados para a realização da Terapia Neural são a procaína e a lidocaína.
A procaína é o fármaco de eleição e deve ser diluída em soro fisiológico para que sua concentração fique
entre 0,35% e 1,0% (SERRAT, 2008)
A procaína é absorvida rapidamente pelo organismo após a administração intramuscular e subcutânea
pois é hidrolisada em ácido p-aminobenzóico e dietilaminoetanol. Sua distribuição é influenciada pelo
metabolismo, ela não se acumula nos tecidos ou no plasma, e se liga pouco a proteínas. Sua
metabolização ocorre no plasma pela acetil-colinesterase, por isso é mais utilizada e tolerável à maioria
dos pacientes (RANG et al., 2011 apud BULCÃO, 2011).
Segundo Bravo-Monsalvo et al. (2008), a dose máxima utilizada em cães com dermatite atópica é 7
mg/kg de cloridrato de procaína 0,7% de forma intradermal.
A lidocaína, quando utilizada, deve ser diluída para que sua concentração fique entre 0,3% e 0,5%.
Sua metabolização é hepática e sua excreção é feita pelos rins (OLIVEIRA, 2010).
Esses anestésicos locais diluídos podem ser injetados em diversas regiões e o intervalo entre as
aplicações vai variar de acordo com a patologia, o paciente e a resposta imune do organismo dele
(VIANNA; GONÇALVES, 2016).
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Mecanismo de ação
As células em repouso possuem um potencial elétrico que varia de -40 a -90 milivolts devido a
presença de íons de sódio e potássio. Ao contrário do meio intracelular, no líquido extracelular existem
substâncias com cargas positivas, e isso mantem o potencial elétrico da membrana. A presença de um
estímulo faz com que a célula se despolarize quando ocorre a entrada do sódio e a saída do potássio,
mas o normal é que ocorra a repolarização dessa célula logo em seguida. Quando não ocorre a
repolarização, é devido ao estímulo ser constante, forte ou irritativo, fazendo com que a célula continue
despolarizada e debilitada (ZAMUDIO, 2010).
Para que ocorra a repolarização da célula e o organismo volte a funcionar normalmente, são utilizados
anestésicos locais diluídos. O objetivo é que o seu efeito elétrico faça com que a célula volte ao normal,
já que seus efeitos anestésicos são mínimos devido a diluição. A procaína induz uma tensão bioelétrica
de cerca de 290 milivolts a nível da membrana celular, estabilizando o potencial da membrana das
células afetadas, que agora tem a capacidade de repolarização, recuperando e estabilizando também o
sistema neurovegetativo (JIMÉNEZ et al., 2011 apud VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Vias de ação
Uma das vias de ação da Terapia Neural é a terapia local, onde o anestésico é injetado diretamente
no local da dor, seja ele na musculatura, tendões, pele, inserções de ligamentos, nervos periféricos, entre
outros. Isso porque a ação tem efeito imediato, melhorando a circulação local e agindo como anti-
inflamatório (ADLER, 1983; VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Outra forma é pela terapia segmentar, que consiste na aplicação da procaína em uma área onde os
sintomas são projetados, podendo ser nódulos, raízes de nervos, áreas da coluna vertebral, artérias
periféricas, gânglios vegetativos, entre outros (ADLER, 1983; VIANNA; GONÇALVES, 2016).
A terceira forma de aplicação é através de um campo interferente, que é um distúrbio crônico que
pode estar em qualquer parte do corpo produzindo alterações locais ou à distância. Nesse caso, pode ser
um corpo estranho, cistos, calos ósseos, cicatrizes, dentes inclusos, restos de raízes de dentes, entre
outros (ADLER, 1983; VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Formas de aplicação
A aplicação do anestésico, que pode ser procaína ou lidocaína, pode ser feita de várias formas. Além
das mais utilizadas que são os pontos de acupuntura e as zonas de Head, também pode ser feito por via
intravenosa, nebulizadores, pomadas, via endovenosa, canal medular, entre outros. Todos os pontos de
acupuntura são utilizados na estimulação da Terapia Neural, e 70% deles são chamados de pontos
gatilhos (ADLER, 1983; VIANNA; GONÇALVES, 2016).
Relatos
Ao longo dos últimos anos, existem diversos relatos de autores que utilizaram a Terapia Neural e
obtiveram sucesso no tratamento de determinadas doenças. Gonçalves et al. (2019) relatou que um cão
foi atendido em uma clínica veterinária apresentando um leve desequilíbrio na perambulação, nistagmo
e a cabeça rotacionada. Suspeitou-se de cinomose e o animal recebeu uma receita para o tratamento da
mesma. No dia seguinte, voltou à clínica com piora do quadro, apresentando tetraparesia. Através de
um teste de ELISA foi confirmada a cinomose, o animal manteve a medicação e iniciou também a
Terapia Neural em pontos de acupuntura e aplicação endovenosa. Foram administrados 10ml de
procaína a 0,7% em cada sessão, variando de 0,3 a 1ml em cada ponto. Apenas 3 dias após a primeira
sessão, o animal já levantava sozinho, tentava deambular e teve melhora do nistagmo. Após 5 sessões
teve alta por apresentar completa recuperação das sequelas motoras da cinomose.
Um outro relato apresentou que uma cadela de 4 anos de idade foi levada a uma clínica veterinária
com queixa de anestro há cerca de dois anos. Ela passou por uma cesariana aos 8 meses de idade e foi
feita uma aplicação de progestágeno para impedir o cio aos 2 anos de idade, e após isso ela não ciclou
mais. Ao exame físico, a única alteração relatada foi a presença da cicatriz da cesariana, identificada
como cicatriz tóxica e sendo um possível campo interferente. Foi realizada apenas uma aplicação de
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Considerações finais
Ao longo dos últimos anos a Terapia Neural vem sendo cada vez mais utilizada na Medicina
Veterinária visto que é uma técnica minimamente invasiva e com ótimos resultados. Em todos os relatos
publicados, essa técnica se mostrou eficiente ao ser utilizada sozinha ou em conjunto com o tratamento
habitual das doenças.
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