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O cenário das políticas públicas para a comunidade LGBTQIAP+ em Campos dos

Goytacazes: reivindicar direitos é lutar pela democracia e pelo bem viver.

Não é novidade que desde o golpe sofrido pela ex-presidente Dilma, o Brasil sofre com
o desmonte das políticas públicas em todas as esferas. É inegável que os anos de governo
Temer, e, os 4 anos de governo Bolsonaro fizeram o Brasil retroceder em muitas camadas, e,
também é inegável que o bolsonarismo teve como um dos seus principais projetos a
destruição da população LGBTQIAP+.
Ao longo da sua carreira política, o ex-presidente Jair Bolsonaro proferiu inúmeras
vezes falas extremamente preconceituosas contra a comunidade LGBTQIAP+. Durante seu
governo, Bolsonaro usou as ferramentas do Estado para normatizar a LGBTfobia e destruir
políticas públicas fundamentais para a garantia das nossas vidas, como por exemplo quando
extinguiu o Conselho Nacional de Combate à Discriminação LGBT. Jair Bolsonaro foi
derrotado nas urnas. Mas, levando em consideração tudo o que vem acontecendo na história
desse país — desde que a primeira mulher que foi eleita presidenta pelo Partido dos
Trabalhadores sofreu um golpe — torna-se indispensável, nesses tempos de reconstrução da
democracia e do bem viver, refletir sobre a maneira em que o desmonte das políticas públicas
afetam sobretudo, a população LGBTQIAP+. Discutir o cenário de Campos dos Goytacazes
torna-se assim fundamental também, já que, no segundo turno da eleição de nossas vidas, Jair
Bolsonaro foi o candidato mais votado em nosso município, recebendo 171.999 votos, o
equivalente a 63,14% do total da cidade.
Em Campos dos Goytacazes, não há um vereador eleito declaradamente LGBTQIAP+,
e, quando se decide analisar as políticas públicas de acolhimento e garantia de direitos no
município, o cenário é ainda pior. No ano passado, começou a funcionar em Campos, o
primeiro centro de cidadania LGBTQIA+. De acordo com o Portal Oficial da Prefeitura, a
abertura deste centro de cidadania, se deu a partir da parceria do Governo do Estado com a
prefeitura com o intuito de ‘‘[...] atuar também como o Centro de Irradiação de Informações,
Acolhimento e Mobilização em políticas públicas de combate à LGBTfobia, visando
contribuir para o acesso a direitos e promoção da cidadania na região.’’. No entanto, o curioso
é que apesar de declarar a sua atuação enquanto um centro de irradiação de informações, o
centro LGBTQIA+ não possui um canal de divulgação de informações (pelo menos, não é
citado no site da prefeitura), e, boa parte da população LGBTQIAP+ campista não sabe da
sua existência e nem da sua localização.
Em relação ao cenário do munícipio, sabe-se também que, no mês passado, um projeto
de acolhimento para pessoas LGBTQIAP+ em situação de violência e/ou vulnerabilidade, foi
apresentado na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes e a apresentação do projeto,
inclusive viralizou nas redes sociais, por causa do comportamento dos vereadores, pois, entre
risadas e falas preconceituosas, teve vereador até mesmo confessando que como médico não
segue o nome social — mesmo sendo algo que é garantido por lei — o projeto foi aprovado
na Câmara (com nítido desconforto de boa parte dos vereadores eleitos), mas até agora não
houve a divulgação de como o projeto será implementado no município. Além disso, é
importante pontuar também que não faz muito tempo que o Diário Oficial do Município
trouxe a publicação da Lei nº 9.258, de 16 de fevereiro de 2023, que proíbe o uso da
linguagem neutra ou não-binária nas publicações, propagandas publicitárias e mídias da
Prefeitura de Campos.
Se torna evidente assim, pelas últimas ações do município, que não há qualquer
responsabilidade e até mesmo o interesse de discutir com seriedade a implementação de
políticas públicas para comunidade LGBTQIAP+. Dessa maneira, nós, população
LGBTQIAP+ do município, temos a árdua tarefa, de nos organizarmos pela reconstrução da
democracia e do bem viver, para reivindicar que as políticas públicas para a comunidade
LGBTQIAP+ sejam implantadas e tratadas com seriedade no município, é preciso
organização e luta coletiva para eleger um representante na câmara, e, para derrotar de vez o
bolsonarismo nesta cidade.

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