Você está na página 1de 18

1.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 Princípio da demanda efetiva e a articulação Keynes/Kalecki


Segundo Éleutério Prado, a natureza do princípio da demanda efetiva está
relacionada à teoria econômica keynesiana. O princípio da demanda efetiva
pressupõe que a demanda agregada na economia é fator determinante para o nível
de atividade econômica e de emprego. Segundo (Prado, 2021) o princípio da
demanda efetiva é que a demanda agregada é composta por quatro componentes
principais: consumo, investimento, gastos do governo e exportações líquidas. A
demanda efetiva é definida como a demanda agregada que é realmente realizada na
economia.

Prado argumenta que a falta de demanda efetiva pode levar a desequilíbrios


econômicos que levam ao desemprego e à subutilização dos recursos produtivos.
Nesse sentido, destaca a importância de políticas econômicas que estimulem o
aumento da demanda agregada, como políticas fiscais expansionistas e políticas
monetárias expansionistas. Em suma, a essência do princípio da demanda efetiva
de Eleutério Prado é o entendimento de que a demanda agregada desempenha um
papel vital na determinação do nível de atividade econômica e de emprego, e que a
demanda efetiva deve ser estimulada para atingir o pleno emprego e crescimento
econômico.

Antes de entrar na esfera técnica da formatação da demanda efetiva teorizado


por Keynes, é de bom agrado entrar na questão filosófica do processo que leva os
pensamentos em torno da teoria em si. Embora Keynes julgue como desnecessário
o centralismo proposto pelos socialistas, inclusive não só julgue como não
necessário, como também acredita na descentralização como meio de equilibrar as
forças que permeiam o sistema capitalista, por outro lado, como especifica Minsky
em sua obra Filosofia social e política econômica (1975) Keynes julgava de forma
mais firme conservadores e defensores do laissez faire. Sua teoria no sentido social
aparentava ser uma forma de socialismo:

A feição que ele deu às suas ideias de política anteriores a


teoria geral pode ser caracterizada como um flerte com um
socialismo humano descentralizado, flerte esse temperado pela
disciplina de um economista (MINSKY, 1975 p, 181)

Um projeto social entre Keynes e Minsky, focado na demanda efetiva,


poderia envolver a criação de políticas econômicas e instituições que promovam a
estabilidade macroeconômica e a mitigação de crises financeiras. Ambos os
economistas reconheceram a importância da demanda agregada na determinação
do nível de atividade econômica e de emprego. Em sua Teoria Geral, John Maynard
Keynes (1936) argumentou que a demanda efetiva, ou seja, a demanda total em
uma economia, incluindo consumo, investimento e gastos do governo, desempenha
um papel central na determinação do nível de produção e emprego. Ele argumentou
que a intervenção do governo por meio da política fiscal e monetária poderia
estimular a demanda efetiva em tempos de recessão ou estagnação para fortalecer
a economia e superar o desemprego.
Hyman Minsky, por sua vez, concentrou-se na instabilidade financeira e na
natureza inerentemente instável do sistema econômico. Ele desenvolveu a teoria
das instabilidades financeiras, que defende que as economias capitalistas são
propensas a crises financeiras devido à forma como os agentes econômicos
interagem com os mercados financeiros. Minsky enfatizou a importância dos ciclos
de crédito, endividamento excessivo e especulação financeira na criação de
desequilíbrios e crises econômicas.
Um projeto social entre Keynes e Minsky poderia, portanto, buscar
implementar políticas e instituições que encarregassem com a instabilidade
financeira e promovessem uma demanda efetiva. Isso pode incluir: Regulação e
supervisão financeira: Estabelecer regras mais rígidas para prevenir práticas
especulativas e excessos financeiros que levem a crises. Isso pode incluir a
introdução de limites para empréstimos excessivos, restrições às práticas de
empréstimos de alto risco e maior supervisão dos mercados financeiros.

Política fiscal expansionista: Uso da política fiscal expansionista, como


aumento dos gastos do governo e corte de impostos, para estimular a demanda
efetiva e incentivar a atividade econômica em tempos de recessão ou alto
desemprego. Política monetária acomodatícia: Adote políticas monetárias
acomodatícias, como taxas de juros mais baixas e medidas de flexibilização
quantitativa, para estimular o investimento e o consumo, aumentando assim a
demanda efetiva.
Investimento em infraestrutura: Priorizar o investimento público em
infraestrutura, como a construção de estradas, pontes, escolas e hospitais, para
aumentar a demanda agregada, gerar empregos e melhorar a produtividade da
economia. Sistema de Seguridade Social: Criar um sistema de seguridade social
abrangente que forneça uma rede de segurança para os indivíduos em tempos de
desemprego ou dificuldades econômicas, reduzindo assim a volatilidade na
demanda agregada.
Em 1926, três anos antes da publicação de sua principal obra, Keynes
baseava que a política econômica deveria se respaldar em três pressupostos: A
justiça social que assegure o pleno emprego e uma distribuição de renda justa. A
eficiência econômica que permeia através da socialização do investimento
conectando e equilibrando o pleno emprego com a eliminação da escassez de
capital. E por fim a garantia da liberdade individual. Assim é construído o
pensamento que reflete em sua obra realizada em seguida como resposta a
ideologia clássica do livre mercado onde a intervenção do estado teria papel
fundamental para resolver os problemas que esse próprio mercado não conseguiria
resolver por conta das suas próprias limitações. Parte dessa intervenção aparece na
obra de Keynes a partir do gasto público.
A compreensão de que a estabilização do gasto público é pré-condição para a
retomada do crescimento econômico tem suas raízes na teoria econômica
neoclássica, que, durante a crise de 1929, defendia tal estabilização, via produção
de níveis maiores de desemprego e decrescimento econômico, argumenta que no
longo prazo, a economia retomaria sua trajetória virtuosa. Em oposição a essas
ideias, o economista britânico John Maynard Keynes escreveu “A Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda”.
A ideia central de Keynes em sua crítica era sobre a visão desses
pensadores, que na época eram visões predominantes, sobre como a
autorregulação do mercado poderia aumentar os níveis de desemprego ao mesmo
tempo que poderia sim chegar ao pleno emprego. Sua crítica se baseia em
postulados das ideias neoclássicas ao defender sua visão intervencionista do estado
na economia: a equivalência entre os salários e a produtividade marginal do trabalho
e que o trabalhador só aceitaria o emprego em caso de que o salário compensaria o
trabalho. O que ocorre na verdade, como podemos ver no Capítulo 2, Seção 2 da
teoria geral a intitulada "A Função Consumo", Keynes discute a relação entre
consumo e renda, afirmando que o nível de emprego é afetado pelo consumo
agregado e pela demanda efetiva. Ele aponta que a renda disponível para consumo
é determinada principalmente pelos gastos planejados das empresas e do governo:

Este princípio simples leva, como se poderá ver, à mesma


conclusão de antes, a saber, o emprego só pode aumentar pari
passu com um aumento do investimento; a não ser, bem entendido,
que ocorra alguma mudança na propensão a consumir. Com efeito,
visto que no caso de um aumento do emprego os consumidores vão
gastar menos do que o aumento no preço da oferta agregada, o dito
aumento de emprego se revelará desvantajoso, a não ser que um
acréscimo no investimento venha preencher a lacuna. (Keynes,
1973,p. 139)

Keynes (1936) entendendo que flutuações em relação ao nível de emprego


são flutuações costumeiras dentro do sistema capitalista, define a ideia sobre a
demanda efetiva. Esse conceito explica que o nível de emprego depende da ideia de
que demanda efetiva que se representa pelo equilíbrio entre oferta agregada e
demanda agregada. A oferta agregada diz respeito sobre a quantidade de bens e
serviços ofertados pelos capitalistas tendo em vista o capital disponível. Já a
demanda agregada é a soma de quatro componentes: o gasto do governo, o
investimento privado, o consumo e a exportação líquida (exportação – importação).
A demanda efetiva se realiza através de investimentos, pois para ele seria
esse componente que determina o nível de emprego e esses investimentos
decorrem que a taxa de lucro fosse maior do que a taxa de juros. Na verdade, o que
determina o investimento é um conjunto dessa taxa de juros com a eficiência
marginal de capital (EMC), a EMC tem como definição a taxa de dedução que nas
palavras de Keynes: “tornaria o valor presente do fluxo de anuidades das rendas
esperadas desse capital (...) exatamente igual ao seu preço de oferta” (KEYNES,
1983, p. 115). Os empresários, ao especular com o risco, ao depender desse risco
os mesmos optam por ter a preferência pela liquidez onde ocorre nesse modo o
investimento por ativos monetários ao invés de ativos líquidos (moeda). Nesse
modo, em uma situação de crise, Keynes argumenta que essas políticas monetárias
referenciadas nessa visão clássica de autorregulação são completamente
ineficazes. Nesse sentido, Keynes via por necessidade a intervenção do estado.
Novamente, reiterando a ideia de que o emprego tem função elementar no
desenvolvimento do sistema. Para Keynes o estado deve realizar mais funções do
que propunha o liberalismo, no caso como dito por Adam Smith a defesa da
sociedade contra inimigos externos, a proteção dos indivíduos contra as ofensas
mútuas e a realização de obras públicas que não possam ser realizadas pela
iniciativa privada, resumidamente o estado deveria garantir que não haveria
intervenção de si mesmo na economia. O papel do estado para Keynes é que o
estado deve buscar através do gasto público favorecer os investimentos por parte do
setor privado, pois é através do investimento privado que ela flui como dito
anteriormente.
Dessa maneira, o estado deve agir na economia através de ajustes na
propensão marginal a consumir, auxiliando o setor privado realizando incentivos
para investimentos, nesse modo diminuindo as incertezas, para isso o estado pode
atuar na gerência de gastos públicos e operando sobre a taxa de juros e de
tributação. As políticas fiscais defendidas por Keynes em sua teoria acima de tudo
devem ser realocadas para o alcance do pleno Emprego
Keynes entende que em período de crise a economia deve abandonar o
sistema liberal de não intervenção estatal. Nessa situação, o governo deve atuar na
função anticíclica no aspecto econômico, para tentar não apenas na saída da crise
ao melhorar a economia em estado de armadilha de liquidez, onde o juros nominal
se aproxima do zero, e torna políticas monetárias ineficazes, os autores econômicos
responsáveis pelo investimento privado deixam de aplicar seu dinheiro na economia.
Dessa maneira, o governo deve agir com políticas fiscais expansionistas a fim de
aumentar o nível de emprego, consequentemente o nível de consumo das famílias
levando a um incremento da renda.
Como escapar dessa armadilha recessiva? Como então evitar a
“acumulação improdutiva” e gerar demanda efetiva? Estava assim legitimada
a ação do Estado como elemento integrante e indispensável ao bom
funcionamento do sistema econômico capitalista. Ao Estado caberia,
portanto, eliminar a carência de demanda efetiva em momentos de recessão
e desemprego. Como? Fazendo déficit orçamentário e emitindo títulos para
extrair a “renda não gasta” do setor privado e com ela garantir que as
máquinas ociosas voltem a operar. (Keynes, 1976, p. 15)
Kalecki em sua teoria em sua obra Teoria da economia dinâmica, assim como
Keynes e os pós keynesianos, contrapõe às teorias clássicas sobretudo, sobre a lei
de Say, onde é teorizado como dito anteriormente que o aumento da oferta, ou seja,
do aumento da produção levará o aumento do consumo e assim da renda. Ideia
essa reproduzida por vários autores clássicos como John Stuart Mill, que em sua
obra Commerce Defended diz:

A produção de mercadorias é a causa universal e única que cria um


mercado para as mercadorias produzidas(...) A capacidade aquisitiva de
uma nação é medida exatamente por sua produção anual, quanto mais se
aumenta a produção anual, mais se aumentará, por esse motivo, o mercado
nacional(...) A procura de uma nação é sempre igual à produção dessa
nação (MILL, 1808, descrito por M.DOBB)
O investimento aqui apareceria como consequência, das decisões do
capitalista e do dispêndio, o nível do dispêndio levaria ao nível prévio da renda e que
a identidade desses dois componentes (nível de renda e nível de dispêndio) devem
se manter em qualquer situação e tempo. Para Kalecki é o investimento que tem o
papel preponderante no nível de renda por si só.

É claro que os capitalistas podem decidir consumir e investir mais num


período que no precedente, mas não podem decidir ganhar mais. Portanto,
são suas decisões quanto a investimento e consumo que determinam os
lucros e não vice-versa (KALECKI, 1954, p.46)
Neste modo, Kalecki apresenta sua teoria de demanda efetiva onde ele
denunciava a doutrina sobre o pensamento que excluía a superprodução,
considerava que o sistema era completamente capaz da plena utilização dos
recursos de produção, desprezando as flutuações cíclicas, considerando-as apenas
como fricções insignificantes. Ideia essa que se inspira na economia individual onde
é lógica o pensamento que uma poupança maior é gerada a partir de um consumo
menor. Kalecki aqui chama a atenção de um outro componente que não fora falado
nem pelos clássicos e nem mesmo por Keynes que solidificam suas teorias de
demanda efetiva, levando em conta o consumo e o investimento. Kalecki por sua
vez adiciona o nível de distribuição de renda como componente de alto destaque em
sua teoria. Possas e Baltar cita em seu texto “Demanda efetiva em Kalecki” que
Kalecki enxerga que apesar da teoria de Keynes aparecer como algo análogo ela
peca em não ter uma base forte, essa fragilidade pode fazer com que autores
neoclássicos por exemplo os utilize como base e ao fazerem ajustes o trazem de
volta a lei de Say.
Numa economia oligopolizada, o poder de fixação de preços é determinado
pelo grau de monopólio, não aparece apenas nessa relação de concorrência entre
as empresas, mas também aparecem igualmente em relação aos trabalhadores. Ela
espelha em todo seu desdobramento a essência do processo de concorrência.
Assim, para Kalecki o grau de monopólio aparece como uma complexa relação
entre: uma empresa, seus concorrentes, seus fornecedores e os trabalhadores.
Essa relação deve ser vista na forma que os preços se modificam em relação ao
comportamento dos custos primários.
Nesse sentido, no modo que se mostra o conceito do nível de monopólio não
apenas como concorrência entre empresas, também se apresenta o atrito entre os
trabalhadores e os capitalistas. A partir disso, mostra-se o processo que cumpre o
processo de distribuição de renda entre o lucro dos donos dos meios de produção e
os salários dos trabalhadores. Pode se dizer que para Kalecki essa discussão não
se apresenta de forma secundária para o mesmo, e sim se transforma em uma
discussão primordial em sua teoria da demanda efetiva e, assim, acaba por exprimir
as relações dentro do sistema econômico capitalista.
Essa discussão sobre a distribuição de renda para Kalecki é a forma como ele
consegue introduzir as classes sociais na análise aparecendo como componentes
fundamentais dentro de uma relação de concorrência e produção. Porém, outra
forma que Kalecki introduz a discussão sobre as classes dentro de sua teoria se faz
pela ideia da capacidade de cada classe consumir e investir. Ou seja, na sua
capacidade de gastar. Em relação a ideia de como a classe trabalhadora realiza
seus gastos, Kalecki fala sobre a incapacidade do trabalhador em poupar. Ele exclui
a possibilidade de que o trabalhador gaste mais do que sua renda o permite, assim
endividando-os. Pois para ele isso aparece de forma mais qualitativa, isso é mais
uma questão individual ou até mesmo uma exceção à regra. O que ele tenta
explicitar em relação a realização do gasto inclusive da baixa propensão a poupar do
trabalhador é sobre a “autonomia” do gasto em relação à renda. Mesmo que se
eliminasse essa autonomia do gasto, e que fosse julgado fosse a qualidade do
gasto, analisando a possibilidade de poupar através do salário do trabalhador, da
mesma forma se tornaria desigual em relação ao gasto e o lucro agregado dos
capitalistas.
Os lucros e salários são determinados pelas decisões de gasto ( investimento
e consumo) dos capitalistas, considerando que a distribuição de renda e a proporção
do salário gasto ao consumir já esteja “dada”. Kalecki deixa de forma clara como se
dá o lucro dos capitalistas, que é através do consumo e investimento, da mesma
forma o nível dos salários e da produção.

Na hipótese de que os salários são iguais ao consumo dos trabalhadores,


este não pode ir além ou fica aquém do montante de salários. Com as
despesas dos capitalistas não há essa limitação. Eles podem aumentar, no
período seguinte, seu consumo ou suas aplicações em investimento além
de sua renda atual, utilizando-se de crédito ou de suas próprias reservas
monetárias, podem também gastar em consumo e investimento menos do
que sua renda atual, para pagar dívidas ou ampliar suas reservas. Mas, se
gastarem mais ou gastarem menos, a igualdade acima nos mostra
claramente que a renda dos capitalistas como um todo deve aumentar ou
diminuir deve aumentar ou diminuir exatamente quanto aumentaram ou
diminuíram suas despesas. A produção global deve elevar-se até o nível no
qual [dada a distribuição de renda] a renda obtida pelos capitalistas dessa
produção se iguala à sua ampliada despesa em consumo e investimento.
(KALECKI, Theory of business Cycles, p. 76)
Nota-se, por esse trecho, que Kalecki não cita a poupança, trata o montante
de lucros e o gasto dos capitalistas de forma idêntica derivadas de simples hipóteses
de consumo integral dos salários e de uma economia fechada sem governo. Kalecki
também dá ênfase sobre a particularidade do gasto do capitalista. Ele considera que
ao ignorar-se essa particularidade, transpõe nessa alheação da distribuição
funcional da renda através da ideia de “função consumo” que encobre a
determinação do lucro pelo investimento, que para Kalecki é algo indispensável para
se analisar a dinâmica. O que ele conclui com todos esses conceitos é que existe
sim uma separação entre as classes inclusive em relação da demanda efetiva. E,
nesse sentido, salienta que o gasto dos capitalistas é de fato autônomo pelo fato de
que não depende das variações do gasto dos capitalistas como o consumo.
Diferentemente do gasto dos trabalhadores.
Concluindo a demanda efetiva em Kalecki, para ele o gasto do
capitalista é apontado como função dos lucros, e os salários do trabalhador são
absorvidos pelo consumo dos mesmos. Ou seja, se apresentam como variáveis
dependentes, a única variável que se mostra independente é o investimento. Porém
dependendo das condições e dentro de certo limite o gasto do capitalista também
poderá se apresentar como um gasto autônomo. A mesma exceção pode se
apresentar em relação ao consumo dos salários, que dependendo do salário, não
necessariamente o gasto consumirá toda a renda do assalariado. Contando com
essas estruturas tanto os capitalistas quanto os trabalhadores podem se apresentar
em um mesmo setor de bens de consumo.
Em relação ao investimento, em seu maior nível se comporta de forma
dependente em relação às expectativas de rentabilidade. Dando possibilidade em
gerar maiores margens de variação em relação a nível de renda tendo em vista sua
relação contraditória com o comportamento de consumo. Essa dependência se dá
pelo sistema de crédito que permite que o investimento possa se pagar, ou seja,
autofinanciar em um determinado tempo. Mas o que o investimento mais se
diferencia de outros componentes, é o seu potencial de criação de uma nova
capacidade produtiva. É essa característica do investimento que se fundamenta na
diferenciação entre classes, fazendo com que como diz Kalecki que os capitalistas
sejam “donos de seu destino”.
Kalecki acredita que para dissolver as flutuações do nível de renda e
emprego deve se estabilizar os investimentos, e que essa variação surge da
variação dos lucros extraídos. Porém na visão do mesmo um regime de pleno
emprego financiado pelo governo traria aos lucros do capitalista, estabilidade a
médio e longo prazo que só se deteriorava por elementos extraordinários a longo
prazo como, aumento da população, variação no investimento privado no segmento
tecnológico. Kalecki também menciona em relação ao papel do estado que os
governos controlem os fluxos de investimento privado através do controle sobre a
taxa de juros, imposto sobre a taxa de lucro do capitalista se adequando assim a
determinada economia a estabilidade dos lucros.
Em um artigo chamado os três caminhos para o pleno emprego Kalecki
descreve como o dispêndio do governo, estímulo do setor público para investimento
privado e a distribuição de renda podem de maneira distintas ou de forma conjunta
torne o pleno emprego não apenas fator quantitativo em uma economia, mas
também fator qualitativo. Em relação ao dispêndio do governo poderá ser na forma
de subsídios ao consumo popular, podendo ser feito através da manutenção de
preços baixos para produtos de subsistência.
Os investimentos públicos seriam investimentos que não fizessem
concorrência com investimentos privados, porém ajudaria no desenvolvimento do
estado e da população como: construção de escolas, rodovias e hospitais. As
decisões tanto de dispêndio e de investimento devem contar com um princípio de
prioridades sociais. Kalecki não se opõe ao uso de déficit fiscal, para ele em uma
economia que não alcançou o pleno emprego essa economia poderá sim trabalhar
dentro do déficit. O financiamento dos investimentos não poderá ser realizado
segundo ele através do aumento dos impostos.
Já o terceiro caminho, a distribuição de renda, sendo mais específico a
distribuição da renda dos mais ricos para os mais pobres, geraria uma maior
propensão a consumir da população sobretudo dos mais pobres, essa distribuição
ocorreria através da cobrança de impostos progressivos através de um imposto
“modificado” em relação a renda bruta da empresa.
Conectando essa visão de Kalecki sobre o emprego e a distribuição de renda
e a conjuntura brasileira que se apresenta como descrito anteriormente com uma
taxa alta de desemprego, e dificuldade do mercado em garantir demanda para sua
oferta devido à baixa propensão de consumo dos trabalhadores gerado por essa
taxa de desemprego, renda e diminuição do poder de compra não apenas pela
renda mas pelo aumento da variação do IPCA nesses últimos anos. Poderíamos
perguntar, a partir da teoria da demana efetiva de Kalecki, o seguinte: Por que o
mercado não se interessa pela busca do pleno emprego por parte do estado, se isso
poderia garantir em curto prazo a demanda necessária para a sua produção?
Pois bem, na conjuntura que Kalecki realizava seus estudos na década de 40
ele responderia essa pergunta dizendo que isso tiraria dos capitalistas o poder sobre
o governo. Sem essas políticas fiscais por parte do estado, o protagonismo em
relação às medidas para busca de melhores taxas de emprego fica dependente de
mais investimentos por parte dos capitalistas. O estado, coagido pelos interesses
dos capitalistas por medo de perder esses investimentos, acabam não realizando as
políticas necessárias.
. Reiterando que além dessa manutenção do poder sobre o estado,
algumas empresas durante crise e pandemia obtiveram crescimento de lucro
considerável. Não apenas bancos que no caso ficaram em evidência pelos seus
lucros estratosféricos. Empresas dos setores de bebidas alcoólicas, telefonia e de
alimentos obtiveram lucros exorbitantes dentro desse período, o que parece não
fazer sentido tendo em vista a baixa taxa de crescimento, em contrapartida alguns
setores tiveram queda nas taxas de lucro. Algumas multinacionais pararam suas
operações no Brasil como algumas empresas da indústria automobilística.
Além dessas empresas que saíram do Brasil, algumas outras travaram
investimentos, o que diminui a captação de recursos do estado pelos impostos,
mesmo com a reforma trabalhista (LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017) que
prometeria ao diminuir os direitos trabalhistas maior investimento por parte do setor
privado ao garantir maiores taxas de lucro e assim diminuir a taxa de desemprego
(uma política liberal), Esse aumento do investimento privado ou não foi realizado ou
não gerou uma alta nas taxas de emprego, ou geraram empregos de baixa
qualidade enquanto nível de salários e direitos. Esse fator somado com a limitação
dos gastos públicos leva a um engessamento da economia brasileira.

Se a iniciativa privada não está teoricamente cumprindo o seu papel. Para


Kalecki restaria para o estado realizar investimentos em setores que não teriam
concorrência direta com as empresas privadas, como construção de escolas,
hospitais e rodovias. A busca pela distribuição de renda na direção dos ricos para os
mais pobres ao criar imposto específico e progressivo por exemplo, seria um
caminho para aumentar a propensão ao consumir e criar uma propensão a poupar
da classe trabalhadora, tendo em vista que qualitativamente os trabalhadores não
conseguem poupar pois precisam gastar para ter o mínimo para sua própria
subsistência e talvez um mínimo de lazer.

Como reproduzido ao longo da fomentação, o que vemos é o contrário com a


perda do poder de compra. Em 2021 voltamos para o mapa da fome (G1, 2022), e
só entre 2020 para 2021 a população pobre no país aumentou de 7,6% do total da
população para 10,8% (FGV SOCIAL, 2022). Enquanto a fortuna dos Bilionários
subiu em 60% durante a pandemia (CNN BRASIL, 2022). O fim das políticas de
austeridade é fator essencial para o crescimento e equilíbrio da demanda efetiva no
Brasil? ou talvez não apenas o fim da austeridade seria capaz de realizar tais feitos?

1.2 Pós Keynesianos

A fim de atualizar os preceitos de Keynes, os pós keynesianos em seus


estudos citam algumas perspectivas em relação à política econômica. Essas
perspectivas são: em relação à política monetária dando ênfase em suas incertezas,
e o papel do estado no desenvolvimento econômico. No que se refere a esse papel
os pós keynesianos atribuem e qualificam o estado de tal forma: o fator que o estado
tem mecanismos de alocação de recursos e distribuição de renda que leva a
economia o desenvolvimento econômico levando em conta o direito à propriedade
privada.
Fernando José Cardim em sua obra Keynes e os pós Keynesianos (1992)
explicita a importância do estado na economia em relação ao seu desenvolvimento
por entender que existem falhas no capitalismo que o mercado não consegue
resolver ,como por exemplo a manutenção do pleno emprego. Os pós keynesianos
apontam para uma reformulação estrutural do sistema, inclusive destacando a
taxação das grandes fortunas. Cardim destaca 3 formas de intervenção estatal
empregados pelos pós keynesianos: emitir sinais para as empresas a fim de
estimulá-los a realizar investimentos ao fornecer informações que por si só não
conseguiriam deter, regulamentar e criar redes de segurança para limitar
informações causados por falhas de mercado e criação de um ambiente de
transparência estrutural que agem sobre os agente e a economia, nesse caso
seguindo os passos de Keynes
Como meio de orientar o comportamento dos agentes, as reformas sociais
têm papel importante como instrumento, como a citada reformas redistributivas
progressivas ou seja de cima para baixo, dando seguridade aos mais pobres. A fim
de se chegar em uma política econômica desejável, ou seja voltada para o
desenvolvimento, as instituições robustas e bem concebidas não seriam o suficiente
para que as metas sejam atendidas e assim como especificado por Minsky (1975)
em relação a Keynes os pós keynesianos também propõe ao capitalismo o
reformismo. O objetivo em relação aos agentes privados é que eles tenham
segurança em suas tomadas de decisão.
Para formulação de tais políticas, regras devem ser seguidas, como: criação
de instituições que asseguram a eficiência de estratégias, desenvolvimento de
instrumentos focando no período que essas estratégias levarão a ter seus impactos
e políticas específicas que serão implementadas de forma isolada. Diferente de
Keynes que acreditava na economia despolitizada e se aproximando de Kalecki que
acreditava que despolitizar a economia parecia ser por vezes um idealismo. Keynes
via no pleno emprego um consenso que deveria ser vista em relação a todos os
agentes como norte para o desenvolvimento. Para os pós Keynesianos como
argumenta Cardim (1992) a realidade não era de fato assim, o que se via na
verdade é que os capitalistas conviviam de forma amistosa com uma taxa mais
elevada de emprego tendo em vista que o desemprego pode ser utilizado como
instrumento de controle da massa trabalhadora.
Apesar de que Cardim observa que para se obter resultado nas políticas
explicitadas pelo pós keynesianos haveria uma necessidade de ter forças fora do
âmbito econômico para se reformar o capitalismo pós observação que o pleno
emprego que seria de extrema importância para o desenvolvimento do sistema não
ser de tão necessidade para manutenção do lucro do capitalista. Os pós
keynesianos citam quais seriam os instrumentos para políticas econômicas que
deveriam ser implementadas: A política fiscal que deve garantir o pleno emprego a
longo prazo, a política de renda que deve buscar a estabilidade dos preços e a
política monetária que devem frear alterações causadas pelas políticas de pleno
emprego em relação a ativos não líquidos.
A política fiscal deve se guiar por três metas: organizar assuntos naturais do
estado, regular a demanda agregada elaborando programas de investimentos a
longo prazo sustentando assim a demanda agregada quando as empresas não
consigam sustentar essa demanda, tornando a programação de tais políticas por
parte do estado uma política permanente e por fim promover a distribuição de renda
e os instrumentos que podem ser utilizados para esse fim podem ser inúmeros como
a taxação progressiva e encargos sobre grandes rendas. isso levará um aumento da
renda dos mais pobres e por consequência o aumento de seu padrão de vida e isso
estimulará a atividade das empresas levando a economia a se desenvolver.
Para os Pós keynesianos a questão da distribuição de renda deve ser
questão primordialmente da política fiscal, diferente de Keynes que adiciona a esse
cálculo políticas de renda que serviriam para suavizar a pressão inflacionária
causada pela maior participação da parte mais pobre da sociedade na economia. as
políticas de renda para os pós keynesianos aparece para regular a formação de
salários e dos preços e dos mark-ups dando importância para tal política para tornar
as políticas fiscais mais eficientes.
As políticas monetárias surgem para complementar as políticas de renda para
controle da inflação e da política fiscal a fim de regular a demanda agregada. O
papel da política monetária deve ser: satisfazer as necessidades de saldo ativos
criados por um produto em expansão, controlar as expectativas para que exista
preferência pela liquidez positiva em relação a preferência por ativos ilíquidos.
Enfim, o que temos na teoria Pós Keynesiana é um frescor do que fora proposto por
Keynes de que o estado pode e deve intervir e agir em busca de gerar
desenvolvimento a partir das expectativas formadas e a sua sustentação.
1.3 Austeridade

Considerando o estudo teórico acima, podemos adentrar no universo da


austeridade fiscal por essa perspectiva keynesiana. Primeiramente temos que nos
perguntar: O que é austeridade fiscal? Pois bem, teoricamente a austeridade fiscal é
definida como uma política que advém de um orçamento comprometido,
insustentável. Porém um novo significado se apresenta diante consequências desta
política, como a recuperação da lucratividade (PRADO, 2015). Durante a crise de
29, as políticas austeras também se apresentam como uma forma de repor a
disciplina do capital sem destruir o capital acumulado.
Podemos afirmar ao entrar dentro da teoria e estudar os Keynesianos que a
austeridade para eles, como Eleutério Prado conceitua em um de seus textos que:
“Os economistas keynesianos costumam classificar a austeridade como mero
produto de ideologia conservadora ou como decorrência desastrada de má teoria
econômica” (PRADO, 2017). Se perguntarem a estudiosos Keynesianos qual foi a
causa principal da grande depressão ou da piora do grau da mesma (e serviria
também para outras crises de demanda efetiva), eles afirmaram que a culpa deriva
das políticas austeras.
Foram as políticas de austeridade que causaram a Grande
Recessão? Sem tais políticas não teria ocorrido a depressão ou a
estagnação das principais economias capitalistas? Se algo desse tipo
ocorreu, isso significa que as políticas dos governos “austeros” foram apenas
loucuras? Elas estavam inteiramente baseadas em mera ideologia e em má
teoria econômica? Para os keynesianos, a resposta é 'sim' para todas essas
perguntas. E eles dominam – como bem se sabe (MICHAEL ROBERTS,
2017, p.1)
Durante o período da grande crise de 29 os teóricos liberais defendiam em
uma conjuntura de estabilidade da crise, foram as políticas fiscais austeras
promovidas pelo governo de Herbert Hoover (1929-1933) que causaram essa
instabilidade. Keynes, por sua vez, ao negar a ideia de rigidez fiscal como
consequência daquele momento de equilíbrio, justifica que o que trouxe realmente
estabilidade foi na verdade a troca do padrão ouro, para o padrão dólar como
método de lastreamento da moeda.
Na conjuntura da época da crise de 29, as políticas de austeridade pareceram
não dar o resultado esperado. O que se apresentou na verdade foi um
prolongamento da crise perto ou já dentro de um nível crônico de recessão. Pois
bem, a conjuntura a ser estudada neste projeto de monografia, não será o da crise
de 29, onde ocorreu uma crise de superprodução e sim estudaremos a austeridade
em uma conjuntura brasileira onde temos uma clara crise de estagflação. Nesta
maneira precisamos responder outra pergunta: O que é a crise de estagflação?.O
que será respondido ao longo desse projeto.
Nesse caso uma política fiscal austera pode piorar ainda mais a situação?
Keynes responderia que sim. Como dito anteriormente o estado nesta situação deve
realizar uma política fiscal expansionista tendo em vista, na visão do mesmo a
ineficácia de políticas monetárias para a saída da crise. Aqui o gasto público
funcionaria a fim de catapultar o nível de emprego, aumentando assim o consumo e
consequentemente o nível de renda e equilibrando a demanda efetiva.
1.4 Critica a austeridade a partir do princípio da demanda efetiva.

A crítica de Keynes à austeridade baseada no princípio da demanda efetiva


está presente em sua obra “A Teoria Geral do Emprego, Juros e Moeda”. Keynes
argumenta que durante períodos de recessão ou depressão, cortes de gastos do
governo e aumentos de impostos (medidas de austeridade) podem levar a uma
diminuição da demanda agregada na economia, aprofundando a recessão. Keynes
argumenta que a demanda efetiva, que é a demanda total por bens e serviços em
uma economia, é um determinante do nível de emprego e produção. Eles
argumentam que em situações de recessão a demanda agregada é insuficiente para
garantir o pleno emprego e, nesse contexto, medidas de austeridade podem piorar a
situação.

Para Keynes, em tempos de recessão, é preciso que o governo adote


políticas expansionistas, aumento de gastos e/ou corte de impostos, para estimular a
demanda agregada e reanimar a economia. Essa abordagem é conhecida como
política fiscal expansionista, que busca compensar a insuficiência da demanda
privada por meio de uma maior demanda pública. Keynes (1936) critica a
austeridade argumentando que, ao cortar os gastos públicos e aumentar os
impostos, o governo reduz a renda disponível das famílias e das empresas, levando
a uma queda ainda maior da demanda agregada. Ele argumenta que em períodos
de recessão é necessário que o governo aja como um "emprestador de última
instância" e assuma a responsabilidade de estimular a economia por meio de gastos
públicos para restabelecer o pleno emprego.

Essa crítica keynesiana da austeridade baseada na demanda efetiva tem sido


central nos debates econômicos e políticos, particularmente durante os períodos de
recessão e crise econômica. Muitos economistas e formuladores de políticas contam
com as ideias de Keynes para argumentar a favor de uma política fiscal
expansionista em tempos de baixa demanda agregada. Hyman Minsky (1992),
também criticou a austeridade baseada no princípio da demanda efetiva. Minsky
argumentou que a austeridade fiscal poderia levar a um declínio na demanda
agregada, resultando em recessão e aumentando a instabilidade financeira.

Segundo Minsky, a economia é inerentemente instável e sujeita a crises


financeiras. Ele desenvolveu a teoria da "hipótese da instabilidade", que afirma que
períodos de estabilidade financeira e crescimento econômico levam a uma maior
satisfação e apetite por risco, o que, por sua vez, leva a um maior acúmulo de
dívidas e vulnerabilidade financeira. Essa dinâmica pode eventualmente
desencadear uma crise financeira e recessão.
(insisrir citação)
Nesse contexto, Minsky argumentou que a austeridade fiscal, ao reduzir os
gastos do governo e a demanda agregada, pode exacerbar a instabilidade financeira
e levar a uma espiral descendente na economia. Uma queda na demanda agregada
como resultado de medidas de austeridade pode levar a lucros corporativos
reduzidos, aumento do risco de inadimplência da dívida e aumento das pressões
deflacionárias.

Minsky também enfatizou a importância do setor financeiro e bancário na


economia. Ele argumentou que a austeridade fiscal poderia levar a uma redução no
crédito disponível, dificultando o acesso de empresas e indivíduos a empréstimos.
Isso poderia levar a uma redução do investimento e do consumo, aprofundando
ainda mais a queda da demanda agregada.

Em suma, a crítica de Minsky à poupança baseada no princípio da demanda


efetiva baseia-se em sua visão da economia como um sistema instável sujeito a
crises financeiras. Ele argumentou que a austeridade fiscal poderia exacerbar a
instabilidade financeira e levar a um declínio na demanda agregada, resultando em
uma recessão e aprofundando ainda mais os problemas econômicos.

Michał Kalecki também criticou a austeridade com base no princípio da


demanda efetiva. Kalecki argumentou que as políticas de austeridade poderiam ter
efeitos contraproducentes na economia ao reduzir os gastos do governo e buscar o
equilíbrio fiscal. Segundo Kalecki, a austeridade fiscal pode levar a uma queda na
demanda agregada, que por sua vez resulta em queda na produção e no emprego.
Ele enfatizou que os cortes de gastos do governo afetam negativamente a demanda
efetiva porque os gastos do governo são uma parte significativa da demanda
agregada.

Pedro Rossi em sua obra Economia para poucos (2018) explicita as ideias de
Kalecki sobre os cortes de gastos do governo e medidas de austeridade podem criar
um ciclo vicioso na economia. À medida que a demanda efetiva cai devido às
medidas de austeridade, as empresas podem experimentar uma produção reduzida
e lucros reduzidos. Isso pode levar a uma diminuição do investimento privado e,
consequentemente, a um menor nível de emprego. Com menor emprego e renda
disponível, o consumo também é afetado negativamente, reduzindo ainda mais a
demanda agregada.
Kalecki identificou deficiências na possibilidade de garantir
pleno emprego apenas por meio do investimento privado. Por isso,
Kalecki defendia o dispêndio do governo como forma de alcançar o
pleno emprego e contestava as críticas que questionavam a
capacidade de financiamento do déficit, a possibilidade de
desestímulo do investimento privado, a pressão inflacionária e a
tendência ao endividamento público crescente.(Rossi, Pedro. 2018,
p. 43)
Além disso, Kalecki enfatizou o papel dos salários na determinação da
demanda efetiva. Ele afirmou que em um período de medidas de austeridade, a
pressão para reduzir os salários pode aumentar. No entanto, salários mais baixos
podem levar a quedas adicionais na demanda agregada porque os trabalhadores
terão menos renda disponível para gastar.

Em resumo, a crítica de Kalecki à austeridade efetiva da demanda concentra-


se nos efeitos negativos que as reduções nos gastos do governo podem ter sobre a
demanda agregada, a produção, o emprego e o consumo. Ele argumentou que as
medidas de austeridade poderiam criar um círculo vicioso na economia que
prejudicaria o crescimento econômico e a estabilidade.

Você também pode gostar