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DOI: 10.5935/2238-3182.20150058
RESUMO
ABSTRACT
Ophthalmologic surgical procedures are performed mainly in elderly patients who present
with many coexisting diseases that induce subsequent hazards from general anaesthesia.
Therefore, regional anaesthesia is preferred, and peribulbar block has been the most
executed in daily practice. There is no consensus or recommendation about which local
anaesthetic has best attributes of quality and safety for ophthalmic blockades. There are
many studies comparing different drugs in literature, however, a review about the subject,
gathering results, was never made. This article aims a review comparing different local
anaesthetics used routinely concerning efficacy, intraocular pressure, possibility of sys-
temic intoxication, and patients’ and surgeons’ satisfaction.
Key words: Ophthalmologic Surgical Procedures; Anesthetics, Local; Nerve Block; Intra-
ocular Pressure.
INTRODUÇÃO
a anestesia regional reduz custos, favorece mais agilidade e rotatividade ao centro Autor correspondente:
André Cançado Fróis
cirúrgico e fornece analgesia residual. E-mail: froisandre@gmail.com
O bloqueio peribulbar tem sido a técnica mais uti- anestesia geral associada, resultando 27 trabalhos no
lizada devido à sua similar eficácia e reduzido risco montante final.
associado, em comparação ao bloqueio retrobulbar.
Vários anestésicos locais e misturas destes são usa-
dos para a anestesia peribulbar, porém não há um EFICÁCIA E DURAÇÃO
agente recomendado universalmente.1,2
Soluções tradicionais misturando drogas de curta Os principais parâmetros clínicos utilizados para
latência, como a lidocaína, com agentes de ação pro- avaliar a qualidade do bloqueio foram:
longada, como a bupivacaína, são utilizadas tradicio- ■■ tempo para acinesia ocular, em uma série de ava-
nalmente com o intuito de se obter rápida condição liações minutos após o bloqueio;
cirúrgica unida a tempo prolongado de bloqueio e ■■ tempo necessário para liberar o início da cirurgia;
não se tratar de “novas” soluções com desconhecidas analgesia complementar sistêmica ou infiltração
concentrações e características farmacológicas.3,4 pelo cirurgião.
Além disso, anestésicos de ação prolongada com
limiares de toxicidade sistêmica mais altos em rela- O tempo para acinesia ocular é aferido a partir de
ção à bupivacaína – ropivacaína e levobupivacaína escores da movimentação dos músculos extraocula-
– têm sido empregados buscando-se mais segurança. res. É pontuado o movimento como zero, um ou dois,
Há o questionamento se o emprego de tais agentes se- dependendo da movimentação para a esquerda, a
ria justificado pelo melhor perfil de segurança, uma direita, para cima e para baixo. A somatória dá o es-
vez que são utilizados baixos volumes nos bloqueios core final. Os estudos definem o número de avalia-
oftalmológicos. Diversos ensaios clínicos foram rea- ções e em quanto tempo é feita cada avaliação após
lizados comparando-se as drogas citadas quanto a o bloqueio. Na maioria dos estudos, só há liberação
diferentes variáveis. 1,2,5,6 para o início da cirurgia quando há completa acine-
sia do olho. Entretanto, é possível bloqueio sensitivo
ótimo, que possibilita a cirurgia, sem a total acinesia,
METODOLOGIA configurando um fator de confusão entre qualidade
da anestesia e movimentação ocular.7-13
Este artigo de revisão foi baseado somente em es- Mais do que a escolha do anestésico, o fator que
tudos prospectivos randomizados. O banco de dados mais influencia o início da anestesia é o uso da hia-
utilizado foi o Pubmed, da National Center of Biote- luronidase. Esta enzima proteolítica facilita a disper-
chnology Information (NCBI), e os descritores usados são do anestésico na cavidade orbitária, acelerando
foram: “Ophthalmological Surgical Procedures” como o início de ação. Van der Berg et al.,14 em ensaio
população estudada, “Peribulbar Block” como inter- comparando o uso de quatro soluções anestésicas
venção realizada e “Local Anesthetics” como compa- diferentes – bupivacaína isolada, lidocaína isolada,
ração a ser feita. Não foi escolhido desfecho primário, bupivacaína + hialuronidase e bupivacaína + lido-
uma vez que se objetivava comparar várias caracterís- caína + hialuronidase –, demonstraram que o tempo
ticas, e não uma em destaque. Por essa razão e pelo para acinesia ocular era significativamente maior no
fato de os estudos agrupados não serem homogêneos, grupo tratado com bupivacaína isoladamente. Além
não se pôde realizar análise sistematizada ou meta- disso, não houve diferença significativa entre o grupo
nálise. As variáveis observadas foram: eficácia e du- tratado com lidocaína isolada e o grupo bupivacaína
ração do bloqueio, pressão intraocular, intoxicação + hialuronidase. Assim, muitos dos estudos compa-
sistêmica e satisfação do paciente e do cirurgião. ram os anestésicos locais quanto ao início de ação
Foram encontrados 132 estudos com a pesqui- utilizando a enzima em todas as preparações testa-
sa dos descritores. Foram eliminados os que não se das. As concentrações de hialuronidase nas soluções
tratava de ensaios randomizados, que comparavam variam de 10 a 15 UI/mL, sendo que concentrações
diferentes técnicas de bloqueio – não o anestésico maiores trazem mais efeitos colaterais, como edema
utilizado – e que envolviam técnicas com sedação ou e eritema, sem muitos benefícios.12-18
Também, há grande variação entre as concentra- maior em um estudo – Lai et al.9 – e resultados não
ções e os volumes de anestésicos empregados. Bupi- significativos em outros dois.
vacaína e levobupivacaína foram testados nas con- Tais resultados sugerem que são drogas com dife-
centrações de 0,5 e 0,75%, enquanto a ropivacaína renças pouco significativas em relação à qualidade
foi utilizada nas concentrações de 0,75 e 1%. A lido- do bloqueio. A premissa de que a ropivacaína provê
caína sempre foi usada a 2%. Alguns autores fixavam um bloqueio motor menos intenso que a bupivacaína
volumes a serem injetados em cada paciente, en- não foi comprovada nas concentrações utilizadas.
quanto outros aplicavam volumes diferentes, toman- A duração da anestesia foi aferida pelo retorno
do como parâmetros clínicos para interrupção da da movimentação dos músculos extraoculares após
infusão – a saber, proptose e ptose mecânicas. Esses o procedimento. Em alguns estudos, a ropivacaína
são fatores de confusão na avaliação final. Pacientes apresenta duração de bloqueio maior do que a bu-
com cavidades orbitárias menores têm melhor distri- pivacaína e a levobupivacaína. Gioia et al.4 demons-
buição do anestésico quando são utilizados volumes traram que a mudança de concentração utilizada da
fixos, tendo tempo de latência mais curto. Por outro ropivacaína de 0,75% para 1% tem pouca ou nenhu-
lado, a avaliação da proptose e ptose é subjetiva, ma influência na latência, porém a concentração
podendo levar a significativa diferença de volumes de 1% aumenta significativamente o tempo de blo-
empregados entre os grupos.19-20 queio. Concentrações de 0,5% não são eficazes para
A lidocaína, anestésico com pKa mais próximo bloqueio oftalmológico. Assim, o uso da ropivacaí-
do fisiológico, possui sabidamente menor latência na a 1% fornece tempo de analgesia pós-operatória
e não aparece utilizada isoladamente nos estudos, maior, o que pode ser benéfico em procedimentos
mas associada a outro anestésico de ação mais pro- prolongados e dolorosos.
longada. A mistura da lidocaína com outro anes-
tésico objetiva rápido início de ação associada a
maior duração. Em procedimentos rápidos e pouco SATISFAÇÃO
dolorosos, como a cirurgia de catarata realizada
por cirurgião experiente, a lidocaína pura é uma Dos estudos que avaliam satisfação tanto de pa-
boa opção. Entretanto, em cirurgias mais prolonga- cientes quanto de cirurgiões a partir de questionários
das, com forte estímulo álgico no pós-operatório, após o procedimento realizado, 100% não mostram
não é adequada. diferenças estatisticamente significativas entre os
A Tabela 1 mostra diversos estudos que compa- anestésicos locais.
raram os anestésicos de ação prolongada quanto a Contudo, uma medida indireta de satisfação do
tempo para acinesia ocular, condições para iniciar a paciente seria a queixa de dor durante a injeção pe-
cirurgia, necessidade de complementação a partir de ribulbar. Nesse aspecto, a lidocaína tem se mostrado
novas injeções e duração da anestesia. como a mais dolorosa, seja isoladamente ou mistu-
Analisando os dados, podem-se encontrar resul- rada com outro anestésico local. Jaichadran et al.3
tados conflitantes. As misturas de bupivacaína e lido- demonstraram que a alcalinização da solução reduz
caína, que teoricamente teriam início de ação mais significativamente a dor à injeção, assim como reduz
rápido do que a ropivacaína pura, tiveram esse fato a latência do bloqueio, comprovando a influência do
abordado em somente um estudo com amostragem pH da solução nessas características. Belyamani et
pequena – Ozcan et al.7 al.8, Olmez et al.5 e Di Donato et al.6 compararam a
A ropivacaína apresentou latência menor em ou- dor à injeção da ropivacaína e bupivacaína + lidoca-
tros ensaios, embora tenha sido significativa apenas ína, com resultados significativamente mais signifi-
nos primeiros minutos após o bloqueio, não tendo cativos na última.
resultados consideráveis quanto à necessidade de No que concerne à satisfação do cirurgião, em-
complementação ou à eficácia final do bloqueio. Em bora nenhum ensaio tenha demonstrado diferenças,
um único estudo comparando a ropivacaína com a muitos cirurgiões prezam mais pelo olho normoten-
levobupivacaína, Di Donato et al.6 encontraram latên- so do que pela completa acinesia ocular. Portanto, a
cia maior da primeira. Quando comparada a bupi- pressão intraocular alta seria uma medida qualitativa
vacaína, a levobupivacaína demonstrou ter latência indireta de insatisfação do cirurgião.21-26
oculares, a PIO vai se reduzindo progressivamente, complicação sistêmica que poderia ser atribuída à
podendo alcançar níveis mais baixos comparados ao intoxicação por anestésico local.
controle (pré-bloqueio). Porém, são necessários 15 a
20 minutos para que isso aconteça, tempo que pode
ser considerado exagerado para a rotatividade do OUTROS ANESTÉSICOS LOCAIS
centro cirúrgico.
Nociti et al.15, Ozcan et al.7 e Olmez et al.5 demons- Com os critérios utilizados para inclusão de es-
traram que a ropivacaína apresenta valores de pres- tudos, quatro trabalhos que analisavam outros anes-
são intraocular significativamente menores que a li- tésicos, além dos mais comuns já citados, foram in-
docaína e a bupivacaína, quando utilizados volumes cluídos. São eles: a prilocaína 3% e a articaína 4%,
iguais, nos primeiros 15 minutos após o bloqueio. Tal utilizados com frequência na anestesia local odonto-
fato pode ser explicado pelas características vaso- lógica, mas não em Oftalmologia no Brasil. Ambos
constritoras intrínsecas da ropivacaína, que reduz o apresentam tempos para acinesia ocular e para início
fluxo sanguíneo orbitário. Não houve comparação, da cirurgia mais rápidos que a preparação bupivaca-
entretanto, entre a ropivacaína e os outros anestési- ína + lidocaína. A prilocaína, quando comparada à li-
cos utilizados com adrenalina 5 mcg/mL, que causa- docaína isolada, não obteve resultados significativos.
ria o mesmo efeito. As preparações sem vasoconstri- Por outro lado, a articaína apresentou resultados
tor são preferidas por muitos autores pelo receio da superiores aos da lidocaína a respeito da latência e
isquemia que poderia ser causada pela vasoconstri- da necessidade de novas injeções. O tempo de blo-
ção intensa da adrenalina. queio é menor com a articaína, tornando-a uma boa
opção para procedimentos muito rápidos em que se
deseja o retorno da movimentação extraocular.9,12
TOXICIDADE SISTÊMICA
quanto à eficácia. A ropivacaína na concentração de 8. Belyamani L, Kriet M, Laktaoui A, Azendour H, Drissi M, Haimeur
CH, Drissi NK, Terhazaz A, Atmani M. Peribulbar anesthesia: com-
1% mostrou mais duração da anestesia e melhor anal-
paring 1% ropivacaine and a mixture of 0.5% bupivacaine--2%
gesia pós-operatória, o que pode ser útil em cirurgias
lidocaine. J Fr Ophtalmol. 2003 Nov; 26(9):953-6.
dolorosas como as extraoculares e vitreorretinais.
9. Lai F, Sutton B, Nicholson G. Comparison of L-bupivacaine 0.75%
Não houve benefício real quanto à toxicidade sis- and lidocaine 2% with bupivacaine 0.75% and lidocaine 2% for
têmica com a levobupivacaína e a ropivacaína, em peribulbar anaesthesia. Br J Anaesth. 2003 Apr; 90(4):512-4.
detrimento da bupivacaína. Os picos plasmáticos dos 10. Soliveres Ripoll J, Solaz Roldán C, Viñoles Pérez J, Seller Losada
anestésicos, com limite de 10 mL administrados, não J, Medel Pérez R, Barberá Alacreu M. Efficacy of 1% ropivacaine
alcançam níveis perigosos. Assim, o ganho em utili- with and without hyaluronidase for peribulbar block. Rev Esp
zar a levobupivacaína ou a ropivacaína para melhor Anestesiol Reanim. 2002 Aug-Sep; 49(7):356-9.
proteção cardiovascular e do sistema nervoso cen- 11. Allman KG, Barker LL, Werrett GC, Gouws P, Sturrock GD, Wilson
IH. Comparison of articaine and bupivacaine/lidocaine for pe-
tral é somente teórico. O baixo custo da bupivacaína
ribulbar anaesthesia by inferotemporal injection. Br J Anaesth.
pode justificar seu uso de forma rotineira, conside- 2002 May; 88(5):676-8.
rando sua eficácia semelhante.
12. Fathi AA, Soliman MM. Carticaine versus lidocaine for peribul-
Não existe uma solução ou um anestésico mais in- bar anesthesia in cataract surgery. J Cataract Refract Surg. 2002
dicado para a anestesia oftalmológica. A análise para Mar; 28(3):513-6.
cada paciente deve ser feita individualmente, levan- 13. Allman KG, McFadyen JG, Armstrong J, Sturrock GD, Wilson IH.
do em consideração o procedimento a ser realizado Comparison of articaine and bupivacaine/lidocaine for single
para a escolha da melhor preparação. medial canthus peribulbar anaesthesia. Br J Anaesth. 2001 Oct;
87(4):584-7.
14. Van den Berg AA, Montoya-Pelaez LF. Comparison of lignocaine
21. Huha T, Ala-Kokko TI, Salomäki T, Alahuhta S. Clinical efficacy 25. Döpfmer UR, Maloney DG, Gaynor PA, Ratcliffe RM, Döpfmer
and pharmacokinetics of 1% ropivacaine and 0.75% bupivacai- S. Prilocaine 3% is superior to a mixture of bupivacaine and
ne in peribulbar anaesthesia for cataract surgery. Anaesthesia. lignocaine for peribulbar anaesthesia. Br J Anaesth. 1996 Jan;
1999 Feb; 54(2):137-41. 76(1):77-80.
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with 0.75% racemic bupivacaine for peribulbar anaesthesia. 27. Nicholson G, Sutton B, Hall GM. Comparison of 1% ropivacaine
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