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NÚCLEO DE APOIO TÉCNICO DO JUDICIÁRIO – NATJUS GOIÁS

PARECER TÉCNICO N. 7378/2021

Assunto: Tratamento de endometriose profunda + Cistectomia parcial com


retossigmoidectomia.

1 IDENTIFICAÇÃO
Processo: 5076471-81.2021.8.09.0107
Magistrado Solicitante: Rodrigo Rodrigues de Oliveira e Silva
Polo Ativo: Lidiane Ferreira França Cordão
Polo Passivo: Ipasgo - Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás.

2 CONSULTA APRESENTADA PELO MAGISTRADO

Por despacho, o magistrado solicita à Câmara de Saúde do Judiciário (NATJUS Goiás) a


elaboração de parecer técnico quanto à questão médica proposta nos autos.
O despacho foi proferido em 19/02/2021, encaminhado em 19/02/2021 e recebido pelo
NATJUS em 19/02/2021.

3 ÂMBITO DE ATUAÇÃO DO NATJUS GOIÁS

● Este Núcleo de Apoio Técnico do Poder Judiciário (NATJUS) restringe-se ao exame da


documentação apresentada juntamente à consulta;
● O parecer emitido por este Núcleo se restringe à análise dos documentos médicos acostados
aos autos, ou seja, a uma apreciação preliminar, sem avaliação presencial do paciente;
● Um exame mais detalhado e definitivo do caso descrito nos autos exige a realização de
perícia e depoimentos dos envolvidos, o que extrapola as atribuições deste NATJUS;
● Não compete ao NATJUS a interpretação jurídica da situação descrita nos autos ou a
manifestação sobre procedência ou improcedência do pedido;

Parecer n. 7378/2021 - Núcleo de Apoio Técnico do Judiciário - NAT JUS GO - Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Anexo I, 8° andar.
Telefone: (62) 3236-2408 e-mail: camsaudejudiciario@tjgo.jus.br
● Os pareceres técnicos não se valem de poder decisório ou normativo vinculante acerca das
questões da judicialização consultada;
● Os pareceres possuem caráter exclusivamente consultivo, com a finalidade de auxiliar
tecnicamente os magistrados quanto às questões médicas​ pertinentes ao caso consultado.

4 ​ PARECER

4.1 ​Documentos Médicos Acostados

● Relatório Médico assinado pelo médico Dr. Walter Pereira Borges,


ginecologista/obstetra, CRM-GO 3088 e pela médica Zelma Bernardes Costa,
ginecologista e obstetra, CRM-GO 3642 em 17/12/2020.

Paciente 37 anos com diagnóstico/CID: endometriose profunda / N80.3;


N80.5 Endometriose profunda com envolvimento nervoso, intestinal,
ovariano, peritoneal, renal e vesical diagnosticada através de exames de
ultrassonografia do aparelho urinário, ultrassonografia pélvica para rastreio
de endometriose profunda com preparo intestinal, ultrassonografia e
ressonância magnética dentre outros marcadores. Histórico: paciente
nuligesta com dismenorréia e fluxo menstrual intenso desde a menarca.
Evoluindo recentemente com dor ao urinar, dispareunia de profundidade
progressiva e aumento da frequência evacuatória com dor durante fase
menstrual. Diagnósticos associados: ansiedade - Procimax-20mg. Fratura
de S4-S5 prévia. Sugiro o encaminhamento para tratamento com médico
cirurgião especialista, Dr Renato Moretti Marques, com indicação de
procedimento cirúrgico primário com a plataforma robótica no menor prazo
possível devido a gravidade da endometriose profunda com envolvimento
vesical, retroperitoneal e intestinal atingindo reto alto, cuja técnica permite
realizar movimentos delicados e precisos, tornando a cirurgia menos
invasiva e mais eficiente, com redução de riscos e complicações.

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● Parecer assinado pelo médico Dr. Rui Ferreira Gilberto, ginecologista e obstetra,
CRM-GO 4220 em 12/02/2021.

Paciente 37 anos, portadora de endometriose profunda, abrangendo todos os


compartimentos pélvicos, notadamente bexiga e reto alto, somos
concordantes com a indicação do Dr Renato Moretti Marques de tratamento
cirúrgico primário com plataforma robótica, pois essa técnica permite
decepção minuciosa e precisa evitando danos principalmente às estruturas
neurais visando a preservação funcional dos órgãos envolvidos e evitando
sequelas que podem requerer ostomias e reintervenções.

● Relatório Médico emitido em 18/01/2021 pelo médico Dr Renato Moretti Marques,


ginecologia oncológica e cirurgia minimamente invasiva, CRM-SP 97295.

Histórico: Paciente nuligesta com dismenorréia e fluxo menstrual intenso


desde a menarca, evoluindo recentemente com dor ao urinar, dispareunia de
profundidade e aumento da frequência evacuatória durante fase menstrual.
Diagnósticos associados: Ansiedade Proximax - 20mg; fratura de S4-S5
prévia realizou exames diagnosticando endometriose profunda com
envolvimento nervoso, intestinal, ovariano, peritoneal, vaginal e vesical.
Ultrassonografia com preparo intestinal 11/12/2020: lesão nodular e
infiltrativa de parede póstero-lateral esquerda, insinuando para luz vesical se
estendendo ao fundo de saco anterior medindo em torno de 3,5 x 2,5 cm.
Útero avf, 67,26 cm³, miométrio homogêneo, canal endocervical fechado, e
trilaminar 5mm. Ovário direito fixo e aderido ao útero. Ovário esquerdo
aderido a parede lateral do útero, presença de lesão infiltrativa retrátil
retrocervical infiltrando ligamento uterossacro esquerdo obliterando
parcialmente fsd. Ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal
(17/12/2020): uretra sem infiltrações, ureteres normoimplantados sem sinais
de ectasia e dinâmicos, sem lesões. Lesão nodular irregular e hipoecogênica

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na cúpula da bexiga em posição medianizada medindo 40 x 21 x 30 mm
comprometendo a muscular sem extensão aparente para a mucosa/lúmen
vesical. Bloqueio da reflexão vesico-uterina ao nível da lesão que se estende
e infiltra parede uterina anterior. Útero normoposicionado e de boa
mobilidade com bloqueio ao nível da reflexão vesico-uterina. Ovário direito
com boa mobilidade. Ovário esquerdo com mobilidade reduzida. Ligamento
uterossacro direito espessado para 9mm com nódulo próximo à sua origem
de 15mm e uterossacro esquerdo espessado para 7mm com nódulo próximo
a sua origem de 8 mm. Apresenta lesão de reto alto/sigmoide distando cerca
de 20 cm da margem anal, nodular medindo 39 x 11 x 18mm,
comprometendo a muscular do reto e cerca de 35% da circunferência da
alça. Não foram identificadas outras lesões acima ou abaixo deste ponto.
Ressonância magnética: Bexiga em moderada repleção com conteúdo
homogêneo. Lesão irregular com hipossinal em T2 e áreas focais de
hipersinal em T1 FatSat de permeio (conteúdo hemático) localizada no teto
vesical a esquerda medindo 4,4 x 2,2 x 3,6 cm que aparentemente acomete o
músculo detrusor e estende para o espaço vesicouterino, em contato com a
serosa uterina anterior com sinais de invasão miometrial com espessura de
0,7 cm. Tal lesão associa a processo aderencial com o ligamento redondo e
ovário esquerdos. Meatos ureterais Livres. Útero em anteversoflexão
medindo 9,2 x 4,2 x 4,4 cm , volume 88 cm³. Apresenta intensidade de sinal
do miométrio difusamente heterogêneo. Indico o tratamento cirúrgico
primário com a plataforma robótica o mais breve possível devido a
gravidade da endometriose profunda com envolvimento vesical,
retroperitoneal e vesical. Esta técnica permite dissecção cirúrgica minuciosa
visando a preservação nervosa vesical e intestinal e reduz as taxas de
conversão da via de acesso minimamente invasivo para cirurgia
convencional, risco de derivações intestinais (estomias) e complicações
perioperatórias.

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● Exames complementares

Ressonância Magnética do abdome inferior (17/12/2020): Bexiga em


moderada repleção com conteúdo homogêneo. Lesão irregular com
hipossinal em T2 e áreas focais de hipersinal em T1 FatSat de permeio
(conteúdo hemático) localizada no teto vesical a esquerda medindo 4,4 x 2,2
x 3,6 cm que aparentemente acomete o músculo detrusor e estende para o
espaço vesicouterino, em contato com a serosa uterina anterior com sinais
de invasão miometrial com espessura de 0,7 cm. Tal lesão associa a
processo aderencial com o ligamento redondo e ovário esquerdos. Meatos
ureterais Livres. Útero em anteversoflexão medindo 9,2 x 4,2 x 4,4 cm ,
volume 88 cm³. Apresenta intensidade de sinal do miométrio difusamente
heterogêneo. Anatomia zonal de aspecto preservado, com espessura de 0,5
cm. Endométrio com espessura de 1 cm. Ovário direito tópico com
dimensões normais, sem evidências e folículos no atual estudo. Ovário
direito mede 2,3 x 1,6 x 1,8 cm; volume: 3,4 cm³. Ovário esquerdo em
posição mais anterior, próximo a bexiga, apresentando cisto de aspecto
simples medindo 1,9 cm. Ovário esquerdo mede 2,3 x 1,8 x 2,5 cm; volume
6,5 cm³. Vagina de aspecto normal. Pequena quantidade de líquido com
nível líquido com conteúdo espesso, localizado na região retrocervical à
direita medindo 1.6 cm, em contato com músculo elevador do ânus. Lesão
irregular com hipossinal em T1 e T2 na região paracervical direita, com as
seguintes características: medidas 1.2 x 0,6 x 2.3 cm. Processo aderencial:
com ligamento uterossacro direito; algumas estrias em contato com plexo
sacral direito. Lesão irregular com hipossinal em T1 e T2 na parede do
retossigmóide com as seguintes características: medidas 2,4 x 1 x 1.4 cm,
28% da circunferência da alça. Camada acometida: muscular. Distância da
borda anal: reto alto (> 15 cm da borda anal), na região anexial esquerda.
Processo aderencial com o ovário esquerdo. Espessamento dos terços

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proximais dos ligamentos uterossacros 0,7 cm direita e 0,8 cm esquerda.
Septo reto vaginal sem alterações evidentes. Restante do retossigmoide sem
alterações evidentes à ressonância magnética contendo líquido no interior.
Ausência de imagens sugestivas de linfonodomegalias. Estruturas ósseas e
musculares de morfologia e sinal normais. Pequena quantidade de líquido
livre em fundo de saco. Impressão diagnóstica: alteração difusa de sinal de
miométrio. As lesões descritas da parede vesical (teto à esquerda), região
para cervical direita, ligamentos uterossacros e parede do retossigmoide
(reto alto) são compatíveis com focos de endometriose profunda associados
a processos aderenciais. Imagem cística com conteúdo espesso formando
nível líquido, na região retrocervical à direita. Ovário esquerdo em posição
mais anterior apresentando cisto de aspecto simples, provável funcional.
Restante do exame sem alterações significativas.

Laudo de Ultrassonografia - Aparelho Urinário (11/12/2020): Bexiga:


posição tópica, morfologia normal e superfície lisa. Contornos indefinidos e
conteúdo anecóico. Assoalho elevado. Capacidade normal. Presença de
lesão nodular infiltrativa e retrátil em assoalho vesical, se insinuando para a
luz e infiltrando o fundo de saco anterior medindo cerca de 3,5 por 2,5 cm
de diâmetros. Hipótese diagnóstica: ecografia compatível com lesão
infiltrativa de bexiga a esclarecer (endometriose?)

Ultrassom endovaginal (17/12/2020): Bexiga: apresentando lesão nodular


irregular e hipoecogênica na cúpula da bexiga em posição medianizada,
medindo 40 x 21 x 30 mm nos seus maiores diâmetros, comprometendo a
muscular sem extensão aparente para a mucosa/lúmen vesical. Bloqueio da
reflexão vesico-uterina a nível da lesão que se estende infiltra parede uterina
anterior. Vagina: acusticamente normal. Útero: em anteversão, centrado, de
contornos regulares e limites precisos. Medindo 7,65 x 5,0 x 5,2 cm e
volume de 102,75 cm³. Miométrio de textura acústica homogênea. Canal

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endocervical fechado. Útero normoposicionado e de boa mobilidade, com
bloqueio ao nível da reflexão vesico-uterina. Anexos: ovário direito
para-uterino de contornos regulares e limites precisos. Exibindo parênquima
de textura mista e ecogenicidade normal. Medidas do ovário: 2,6 x 1.4 x 2
cm e volume de 3,79 cm³. Não a aparência micropolicistica. Número de
folículos antrais: 1 . Normoposicionado e de boa mobilidade. Ovário
esquerdo para uterino de contornos regulares e limites precisos. Exibindo
parênquima de textura mista e ecogenicidade normal. Medidas do ovário 3 x
2 x 2,2 cm e volume de 6,86 cm³. Não há aparência micropolicística.
Número de folículos antrais: 3. Normoposicionado e de mobilidade
reduzida na sua porção inferior e doloroso. Apresentando folículo
dominante de 16mm em seu interior. FSD: Livre. Observações: fundo de
saco de Douglas livre. Ligamento uterossacro direito espessado para 9mm
com nódulo próximo a sua origem de 15mm e uterossacro esquerdo
espessado para 7mm com nódulo próximo a sua origem de 8 mm.
Apresentando lesão de reto alto/sigmóide, distando cerca de 20 cm da
margem anal, nodular medindo 39 x 11 x 18 mm de diâmetro,
comprometendo a muscular do reto e cerca de 35% da circunferência da
alça. Não foram identificadas outras lesões acima ou abaixo deste ponto.
Hipótese diagnóstica: reserva ovariana reduzida (CFA = 4). Endometriose
profunda de compartimento anterior, como descrito. Endometriose profunda
de compartimento posterior e intestinal, como descrito. Processo aderencial
de compartimentos anterior e útero anexial esquerdo, como descrito. Ciclo
mono-folicular espontâneo esquerdo com boa resposta endometrial.

Laudo de Ultrassom Transvaginal com preparo intestinal: Bexiga: presença


de lesão nodular e infiltrativa de parede póstero lateral esquerda insinuando
para a luz vesical se estendendo ao fundo de saco anterior medindo em torno
de 3,5 x 2,5 cm de diâmetro. Vagina: fórnice vaginal posterior e septo

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vaginal sem espessamento e infiltrações. Útero: em anteversão, centrado, de
contornos regulares e limites precisos. Medindo: 7,6 x 3,7 x 4,6 cm e
volume de 67,26 cm³. Miométrio de textura acústica homogênea. Canal
endocervical fechado. Eco endometrial presente, bem delimitado, regular,
trilaminar. Espessura do eco endometrial: 5 mm. Anexos: ovário direito
para uterino de contornos regulares e limites imprecisos. Exibindo
parênquima de textura mista. Medidas do ovário: 2,6 x 1,5 x 1,7 cm e
volume de 3,45 cm³. Número de folículos antrais: 2. Ovário direito fixo e
aderido ao útero. Ovário esquerdo para uterino de contornos regulares e
limites precisos. Exibindo parênquima de textura mista e ecogenicidade
normal. Medidas do ovário: 3,1 x 1,5 x 1,8 cm e volume de 4,35 cm³.Não há
aparência micropolicistica. Número de folículos antrais: 2. Ovário esquerdo
aderido à parede lateral do útero. Compartimento posterior da pelve:
presença de lesão infiltrativa e retrátil retrocervical infiltrando ligamento
uterossacro esquerdo obliterando parcialmente o FSD. Hipótese diagnóstica:
ecografia compatível com endometriose pélvica avançada comprometendo
os três compartimentos conforme descrito (U.B.E.S.S. III)

Exames laboratoriais (11/12/2020): 25-hidroxivitamina D: 31,3 ng/ ml; CA


125: 55,7UI/ml; Colpocitologia: alterações celulares benignas reativas/
regenerativas. Negativo para lesão intraepitelial e para neoplasia invasora
segundo o Sistema de Relatórios para Citologia Cervical de Bethesda.
Corresponde ao chamado anteriormente de esfregaço inflamatório ou a
classe II de Papanicolaou. ; TSH: 1,85µUI/ml; T4 livre: 0,95 ng/dl;
Antiperoxidase: 0,06 UI/ml; Prolactina: 28,3 ng/ml; Glicemia de Jejum: 80
mg/dl; Insulina: 5,4µU/ml; Ferritina: 28,85 ng/ml; Creatinina: 0,73mg/dl;
Gama-GT: 7 U/l; Amilase: 40 U/l; TGO: 12 U/l; TGP: 12U/l; Fósforo:
3,8mg/dl; Cálcio iônico: 5,03 mg/dl; Cálcio: 8,0 mg/ml; Hemograma
completo: Hemácias - 4,0 tera/l; hemoglobina - 12,3 g/dl; hematócrito -

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37,2%; VCM 93,0 fl; HCM 30,8 pg; CHCM 33,1%; RDW 12,4%;
Leucócitos totais: 7.020/µl (bastonetes: 140/µl; segmentados: 4001/µl;
eosinófilos: 70/µl; linfócitos: 2.317/µl; monócitos: 491/µl); Plaquetas:
258.000/µl. Perfil lipídico: Colesterol 149 mg/dl; HDL: 49 mg/dl; LDL: 84
mg/dl; VLDL: 16 mg/dl; Triglicérides: 71 mg/dl.

4.2 ​Da Doença

A endometriose é uma doença que afeta a mulher em idade reprodutiva, sendo caracterizada

por implante e crescimento de tecido endometrial (glândulas e/ou estroma) fora da cavidade uterina.

Tem sido observada em 5 a 10% das pacientes submetidas a laparotomias ginecológicas, 20 a 50%

das mulheres com infertilidade e 60 a 70% das portadoras de dor pélvica crônica. Esta afecção pode

cursar com uma grande diversidade de manifestações clínicas. Podemos encontrar desde pacientes

oligo ou assintomáticas até quadros de dor pélvica intensa, sintomas decorrentes de lesão em órgãos

não reprodutivos e infertilidade. Os sintomas associados a esta doença geram repercussão em todos

os aspectos na vida de suas portadoras, devendo-se dispensar especial atenção a todas as queixas.

O tratamento deve ser individualizado, considerando sempre os sintomas da paciente e o


impacto da doença e do tratamento sobre a qualidade de vida. Uma equipe multidisciplinar
especializada deve ser (sempre que possível) envolvida, na tentativa de fornecer um tratamento
capaz de abranger todos os aspectos biopsicossociais da paciente. Contudo, convém ressaltar que a
grande maioria dos dados de evidências que suportam as condutas atuais é conitante.
Possivelmente serão revistos à medida que houver estudos bem delineados, prospectivos,
randomizados e controlados, com casuística maior e, consequentemente, passíveis de gerar
evidências mais concretas e com adequado poder de teste.

4.3 Tratamento cirúrgico

Os objetivos principais da cirurgia em pacientes com endometriose são retirar a maior

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quantidade de tecido possível e restabelecer a anatomia normal da pelve. O manejo delicado do
tecido e a hemostasia meticulosa são fundamentais para evitar a formação de novas aderências e
focos endometrióticos.
A ablação de lesões endometrióticas, associada a adesiólise, para melhorar a fertilidade nos
casos de endometriose mínima e leve é efetiva se for comparada com a laparoscopia diagnóstica
apenas. Não dispomos de estudos clínicos randomizados controlados ou de meta-análises que
tenham avaliado se a remoção cirúrgica da endometriose moderada ou severa melhora as taxas de
gestação.
​Portanto, não é possível armar que o tratamento cirúrgico da endometriose moderada ou
severa melhora as taxas de gravidez subseqüentes. Assim, a indicação desta abordagem deve ser
individualizada. A avaliação da indicação cirúrgica deve considerar, entre outros, fatores como
idade da paciente e presença de outras causas de infertilidade associadas.
Apesar da controvérsia, não recomendamos adiar a indicação de procedimentos de
reprodução assistida a pacientes inférteis com idade > 35 anos em prol da conduta expectante
devido à redução no potencial reprodutivo inerente ao avanço na idade.

4.3.2 Cirurgia laparoscópica convencional vs Cirurgia laparoscópica assistida por

robô.

Segundo Nezhat, Stevens, Balaciano e Soliemannjad em ​Laparoscopia assistida por robô

vs laparoscopia convencional para o tratamento de endometriose em estágio avançado, ​a

laparoscopia convencional (LC) é o padrão ouro para cirurgia de endometriose, incluindo

endometriose infiltrante profunda (EIP).​1 O estudo conclui que a laparoscopia convencional e a

laparoscopia assistida por robô são métodos excelentes para o tratamento de estágios avançados da

endometriose. No entanto, o uso da plataforma robótica pode aumentar o tempo operatório e

também pode estar associado a uma maior permanência no hospital.


1
​Nezhat CR, Stevens A, Balassiano E, Soliemannjad R. Robotic-assisted laparoscopy vs conventional laparoscopy for
the treatment of advanced stage endometriosis. J Minim Invasive Gynecol. 2015 Jan;22(1):40-4. doi:
10.1016/j.jmig.2014.06.002. Epub 2014 Jun 11. PMID: 24928738. Disponível em
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24928738/​ Acesso em 23 fev 2021

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No mesmo sentido, o estudo ​Laparoscopia vs. cirurgia robótica para endometriose

(LAROSE): um estudo multicêntrico, randomizado e controlado ​conclui que não houve

diferenças nos resultados perioperatórios entre a laparoscopia robótica e convencional​2 (SOTO ​et

al).​

Para Sussfeld, Segaert, Rubod e Collinet em ​Papel da cirurgia robótica no tratamento da

endometriose de infiltração profunda, a laparoscopia convencional é o padrão ouro para cirurgia

de endometriose, incluindo endometriose infiltrante profunda. A cirurgia laparoscópica pode exigir

procedimentos cirúrgicos complexos realizados por uma equipe cirúrgica multidisciplinar. A

laparoscopia assistida por robô pode oferecer vantagens técnicas, como visão 3D, filtragem de

tremores e melhor ergonomia cirúrgica. No entanto, nenhuma das técnicas demonstrou diferenças

nos resultados cirúrgicos​3​.

Por fim, uma meta-análise de outubro de 2020, Restaino ​et al ​em ​Cirurgia robótica vs

cirurgia laparoscópica em pacientes com diagnóstico de endometriose: uma revisão

sistemática e meta-análise ​teve como objetivo avaliar a segurança e eficácia da cirurgia

laparoscópica assistida por robô (RAS) versus cirurgia laparoscópica convencional (LPS) no

tratamento da endometriose. As bases de dados PubMed, Embase, Cochrane e CINAHL foram

pesquisadas de janeiro de 1995 a março de 2019. De acordo com os critérios de meta-análise, cinco

estudos comparativos foram selecionados. Um total de 1527 pacientes foram identificados. ​Na

meta-análise, não houve diferenças significativas na perda de sangue, complicações e

internação hospitalar entre as cirurgias robótica e laparoscópica convencional no tratamento

2
​Soto E, Luu TH, Liu X, Magrina JF, Wasson MN, Einarsson JI, Cohen SL, Falcone T. Laparoscopy vs. Robotic
Surgery for Endometriosis (LAROSE): a multicenter, randomized, controlled trial. Fertil Steril. 2017
Apr;107(4):996-1002.e3. doi: 10.1016/j.fertnstert.2016.12.033. Epub 2017 Feb 24. PMID: 28238489. ​Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28238489/​ Acesso em 23 fev 2021.
3
​Sussfeld J, Segaert A, Rubod C, Collinet P. Role of robotic surgery in the management of deep infiltrating
endometriosis. Minerva Ginecol. 2016 Feb;68(1):49-54. Epub 2016 Jan 15. PMID: 26771510. Disponível em
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26771510/​ Acesso em 23 fev 2021

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de pacientes com endometriose. No entanto, a cirurgia robótica exigiu um maior tempo

cirúrgico​4​.

4.4 Da Definição de Urgência e Emergência pelo Conselho Federal de Medicina

Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), define-se como emergência a constatação

médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento

intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. Alguns exemplos de emergências são a

parada cardiorrespiratória, hemorragias volumosas e infartos que podem levar a danos irreversíveis

e até ao óbito.

Já a urgência é uma situação imprevista de agravo à saúde que requer assistência médica

imediata a fim de evitar complicações e sofrimento.

4.5 Da Definição de Urgência e Emergência pelo ​Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde apresenta as seguintes definições para urgência e emergência:

Urgência​: ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco potencial à vida, cujo
portador necessita de assistência médica imediata;

Emergência​: constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem


sofrimento intenso ou risco iminente de morte, exigindo portanto, tratamento médico imediato.

4
​Restaino S, Mereu L, Finelli A, Spina MR, Marini G, Catena U, Turco LC, Moroni R, Milani M, Cela V, Scambia G,
Fanfani F. Robotic surgery vs laparoscopic surgery in patients with diagnosis of endometriosis: a systematic review
and meta-analysis. J Robot Surg. 2020 Oct;14(5):687-694. doi: 10.1007/s11701-020-01061-y. Epub 2020 Mar 7.
PMID: 32146573. Disponível em ​https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32146573/​ Acesso em 23 fev 2021.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trata-se de demanda judicial envolvendo a requerente e o ​Ipasgo - Instituto de Previdência

e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás​, acerca da realização de procedimento de cirurgia

para tratamento de endometriose profunda + cistectomia parcial com retossigmoidectomia por

laparoscopia assistida por robô.

Constam nos autos relatórios médicos informando tratar-se de paciente portadora de

endometriose profunda comprometendo todos os compartimentos pélvicos e estruturas como

ovários, peritônio, intestino, mais notadamente reto alto e bexiga. Essas informações são embasadas

em exames de imagem juntados, como ultrassonografias e ressonância nuclear magnética da região.

Finalmente, sugere-se o encaminhamento da paciente para tratamento com médico cirurgião

especialista em cirurgia robótica, Dr. Renato Moretti, em hospital de São Paulo para realização do

procedimento cirúrgico indicado. De acordo com os relatórios, a cirurgia com plataforma robótica

permite realizar movimentos mais delicados e precisos, tornando a cirurgia menos invasiva e mais

eficiente, com redução de riscos e complicações.

O Ipasgo esclareceu que o procedimento - laparoscopia assistida por robô - não está incluso

no seu rol de cobertura, tendo disponibilizado a cirurgia laparoscópica convencional para o

tratamento da endometriose profunda.

De acordo com a literatura disponível e citada nos itens 4.3.2, não é possível constatar a

superioridade da técnica assistida por robô em detrimento da laparoscopia convencional para

tratamento cirúrgico da endometriose profunda. Ademais, alguns estudos apontam para o aumento

do tempo cirúrgico e da permanência hospitalar nos casos da cirurgia com plataforma robótica,

Parecer n. 7378/2021 - Núcleo de Apoio Técnico do Judiciário - NAT JUS GO - Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Anexo I, 8° andar.
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permanecendo a laparoscopia convencional como o padrão ouro para o tratamento da endometriose

profunda.

Segundo documentação médica, o quadro da paciente caracteriza-se como urgência, na

medida em que sua situação agrava-se com o passar do tempo sem tratamento, requerendo

assistência médica imediata a fim de evitar complicações e sofrimento.

Este é o parecer.

Goiânia-GO, 23 de fevereiro de 2020​.

NATJUS GOIÁS

Parecer n. 7378/2021 - Núcleo de Apoio Técnico do Judiciário - NAT JUS GO - Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, Anexo I, 8° andar.
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