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10º.

Domingo do Tempo Comum – Ano A: “Quero Misericórdia”: A Vocação de São Mateus 1


10º. DOMINGO DO TEMPO COMUM - A
11 de junho de 2023

LEITURAS

Primeira Leitura: Os 6,3-6 = Quero amor e não sacrifícios


Salmo Responsorial: Sl 49 = Eu mostrarei a salvação de Deus!
Segunda Leitura: Rm 4,18-25 = Revigorou-se na fé e deu glória a Deus
Aclamação ao Evangelho: Lc 4, 18 = Aleluia! Foi o Senhor quem me mandou boa notícias anunciar!
Proclamação do Evangelho: Mt 9, 9-13 = Não vim chamar os justos, mas os pecadores

PRIMEIRO OLHAR. A Palavra propõe três exemplos de vocações, nas experiências existenciais de
Oséias, Abraão e Mateus. Chama atenção a experiência vocacional de Mateus, chamado por Jesus em seu
local de trabalho, uma banca de impostos.
ILUMINADOS PELA PALAVRA
A volta dos Domingos do Tempo Comum, pós Tempo Pascal, sugere valorizar o Ano Vocacional de
2023. O chamado vocacional de Oséias, Abraão e Mateus são três experiências vocacionais que favorecem
uma reflexão do ponto de vista da pedagogia mistagógica.
Em cada uma das experiências vocacionais propostas na Palavra deste Domingo, o destaque é a
vocação de Mateus, pecador público, e a explicação de Jesus: não vem para chamar santos e justos; pecadores
e pecadoras são vocacionados ao seguimento do discipulado. A explicação de Jesus faz compreender que a
vocação é um caminho santificador que acontece caminhando na estrada do Evangelho.

Atividade divina na vocação. O primeiro elemento vocacional, presente na Palavra, é Deus


envolvendo-se com a vida humana. Deus não é passivo, esperando oferendas e sacrifícios. Sua proposta é o
relacionamento da caridade fraterna marcada pelo amor; não são os sacrifícios materiais que agradam a Deus,
mas o relacionamento fraterno pautado pela misericórdia. Esta é a experiência mística de Oséias como alguém
que não vive sua vocação passivamente, oferecendo sacrifícios e orações, mas agindo profeticamente para
mostrar a Salvação divina e incentivar o povo a oferecer sacrifícios de louvor pelo modo de viver (Salmo 49,
14). Este modo profético de viver a vocação, conduzindo o povo a oferecer a vida como sacrifício de louvor,
realiza-se plenamente em Jesus Cristo pela participação à mesa, comungando a vida humana com todos, justos
e pecadores (E).
O segundo elemento vocacional, na Palavra deste Domingo, é a fé, proposta na vocação de Abraão
(Rm 4, 18 - 25). O vocacionado não precisa ser um justo (cf. Mt 9, 9 - 13), mas precisa confiar (ter fé) em quem
o chama. Fé, no sentido de confiança, independente de tudo, inclusive daquilo que é humanamente impossível
e improvável, como um casal velho e estéril gerar uma criança. A fé é a condição básica de toda vocação.

“Não vim chamar os justos”. Vocação é chamado. Ouvimos tantas vezes essa definição. No
Evangelho deste Domingo nos deparamos com Jesus dizendo que não veio “chamar” os justos, mas os
pecadores. No inconsciente coletivo religioso, Jesus só chama pessoas de bem, justas e santas. Conceito
desmentido pelo próprio Jesus. O vocacionado não precisa ter a condição de justo, de bom ou de santo; basta
a disponibilidade, como Mateus, de deixar tudo e acolher Jesus na casa da sua própria vida. Outra condição
de disponibilidade para ser vocacionado consiste em aceitar a condição de pecador, a condição da indignidade
diante do chamado divino. Jesus, sentado à mesa com os cobradores de impostos, não é contaminado pelo
pecado porque seu relacionamento é misericordioso.
A proposta que Jesus faz ao vocacionado, na pessoa de Mateus, é da santificação (tornar-se justo)
caminhando na sua “estrada”, no caminho do discipulado. A vocação, em tal contexto, é uma proposta de
santificar a vida caminhando na “estrada de Jesus” que, a exemplo de Abraão, exige o cultivo da fé e da
esperança (Rm 4, 18 - 25). A vocação, do ponto de vista Bíblico, não é profissão, é caminho existencial que
nunca termina porque todos os dias o vocacionado é convidado a deixar sua “banca” (seu banco), onde calcula
ganhos e perdas da sua existência, para caminhar na “estrada de Jesus”.
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ILUMINADOS PELA ESPIRITUALIDADE

São Paulo apresenta aos Romanos as bases da espiritualidade cristã, presentes nas virtudes teologais:
fé, esperança e caridade. A espiritualidade cristã nasce da fé, é continuamente alimentada pela esperança e
se concretiza em obras de caridade (Mt 25,35-45). Simplesmente, não existe espiritualidade alimentando-se
somente em uma das virtudes. O exemplo de Abraão demonstra que a espiritualidade é capaz de suportar
adversidades porque se fundamenta na fé e na esperança.
O tema da caridade, neste Domingo, encontra-se no Evangelho. O fruto da espiritualidade não é a
reclusão em sentimentos de conforto ou de consolo — também isso acontece — mas em traduzir a fé e a
esperança em misericórdia para com os pecadores, ensina Jesus. De modo mais agudo, consiste em se fazer
caridoso com todos, até mesmo com os inimigos (Mt 5, 44).

INTENÇÃO DO MÊS DE JUNHO 2023:

PELA ABOLIÇÃO DA TORTURA!

Rezemos para que a comunidade internacional se empenhe concretamente na abolição da tortura,


garantindo apoio às vítimas e aos familiares.
A conclusão do Evangelho deste Domingo, com Jesus manifestando a vontade divina, favorece
posicionar o pensamento cristão diante do crime da tortura. Um pensamento de não desistência da pessoa
humana, mesmo quando erra e, ao mesmo tempo, um pensamento de misericórdia para com quem errou.
No atual contexto sócio psicológico, marcado pela cultura do ódio, cujo sentimento da raiva é, através
das redes sociais, o mais propagado em nossos tempos, o pensamento divino para prevalecer a misericórdia
e não a agressividade da tortura, tende a ser totalmente ignorado. Eis um motivo forte para rezarmos pela
abolição de todas as formas de tortura em todos os países do mundo.

CONTEXTO MISTAGÓGICO

As propostas celebrativas do mês de junho se caracterizam pela mistagogia que conduz os celebrantes
ao encontro de Deus no caminho vocacional. O encontro e a experiência de Deus estão sendo propostos nas
três solenidades celebradas no Tempo Comum durante o mês de junho 2023: Santíssima Trindade, Corpus
Christi e Sagrado Coração de Jesus. É do encontro com Deus que nasce a vocação para viver e testemunhar
o projeto divino presente no Reino de Deus. É o que vemos nos três Domingos do Tempo Comum, inspirando-
se no Ano Vocacional proposto pela CNBB para o presente ano de 2023.

No contexto do Ano Vocacional de 2023, a Palavra de Deus dos próximos Domingos ajudam os fiéis a
prestar atenção ao chamado divino na vida de cada homem e mulher. Deus, na pessoa de Jesus, encontra-se
com a vida pessoal de cada ser humano, como aconteceu com Mateus, provocando uma ruptura com sua vida
anterior, cobrando impostos e convidando-o a percorrer um novo caminho seguindo Jesus e fazendo-se
discípulo d’Ele. A condição e a sustentação para acolher a vocação divina encontra-se na fé e na conversão.

Pedagogia litúrgica dos Domingos do Tempo Comum de JUNHO 2023

Celebrações iluminadas pela mistagogia da VOCAÇÃO na vida cristã

10º Domingo do TC - A = Jesus passa na vida pessoal e provoca ruptura com a vida passada

11º Domingo do TC - A = Seguindo e permanecendo com Ele, somos enviados em missão

12º Domingo do TC - A = A missão é realizada no perigo da perseguição, mas “não tenhais medo”
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O QUE VALORIZAR NA CELEBRAÇÃO?

Espaço simbólico: O grande artista Caravaggio pintou a


cena da vocação de São Mateus. Seria muito bom se
pudéssemos colocar num banner está obra e trazê-la para
o ambiente celebrativo.

Ambientação Inicial: Jesus vem ao nosso encontro nas


diversas profissões e atividades que realizamos: Professor,
médico, enfermeiro, agricultor, comerciante... para
convidar-nos para segui-lo. Cada local de trabalho é o lugar
onde Jesus nos observa com seu olhar de misericórdia e
nos dirige sua suave voz: “vem e segue-me”.

Frase celebrativa: Chamados para seguir Jesus!

Equipe de acolhida: Bem-vindo (a)! Deus te chama!

Ritos iniciais

Monição inicial: A Palavra que ouviremos propõe três exemplos de vocações, nas experiências de Oséias,
Abraão e Mateus. Mas, o que chama atenção é a experiência vocacional de Mateus, que será proclamada no
Evangelho. Mateus é chamado por Jesus em sua local de trabalho, uma banca de impostos. Ainda hoje, Jesus
nos chama onde trabalhamos, onde estudamos, onde vivemos. Se estamos desatentos somos incapazes de
ouvir a voz do Senhor, que nos convida: “vem e segue-me” (Mt 9, 9). Iniciemos nossa Celebração, cantando!

Oração do dia: Ó Deus, fonte de todo bem, atendei ao nosso apelo e fazei-nos, por vossa inspiração, pensar
o que é certo e realizá-lo com vossa ajuda. PCNS.

Liturgia da Palavra

Primeira Leitura: Os 6,3-6 = Quero amor e não sacrifícios

Salmo Responsorial: Sl 49 = Eu mostrarei a salvação de Deus!

Segunda Leitura: Rm 4,18-25 = Revigorou-se na fé e deu glória a Deus

Aclamação ao Evangelho: Lc 4, 18 = Aleluia! Foi o Senhor quem me mandou boa notícias anunciar!

Proclamação do Evangelho: Mt 9, 9-13 = Não vim chamar os justos, mas os pecadores

Proposta para a homilia:

Objetivo: iluminando-se no Ano Vocacional de 2023, refletir a dinâmica vocacional e incentivar os


celebrantes a acolher o chamado divino como Oséias, Abraão e Mateus. Ressaltar que a condição para
responder ao chamado divino encontra-se na fé, na esperança e no seguimento de Jesus, no caminho do
discipulado.
Também propomos, em anexo a Homilia do Papa Francisco do dia 21 / 09 / 2015 e a Parte da Homilia
de São Beda Venerável. Ademais, indicamos o Site dos Padres Dehonianos:
https://www.dehonianos.org/portal/liturgia/?mc_id=4200
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PROPOSTA PARA A HOMILIA

1 - Ano Vocacional e Liturgia


A retomada dos Domingos do Tempo Comum que, na prática, acontece hoje, coloca-nos diante do Ano
Vocacional promulgado pela CNBB para este ano de 2023 como momento de reflexão, de oração e de
propostas para o incremento da Pastoral Vocacional. Por isso, vou me servir da proposta do Ano Vocacional
como motivo para refletir nos três Domingos do Tempo Comum, que celebraremos em junho, sobre a vocação
na vida cristã e na vida da Igreja. O primeiro tema vocacional que proponho chama atenção para a dinâmica
vocacional como atividade divina. O início da 1ª leitura dizia que precisamos seguir Deus para conhecê-lo. E
como se segue Deus? Acolhendo a sua vinda, que é tão certa como o sol que nasce todos os dias de manhã,
no dizer da profecia de Oséias. A primeira atividade vocacional, portanto, é acolher Deus quem vem ao nosso
encontro e colocar-se ao seu seguimento. Isto ouvimos na 1ª leitura.

2 - Acolher e encontrar Deus com fé e esperança


A segunda atividade da vocação cristã é o modo de como nos encontramos com Deus. Temos dois
exemplos: um na 2ª leitura e outro no Evangelho. O modelo vocacional, na 2ª leitura, é Abraão. Conhecemos
a história vocacional de Abraão e o modo como ele seguiu a Deus. São Paulo, na 2ª leitura, explica que Abraão
viveu sua vocação alimentando-se da fé e da esperança. Diante de todas as provações, desconfianças, crises...
que sempre aparecem no caminho vocacional, Abraão se mostrou confiante (cheio de fé) e esperançoso no
chamado divino. Se no início da 1ª leitura ouvíamos que o modo de conhecer Deus é colocando-se no seu
seguimento, no exemplo vocacional de Abraão compreendemos que o seguimento acontece com o coração
repleto de fé e de esperança. Não existe certeza absoluta na resposta vocacional; o que existe é fé e esperança
depois do encontro com Deus. Fé e esperança: quem confia em Deus não será decepcionado.

3 - Jesus passa onde vivemos


Por fim, uma pergunta: como nasce uma vocação? A resposta é fácil: a vocação nasce do encontro
pessoal com Jesus Cristo. O exemplo está na narrativa da vocação de Mateus, no Evangelho que ouvimos.
Outra pergunta: onde nos encontramos com Jesus para fazer experiência vocacional? No exemplo da vocação
de Mateus, o encontro com Jesus acontece onde vivemos, onde trabalhamos, onde estudamos, onde nos
divertimos... O exemplo do encontro de Jesus com Mateus ajuda-nos compreender que a vocação não nasce
de alguma experiência mística especial, por exemplo. Pode ser, mas poucas vezes acontece assim. A
experiência de ver a realidade com os olhos de Jesus faz acontecer encontros com Jesus.
Rezemos pelas vocações! Que suas mentes e seus corações sejam tocados pelo olhar e pelo convite
de Jesus, para responder de modo cristão à sua vocação existencial. Rezemos por nós, adultos, que já fizemos
nossa opção vocacional, sejamos fortalecidos com a fé e com a esperança para sempre e fielmente caminhar
na estrada de Jesus. Amém!
10º. Domingo do Tempo Comum – Ano A: “Quero Misericórdia”: A Vocação de São Mateus 5

A vocação de São Mateus:


Jesus viu-o, compadeceu-se dele e o chamou

Das Homilias de São Beda Venerável, presbítero – Século VI

Jesus viu um homem chamado Mateus, assentado à banca de impostos, e disse-lhe: Segue-me (Mt
9,9). Viu-o não tanto com os olhos corporais quanto com a vista da íntima compaixão. Viu o publicano, dele se
compadeceu e o escolheu. Disse-lhe então: Segue-me. Segue, quis dizer, imita; segue, quis dizer, não tanto
pelo andar dos pés, quanto pela realização dos atos. Pois quem diz que permanece em Cristo, deve andar
como ele andou (1 Jo 2, 6).
E levantando-se, o seguiu (Mt 9, 9). Não é de admirar que o publicano, ao primeiro chamado do Senhor,
tenha abandonado os lucros terrenos de que cuidava e, desprezando a opulência, aderisse aos seguidores
daquele que via não possuir riqueza alguma. Pois o próprio Senhor que o chamara exteriormente com a palavra,
interiormente lhe ensinou por instinto invisível a segui-lo, infundindo em seu espírito a luz da graça espiritual.
Com esta compreenderia que quem o afastava dos tesouros temporais podia dar-lhe nos céus os tesouros
incorruptíveis.
E aconteceu que, estando ele em casa, muitos publicanos e pecadores vieram e puseram-se à mesa
com Jesus e seus discípulos (Mt 9,10). A conversão de um publicano deu a muitos publicanos e pecadores o
exemplo da penitência e do perdão. Belo e verdadeiro prenúncio! Aquele que seria apóstolo e doutor dos povos,
logo no primeiro encontro arrasta após si para a salvação um grupo de pecadores. Assim inicia o ofício de
evangelizar desde os primeiros começos de sua fé aquele que viria a realizar este ofício plenamente com o
merecido progresso das virtudes.
Contudo se quisermos indagar pelo sentido mais profundo deste acontecimento nós o entenderemos:
a Mateus foi muito mais grato o banquete na casa do seu coração, preparado pela fé e pelo amor do que o
banquete terreno que ele ofereceu ao Senhor. Atesta-o aquele mesmo que diz: Eis que estou à porta e bato;
se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele e ele comigo (Ap 3, 20).
Ouvindo a sua voz, abrimos a porta para recebê-lo, ao aceitarmos de bom grado suas advertências
secretas ou evidentes e nos pormos a realizar aquilo que compreendemos como o nosso dever. Ele entra para
que ceemos, ele conosco e nós com ele, porque, pela graça de seu amor, habita nos corações dos eleitos para
alimentá-los sempre com a luz de sua presença. Possam assim os eleitos cada vez mais progredir no desejo
do alto, e ele mesmo se alimente com os desejos deles como com pratos deliciosos.
10º. Domingo do Tempo Comum – Ano A: “Quero Misericórdia”: A Vocação de São Mateus 6

“Olhou-o com olhos de misericórdia” – Vocação de São Mateus


Homilia do Papa Francisco na Praça da Revolução, Holguín (Cuba)

Segunda-feira, 21 de Setembro de 2015.


Celebramos a festa do apóstolo e evangelista São Mateus. Celebramos a história duma conversão.
Ele próprio nos conta, no seu Evangelho, como foi o encontro que marcou a sua vida, introduzindo-nos numa
«troca de olhares» que pode transformar a história.
Um dia, como outro qualquer, estava ele sentado no posto de cobrança de impostos, quando Jesus
passou, viu-o, aproximou-Se e disse-lhe: «Segue-me». E ele, levantando-se, seguiu-O.
Jesus olhou para ele. Que força de amor teve o olhar de Jesus para mover assim Mateus! Que força
deviam ter aqueles olhos para o levantar! Sabemos que Mateus era um publicano, ou seja, cobrava os impostos
dos judeus para os entregar aos romanos. Os publicanos eram malvistos, até considerados pecadores, e por
isso viviam separados e eram desprezados pelos outros. Com eles, não se podia comer, falar nem rezar. Eram
considerados pelo povo como traidores: tiravam da sua gente para dar aos outros. Os publicanos pertenciam a
esta categoria social.
E Jesus parou, não passou ao largo acelerando o passo, olhou-o sem pressa, olhou-o com calma.
Olhou-o com olhos de misericórdia; olhou-o como ninguém o fizera antes. E aquele olhar abriu o seu coração,
fê-lo livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a Zaqueu, a Bartimeu, a Maria Madalena, a
Pedro e também a cada um de nós. Mesmo quando não ousamos levantar os olhos para o Senhor, o primeiro
a olhar-nos é sempre Ele. É a nossa história pessoal; tal como muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu
também sou um pecador, sobre quem Jesus pousou o seu olhar. Convido-vos a que hoje, em vossas casas ou
na igreja, quando estiverdes tranquilos, sozinhos, façais um tempo de silêncio recordando, com gratidão e
alegria, as circunstâncias, o momento em que o olhar misericordioso de Deus pousou sobre a nossa vida.
O seu amor precede-nos, o seu olhar antecipa-se à nossa necessidade. Jesus sabe ver para além das
aparências, para além do pecado, para além do fracasso ou da nossa indignidade. Sabe ver para além da
categoria social a que possamos pertencer. Ele vê para além de tudo isso. Ele vê a dignidade de filho que todos
temos, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma. É a nossa dignidade de
filhos. Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem indignos de Deus, indignos dos outros.
Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar percorra as nossas veredas, deixemos que o seu olhar
nos devolva a alegria, a esperança, o gozo da vida.
Depois de olhá-lo com misericórdia, o Senhor disse a Mateus: «Segue-Me». E Mateus levantou-se e
seguiu-O. Depois do olhar, a palavra. Depois do amor, a missão. Mateus já não é o mesmo; mudou intimamente.
O encontro com Jesus, com o seu amor misericordioso, transformou-o. E para trás ficou a mesa dos impostos,
o dinheiro, a sua exclusão. Antes, ele esperava sentado para arrecadar, para tirar aos outros; agora, com Jesus,
10º. Domingo do Tempo Comum – Ano A: “Quero Misericórdia”: A Vocação de São Mateus 7

tem de se levantar para dar, para entregar, para se dar aos outros. Jesus olhou-o, e Mateus encontrou a alegria
no serviço. Para Mateus e para quantos sentiram sobre si o olhar de Jesus, os compatriotas deixam de ser
aqueles à custa de quem «se vive», usando e abusando deles. O olhar de Jesus gera uma actividade
missionária, de serviço, de entrega. Aqueles a quem Ele serve, são os seus compatriotas. O seu amor cura as
nossas miopias e incita-nos a olhar mais além, a não nos determos nas aparências ou no politicamente correcto.
Jesus vai à frente, precede-nos, abre o caminho e convida-nos a segui-Lo. Convida-nos a ir superando
lentamente os nossos preconceitos, as nossas resistências à mudança dos outros e até de nós mesmos.
Desafia-nos dia a dia com uma pergunta: Crês tu? Crês que é possível que um arrecadador de impostos se
transforme num servidor? Crês que é possível um traidor transformar-se num amigo? Crês que é possível o
filho de um carpinteiro ser o Filho de Deus? O seu olhar transforma os nossos olhares, o seu coração transforma
o nosso coração. Deus é Pai que procura a salvação de todos os seus filhos.
Deixemo-nos olhar pelo Senhor na oração, na Eucaristia, na Confissão, nos nossos irmãos,
especialmente naqueles que se sentem postos de lado, que se sentem mais sozinhos. E aprendamos a olhar
como Ele nos olha. Partilhemos a sua ternura e misericórdia pelos doentes, os presos, os idosos e as famílias
em dificuldade. Uma vez mais somos chamados a aprender de Jesus, que sempre olha o que há de mais
autêntico em cada pessoa, isto é, a imagem de seu Pai.
Sei do grande esforço e sacrifício com que a Igreja em Cuba trabalha para levar a todos, mesmo nos
lugares mais remotos, a palavra e a presença de Cristo. Menção especial merecem aqui as chamadas «casas
de missão» que permitem a muitas pessoas, dada a escassez de templos e sacerdotes, ter um espaço para a
oração, a escuta da Palavra, a catequese e a vida comunitária. São pequenos sinais da presença de Deus na
nossa terra e uma ajuda diária para tornar vivas estas palavras do apóstolo Paulo: «Exorto-vos, pois, a que
procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; com toda a humildade e mansidão, com
paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante
o vínculo da paz» (Ef 4, 1-3).
Quero agora dirigir o olhar para Maria, Virgem da Caridade do Cobre, que Cuba acolheu nos seus
braços abrindo-Lhe as suas portas para sempre, e a Ela peço-Lhe que mantenha, sobre todos e cada um dos
filhos desta nobre nação, o seu olhar materno e que estes seus «olhos misericordiosos» velem sempre por
cada um de vós, vossas casas, vossas famílias, pelas pessoas que possam sentir que não há lugar para elas.
Que Ela nos guarde a todos, como guardou Jesus no seu amor. E que Ela nos ensine a olhar para os outros,
como Jesus olhou para cada um de nós. Amém.

Indicamos, também a catequese do Papa bento XVI, do dia 30 de Agosto de 2006, centrada no
Evangelista São Mateus. Pode ser conferida no seguinte endereço eletrônico:
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2006/documents/hf_ben-xvi_aud_20060830.html
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ORAÇÃO DOS FIÉIS

Presidente – Confortados pela misericórdia de Deus, que nos convida a conhecê-lo através do seguimento
vocacional, apresentemos confiantes nossas preces.

1) Vós que sois um Deus compassivo, concedei-nos a força para acompanhar-vos através do seguimento
vocacional, acolhendo o convite feito por vosso Filho Jesus. Oremos!

T –Senhor misericordioso, atendei nossas preces!

2) Colocai em nós a mesma misericórdia que habita em vosso coração, para que sejamos instrumentos do
vosso amor aos necessitados de nossa ajuda. Oremos!

3) Vós que não quereis sacrifícios e holocaustos, acolhei nossas vidas marcadas pela misericórdia, como
oferenda viva e agradável. Oremos!

4) Nós cremos e esperamos em vossas promessas, mas pedimos que confirmeis em nós a alegria de tornar
Cristo, em todos os momentos da vida, a nossa esperança. Oremos!

5) Derramai em toda a comunidade internacional sentimentos de misericórdia para que se empenhe


concretamente na abolição da tortura, garantindo apoio às vítimas e aos familiares. Oremos!

Presidente – Vós, Deus infinitamente bom, sois rico em misericórdia e, por causa de vossa infinita bondade,
vindes até nós para curar nossas enfermidades. Atendei nossas preces e abri nossos corações para que
possamos conhecer-vos e seguir-vos na vocação que nos fizestes, por Cristo nosso Senhor! T – Amém!

LITURGIA SACRAMENTAL

Vocacionados e pessoas que atuam na Pastoral Vocacional da comunidade podem ser convidadas a levar as
oferendas na procissão das ofertas.

Procissão das ofertas: quem se dispõe a acolher o chamado de Jesus para segui-lo no caminho do discipulado
poderá ingressar na procissão das ofertas e depositar, no altar da comunidade, a oferenda da sua vida.

Oração Eucarística: Proclamar a Oração Eucarística VI - C com Prefácio próprio

Antífona de comunhão: Eis que estou à porta e bato, diz o senhor:


Se alguém ouvir a minha voz e abrir, eu entrarei e cearemos juntos (Ap 3, 20).

Oração depois da comunhão: Ó Deus, que curais todos os males, agi em nós por esta Eucaristia, libertando-
nos das más inclinações e orientando para o bem a nossa vida. PCNS. T – Amém!

RITOS FINAIS

Compromisso concreto: incentivar os celebrantes a perceber a passagem divina em suas vidas, naquele local
onde cada um vive, como aconteceu com Mateus. Perceber a passagem divina e convidar a caminhar na
estrada do discipulado, presente em momentos existenciais provocados pela prática de olhar a realidade com
o olhar de Jesus.

Avisos e Comunicados

Bênção e despedida: Propomos a bênção final com a Oração sobre o Povo, Missal Romano p. 533, n. 19.

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