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Como Lidar com o Pecado do meu Irmão?

TEXTO: Mateus 7.1-5

INTRODUÇÃO
[Exórdio] Alguns anos atrás, um bispo episcopal estava navegando para a Europa em um dos
grandes transatlânticos. Ao embarcar, foi-lhe dito que teria de dividir o quarto com outro passageiro.
Ele deu uma olhada no quarto, então voltou para o balcão de informações e perguntou se ele poderia
colocar seu relógio de ouro e carteira no cofre do navio. O bispo explicou que não fazia isso
normalmente, mas tinha estado em sua cabine e não gostou da aparência de seu colega de quarto. O
funcionário pegou seus objetos de valor e disse: “Sem problemas, ficarei feliz em cuidar deles para
você. Seu colega de quarto já esteve aqui e deixou suas coisas pelo mesmo motivo”.
Todos nós gostamos de fazer julgamentos sobre outras pessoas. Alguns julgamentos são feitos
no calor do momento, enquanto outros são baseados em anos de contato próximo. Na maioria das
vezes, nossas avaliações estão erradas. Diante disso, Jesus diz: “Não julgueis para que não sejais
julgado”.
[Recapitulação] Então, ele começa pela descrição do verdadeiro discípulo: caráter (5.1-12),
sua função (5.13-16), a sua diretriz (5.21-48). Depois ele passa a elencar os três grandes perigos que
o discípulo deve se atentar na sua relação consigo mesmo: religiosidade hipócrita (6.1-18);
materialismo (6.19-24); ansiedade (6;25-34). Nesta altura do Sermão, nós poderíamos ficar tentados
a cometer vários erros: fiscalização religiosa hipócrita, pregar o evangelho sem sabedoria e achar que
somos auto suficientes. Por isso que no capítulo 7, caminhando para o final do Sermão do Monte,
Jesus vai nos ensinar a lidar com os nossos relacionamentos: irmãos na fé (7.1-5); ímpios (7.6); Deus
(7.7-12). Hoje tratarei apenas aspecto do nosso relacionamento a fim de não cairmos em uma vida de
fiscalização religiosa hipócrita: Como Lidar com o Pecado do meu Irmão?

1. LEMBRE-SE DE QUE VOCÊ NÃO ESTÁ NA POSIÇÃO DE JUIZ (v.1)


[Explicação] Em primeiro lugar, Jesus não está proibindo todo tipo de julgamento. Tolstoi,
por exemplo, o romancista russo, disse: “Cristo aqui proíbe totalmente a instituição humana de
qualquer tribunal”. Embora seja um erro grosseiro, muitas pessoas vão por essa linha e dizem por ai:
“Nunca devemos criticar. Nunca devemos condenar ninguém por nada. Nunca devemos avaliar nada.
Não queremos julgar para não sermos julgados”. Se isso fosse verdade, será que deveríamos ficar
calados diante de erros como de Hitler, Stalin? Quanto a crimes temos textos como Romanos 13 que
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nos ensinam que o Estado foi instituído por Deus para frear a criminalidade. Mas e quanto a
Igreja?Será que deveríamos aceitar e ficar quietos diante de um adultério, da fraude, da ideologia de
gênero que a cada dia mais ganha terreno? É claro que não, o próprio Novo Testamento exclui uma
interpretação tão errônea. As Escrituras são claras em asseverar que devemos fazer determinados
julgamentos: 1) diferenciação entre crentes e ímpios (v.6); 2) falsos profetas (v.15; 2Jo 10); 3) falsas
doutrinas (Gl 1.8); 4) os faltosos na Igreja (Mt 18.15-10; 1Co 5.5); Jesus ensina que devemos julgar
de forma justa e não segundo a aparência (Jo 7.24). Portanto, esse texto não pode estar contrariando
o ensino geral das Escrituras sobre a importância do julgamento.
Em segundo lugar, Jesus está ensinado que não devemos exercer um juízo condenatório
para com os meu irmão em Cristo. Aqui Jesus está tratando entre a relação que há entre os crentes.
Jesus aqui nos ensina que não podemos nos assentar na cadeira de juízes e assim ter um espírito crítico,
fruto das soberba de um coração pecaminoso, a ponto de brincar de Deus e proferir julgamentos sem
sabedoria. Mas a pergunta é como que esse juízo condenatório, que Jesus censura, se manifesta?
Primeiro, em um senso de superioridade. É um sentimento de que sempre estamos com a razão ao
passo que os outros sempre estão errados. Esse senso faz com que esperemos a caída do outro para
acima acusar a fim de nos acharmos superiores. Segundo, em uma tendência a hipercrítica. Há uma
grande diferencia entre ser crítico e hipercrítico. O crítico aprecia algo com certa habilidade e visa
trazer algo construtivo. Mas, o hipercrítico sempre se aproxima para achar algum defeito a fim de se
deleitar em seus próprio méritos. Ele vive para achar falhas nos outros. Terceiro, fortes opiniões sem
ter o conhecimento de todos os fatos. Não temos o direito de proferir qualquer juízo sem antes
termos a plena consciência dos fatos. Portanto, deveríamos primeiramente pesquisar todos os fatores
para, então, avaliá-los. Agir de outro modo é tornar-se culpado de um espírito farisaico. Por fim, em
uma tendência de proferir um juízo final. Estes proferem juízo final sobre as pessoas, e o que torna
tão terrível, é que eles estão arrogando um direito exclusivo de Deus. Não podemos brincar de Deus.

[Ilustração] Um britânico morreu atacado por seus vizinhos, que achavam que ele era
pedófilo. Ele foi espancado e incendiado, mesmo depois de a polícia inocentá-lo. A confusão começou
quando Bijan Ebrahimi, de 44 anos, tirou uma série de fotos de jovens moradores do seu bairro, em
Brislington, Bristol, destruindo seus cestos de flores. Algum vizinho viu ele com a câmera e disse à
polícia que Ebrahimi estaria tirando fotos inadequadas de crianças.
Segundo o jornal Daily Mail, depois de prestar depoimento, ele foi rapidamente liberado pela
polícia, mas o boato já tinha se espalhado em seu bairro. Dois dias depois, Ebrahimi foi espancado
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por seus vizinhos, que ainda tacaram fogo em seu corpo. Os suspeitos da morte são Lee James, de 24
anos, e Stephen Norley, também de 24 anos.
Um porta-voz da polícia disse ao jornal que “nós podemos afirmar categoricamente que ele
não tirou nenhuma foto indecente e que nenhum material deste tipo foi encontrado em seu
computador”. Seus parentes disseram que ele um homem amável que vivia para cuidar de seu jardim.
Quando, no início de 2017, o Habib’s sofreu um boicote, sob a acusação de que dois
funcionários haviam matado uma criança de rua, o laudo comprovou que o menino tivera um ataque
por causa do consumo de cocaína.

[Aplicação] O desafio de termos uma vida com discernimento. Ao longo do SM, tivemos
que recorrer ao equilíbrio para entender o ensino completo de Jesus sobre a natureza da vida no reino.
Vimos, por exemplo, que Jesus exortou seus discípulos a “deixar brilhar a vossa luz diante dos homens,
para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (5:16); ainda mais tarde,
ele admoestou: “Cuidado para não praticar seus ‘atos de justiça’ diante dos homens, para ser visto por
eles” (6:1). Um equilíbrio de ambos nos aconselha a evitar a tentação tanto da covardia pessoal quanto
da vaidade religiosa pelo ditado: “Mostre quando tentado a esconder, esconda quando tentado a
mostrar”.
Neste caso específico, antes de proferir um julgamento sobre alguém 1) Pense sensatamente!
Não se deixe levar por reações emocionais. Tal reação às aparentes contradições pode nos fazer ficar
imobilizados ou levados ao extremo. Esteja aberto a ouvir todas as partes e a voltar atrás se você tiver
errado.
Agora se houver de fato pecado, a Bíblia nos ensina como agir, por exemplo em Gálatas
6.1. .Nossa segundo Paulo deve ter firmeza e uma paciência bondosa. Ele escreveu: “Irmãos, se
alguém for surpreendido nalguma falta, vós que sois espirituais corrigi-o com espírito de brandura; e
guarda-te para que não sejas também tentado” (Gl 6:1). A palavra grega que é traduzida como
“corrigir” nesta frase é uma palavra que foi usada na antiguidade para fixar um osso quebrado.
Portanto, a implicação é que a restauração deve ser feita com suavidade e gentileza. 1
É isso que encontramos em Mateus 18. Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele,
mostre-lhe o erro. “[...] se ele não o ouvir, leve consigo mais um ou dois outros [...]. Se ele se recusar
a ouvi-los, conte à igreja” (Mt 18.15-17). Se eu percebo corretamente que alguém comete pecado,
não devo falar isso para ninguém. Devo ir diretamente àquele que errou e tratar com ele. Se ele não
me ouve, aí, sim, conto para todos? De forma alguma. O texto diz que devo levar mais um ou dois

1 BOICE, James.
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irmãos, no máximo. Só em caso de contínua rejeição, tais pecados devem chegar à igreja. Mateus 18
é um instrumento para a proteção da reputação do pecador. Se alguém está fazendo algo errado na
igreja, não é certo deixar acontecer, mas não é certo falar para os outros sem necessidade. Esse é o
caminho da coragem. Esse é o caminho da hombridade. É ter coragem de olhar nos olhos daquele de
quem você fala mal. Falar mal para ele e nos olhos dele.
Se o seu irmão pecar contra você, vá e, a sós com ele, mostre-lhe o erro. [...] se ele não o ouvir,
leve consigo mais um ou dois outros [...]. Se ele se recusar a ouvi-los, conte à igreja” (Mt 18.15-17).
Se eu percebo corretamente que alguém comete pecado, não devo falar isso para ninguém. Devo ir
diretamente àquele que errou e tratar com ele. Se ele não me ouve, aí, sim, conto para todos? De
forma alguma. O texto diz que devo levar mais um ou dois irmãos, no máximo. Só em caso de
contínua rejeição, tais pecados devem chegar à igreja. Mateus 18 é um instrumento para a proteção
da reputação do pecador. Se alguém está fazendo algo errado na igreja, não é certo deixar acontecer,
mas não é certo falar para os outros sem necessidade. Esse é o caminho da coragem. Esse é o caminho
da hombridade. É ter coragem de olhar nos olhos daquele de quem você fala mal. Falar mal para ele
e nos olhos dele.
1) Aos jovens: Via de regra, jovens estudantes em busca de firmarem sua identidade adotam
novas ideias e prontamente as defendem com unhas e dentes e logo ridicularizam os que pensam
diferentes deles. CUIDADO COM INTERNET. NÃO JULGUE PRECIPITADAMENTE
2) As pessoas mais velhas: temendo perder suas posições, preocupadas com seu prestígio e
muitas vezes incomodadas por um sentimento de que a sua vida está estagnada, com frequência se
tornam particularmente defensivas rígidas muito críticas, intolerantes, até desagradáveis e
mesquinhas.

2. LEMBRE-SE DE QUE VOCÊ TAMBÉM PASSARÁ POR UM JULGAMENTO (v.2)


Em tese é possível compreender essas falas de mais de uma maneira. Elas podem significar
que a medida que usamos para medir os outros será a mesma que os outros usarão para nos medir. Ou
seja, a pessoa crítica atrairá muitas críticas. Outra hipótese é que o versículo 2 pode significar que a
medida que usamos para medir os outros será a mesma que Deus usará para nos medir. A segunda
hipótese é a melhor, pois Mateus daquilo que os gramáticos chamam de “divino passivo”, onde ele
expressa uma ação de Deus por meio de verbos passivos, mas que a luz da teologia compreende-se
que Deus é o agente (Mt 5.4, 9). A ideia dos versos 1 e 2 não é que devemos ser moderados em nosso
julgamento a fim de que outros sejam moderados para conosco, mas sim, que devemos abolir as
atitudes de julgamento para que nós mesmo não sejamos julgados por Deus. Lembre-se de que o
sermão do Monte foi escrito para crentes e Jesus está falando de um irmão que está julgando o outro,
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daí a pergunta: Como pode ser julgado aqueles por quem Cristo morreu? O que ajuda a entendermos
o que o texto diz é lembrar que há três tipos de julgamentos que Deus exerce que a Bíblia nos ensina:
Em primeiro lugar, há um julgamento que é final e eterno. Esse julgamento determina a
grande separação entre os crentes e os incrédulos, entre as ovelhas e os bodes, aqueles que ficarão na
perdição eterna. Isso é claramente ensinado por toda a parte, nas Escrituras. Esse é o julgamento que
determinará e fixará o destino eterno, a condição final do ser humano, se ele ficará no céu ou no
inferno.
Em segundo lugar, há um julgamento para os filhos de Deus nesta vida. Esse julgamento é
claramente ensinado por Paulo aos crentes de Corinto que ao participarem da Ceia do Senhor de
maneira pecaminosa, então ele adverte: “… aquele que comer o pão ou beber do cálice do Senhor ,
indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor (v.27). Eis a razão por que há entre vós
muitos fracos e doentes e não poucos que dorme. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não
seríamos julgados. Mas quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos
condenados com o mundo” (v.30-32). Daqui extraímos o princípio de que Deus pune seus filhos
quando estes vivem uma vida pecaminosa e tratam as ordenanças de Deus de forma desleixada.
Quando esses homens não querem se arrepender, Deus os tira do mundo a fim de não serem
condenados. “Na vida do crente, fraqueza, doença e morte podem ser disciplina de Deus para nos
afastar de pecados mais terríveis e de consequências mais danosas. A disciplina de Deus visa sempre
nos fazer voltar para Ele e nos livrar da condenação do mundo”. 2
Em terceiro lugar, há o julgamento para os filhos de Deus após a morte. Se a disciplina de
Deus é o julgamento para seu povo nesta vida, a distribuição dos galardões é o julgamento dos crentes
após a morte. Paulo assevera essa verdade em Romanos 14.10: “… pois todos compareceremos
perante o tribunal de Deus”. Paulo neste contexto está ensinando a Igreja em Roma que eles não
deveriam julgar uns aos outros por causa de observância de dias ou a ingestão de alimentos, pois cada
um daqueles crentes será submetido a um julgamento diante de Deus acerca das suas obras. E em 1
Co 3.13-15, Paulo reforça essa ideia ao falar daqueles que ensinam: “manifesta se tornará a obra de
cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelado pelo fogo; e qual seja a obra de
cada um o próprio fogo provará. Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou,
esse receberá galardão; se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será
salvo, todavia como que através do fogo”. E em 2Co 5.10, ele se dirige aos crentes em geral: “Porque
importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo
o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo”. Creio que a nossa passagem se refere a esse tipo

2 LOPES, Hernandes Dias. 1Coríntios: Como resolver conflitos na Igreja. São Paulo, SP: Hagnos, 2008, p. 2020.
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de julgamento. Portanto, a principal razão pela qual não devemos julgar os outros com um espírito
crítico e soberbo é porque seremos julgados pelo próprio Deus.
Saibamos dessa verdade: Embora sejamos crentes, justificados pela fé, e embora tenhamos a
certeza de nossa salvação e saibamos que estamos nos dirigindo para o céu, ainda assim estamos
sujeitos a esse julgamento seja aqui nesta vida (disciplina) ou no após a morte (análise das nossas
obras). Se você agir de forma soberba e sem misericórdia, você prestará um dia contas a Deus.
Essa atitude é tão danosa que faz negar a nossa identidade, pois a advertência sobre o
julgamento é o inverso da bênção positiva que Jesus preconizou na quinta bem-aventurança: “Bem-
aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (5:7). A advertência também
recapitula o ponto da quinta petição do Pai Nosso: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
perdoamos aos nossos devedores” (6:12). Os verdadeiros discípulos, que foram impactados pela
misericórdia de Deus na chegada do reino dos céus, exibirão misericórdia uns para com os outros,
não julgamento. Porque os verdadeiros discípulos receberam o perdão, eles perdoarão uns aos outros.
[Ilustração] Certa vez, na Pérsia, havia um juiz – Montagne, humanista francês, conta essa
história – e esse juiz em particular foi subornado; e assim ele deu um veredicto errado, por dinheiro.
Cambises era o rei persa, e ele ouviu o que aconteceu, e então ordenou que o juiz fosse executado. E
depois que o juiz foi executado, ele ordenou que seus soldados o esfolassem: “Tire toda a sua pele”.
Ele tirou toda a pele daquele juiz, e com ela cobriu uma cadeira. E naquela cadeira sentaram-se todos
os juízes desde então que julgavam naquele tribunal na Pérsia. Eu diria que seria um bom lembrete
de justiça.

[Aplicação] Cuidado com os juízos pesados e maldosos, lembre-se

3. LEMBRE-SE DOS SEUS PECADOS (v.3-5)


[Explicação] A trave era uma peça pesada de madeira usada em construção. Já o argueiro se
referia a uma pequena farpa de palha ou madeira. Na figura que Jesus ora usa, ele se dirige ao ouvinte
comum perguntando como é possível que ele fique olhando atentamente um simples argueiro no olho
de seu irmão, e até mesmo pede permissão oara removê-lo, enquanto, ao mesmo tempo, desconhece
completamente a presença de uma trave incomparavelmente maior em seu próprio olho!

Jesus se refere a esse tipo de pessoa como sendo “hipócrita”, um termo que Jesus geralmente
usa para caracterizar os escribas e fariseus de seus dias (5.20; 6.2, 5, 16; 15.1, 7; 23.13), uma classe
de indivíduos a quem o Senhor descreve como aqueles “que confiam em si mesmos por se
considerarem justos, e desprezam os outros” (Lc 18.9). Portanto, aqui se caracteriza qualquer pessoa
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com uma disposição farisaica. Uma vez que no coração de todos, inclusive dos seguidores de Cristo
até ao ponto em que a graça não os transformou completamente, se esconde um fariseu, a conclusão
é que essa passagem se aplica a todos nós, no sentido de que todos precisamos examinar a nós mesmos
(1Co 11.28) a fim de que não andemos na ânsia de descobrir falta nos outros e assim alimentar um
desejo de prepotência. Uma pessoa que é boa aos seus próprios olhos (Lc 18.11-12), todavia, não é
humilde, pelo prisma divino, há uma trave em seu olho, a trave que se chama soberba e
autojustificação. Isso faz de tal pessoa um oftalmologista cego que tenta realizar uma cirurgia num
olho alheiro. Imagine o tamanho do estrago.

[Ilustração]Quando Natã chegou a ele, depois de seu adultério com Bate-Seba, encontrou o
rei tentado a encobrir o adultério e a gravidez movimentando um exército para que Urias morresse.
O profeta não chegou a Davi declarando que ele estava errado, mas contou uma história: “Davi, o que
você acha de um homem que era cheio de ovelhas e manda matar a única ovelhinha de um pastor
pobre para servir a um viajante?”. Davi faz um julgamento moral: “Juro pelo nome do Senhor que o
homem que fez isso merece a morte! Deverá pagar quatro vezes o preço da cordeira, porquanto agiu
sem misericórdia” (2Sm 12.5-6). Essa foi a regra moral que Davi usou para medir o homem da história,
e é a mesma regra moral que Deus usa através de Natã para medi-lo: “Então, Natã disse a Davi: ‘Você
é esse homem!’” (2Sm 12.7). No último dia, Deus usará contra nós as palavras que dissemos contra
os outros, e o modo como julgamos quem está à nossa volta como o modo de nos julgar. Deus não
precisaria usar a Escritura ou o próprio Cristo como padrão. Bastaria que ele nos usasse contra nós
mesmos. Por algum motivo, o rei Davi, incrivelmente cego, não tinha percebido a viga em seu próprio
olho, enquanto ardia de raiva pelo cisco no olho do fazendeiro rico. A verdade é que quando estamos
em pecado e dele não tratamos enxergamos apenas o que queremos. Lembre-se de que as pessoas
que condenamos serão parábolas vivas para nos condenar.

[Aplicação] Ao ouvirmos essas verdades, é muito perigoso cairmos no erro de sermos


coniventes com o pecado,e assim dizer para nós mesmos: “Eu não quero saber disso, não sou ninguém
para julgar”. A luz da última parte do verso 5, é evidente que o propósito de Jesus não era desestimular
a disciplina mútua. Ao contrário, nesse dito tanto a autodisciplina quando a disciplina mútua são
estimuladas. Agora, quando, pela soberana graça de Deus, esta viga for removida, então aquele que
antes punha defeito estará habilitado a ver suficientemente 0bem para remover do olho de seu
irmão .Portanto, A pessoa que se empenha escrupulosamente em remover a viga de seu próprio olho
não está por isso isenta de qualquer outra responsabilidade. Tendo adquirido a capacidade de enxergar
claramente, ela pode ajudar a remover o cisco do olho de seu irmão (7.5). Na verdade, só depois disso
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esse irmão receberá bem sua ajuda. Mas antes tome todo o cuidado para que o seu pecado não te
cegue e assim faça com que aja com um juiz soberbo brincando de Deus
O erro está quando ao exergamos a vida do outro, enxerguemos tudo errado na vida de outro
irmão, ao passo que não enxergamos absolutamente nada errado em sua própria vida. E o único
pecado grosseiro, vil e miserável que nunca vê nada de errado em sua própria vida é – o quê? –
autojustiça. E é isso que a trave é. Contanto que você seja hipócrita, enquanto você estiver
espiritualmente orgulhoso, enquanto você se colocar como juiz, você não pode ajudar ninguém com
nenhum pecado. É como se tivesse prazer em falar daquele que caiu em adultério quando me trancafio
em meu quarto em me afundo em pornografia. É quando falo daquele que caiu no pecado do roubo,
mas não pesa na minha consciência quando mato hora no trabalho ou falsifico um atestado, roubando
assim as horas pagas pela minha empresa. É quando tenho prazer em ouvir sermões apenas para
criticar e achar erros, mas em casa não leio nem a Bíblia. Quando sou rápido para denunciar um
mentiroso, mas gosto de aumentar um pouco a história para me engrandecer.

Há exemplos na Bíblia que nos ajuda a entender essa realidade: 1) Davi. Ouça como David
colocou. Salmo 51 : “Cria em mim, ó Senhor, um” – o quê? – “coração limpo”. Você ouviu isso?
“Cria em mim, ó Senhor, um coração puro” (v.10). Agora ouça: “Então ensinarei aos transgressores
os Teus caminhos, e os pecadores se converterão a Ti” (v.13). Mas não há como ensinar a um
transgressor o caminho certo, e não há como converter um pecador a Deus, até que eu tenha em minha
própria vida um coração puro. 2) Pedro. Jesus disse a Pedro – e esta é uma passagem muito poderosa.
Em Lucas 22 , Ele disse: “Pedro, Satanás te desejou para te peneirar como trigo. Ele vai descobrir o
que em você é real. Mas eu orei por você, para que sua fé não desfaleça”. Agora ouça isto: “E quando
você estiver recuperado, fortaleça os irmãos”. A questão é que ele não poderia fortalecer os irmãos
até que ele mesmo se recuperasse. Ele era inútil até que sua própria vida fosse corrigida.

CONCLUSÃO

Esforcei-me nesta noite para mostrar coo devemos agir com aquele irmão que vemos pecar:
1) Lembrar não estamos na posição de juízes; 2) Lembrar que seremos julgados; 3) Lembrar do nosso
pecado. Contudo, que finalizar mostrando o fundamento de tudo que foi falado. Esse fundamento não
é outro senão o amor de Deus.

Precisamos estar cientes do amor de Deus e do fato de que fomos amados por ele. Quando o
Senhor Jesus Cristo nos amou? “Senhor Jesus Cristo, você esperou para me amar até que eu tivesse
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feito algo para me tornar adorável? Você esperou até que eu te amasse? Você esperou até que eu
removesse aquelas grandes vigas do pecado que cegavam minha visão e distorciam meu entendimento
espiritual?” "Claro que não!" Cristo responde: “Eu te amei quando você ainda era um pecador e
desagradável por todos os padrões divinos”. Eu ouço a resposta, e volto para o quinto capítulo de
Romanos e leio: “Você vê, no momento certo, quando ainda éramos impotentes, Cristo morreu pelos
ímpios. Muito raramente alguém morrerá por um homem justo, embora por um homem bom alguém
possa ousar morrer. Mas Deus demonstra seu próprio amor por nós nisto: sendo nós ainda pecadores,
Cristo morreu por nós” (Rm 5:6-8). “Senhor Jesus Cristo, você realmente me amou assim? Você
morreu por mim quando eu ainda era um pecador?” "Sim eu fiz." Bem, então, eu me pergunto, como
posso julgar aqueles cujos pecados, embora pequenos, são visíveis para mim, mas por quem ele
também morreu?
Quando nossos corações estão ocupados com seu maravilhoso amor, lembramos que ele nos
amou quando não éramos amáveis, e alguns de nós não são muito amáveis agora; Se ele pode fazer
isso quando éramos rebeldes, deveríamos fazer o mesmo, sabe por que? Porque as Escrituras
testificam que esse amor agora é derramado em nossos corações (Rm 5.5) – a ideia do perfeito grego
aqui é muito forte - , capacitando-nos a amar aqueles que são pecadores, cruéis e egoístas”.
Vejamos o exemplo de alguém que entendeu que não estava na posição de juiz e que o amor
de Deus deveria alcançar outros por meio da sua vida. Esse alguém é o apóstolo João. O apóstolo
João foi alguém que aprendeu muito sobre esse amor. A maioria de nós tende a pensar no apóstolo
João como um pouco quieto e amoroso, talvez até efeminado, como tantas obras de arte da igreja o
retrataram, mas essa é uma ideia errada. Quando conheceu a Cristo na companhia de seu irmão Tiago,
Jesus disse: “Vou chamar vocês dois por outro nome. Vocês serão chamados Boanerges, os filhos do
trovão”. Certamente não há nada de efeminado nisso.
Algum tempo depois, no meio do ministério de Cristo, enquanto passavam por Samaria, Tiago
e João ficaram tão indignados com a atitude dos samaritanos que disseram a Jesus: “Senhor, você
quer que chamemos fogo do céu para destruí-los? ” (Lucas 9:54). Isso também não foi muito amoroso
ou efeminado. No início de seu ministério, o Senhor havia sido recebido em Samaria; mas neste
momento, sabendo que o tempo de sua morte estava próximo, Jesus estava determinado a avançar
para Jerusalém. Quando os samaritanos souberam disso, no entanto, todo o preconceito social que
possuíam veio à tona e eles se recusaram a deixar Jesus e seus seguidores passarem a noite em sua
cidade. Então João, junto com seu irmão Tiago, desejava destruir os samaritanos. Foi um caso claro
de João, com uma trave no olho, saltando para julgar um cisco no olho dos samaritanos.
Mas João logo aprendeu de forma diferente. Jesus havia dito então: “Vós não sabeis de que
espírito sois”. Mais tarde, quando João passou a conhecer melhor seu Senhor, ele aprendeu sua
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necessidade de amor e tornou-se conhecido pelo amor. Ele então escreveu: “Queridos amigos,
amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus. Todo aquele que ama é nascido de Deus e
conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 João 4:7-8).
O filho adolescente de um colega pastor xingou a mãe de alguma forma e, ao ser repreendido
pelo pai, tentou justificar-se das mais variadas formas. O pai, bem sério, disse: “Escute bem, aquela
pessoa que você xingou é a minha mulher, a minha esposa. O que você acha que eu faria se alguém
falasse isso da minha mulher na rua?”. Em geral, esquecemos de olhar para o Deus vivo como aquele
que está protegendo sua noiva. Você não consegue ser amigão de quem odeia sua mulher ou seu
marido, ou de quem coloca em risco a segurança de seu próprio filho. Como, então,o Deus vivo olhará
para nós se nos colocarmos como juízes e caluniadores dos filhos dele e de sua Noiva? Qual será a
atitude de Deus se nos colocarmos como juízes daqueles por quem Jesus morreu na cruz, para obter
sua salvação? O normal é que tratemos o que não é nosso com mais cuidado. Aquilo que é seu, você
trata como bem entender, mas, em relação àquilo que é do outro, você trata com muito mais respeito.
Quando dirigimos um carro emprestado, o medo de arranhar a lataria é potencializado. Aqueles de
quem falamos mal pertencem ao Senhor, não a nós. Devemos temer arranhar sua reputação.

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