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CURSO EXU O GUARDIÃO UMA JORNADA PRÁTICA 1

OS ORIXÁS NA ÁFRICA
Por Pierre Verger (VERGER, Ed. Corrupio, 2002)
O termo “Orixá” nos parecera outrora relativamente simples, da maneira
como era definido nas obras de alguns autores que se copiaram uns aos
outros sem grande discernimento, na segunda metade do século passado e
nas primeiras décadas deste. Porém, estudando o assunto com mais
profundidade, constatamos que sua natureza é mais complexa. Léo
Frobenius é o primeiro a declarar, em 1910, que “a religião dos iorubás tal
como se apresenta atualmente só gradativamente tornou-se homogênea.
Sua uniformidade é o resultado de adaptações e amálgamas progressivos
de crenças vindas de várias Direções”. Atualmente, setenta anos depois,
ainda não há, em todos os pontos do território chamado Iorubá, um
panteão dos orixás bem hierarquizado, único e idêntico. As variações locais
demonstram que certos orixás, que ocupam uma posição dominante em
alguns lugares, estão totalmente ausentes em outros. O culto de Xangô, que
ocupa o primeiro lugar em Oyó, é oficialmente inexistente em Ifé, onde um
deus local, Oramfé, está em seu lugar com o poder do trovão. Oxum, cujo
culto é muito marcante na região de Ijexá, é totalmente ausente na região
de Egbá. Iemanjá, que é soberana na região de Egbá, não é sequer
conhecida da região de Ijexá. A posição de todos estes orixás é
profundamente dependente da história da cidade onde figuram como
protetores Xangô era, em vida, o terceiro rei de Oyó. Oxum, em Oxogbô,
fez um pacto com Larô, o fundador da dinastia dos reis locais, e em
consequência a água nessa região é sempre abundante. Odudua, fundador
da cidade de Ifé, cujos filhos tornaram-se reis das outras cidades iorubás,
conservou um caráter mais histórico e até mesmo mais político que divino.
Veremos mais adiante que as pessoas encarregadas de evocar Odudua não
entram em transe, o que destaca seu caráter temporal... [...] A religião dos
orixás está ligada à noção de família. A família numerosa, originária de um
mesmo antepassado, que engloba os vivos e os mortos. O orixá seria, em
princípio, um ancestral divinizado, que, em vida, estabelecera vínculos que
lhe garantiam um controle sobre certas forças da natureza, como o travão,
o vento, as águas doces ou salgadas, ou, então, assegurando-lhe a
possibilidade de exercer certas atividades como a caça, o trabalho com
metais ou, ainda, adquirindo o conhecimento das propriedades das plantas
e de sua utilização... [...] O orixá é uma força pura, axé imaterial que só se

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torna perceptível aos seres humanos incorporando-se em um deles. Esse


ser escolhido pelo orixá, um de seus descendentes, é chamado seu elégùn,
aquele que tem o, privilégio de ser “montado”, gùn, por ele. Torna-se o
veículo que permite ao orixá voltar a terra para saudar e receber as provas
de respeito de seus descendentes que o evocaram. Os elégùn muitas vezes
são chamados iyawóòrìxà (iaô), mulher do orixá. Este termo tanto se aplica
aos homens quanto às mulheres e não evoca uma idéia de união ou de
posse carnal, mas a de sujeição e de dependência... (VERGER, Ed. Corrupio,
2002) ORIXÁ EXU EXU ELEGBARÁ ÉSÚ ELÉGBÁRA Ésú na África Como
personagem histórica, Exu teria sido um dos companheiros de Odùduà,
quando da sua chegada a Ifé, e chamava-se Èsù Obasin. Tornou-se, mais
tarde, um dos assistentes de Orunmilá, que preside a adivinhação pelo
sistema de Ifá. Segundo Epega, Exu tornou-se rei de Kêto sob o nome de
Èsù Alákétu. É Exu que supervisiona as atividades do mercado do rei em
cada cidade: o de Oyó é chamado Èsù Akesan. Como orixá, diz-se que ele
veio ao mundo com um porrete, chamado ogó, que teria a prioridade de
transportá-lo, em algumas horas, a centenas de quilômetros e de atrair, por
um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes. Exu
é o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. Ele é
representado por uma estátua, enfeitada com fieiras de búzios, tendo em
suas mãos pequenas cabaças (àdò), contendo os pós por ele utilizados em
seus trabalhos. Seus cabelos são presos numa longa trança, que cai por trás
e forma, em cima, uma crista para esconder a lâmina da faca que ele tem
no alto do crânio. Isso por sinal, é dito em uma de suas saudações: “Sonso
abè kò lòri erù”. [“A lâmina (sobre a cabeça) é afiada, ele não tem (pois)
cabeça para carregar peso”. “Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não
atinge nem mesmo a altura do fogareiro”.

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