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Resenha crítica: Torto Arado

JÚNIOR, Itamar Vieira. Torto Arado. 1. ed. São Paulo: Todavia, 2019. p. 8-264.

Em 2019, foi publicado a obra “Torto Arado”, de Itamar Vieira Júnior, sendo
ainda hoje um patrimônio brasileiro muito respeitado pela literatura do país.
Itamar Vieira Júnior nasceu em Salvador – Bahia, em 6 de agosto de 1979. Seu
vasto conhecimento, estendia-se principalmente, por seu romance
apresentado, que no ano de 2023, permaneceu em alta nos livros mais
procurados e vendidos, tendo influenciado várias gerações, em todo o Brasil,
pelo seu conto rico em produção literária.

Itamar é graduado e mestre em Geografia, pela Universidade Federal da Bahia,


concluiu também sua tese de doutorado, dessa vez na área de Estudos Étnicos
e Africanos. Para além da literatura, atua como funcionário do INCRA - órgão
federal voltado para a implantação da reforma agrária. Seu conto foi indicado
pelo Prêmio Jabuti de Romance Literário, Prêmio Oceanos e Prêmio Jabuti de
Livro Brasileiro Publicado no Exterior.

A principal motivação que nos leva a, modestamente, resenhar “Torto Arado”,


advém da expectativa em conquistar alguns dos leitores, levando-os a
conhecer a rica produção deste autor, que conta a história de duas irmãs,
Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância, e que vivem em
condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da
Chapada Diamantina. Em segundo lugar, essa obra nos provoca especial
simpatia pelos preceitos nela disseminados, ainda que somente no campo do
passado escravocata. Nos restringiremos a apreciar apenas alguns dos
aspectos mais significativos deste livro.

Na obra, é comum serem apresentadas diversas culturas do nordeste brasileiro


no ambiente fictício da Fazenda Água Negra, povoado do interior da Bahia,
onde vivem os personagens, como os rituais de dança do Candomblé caboclo,
praticados pela população; os rituais aos santos, praticado pelo pai de
Belonísia, entre outros hábitos marcados pelo cotidiano. Na fala de Bibiana,
são introduzidas reflexões das restrições impostas aos que vivem no Brasil
profundo, sem escola, sem perspectivas e sem qualquer tipo de assistência, o
que ceifa a possibilidade de meninos e meninas ultrapassarem a primeira
infância.
Belonísia dá voz aos que, assim como ela, vivem uma vida marcada pelas
restrições e senões. E nos traz a dureza da seca que rareava os alimentos e os
peixes dos rios, como também dos períodos de abundância de chuvas, que
muitas vezes destruíam plantações inteiras.  
Paralelamente, nos trás também temas como violência de gênero, uma
constante na vida das mulheres do campo e inclusão de gênero, onde amou
uma mulher em silêncio por conta das conservações da época.
O último capítulo é marcado por revelações de segredos, e memórias. Ao nos
conduzir pelo Brasil de dentro, faz emergir os conflitos de terra que trazem
medo e morte, com vistas a assegurar os privilégios seculares em detrimento
da ascensão de gerações inteiras, que muitas vezes vivem em situações
análogas à escravidão. Das palavras da entidade surgem passagens de
resistência e luta, que visam a construir novas narrativas para os moradores de
Água Negra.
Conclui-se que, a obra e os temas que a abordam são muito relevantes para o
contexto atual, pois apesar de ser um conto fictício, amplia o conhecimento do
leitor para a época escravocrata, onde muitas situações narradas assemelha-
se a vida real dos trabalhadores brasileiros que, após mais de 130 anos da
assinatura da lei áurea, sofriam com as consequências e diferenças deixadas
pelo passado.
Com uma linguagem de fácil entendimento, o livro pode ser indicado a qualquer
tipo de público-alvo, desde diferentes tipos de profissionais. Portanto, está à
disposição para qualquer tipo de pessoa que tiver interesse em lê-lo.
Um ponto positivo da obra é que, como dito anteriormente, o autor explora
muito bem as ideias de costumes, hábitos e culturas caracterizadas pelo sertão
baiano, possivelmente, pelo fato de também ter crescido e nascido na Bahia.
Vale a pena desfrutar de cada capítulo de seu sucesso literário.

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