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All content following this page was uploaded by Ana Cristina Limongi-França on 18 June 2023.
PANORAMA BRASILEIRO
O professor Lúcio Flávio Renault Morais, nos anos 1990, e os professores Já-
der Sampaio, Zélia Kilimniki e Anderson Sant’Anna, da UFMG, desenvolveram
estudos de QVT relacionando-a ao estresse ocupacional, aos tipos de persona-
lidade, à carreira, ao gênero. Acrescente-se – neste mesmo ambiente mineiro –
as contribuições sobre ergonomia de Hudson de Araújo Couto e o Compêndio
de patologia do trabalho do médico do trabalho, membro da International
Commission on Occupational Health (Icoh), professor René Mendes.
Eda Conte Fernandes (1996), da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, foi uma das precursoras do estudo da QVT no Brasil, ao tratar de mode-
los relacionados à auditoria de QVT. Para a professora a,
QVT está intimamente ligada à democracia industrial e à humanização do
trabalho, cuja corrente mais forte é a francesa, que utiliza como metodologia
científica o depoimento sistemático dos empregados sobre suas atividades.
1 Cf. <www.abqv.org.br>.
2 <www.fundacentro.org.br>.
3 <http://www.stress.org/occupational-stress-part-1/>.
Finnish Institute of Occupational Health (Fioh), de Helsinque (Finlândia)
– Centro de excelência acadêmica especialmente voltado para os estu-
dos sobre idade e trabalho e capacidade para o trabalho, desenvolvido
pelo professor Juhani Ilmarinen. O teste ali elaborado foi traduzido pela
professora Frida Marina Fischer, da Faculdade de Saúde Pública da USP
e publicado pela Faculdade São Carlos.4
Tilburg University, na Holanda – Promotora de estudos sobre choro em
adultos, emoções e estresse, trabalho e lazer liderados pelo professor Ad
Vingerhoets.
O National Institute for Occupational Safety and Health (Niosh)5 – Agên-
cia federal do governo dos Estados Unidos – equivalente à Fundacentro
no Brasil. É responsável por conduzir pesquisas e fazer recomendações
para prevenção de acidentes, incidentes, estresse e outros fatores de risco
no trabalho. James McGlothlin, um de seus pesquisadores, atua hoje na
Purdue University, estudando relações entre ergonomia, epidemiologia e
higiene industrial. McGlotlhin desenvolve e aplica programas de preven-
ção a doenças de desordens e lesões relacionadas ao trabalho repetitivo
(LER) e desordens osteomusculares relacionadas ao trabalho e também
produtividade e qualidade no local de trabalho.
Em síntese, os marcos conceituais de qualidade em uma linha do tempo
podem ter a seguinte representação:
4 <http://www.ttl.fi/en/Pages/default.aspx>; <http://www.juhaniilmarinen.com/publica-
tions/ageing and work www.occuphealth.fi/>.
5 Cf. <www.cdc.gov/niosh/>.
ALGUNS RESULTADOS
Merecem destaque alguns resultados de trabalhos empreendidos sobre
qualidade de vida no trabalho:
Do ponto de vista da gestão de pessoas, há sempre expectativas de mo-
dificações positivas com relação às condições de vida na organização de
forma coletiva e também pessoal. Estes resultados em geral estão associados
a cada tipo de ação a níveis comportamentais de redução ou ampliação da
ocorrência.
Os resultados de redução de ocorrência são: menor índice de absenteís-
mo e presenteísmo, redução ou eliminação do assédio moral e sexual, me-
nor frequência do sentimento de desconfiança entre os colegas e as chefias,
redução ou eliminação de comportamentos ligados à covardia, sensação de
pressão negativa (distresse), ausência do sentimento de solidão pessoal e
desrespeito nos relacionamentos.
Os resultados comportamentais de aumento são a percepção de valores
relativos a humanismo, pluralidade de ideias, corresponsabilidade, digni-
dade, ampliação da rede de amigos, otimismo das pessoas com relação ao
trabalho e à própria vida. São ainda qualidade na comunicação, com ênfase
na assertividade, compreensão e sentido do trabalho com pressupostos in-
trinsecamente autênticos e percepção pessoal de bem-estar.
Resultados de QVT no que se refere a questões da psicologia organiza-
cional e do trabalho: clima organizacional, redução de acidentes e doenças,
melhoria da imagem organizacional e redução do distresse.
Gary Karasek (2008)6 desenvolveu o modelo de demanda e controle, a
partir do qual propõe medidas preventivas, inspiradas nos conceitos da
abordagem sociotécnica, a considerar as seguintes equações, segundo adap-
tação de Frank Pot (2002):
resolver discrepâncias entre as demandas do trabalho, o número de em-
pregados e o tempo disponível;
equilibrar as demandas do trabalho e as habilidades com as qualificações
dos empregados;
dimensionar as demandas do trabalho e o apoio social de colegas e chefes;
e, por fim,
alinhar as demandas do trabalho e a capacidade de controle sobre o
próprio trabalho.
6 <http://www.karasek.org/>.
Estes movimentos científicos demonstram que há uma massa crítica de
pensadores dedicados a discutir a QVT, tanto no Brasil como em todo o
mundo, seja nas universidades, seja nas empresas privadas e públicas. E isso
apesar da dificuldade de aceitação em relação à denominação e também à
percepção da qualidade de vida como valor econômico e pessoal, incluindo
incompreensão das metodologias e dos resultados esperados.
PERSPECTIVAS
Há um cenário novo, diversificado e amplo para atuação da qualidade de
vida no trabalho, tanto como valor, como ferramenta, produto, serviço e re-
sultado. O principal elemento desta mudança é a presença ampla e irrestrita
da tecnologia. Os desafios atuais no âmbito da qualidade é incorporar como
processo, através de qualificação, definição de competências e sempre que
possível com gestão compartilhada. Outro elemento importante neste cenário
da QVT para o terceiro milênio é a qualificação dos fornecedores, a maturida-
de nas relações contratuais com os especialistas e a criação de áreas e serviços
específicos de qualidade de vida que não estejam, como atualmente, no segun-
do plano das atividades de gestão de pessoas nas empresas públicas e privadas.
Acreditamos que os principais desafios para consolidação da ações e pro-
gramas de GQVT nas empresas são:
fortalecimento das competências de bem-estar organizacional integradas
ao bem-estar pessoal;
adoção de elementos gerenciais próprios;
dotação orçamentária específica – integrada ou não – aos custos médicos;
posicionamento estratégico nas metas de gestão organizacional;
consolidação de modelos, qualificação dos técnicos, dos gestores e dos
especialistas;
ajuste do foco da gestão como processo, e não apenas como resultado
final.
Há também a necessidade de superar a fragmentação das linhas de pes-
quisa e da disseminação da produção em diferentes áreas de conhecimento
como a economia, a sociologia, a psicologia, a administração, a saúde, o
direito, a engenharia, a pedagogia, a ciência politica, entre outras. QVT é
um construto sistêmico, dinâmico e com muitas aplicações no campo do
conhecimento teórico e prático. Os esforços de integração em rede para for-
mação de um banco de dados científicos – classificados com uma taxionomia
validada – deverão dar crescente credibilidade e disseminação dos diversos
modelos de analise e aplicação de QVT nesta década.
FONTES
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INTRODUÇÃO
contexto interno das organizações evidencia as consequências da
incerteza permeando os negócios, mudanças incessantes e sem pre-
cedentes históricos, velocidade e quantidade de transformações. E
como o trabalho ocupa, cada vez mais, parte significativa do nosso tempo, a
vida gira em torno das organizações, tornando a qualidade de vida no traba-
lho (QVT) tema cada vez mais relevante.
Estudos sobre a QVT (Lawler & Nadler, 1994) – desde a década de 1960 até
o princípio dos anos 1980 – mostravam diferentes definições e tendências,
sendo a QVT tratada inicialmente como variável, depois como abordagem,
método, movimento e, nos anos seguintes, a QVT passou a ser uma panaceia
para todos os problemas e desafios organizacionais. Para aqueles autores, o
grande risco seria, nos anos seguintes, o fracasso de programas mal gerencia-
dos, minando a imagem e as possibilidades dos projetos de QVT, tornando-os
não mais que “um modismo passageiro”.
Felizmente este risco não se confirmou e o tema QVT continua sendo obje-
to de estudos e pesquisas, mobilizando pessoas de todas as partes do mundo
para debates em seminários, congressos e conferências.
No mundo em permanente transformação, aquilo que fazemos determina
em grande parte os rumos das nossas vidas. Parte dos colaboradores empe-
nha-se em fazer carreira de sucesso, dispondo-se ao que for necessário para
obter promoções e suprir suas ambições financeiras. Outra parte não se con-
tenta apenas com isso e busca ocupações que proporcionem sentido às suas
vidas e significado para os esforços e para o tempo dedicado ao trabalho.
Para quem a ambição egoísta é a única motivação, qualidade de vida não é
tema relevante e, em muitos casos, a preocupação com as consequências do
ritmo desmedido do trabalho somente se instala – caso se instale –, na ocor-
rência de doenças graves nitidamente associadas ao estresse ocupacional.