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maiores cientistas do século XX fi- macieira do que de uma jaqueira. posto praticamente só de ho-
zeram o primeiro turno da vota- Apesar do clima descontraído, os mens) e aproveitaram para com-
ção para eleger as invenções e ânimos se acirraram quando al- binar a virada do ano 2.000 em
descobertas mais porretas dos úl- guém responsabilizou a Micosó frente ao terreiro da Mãe Dinorá,
timos 100 anos. Pierre e Maria pelo bug do milênio e levantou a na praia de Copacabana. A reu-
Curió apareceram disfarçados de possibilidade do Kid Gate ser o nião virou uma festa de arrom-
Batman e Robin, o que provocou anti-Cristo profetizado por Nos- ba com a chegada do Roberto,
comentários maldosos, já que de tradamus. As descobertas e inven- Erasmo e Pachecão. Nosso re-
vez em quando trocavam beiji- ções mais votadas, por enquanto, pórter Mauro Ferreira cobriu o
nhos. O cientista Alberto Ainstain foram a Ana Paula Arósio, a Re- evento e entrevistou Mister X, o
considerou muito relativa a opi- gressão às Vidas Passadas e o cientista que desvendou o intrigan-
nião de Jacó Nilton de que é me- Viagra Gel. Os físicos formaram te raio que penetra - Página 2
Como todo mês tem uma coluna Depois do pinto do meu pai, a Em homenagem à 3a idade e aos
nova, esta gazeta resolveu inventar mídia colocou lá em cima o palito jovens que também têm saudade,
agora a Quitanda da Ciência, com do Marcelo, nova revelação da o Folhetim relembra o que o Ne-
abacaxis e pepinos já descascados. Apé Music, que você canta com a grão tinha de melhor, e que o tornou
Quem vai vender o peixe é o pro- boquinha na garrafa - Página 7 famoso em 1992 - Página 8
fessor Léo, de Barretos (segura,
peão!). Ele garante que todos os
produtos da quitanda são natural-
mente artificiais - Página 15
AVISO AOS
NAVEGANTES
Garrafas de plástico podem ser uti- (Arquimedes), como mostra a fi- Continuando a experiência:
lizadas para realizar um sem núme- gura 2. depois de encher a bola que se
ro de experiências físicas. Descre- Se quiser sofisticar, use dois pa- encontra na garrafa furada, tape
veremos a seguir duas delas: a pri- litos, um deles previamente torna- o furo com o dedão e tire a boca
meira pode ser utilizada para ilus- do impermeável. Esse não afunda- do gargalo. A bola não esvaziará
trar os princípios de Pascal e Arqui- rá, por maior que seja a pressão (figura 4), como em princípio o
medes; a segunda, a pressão de um exercida. senso comum esperaria. Como
gás e a pressão atmosférica. Para a segunda, consiga duas explicar?
Para a primeira, além de uma garrafas (sem tampa) e duas bolas
garrafa lisa de refrigerante com de aniversário (ou, como dizem os
tampa (dessas de 2 litros, por paulistas, duas bexigas). Coloque
exemplo), você precisará de um as bolas por dentro das garrafas dedo
palito (de dente ou de fósforo). (uma em cada garrafa), de modo a
Encha completamente a garrafa que possamos enchê-las soprando
com água, coloque dentro dela o pelo gargalo (figura 3).Ah, sim!
palito e feche bem com a tampi- Uma das garrafas deve ser previa- figura 4
nha. Por ser menos denso que a mente furada no centro da base
água, o palito “ficará dando ca- (um furo pequeno, que não seja
beçada” na tampa, como mostra facilmente percebido de longe. Uti- Você conhece mais alguma ex-
a figura 1. lize para isso um prego aquecido periência que utilize garrafas? Man-
ou uma broca fina e furadeira). de para nós! Deste modo, além de
permitir que outros professores
aperte ilustrem suas aulas, você estará aju-
aqui bolas dando a diminuir a poluição do
meio ambiente.
PS:
furo 1. Não é com qualquer palito que
a primeira experiência “funciona”.
Quando fui repeti-la na casa do
figura 1 figura 2
Marcelo, verifiquei que a marca de
figura 3
Agora, aperte a garrafa com as palito que ele usa possui densida-
mãos, de modo a pressionar o lí- A experiência se torna mais in- de muito baixa. Conclusão: por
quido em seu interior. Esse aumen- teressante se você não deixar ini- mais pressão que se fizesse, o pa-
to de pressão se estenderá por cialmente que os alunos percebam lito do Marcelo não descia!
todo o líquido (Pascal), que por sua o furo. Dê a garrafa sem furo para 2. Você pode sofisticar um pouco
vez pressionará o palito. Sendo fei- o aluno mais forte da turma, e a fu- essa experiência, utilizando, em lu-
to de madeira porosa, ele absor- rada para a menina mais franzina. gar do palito, um tubo de ensaio
verá água, e sua densidade aumen- Peça a ambos para soprarem com pequeno, colocado invertido (e
tará (será tanto maior quanto mai- força de modo a (tentar) encher a com água até a metade) dentro da
or for a pressão exercida com as bola. Se ele não souber Física para garrafa. Fica então visível que a
mãos). Assim, você poderá coman- explicar porque não conseguiu en- água penetra no tubo, quando au-
dar o palito, fazendo-o descer, su- cher a bola, enquanto a colega mentamos a pressão sobre ela.
bir ou até mesmo parar em algum não teve dificuldade, vai passar Luiz Alberto Guimarães
ponto no interior da garrafa a maior vergonha!! (f2g@cen.g12.br)
DEU NO JORNAL
A análise dessa ilustração nos dá impulso necessário, Marcelo Ne- po ela é exercida?
chance de aplicar vários conteúdos grão tenha flexionado as pernas em 2. A ilustração informa que “a bola
de Física. Portanto, mãos à obra! 60cm (medidos na vertical), qual o percorre 17 metros em 0,40s, atin-
trabalho realizado pelos músculos gindo a velocidade de 153Km/h”.
Aplique seus conhecimentos
da perna do atleta, para executar a) Está errada a abreviatura de qui-
1. Considere que o salto para o esse salto? lômetro. Qual a correta?
saque seja vertical, e responda: d) qual a força média exercida pe- b) Considerando que a velocidade
a) com que velocidade Negrão los seus pés sobre o solo, durante referida seja a média no percurso,
perde o contato com o chão? o salto? confira se está correta a informação.
b) sendo sua massa igual a 1,0 . e) qual o módulo, a direção e o 3. Façamos as seguintes hipóteses
102 kg, qual a sua energia cinética sentido da reação à força que você simplificadoras sobre o saque:
neste momento? calculou no item anterior? Quem - que a velocidade inicial seja igual
c) considerando que, para dar o exerce essa força? Sobre que cor- à média no percurso, ou seja,
153km/h (hipótese razoável, uma c) 1,8 . 103 J;
vez que o movimento durou ape- d) 3,0 . 103 N (ou seja, cerca de
nas 0,4s); três vezes maior que seu próprio
- que a resistência do ar possa ser peso);
desprezada. e) 5,0 . 103 N, vertical, para cima.
a) Qual o módulo do impulso exer- É exercida pelo solo sobre o joga-
cido pela mão do atleta sobre a dor. Aí, moçada! A “galera da Física”
bola, de massa 280g? 2. a) km (com “k” minúsculo); encontrou algumas falhas, tanto
b) Sendo de 0,01s o tempo de con- b) Sim, pois: nos livros da coleção Física para
tato da mão com a bola, qual a força 17m/0,40s = 42,5m/s = 153km/h. o 2o Grau, quanto nos Bancos de
média exercida nessa interação? 3. a) 12N.s; Questões que os professores que
c) Considerando os 0,40s que a b) 1,2 . 103N; adotam a coleção receberam no
bola levou para tocar a quadra c) 10o; início do ano. Aqui vão elas:
adversária, em que ângulo, abaixo d) 16,7m; No livro de Mecânica:
da horizontal, o saque foi dado? e) Fora, pois seu alcance seria de - página 281, ex. 12: para evitar
d) A que distância da vertical que 37m. confusão (tem cidades em que o
passa pelo ponto de lançamento a 4. a) A unidade de força (e, por- térreo é o primeiro andar, tem ci-
bola bateu no solo? Verifique sua tanto, peso) não é o quilograma e dades que não, sugerimos mudar
resposta utilizando o programinha sim o newton (N); o item (a) para: “em relação ao piso
de projéteis, disponível no site do b) 2,5m. Esse valor evidentemente do 1o andar”;
Folhetim (número 2). não corresponde à realidade. Ad- - página 408, dados do ex. 92: a
e) Se o saque fosse disparado na mitindo que, ao receber um saque, unidade das massas específicas é
horizontal, com a mesma velocida- o defensor amortece a bola numa kg/m3;
de, a bola bateria dentro ou fora distância da ordem de 25cm, surge - página 470, resposta do ex. 39,
da quadra? Justifique sua resposta nessa interação uma força de impacto item a: 100J;
(cada lado do campo tem 9,0m de média da ordem de 1 . 103 N (ou - página 471, resposta do ex. 45:
comprimento). seja, equivalente ao peso de uma 6,0 . 103 J
4. A notícia fala que “(a bola) che- massa de 100kg!). - página 473, resposta do ex. 81,
ga a Meulen com peso equivalente Luiz Alberto Guimarães item c: a unidade é J;
a aproximadamente 10 quilos”. Há (f2g@cen.g12.br) - página 478, resposta do ex. 18,
duas imprecisões nessa afirmativa: item b: a 0,25m.
a) a primeira diz respeito à unida- Seja assinante do No livro de Termologia e Óptica:
de do peso. Corrija-a. - página 54, enunciado do ex. 44:
b) a segunda é que o peso da bola 1,0 litro em vez de 10,0 litros.
não aumenta por ela estar em mo- No Banco de Questões de Me-
vimento. O que certamente o re- cânica:
pórter quis dizer é que, se defen- - página 208, questão 74: acres-
desse de manchete, o jogador centar ao enunciado: use = 3;
Meulen receberia da bola uma for- No Banco de Questões de Ter-
ça de impacto equivalente ao peso mologia e Óptica:
de uma massa de 10kg. Admitindo - página 26, questão 68: a opção
que isso seja verdade, e consideran- (a) é 108oF;
do que bola esteja a 153km/h no - página 56, questão 159, última
momento da defesa, calcule a dis- linha: ...deslocamento.
tância de amortecimento, necessá- No Banco de Questões de Ele-
ria para fazer a bola adquirir mo- tricidade e Ondas:
mentaneamente velocidade nula. - página 8, questão 20: como está,
não tem resposta. Trocar a carga
Respostas Q por Q, tanto na figura quan-
1. a) 4,9m/s; to no enunciado.
b) 1,2 . 103 J; Por enquanto é só!
aprendizado de Física. Gostaria do muito a respeito. Estamos
de intensificar o intercâmbio en- tentando primeiro compreender
tre Friburgo (e região) e Niterói, razoavelmente bem a física dos
em eventos de divulgação cien- bumerangues e depois, se pos-
tífica. Estou à disposição para sível, escrever alguns trabalhos
qualquer tipo de colaboração!... sobre esta compreensão em
Prezado Prof. Luiz Alberto,
(e-mail 2): uma linguagem simples e aces-
Como tem passado? Espero que
O Folhetim era o recurso que fal- sível a um aluno de ciclo bási-
muito bem!!! Venho solicitar o
tava aos professores para des- co de universidade. Depois,
meu cadastramento na lista de
contrair o ensino da Física. tentaremos o mesmo para alu-
assinantes que recebem o Folhe-
Aguardo o Folhetim de agos- nos do ensino médio.
tim em casa... Finalmente, na
to!!!!! Eu gostaria de saber se há mais
condição de ex-aluno e fã de tua
Um abraço, pessoas interessadas em bume-
competência, quero congratular
Angelo Bruno Andrade Fiasca rangues. Caso haja, divulgue
a ti e aos demais componentes
Nova Friburgo - RJ meu e-mail:
do “staff” do Folhetim pelo belo
*** wald@fis.puc-rio.br
trabalho que estão desenvolven-
Parabéns pelo jornal. Gostaria Obs: O que se sabe de teoria a
do.
muito de recebê-lo sempre. Um respeito (em Aerodinâmica)
Um grande abraço,
abraço a todos. ainda não é completamente
Danilo Caio Marcucci Marques
Ronaldo Domingues Marque- satisfatório. Para se ter idéia,
Instituto de Física - UFF
zinho alguns bumerangues modernos
danpos@if.uff.br
Campinho - RJ têm furos nas asas para criar
http://www.if.uff.br/~danpos
*** turbulências e produzir efeitos
Alô Luiz Alberto, Marcelo e acrobáticos.
Alô, Danilo!
Mauro, Abraços e boa sorte,
Há quanto tempo não fazemos
contato! Espero que tudo este- Aqui fala o Waldemar. Para- Waldemar Monteiro da Silva
ja bem com você. Por aqui tudo béns pelo excelente jornal Fo- Junior
bem, graças a Deus. Seu cadas- lhetim! Dr. aposentado do IF-UFF
tro está feito, e já receberá o Recebi o número 3 e gostei bas- wald@fis.puc-rio.br
Folhetim em casa. Falta apenas tante. No momento sou profes-
que você nos informe a escola sor de “Prática de Ensino de Alô Waldemar,
(ou escolas) em que trabalha, Física II” no Depto. de Física - Agradecemos os elogios e fi-
para completarmos os seus da- PUC - Rio. camos felizes em saber que
dos. Envie num próximo e-mail. Estou recomendando aos meus tanto o Folhetim quanto os
Todos aqui agradecem os elo- alunos a leitura do Folhetim e nossos livros estão sendo úteis
gios e, principalmente, a força usando o livro do Luiz Alberto na formação de novos profes-
que cada e-mail como o seu nos e Marcelo (e do Máximo e sores.
dá. Beatriz) como referência a ní- Estamos aguardando o seu ca-
Um grande abraço, vel de Ensino Médio para dis- dastramento para que possa-
Luiz e staff cussões de conteúdo. Gostaria mos lhe enviar pelos Correios
*** de saber como conseguir outros os próximos números do Folhe-
(e-mail 1): exemplares. tim, o que poderá ser feito pela
Marcelo e Luiz, Eu e o Sergio Tobias compra- Internet (http://www.cen.g12.br/
Apesar do pouco tempo de ma- mos alguns bumerangues e fi- f2g/jornal). Quanto aos núme-
gistério, sou fã dos seus traba- zemos sessões de lançamentos ros atrasados, estamos com
lhos. Cursei Física na UFF, seus (é um esporte saudável!) em um um problema: esgotaram-se
trabalhos já fazem parte do cur- campo de futebol perto de mi- os que imprimimos (mas estão
rículo!! Utilizo seus livros e ago- nha casa na Ilha do Governa- disponíveis para download no
ra pretendo usar o Folhetim como dor. Além de divertido, pois é endereço acima). Estamos pu-
estímulo à cultura científica e ao um ótimo lazer, temos discuti- blicando na íntegra a sua carta,
de modo que as pessoas inte- falar também!! Vocês teriam
ressadas no assunto Bumeran- muito o que ouvir, e os leitores
gue deverão fazer contato. do Folhetim também aproveita-
Passamos ao Tobias uma refe- riam bastante, se fosse feita
rência: um artigo sobre “boo- uma entrevista com a professo-
merang”, publicado na Revista ra Cristina Ferreira, que atual-
Brasileira de Ensino de Física mente coordena o estágio su-
(RBEF), volume 21, número 1, pervisionado no Cap-Uerj, é
“
março de 1999. Aliás, a RBEF responsável pela disciplina prá-
está na rede: http://www. sbf.if. tica de ensino de Física do cur- Sempre me surpreendeu o
usp.br/WWW_pages/Journals/ so de licenciatura, já foi direto- fato de os professores de Ciênci-
RBEF/index.htm. ra do Cap, entre outras muitas as, mais ainda que os outros, não
Dê só uma olhadinha... contribuições para o ensino em compreenderem que não se pos-
sa compreender. Poucos são
Um grande abraço, geral, e para o de Física, em
aqueles que aprofundaram a psi-
Luiz e Marcelo particular. Que tal ? cologia do erro, da ignorância e
*** Um grande abraço para vocês da irreflexão. Imaginam que o
Olá, todos, espírito começa com uma lição,
Sou aluno do Colégio Pedro II Marcos Torrecilha que sempre se pode refazer uma
- Centro. Tive a oportunidade mptorr@uol.com.br cultura negligente repetindo uma
de conhecer o Folhetim pelas Rio de Janeiro - RJ aula, que se pode fazer compre-
mãos da minha professora de ender uma demonstração repe-
português, Elaine. Achei a edi- Prezado Marcos, tindo-a ponto por ponto. Eles
não refletiram sobre o fato de
ção de Agosto/99 incrível. Só a A entrevista, já está “na agu-
que o adolescente chega na aula
matéria sobre o Fenômeno de lha”, é só uma questão de agen- de Física com conhecimentos
Mpemba já valeu para atiçar da. Que tal para o número 8 (ou- empíricos já constituídos: trata-
(ainda mais) minha curiosida- tubro/99)? Será que a professo- se, então, não de adquirir uma
de e meu interesse pela Física ra Cristina Ferreira estaria in- cultura experimental, mas de
(curso pelo qual optei na ins- teressada? Caso esteja, peça mudar de cultura experimental,
crição para o Vestibular da para ela entrar em contato de derrubar os obstáculos já
UFRJ deste ano)... conosco, afim de marcarmos amontoados pela vida cotidiana.
Thiago Pacheco Carneiro Torna-se muito difícil fazermos
data e local da entrevista.
compreender a Física em sua sur-
Colégio Pedro II - RJ Um grande abraço para você preendente simplicidade mate-
também, extensivo a todos os mática se, de início, não criticar-
Prezado Thiago, amigos do CAP-UERJ. mos e desorganizarmos o com-
O professor Alexandre Medei- Luiz, Marcelo & CIA... plexo impuro das primeiras intui-
ros - autor do artigo a que você ções, sem realizarmos a psicaná-
se refere - manda lhe dizer que lise dos erros iniciais.
“conseguir incentivar um garo- Assim, toda cultura científica
Se você tem alguma idéia, algo deve começar por uma catarse
to a estudar Física me deixa, que deu certo em sala, que mo- intelectual e afetiva. Resta, em
mesmo, ainda mais recompen- tivou os alunos, mande para seguida, a tarefa mais difícil:
sado”. nós. Teremos o maior prazer em colocar a cultura científica em
Um grande abraço, divulgar para os outros profes- estado de mobilização perma-
Luiz e Marcelo sores. Você pode enviar a cola- nente, substituir o saber fecha-
*** boração, de preferência, em ar- do e estático por um conheci-
Prezado Marcelo, quivo .doc, na fonte Times New mento aberto e dinâmico, diale-
... No número 5 do Folhetim, saiu
uma entrevista muito bacana
Roman, corpo 12. Endereços:
Virtual: f2g@cen.g12.br
“
tizar todas as variáveis experi-
mentais, enfim, fornecer à razão
sobre o curso de licenciatura razões para evoluir.
Postal: Rua Macaé, 12 - Pé Peque-
em Física da UFF. Agora nós, no Santa Rosa - Niterói - RJ adaptado de
da UERJ, e do CAP, queremos Cep: 24240-080 Gaston Bachelard
rios projetos. Pouco tempo depois, trabalho que desenvolvo são rea-
graças a tais projetos, fui indica- lizados no Centro Educacional de
do para trabalhar no Centro Edu- Niterói, onde apresento, atualmen-
cacional de Niterói, uma Escola te, os Cursos de Termologia e Óp-
que se ajustou perfeitamente ao tica às primeiras séries do Ensino
meu perfil. Médio, em dois níveis diferentes:
Os projetos que desenvolvo es- curso básico (3 aulas semanais),
Com a palavra, o professor tão centrados na filosofia de “edu- no qual todos os alunos partici-
car” na qual acredito, que a Pro- pam; e aprofundamento (2 aulas
fessora Myrthes, ex-diretora do semanais), somente para quem ele-
Minha intenção aqui, como di- CEN, uma das educadoras mais ge a Física como disciplina fun-
ria Luiz Alberto, não é ensinar o brilhantes que tive o privilégio de damental à sua formação. Um dos
padre a rezar missa. Na verdade, conhecer, expressava com bastan- projetos é desenvolvido com todos
apresentarei apenas algumas con- te propriedade em palavras. Nesta os alunos no curso básico.
clusões sobre o trabalho que de- filosofia o aluno não é somente o Objetivos:
senvolvo há alguns anos, que cer- alvo do processo, mas também, · Incentivar o aluno à busca indi-
tamente é pouco tempo quando muitas vezes, o agente: com suas vidual do conhecimento, sendo o
comparado aos anos de experiên- habilidades, potencial criativo e professor apenas um orientador de
cias de muitos dos leitores. sua realidade peculiar. O profes- estudos;
Iniciei minha caminhada há sor, neste contexto, funciona como · Explorar as habilidades indivi-
cerca de 17 anos, no ensino fun- um orientador que, com suas ex- duais, respeitando as limitações
damental (antigo 1o grau), dando periências, oferece ao aluno o características de cada aluno;
aulas de Ciências e Matemática. ambiente adequado ao seu cresci- · Ampliar o espaço físico “sala de
Comecei a lecionar Física somen- mento. Esta é a palavra chave: aula”, permitindo aos grupos a re-
te 4 anos depois. Eu já “ensina- “crescer”. O processo de cresci- alização das atividades em outros
va” Física há 2 anos, quando um mento é interno, mas obviamente ambientes compatíveis com a pro-
aluno, durante uma aula, lança- o meio externo pode acelerar ou posta de trabalho do grupo;
me aquela velha questão: “Profes- retardar, pode dar ao aluno segu- · Diversificar o processo de avali-
sor, para que eu preciso saber tudo rança ou torná-lo inseguro, pode ação, oferecendo ao aluno a pos-
isso?” Eu nunca, como professor, dar a ele uma grande sensação de sibilidade de escolha da forma
havia me questionado acerca da satisfação ou traumatizá-lo, en- como ele quer mostrar o conheci-
“utilidade” de todo aquele conhe- fim, pode influenciar positiva- mento que adquiriu: seminário
cimento. Lembro-me perfeitamen- mente ou negativamente. Nossa (ao vivo ou filmado), experimen-
te do quão limitado e impotente postura, atitudes e estratégias têm tal (ao vivo ou filmado), apresen-
me senti. Limitado por não ter um peso muito grande na cons- tação explorando os conhecimen-
uma resposta lógica e coerente trução deste ambiente adequado. tos em informática, painel, dinâ-
com a realidade de meu aluno. Eu, como professor, jamais tiro micas, avaliação formal escrita,
Impotente por não poder (naque- dele o privilégio e o prazer de rea- ou qualquer outra forma de apre-
la época) fazer nada para mudar, lizar suas descobertas. Embora, de sentação coerente com a proposta
já que percebi a pouca utilidade início, a maioria de meus alunos do projeto.
de todo o conteúdo apresentado, reaja. Mas isso é perfeitamente Características gerais:
considerando a realidade daque- compreensível, nós físicos sabemos · Trabalho em grupo por afinidade
les alunos. Como não dependia da que o estado mais natural e “agra- “profissional” (baseando-se nas pers-
educação para sobreviver, deixei as dável” é o estado de mais baixa pectivas futuras individuais);
salas de aula. Recusei-me a parti- energia. Concretamente, em mi- · A fonte de consulta básica é o
cipar de um processo que, em mui- nha opinião, tirar do aluno o pri- próprio livro texto;
tos pontos, eu não conseguia en- vilégio e o prazer de realizar suas · O desenvolvimento se dá ao lon-
tender; e que em muitos outros descobertas, significa que jamais go de um bimestre;
pontos eu não concordava. Fiquei resolvo um problema sem que · Cada aluno deve apresentar seu
fora das salas de aula por 2 anos meu aluno tenha, antes, tentado resumo individual do conteúdo
(neste período terminei a Licenci- resolvê-lo; jamais apresento recei- desenvolvido (exercícios também),
atura em Física e iniciei o Mes- tas para resolver problemas sem além do resumo do grupo;
trado). Durante este período refleti que antes eles tenham descoberto · Cada trabalho é apresentado para
sobre o assunto e concluí que me seus próprios métodos, ou melhor, todos os alunos, de forma que cada
mantendo fora do processo eu es- caminhos; quase nunca apresen- um tem a oportunidade de ver o
tava perdendo a oportunidade de to a aula expositiva sem que meu ponto de vista dos diversos grupos;
contribuir, mesmo que de forma aluno tenha lido sobre o assunto, Critérios de avaliação:
singela, para as necessárias trans- sempre exijo o resumo e exercíci- - Conteúdo;
formações do processo ensino/ os relativos ao conteúdo apresen- - Criatividade;
aprendizagem. Reiniciei em uma tado, procuro não sobrecarregá-los - Organização do grupo no de-
escola pública de ensino médio com listas imensas e inócuas de senvolvimento do trabalho (atitu-
profissionalizante, onde tive ple- exercícios, ... . des e hábitos).
na liberdade para desenvolver vá- Dois bons exemplos do tipo de Está disponibilizado no Folhe-
tim virtual o trabalho desenvol- o Marcelo, ele me perguntou: Você
vido por um dos grupos, que op- conhece o Luiz? Então, eu criei o pro-
tou por usar a informática como
forma de apresentação de suas
fessor maluco inspirado no Luiz sem
conclusões. conhecê-lo. Foi uma tremenda coin-
O outro projeto é desenvolvido cidência! Uma coisa meio etérea!
somente com o grupo que faz o Folhetim: Conscientemente, o
aprofundamento. Henfil tem alguma influência no
Objetivos: O double de teu trabalho?
· Explorar temas fora do conteú-
do programático que estimulam desenhista e M. Pamplona: Eu adoro quadri-
uma reflexão mais elaborada e o capitão-de- nhos. Eu li muitas histórias de perso-
desenvolvimento de um método de corveta nagens criadas pelo Henfil. Mas, eu
estudo; Marcelo nunca me baseei em fulano ou
· Desenvolver as habilidades de in- beltrano para criar. Pode ser que
terpretação e expressão de idéias, Pamplona
muitas vezes sobre questões ainda é a bola da eu tenha assimilado alguma coisa
em aberto; vez. Num bate-papo light, de um desenhista ou outro, de tanto
Características gerais: movido a cerveja e descontra- ler. Um cara que eu admiro muito é
· Trabalho em grupo; o Ziraldo. Eu gostava muito do
· Fontes de pesquisa diversificada; ção, ele falou do encontro
Jeremias, O Bom. Tinha também o
eles recebem apenas textos básico bem sucedido com o Marcelo Flicts. Ganhei esse livro, foi
sobre o tema proposto; e o Luiz. Aos 36 anos, o ilus-
· São apresentadas palestras sobre um presente especial.
o tema pelo professor da turma ou
trador dos livros da coleção Minhas irmãs eram pe-
convidado; “Física para o 2o Grau” é um quenas e acabaram re-
· Está prevista uma visita a um cen- admirador do Ziraldo e um cortando o livro
tro de estudos, universidades etc; bicho-preguiça inveterado: todo. Do Henfil
· O desenvolvimento se dá ao lon-
go de um semestre; “sou tão preguiçoso que te- eu também gos-
· O trabalho resultará em uma nho preguiça até de melho- to muito, por causa do traço firme
monografia; rar da preguiça”. Veja o que dele. Gosto do Uderzo, do Asterix,
· A conclusão se dá através de um o criador do Mestre Maluco um estilo mais elaborado.
debate entre os grupos. Folhetim: Explica pra quem não
Os temas desenvolvidos são “A e do Discípulo conta nesta
Origem do Universo”, no primei- entrevista. sabe: você é um desenhista nas
ro semestre, e “Luz: partícula ou horas certas e militar nas horas
onda?”, no segundo semestre. Folhetim: As ilustrações do Mes- vagas ou vice-versa?
Encontra-se disponível no Fo- tre e do Discípulo, na coleção “Fí- M. Pamplona: Eu sou desenhista em
lhetim Virtual uma das mono- sica par a o 2o Grau”, lembram todas as horas. Eu desenho o tempo
grafias sobre o tema “A Origem muito os Fradinhos do Henfil. todo. Se você olhar a minha agenda
do Universo” (desenvolvido no pri- Qualquer semelhança é mera co-
meiro semestre de 1999) e outra na Marinha, é puro desenho. Tem
monografia sobre “A natureza da incidência ou você acha o Luiz um gente que tem o “tique” de batucar a
luz” (desenvolvido no segundo se- santo e o Marcelo um sacana? mesa, o meu é de desenhar. Na Ma-
mestre de 1998, visto que estamos M. Pamplona: (risos...) É bastante rinha eu sou capitão-de-corveta. Lá
em pleno desenvolvimento do coincidência, embora eu conheça os eu trabalho com máquinas. A car-
tema com a turma de 1999). Fradinhos do Henfil. Minha avó é fã reira naval é muito
Em outras escolas por onde dele e guarda inúmeras publicações.
passei, nem sempre obtive o suces- abrangente, você
so com projetos desta natureza, Eu nunca associei os Fradinhos com não faz uma coisa
que sempre tenho obtido, tanto no o Marcelo e o Luiz. Quando o sempre. Ora
Centro Educacional de Niterói, Marcelo me pediu ilustrações você está
como na Escola Técnica Estadual para o livro, eu nem conhe- num navio,
Henrique Lage. Embora as reali-
dades e objetivos das duas escolas
cia o Luiz. A primeira idéia ora em ou-
sejam distintos, uma coisa há de que pintou na minha ca- tra função.
comum às duas: “a liberdade que beça foi criar dois persona- Atualmen-
é dada ao professor de desenvolver gens: um cara que pergunta te, eu sou as-
uma educação voltada ao aluno, as coisas e outro cara, que explica. sistente do almirante, é como se eu
respeitando suas peculiaridades e de-
senvolvendo suas habilidades”. A princípio, seria um professor de fosse um secretário executivo. Ano
João Monteiro de Figueiredo Neto Física meio maluco e um monitor. que vem eu vou para outro lugar. No
monteiro@cen.g12.br Quando eu mostrei os desenhos para meio do ano devo ir para um re-
bocador, trabalhar num navio de M. Pamplona: Tem um desenho vetor encostando no objeto, como
socorro. Já estive em São Luis, no que eu gosto muito, na parte de Ele- se fosse uma coisa empurrando.
Maranhão, num navio balisador, tricidade. É um desenho de entra- Não, não é. É uma coisa puxando!
que toma conta dos sinais para ori- da de capítulo. O fusquinha engui- O desenho correto é fundamental pro
entar navios. Já fui buscar um na- ça, o Marcelo diz: Deixa comigo! cara entender. Quando meus cole-
vio na Inglaterra e passei um ano Sai do carro, mexe no lugar erra- gas não entendiam eu fazia o dese-
dando aulas sobre esse navio. do, e o fusquinha dá um chabu. No nho do meu jeito. Aí, neguinho en-
Folhetim: Como o desenho sur- final, é o fusquinha que sacaneia o tendia! A oportunidade de ilustrar
giu na tua vida? Mestre e o Discípulo. o livro do Marcelo e do Luiz foi
Marcelo: Aproveita e fala so- Folhetim: Explica a história de ótima. Eu faço do meu jeito e eles
bre a influência do teu pai nes- que você se tornou ilustrador do acham uma maravilha. Eles me de-
sa transa. livro por causa do estado “ma- ram carta branca para criar e isso
M. Pamplona: Eu desenho desde cambúzio” do Marcelo. motiva muito.
pivete. Nas aulas de português, por M. Pamplona: É. Nós estávamos Folhetim: O livro do Luiz e do
exemplo, eu desenhava toda a gra- num churrasco. Eu já conhecia o Marcelo foi o teu primeiro tra-
mática. Nunca gostei muito dessa Marcelo dos tempos do Colégio balho na área da educação?
matéria. Meu pai - Carlos Fernan- Abel, quando ele era meu monitor M. Pamplona: Foi. No meu tempo
des Martins Pamplona - desenha de Física. Eu olhei pro Marcelo e de estudante eu só desenhava de
muito bem. O estilo dele é diferen- ele estava amuado, diferente do que sacanagem. Desenhava cartazes para
te, mais técnico. No quadro negro ele é. Fui perguntar o que estava o dono do bar do colégio e para os
ninguém desenha melhor do que acontecendo. O problema é que o eventos do diretório. Além, é claro,
ele. Meu pai é professor de Me- livro estava sem desenhista. Aí eu de desenhar em todo o meu livro de
cânica e é da Marinha também. Fui disse: Mas eu sou desenhista! gramática! Eu tinha um professor que
aluno dele na Escola Naval. As Marcelo: Quando ele falou que era adorava divagar. Era só colocar uma
aulas do meu pai eram um show. desenhista, caiu a ficha! Eu sempre pilha nele para ele fazer discurso so-
Na primeira aula ele já começava soube que ele desenhava... Eu me bre greve. Sendo assim, eu aprovei-
desenhando um fusca no quadro lembro que o último desenho que ele tava para desenhar. Na Escola Na-
negro. fez para o lançamento do livro ficou val tem uma revista séria, anual, cha-
Folhetim: Ah! Então, o fusca pronto às 4 horas da manhã. mada A Galera. Tem uma outra cha-
que aparece na coleção “Física M. Pamplona: É bom lembrar que mada A Chalana, produzida pelos
para o 2o Grau” é inspirado no a minha mão já estava doendo! alunos. Eu e vários colegas, quando
teu pai? Assim eu comecei a desenhar para estudantes, desenhávamos para essa
M. Pamplona: É. Mas eu também o livro. Conforme o trabalho au- revista. Eram caricaturas e desenhos
gostava de desenhar fusquinhas. Eu mentava, o Marcelo ia mandando de todos os tipos criticando alunos
tinha um fusquinha vermelho. O os textos com os espaços reserva- e até professores. A gente sacra-
fusquinha acabou se transforman- dos para a ilustração. Vinha tam- mentava e divulgava as besteiras.
do num personagem do livro. De bém uma observação do Marcelo, Xerocava a Chalana e distribuía.
repente, ele tem sentimento. junto com o texto: “Se vira!” Aque- No 4o ano da Escola Naval eu fui
Marcelo: Ele tem expressões. la idéia principal do Mestre com o editor dessa revista.
monitor veio por causa do tempo Folhetim: É muito complexo
em que nós éramos do Abel. ilustrar de forma bem humorada
Folhetim: Nos livros “Física e inteligente um livro de Física
para o 2o Grau” a gente saca a para adolescentes?
uniformidade texto/ilustração. M. Pamplona: O livro é muito fá-
É um negócio muito redondo. cil de ilustrar. É aquela história das
M. Pamplona: Uma coisa que so- convergências. Eu gosto de Física,
mou a tudo isso é que eu sempre es- gosto do Marcelo e do Luiz, co-
tudei Física. Quando eu estudava ti- nheço o espírito do trabalho deles.
nha um olhar crítico sobre os dese- O texto do livro é simples e claro.
nhos que ilustravam os livros. Eu os Tem uns caras que obrigam o lei-
achava errados. ATerra atrai os cor- tor a ler várias vezes para enten-
pos. Aí o cara pega a força e bota der. No caso do Luiz e do Marce-
um vetor saindo do nada e o fim do lo o cara lê de prima e entende. Eu
começo a ler o texto deles e as idéi- dentro de latas, e logo depois fazi-
as para o desenho começam a co- am chegar enormes pássaros me-
çar. Recentemente, ilustrei um tex- tálicos cheios de alimentos e coisas
to sobre comandos para uma re- admiráveis. Os brancos afirmavam
vista da Marinha. Meu colega es- ser os fabricantes da comida e latas
e dos aviões, coisa em que nenhum
creveu o texto e meu pediu a ilus- papua acreditou.
tração. Eu adorei! É só o que eu O que os brancos tinham era uma
quero fazer! Feira de Ciências é a nossa mágica eficiente para chamar aque-
Folhetim: Quando está criando nova seção, um “encarte” do Fo- les pássaros. E logo os papuas co-
o que deixa você mais “p” da lhetim virtual. Quem irá “alimen- meçaram a fazer suas próprias pis-
vida e o que dá mais prazer? tar” a seção será o professor Luiz tas e a fabricar imitações das esta-
M. Pamplona: Eu nunca pensei Ferraz Neto, de Barretos. Com a ções de rádios dos brancos, erguen-
nisso. Acho que nada me irrita, só palavra, o professor Léo: do fios sobre antenas de bambu, fa-
me dá prazer. Quando a idéia não lando dentro das latas que imitavam
A seção Feira de Ciências se
microfones. Não dava resultado! Os
pinta, eu paro e deixo para depois. destina a professores e alunos. aviões não desciam no “aeroporto”
Sem angústia! Mais aos professores, pois depen- dos papuas? Paciência. A mágica
Mauro: Os desenhos saem de demos deles para ampliar nos não fora bem feita. E recomeçavam
uma só vez ou por etapas? seus alunos o gosto pelas ciênci- tudo de novo.
M. Pamplona: Na maioria das as. A Ciência, para o aluno, pre- E uma nova religião, o culto cargo
vezes é de prima. Eu sou é pregui- cisa ser bem focalizada, bem tra- (nome inglês para carregamento),
çoso! Às vezes eu protelo. Vou fa- tada, mimada, se me permitem o nasceu da observação da técnica ci-
zer outras coisas, jogar no compu- exagero. O aluno ainda não tem entífica por parte de quem não tem a
tador etc e tal. Por causa da pre- a precisa noção daquilo com que menor idéia do que seja a Ciência.
guiça, o Marcelo fica uma onça co- está se iniciando. É preciso alertá- O relato não nos dá motivos para
lo, cutucá-lo, instigá-lo, dar-lhe rir dos selvagens.
migo: Pô, já fez o desenho? Eu já A magia ilusão pré-científica
te entreguei os textos há 3 dias!!! o que pensar. Esse texto que pre-
parei, como introdutório à seção, de que é possível obter poder sobre
Folhetim: Por que o apelido de as coisas manipulando obscuramen-
Silicone? tem essa finalidade. A melhor ma- te forças desconhecidas floresce
M. Pamplona: Meu irmão desco- neira que encontrei para escre- ainda nas nossas sociedades indus-
briu que eu tinha um bico do peito ver isso saiu da seguinte idéia: triais. É tal o seu peso que algo de
diferente do outro. Um era maior. “vamos deixá-los sem a Ciência muito estranho se deu: a própria Ci-
Vem daí o apelido. Eu nunca me ... e ver no que resulta!”. Recomen- ência passou a ser vista como uma
do a leitura, a impressão e a distri- espécie de feitiçaria. O cientista é
grilei com o apelido e acabei incor-
buição deste texto aos jovens. Ele imaginado como um mago que ob-
porando. Muita gente também me tém seu poder de fontes obscuras e
pode ser “baixado” do site do Fo-
chama de Sili. Esse apelido é do- de uma inteligência inacessível ao
lhetim (http://www.cen.g12.br/f2g/
méstico, familiar. Só mesmo as pes- jornal). Após os textos relativos à comum dos mortais.
soas muito próximas me chamam Ciência propriamente dita começa- Façamos uma experiência: va-
de Silicone. Mas os desenhos eu remos com os projetos para as Fei- mos perguntar ao homem da rua por
assino sempre M. Pamplona. ras (que estarão disponíveis no que, quando ele aciona um interrup-
Folhetim: Quando você vai co- tor, a luz acende. Obteremos uma
endereço http://www.cen. g12.br/
laborar, efetivamente, com o vaga resposta referente a uma enti-
f2g/feira). As críticas, comentários dade mitológica chamada eletrici-
Folhetim? e sugestões, como sempre, serão
M. Pamplona: Acho que vai ser dade. Se aprofundarmos o inquéri-
bem-vindas. to, ele nos dirá que se trata de coi-
a partir deste número. Já tem
umas tiras preparadas para ilus- O Jovem Novo sas muito complicadas, que só os
cientistas (talvez ele use a palavra
trar o jornal. Selvagem engenheiros) isto é, os novos fei-
ticeiros são capazes de entender.
A respeito da Ciência, permitam- Além disso, a Ciência, para ele, só
me iniciar com uma breve relato ve- se manifesta através de uma coisa
rídico. chamada matemática mistura con-
Na II Guerra Mundial os selva- fusa de números e símbolos dotada
gens papuas, da Nova Guiné, as- de poder evocatório, como os anti-
sistiram à chegada dos brancos que gos ritos.
abriam pistas na floresta, falavam O selvagem não se espanta com
os milagres técnicos. Para quem portes rápidos, com o passar da ho- que processam milhões de dados
vive cercado de milagres e tudo é ras, atingiria os estoques alimenta- em velocidade fulminante e máqui-
mágica chuva, caça, vento, fogo res das cidades, que se esgotariam nas de educar, estudando o cérebro
ou doença , que podem importar sem ser substituídos. À noite, nas humano e os recursos naturais, pla-
algumas mágicas a mais? Daí sua cidades paralisadas, apenas o cla- nejando, prevendo, pesquisando.
indiferença pela fotografia, rádio, rão dos incêndios acidentais e a Lua Mais e mais a sociedade precisa
avião ou luz elétrica. iluminariam as multidões em luta por de cientistas e de conhecimento ci-
Nossos avós, que saíam de um restos de comida. entífico para progredir e manter-se
mundinho pacato, tradicional, onde Das montanhas de lixo sairiam os viva. Passo a passo, irreversivel-
as poucas coisas que mudavam o fantasmas abolidos do passado: pes- mente, a vida se torna mais e mais
faziam lentamente, espantavam-se te, cólera, varíola, escarlatina. E as científica.
e ainda se espantam com os contí- populações urbanas fugiriam das ci- O paradoxo de nossa época é que
nuos triunfos da era científica. dades apenas para encontrar de novo massas de homens, que sem a Ci-
Mas o homem comum con- a morte nos campos e florestas. ência estariam mortas, ignoram tudo
temporâneo voltou a uma situa- O motivo é simples: o Brasil, na da Ciência. O “novo jovem selva-
ção muito parecida com a dos sel- época da independência, tinha 4 mi- gem” passeia por entre “mágicas
vagens. lhões de habitantes, bem menos do familiares” máquinas de ver à dis-
Nascido num mundo em contínu- que tem hoje a cidade de São Pau- tância, de voar, de curar e não tem
as transformações, apesar de acre- lo. Produzindo alimento em escala a menor idéia de como funcionam.
ditar na natureza mágica da Ciên- nunca sonhada na história do mun- Entre os mais educados dos “no-
cia, nada mais lhe parece estranho. do, e diminuindo a mortalidade, a téc- vos selvagens” e há entre eles pes-
O anúncio de que homens pousa- nica científica permitiu um imenso soas altamente educadas, universitá-
ram na Lua causa muito menos en- aumento populacional. Sem a pos- rios, literatos, jornalistas, juristas, filó-
tusiasmo que a notícia sobre Santos sibilidade de produzir alimento em sofos existe mesmo a crença, mui-
Dumont erguendo vôo num apare- massa, transportá-lo rapidamente e to divulgada, de que a Ciência criou
lho mais pesado que o ar ou, num privado dos recursos da medicina, uma vida antinatural para o homem.
exemplo mais moderno, persona- esse “excedente” de população in- Mas o que é natural? Que é vol-
gens de novela falando com famili- dustrial morreria em poucos meses. tar à natureza, ao mundo de antes
ares, em outro continente, via com- Morreria mesmo muito mais que da Ciência? Um moinho de vento,
putador. esse “excedente”. uma enxada, um machado de pedra,
Os papuas fracassaram em sua Um selvagem abandonado o fogo que cozinha os alimentos nada
tentativa de usar a “Ciência” para numa ilha deserta tem mais pos- têm de naturais. São invenções hu-
fazer descer os aviões do céu. De- sibilidade de sobreviver que um manas. Em que um moinho de ven-
sistiram dela, voltando à vidinha que funcionário de banco. to é mais natural que um moinho elé-
têm levado no último meio milhão O homem da cidade científica não trico, o uso do fogo mais natural que
de anos. se assemelha a um antigo camponês o da energia atômica e o emprego
Mas suponhamos que nós tivés- egípcio ou chinês: parece-se muito da pedra lascada mais natural que o
semos de desistir do uso da Ciên- mais com uma formiga, que morre do aço?
cia. Suponhamos uma estranha am- quando desgarra de seu formigueiro. Não há caminho de volta.
nésia atacando subitamente os ci- Não podemos agora viver Nossa sociedade só pode resol-
entistas e técnicos do mundo. To- sem a Ciência. ver os problemas nascidos da apli-
dos esqueceriam o que sabem e se- Mais ainda não podemos viver cação da técnica científica desen-
riam incapazes de ler os livros cien- sem que ela progrida. A população volvendo a Ciência, aumentando o
tíficos, de repente tão misteriosos não pára de crescer e a aplicação número de técnicos, educando em
para eles quanto o são para os ho- da Ciência, que fez surgirem as massa sua população.
mens da rua. Estupefatos, olhariam imensas populações das sociedades Essa educação não se pode pro-
para seus aparelhos tornados incom- industriais, criou para elas problemas cessar apenas nas escolas. Mais e
preensíveis, tentando adivinhar para que antes não existiam: poluição da mais a divulgação científica, dedi-
que servem. água e do ar, superpopulação, no- cada aos não-profissionais da Ciên-
Em questão de horas, grande par- vas doenças, habitação, transporte, cia, ao homem da rua, aos jovens,
te da maquinaria industrial começa- educação para milhões. aos especialistas de outros ramos,
ria a agonizar e a imobilizar-se, en- Só a Ciência pode resolver os será uma atividade fundamental para
quanto seus responsáveis procura- novos problemas que ela mes- a Humanidade.
riam manipulá-la ao acaso. Em pou- ma suscitou. Nosso conselho ao jovem: parti-
cos dias, milhões de cadáveres E a Ciência tem respondido ao cipe da Ciência, não torne-se um Jo-
juncariam as ruas das cidades. O desafio, ampliando a produção dos vem Novo Selvagem.
colapso iniciado com a falta de pe- alimentos, criando novos medica- Luiz Ferraz Neto
tróleo e eletricidade e o fim dos trans- mentos, inventando computadores leo@barretos.com.br