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1-10
não uso da homeopatia (Honorato et al., 2007), de dejetos, correta preparação do úbere na
e diante dessa problemática, o objetivo do ordenha, com realização de pré e pós-dipping,
presente trabalho é apresentar o que tem sido separação de animais com mastite de maior
realizado no uso do tratamento homeopático na severidade, linha de ordenha com animais com
mastite bovina. animais sadios sendo manejados primeiro,
adequada manutenção e higienização dos
Mastite equipamentos utilizados na ordenha, manter
A mastite é um resultado comum de uma animais em pé após ordenha e alimentação
infecção da glândula mamária, geralmente de adequada para o rebanho (Pires et al., 2004).
causa bacteriana, sendo a doença de maior Zafalon et al., (2017b) ainda cita a importância
importância nos bovinos leiteiros (Wellenberg de medidas conjuntas no tratamento da mastite
et al., 2002, Herry et al., 2017) sendo subclínica em ovelhas, medidas que podem ser
classificada como clínica ou subclínica. O utilizadas também no tratamento de bovinos.
diagnóstico é realizado por meio de exame De acordo com Santana et al. (2016) o
clínico, além de exames complementares como processo inflamatório na glândula mamária
teste de tamis e Califórnia Mastite Teste desencadeado em resposta a um
(CMT) (Peixoto et al., 2009), sendo o clínico microrganismo invasor pode ser efetivo no
de fácil visualização da mastite clínica; combate à infecção, mas como esse efeito não
enquanto que o CMT proporciona diagnosticar é o suficiente para todos os casos, a medida
também a mastite subclínica. Costa et al. mais comum no controle da mastite é o
(2017) encontraram que pesquisas definem tratamento com antimicrobianos (Almeida et
como vacas sadias aquelas com contagem de al., 1999).
células somáticas (CCS) menores que 200.000
células mL-1 e vacas com mastite subclínica Uso de antimicrobianos
aquelas com CCS maiores que 200.000 células
O uso indiscriminado de antimicrobianos
mL-1.
sem o conhecimento da suscetibilidade desses
A mastite subclínica acarreta prejuízos agentes patogênicos, atualmente resulta no
econômicos significativos ao produtor, em crescimento da resistência bacteriana, o que
função da diminuição de produção, da pode ocasionar falhas no tratamento (Varshney
qualidade do leite, aumento dos custos com & Naresh, 2005, Girardini et al., 2016). O uso
tratamento e descarte de animais e do leite dos da penicilina e seus derivados, por exemplo,
animais tratados (Wellenberg et al., 2002, deve ser realizado apenas para o tratamento de
Halasa et al., 2009, Costa et al., 2017). Devido mastites causadas por bactérias gram-positivas
aos prejuízos econômicos, o uso de métodos de (Cazoto et al., 2011), informações que nem
controle contra a mastite se tornam necessários sempre estão disponíveis ao produtor e clínico.
para rebanhos que apresentem a doença
Deve-se considerar o custo benefício do
(Zafalon et al., 2017a, Zafalon et al., 2017b).
tratamento antibiótico, já que a utilização
A etiologia da mastite se apresenta como desses fármacos acarreta altos custos, além da
multifatorial, onde diversos fatores podem presença de resíduos no leite, que é um
afetar direto ou indiretamente a presença da problema de saúde pública e tecnológico em
enfermidade, tornando-se um desafio a toda a cadeia leiteira (Almeida et al., 2011). O
prevenção e tratamento nos animais afetados uso de antimicrobianos tem impacto direto na
(Wellenberg et al., 2002, Ganda et al., 2016). saúde, e aproximadamente 80% desses
Pode-se citar como fatores predisponentes da medicamentos prescritos para o uso em vacas
doença, o clima, as instalações e a cama onde de leite são usados apenas para tratar casos de
ficam os animais (pois podem agir como fontes mastite (Ganda et al., 2016).
de contaminação microbiana), o estresse
A dose de antimicrobianos normalmente
submetido ao rebanho, genética, fatores
utilizada para o tratamento de infecções é mais
nutricionais e fatores humanos relacionados
elevada que a dose necessária para inativar os
com o manejo (Pires et al., 2004, Zafalon et al.,
organismos patogênicos, o que favorece o
2017a, Zafalon et al., 2017b).
aparecimento de efeitos indesejados (Saha et
Algumas medidas preventivas da mastite al., 2007), como intoxicação animal, destruição
são a adequação do ambiente, manejo correto da microbiota natural e favorecimento de
científico (Ruegg, 2009, Doehring & Sundrum, al., 2017a, Zafalon et al., 2017b). Werner et al.
2016). O tratamento baseia-se na resposta do (2010) relatam que na medicina veterinária,
organismo contra a um estímulo externo, observa-se na maioria dos casos a preferência
produzindo reações, e sabe-se que o processo por utilização de potências ou dinamizações
de cura de um medicamento homeopático é baixas, como DH6 ou DH12. Essa preferência
diferente do convencional (chamado também pode estar relacionada com a maior presença
de alopático), e está vinculado à imunologia, do princípio ativo inicial. Sabe-se que a partir
pois pode causar imunização indireta e da 12CH não se encontram moléculas do
inespecífica (Almeida et al., 1999, Almeida et princípio ativo que foi utilizado para preparar
al., 2011, Carneiro et al., 2011). o medicamento (Costa et al., 2009, ANVISA,
2010), embora o medicamento continue sendo
Na introdução da homeopatia como
capaz de causar reações no organismo,
terapêutica, é importante que o produtor
inclusive obtendo a melhora das doenças como
conheça o máximo possível sobre a mesma,
a mastite. No decorrer do tratamento, os
pois uma baixa adesão pode residir no fato de
sintomas relevantes podem mudar e, em
não se conhecer as técnicas utilizadas, os
seguida, correlacionados com os sintomas de
objetivos e resultados pretendidos (Pires et al.,
outro remédio (Hektoen et al., 2004, Werner et
2004, Honorato et al., 2007). Com maior
al., 2010).
conhecimento sobre a ciência, a homeopatia
ganha mais adeptos a essa abordagem dos Os medicamentos de origem vegetal são
cuidados de saúde animal (Searcy et al., 1995). geralmente os mais abundantes na prática
homeopática, podendo ser utilizada a planta
Medicamentos utilizados inteira, suas partes ou seus produtos extrativos
O princípio ativo do medicamento (ANVISA, 2010). Os medicamentos utilizados
homeopático não é utilizado em sua forma de origem vegetal que foram encontrados em
natural, mas sim dinamizados (diluições trabalhos para o tratamento de mastite foram
seguidas de triturações para medicamentos Aconitum napellus (na potência 6CH), Arnica
insolúveis e no caso de medicamentos solúveis, montana (30CH) Asa foetida (6DH), Atropa
sucussões, ou seja, agitação vigorosa), com a belladona (30DH, 12CH e 30CH), Bryonia
finalidade de liberar a energia do alba (30DH e 30CH), Calendula officinalis
medicamento, que é particular a cada princípio (30DH), Conium maculatum (30CH e 200CH)
ativo e diferentes dinamizações ou potências Ipecacuanha (30CH), Phytolacca decandra
(Costa et al., 2009, ANVISA, 2010). (12DH, 30DH, 6CH, 12CH, 30CH e 200CH),
Pulsatilla nigricans (6DH, 30DH, 6CH e
Os medicamentos devem apresentar em seu 30CH), Urtica urens (30DH e 30CH) (Searcy
rótulo, códigos para informar a dinamização e et al., 1995, Varshney & Naresh, 2005, Santos
a técnica ou metodologia utilizada em sua & Griebeler, 2006, Martins et al., 2007, Klocke
preparação. O número indica o número de et al., 2010, Werner et al., 2010, Leal & Costa,
diluições que foram realizadas, e a letra indica 2013, Almeida et al., 2015, Zafalon et al.,
a escala dessa diluição, onde X, D ou DH são 2017a, Zafalon et al., 2017b). As indicações
para diluições 1/10 e C ou CH são para dos medicamentos citados podem ser
diluições 1/100, dentre outras escalas encontradas na literatura, Aconitum napellus,
existentes (ANVISA, 2010). Por exemplo, um por exemplo, é indicado para febres e estados
medicamento 6DH foi diluído seis vezes na inflamatórios agudos, assim como a Calendula
escala decimal, enquanto que um medicamento officinalis, que atua como anti-inflamatório e
12CH foi diluído doze vezes na escala Urtica urens, medicamento utilizado para o
centesimal. aumento da produção de leite (ANVISA,
Duas formas de uso de medicamentos são 2010).
observadas na prática homeopática veterinária, Já para os medicamentos de origem animal,
utilizando apenas um princípio ativo (chamado podem ser oriundos do animal inteiro (como
também de homeopatia individual ou clássica) abelhas, formigas), suas partes e produtos
ou medicamentos contendo dois ou mais extrativos, patológicos ou não (ANVISA,
princípios ativos (chamado de homeopatia 2010). Para esta classe foram encontrados Apis
complexa ou populacional) (Hektoen et al., mellifica (não foi descrita a dinamização
2004, Doehring & Sundrum, 2016, Zafalon et
2004, Varshney & Naresh, 2005, Doehring & grupos controle, resultados que foram
Sundrum, 2016). observados também por Almeida et al. (2005).
Doehring & Sundrum (2016) ainda observaram
Resultados esperados com o uso da que as taxas de cura dos medicamentos
homeopatia homeopáticos variavam entre 5 e 80%;
Compreender os fatores que contribuem enquanto que as taxas de cura com o tratamento
para a adoção ou rejeição da homeopatia, convencional antimicrobiano tinha resultados
especialmente no período de transição de variáveis entre 17 e 95%. Almeida et al. (2011)
sistemas, pode colaborar com o sucesso de chegaram ao resultado de ausência de
programas que visam à difusão dessa isolamento microbiano de Staphylococcus
terapêutica (Honorato et al., 2007). A exclusão aureus em 60% dos tetos tratados; enquanto
da mastite causada por agentes patogénicos que a ausência no grupo controle foi de apenas
associados ao úbere no rebanho leiteiro em 32,6%. Em outro trabalho, Almeida et al.
combinação com um procedimento melhorado (2005) verificaram cura microbiológica em
de diagnóstico é importante quando se usa a 72,7% dos tetos tratados. Kiarazm et al. (2011)
estratégia de tratamento homeopático (Werner concluíram que o uso de medicamentos
et al., 2010), possibilitando melhores homeopáticos reduziu o isolamento de
resultados. bactérias no leite e também ocasionaram uma
diminuição na CCS, resultados que
A literatura descreve resultados variáveis corroboram para a diminuição da mastite.
em relação ao tratamento de bovinos com Resultados de diminuição na contagem de
mastites usando diferentes preparações, vias e células somáticas também foram encontrados
dosagens. A comparação de resultados do por Barzon et al. (2008) em 82% dos animais
tratamento com medicamentos homeopáticos tratados. Martins et al. (2007) constataram em
entre produtos convencionais tem a seu experimento que houve redução na mastite
problemática de que a metodologia adotada subclínica de 44,5% para 3,9% no rebanho,
pode ter sido diferente (Almeida et al., 2005). sendo que o uso do medicamento homeopático
De acordo com Day (1986), a comparação dos foi a única prática de manejo alterada na
resultados para os tratamentos homeopáticos propriedade. Os resultados relatados
deve ser realizada de maneira sistemática, pois demonstram que há uma resposta do organismo
a falta de dados ou mesmo a falta de clareza na quando se administra um medicamento
descrição da metodologia e critérios adotados homeopático.
podem limitar as conclusões. Em parte, a
dificuldade dos pesquisadores é que os mesmos De acordo com Almeida et al. (1999),
utilizam os procedimentos para testes de mesmo diante de bons resultados, é necessária
medicamentos convencionais, que pode não ser a otimização do tratamento, pois pela
o melhor método para o entendimento da diversidade etiológica e alta prevalência da
farmacologia homeopática (Thomaz et al., doença, tem-se o pressuposto de que se
2008). Os parâmetros para cura variam e utilizado em todo o rebanho, seja com a
baseiam-se geralmente na ausência de finalidade de cura ou prevenção, os resultados
isolamentos de microrganismos no leite, sejam ainda melhores. Mesmo com evidências
respostas de CMT e CCS em mastites clínicas de trabalhos com resultados positivos com o
e subclínicas (Werner et al., 2010, Almeida et tratamento homeopático, as informações ainda
al., 2011). No experimento realizado por são limitadas para justificar uma conclusão
Martins et al. (2007) observou-se redução na definitiva (Pires et al., 2004), sendo necessário
frequência de mastite subclínica desde o o desenvolvimento de outros experimentos por
primeiro mês de tratamento, sendo que a períodos diferentes, como em duas estações
mesma continuou em declínio até o período de diferentes do ano, número maior de animais,
90 dias, que foi o período de experimentação, manejos diferenciados e dosagens divergentes
demonstrando a possibilidade da utilização da para observar se os resultados são eficazes ou
homeopatia com resultados rápidos sem perda não (Leal & Costa, 2013), levando ainda em
na produção leiteira. Doehring & Sundrum consideração os diferentes medicamentos que
(2016) concluíram em uma revisão sobre o podem ser utilizados.
assunto, que a terapêutica homeopática é Não foram encontrados exclusivamente
efetiva contra a mastite, quando comparada à trabalhos com bons resultados do tratamento
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Thomaz, L. W., Mesquita, A. J., Macedo, E. F., distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly
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