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Trabalho Final - Camila Gaido Grizzo
Trabalho Final - Camila Gaido Grizzo
(NOTURNO)
ARARAQUARA
2022
A produção teórica desenvolvida neste livro é orientada pela concepção de mundo do
materialismo histórico-dialético, está vinculada à pedagogia histórico-crítica e se encontra
dentro do campo, do que Dermeval Saviani denominou, das teorias pedagógicas contra
hegemônicas. Sua perspectiva compreende que a sociedade capitalista está estruturada sobre
relações de dominação e exploração, e por isso, preconiza a necessidade de superação desta
sociedade.
Pertencente ao conjunto das teorias críticas em pedagogia, têm em comum com elas o
objetivo de desfetichização das formas pelas quais a educação reproduz as relações de
dominação da sociedade, pois entende isso como fundamental para a própria luta contra essas
relações (DUARTE, 2013). De acordo com Saviani, a contribuição específica da educação
escolar para a luta pelo socialismo, é através da socialização do conhecimento científico,
artístico e filosófico em suas formas mais desenvolvidas, superando os limites do cotidiano
(DUARTE, 2001).
O trabalho elaborado por Newton Duarte nesta obra, tem como objetivo contribuir
para uma teoria histórico-crítica da formação do indivíduo e demarcar um posicionamento
político e ético sobre as máximas possibilidades de desenvolvimento dos indivíduos, da vida
universal e livre. O autor elabora a exposição e desenvolvimento de sua argumentação teórica
em um modelo espiral, isto é, inicia a discussão apresentando amplamente os itens e
categorias que são utilizados em sua reflexão, em sua “primeira volta”, e, ao longo do livro
realiza uma retomada das categorias de maneira aprofundada elaborando as conexões entre os
itens e os qualificando com amplo suporte teórico. Para citar alguns nomes, apoia-se em
autores como Antonio Gramsci, Alexei Leontiev, Alexander Luria, Lev Vygotsky, Karl Marx,
Friedrich Engels, György Lukács, Agnes Heller e György Márkus para construir sua
contribuição à pedagogia histórico-crítica na elaboração de uma teoria da formação do
indivíduo.
Para Duarte (2013), a pedagogia histórico-crítica não pode se furtar de elaborar sua
concepção, de forma coerente e sistemática, sobre a formação da individualidade humana
como parte constitutiva de seu corpo teórico, pois, do contrário, não logrará êxito na
superação de dicotomias que estão enraizadas no senso comum pedagógico e que confundem
a recepção dos fundamentos e teses defendidas por esta corrente; dicotomias que se
estabelecem entre o social e o individual, histórico e psicológico, objetivo e subjetivo,
singular e universal. Duarte aponta que é necessário conhecer o indivíduo-aluno em sua
concretude, isto é, não apenas identificar o que o indivíduo é, mas, o que ele poder vir a ser.
Dessa forma, o desenvolvimento do indivíduo como síntese de inúmeras relações sociais,
precisa ser concebido no interior de outro processo, o do desenvolvimento histórico do ser
humano como um ser social.
O autor constrói, ao longo dos quatro capítulos de seu livro, a compreensão deste
processo de desenvolvimento histórico do ser humano como um ser social através de
categorias básicas para a reflexão sobre o processo de formação do indivíduo, sendo elas: 1)
objetivação e apropriação, ou o processo de autoprodução do ser humano ao longo da
história; 2) humanização e alienação, a expressão do caráter contraditório em que a dinâmica
de objetivação e apropriação têm se apresentado no processo histórico marcado pela luta de
classes; 3) gênero humano, categoria que sintetiza o resultado da história social humana e da
atividade objetivante dos seres humanos; e, 4) individualidade para si, categoria que
expressa, dentro do processo de formação do indivíduo, a dinâmica de desenvolvimento que
tem início na síntese espontânea das relações sociais (individualidade em si) sentido à síntese
consciente das relações sociais (a individualidade para si).
No primeiro capítulo, intitulado A dialética entre objetivação e apropriação, o autor
demonstra como a dinâmica da autoprodução do ser humano se realiza através da atividade
vital humana, isto é, o trabalho.
A atividade vital é antes de tudo aquela que reproduz a vida, é aquela que toda
espécie animal (e também o gênero humano) precisa realizar para existir e para
reproduzir a si própria como espécie. A atividade vital é base a partir da qual cada
membro de uma espécie reproduz a si próprio como ser singular e, em consequência,
reproduz a própria espécie. No caso do ser humano, a mera sobrevivência física dos
indivíduos e sua reprodução biológica por meio do nascimento de seres humanos
asseguram a continuidade da espécie biológica, mas não asseguram a reprodução do
gênero humano, com suas características historicamente constituídas. O trabalho,
como atividade vital humana, não é apenas uma atividade que assegura a
sobrevivência do indivíduo que a realiza e de outros imediatamente próximos a ele,
mas uma atividade que assegura a existência da sociedade. (DUARTE, 2013, p. 23)
Cabe ressaltar que o desenvolvimento biológico da criança e sua formação como ser
social são processos que se influenciam reciprocamente. Para o autor, pode-se compreender a
dialética da apropriação e objetivação como um processo educativo e formativo do indivíduo
rumo à sua construção como membro do gênero humano. As apropriações se realizam sempre
de forma mediada com outros indivíduos, e, no caso da educação escolar, como âmbito de
apropriação das objetivações mais desenvolvidas, o papel dos professores é de possibilitar a
apropriação destas objetivações através da mediação.
No capítulo dois, Humanização e alienação, pautando-se nas categorias trabalho,
consciência, socialidade, universalidade e liberdade, utilizadas por György Márkus (1978),
o autor desenvolve a ideia de que a formação do gênero humano vem se efetivando ao longo
da história com possibilidades de que a atividade objetivante se torne cada vez mais livre e
universal, ainda que, estas possibilidades tenham sido criadas tendo como contrapartida a
alienação no contexto da luta de classes. Este capítulo subdivide-se em: O que é o ser
humano?; O trabalho humanizador e alienador; O desenvolvimento histórico contraditório
da socialidade humana; A atividade consciente e sua alienação e Universalidade e liberdade.
De acordo com Marx (1978), a luta de classes corresponde a “pré-história da
sociedade humana”. O autor explica que as possibilidades de universalização das objetivações
realizadas neste contexto são limitadas pela divisão social do trabalho e da propriedade
privada. Assim, ainda que se tenha iniciado o processo histórico da humanidade e tenha se
elevado o nível das objetivações mais desenvolvidas isto se dá às custas da alienação, uma
vez que é uma parcela restrita da população que tem as condições de se apropriar destas
objetivações. A alienação é o afastamento entre as possibilidades geradas pelo progresso
histórico da humanidade e o processo de desenvolvimento em igual grau de cada indivíduo.
De tal forma, segundo Markus (1974, p. 41-42) que os aspectos formativos e criativos da
atividade humana só se manifestam no contexto mais amplo, da sociedade como um todo e
não estão presentes nos efeitos da atividade individual sobre o indivíduo que o realiza. A
alienação é a separação e oposição entre a essência humana e a existência humana, é um
fenômeno social objetivo e é o processo em que as relações sociais impedem ou limitam a
concretização das máximas possibilidades da vida humana em cada indivíduo.
No capitalismo os seres humanos estão alienados em relação as forças socialmente
existentes pois as relações sociais são colocadas como naturais e não como produtos da
atividade social, não como algo que pode ser transformado por seus criadores, os próprios
seres humanos; esta forma de compreensão sobre as relações sociais, de acordo com Marx e
Engels (2007, p. 77) tem origem na divisão social do trabalho e na propriedade privada. Desta
forma, a alienação na vida dos indivíduos se encontra no fato de que os seres humanos não
dominam coletivamente as relações sociais e são subordinados a elas como se fossem poderes
estranhos e superiores e não fruto de suas práticas sociais.
No item O que é o ser humano?, Duarte inicia o aprofundamento sobre a reflexão
acerca da especificidade humana. Segundo o autor, a atividade vital é o ponto dinâmico de
distinção entre os seres humanos em relação aos demais animais; dinâmico porque surge para
suprir as necessidades humanas e ao supri-las desencadeia novas necessidades, dando então o
processo de início da história social. Para a perspectiva marxista, não é suficiente assinalar o
que constitui a essência humana apenas comparando os traços comuns entre todos os seres
humanos em contraposição aos traços comuns a todos os membros de uma ou mais espécie
animal; tampouco é possível elencar um conjunto de características encontradas na maioria
dos seres humanos em determinado momento histórico como aqueles que sejam referentes a
essência humana, pois, a alienação impede as máximas possibilidades de vida universal e livre
de se efetivarem para toda a humanidade. Baseado em Markus (1978, p. 49), Duarte aponto
para uma observação importante de que a alienação dos indivíduos, em relação as máximas
possibilidades de vida humana, tem sido, na pré-história da sociedade humana uma das
condições do desenvolvimento do gênero humano.
Alienação, nesse contexto, não é meramente uma precondição negativa para o
desenvolvimento da essência humana (tal como o “vale de lágrimas” terreno é para a
salvação), mas – numa forma contraditória – também seu período formativo
positivo. Apenas por meio da era da alienação e seus mecanismos, são dissolvidas as
comunidades locais e restritas, “naturalmente dadas”, e só assim se desenvolve uma
esfera cada vez mais ampla de relações humanas, a qual finalmente abraça toda a
humanidade (o mercado mundial). Esse processo, simultaneamente, apresenta-se
como a transformação de todas as determinações dos indivíduos (características
pertencentes à sua posição social etc.) – as quais, apesar de sociais em si mesmas,
em estágios iniciais do desenvolvimento apareceram a eles como traços naturais
imutáveis, inseparáveis de sua personalidade concreta – em algo separado deles e
externo a eles, portanto, determinações sociais que eles podem por si mesmos alterar
por meio de sua própria atividade. Esse é indubitavelmente um processo de
despersonalização e esvaziamento, mas somente ele cria as precondições subjetivas
para o ser humano dominar suas próprias relações sociais e determinações.
(MARKUS, 1978, p. 49, apud. DUARTE, 2013, p. 78, grifo do autor).
Duarte destaca que a posição de Marx é discordante da de Feuerbach e, para isso, afirma
que a essência humana é “o conjunto das relações sociais”; essa essência real do ser humano
deve ser submetida a uma análise crítica, isto é, uma análise materialista, histórica e dialética.
Apoiando-se na discussão levantada por Heller (1984, pp. 26-33 apud. DUARTE, 2013, p.
138), Duarte aponta que na concepção kantiana, por sua vez, a relação entre individuo e a
humanidade não há lugar para a individualidade. A singularidade é anulada pela
universalidade.
Kant opera com dois conceitos de espécie humana: o homo noumenon (a ideia de
humanidade, a humanidade como ela deveria ser) e o homo fenomenon (o conceito
de humanidade existente, com as possibilidades inerentes à existência da
humanidade). Esses dois conceitos de espécie são os elementos constitutivos
fundamentais tanto de sua teoria do conhecimento como de sua ética, sua filosofia
da história e sua antropologia. (HELLER, 1984, p. 26. apud. DUARTE, 2013, p.
139)
Duarte salienta que a homogeneização que ocorre na educação escolar situa-se muitas
vezes em um terreno intermediário entre o imediatismo pragmático da vida cotidiana e as
formas mais ricas e desenvolvidas de objetivação humana.
No capítulo quatro, A formação da individualidade livre e universal, Duarte concatena
o percurso total da discussão realizada ao longo do livro dando ênfase à formação da
individualidade que é tida como horizonte para os seres humanos na perspectiva histórico-
crítica.
O autor retoma as categorias analisadas – objetivação, apropriação, humanização,
alienação e gênero humano – e se propõe a dar ênfase na categoria individualidade humana.
No item A individualidade animal e humana, Duarte estabelece que todo ser humano é único,
singular, irrepetível. Ainda que inserido nas relações de máxima alienação, não deixa de ser
indivíduo, mesmo se sua individualidade esteja extremamente limitada em seu
desenvolvimento.
Utilizando-se da contribuição de Luria, explica como os vertebrados superiores
demonstraram aquilo que chamou de individualidade biológica. Alexander Luria observou e
analisou o “comportamento individualmente variável dos vertebrados”, demonstrando que
esses animais, decorrente do seu sistema nervoso desenvolvido, podem apresentar complexas
variações comportamentais, assegurando-lhes grande capacidade de adaptação a condições
ambientais variáveis. Os vertebrados superiores demonstraram que na interação adaptativa
com o meio ambiente, esses animais formam uma individualidade, um conjunto singular de
comportamentos que lhes garantem a sobrevivência em condições ambientais específicas. O
animal forma essa singularidade comportamental a partir dos mecanismos inatos que lhes são
herdades pela espécie.
Esta individualidade biológica não é necessariamente o que diferencia a individualidade
humana da animal. As características específicas da individualidade humana surgem com a
dialética da objetivação e apropriação das características humanas historicamente
desenvolvidas. A relação do individuo com o gênero humano, como visto anteriormente, não
é transmitido através da espécie, por estar objetivado externamente ao indivíduo (sendo
ininterrupta e interminavelmente construído exteriormente); os seres humanos formarão sua
individualidade pela relação com o ser genérico objetivado no processo dinâmico de
objetivação e apropriação, que por sua vez não são fases, mas dois processos que constituem
uma unidade. Este processo, destaca-se, ocorre sempre de maneira parcial em comparação ao
conjunto das objetivações genéricas e o ritmo das transformações do gênero humano é sempre
socialmente determinado. Na sociedade de classes, as formas alienadas de objetivação e
apropriação devem ser superadas, uma vez que se colocam perante os seres humanos como
forças que os dominam.
No item O desenvolvimento histórico da individualidade humana, o autor aponta que no
início da história, o ser humano já se organizava de maneira gregária, de maneira imediata e
totalmente dependente em relação ao conjunto da comunidade que pertencia, isto fazia com
que não houvesse diferenciação ente os integrantes desse conjunto. Além disso, quanto menos
desenvolvidas eram as relações entre os seres humanos, menos possibilidades existiam de
individualização. Duarte salienta que o ser humano só se individualiza e conquista sua
liberdade por meio do desenvolvimento das relações sociais e da realidade humana objetivada
Com o desenvolvimento histórico da humanidade, é possível perceber formas mais
complexas relações sociais, sobretudo na sociedade burguesa. Exemplo dado pelo autor, é do
produtor isolado de mercadorias. Esta é a forma burguesa de representação de algo que foi um
avanço histórico, porém, de caráter contraditório, da forma como ocorreu o desenvolvimento
histórico social da condição do trabalhador na sociedade capitalista. O produtor isolado, só
pode isolar-se, por conta das objetivações realizadas pelo gênero humano no conjunto das
relações sociais concretas. Ainda que de forma alienada, a sociedade capitalista cria os
pressupostos objetivos e subjetivos do desenvolvimento da livre individualidade.
Elencando o desenvolvimento histórico da individualidade humana, o autor coloca
como primeiro estágio todas as sociedades pré-capitalistas. Nelas os indivíduos faziam parte
da comunidade local em que as relações comunitárias determinavam as possibilidades e
limites para o desenvolvimento das forças produtivas como da individualidade. Este primeiro
estágio, apresenta a individualidade humana se realizando de forma limitada e particular. Os
indivíduos se relacionavam com as condições de reprodução social de maneira similar com a
que se relacionavam com o próprio corpo, como um pressuposto natural. A relação com a
terra não era percebida como relação com algo produzido pelo trabalho, mas como relação
com um elemento da natureza.
É através da socialização que o indivíduo se desenvolve como ser social quanto o
processo pelo qual as formas de organização da sociedade evoluem, atingindo níveis cada vez
mais sociais. Este processo de desenvolvimento histórico das individualidades e da sociedade
é o desenvolvimento da socialidade em si para uma socialidade para si.
Para Duarte, na socialidade em si os sujeitos relacionam-se com as condições sociais de
existência da mesma forma que se relacionam com as condições naturais, não lidam com as
condições sociais como objetivações humanas, não há relação consciente, há apenas uma
identificação espontânea entre o individuo e as condições de sua existência; há nelas a
predominância da tradição, da valorização e da imitação das gerações antigas. Quando
comparadas as sociedades capitalistas podem ser consideradas sociedades estáticas, assim
como seus sujeitos. Os indivíduos desse estágio histórico não se apresentam na forma abstrata
de trabalhador, mas na forma concreta de um indivíduo que é parte inseparável de sua
individualidade. Esta relação estabelece as formas e s limites da objetivação do individuo pelo
trabalho. O indivíduo não se apresenta na forma abstrata de trabalhador, mas na forma
concreta de um individuo que é parte de uma comunidade, trabalha com a terra e produz
determinados valores de uso. Trata-se de uma individualidade presa às circunstâncias
particulares. Duarte nomeia esta individualidade como individualidade concreta particular.
O segundo estágio é o da sociedade burguesa. Esta sociedade destrói a unidade natural
entre individuo, comunidade e condições objetivas de produção, criando os pressupostos do
desenvolvimento livre e universal, embora haja de se considerar que isso ocorreu na forma da
universalidade da alienação, isto é, o seu caráter fetichista. O capitalismo é a primeira
sociedade puramente social da história, porque nela os indivíduos não formam uma unidade
imediata e natural com as condições de existência como na sociedade pré-capitalista. Isso se
dá pelo fato de o trabalhador estar separado dos meios de produção. Historicamente, tal
separação se deu de maneira extremamente violenta através da desapropriação.
O fato desta sociedade capitalista ser qualitativamente distinta das sociedades naturais
não significa que os seres humanos tenham superado a alienação das relações sociais, mas
sim, que elas se tornaram dinâmicas. A vida das pessoas passou a ser determinada pelas
relações sociais das quais elas participam ao longo de suas vidas, e não por condições com as
quais elas estejam naturalmente unidas desde seu nascimento. Nesta sociedade, não importa
as qualidade particularidades dos objetos produzidas, mas sim, a quantidade de valor que
resulta da jornada de trabalho em comparação com o que foi pago por ela. Duarte destaca que
a mediação para essa universalidade abstrata é o dinheiro. Na sociedade capitalista, segundo o
autor, tem-se a individualidade abstrata universal.
O autor coloca como uma exigência a luta para que se torna cada vez mais intensa em
todos os indivíduos a necessidade de socialização da produção material e espiritual universal.
Acrescenta que uma pedagogia que valorize a liberdade dos indivíduos não será aquela que
tenha por objetivo formar nos alunos a capacidade de adaptação à realidade local da qual eles
fazem parte, mas, sim, aquela que possibilite a formação nos alunos da consciência da
necessidade de apropriação da riqueza que vem sendo criada, mesmo que contraditoriamente,
na própria sociedade burguesa. Assim, o terceiro estágio da sociedade deverá ser a sociedade
livre e universal comunista, concebendo nela a individualidade concreta universal.
[...] Com a coletividade dos proletários revolucionários, que tomam sob seu controle
suas condições de existência e as de todos os membros da sociedade, dá-se
exatamente o inverso: nela os indivíduos participam como indivíduos (atendendo,
naturalmente, ao pressuposto de que existam as atuais forças produtivas
desenvolvidas) que coloca sob controle as condições do livre desenvolvimento e do
movimento dos indivíduos. (DUARTE, 2013, P. 196)
Mas a superação desse estado de coisas não consiste num retorno às relações sociais
do passo pré-capitalista. Essa superação só é possível com a apropriação total, pela
humanidade despossuída, da riqueza material e espiritual. (DUARTE, 2013, p. 197).
[...] Na sociedade comunista, deixa de existir a separação entre atividade material e
espiritrual, deixa de existir a alienação do trabalho e este se torna autoatividade, ou
seja, atividade na qual o individuo desenvolve sua personalidade e por meio da qual
ele deixa a marca de sua individualidade na riqueza humana. (DUARTE, 2013, p.
199).
[...] O individuo [para si] é uma pessoa que sintetiza em si mesma a contingente
singularidade da particularidade e a universalidade da generecidade. As palavras
“sintetiza em si mesma” são muito importantes. Toda pessoa é, ao mesmo tempo,
singular e genérico-universal. (HELLER, 1977, pp. 55-56; 1984, p. 20. apud.
DUARTE, 2013, p. 207)
A educação escolar na sociedade capitalista não poderá formar plenamente esse ser
humano rico, pois isso só poderá será alcançado com a superação dessa sociedade.
Mas já é possível, nas condições atuais, fazer com que os conhecimentos científicos,
artísticos e filosofias se tornem necessários para os indivíduos, produzindo o
movimento de superação dos limites da vida cotidiana e da individualidade
centradas na satisfação das necessidades particulares. Para isso, porém, o trabalho
educativo escolar precisa ter como referência, do ponto de vista da formação dos
alunos, o movimento de superação da individualidade em si por sua incorporação à
individualidade para si; e precisa ter como referência, para a definição dos
conteúdos e métodos de ensino, as objetivações mais desenvolvidas do gênero
humano. (DUARTE, 2013, p. 215)
Considerações
O presente trabalho tem por objetivo ser atividade de conclusão da disciplina de
monografia I e destacar a fundamentação teórica para o projeto de monografia intitulado A
escola e a formação da individualidade para si na perspectiva da pedagogia histórico-crítica.
Com base em leituras realizadas individualmente e coletivamente no grupo de pesquisa
Estudos Marxistas em Educação, buscou-se destacar aspectos que são relevantes para a
discussão que se pretende realizar ao longo do projeto de pesquisa.
REFERÊNCIAS