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Katia Muricy

ALEGORIAS DA. DIALÉTICA


imagem e pensamento em Walter Benjamin

NAU
I UI I O '"c A

Rio de j aneiro, 1009


Copyright by NAU Editora

NAU Editora
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Introdução 9
Editoras: Angela Moss e Simone Rodrigues
Capa: Simone Rodrigues
Foto da capa: Parterre du Nord, Versailles, de Eugene Atget 1. A metafísica da juventude
Revisão de texto e editoração: Estúdio Arteônica
35

2. A magia da linguagem 85
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE 3. O ser das idéias
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ l31
~52a------------------------------------
4. Alegoria barroca 167
Muricy, Katia, 1949-
Aiegorias da dialética : imagem e pensamento em Walter Benja-
mim f Katia Muricy. - Rio de Janeiro : Nau, 2009. 5. Alegoria moderna 195
264p.

Inclui bibliografia· 6. Imagens dialéticas 23 1


ISBN 978-85-85936-75-4

I. Benjamim, Walter, 1892-1940. 2. Alegoria. 3. Linguagem e Bibliografia 255


línguas- Filosofia. 4. Filosofia alemã. I. Título.

09-2215 CDD: 193


CDU: 1(43)

la. Edição - 1000 exemplares- 2009


4

ALEGORIA BARROCA

É no trabalho de \Valter Benjam in sobre o drama barroco,


Trauerspiel, que se encontra a sua teoria da alegoria. Oriaem
elo clwma barroco alemão (Urspruna des deutschen Trauerspiel) foi
escrito entre maio de 1924 c abri l ele 1925. Três e nsaios,
publicados em 1916, antecipam os seus gra ndes te mas:
"Drama barroco c tragédia" ("Trauerspiel und Tragõdie")
que estabe lece a distinção fundamental entre os dois gêneros
dramáticos; "A compreensão da linguagem no d rama barroco
c na tragédia" ("Die Bedeutung der Sprachc in Trauerspicl
und Tr agõdie"), explicitação, à luz de sua conccpç·ão sobre a
linguagem, desta distinção dos gêneros; "Sobre a linguagem
em... ge~al e sobre a linguagem humana" ("Über Spr~chc
übcrhaupt und über die Sprache der Mcnschen"), o famoso
ensaio que contém o essencial de sua teoria da linguagem e
que constitui, em uma designação um pouco simplificadora,
o método do li\'rO sobre o drama barroco. 1 Em carta ele 7 de
outubro de 1923, a Florens Christian Rang, comentando o
curso de seu trabalho sobre o barroco, Benjamin escreve: "De
maneira aeral, o tema oriainal. 'drama barroco alemão e traaéclia'
novamente se impõe. Uma corj'rontação exaustiva elas duasjormas (é)
feita por uma dedução da jórma do dwmn barroco c!lemão a partir da
teoria Ja aleeorio". 2
Ft·anz Christian Rang era considerado por Benjamin
o seu "leitor ideal", o g t·andc interlocutor no estudo sobre
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

o barroco. Sua morte, em 1924, inte rrompeu a produtiva fora Fritz Heinle, o amigo de juventude gue se su ic idara em
corr espondência que apoiava, inte lectual e afetivamente, os 1914, o vínculo afetivo com a cultun germânica. O caráter
trabalhos de Benjamin sobre o Trauerspiel. Teólogo, especialista problemático da relação de um intelectual judeu com a
em direito, leitor fen·oroso de Nietzsche, quase tres décadas Alemanha estava bem claro para Benjamin e as alternativas
mais velho c1ue Benjamin, Rangera uma referência decisiva, habituais - assimilação ou diluição da questão em nome de
quase uma maiêutica em relação à gênese de suas idéias. Na um cosmopoli6smo europeu - lhe pareciam egui\·ocadas.
carta de 5 de novembro de 1924, em gue comunica a Scholem Embora insistindo em seu vínculo com a Alemanha, Benjamin
a morte de Rang, Benjamin descreve belamente a força desta considerava esta relação complexa . Não lhe estava claro que
influência: um judeu devesse fa lar em nome da Alemanha. Ações públicas
conjuntas entre alemães e judeus lhe pareciam funestas, nesse
Qyando falava com ele não era tanto a harmonia que momento, e pensava em um outro tipo de relação - a que
reinava em nossas riflexões, mas ames o Jato de que, chamou de secreta. Comentando, em uma carta para Rang de
contínua c atleticamente, eu me eiforçava no maciço 18 de novembro de 1923, a valoração da dimensão européia
impossível e recortado das suas e alcançava às l'ezes uma em detrimento das culturas nacionai s, escreve: "Para mim(. ..)
fe nda que me abria uma larga passagem para os campos sempre esteve em primeiro plano as naciona.lidacles delimitadas, a
ainda não descobertos das minhas próprias riflexões. Seu
alemã, afrancesa. Nunca perdi de vista nem o meu elo com a primeira
espírito era cortado pela louwra como o maciço o é pelas
e nem, tampouco, a prqfimdidade deste elo. E ainda mais agora, no
ravinas. Mas a moralidade deste homem impedia que a
curso do meu trabalho atual, porque nada aprcfunda tanto e nem
louwra tircsse sobre ele qualquer poder. Eu verdadeiramente
conheci o maravilhoso clima humano desta paisagem feita torna mais Íntimo este elo que '~wlvar" uma antiga literatura, como é o
de pensamentos: é oj;escor Jamais interrompido do nascer que eu me proponho ajazer".> Se o seu estudo sobre o barroco é,
do sol.J talvez, um exemplo das formas secretas e legítimas de relação
entre judeus c alemães, a amizade com Rang é e mblem ática :
A importância do debate entre am bos, a respeito 'Y.Ios meus olhos l'ocê representa a verdadeira gcrmanidacle ( ...)".6 Na
das idéias de Benjamin sobre a t ragédia antiga c sobre a carta de 5 de novembro de 1924, em que comunica a Scholem
diferença entre esta c o Trauerspiel, pode ser avaliada pela a morte de Rang, Benjamin reafirma este aspecto, de como
correspondência ele Benjamin. Durante todo o ano de 1923 o amigo representara para ele "o essencial do que em mim adotei
até iníóo de 1924, l3cnja min discute intensamente com o da cultura alemã".
amigo as suas reflexões sobre o Trauerspiel e os temas clássicos A morte de Rang é o selo trágico do livro sobre o
da tragédia: a derivação da tragédia do aaon, a relação da forma barroco. Tanto mais gue repetia a pe rda de Hcinlc a outra
clianoética do diálogo trágico com o processo judiciário ático, ponte que ligava Benjamin a cultura alemã c com quem,
o fenômeno dionisíaco:~ como com Rang, mantivera uma relação tensa e profunda.
Rang era para 13cnjamin, no entanto, mais do que o Bernd \'Vitte, em sua biografia de Benjamin, comenta como
"leitor ideal" ele seu trabalho sobre o Trauerspiel. Ele era, como Benjamin pensava a sua amizade com Hcinle como a de

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Alegorias da Dialética Alegoria barroca

opostos complementares que r ealizariam uma simbiose en- na sua disciplina, história da literatura. A recusa disfarça, na
tre alemães e judeus: "Heinle representava para ele o ser produtivo, verdade, na discussão sobre a dificuldade de seu enquadramento
o poeta, enquanto reservava para si o papel do homem de letras, nas cbsciplinas acadêmicas, a má vontade dos depar tamentos
que se propunha a decifrar o espiritual em todas as manjfêstações da da u niversidade em relação às teses pouco canônicas
7
vida". Esta oposição entre vida c reflexão, e ntre o alemão e o desenvolvidas por Benjamin e também à independência
judeu parece estar também na compreensão de sua relação, do autor, gue nunca seguira nenhuma orientação daquela
guasc dez anos depois da morte de Heinle, com Rang. universidade em seus estudos . Assim, a r edação da tese, gue
A compreensão de seu trabalho crítico sobre o Trauerspiel irá ser publicada em 1928, está envolta nessas experiências de
como "salvação" de uma antiga forma da literatura alemã, fracasso que constituem uma verdadeira "traaédia acadêmica",
gue reforça o seu elo com a cultura germânica, desdobra, na expressão de Momme Brodersen .9 Além disto, o livro
no plano intelectual, a experiência de sua relação com reflete a dificuldade ele Benjamin ao tentar, ao mesmo tempo,
Rang, e também com Heinle - elos afetivos com a cultura manter a sua autonomia intelectual e satisfazer as exigências
alemã. A morte de Rang dá ao trabalho sobre o barroco um acadêmicas, no problemático contexto institucional de sua
imprevisível sentido de luto. George Steiner, no prefácio à candidatura a Habilitation .
edição inglesa do livro sobre o Trauerspiel, comenta: 'íl riflexão A concepção de origem - entendida não como ide ntidade
sobre a melancolia barroca e sobre o triur!fo da desolação na fantasia inicial a ser desenvolvida em um processo, mas como salto
e no discurso barroco adquiriu uma face prilrada". 8 (Sprung), como emergência que instaura descontinuidade - e
O estudo sobre o Trauerspiel tem ainda outra marca de a noção de alegoria - como idéia capaz de enquadramentos
perda: o fracasso de sua apresentação como tese de Habilitation diversos no âmbito da filosofia - constituem as categorias
na Universidade de Frankfurt-am Main. A não aceitação do principais do livro.
trabalho pôs fim a qualquerespcrançaclccarreira universitária, A teoria da alegoria de Benjamin muito mais do gue
o que teria sido um caminho natural após o sucesso da tese constituir a categoria-chave para a compreensão do barroco
de doutorado sobre o romantismo alemão na universidade de literário alemão do século XVII, gucr constituir-se como
Berna. A recusa da Universidade de Frankfurt, com a retirada uma categoria estética capaz de dar conta das características
da tese por Benjamin, se deu após longas c inevitavelmente ele sua contemporaneiclade artística. Mesmo quando o caráter
desgastantes negociações acadêmicas. Desaconselhada a por assim dizer acadêmico do livro parece ganhar a cena,
sua apresentação no departamento de filosofia, a tese foi nunca se trata de mera polêmica erudita. É o que observa
encaminhada corno um trabalho em estética. Declarando-se, Georges Steiner, exemplificando com a longa discussão sobre
em seu relatório, incapaz de encontrar nela alguma relevância a conceituação equivocada ele símbolo , categoria da c1ual toda
para a filosofia da arte, Hans Cornelius, professor de fllosofia a estética clássica e romântica deriva a noção de alegoria. 10 O
da arte, não aceitou a tese. O fato foi tanto mais grave por caráter crítico das considerações é evidente. Por um lado, o
ter sido Cornelius um nome alternativo proposto por Franz conceito de s1mbolo não serve mais como noção explicativa
Schulz que, por sua vez, já rejeitara o trabalho de Benjamin para os fenômenos estéticos da atualidacle. Por outro, o

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conceito de alegoria, sempre secundário e derivado em pretende restaurar, na mosofia da arte, não só o lugar do
relação ao de símbolo, é, justamente, o conceito pertinente símbolo, mas também o da alegoria.
para a compreensão da atualidade estética. O uso "fraudulento" do simbólico é cômodo para as
Benjamin abre a sua teoria da alegoria com a denúncia investigações artísticas por um impor tante motivo. Por
de uma distorção da estética romântica: a do conceito ele legitima-se filosoficamente a "impotência crítica ( ...) que
de símbolo: "Por mais de cem anos a filoscjla da arte tem sido por falta de risor dialético perde de vista o conteúdo, na análise
dominada por um usurpador, que ocupou o poder durante o caos jormal, e a forma, na estética do conteúdo". 12 Esta separação
provocado pelo romantismo". 11 Um falso conceito de símbolo, forma/conteúdo determina a compreensão da obra de arte
determinado pelas pretensões românticas ao saber absoluto, como "man~festação" de uma idéia, a primeira sendo a form a
teria espalhado na filosofia do belo "uma penumbra sentimental". do segundo, o conteúdo. A "manifestação" de uma idéia é,
Benjamin emprega várias formu las para se referir a tal então, caracterizada com o símbolo. A unidade sensível!
conceito equivocado: "conceito inautêntico'~ "conceito distorcido'~ supra-sensível se deturpa em uma relação entre dois termos:
"uso vulsar do termo'~ "usofraudulento do simbólico'~ "extravasância manifestação e essência . É sabido c1ue a unidade do sensível
romântica". Toda a preocupação em corrigir essa inadequação e supra-sensível, de forma e conteúdo, constitui um axioma
do conceito de símbolo é de extrema importância para para a filosofia e a estética de Benjamin. Na separação
recolocar em novas bases um outro conceito - o ele alegoria sensível/supra-sensível, Benjamin vê uma hostilidade à vida:
- cujo tratamento, na tradição estética, sempre derivou, o sensível , a manifestação, sendo inferior à essência, à idéia.
equivocadamente, da concepção de símbolo. O conceito ele Este procedimento romântico domina a visão da arte e
alegoria, interesse principal da reflexão de Benjamin, requer antecede o empobrecimento teórico da crítica moderna: ''A
o exame desses equívocos na compreensão do simbólico para introdução na estética desse conceito de símbolofoi uma extravasância
que, desvencilhando-se de uma derivação não pertinente, romântica hostil à vida, que pi"ecedeu o deserto da moderna crÍtica
possa não só ser definido de forma autônoma, mas também de arte". 13
elimens'ionado no seu r eal valor. Ou seja, Benjamin quer Nessa p erspectiva, o belo foi visto como manifestação
propor a alegoria como a categoria crítica indispensável para a do divino . No romantismo, mas também já no classicismo,
compreensão de fenômenos estéticos para os quais o conceito confundem-se o ético e o estético. Se "a imanência absoluta do
de símbolo já não teria eficácia teórica. mundo da ética no mundo do belofoi elaborada pela estética teosijlca
A correção ela compreensão distorcida do símbolo dos românticos", a compreensão que dilui o ético no estético
requer a adoção do que Benjamin chama de o "paradoxo do já aparece no classicismo, sob a concepção de um indivíduo
símbolo teolósico" - a unidade do elemento sensível e do supra- de perfeição ética e estética, como que uma "apoteose da
sensível. Por essa unidade, no símbolo teológico se expressa existência". A noção de "belo indivíduo", de "bela alma", dotado
a indissociabilidade da forma e do conteúdo, fundamental de uma interioridade não-contraditória, elimina o sujeito
no campo da arte. É no horizonte teológico que Benjamin ético. Os românticos completaram essa concepção, inserindo
e ncontra a concepção autêntica de símbolo com a qual esse indivíduo em um processo infinito "soteriolóaico e até

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sagrado". O conceito distorcido de símbolo, separando o idéia - chega, negativamente, perto da verdadeira natureza da
sensível e o supra-sensível em prol de um conceito de essência alegoria: a de ser escrita. Schopenhaucr afirma que expressar
e manifestação, conduz à uniflcação do estético c do ético concextos e condenavc
• I C( s
' 1 em arte" . e uma o.bra alegonca tem
I •

expressa na "bela existência" que, em sua ação, circunscreve o algum valor artÍstico isto ocorre porque escapa à intenção
espaço do simbólico (o da manifestação) . Essa "bela existência", alegórica. Expressar um conceito é "uma diversão frívola que
não-contraditória, integral, é a "apoteose clássica". A esta se opõe consiste em construir uma imagem que sirva também como inscrição,
a apresentação de uma interioridade quebrada, contraditória, à guisa de hierogljfo". 18 O efeito da obra ele arte alegórica sobre
excêntrica: "a apoteose barroca é dialética", I+ dotada de um o espectador é o mesmo que teria uma inscrição, uma palavra
" movnnento
. entre os extremos" : " os pro blemas 1me
. d.wtos do barroco se escrita: a alegoria da fama causa o mesmo efeito que a palavra
vinculam à sua política religiosa, e nesse sentido, não cifúavam tanto FAMA escrita em uma parcele. Quando Schopenhauer
o indivíduo e sua ética como à sua comunidade religiosa". 15 constata este caráter de escrita da alegoria, chega perto de
Tanto quanto o conceito de símbolo, o conceito de seu caráter mais essencial. A verdadeira natureza da alegoria
alegoria foi deformado na estética clássica. O conceito de é ser escrita. Mas, como todos - inclusive como Yeats que,
"alegórico" surgiu no classicismo como contrapartida ao para Benjamin, está entre "os aramlcs artistas c teóricos de
conceito de simbólico . Sua definição foi sempre em negativo, primeira ordem" e cujos ensaios sobre teatro inf1uenciaram a
por contraposição ao símbolo. Elemento diferenciador, de sua análise do barroco - Schopenhauer entende a alegoria
- de a l egona
cont ras t c, a noçao . ,e a " contraparUGl a especuI "
ativa como "uma relação convencional entre uma imagem ilustrativa e sua
19
do conceito de símbolo, o "fundo escuro contra o qual o mundo significação".
16
simbólico pudesse realçar-sc". A alegoria seria urna forma de ilustração e não uma
Não houve assim, na época clássica, uma verdadeira forma de expressão artística. Assim, o classicismo irá
teoria da alegoria: "O pensamento simbólico do século XV/li era "descartar sumariamente a forma de expressão aleaórica" do
tão alheio à expressão alegórica original, que as poucas tentativas campo da ar te. Esta compreensão da alegoria domina até a
isoladas de tratar teoricamente o tema são desprovidas de qualquer atualidade de Benjamin. Para ele, o crítico deve abandonar
valor para a im,estígação, e por isso mesmo são ilustrativas da essas conceituações e procurar a "força da intenção alegórica"
prifundidade do antagonismo'~ 17 Mas, em luta surda com nos textos originais barrocos, textos que ficaram encobertos
as novas formas de expressão, a alegoria - como forma pelos preconceitos dassicistas.
de expressão antiquada - permanecia. De modo geral, Benjamin prete nde, a partir dos textos originais
o classicismo vi u a alegoria como uma ilustração de um barrocos, construir uma teoria da alegoria, preocupada em
conceito , destituindo-a do valor de forma de expressão apresentá-la como uma forma de expressão, como a linguagem
artística. Assim procede Goethe na célebre carta a Schiller. e como a escrita, e não como mera ilustração: "Nisso exatamente
Schopenhauer - criticando a alegoria por compreendê-la está o experimentun."' crucis''. 20 Essa dificuldade é porque se
como ex.pressão de um conceito e, portanto, não como uma a
a alegoria é identificada escrita, esta era, contudo, vista
expressão artística que se caracterizaria por ser expressão de também como sistema de signos . Isto reforça a compreensão

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Alegorias da Dialética Alegoria barroca

clássica da alegoria como escrita, isto é, "aleaoria siano". ecos da concepção de instante - retomada na seção N do
Demonstrar que a alegoria não é "jrhrola ufcnica de trabalho sobre as Passagens e nas teses sobre o conceito de
ilustração por imaaens", mas expressão, como a linguagem c história - que contêm toda uma riqueza de significações:
como a escrita, significa que Benjamin quer confirmar, no
âmbito da filosofia da arte, as suas intuições no campo da Essa qualidade alerta e ocasionalmente ,comovente se
linguagem c da escrita sobre a relação indissolú\·el entre o associa a outra propriedade, a da concisão. E como sefosse
sensível c supra-sensível ou, nos termos do Prefacio, entre um espírito aparecendo de repente, ou um rclâmpaao que
fenômenos e idéias. 21 O conceito teológico de Revelação subitamente ilumina a noite eswra (..) é wn momento
que mobiliza todo o nosso ser(. . .). Por causa dessafecunda
articula a indissolubilidade do sensível e do supra-sensível -
concisão (os antiaos) o comparam expressamente ao
toda a obra de arte seria "r evelação". Compreender a alegoria
laconismo (...). Em situações importantes da vida, em que
como expressão não cindiria - como seria o caso na sua
cada instante contém um futuro rico de comequências,
compreensão como ilustração - o sensível e o supra-sensível. e mantém a alma em estado de tensão, em momentos
A ex pressão é imediata e necessária. Ilustração supõe uma Jatfdicos, os anti,qos aauardavam sinais divinos ( . .) que
essência c, separadamente, o secundário, a manifestação. denominavam symbola. 13
Tributária do equívoco que conceituara valorativamcntc
o símbolo - expressão de uma idéia - a alegoria fica com O símbolo artístico e plástico é superior, para Crcuzer
a "parte podre" da definição. Mas nessa conceituação ambas c para os classicistas, aos símbolos relig iosos c místicos. A
as noções derivariam de uma cisão entre forma e conteúdo, influê ncia da valorização artística da escultura grega por
entre sensível e supra-se nsível. A crítica moderna, quando vVinckclman é, ern Crcuzer, decisiva na caracterização do
oscil a entre a valoração de um dos pólos forma/conteúdo símbolo plástico por opos ição ao símbolo místico. O símbolo
herda esse equívoco. misttco e excessivo em sua CC answ de expressao
I • ' • A • • nf/ /". A caI)a
- do m12a1'e
O debate sobre o alegórico e o barroco na fil ologia "destruindo a forma terrena, receptáculo excessiramente jráail, com
contemporânea pe1·mancce no âmbito do símbolo. Se, a iriflniw violência de seu ser" o que apaga a sua força simbólica ,
maneira geral, o alegórico ainda é visto como signo, novos - resta ncIo ma1s
nao · que " um assom bro mud" o . J'a no sim
' I)01o
c importantes elementos passam a ser considerados. Assim é plástico não há excesso - essência c forma são harmônicos:
que a definição da essência do símbolo é dada por Creuzer,
um autor fundamental para Benjamin, como de hábito, (.. .) a contradição entre o infinito e o finito se dissolve
em detrimento da defi nição de alegoria. O símbolo é "o porque o primeiro, auto/imitando-se, se human izo (..).
momentâneo, o total, o insondável quando à oriaem e o necessário". 22 Da purificação do pictÓrico, por um lado, e da renúncia
O contexto dessa problemática do "momentâneo" do símbolo volunr.ária ao desmedido, por outro, brota o mais belofruto
é mu ito importante para a elaboração do conceito de tempo da ordem simbólica. É o sfmbo1o dos deuses, combinação
Uetuzeit) - tempo instantâneo, mobi liznnte, condensado esplêndida ela beleza das formas com a suprema plenitude
decisivo para a teoria bcnjaminiana da história. Benjamin cita do ser, e porque cheaou à sua mais alta perfeição na
longamente a consideração de Creuzer c nela encontram-se escultura areaa. pode ser chamado o símbolo plástico.'~

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Alegorias da Dialética Alegoria barroca

A alegoria, neste contexto conceitual do símbolo, é permanente do símbolo- que se pode encontrar o que chama
definida por Crcuzer apenas como um conceito geral ou dc ((a l'erdade1ra
. soI uçao
- )). -?S
uma idéia que dela própria (alegoria) permanece distinta:
o símbolo "é a idéia em sua forma sensÍI•el, corpórea. No caso da A relação entre o símbolo c a a legaria pode ser compreendida,
aleaoria há um processo de substituição ( . .). No caso do símbolo, o de forma persuasiva e esquemática, à luz da decisiva
conceito baixa no mundo físico, e pode ser visto, na imaaem, em si cateaoria de tempo, que esses pensadores da época romântica
mesmo, e de forma imediata". 25 tiveram o mérito ele introduzir na eifcra ela semiÓtica. Ao
.
-. Creuzer está dentro das convencões classicistas ,
Até anui passo que no símbolo, com a traniflauraçâo do declínio, o
rosto metamoifoseado da natureza se revela fuaazme nte à
sem nada que Benjamin possa, a rigor, reter para a sua teoria
luz da salvação, a alegoria mostra ao observador a facies
da alegoria. Mas quando Creuzer se refere à relação da
hippocratica da história como protopaisaaem petrificada.
alegoria com o mito, algo se acrescenta, embora nem por
A história em tudo o que nela desde o inÍcio é prematuro,
isso Creuzer valorize a alegoria. Para ele, neste contexto, o
scljrido e maloarado, se exprime num rosto não, numa
símbolo tem o indicado caráter momentâneo, uma totalidade caveira. E porque não existe nela nenhuma libenlodc
momentânea. Na alegoria há sequência de momentos, progressão : simbólica de expressão, nenhuma harmonia clássica da
ela "compreende em si o mito (...) etUa essência se exprime mais for ma, em suma, nada de humano, essa finura, de todas a
peifcitamente na proaressão do poema épico". 26 Assim, enguanto o mais sujeita à natureza, exprime não somente a existência
símbolo encontraria a expressão de sua essência na escultura, humana em aeral, mas, de modo altamente expressivo e
a alegoria a encontraria no poema épico. A alegoria já é posta sob a forma de um enigma, a história biogrij1ca de um
por Creuzcr - ainda que em tematização depreciativa, no indivíduo. Nisso consiste o cerne da •' isão alegórica: a
horizonte da valoração do símbolo - como desenvolvimento exposição barroca, mundana, da história como histÓria
do mito, como tempo segme ntado, como voz ou escrita. mundial do sifrimento, sianjficaciva apenas nos episódios
Elementos decisivos para a construção da idéia de alegoria de declínio. 19
em Benjamin.
Benjamin cita Gõrres. Para ele o símbolo seria "siano Benjamin irá relacionar essa v1sao da história com o
de idéias" - autárquico, compacto, sempre igual a si mesmo. mito, articulando proporcionalmente a sign ifi cação à morte:
A alegoria ser ia "como uma cópia dessas idéias - em constante "Qyanto maior a significação, tanto maior à sujeição à morte, porque
progressão, acompanhando ofluxo do tempo, dramaticamente móvel, é a morte que gram a tortuosa linha de demarcação entre a physis e
torrencial. Símbolo e aleaoria estão entre si como o arandc, .fàrtc c a sianificação. Mas se a natureza desde sempre esteve sujeita à morte,
silencioso mundo natural elas montanhas e das plantas está para a desde sempre ela fo i aleaórica". 30 O domínio da alegoria conjuga
histÓria humana, viva e em contínuo desenvoh,imenco". 27 paradoxalmente a natureza c a história.
Benjam in observa g ue é na contradição entre a visão Analisando os elementos Lltcis para a sua teoria da
de Crcuzer - guc indica o momentâneo como característica alegoria em Karl Giehlow, Benjamin estabelece distinções
· · 31 nsstm
clec1s1vas. 11 •
a d·C
uerença entre o conceito de alegoria
do símbolo - c a visão de Gõrrcs - que indica o caráter
medieval, "cristã e didática", c a do sécu lo XVI, relacionada

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Alegorias da Dialética Alegoria barroca

à Antiguidade - da tradição alegórica egípcia para a grega. lhe exprime. A hjstória é um emblema, uma alegoria da
Neste percurso, a alegoria se torna cada vez mais emblemática . natureza: "A.fisionomia rígida da natureza sian!ficativa permanece
Gieh low descobre lerem sido os eruditos humanistas, tentando l'itoriosa e de uma vez por todas a histÓria está enclausurado no
decifrar os hieroglifos, os promotores do desenvolvimento adereço cênico".34
da alegoria. Isto a partir dos "J-Jieroa/yphica" de Horapollon Assim, os recursos alegóricos são postos a ser viço do
(Il ou IV A. D.), obra que se preocupava com os hieroglifos hermetismo teológico. A expansão da forma de expressão
simbólicos ou en ig máticos, "meros pictoaramas dissociados alegórica se dará em todas as esferas espirituais, da teologia
de qualquer contexto fonético", etapa em um ensinamento à linguagem amorosa: '~ expressão de cada idéia recorre a uma
religioso que representava o "óltimo dearau de uma .filoscifia verdadeira erupção de imaaens, que origina um caos de metijoras".
mística da natureza". Os equívocos de interpretação deram Benjamin dá exemplos desse caos, em especial nas metáforas
origem "a uma rica e i'!finitamente divulaada forma de expressão", da Ars Heraldica, de Bockler, que chega, segundo ele, a uma
ao desenvolvimento, pelos literatos, de uma nova escrita: "consumada cromática hieroglffica". 35 Giehlow comenta: ''As
"Surairam assim as iconoloaias, que não somente elaboravam asjrases muitas obscuridades no vínculo entre a significação e os signos ( .. .)
dessa escrita ( .. .) mas não raro constituíam verdadeiros dicionáriosY em vez de desencorajarem os autores, os estimulavam a atribuir valor
Os rebus eram imagens de coisas que substituíam as letras. simbólico a atributos do objeto cada vez mais remotos, para atra!'és de
Este pr ocedimento iconográfico constituiu uma verdadeira novas sutilezas ultrapassarem os próprios egípcios. A isso se agregal'a
mania no Renascimento. Os rebus encheram "os medalhões, as a força dogmática das sian!ficações ligadas pela tradição antiga, de
colunas, os arcos de triurifo e todos os objetos artísticos possíveis da modo que a mesma coisa podia simbolizar uma virtude e um vício e,
Renascença". O artista c erudito Alberti liderou esta tendência. portanto, em última análise, podia simbolizar tudo".36
Assim em Libri de re aed!ficatoria decem, Alberti louva os Benjamin aponta as características antinômicas da
hieroglifos em detrimento da escrita alfabética, pelo seu alegoria. Na alegoria o mundo profano é, ao mesmo tempo,
caráter hicrático, emblemático. Marcilius Ficinus, o filósofo exaltado c desvalorizado. Cada pessoa, cada coisa, cada
nco-platônico renascentista, elogia também os sacerdotes relação pode significar qualquer outra. Logo, "prcifere contra
egípcios por tet·em visto os hieroglifos como uma r eprodução o mundo prqfcmo um veredito de1•astador, mas justo: ele é visto como
das idéias divinas, simples c imutáveis como as próprias um mundo no qual o pormenor não tem importância". 17 Mas, ao
coisas. A escrita hieroglífica revela, para o Renasci mento, a mesmo tempo, os pormenores detém um poder enorme de
nat ureza humana e divina. É o que escreve, em 1556, Pierio significação que "os santifica". Na alegoria convivem as noções
Valer iano: "Posto quefalar hierogl!ficamente não é outra coisa que antagônicas de con venção e expressão: '~I alegoria do século XV!l
desvendar a natureza das coisas divinas e humanas".33 não é convenção da expressão, mas expressão da convenção. Por isso,
Benjamin comenta como ex iste uma teleologia barroca era a expressão da autoridade, secreta em vista da dignidade de uma
diversa ela teleologia iluminista. Se o homem é o fim, a causa oriacm, póblica em vista de sua eifera ele validade". 38
fina l da natureza, não o é no sentido iluminista, mas no Na a]egoria convivem também a técnica fria c automática
sentido de aprendiz ele um ensinamento secreto que a natureza e a expressão eruptiva de uma linguagem ele exageros (o

/80 181
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

alegorês). A santidade ela escrita exige uma cod ificação exemplo desta incompreensão a concepção do nco-kantiano
rigorosa (imutável , sagrada) c uma inteligibilidade profana. Hcrma nn Cohcn, sobre a ambiguidadc da expressão alesoria.
Externamente c cstilisticamente - na contundência das É o caso também de outro oco-kantiano, Carl Horst, que ,.ê
formas tipográficas como no exagero das metáforas - a palavra na alegoria uma transg ressão inconveniente dos gêneros, com
escrita tende à expressão visual. Diferente do simbólico - que a intrusão das artes plásticas nas artes da palavra:~ 2
é plástico c imagem de uma totalidade orgânica- o alegórico O barroco é, na bela expressão ele Benjamin, uma
é \'isual, imagem na fragmentação da escrita. "ostentação construtivista''.H A estética das ruínas, do fragmento
Be njamin, apontando para um importante ponto comum é uma estética da construção, uma atividade combinatória
entre o romantismo c o barroco, afirma que estes não se que quer se exibir como tal. As ruínas, os fragmentos, são a
propunham a corrigir o classicismo, mas antes, pretendiam matéria nobre para a criação barroca. Fragmento c ruína não
muito mais: corrig ir a própria arte . Porém, enquanto o são, portanto, "reminiscência antiga", mas uma "sensibilidade
rornantismo, na :-;ua concepção de infinitude da arte, dirige a est-ilística contemporânea". 44 O processo é de awmulação de
crítica à perspectiva da obra acabada, o barroco quebra esta fragmentos, de experimentação de combinações a parti r deles.
unidade e pelo "olhar pr?fundo do alegorista transmuta de um só Uma ars in venien di que não se constituía como invenção do
solpe coisas e obras numa escrita apaixona nte". 39 novo, mas como combinação ele elementos antigos:
Esta escrita alcgorista é uma escrita de ruínas - '~ls
alegorias são no reino elos pensamentos o que são as ruínas no reino A atiwde experimental dos poetas barrocos assemelhava-
das coisas". 40 Esta é uma característica fundamental da alegoria se à prática dos adeptos. O que a !lntigtticlade lhes legou
- a sua necessária articulação como c1ue é, antes de qualquer são os elementos, com os quais, ttm a um, mesclam o novo
coisa, ruína, destroço. Be njamin comenta este caráter: wdo. Ou antes, não há mescla, mas construção. Pois a
risão peifeita de.~e "nol'o" era a ruína. O objeto dessa
técnica, que indiridualmente visava os real ia, as flores
Na eifera da intenção alegórica, a imanem éJrasmento,
da retórica, e as regras, era a ordenação exuberance de
rulna (. . .). Por sua própria essência, era vedado ao
elementos antigos em um edifício que, sem un!flcar esses
classicismo perceber na physis bela e sensual o que ela
elementos em um todo, fosse superior, mesmo na destruição,
continha de hererônomo, incompleto e despedaçado. Mas
são justamente essas características ocultas sob sua forma
às antigas harmonias. Essa literatura dereria chamar-se
ars inveniendi. A noção do homem ,qenial, mestre na ars
extravagante que a alegoria barroca proclama, com uma
inveniendi,joi a de um homem capa7. de manipular modelos
êr!}àse até então desconhecida. Uma prl?funda intuição do
soberanamente. A " imaginação", a faculdade criadora do
caráter problemcÍLico da arte(..) abala o estatuto exaltado
novo, era desconhecida como critério para hierarquizar os
que fhe.fora arribttfdo na Renascença ..JI I • .J5
espmtos.

Benjamin observa como a dialética da alegoria (a

[
O poela bar roco mostra csla atividack: combinatória.
profunda intuição sobre o caráter problemático da arte que
Visa até mesmo mais a ela que ao efeito de um todo íntegro.
expressa) não foi compreendida pela estética, citando como

/8] /83
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

Há uma "ostentação construt il'ista" que "aparece como uma parede drama barroco, em seu conteuclo material, em suas referências
de alvenaria, num prédio que perdeu o reboco", observação que hist6ricas, destina-se exemplarmente à extinção. Na medida
Benjamin faz, em especia l, à obra de Calderón.-~ 6 O barroco que esta extin ção eYidencia seu conteúdo de verdade, torna-
,.ê a natureza não na sua exuberância Yital, mas ap1·ende com se um gêner o exemplar para caracterizar a crítica filosófica
e1a a decad enc1a. A natureza e' o ((eternamente l!Jemero
A • nr,; ", e so I
tal como Walter Benjamin a concebe :
nesse efêmero o "olhar saturnino daquelas gerações reconhecia
11
a histÓria"." Benjamin propõe, à luz dessa compreensão da O que dura é o estranho detalhe das suas riferências
natureza, urna distinção entre a traniflguração renascentista e alegóricas: um objeto de saber, aninhado em ruínas
a apoteose barroca. A natureza renascentista é transfigurada: artificiais, cuidadosamente prcmccliwdas. l1 crÍtica é a
a imitação da natureza pelo artista renascentista significa a mortificação das obras. Mais que quaisquer outras, as
"imitação de uma nawreza modelada por Deus". 48 No barroco, a obras do barroco confirma m essa verdade. Mortjficação
natureza que se expressa na hist6ria é a natureza decaída. Aí, elas obras: por consequência, não, romanticamente, wn
as coisas "não se tran.ifiguram nunca para dentro. Sua irradiação se despertar da consciência nas que estão vivas, mas uma
dá pelas luzes da ribalta - a apoteose. 49 instalação do saber nas que estão mortas. A beleza que
dura é um objeto de saber. Podemos quest ionar se a beleza
Característico da alegoria é a interpenetração das artes .
que dura aincIa merece esse nome: o que e' certo e' que
Neste sentido Winckcl man, segundo Benjamin, exagera,
nada existe de belo que não tenha em seu interior algo
mas deixa claro: "Vã é ( ...) a esperança dos que julgam possível
que mereça ser sabido. A fi losifia não deve duvicl?r do seu
levar tão longe a alegoria, que até uma ode possa ser pintada". 50
poder de despertar a beleza adormecida na obra.' J
Benjamin comenta que as obras de arte literárias barrocas
faziam-se acompanhar, na sua ed ição, por dedicatórias, Como afirmara no Prefácio, é preciso a verdade a
prefácios, posfacios, pareceres, alusões aos gr andes mestres, crítica filos6fica - para que se faça justiça à Beleza. ; Sem a
4

e escreve: "O olhar capaz de satiifazer-se com o próprio objeto era com·crsâo, na forma ardstica, do histórico em conteúdo de
raro ( ...). Ocupar-se com a arte n ão era uma atividade privada da ,·erdade, o belo é um "del'aneio l'azio". Realizar essa conversão
qual não era preciso prestar contas, como veio a ocorrer mais tarde é o objeto da crítica filosófica.
(...). Ajunção e/esses livros não era difundir-se, ocupando, nojuwro, Nesse sentjclo, Benjamin privilegia o conteúdo de verdade
um espaço cada vez maior, e sim preencher, no presente, o lugar que conteúdo propriamente filo sófico ou, em outros termos, as
lhefora destinado': 51 idéias, guardando para estas, no entanto, uma indispcnsáYcl
Este vínc ulo com o presente, esta ausência de uma apresentação fenomena l: elas são formas, estruturas.
projeção no futuro determina a característica de efemericlade
das obras barrocas:"( ...) A Crítica já está presente, com rara clareza, Sem ao menos uma compreensão i nwit iva ela vida elo
em sua sobrevivência. Desde o in ÍCio ( .. .) já estavam predestinadas à detalhe através ela estrutura, a inclinação pelo belo é
destruição crítica, que o tempo sobre elas exerceu". 52 Comentando um demneio vazio. A estrutura e o cfctalhe em tíltima
esse caráter, Benj<1min enuncia a sua concepção de crítica. O aná lise estão carreaados ele histÓria.oobjeto ela crítica
filos?flca é mostrar qtie a junção da forma artÍstica é
1.
18-1
!S5
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

comcrccr em conteúdos de verdade, de caráterfilosijlco, os de irradiar um sentido: ele ró dispõe de uma sianjficação,
conteúdosjàcwa is, de caráter histórico, que estão na raiz a que lhe é atribuída pelo a leaorista. Ele a coloca dentro
de todas as obras si,qnjficativas. Essa craniformaçào do de si, e se apropria dela, não num sentido psicológico, mas
cometÍdo fac rua I em conteúdo de 1·erdade jàz do dec/í n i o ontológico. Em suas mãos, a coisa se trangôrma em algo
da ifetil•idacfc de uma obra de arte, pela qual, década diferente, ela se converte na chat•c de um saber oculto e,
após década, seus atratiros iniciais rào se embotando, o como emblema desse saber, ele a venera. >7
ponro de partida para um renascimento, no qual toda
beleza ~fêmera desaparece, e a obra se ciflrma enquanto O trabalho da cr ítica ser ia, par a Be njamin, o ele tornar
ruína. Na estruwra alegórica do drama barroco sempre se
as obras ele arte alcgót·icas para, em suas ruínas, discernir
destacaram essas ruínas, como elemento.~Jorma is da obra
o conteúdo de verdade que redime as ohrns. Pode-se dizer,
de arte redimida. ;;
nesse sentido, que a crítica de Benj amin é a legórica.
Assim, a alegoria é "escrita enquanto imaacm" pela perda
O simbólico í.· o "insta nte" místico, de transfiguração
que a coisa sofre em relação a sua autonom ia expressiva c
c conciliação . O alegórico é o "agora" atual. O barroco
em relação a sua transformação n a~ mãos do alcgorista: ele a
precisa ser sempre novo, surpreendente, para não se auto-
faz significar o que ele quer e prende-a em "alao cle.fixo": "(A
absorver. Prcc i ~a cri ar no\'as significações porque as alegorias
alegoria) é um esquema c, como esquema, um objeto de saber, mas
c n\'clhcccm, já CJU C' que rc rn su rpreender. Comentando a
o alegorista só pode ter certeza de não o perder quando o traniforma
te nsão entre imanê nc ia c transcendê ncia c preocupado e m
em a lgo de fixo: ao mesmo tempo imagem fixa e sia no com o poder
dota r rsta última de rigor e m oposição à t ransitoriedade da
dej-lxar. O ideal cogniLi1•o do barroco, o arm(uenamento simbolizado
primeira, Benjamin precisa: "(.. .)o que é barroco é a qualidaclc
n as bibliotecas Biaantescas, rca Iiw-se na escnta enquanto unaaem . 58
o o "

aarc~~ira c excepcional elo aesto ( ... ). Para resistir à tendência à auto-


A importância do caráter erótico da plctora significatiYa na
absorçào, a alegoria precisa dcsenl'ob·er-sc de formas sempre no1·as e
a legoria é resumida na magistral formulação de Benjamin:
supreendenres ( ...) . As a le.qorias enrclhecem, porque sua tendência é
"( ...) a rolúpia com c1ue a sian!f1caçào reina, como um negro sulrão
"r: - " . Sn
prorocar a cswp':Jaçao
n o harém das coisas". 5" Mais do que elcs,·endar, a escrita por
A partir dessas caratcrísticas, a alegoria é frut o do olhar
ima~ens do barroco quer desnudar as coisas sensoriais. Não se
do alcgorista, este olh ar que é o do crítico, do que "lê" os sinais
trat; de \'CStir, por assim dizer, a essência dr uma imagem.
c constitui a alegoria. to olhar da mclancol ia, humor gue na
Trata-se, ao contrário de fa-zê-la comparecer como imagem,
tr.:tdição médica-fil osó f'i ca, <k s<k Aristóteles, caracterizou o
apresentando-a com o escrita, como legenda cxplicatiYa,
fil ósofo, o home m elo con hecimento reflexivo .
leoenda
b llUC
, nos livros com propósitos emblemáticos é parte
da imagem representada. A essê ncia aparece nua em sua
Se o objcr o se I orna cdegórico sob o oih ar da melancolia, ela
materialidade de escrita, ele coisa sensória. Benjam in obser va

l
o pril'a de suo r ida. a coisa jaz como se estiresse morta, mas
seaura por toda(/ eternidade, entregue incondicionalmente
que o drama barroco, enqu;mto a legórico, é "Jeit o para ser
oo a le.']orisra , exposta a .1·cu bel-prazer. Vede dizer. o objeto lido". bO Assim , mesmo qu ando r epresentado , o espectador "que
é incapaz. a partir e/esse lllomenro, de ter uma sian!ficaçâo, rê o cspecáculo, contempla-o com a ahsorçào apaixonada c totalmente

!Sn

I 18~
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

atenta de um leitor que meraulha no texto". 61 Este caráter de escrita Um. outro caráter da alegoria encontra o seu emblema em
por imagens produz uma fragme ntação no grafismo da obra '11 corte cozifusa'' de Calderón. É como se cada alegoria trouxesse
alegórica: "palal'ras, sílabas e letras se apresentam como pessoas". 62 a sua propna . ((cmte)), em torno d. e um cent ro agrupam-se os
O caráter fragmentário é ontológico na obra de arte alegórica, emblemas. As leis dessa corte são a "dispersão" e a ''conjunção":
como se fosse "sob a forma de Jraamentos que as coisas olham o
mundo".
63
Nessa fragmentação constituinte do alegórico,
encont ra-se estranhamente uma complementaridade com o
símbolo: "(...)ao representar a primazia das coisas sobre as pessoas,
do fraamentário sobre o total, a aleaoria (é) o contrário polar do
I '/is coisas são conjuaadas segundo sua sianiflcação; o indjferença à
sua existência as dispersa de novo". 68 A este procedimento de
disper são e conjunção espacial, junta-se um procedimento
para tornar espacial o tempo presente, na simultaneidade
dos acontecimentos em cena. Nas me táforas e mble máticas,
símbolo, mas por .isso mesmo sua iaua !". 64 há o uso de um vocabu lário concreto, de caráter totalme nte
Q uan do seref•ere as \ r c1açoes
- d e "seus
) ) romant1cos, bem

sensível. Como observa Cysarz: "Cada idéia, por mais abstrata
entendido os primeiros românticos, de Iena, Benjamin atribui- que seja, é comprimida numa imaaem, e essa imagem é impressa numa
lhes "uma pr<?Jimda compreensão da essência da aleaoria".65 Para palal'ra, por mais concreta que seja''. 69 Be njamin forn ece muitos
Benjamin, há urna relação profunda entre este romantismo c o exemplos de como o alcgorês provoca "monstwosas criações
barroco c o f,·agmento de Novalis se ne-lhe de confirmaç:ão: lingiiísticas"? 0
Benjamin insiste nesse caráter visual, material da
Poemas, bem-soantes e cheios de belas palavras, mas sem poesia barroca: "Essa poesia era de Jàto incapaz de liberar em
sentido e coerência - somente alaumas estrifes que sejam sons a pr?.Ji.rndidade en carcerada na imaa em escrita. Sua linguagem
compreensíveis - Jraamentos das coisas variadas. No permanece presa à matéria. Nunca haure uma poesia menos alada".
71

máximo, a poesia a utêntica pode ter um sentido aleaórico Ou: "som c escrita mantêm entre si uma polaridade tensa. Essa
e exercer um rj"eito indireto, como a música, etc. A natureza
relação_jimdo uma dialética, que justifica o estilo "bombástico" como
é, portanto, puramente poética e também o gabinete de 72
um aesto linaüístico plenamente intencional e construtiro".
urfl máaico ou de um físico, um quarto de criança, um
' - uma despensa. 6(> Foi esta tensão ente a escrita c o som que leYou o barroco
sotao,
à conside ração aprofundada da linguagem. Cysar z considera
a cxJstcncta de um ''b arroco da pa Iat'ra )) c dc mn "b arroco clo
• A •

Para Benjamin a comparação corn o fragme ntário, o


imagem". Para o barroco, a tensão e ntre a palavra falada c a
amontoado, o desordenado, não é acidental. Nasce ele uma
escrita é i ncomensurávcl. Pode-se dizer que a palaHa fa lada
mesma concepção de escr ita. Referindo-se a Jean-Paul, "o
é o êxtase da c riação, seu desnudamento, sua presunção, sua
maior ai<:.qorista entre os poetas alemães", Benjamin escreve:
impotência diante de Deus; a palavra escrita é con1.postura,
"Nenh um outro escritor permitiria a uma verdadeira história de
dignidade, superioridade, onipotência em face das coisas.
expressão romântica melhor ilustrar como o .fraamento e a ironia
Tal conccpç:iio dcriYa de uma teoria barroca da linguagem,

I
consciwcm metamo~jàses do a lcaórico. Em suma: a técnica romântica
formulado por Jacob Bochmc, que, cYidentemente, privilegia
conduz de mais de um ponto de rista à eifcra da emblemática c ela
)) 6- a linguagem Jàlada em sua idéia ele uma linauagem natural: 'il
a1eaorÍQ . I

!88 189
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

linouaoem falada é (...) a eifera da locução livre e primordial da estado de luto, pelo qual elas são responsáveis, j untamente
criatura, em contraste com a escrita visual ela aleaoria, que escraviza com o inrriaanu. OJ.lanclo o eco, eifera autêntica de
as coisas nos amplexos da sio nificação".73 um liVIc jOgo sonoro, é por assim dizer agredido pelas
Tal linguagem, que "escraviza as coisas nos amplexos da sia niflcaçôes, esseJato n ão podia deixar de ser l'isto como
sio n!flcação", abusará no uso dos anagramas, das expressões uma revelação do.Jenômen o ling iiístico, como aquela época
onomatopaicas e de vários ar t ifícios verbais em que o uso da o compreendia .'6
palavra, das sílabas e do som desligam-se de um contexto
significativo tr adicional. A li nguagem faz da fragmentação O exemplo que Benjami n dá é o da téc nica do uso do
uma rebelião contra a sua própria integridade: "a linouaoem eco, repetindo as últimas sílabas dos \'ersos para tecer, nesse
do barroco sempre foi sawclida por rebeliões, provocadas por seus recurso, a intriga que, sem ele, não existiria . O ba r roco
elementos constitutivos?1 Benjam in nos dá um belo exemplo aparece e ntão como "representação ela linguagem".77
dessa característica de rebeli ão da li nguagem contra seus Ainda no gue se refere a enorme importância da escrita
próprios recursos - c a edificação aí de um novo recurso - no barroco , Benjamin anali sa a teoria romântica clt' alegoria
quando em Jl1arianne, de Calclcrón, a personagem e nconlra os c as idéias sobre a escrita de J.W. Ritte r. Para Ritter, "todas as
fragme ntos ele uma carta rasgada, c ujo conteúdo talvez lhe artes plásticas - arquitetura, csculwra, pintura- perten cem à e~fcra
seja fata l c, este ndendo-os sobre a relva, te nta r econstituir- do que está escritO, transcrito, pós- escrito".?S Isto é, pa ra Rittc r
lhe o sentido - e, claro, encontra m uitos. A importância da toda a c riação é linguagem, criada por palan-as, pelas let ras.
escrita Yisual é tanta que foi no bar roco que se introduziu Para Benjamin, Ritter compreende a ,·erdadcira essência
? uso das maiúsculas na or tografia alemã. Essa linguagem da alegoria com essa co n ccp~·ão que toda imagem é sempre
lragmentada, fe ita de imagens, passa a habitar o mundo das imagem escrita. Esta concepção está muito perto dactuda
coisas mate rializa-se . É de seu fracionamento que resulta que o próprio Benjamin tem da escrita c que de tc rm ina o
essa in tensificação c essa verdadeira mudança ele natureza seu e norme interesse pelo barroco - a alegoria com o cha\-c
face à ling uagem falad a. "Para o barroco a palavra fa lada é c para a compreensão da cst(·t ica sua conte mporânea. A escrita
permanece pura mente sensual, ao passo que a palavra escrira éo nunca é instrumental - toda imagem é imagem esc r ila ''ela
reino da si.CJn!ficação". Na escri ta, as emoções represadas pela não é <jàstada, como uma escória. concluíclo o ato da lcirura. Ela é
sua co n ten~·ão proYocam o luto: absorricla no que é lido, é a :'finura" do lido".79 Poderíamos d izer
c1uc esta é a forma, a idéia do lido.
; I sionjficação (..) (é) o f undamento ela uisteza.75 '/1
conrersão do elemento p uramente sonoro da ling uaoem
da criatura na ironia , impreanacla ele si,qn!ficações, que
emana do intrigante, é a ltament e re1'eladora da relação
cnt re esse pcrsonaaem e a lina uaoem. O int riga nte é o
senhor das sianificaçõcs. Elas inibem o jlrJ:<O inocente de
uma lin,quaaem natural onomaropaica e origina m um

ICJO

I JtJ I
Alegorias da Dialética Alegoria barroca

NOTAS 25 Ibid., pp.l86-187.


26 F. Crem.cr, cit. W. Benjamin, lbid., p.l87.
27 Gõr rcs, por F. Cr euzer, c it. W. Benjamin, lbid. p.l 87.
Ver aqui, no capít u lo 2, a análise deste ensaio e da conceps·ão 28 W. Benjamin, o p.cit. p.l 87.
benjam iniana de linguagem . 29 Ibid., p . l88 .
2 Corrcspondancc, I, ed. cit. , p.278. 30 Ibid., p.l88.
3 Corrcsponclance, I. carta de 5 de no,·embro de 1924 , pp. 330- 31 Karls Gieh low, Die Hyeroalyphcnkuncle dcs Humanismus in
331. der Allesorie der Rennaissance, bcsonders der EhrnP.Jorte Kaisers
4 Cf.cartasdc 17 dcoutubro e 18de non:mbrode 1923;de20 c28 Maximialm, I, \:Vien, Leipzig, 19 15, cit. W. Benjamin, op.cit.,
de janeiro de 1924. Correspondance, 1, cd. cit. r espectivamente, p.189.
pp. 278, 283 ; pp. 304, 305. 32 Giehlow e Cesare Ripa, lconologia, Roma 1609, c it. por W.
5 Corrcsponclance. 1, cd. c it., p.284. Benjamin, op.c it., p.l 91.
6 lbicl., p. 284. 33 Picrio Va lcriano, F-licrogfxfica, Basiléia, 1556, c it. por W.
7 Bcrnd Wittc , in : Walt cr Benjamin, RowohltTaschenbuch Verlag, Benjamin , op.c it., p.l 92.
Gmbl l. , Hamburg, 1985, p. 25 . 34 Oriaem do drama barroco alemão, cd. cit., p.l 93.
8 Georgcs Stc incr, lncroduccion, in: The origin serman tragic drama, 35 Ibid.,p.196.
Ncw Lcft Books, Lo ndo n, 1977. 36 Karl Gichlow, op.cit. , cit. por W. Rcnjnrnin , p. l96.
9 Para uma expo~ i c;"àO minuc iosa destes fatos, le r Mommc · 37 Origem do drama barroco alemão, cd. c it. , p.l 97.
Rrodcrscn, um dos ma is importantes bióorafos de Be n1'am in 38 lbid ., p.197.
. 8 o , 39 lbid.,p.198.
rn: crVamin l.cben und I Vcrk; edição inolesa Waher Benjamin - a
Biography, Ed. Ve rso , Lomlon-:--.lew Y01:='k, 1996, p.l 32- 156 . 40 Ibid., p.200.
10 Gcorges Stcinc r, loc. ci t. 41 lbid. , p.198.
li Oriacm do drama barroco alemão, ed. cit. , p.181. 42 Pode-se observar que em Waltcr Benjamin , a escrita alegórica
12 IbiJ. ,p.I82. é ,·ista como síntese e ntre a intenção teológica c a ar tística .
13 lbid. , p.l 82 . Síntese que não é conciliação, mas trégua.
14 lbid., p.l 82. 43 lbid. , p.201.
15 lbid., p.l 82. +4 Ibid., p.200.
16 lbid ., p. l83 . 45 lbid. , pp. 200-201.
17 lbid. , p.l 83 . 46 lbid., p.201.
18 lbid., pp.l 83 -184. 47 Ibid., p. 20 1.
19 lbid ., p.l 84. 48 lbid., p. 202.
20 Ibid. , p.1 84. 49 lbid., p. 202.
21 Ver íl<tlli, capítulo 3. 50 J. Winckclmann, lí:rsuch cincr ti iJcsoric Bcsonclcrsj{ir di e Kunst,
22 lbid., p. l85 . Lcipzig 1866, cit. por W. Benjamin, op.cit., p.203.
23 Friedrich Creu'l.cr : Symbolik und illytholoaie der a!t cn Véilkcr, 51 Origem do drama barroco alemão , cd ., ci t. , p.203 .
bcso~1clcr.~ clcr Cricchcn, Lcipzig, Darmstadt, 1819, cit. po r W . 52 lbid., p.203.
BcnJamrn , Origem do drama barroco alemão, ed. cit., pp.l 85 - 53 lbid.,p.204.
186. 54 lbid. , pp.51,53.
24 lbid. , p.1 86. 55 lbid., p. 204. Ver, para os conceitos de Wahrheitsehalt e

/9~ /1)3
Alegorias da Dialética

Sachochalt, o capítulo 3, O Ser das Idéias.


56 lbid., p.205.
57
58
Ibid., p.206.
lbid., p.206.
5
59 lbid., p.206.
60 lbid., p.207.
61 Ibid., p.207. ALEGORIA MODERNA
62 Ibid., p.208.
63 Ibid., p.208.
64 Ibid., p.209.
65 Ibid. , p. 209.
66 Noval is, in: Schr!ften, 2, Icna, 1907, cit. por 'vV. Benjamin.
67 Oriacm do drama barroco alemão, ed. cit., p. 210.
68 Jhid . p.210. Tema persistente na obra de Benjamin, uma refl exão sobre
69 H. Cysarz, in: Deutsche Barockdichtuna. Rcnaissancc, Barock, a experiência (Eifahnma) está presente tanto nos escritos
Rokoko, Leipz.ig, 1924, cit. por W. Benjamin, p.222 . juven is, 1 como nos textos dos anos 30. Do pequeno artigo
70 CC exemplos, em especia l, da pcya de Hallmann "Marianne",
de 1913, "Erfahrung", 2 aos e nsaios sobre Baudclaire, duas
p.2 22 .
71 Oriacm do drama barroco alemão, cJ. cit., p.222. décadas depois, é m antida a preoc upação em clabo1·ar um
72 Ibid. , p. 223. conceito de experiência ar ti cu lado à construção de novas
73 Ibid., p. 224. categorias de temporalidacle, re lacio nadas à valorização elo
74 Jbid., p.229. presente e à crítica da concepção de um passado imobilizado.
75 Ibid. , p.23 1. Em "Erfa hrung", m esmo que o conceito seja entendido no
76 Jbid., p.231.
âmbito mais r estrito da vida dos indidduos, o ângulo ela ,·isão
77 Jbid ., p.232.
78 J. vV. Rittcr, Fraomente aus dem Nachlasse einen juaen Physikers Ein de Benjamin abre perspecti\'aS muito ricas . Rejeitando a
Taschcnbuchjtir Freunclc der l\'utur, Heidelberg, 18 1O, cit. por W. compreensão habitual do termo, isto é, a de conhecimento ela
Benjamin, p. 236. \'ida pelos m ais velhos que equi\'aleria a conceber experiência
79 Oriacm do drama barroco alemão, ed. , cit. , p. 236 . como repetição do passado, Benjam in remete à ex igência
de se constituir um novo conceito de experiência que a
reconcilie com o novo, recuperando a sua d imensão original
ele te ntativa e de risco. Presa ao passado, a compreensão da
experiência dos mais velhos é o domínio de um "sempre iaual"
paralisante do qual Benjam in quer fa zer emergir, liberta, a
nov idade do presente, a qu e chama de "uma outra experiência"
("eine andere Eifahrung") que questionará sempre o passado
como repetição mitológica do mesmo.
No ensaio de 1918, "Sobre o programa da filosofia
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