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EFA - TÉCNICO DE SEGURANÇA NO TRABALHO

MANUAL
UFCD 10332
Agentes físicos avaliação e controlo de riscos

Formador: Joana Moreira

2022
OBJETIVO(S) DA UFCD 10332

No final da formação, pretende-se que os formandos:

Identificar os princípios e domínios da Higiene do Trabalho.


Aplicar métodos e técnicas de avaliação e controlo da exposição aos
agentes químicos e biológicos.
Aplicar procedimentos de verificação dos instrumentos de medição.

OBJETIVO(S) DA UFCD 10332

gentes físicos
o Ruído, Vibrações, Iluminação, Ambiente térmico (stresse e conforto
térmico), Radiações (ionizantes e não ionizantes)
o Enquadramento legal e normativo
o Conceitos
o Valores- limite de exposição, valores de ação e valores de
referência
o Efeitos nocivos para a saúde
o Doenças profissionais
o Doenças relacionadas com o trabalho
o Grupos vulneráveis
o Avaliação e controlo de riscos
o Parâmetros e unidades de medição
o Equipamentos de medição e seus princípios de funcionamento
o Metodologia e estratégia de amostragem
Identificação/localização dos pontos de medição
Duração e momentos da amostragem
Número e frequência de amostras
Tratamento estatístico de resultados
o Interpretação dos resultados
o Medidas de prevenção e de proteção coletiva e individual
Procedimentos de verificação dos instrumentos de medição
o Verificação
o Ajuste
o Utilização
Comunicações/notificações obrigatórias aos organismos reguladores
Índice
AMBIENTE TÉRMICO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 1
2. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL ............................................................................................ 1
3. CONFORTO TÉRMICO ............................................................................................................................. 3
4. AMBIENTES TÉRMICOS QUENTES ......................................................................................................... 14
5. AMBIENTES TÉRMICOS NEUTROS ......................................................................................................... 17
6. Ambientes Térmicos Frios (baixas temperaturas) ............................................................................. 18
7. Índices de Conforto............................................................................................................................ 20
8. Índices de Stress Térmico ................................................................................................................. 24
9. Enquadramento Legal ....................................................................................................................... 30
RADIAÇÃOES
1. CONCEITOS BÁSICOS........................................................................................................................... 31
2. RADIOACTIVIDADE ............................................................................................................................... 35
3. GRANDEZAS E UNIDADES DE RADIAÇÃO ............................................................................................... 37
4. RADIAÇÕES IONIZANTES ...................................................................................................................... 38
5. RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES ....................................................................................................... 50
RUÍDO
1. O SOM ............................................................................................................................................... 68
2. RUÍDO ............................................................................................................................................... 69
2.1. GRANDEZAS FÍSICAS E UNIDADES ACÚSTICAS .......................................................................... 70
2.2. CURVAS DE PONDERAÇÃO ............................................................................................................ 74
2.3. BANDAS DE OITAVA ........................................................................................................................ 74
2.4. O OUVIDO HUMANO ........................................................................................................................ 75
2.5. EFEITOS DO FISIOLÓGICOS DO RUÍDO ........................................................................................ 76
2.6. EXPOSIÇÃO PROFISSIONAL AO RUÍDO ........................................................................................ 78
2.7. MEDIÇÃO DO RUÍDO ....................................................................................................................... 82
VIBRAÇÕES
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 86
2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS VIBRAÇÕES ......................................................................................... 86
3. CLASSIFICAÇÃO DAS VIBRAÇÕES.......................................................................................................... 90
4. FONTES DE VIBRAÇÕES ....................................................................................................................... 90
5. TRANSMISSÃO DAS VIBRAÇÕES ............................................................................................................ 91
6. EFEITOS DAS VIBRAÇÕES..................................................................................................................... 92
7. MEDIÇÃO DAS VIBRAÇÕES ................................................................................................................... 96
8. VALOR LIMITE DE EXPOSIÇÃO E VALOR DE ACÇÃO .............................................................................. 103
9. MEDIDAS DE INTERVENÇÃO E CONTROLO ........................................................................................... 105
10. EQUADRAMENTO LEGAL..................................................................................................................... 106
BIBLIOGRAFIA
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CAPÍTULO 1

AMBIENTE TÉRMICO

1. INTRODUÇÃO

O homem desde sempre se esforçou por criar condições para viver numa temperatura confortável.
A preocupação do homem ao longo dos tempos originou a criação de dispositivos como fogueiras,
lareiras, fogões de sala, recuperadores de calor, ventoinhas e aparelhos de ar condicionados,
assim como preocupações com o local onde se constroem as habitações e, ultimamente,
preocupações com o seu isolamento térmico.
O ambiente térmico desempenha um papel fundamental na melhoria das condições de trabalho,
bem como da qualidade de vida. Considera-se que a ausência de conforto térmico pode originar
alterações nas reacções humanas afectando desta forma o seu comportamento, nomeadamente
no que diz respeito ao mau relacionamento interpessoal e hierárquico, más posturas, absentismo,
etc.
O ambiente térmico é definido como o conjunto de variáveis térmicas do posto de trabalho
que influenciam o organismo do trabalhador, constituindo assim um factor que de forma
directa ou indirecta afecta a saúde e bem estar do trabalhador, bem como a realização do
seu trabalho.
A Norma ISO 7730 refere que “o ambiente térmico condiciona o estado de espírito das pessoas”.
A homeotermia, manutenção da temperatura do corpo, garante um funcionamento óptimo das
principais funções do organismo e em particular do sistema nervoso.
Esta é assegurada quando o fluxo de calor produzido é igual ao fluxo de calor cedido ao ambiente,
isto é, o calor gerado no corpo tem de ser cedido, em cada instante, ao ambiente, de modo a que
a temperatura do corpo permaneça constante.

2. REGULAÇÃO DA TEMPERATURA CORPORAL

O corpo humano, na sua contínua troca térmica com o ambiente, tem um sistema de controlo que
mantém a temperatura interna do corpo no intervalo 37  0,8ºC.
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Fig. 1: Manutenção da temperatura interna do corpo (fonte [1])

Este sistema de controlo, situado perto do Hipotálamo supervisiona a regulação térmica do


organismo, funcionando como “termóstato”:
1 - As células nervosas do centro regulador recebem informações relativas à temperatura
de todas as partes do corpo, seja directamente, seja através de nervos cutâneos sensíveis
ao calor;
2 - Depois, o centro termorregulador envia ordens de comando necessárias para o
controlo dos mecanismos reguladores que devem manter constante a temperatura central;
é desta forma que são controlados o calor do organismo a sua difusão pelo sistema
circulatório e a perda de calor pela sudação.
Quando ocorrem variações na temperatura, a parte posterior do hipotálamo mobiliza as respostas
fisiológicas para obter o ajuste necessário. Estes ajustes são representados por:
➢ Aumento do fluxo sanguíneo periférico para transporte do calor acumulado desde as regiões
mais profundas do organismo até à pela e eliminação por condução, radiação e convecção;
➢ Aumenta da actividade das glândulas sudoríparas e a consequente sudorese devido ao calor
transportado até à pele.
Este conjunto de acções é projectado para dissipar o calor e trazer a temperatura do corpo para o
ponto de ajuste.
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Fig. 2: Funcionamento do Hipotálamo (fonte [5])

Em certos ambientes de trabalho, a igualdade entre os fluxos de calor pode realizar-se de uma
forma agradável e não prejudicial para o homem – ambientes moderados ou neutros – no entanto
na maioria dos casos a homeotermia só é assegurada devido a alterações fisiológicas que dão
lugar a situações de “desconforto” - ambientes severos (quentes ou frios).

3. CONFORTO TÉRMICO
O conforto térmico é uma sensação subjectiva, já que depende de aspectos biológicos, físicos e
emocionais de cada pessoa, não sendo desta forma possível, num mesmo ambiente, satisfazer a
todos os ocupantes uma determinada condição térmica.
O seu estudo tem por objectivo a determinação das condições ambientais que proporcionem o
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conforto térmico ao maior número de pessoas possível.


Os factores com influência na análise do conforto térmico dividem-se em quatro classes de
parâmetros:

➢ Expectativas de conforto face


ao ambiente térmico

➢ Sexo Parâmetros
➢ Idade Socioculturais
➢ Peso
➢ Estado de saúde
➢ Tempo de ➢ Temperatura do ar
permanência num ➢ Humidade do ar
Parâmetros Conforto Parâmetros
local adverso ➢ Velocidade do ar
Individuais Ambientais
➢ Frequência de Térmico ➢ Temperatura média
utilização desses radiante
espaços
➢ Actividade
desenvolvida Parâmetros
➢ Vestuário utilizado Arquitectónicos

➢ Adaptabilidade ao ambiente térmico


➢ Contacto visual com o ambiente exterior

Fig. 3: Factores que influenciam o Conforto Térmico

3.1. Parâmetros Ambientais


As trocas de calor entre o homem e o ambiente podem ocorrer por quatro vias diferentes:
condução, convecção, radiação e evaporação.

Condução
A condução consiste na transferência de calor através de uma superfície de contacto entre um
corpo quente e um corpo frio.
Depende da condutividade dos objectos em contacto com a pele. A condutividade dos materiais
é importante para a escolha de revestimentos de solo (corticite, linóleo, madeira), mobiliário e
partes de objectos que devem estar em contacto com o Homem (pontos a serem recobertos
com madeira, couro, plásticos);
É necessário evitar a perda de calor pelo contacto com os objectos quer se trate dos pés ou de
qualquer outra parte do corpo, não só porque a impressão é desagradável mas também pelos
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riscos de reumatismo e artrite.


O fluxo de calor por condução não é geralmente considerado no balanço térmico porque as
superfícies do corpo (pés, mãos, nádegas) em contacto com outro corpo são pequenas em
relação à superfície total.
Convecção
A convecção é a transferência de calor através da pele e do ar que a rodeia. O corpo perde calor
quando a temperatura da pele é superior à do ar e vice-versa. As trocas de calor por este
mecanismo representam cerca de 25 a 30%.
Radiação
A radiação é a transmissão de calor através do meio ambiente por ondas electromagnéticas
sobretudo na zona do infravermelho, porque todas as substâncias irradiam energia térmica.
Quando a radiação incide sobre um corpo, pode ser reflectida, transmitida ou absorvida. Quando
absorvida surge como calor no corpo.
Evaporação
A evaporação transporta o calor latente e constitui uma perda de calor para o organismo através
da respiração e da sudação ao nível da pele, arrefecendo a sua superfície.
As temperaturas ambientes, das paredes e do ar, superiores a 25ºC, o corpo humano vestido
não pode eliminar o calor pela convecção ou radiação, restando apenas a sudação;

Fig. 4: Trocas de Calor com o Ambiente (fonte [5])


O equilíbrio térmico tem lugar quando a produção interna de calor devido ao metabolismo é igual
à perda de calor para o ambiente.
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Assim, o balanço térmico é representado pela seguinte equação:
M = K  C  R  E
em que:
M – metabolismo (W/m2)
K – fluxo de calor por condução (W/m2)
C – fluxo de calor por convecção (W/m2)
R –fluxo de calor por radiação (W/m2)
E – fluxo de calor por evaporação (W/m2)

 Se a Temperatura Ambiente for menor que a da pele e não houver calor R a influenciar, então
o corpo dissipa calor:
M=C+R+E

 Se a Temperatura Ambiente for inferior à da pele, mas se R for superior à da pele, então:
M+R=C+E

 Se a Temperatura Ambiente for mais elevada que a da pele e R for insignificante, então:
M+C=R+E
 Se a Temperatura Ambiente e R forem superiores à da pele, então:
M+C+R=E
Neste caso entramos num limite perigoso porque o arrefecimento da pele só pode ser feito pela
sudação.

Na análise dos parâmetros ambientais e devido aos efeitos de convecção, radiação e


evaporação,é necessário ter em conta:
 a temperatura do ar;
 a humidade do ar;
 a velocidade do ar; e
 o calor radiante.
Temperatura do Ar
A influência da temperatura do ar na troca térmica entre o organismo e o meio ambiente pode
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ser avaliada, observando-se a diferença, positiva ou negativa, existente entre esta temperatura
e a temperatura da pele. Quando a temperatura do ar é maior que a temperatura da pele, o
organismo recebe calor por convecção. Quando a temperatura do ar é menor que a temperatura
da pele, o organismo perde calor pelo mesmo mecanismo.
A quantidade de calor recebida ou perdida é directamente proporcional à diferença existente
entre as temperaturas, em cada um dos casos.
A temperatura do ar exprime-se em graus centígrados (ºC) ou Fahrenheit (ºF) e pode ser medida
com termómetros de dilatação de líquidos, termopares, termístores e termómetros de
resistência. O bolbo dos termómetros de dilatação de líquidos deve estar protegido contra
eventuais fontes de calor radiante.
Conforme o sistema de temperaturas utilizado, podemos calcular valores equivalentes noutras
escalas, com as seguintes fórmulas:
1
1K = 1,8º R T (K ) = (º F − 32) + 273,15
1,8
1
T (º F ) = 1,8( K − 273,15) + 32 T (º C ) = ( R − 492)
1,8
K◆Kelvin R◆Rankine
ºF◆Fahrenheit ºC◆Celsius

Humidade do Ar
A humidade do ar intervém na determinação de trocas de calor por evaporação. Embora,
teoricamente, o organismo humano possa perder 600 Kcal/hora pela evaporação do suor, esta
razão poderá ser diminuída em função da humidade relativa do ar. Se por exemplo, a humidade
relative do ar for 100%, este estará saturado de vapor de água, o que certamente dificulta a
evaporação do suor para o meio ambiente. Neste caso, a perda de calor por evaporação será
reduzida. Se, por outro lado, a humidade relativa do ar for 0%, ocorrerá condução para o
organismo perder 600 Kcal/hora para o ambiente.
Observando-se o que ocorre nos dois extremos acima descritos, torna-se fácil perceber que
quanto maior é a humidade relativa do ar, menor será a perda de calor por evaporação.
As grandezas ligadas à quantidade real de vapor de água contido no ar caracterizam a humidade
absoluta do ambiente. As grandezas que dão conteúdo em vapor de água do ar, relativamente
à quantidade máxima que ele pode conter a uma determinada temperatura, caracterizam a
humidade relativa.
A humidade do ar pode ser medida por intermédio de um higrómetro de bolbo seco ou húmido.
Caso se pretenda obter o valor da humidade por um tempo mais ou menos dilatado são
utilizados termohigrófagos que registam num gráfico a evolução.
A humidade relativa pode ser obtida por intermédio de um aparelho denominado psicrómetro,
composto por dois termómetros, um bolbo seco e outro húmido.
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Fig. 5 e 6: Psicrómetros
Velocidade do Ar
A velocidade do ar intervém na determinação das trocas de calor por convecção e evaporação.
No mecanismo de troca de calor por convecção, o aumento da velocidade do ar acelera a troca
de camada de ar próximas ao corpo, aumentando o fluxo de calor entre este e o ar. Portanto, se
a temperatura do ar for menor que a temperatura do corpo, o aumento da velocidade do ar
implicará em maior perda de calor do corpo para o meio. Mas se a temperatura do ar for maior
que a temperatura do corpo, este recebe mais calor com o aumento da velocidade do ar. Conclui-
se, neste caso, que a variação da velocidade do ar pode ter uma acção positiva ou negativa na
transferência de calor por convecção.
No mecanismo da evaporação, o aumento da movimentação do ar perto da superfície do corpo
implica na remoção da camada de ar próxima da pele, que se encontra com alto teor de vapor
de água, proveniente da evaporação do suor. Desta forma, evita-se que a camada de ar que
envolve o corpo fique com uma humidade relativa superior à do ambiente e dificulte a
evaporação do suor. Observa-se que o aumento da velocidade do ar facilita a perda de calor por
evaporação.
A velocidade do ar é uma grandeza difícil de medir, devido às flutuações rápidas em intensidade
e direcção no tempo.
A medição desta grandeza pode ser feita através de um anemómetro.
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Fig. 7 e 8: Anemómetro e Príncipio de Funcionamento

Calor Radiante
As temperaturas de todas as superfícies dos corpos da envolvente próxima do trabalhador
(paredes, tectos, superfícies das máquinas, superfícies e planos de trabalho, etc...) estão
continuamente a trocar calor radiante.
Em geral, o calor radiante é medido por um aparelho denominado de globo. O material empregue
neste globo é cobre, sendo o seu exterior pintado de negro-mate para absorver a radiação
infravermelha na sua quase totalidade. O bolbo encontra-se no interior do globo para não sofrer
influências de condução e de convecção do ambiente.
Nota: Hoje em dia, o mercado oferece uma gama de equipamentos para medição dos
parâmetros térmicos assistidos por computador e cuja captação é constituída por sondas
electrónicas, com elevado grau de precisão.
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Fig. 9: Termómetro de globo (Rimiotto- Instrumentos de Medição)

Existem equipamentos que funcionam como estações meteorológicas que utilizam os sensores
necessários para a determinação do ambiente térmico e calculam de imediato os índices de
conforto térmico.

Fig. 10: Estação Meteorológica – BABUC (Cartesio Instumenti)

3.2. Parâmetros Individuais

Actividade e Metabolismo
Metabolismo é o calor produzido pelo próprio organismo, resultante do conjunto de todos os
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processos físicos e químicos através dos quais se mantém a vida dos organismos vivos.

Podemos dividir a actividade metabólica em duas partes:


 Metabolismo Basal: quantidade mínima de calor produzida pelo indivíduo em repouso físico
e intelectual a uma temperatura ambiente de 20 ºC, alguns instantes após o despertar
matinal.
 Metabolismo de Relação ou Actividade: fluxo de calor produzido devido à actividade física e
mental desenvolvida pelo trabalhador no exercício da sua actividade.
O metabolismo é, desta forma, função das diferentes parcelas de fluxos energéticos e depende
da superfície corporal de um indivíduo.

Calor metabólico = Metabolismo Basal + Metabolismo de Actividade


“Para efeitos do cálculo metabólico, considera-se o homem padrão – jovem, físico e saúde
superiores ao normal e aclimatado ao calor (30 anos, 70 Kg, 1,73 m de altura e 1,8 m 2 de
superfície corporal). Para mulheres considera-se 85% do valor metabólico e 75% para crianças.”

A área de superfície corporal depende do peso a da altura do indivíduo e pode-se calcular pela
seguinte equação:
A = 0,202  m0, 425  h0,725
Em que:
A – área da pele de um individuo (m2);
H – altura (m)
P – peso (Kg)

Relação entre actividades desenvolvidas e o metabolismo


Para se simplificar a análise do metabolismo, calculado em W/m2, definiu-se uma unidade
denominada met, onde 1 met corresponde ao metabolismo de um indivíduo sentado em repouso
e que equivale a 59 Kcalm-2h-1 (58,15 W/m2)
O metabolismo pode ser expresso em várias unidades: met, Wm-2, Kcalm-2h-1 ou simplesmente
Kcalh-1.
A avaliação do consumo metabólico pode ser realizada por:
➢ Calorimetria directa (através de um colorímetro);
➢ Calorimetria Indirecta (através dos alimentos, oxigénio, frequência cardíaca, etc.)
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A seguir apresenta-se o metabolismo para algumas actividades.
Tabela 1: Relação entre a actividade desenvolvida e o correspondente nível de metabolismo.

Tabela 2: Estimativa do consumo metabólico, quanto à posição e ao movimento do corpo (segundo a AGGIH).

Tabela 3: Estimativa do consumo metabólico, quanto ao tipo de trabalho desenvolvido (segundo a AGGIH).

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Vestuário
O vestuário constitui uma barreira térmica mais ou menos eficaz, entre a superfície cutânea e o
ambiente. Esta barreira age tanto sobre as trocas de calor convectivas e radiantes, como sobre
as trocas de calor por evaporação.
Quando o homem está vestido, cria-se um microclima em volta da superfície cutânea coberta,
cuja temperatura de radiação característica é a face interna do vestuário.
Do mesmo modo que o metabolismo, o vestuário apresenta uma unidade simples e prática, o
clo, que corresponde à resistência térmica de 0,155 m2K/W. De um ponto de vista prático,
corresponde ao isolamento térmico assegurado por um vestuário padrão (fato, camisa, gravata,
colete, sapatos, meias).
As tabelas seguintes mostram os diferentes valores da resistência térmica do vestuário (I clo),
consoante se considere ou não combinações de roupas.

Tabela 4: Valores típicos de combinações de vestuário de trabalho (ISO 7730)


I I
Vestuário Vestuário
clo m2K/W clo m2K/W
Cueca, macaco, meia cima e Cueca tipo calção, camisa, calcas, casaco, casaco
sapatos 0.70 0.1090 térmico, meia curta e sapatos 1.25 0.1938

Cueca, camisa, calças, meia Cueca tipo calção, macaco, casaco térmico, alças, meia
curta e sapatos 0.75 0.1163 curta e sapatos l.40 0.2170

Cueca, camisa, macaco, meia Cueca tipo calção, camisa, calças, casaco, casaco
curta e sapatos 0.80 0.1240 térmico, calças térmicas, meia curta e sapatos 1.55 0.2403

Cueca, camisa, calças, casaco, Cueca tipo calção, camisa, calças, casaco, macacão,
meia curta e sapatos 0,85 0.1318 casaco de penas, meia curta e sapaljs 1.85 0.2868

Cueca, camisa, calças, camisola, Cueca tipo calção, camisa, calças, casaco, macacão,
meia curta e sapatos 0.90 0.1395 casaco de penas, meia curta, sapatos, boné e luvas 2.00 0.3100

Cueca tipo calção, camisa,


Ceroulas, camisa, calças, casaco térmico, outras calças
calcas, casaco, meia curta e 1.00 0.1550 2.20 0.3410
e outro casaco térmico, meia curta, wpatos
sapatos

Cueca tipo calção, camisa, Ceroulas, camisa, calças, casaco térmico, parca com
calcas, macaco, meia curta e 1.10 0.1705 penas, macacão com penas, meia curta, sapatos, boné 2.55 0.3953
sapatos e luvas

Ceroulas, casaco térmico, meia


curta e sapatos 1.20 0.1860
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Tabela 5: Resistência térmica para peças de vestuário individualizadas (ISO 7730)
Peça de vestuário Iclo Peça de vestuário Iclo
Roupa interior Pulôveres, camisolas
Cuecas 0.03 Sem mangas 0.12
Cueca tipo calção 0,10 Malha fina de lã 0.20
Camiseta 0.04 Malha de lã 0.28
T-shirt 0.09 Malha grossa de lã 0.35
Camisa de manga comprida 0.12 Casacos
Cueca com cinta 0.03 Ligeiro de verão 0.25
Camisas ou blusas Meia estação 0.35
Manga curta 0.15 Normal, caseiro 0.3 0
.Aligeiradas de mangas compridas 0.20 Roupa de grande isolamento.
fibra-pelt

Normais, mangas compridas 0.25 Batas, sobretudos 0.90


Camisas de flanela de mangas compridas 0.30 Calças 0.35
Blusa aligeirada de mangas compridas 0.15 Casacos 0.40
Calças Colete 0.20
Calções 0.06 Roupa para intempérie
Aligeiradas 0.20 Casacão 0.60
Normais 0,25 Casaco comprido 0.55
Flanela 0.2S Parca 0.70
Vestidos ou saias Sobretudo de fibra-pelt 0.55
Saia aligeirada de verão 0,15 Diversos
Saia de inverno 0,25 Meias curtas 0.02
Vestido ligeiro com mangas curtas 0,20 Meias curtas com reforço 0.05
Vestido de inverno com mangas compridas 0.40 Meias de- cano alto. reforçadas 0.10
Bata impermeável 0.55 Meias de nylon 0.03
Pulóveres. camisolas Meias curtas de sola fina 0.02
Sem mangas 0.12 Meias curtas de sola grossa 0,04
Sapatos 0,10
Luvas 0,05
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4. AMBIENTES TÉRMICOS QUENTES


Em ambientes cuja temperatura é elevada, o organismo defende-se de forma a manter o equilíbrio
metabólico. Em situações mais graves podem ocorrer danos irrecuperáveis, nomeadamente no
caso do golpe de calor.
Em muitos casos são necessários meios auxiliares para controlar o ambiente térmico, uma vez
que a resistência humana tem os seus limites.
Os ambientes térmicos quentes são aqueles para os quais o balanço térmico, calculado na base
das trocas de calor por radiação, evaporação e convecção, é positivo. Stress térmico por efeito do
calor pode ocorrer devido a:
a) Aumento da temperatura corporal (aumento da taxa metabólica);
b) Aumento da temperatura do ar;
c) Aumento da temperatura radiante média;
d) Modificação da velocidade do ar, quando a temperatura do ar é superior à
temperatura da pele;
e) Aumento da humidade do ar.

4.1. Sintomas do Stress Térmico:


a) Cessação de
transpiração;
b) Queimaduras;( dermatites
térmicas)
c) Tremores;
d) Irritabilidade;
e) Desorientação;
f) Golpe de calor;
g) Esgotamento por calor;
h) Desidratação;
i) Défice salino;
j) Aumento da sudação;
k) Cataratas e conjuntivites;
l) Diminuição da agilidade mental.

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4.2. Consequências do Stress Térmico
➢ Fadiga física;
➢ Diminuição da produtividade;
➢ Aumento dois erros;
➢ Acidentes;
➢ Riscos de distúrbios devido à temperatura.

Quando as respostas fisiológicas ao desequilíbrio térmico falham, podem ocorrer as


seguintes reacções:
a) Erupções cutâneas;
b) Cãibras musculares e abdominais;
c) Exaustão:
 suores prolongados que conduzem à desidratação;
 sede, fraqueza, dores de cabeça que conduzem à descoordenação;

d) Síncope
 insuficiência circulatória;
 visão turva;
 desmaio;
e) Colapso
 exposições extremas que originam calafrios, convulções e por fim a
inconsciência.
f) Morte.

4.3. Medidas de Prevenção/Protecção


Os meios de acção sobre o stress térmico são numerosos. Há a considerar,
fundamentalmente, as medidas estruturais ou construtivas; as medidas organizativas e
as medidas de protecção individual.

Medidas Estruturais de Controlo


1. Construção de edifícios eficazes em termos de ventilação natural;
2. Instalação de sistemas de ventilação adequados;
➢ ventoinhas
➢ exaustores;
➢ refrigeradores;
➢ ar condicionado.
3. Colocação de painéis protectores contra radiação;
4. Sistemas de rega colocados do modo estratégicos para diminuir a temperatura
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(por arrastamento da energia térmica captada pela água), sobretudo em


coberturas.

Medidas Organizacionais
1. Implementar os locais de trabalho isolados das fontes de calor;
2. Projectar o trabalho de modo a proporcionar pausas para repouso, rotatividade
de tarefas e realização do trabalho quente nos períodos mais frescos do dia;
3. “Impor” medidas adequadas de Higiene Alimentar
➢ ingestão de água frequentemente em pequenas quantidades de cada
vez;
➢ optar por beber água; só ocasionalmente chá ou café:
➢ ingerir bebidas a uma temperatura de cerca de 12 ºC;
➢ evitar bebidas geladas, sumos de fruta, leite e bebidas alcoólicas;
➢ procurar ter uma alimentação rica em sais minerais e sal, de modo
controlado.

Medidas de Protecção Individual


Fornecer aos trabalhadores vestuário próprio adequado, bem como EPIGEU (óculos,
luvas, aventais, etc.,...) para todos os trabalhadores expostos às fontes de calor.

5. AMBIENTES TÉRMICOS NEUTROS


Um ambiente neutro é um ambiente no qual a produção de calor metabólico e equilibrada
pelas perdas de calor por convecção, radiação, condução e evaporação, sem que o
indivíduo tenha de lutar contra o calor ou contra o frio.
Um ambiente confortável é um ambiente neutro para o qual os parâmetros fisiológicos que
determinam a sensação de calor têm um valor óptimo. Estes parâmetros fisiológicos são,
segundo Fanger (1973), a temperatura cutânea média e o débito de sudaçoes
A sensação de conforto térmico ocorre quando são simultaneamente satisfeitas as
seguintes condições fisiológicas de conforto térmico em regime estável:
− equilíbrio térmico sem ganhos, nem perdas de calor;
− a ausência de arrepios;
− o débito de sudação óptimo;
− a temperatura cutânea média óptima (função do nível metabólico);
− a pele relativamente seca;
− a ausência de secura nas mucosas bucofaríngeas.

A temperatura cutânea óptima é dada pela seguinte expressão:

TSopt = 35,7 − 0,028  M


em que:
TSopt - temperatura cutânea óptima (ºC)
M - metabolismo energético (W/m2)
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A zona óptima de conforto desloca-se ao longo de uma escala de temperaturas, em função de


alguns factores intrínsecos e extrínsecos. Entre estes podem-se citar a humidade e a
velocidade do ar, a radiação e a aclimatização.
Fig. 11: Zonas de Conforto para indivíduos vestidos e em repouso

6. Ambientes Térmicos Frios (baixas temperaturas)

Em ambientes cuja temperatura é baixa, o organismo pode sofrer danos devido a uma relação
directa entre o tempo de exposição e as condições de protecção corporal. No conjunto dos
efeitos nocivos, deva haver especial cuidado face àqueles que resultam do chamado choque
térmico que, geralmente ocorre aquando de um abaixamento brusco da temperatura.
Pág.18
6.1. Efeitos do stress térmico:
a) Enrelegamento dos membros;
b) Deficiente circulação sanguínea;
c) Ulcerações diversas decorrentes da necrose dos tecidos;
d) Frieiras, eritrocianoses;
e) Pé-das-trincheiras;
f) Postura hirta;
g) Redução das actividades motoras, destreza e força;
h) Diminuição da capacidade de raciocínio;
i) Tremores,
j) Alucinações e inconsciência.

6.2. Medidas de Prevenção/Protecção


Os meios de acção sobre o stress térmico são numerosos. Há a considerar,
fundamentalmente, as medidas estruturais ou construtivas; as medidas organizativas e
as medidas de protecção individual.

Medidas Estruturais de Controlo


1. Construção de edifícios eficazes em termos de ventilação natural, de modo a não
provocar correntes de ar incómodas;
2. Instalação de sistemas de ventilação adequados, com excepção de locais onde
não é possível a instalação destes equipamentos como as câmaras frigoríficas)
➢ Aquecedores;
➢ ar condicionado;
3. Colocação de painéis protectores contra o movimento do ar sobre o trabalhador.
4. Construção de zonas intermédias de aclimatização.

Medidas Organizacionais
1. Projectar o trabalho de modo a proporcionar pausas de repouso e aclimatização.
2. “Impor” alimentação rica em calorias, de modo controlado
3. Beber bebidas quentes.
Medidas de Protecção Individual
Fornecer aos trabalhadores vestuário próprio adequado, bem como EPI’s (óculos,
luvas, aventais, bonés, casacões, etc,...) para todos os trabalhadores expostos ao frio,
em cujo espaço não seja possível o recurso a aquecedores de ar.
Pág.19
7. Índices de Conforto

7.1. Índice PMV-PPD


O índice PMV (Predicted Mean Vote) representa o voto médio de um grupo importante de
pessoas em termos de sensação térmica, segundo uma escala com os seguintes níveis:
+3 Quente
+2 Tépido
+1 Ligeiramente tépido
0 Neutro
-1 Ligeiramente fresco
-2 Fresco
-3 frio
Este índice pode ser determinado a partir do metabolismo, do vestuário e dos parâmetros
ambientais.
O índice PPD (Predicted Percentage of Dissatisfied) estabelece uma previsão quantitativa do
número de pessoas insatisfeitas.

O método desenvolvido por Fanger (1972) e adaptado na Norma ISO 7730 tem por base a
determinação do índice PMV (Predicted Mean Vote) calculado a partir de uma equação de
balanço térmico (ver figura 12) para o corpo humano, em que intervêm os termos de geração
interna e de troca de calor com o ambiente circundante.

Pág.20

Figura 12 – Balanço Térmico do Corpo Humano


O valor do índice de conforto térmico PMV, que é uma estimativa da votação média previsível
de um painel de avaliadores relativamente a um dado ambiente térmico, é calculado pelo
método desenvolvido por Fanger (1972). Este autor estabeleceu um modelo de correlação
entre a percepção subjectiva humana, expressa através da votação numa escala de conforto
que vai de -3 (muito frio) a +3 (muito quente), e a diferença entre o calor gerado e o calor
libertado pelo corpo humano, ao qual corresponde a seguinte equação:

PMV = (0,303e-2,100*M + 0,028)*[(M-W)- H - Ec - Cres - Eres] (Eq.1)

em que os diferentes termos representam, respectivamente:

M - Nível de actividade metabólica;


W - Trabalho mecânico exterior;
H - Perda de calor sensível;
Ec - Trocas de calor por evaporação na pele;
Cres - Trocas de calor por convecção na respiração;
Eres - Trocas de calor evaporativas na respiração.

Na equação 1, os termos H, Ec, Cres, e Hres correspondem às trocas de calor entre o corpo
humano e o ambiente circundante e são calculados a partir das seguintes equações:

H = 3,96*10-8*fcl*[(Tcl+273)4 - (Tr+273)4] - fcl*hc*(Tcl-Ta) (Eq. 2)

Ec = 3,05*10-3*[5733 – 6,99*(M-W)-Pa]-0,42*[(M-W)-58,15] (Eq. 3)

Cres = 0,0014*M*(34-Ta) (Eq. 4)

Eres = 1,7*10-5*M*(5867-Pa) (Eq. 5)

em que:

fcl – relação entre a área vestida e a área nua do corpo (adimensional);


Tcl – a temperatura da superfície exterior do vestuário (ºC);
Tr – a temperatura média radiante (ºC);
hc – o coeficiente de troca de calor por convecção (W/m2 ·ºC);
Ta – temperatura do ar (ºC);
M – a taxa de metabolismo (W/m2);
W – trabalho mecânico exterior (W/m2);
Pa – pressão parcial de vapor de água (Pa).
Pág.21

Para a determinação de PMV e PPD é necessário avaliar a temperatura do ar, a temperatura


de globo, a humidade relativa e a velocidade do ar. Muitas das grandezas apresentadas nas
equações anteriores são grandezas indirectas pelo que é necessário realizar o seu cálculo.
No anexo A apresenta-se o método de cálculo deste índice utilizando a norma ISSO
7730:2005.
O principal problema na implementação do método de cálculo resulta do facto de o termo
correspondente à temperatura exterior do vestuário Tcl ser, à partida, desconhecido. Essa
temperatura tem que ser determinada, por um processo iterativo, a partir de uma equação
resultante de um balanço térmico estabelecido para a camada de vestuário. Considera-se que,
em regime permanente, o fluxo de calor transmitido por condução através desse mesmo
vestuário, desde a camada interior, à temperatura da pele, até à camada exterior, é igual à
soma das trocas de calor por convecção e por radiação para o ambiente circundante (ver figura
14), o que é expresso pela seguinte equação:

(Tsk - Tcl) / Icl = 3,96*10-8*fcl*[(Tcl+273)4 - (Tr+273)4] - fcl*hc *(Tcl-Ta),

a partir da qual se pode expressar Tcl:

Tcl = Tsk – Icl *(3,96*10-8*fcl*[(Tcl+273)4 - (Trm+273)4] - fcl*hc *(Tcl-Ta),

Figura 14 – Balanço térmico do vestuário, em regime permanente.

sendo Tsk, o valor da temperatura exterior da pele, calculado a partir de:

Tsk = 35,7 – 0,028 (M-W).


Pág.22
O outro índice proposto na norma ISO 7730 é o PPD (Predicted Percentage of Dissatisfied)
que quantifica a percentagem prevista de pessoas insatisfeitas com um dado ambiente
térmico. Fanger concluiu nos seus estudos que a variação deste índice com PMV pode ser
aproximada por uma expressão analítica a que corresponde uma curva cujo aspecto é
semelhante a uma curva de Gauss invertida (ver figura 15), vindo assim:

4 2
PPD = 100 − 95  e−(0,03353PMV +0, 2179PMV )
(Eq. 6)

O índice PPD é recomendado pela norma ISO 7730 (1984) para caracterização de ambientes
confortáveis. Os limites a considerar são os seguintes:
- 0,5 < PMV < 0,5
- PPD < 10%

Figura 15: Percentagem previsível de pessoas insatisfeitas (PPD) em função do voto médio previsível (PMV).

A zona de conforto térmico é definida, na figura 15, pelo intervalo de valores de PMV entre – 0,5 e 0,5,
o que significa que a percentagem previsível de pessoas insatisfeitas (PPD) deve ser inferior a 10%. A
análise da figura 3 permite também concluir que, devido às diferenças individuais entre as pessoas,
mesmo para a situação que é em média considerada pela população como de neutralidade térmica
(PMV=0), a percentagem de insatisfeitos é da ordem de 5%.
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8. Índices de Stress Térmico

➢ Índice de Temperatura Húmida e de Globo (WBGT index)


➢ Índice de Temperatura Efectiva
➢ Índice de Stress Térmico
➢ Índice de Sudação

8.1. ÍNDICE DE TEMPERATURA HÚMIDA E DE GLOBO (WBGT INDEX)


O índice WBGT , Índice de Temperatura de Bolbo Húmido e de Temperatura de Globo
(tradução do inglês Wet Bulb Globe Temperature Index) é um indicador do nível de desconforto
ou stress térmico e é um dos mais utilizados índices de avaliação de stress térmico no Mundo.
Este índice foi desenvolvido pela Marinha dos Estados Unidos da América após uma
investigação sobre acidentes por calor sofridos pelos militares. Funcionava como uma
aproximação à Temperatura Efectiva Corrigida, mais complicada de determinar, modificada
para ter em conta a absorção solar dos uniformes militares. Os valores limites de WBGT
determinavam a ocorrência de treinos militares.
Observou-se que os acidentes e o tempo perdido em interrupções à instrução militar se
reduziram significativamente quando se utilizava o índice WBGT ao invés da temperatura do
ar.

DETERMINAÇÃO
A norma que regulariza a determinação do índice WBGT é a ISO 7243 (1989) que define o
nível de desconforto do ambiente em situações onde por razões técnico-económicas se torna
impossível aplicar a norma ISO 7730 (2005). O índice WBGT é determinado através das
expressões que são fornecidas pela norma ISO 7243 (1989).
O cálculo deste índice é efectuado tendo em conta duas situações típicas:
➢ Ambientes não expostos à radiação solar;
➢ Ambientes expostos à radiação solar.
A sua determinação resulta da combinação da temperatura de globo (Tglobo) e da temperatura
húmida natural (Thúmida) para os ambientes não expostos à radiação solar e da combinação
destas duas temperaturas e da temperatura média radiante (TRad) para ambientes expostos à
radiação solar.
Segundo a norma ISO 7243, as expressões são as seguintes:
Pág.24

0,7  THúmida + 0,3  Tglobo → ambientes não expostos à radiação solar (interiores)
WBGT =
0,7  THúmida + 0,2  Tglobo + 0,1 Tar → ambientes expostos à radiação solar (exteriores)
Este indicador, pela sua simplicidade, é utilizado para indicar de forma rápida se há risco de
stress térmico. O seu cálculo permite tomar decisões quanto às possíveis medidas de
prevenção que devem ser aplicadas.
Em casos de ambientes heterogéneos, onde os parâmetros do espaço em redor do indivíduo
não são constantes, o índice WBGT deverá ser calculado em três posições diferentes,
representando o WBGTC o nível da cabeça, WBGTA o nível do abdómen e WBGTT o nível do
tornozelo da pessoa relativamente ao nível do solo.
O valor do índice WBGT médio é então calculado pela seguinte expressão ponderada:

WBGT = (WBGTC + 2WBGTA +WBGTT)

onde WBGTC é calculado ao nível da cabeça, WBGTA calculado ao nível do abdómen e


WBGTT calculado ao nível do tornozelo.
O WBGT foi adoptado pela Americam Conference of Governmental Industrial Hygienists
(ACGIH) e foi considerado o índice mais apropriado para utilização industrial pelo National
Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH).

Limites de Exposição (TLV):


Considera-se que acima de WBGT = 30ºC se deviam reduzir actividades e acima de WBGT =
31 ºC elas deviam ser totalmente suspensas.

São ainda conhecidas mais duas tabelas de valores limites de WBGT sugeridas pelo NIOSH
(National International Institue for Occupational Safety na Health): uma em função do
metabolismo energético e do estado de aclimatação; e outra, em função do metabolismo e da
velocidade do ar (ambas relativas a um trabalho de oito horas).

Tabela 6: Valores limite de WBGT (ºC) em função do metabolismo e do estado de aclimatização.

Metabolismo (w) Indivíduo não aclimatado Indivíduo aclimatado


M < 115 33,0 32,5
115<M<=230 30,0 29,0
230<M<350 27,7 25,7
350<M<465 26,0 23,0
M<465 25,0 20,0
Pág.25
Tabela 7: Valores limite de WBGT (ºC) em função do metabolismo e da velocidade do ar.

Metabolismo (kcal/h) Baixa velocidade do ar Alta velocidade do ar


(<1,5 m/s) (> 1,5 m/s)
Ligeiro M< 200 30,0 32,5
Moderado 201<M< 300 27,8 30,5
Pesado M> 300 26,1 28,9

Em função do regime de trabalho e tipo de trabalho a ACGIH (American Conference of


Governamental Industrial Hygienist) estabeleceu os limites para exposição ao calor da tabela
seguinte:
Tabela 8:TLVs de exposição ao calor (valores em ºC).
REGIME DE TRABALHO E DESCANSO TIPO DE TRABALHO
Ligeiro Moderado Pesado
Trabalho contínuo 30,0 26,7 25,0
75 % de trabalho em cada hora25 % de descanso 30,6 28,0 25,9
50 % de trabalho em cada hora50 % de descanso 31,4 29,4 27,9
25 % de trabalho em cada hora75% de descanso 32,2 31,1 30,0

Trabalho Ligeiro - sentado ou de pé, controlar máquinas realizando trabalhos ligeiros com as
mãos e braços.
Trabalho Moderado - andar de um lado para o outro levando ou empurrando pesos
moderados.
Trabalho Pesado - trabalho com picareta.

No anexo B apresenta-se metodologias de cálculo para utilização deste índice.

8.2. ÍNDICE DE STRESS POR CALOR (HSI)

O índice HSI , Índice de Stress por Calor (tradução do inglês Heat Stress Índex) é um índice
para avaliação de stress térmico de fácil determinação e foi definido pela primeira vez por
Belding and Hatch (1955). Muitos autores, consideram este método mais preciso que o índice
WBGT , no entanto este é frequentemente mais usado na Indústria.
O HSI traduz a proporção entre a evaporação necessária para manter o equilíbrio térmico e a
evaporação máxima conseguida no ambiente térmico, expressa em percentagem

𝐸𝑅𝐸𝑄
𝐻𝑆𝐼 = ∗ 100
𝐸𝑀𝐴𝑋
Pág.26

onde EREQ representa a evaporação necessária para manter o equilíbrio térmico ou perda
requerida por evaporação (W/m2) e EMAX a evaporação máxima conseguida no ambiente
térmico (W/m2).
A determinação do HSI pressupõe uma temperatura da pele constante de valor 35ºC e uma
superfície corporal de 1,86 m2. As trocas de calor através da respiração não são consideradas.
A evaporação necessária e a máxima são dadas pelas expressões:
𝐸𝑅𝐸𝑄 = 𝑀 − 𝑅 − 𝐶

𝐸𝑀Á𝑋 = 𝐾3 ∗ 𝜈0,6 ∗ [56 − 𝑒(𝑇)]

em que EMÁX representa a perda máxima por evaporação com limite superior de 390 W/m2 e
e(T) é a pressão parcial de vapor à temperatura T .
O cálculo de R é feito a partir da utilização da expressão 𝑐 = 𝐾2 ∗ 𝜈 0,6 ∗ [35 − 𝑇] que
representa o calor perdido por radiação (W/m2) e o cálculo de C a partir de
𝑅 = 𝐾1 ∗ (35 − 𝑇𝑅𝑀 ) que representa o calor perdido por convecção (W/m2), onde TRM
indica a temperatura radiante (ºC). Nas expressões, os valores das constantes K1, K2 e K3 têm
valores diferentes para indivíduos nus ou vestidos. A Tabela 1 indica alguns valores típicos
usados.

Tabela 9: Constantes usadas no HSI


valor sem roupa
Constantes valor com roupa
K1 4,4 7,3
K2 4,6 7,6
K3 7,0 11,7

O valor máximo permitido para EMÁX é de 390 W/m2. Este valor corresponde a uma taxa de
evaporação de cerca de 1L/h para um homem de superfície corporal 1,86 m2 e que se encontre
em perfeito estado de saúde. Este valor equivale a taxa de evaporação máxima que pode ser
mantida num período de 8 horas. Se EREQ for maior que o EMÁX, o organismo não consegue
manter o balanço térmico e a temperatura interna aumenta, pois há armazenamento de calor
no corpo, correspondendo a um valor de HSI superior a 100%. Se o índice HSI é inferior a
zero, existe um ligeiro stress por calor (por exemplo quando os operários estão a recuperar da
exposição ao calor). Há tabelas que indicam, para diferentes índices de HSI , os efeitos devido
à exposição a oito horas de trabalho contínuo.
O tempo máximo de exposição AET (tradução do inglês Allowable Exposure Time), pode ser
determinado através da expressão seguinte e é expresso em minutos.

2440
𝐴𝐸𝑇 =
𝐸𝑅𝐸𝑄 − 𝐸𝑀Á𝑋

Os efeitos na exposição de determinadas condições ambientais e pessoais, durante 8 horas


Pág.27

de trabalho contínuo, podem ser estimados atendendo ao valor do índice HSI . A Tabela 10
indica para diferentes índices de HSI os efeitos devido à exposição a oito horas de trabalho
contínuo.

Tabela 10: Interpretação do HSI e sua relação com os efeitos à exposição de 8 horas de trabalho
contínuo.
HSI Efeitos devido à exposição a 8 horas de trabalho contínuo
-20 Stress por calor leve (ocorre durante o período de recuperação à exposição ao calor)
0 Não ocorre stress térmico
Stress por calor moderado. Ligeiro efeito em trabalhos físicos mas ocorrência possível de
10-30 efeitos moderados em trabalhos qualificados que exijam determinadas
habilidades e qualidades.
Stress por calor intenso que pressupõe risco para a saúde do indivíduo. O risco pode ser
40-60 atenuado se o indivíduo possuir uma boa condição física. Necessidade de
aclimatização.
Stress por calor muito intenso. Os operários deverão ser seleccionados mediante rigoroso
70-90
exame médico. Necessidade de ingestão de água e sais minerais
100 Stress por calor máximo tolerado por indivíduos jovens, em boa forma física e aclimatizados.
<100 Tempo de exposição limitado por um aumento da temperatura interna

No entanto o HSI não contempla determinadas situações originando alguns problemas de


aplicação: situações caracterizadas por pequenas velocidades do ar podem indiciar situações
mais severas que as indicadas por outros índices de stress térmico; contribuição do
movimento de ar devido ao movimento corporal é desprezada; transpiração não é feita
uniformemente. Por exemplo, gotas de suor que caem e não evaporam na pele não contribuem
para um arrefecimento do corpo.

8.3. ITH – ÍNDICE DE TEMPERATURA E HUMIDADE


O índice ITH , Índice de Temperatura e Humidade (tradução do inglês Temperature Humidity
Index) foi inicialmente desenvolvido por Thom (1959) e combinava a temperatura do
termómetro de bolbo molhado Tnw (ºC) com a temperatura do ar T (ºC). Nieuwolt (1977)
modificou o índice ITH estabelecido por Thom usando a temperatura do ar T (ºC) e a humidade
relativa HR (%). Esta alteração tinha como objectivo facilitar a sua aplicação e avaliação visto
que os valores da humidade relativa do ar HR estão mais frequentemente disponíveis que os
valores da temperatura do termómetro de bolbo molhado.

Segundo Nieuwolt , o índice ITH é calculado a partir da expressão


𝐻𝑅
𝐼𝑇𝐻 = 0,8 ∗ 𝑇 + 𝑇 ∗
500

em que T representa a temperatura do ar (ºC) e HR a humidade relativa do ar (%).

Através de testes empíricos, Nieuwolt estabeleceu valores de referência que delimitam


situações de conforto e stress térmico para seres humanos, como indica a tabela 11.

Tabela 11: Valores limites para o índice ITH


ITH
Pág.28

21ºC ≤ ITH ≤ 24ºC 100% dos indivíduos estão termicamente confortáveis


24ºC < ITH ≤ 26ºC 50% dos indivíduos estão termicamente confortáveis
ITH > 26ºC 100% dos indivíduos estão termicamente desconfortáveis

Os valores indicados na Tabela 11 são aceites para indivíduos que residam nas latitudes
médias. Os indivíduos que residem em zonas tropicais, devido ao efeito da aclimatização,
toleram mais eficazmente ambientes com valores de índice ITH mais elevados,
particularmente em ambientes exteriores.

8.4. ITE – ÍNDICE DA TEMPERATURA EFECTIVA

A temperatura efectiva é um dos índices de stress térmico com uma maior área de aplicação.
O Índice da Temperatura Efectiva ITE estabelecido por Houghten and Yaglou (1923) permite
relacionar os efeitos da temperatura do ar T e da humidade relativa HR no bem-estar do ser
humano. Assim, dois ambientes com a mesma temperatura efectiva devem admitir a mesma
resposta térmica, mesmo com valores diferentes de temperatura do ar e de humidade relativa
do ar desde que se registe o mesmo valor da velocidade do ar.
O índice ITE resultou de um estudo empírico realizado em câmaras climatizadas em que
diferentes indivíduos foram questionados sobre o seu bem-estar quando sujeitos a distintas
condições ambientais. Foram utilizadas duas câmaras de teste climatizadas ligadas por uma
porta, que estavam sujeitas a diferentes valores de temperatura e humidade relativa do ar.
Numa das câmaras, foram mantidas os registos da temperatura do ar e humidade relativa
(100%) enquanto que na outra câmara a temperatura do ar e a temperatura do termómetro
húmido eram alteradas. Através da porta de ligação os indivíduos circulariam de uma câmara
para a outra relatando aos investigadores a sua sensação térmica por comparação das
sensações térmicas vivenciadas nas duas câmaras.
Com esta metodologia, quando se variava os valores da temperatura e da temperatura
húmida, ou seja, quando se variava a humidade relativa do ar, determinaram-se linhas que
correspondiam a uma sensação térmica de bem-estar através das respostas “imediatas” dos
indivíduos.

Na prática, o Índice da Temperatura Efectiva pode ser avaliado de duas formas, ou através
de ábacos ou cartas psicrométricas ou analiticamente.

Pág.29
1. Carta Psicrométrica
Os resultados dos testes empíricos permitiram a construção de uma carta
psicrométrica, como a apresentada no Anexo C, onde é apresentado um exemplo de
aplicação a partir dos registos da temperatura do ar, da temperatura húmida e da
velocidade do ar. A partir do conhecimento destes parâmetros meteorológicos
facilmente é avaliado o valor de ITE.

2. Cálculo analítico
O Índice da Temperatura Efectiva, de acordo com Thom (1959) pode ser determinado
analiticamente recorrendo à expressão,

𝐼𝑇𝐸 = 0,4 ∗ (𝑇𝑤𝑛 + 𝑇) + 4,8

em que Twn representa a temperatura húmida (ºC) e T a temperatura do ar (ºC). Nesta


equação o índice ITE é expresso em ºC.

Mikani e Amorim (2005) disponibilizam valores limites para o índice ITE que são indicados na
Tabela 12.

Tabela 12: Valores limites para o Índice ITE


ITE Sensação Térmica
ITE ≤ 18,9 ºC Stress provocado por ambiente frio
18,9 ºC <ITE < 25,6 ºC Zona de conforto térmico
ITE ≥ 25,6 ºC Stress provocado por ambiente quente

9. Enquadramento Legal

• Decreto-Lei n.º 80/2006: O Regulamento das Características de Comportamento


Térmico de Edifícios.
• Portaria n.º 987/93 de 6 de Outubro: Estabelece as prescrições mínimas de segurança e
saúde nos locais de trabalho.
• Portaria n.º 53/71 de 3 de Fevereiro: Aprova o Regulamento Geral de Segurança e
Higiene do Trabalho nos Estabelecimentos Industriais.
• Decreto-Lei n.º 243/86 de 20 de Agosto: Aprova o regulamento geral de higiene e
segurança do trabalho nos estabelecimentos comerciais, de escritório e serviços.
Pág.30

• Decreto-Lei nº 79/2006 de 4 de Abril: Regulamenta as dimensões e as condições de


utilização de equipamentos nos edifícios, com sistemas de aquecimento e/ou de
arrefecimento, sem ou com desumidificação.
CAPÍTULO 2

RADIAÇÕES

1. CONCEITOS BÁSICOS

ESTRUTURA DA MATÉRIA
Todas as substâncias que entram na constituição da matéria resultam da organização entre
átomos de elementos químicos. O produto dessa organização são as moléculas. Uma
molécula pode ser constituída por um ou mais átomos. Macromoléculas podem apresentar
centenas ou mesmo milhares deles. Para compor uma molécula, os átomos devem interagir
de acordo com suas propriedades físicas e químicas.

Figura 16: Constituição da matéria

O ÁTOMO
Por muito tempo, pensou-se que o átomo, na forma acima definida, seria a menor porção da
matéria e teria uma estrutura compacta. Actualmente, sabemos que o átomo é constituído por
partículas menores (sub-atómicas), distribuídas de uma forma que lembra o Sistema Solar.
Existe um núcleo, onde fica concentrada a massa do átomo e minúsculas partículas que giram
em seu redor, denominadas electrões. Os electrões são partículas de carga negativa e massa
muito pequena.

O núcleo do átomo é constituído de partículas de carga positiva, chamadas protões, e de


partículas de mesmo tamanho mas sem carga, denominadas neutrões.
Pág.31

Os protões têm a tendência de se repelirem, porque têm a mesma carga (positiva). Como eles
estão juntos no núcleo, comprova-se a existência de energia nos núcleos dos átomos com
mais de uma partícula: a energia de ligação dos nucleões ou energia nuclear.
Denomina-se nuclídeo qualquer configuração nuclear, mesmo que transitória. Num átomo
neutro o número de protões é igual ao número de electrões.
O número de protões (ou número atómico) identifica um elemento químico, comandando seu
comportamento em relação aos outros elementos
O elemento natural mais simples, o hidrogénio, possui apenas um protão; um dos mais
complexos, o urânio, tem 92 protões, sendo o elemento químico natural mais pesado.

Figura 17: Elementos químicos naturais

OS ISÓTOPOS
O número de neutrões no núcleo pode ser variável, pois eles não têm carga eléctrica. Com
isso, um mesmo elemento químico pode ter massas diferentes. Átomos de um mesmo
elemento químico com massas diferentes são denominados isótopos.
O hidrogénio tem 3 isótopos: o hidrogénio, o deutério e o trítio.

Figura 18: Isótopos do hidrogénio

Pág.32
ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS
Os seres vivos são constituídos, principalmente, por átomos de carbono (C), hidrogénio (H),
oxigénio (O) e azoto (N). Estes átomos, combinados entre si, constituem a base das moléculas
biológicas.
Como pode ser observado na tabela que segue, a água é a substância encontrada em maior
quantidade na composição química de um ser vivo.

Tabela 13: Composição aproximada do ser humano

Num organismo vivo moléculas desempenham funções estruturais e/ou funcionais (açúcares,
proteínas, lipídos, enzimas, hormonas). São fonte de energia, codificam, lêem, interpretam e
executam mensagens. O quadro abaixo ilustra o que seria uma actividade funcional
desenvolvida por três moléculas que juntam esforços para a realização de uma tarefa, no caso,
representada pela abertura de um cofre.

Pág.33

Figura 19: Funções das moléculas existentes no corpo humano

ORGANIZAÇÃO CELULAR E DOS TECIDOS


A célula é a unidade morfológica e fisiológica dos seres vivos. Células são constituídas por um
sistema de membranas de natureza lipo-proteíca cuja função é manter a individualidade
celular e sua compartimentação, seu equilíbrio electrolítico, o controle da entrada e saída de
substâncias e, portanto, suas relações com meio ambiente. O citoplasma, constituído
principalmente por água e proteínas, preenche a célula. Nele encontram-se diferentes
organelos, responsáveis pelas principais actividades metabólicas das células.
Nas células ditas eucarióticas, mergulhado no citoplasma, encontra-se o núcleo celular, no
qual encontra-se o material genético, responsável pela regulação de toda a actividade celular.
Na figura apresentada ao lado, encontra-se representada uma célula com seu sistema de
membranas, o núcleo, o citoplasma e alguns organelos celulares.

Figura 20: Célula Eucariótica Animal


Pág.34

Os organismos pluricelulares, como homem, as células passam a desempenhar funções


específicas. Células que desempenham funções específicas organizam-se em tecidos e
órgãos, que por sua vez dão origem a sistemas cujo funcionamento, nos seres vivos
superiores (vegetais e animais superiores), é regulado por um sistema hormonal, caso dos
vegetais, ou por um sistema hormonal associado a um sistema nervoso, caso dos animais.

ORGANIZAÇÃO DOS SERES VIVOS


ÁTOMOS
(Carbono, Oxigénio, Nitrogénio, Hidrogénio)

MOLÉCULAS
(água, oxigénio, azoto, carbono, açúcares, lipídos, proteínas, ácidos nucleicos,
nucleotídeos, ácidos gordos, etc.)

SUBSTÂNCIAS

ESTRUTURAS SUB-CELULARES
(sistemas de membranas, hialoplasma, retículo endoplasmático, complexo de Golgi,
lisossomos, mitocondrias, cromossomas, núcleo, nucléolo, etc.)

CÉLULAS
(epiteliais, conjuntivas, musculares, nervosas, hepáticas, linhagem sanguínea, gametas,
etc).

TECIDOS
Tecido epitelial (epiderme, derme, tecido glandular); Tecido conjuntivo (cartilaginoso e
ósseo);
Tecido muscular (liso, estriado, cardíaco); tecido nervoso , etc.

ORGÃOS
(cérebro, estômago, intestino, pulmão, coração, fígado, rim, pâncreas, ovário, testículo,
supra-renais, tiróide, etc. )

SISTEMAS
(nervoso, digestivo, respiratório, circulatório, excretor, reprodutor)

INDIVÍDUOS

Pág.35

Figura 21: Organização dos organismos pluricelulares

2. RADIOACTIVIDADE
LIBERTAÇÃO DA ENERGIA NUCLEAR
Uma vez constatada a existência da energia nuclear, restava descobrir como utilizá-la.
A forma imaginada para liberar a energia nuclear baseou-se na possibilidade de partir-se ou
dividir-se o núcleo de um átomo “pesado”, isto é, com muitos protões e neutrões, em dois
núcleos menores, através do impacto de um neutrão. A energia que mantinha juntos esses
núcleos menores, antes constituindo um só núcleo maior, seria liberada, na maior parte, em
forma de calor (energia térmica).

FISSÃO NUCLEAR
A divisão do núcleo de um átomo pesado, por exemplo, do urânio-235, em dois menores,
quando atingido por um neutrão, é denominada Fissão Nuclear. Seria como atirar uma
bolinha de vidro (um neutrão) contra várias outras agrupadas (o núcleo).

Imagem 22: Fissão Nuclear

REACÇÃO EM CADEIA
Na realidade, em cada reacção de fissão nuclear resultam, além dos núcleos menores, dois a
três neutrões, como consequência da absorção do neutrão que causou a fissão. Torna-se,
então, possível que esses neutrões atinjam outros núcleos de urânio-235, sucessivamente,
liberando muito calor. Tal processo é denominado Reacção de Fissão Nuclear em Cadeia
ou, simplesmente, Reacção em Cadeia.

Pág.36

Figura 23: Reacção em Cadeia

RADIOACTIVIDADE
O esquecimento de uma rocha de urânio sobre um filme fotográfico virgem levou à descoberta
de um fenómeno interessante: o filme foi velado (marcado) por “alguma coisa” que saía da
rocha, na época denominada raios ou radiações.
Outros elementos pesados, com massas próximas à do urânio, como o rádio e o polónio,
também tinham a mesma propriedade.
O fenómeno foi denominado radioactividade e os elementos que apresentavam essa
propriedade foram chamados de elementos radioactivos.
Comprovou-se que um núcleo muito energético, por ter excesso de partículas ou de carga,
tende a estabilizar-se, emitindo algumas partículas.

Figura 24 Fenómeno de Radioactividade

Radiação
Qualquer dos processos físicos de emissão e propagação de energia, seja por ondas
electromagnéticas, seja por meio de partículas dotadas de energia cinética. Energia que
se propaga de um ponto a outro, irradiada a partir de um corpo, no espaço ou num meio
material.

3. GRANDEZAS E UNIDADES DE RADIAÇÃO

ACTIVIDADE
Os núcleos instáveis de uma mesma espécie (mesmo elemento químico) e de massas
Pág.37

diferentes, denominados radioisótopos, não realizam todas as mudanças ao mesmo tempo.


As emissões de radiação são feitas de modo imprevisto e não se pode adivinhar o momento
em que um determinado núcleo irá emitir radiação.
Entretanto, para a grande quantidade de átomos existente numa amostra é razoável esperar-
se um certo número de emissões ou transformações em cada segundo. Essa “taxa” de
transformações é denominada actividade da amostra.
A atividade de uma amostra com átomos radioativos (ou fonte radioativa) é medida em:
• Bq (Becquerel) = uma desintegração por segundo
• Ci (Curie) = 3,7 x 1010 Bq

DOSE ABSORVIDA
Quantidade absorvida por um dado meio, para qualquer tipo de radiação.

DOSE EQUIVALENTE
Quantidade, para qualquer tipo de radiação, que produziria o mesmo efeito que uma unidade
de radiação  ou X. A dose equivalente é o produto da dose absorvida pelo factor de qualidade
da radiação em causa.

Tabela 14: Grandezas e Unidades de Radiação


Unidades
Grandeza Unidades Oficiais Equivalência
Tradicionais

Actividade Curie (Ci) Becquerel (Bq) 1 Bq = 2,7 x 10-11 Ci

Dose Absorvida Rad Gray (Gy) 1 Gy = 100 rad

Dose Equivalente Rem Sievert (Sv) 1 Sv = 100 rem

4. RADIAÇÕES IONIZANTES

Radiação Ionizante
Considera-se radiação ionizante qualquer partícula ou radiação electromagnética que,
ao interagir com a matéria, "arranca" electrões dos átomos ou de moléculas,
transformando-os em iões, directa ou indirectamente.

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Figura 25: Ionização

Assim, as partículas alfa, as partículas beta e a radiação gama, emitidas por fontes
radioactivas, bem como os raios X, emitidos pelos respectivos aparelhos, são radiações
ionizantes.
4.1. TIPOS DE RADIAÇÃO IONIZANTE

A radiação ionizante é constituída por radiações corpusculares e radiações electromagnéticas.

A. Radiações Corpusculares

RAIOS ALFA OU RADIAÇÃO ALFA


Um dos processos de estabilização de um núcleo com
excesso de energia é o da emissão de um grupo de
partículas, constituídas por dois protões e dois neutrões, e da
energia a elas associada. São as radiações alfa ou
partículas alfa, na realidade núcleos de hélio (He), um gás
chamado “nobre”, por não reagir quimicamente com os
demais elementos. As partículas α possuem carga +2.

Apresenta um alto poder de ionização e uma baixa capacidade de penetração; Máxima


importância em contaminação.

:::::::::::::: Detida por uma folha de


papel e atinge somente
alguns cm

RAIOS BETA OU RADIAÇÃO BETA


Outra forma de estabilização, quando existe no núcleo um excesso de neutrões em relação a
protões, é através da emissão de uma partícula negativa, um electrão, com carga -1, resultante
da conversão de um neutrão em um protão. É a partícula beta negativa ou, simplesmente,
partícula beta.
No caso de existir excesso de cargas positivas
(protões), é emitida uma partícula beta
positiva, chamada positrão, resultante da
conversão de um protão em um neutrão.
Portanto, a radiação beta é constituída de
partículas emitidas por um núcleo, quando da transformação de neutrões em protões
(partículas beta) ou de protões em neutrões (positrões).
Pág.39

:::::::::::::::::::::::Detida por
alumínio ou
alguns metros de
ar
Têm um poder de ionização inferior às , mas uma maior poder de penetração; Elevada
importância em contaminação.

B. Radiações Electromagnéticas

RAIOS GAMA
Geralmente, após a emissão de uma partícula alfa (α) ou
beta (β), o núcleo resultante desse processo, ainda com
excesso de energia, procura estabilizar-se, emitindo esse
excesso em forma de onda eletromagnética, da mesma
natureza da luz, sem carga elétrica, denominada radiação
gama.

Apresentam um poder de ionização relativamente baixo e uma grande capacidade de


penetração; Importantes em irradiação e contaminação.

RAIOS X
São radiações electromagnéticas de alta energia originadas em transições electrónicas do
átomo que sofreu excitação ou ionização, após interacção. Electrões das camadas externas
fazem transições para ocupar lacunas produzidas pelas radiações nas camadas internas,
próximas do núcleo, emitindo o excesso de energia sob a forma de raios X. Como as energias
das transições são típicas da estrutura de cada átomo, elas podem ser utilizadas para a sua
identificação, numa técnica de análise de materiais denominada de fluorescência de raios X.
A energia dos raios X é inferior à dos raios . Importantes em irradiação.

Detidos
)))))))))))))))
GAMMA Y RAYOS X por
chumbo
blindado
ou
cimento
Pág.40

4.2. PROPRIEDADES DAS RADIAÇÕES IONIZANTES

Sob o ponto de vista dos sentidos humanos, as radiações ionizantes são: invisíveis, inodoras,
inaudíveis, insípidas e indolores. Para se ter uma ideia da velocidade delas, alguns valores
são mostrados na Tabela 15.
Tabela 15: Energia e Velocidade das radiações ionizantes

A interacção das radiações ionizantes com a matéria é um processo que se passa em nível
atómico. Ao atravessarem um material, estas radiações transferem energia para as partículas
que forem encontradas em sua trajectória. Caso a energia transferida seja superior à energia
de ligação do electrão com o restante da estrutura atómica, este é ejectado de sua órbita. O
átomo é momentaneamente transformado em um ião positivo. O electrão arrancado (ião
negativo) desloca-se no meio, impulsionado pela energia cinética adquirida neste processo.
Esta energia é dissipada através da interacção do electrão com electrões e núcleos de outros
átomos, eventualmente encontrados em sua trajectória. Novos iões podem, assim, serem
introduzidos na matéria. O processo é interrompido quando, tendo sua energia dissipada em
interacções (choques), os electrões (e suas cargas negativas) acabam capturados por
moléculas do meio. A introdução de pares de iões (positivo e negativo) na matéria recebe o
nome de ionização.
Em um indivíduo adulto, a grande maioria dos tecidos é constituída por células diferenciadas
isto é, células que pouco se dividem ou que nunca o fazem. É o caso das células do tecido
ósseo, das células do tecido muscular, de células do fígado, dos rins, dos pulmões, do
coração.
Células que não se dividem podem acumular quebras de DNA e mutações celulares sem
comprometimento das funções dos órgãos e tecidos que constituem. Células cuja taxa de
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divisão é alta, tornam-se mais vulneráveis à acção das radiações. Quando uma lesão no DNA
resultar quebra da molécula, a célula passa a ter dificuldade em dividir o material genético
entre as células filhas, que podem morrer após uma ou duas divisões subsequentes. Quanto
maior o grau de diferenciação celular, menor a taxa de divisão e menores são as possibilidades
de morte celular induzida pela radiação. Quanto menor a diferenciação celular maior a
probabilidade de indução de morte por acção das radiações ionizantes.
Figura 26: Consequência da Irradiação de uma molécula de DNA

Desta forma, um tecido pode apresentar maior ou menor resistência às radiações, em função
do grau de diferenciação das células que o constituem. Num indivíduo adulto apenas alguns
tecidos são constituídos por células cuja função é repor, através de divisões sucessivas,
populações celulares cujo tempo médio de vida é da ordem de uma a duas dezenas de dias
(elementos figurados do sangue e células de recobrimento); as células responsáveis pela
produção de óvulos e espermatozóides também se enquadram entre células altamente
vulneráveis à acção das radiações ionizantes por possuírem, como característica funcional,
uma alta taxa de divisão celular.

Pág.42

Figura 27: Efeitos das Radiações na Pele

4.3. EFEITOS DAS RADIAÇOES IONIZANTES


O efeito das radiações ionizantes num indivíduo depende basicamente da dose absorvida
(alta/baixa), da taxa de exposição (crónica/aguda) e da forma da exposição (corpo inteiro/
localizada). São a conseqüência de uma longa série de acontecimentos que se inicia pela
excitação e ionização de moléculas no organismo. Há dois mecanismos pelos quais as
alterações químicas nas moléculas são produzidas pela radiação ionizante: efeitos directos e
indirectos.

No processo de interacção da radiação com a matéria ocorrem ionização e excitação dos


átomos e moléculas provocando modificação (ao menos temporária) nas moléculas. O dano
mais importante é o que ocorre no DNA.
• Efeitos físicos: 10-13 s
• Efeitos químicos: 10-10 s
• Efeitos biológicos: minutos-anos, é a resposta natural do organismo a um agente
agressor, não constitui necessariamente em doença. Ex: redução de leucócitos.
• Efeitos orgânicos: são as doenças. Incapacidade de recuperação do organismo devido
à freqüência ou quantidade dos efeitos biológicos. Ex: cataratas, cancro, leucemia.

Figura 28. Tipos de efeitos Biológicos

C. Classificação dos efeitos Biológicos


o Classificação segundo a Dose Absorvida: Estocásticos ou Determinísticos
o Classificação segundo ao Tempo de Manifestação: Imediatos ou Tardios
o Classificação segundo ao Nível de dano: Somáticos ou Genéticos
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EFEITO ESTOCÁSTICO:
▪ Leva à transformação celular. Sua causa deve-se a alteração aleatória no DNA de
uma única célula que continua a se reproduzir. Quando o dano ocorre em célula
germinativa, efeitos genéticos ou hereditários podem ocorrer.
▪ Não apresenta limiar de dose: o dano pode ser causado por uma dose mínima de
radiação. Tumores altamente malignos podem ser causados por doses baixas e
outros benignos por doses altas. A severidade é constante e independente da dose;
▪ A probabilidade de ocorrência é função da dose;
▪ São difíceis de serem medidos experimentalmente, devido ao longo período de
latência.
Exemplos: cancro, (leucemia de 5 a 7 anos; tumores sólidos de 15 a 10 anos ou mais),
efeitos genéticos.
A severidade de um determinado tipo de cancro não é afectada pela dose, mas sim, pelo tipo e
localização da condição maligna. Os resultados até o momento parecem indicar que, em indivíduos
expostos, além de cancro e tumores malignos em alguns órgãos, nenhum outro efeito estocástico é
induzido pela radiação.

EFEITO DETERMINÍSTICO:
▪ Leva à morte celular
▪ Existe limiar de dose: os danos só aparecem a partir de uma determinada dose.
▪ A probabilidade de ocorrência e a gravidade do dano estão directamente relacionadas
com o aumento da dose.
▪ Geralmente aparecem num curto intervalo de tempo;
Exemplos: catarata, leucopenia, náuseas, anemia, esterilidade, hemorragia, eritema
e necrose.

A morte de um pequeno número de células de um tecido, resultante de exposição à radiação,


normalmente não traz nenhuma consequência clínica observável. Para indivíduos saudáveis,
dependendo do tecido irradiado, nenhum indivíduo apresentará dano para doses de até
centenas ou milhares de miliSieverts. Acima de um valor de dose (limiar), o número de
indivíduos manifestando o efeito aumentará rapidamente até atingir o valor unitário (100%).
Isto decorre das diferenças de sensibilidade entre os indivíduos.

EFEITOS SOMÁTICOS E GENÉTICOS

Efeitos Somáticos são aqueles que ocorrem no próprio indivíduo irradiado. Podem ser
divididos em efeitos Imediatos e efeitos Tardios. Nos Efeitos Genéticos os danos provocados
nas células que participam do processo reprodutivo de indivíduos que foram expostos à
radiação, podem resultar em defeitos ou mal-formações em indivíduos de sua descendência.
Pág.44

Os Efeitos Somáticos das radiações são aqueles que afectam apenas os indivíduos
irradiados, não se transmitindo para seus descendentes. Os efeitos somáticos classificam-se
em:
− Efeitos imediatos: aqueles efeitos que ocorrem em um período de horas até algumas
semanas após a irradiação. Como exemplos de efeitos agudos provocados pela ação
de radiações ionizantes pode-se citar eritema, queda de cabelos, necrose de tecido,
esterilidade temporária ou permanente, alterações no sistema sanguíneo, etc.
− Efeitos tardios: quando os efeitos ocorrem vários meses ou anos após a exposição
à radiação. Exemplos dos efeitos crónicos são: o aparecimento de catarata, o cancro,
a anemia aplástica, etc.

Tabela 16: Efeitos Biológicos


Determinísticos
Estocásticos
(Não Estocásticos )

Malformações nos
Hereditários
descendentes

Leucemia, cancro do pulmão, Anemias, esterilidade, queda


Somáticos
cancro da pele, etc de cabelo, cataratas, etc.

Tabela 17: Efeitos Biológicos


Critério Efeito Biológico Características

Não depende da dose absorvida, mas a


Estocásticos probabilidade de ocorrência do efeito
Dose aumenta com o tempo de exposição

Determinísticos Dependem da dose recebida.

Hereditários Afectam os descendentes.


Transmissão
Somáticos Afectam o indivíduo irradiado.

Nas tabelas 18 e 19 estão relacionados sintomas induzidos por exposições agudas localizadas
e exposições de corpo inteiro. Em todos os casos de desenvolvimento de sintomatologia
clínica o processo reflecte a morte de um número significativo de células com
comprometimento de órgão e/ou tecidos.
Pág.45

A unidade de dose absorvida é o Gray (Gy). A dose média de radiação natural absorvida pela
população mundial é de 2,6 Gy x 10-3 x ano .1 , isto é, 2,6 mGy por ano.

Tabela 18: Efeitos da Exposição Aguda à Radiação Ionizante por Adultos


Pág.46
Tabela 19: Efeitos da Exposição localizada à Radiação Ionizante

4.4. PRINCÍPIOS GERAIS DE PROTECÇÃO RADIOLÓGICA


− Não usar nos trabalhos, fontes radioactivas em intensidades maiores do que as
necessárias;
− Manter a maior distância possível entre o utilizador e a fonte;
− Limitar o tempo de permanência junto de uma fonte radioactiva ao mínimo
necessário;
Pág.47

− Colocar entre a fonte radioactiva e o trabalhador, barreiras adequadas, bem


como assegurar-se da protecção das pessoas profissionalmente não expostas.
4.5. MEDIDAS DE PROTECÇÃO
As medidas de protecção tem por objectivo impedir os efeitos não estocásticos e limitar ao
máximo os estocásticos.
A. Expor o menor número de trabalhadores às radiações e durante o menor tempo
possível;

B. Aumentar a distância entre entre o trabalhador e a fonte de emissão de radiação;

C. Criar sistemas de blindagem de forma que a radiação não atinga o trabalhador.

BLINDAGEM

D. Formação e Informação dos trabalhadores, antes do início da actividade:


− Riscos das RI e seus efeitos biológicos;
− Normas gerais de protecção e precauções a tomar durante o trabalho e em
caso de acidente;
− Normas específicas, meios e métodos de trabalho para a sua protecção nas
operações a efectuar;
− Conhecimento e utilização dos instrumentos de detecção e medidas das
radiações, bem como os equipamentos e meios de protecção pessoal;
− Necessidade de efectuar vigilância médica periódica;
− Actuação em caso de emergência;
− Importância do cumprimento das medidas técnicas e médicas;
− Responsabilidades relativas ao posto de trabalho no que respeita à
protecção radiológica.
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E. Valores Limite
Os valores limite são os valores máximos de dose que as pessoas expostas podem
receber, mas que nunca devem ser ultrapassados.
− Para EFEITOS ESTOCÁSTICOS: Dose Equivalente Anual = 50 mSv
− Para EFEITOS NÃO ESTOCÁSTICOS
◼ Limite máximo de 500 mSv, excepto no caso do globo ocular (150
mSv). Nenhum destes limites deverá ser excedido.
− Para PÚBLICO EM GERAL
◼ Os limites são 3/10 dos limites a anuais da dose para pessoas
profissionalmente expostas.
− Para MULHERES COM CAPACIDADE DE PROCRIAR
◼ A dose no abdómen não deve ultrapassas 13 mSv num trimestre.
− Para MULHERES GESTANTES
◼ A dose não deve ultrapassar 10 mSv durante a gestação.
F. Delimitação de Zonas em função do risco
 Zona de Livre Acesso;
 Zona Vigiada: 1/10 LAE<Dose < LAE
 Zona Controlada: Dose>3/10 LAE
 Zona de Permanência Limitada: Dose >LAE
 Zona de Acesso Proibido: Dose única > LAE

Figura 29: Sinalização de Exposição às Radiações

Pág.49
5. RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES
5.1. INTRODUÇÃO
Na sua forma mais simples, a radiação electromagnética é um campo eléctrico vibratório
movimentando-se através do espaço associado a um campo magnético vibratório que tem as
características do movimento ondulatório.
A radiação electromagnética é classificada de acordo com a frequência da onda, que em
ordem decrescente de comprimento da onda é: ondas de rádio, microondas, radiação
terahertz (Raios T), radiação infravermelha, luz visível, radiação ultravioleta, Raios-X e
Radiação Gama.
Essa classificação forma o espectro electromagnético, representado na figura seguinte:

Figura 30: Espectro Electromagnético

Tabela 20: Gamas de comprimento de ondas das radiações electromagnéticas

Comprimento de Onda (nm) Tipo de Radiação

100 nm <  < 400 nm Ultravioleta


400 nm <  < 700 nm Visível
700 nm <  < 1 mm Infravermelha
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1 mm <  < 1 m Micro-ondas


1 m <  < 1 km Ondas de rádio

As radiações não ionizantes apresentam interesse do ponto de vista ambiental, porque os


seus efeitos sobre a saúde das pessoas são potencialmente importantes, sendo que
exposições sem controle podem levar à ocorrência de sérias lesões ou doenças. Por outro
lado, há uma proliferação de equipamentos, inclusive de uso doméstico, que emitem
radiações, tais como, fornos de microonda, radares para barcos (inclusive de recreação)
lasers, inspecção para controle de qualidade, lâmpadas ultravioleta para eliminar germes, etc.
Existem diversos tipos de radiações ionizantes, classificados conforme o comprimento de
onda e a frequência da radiação.

É importante salientar que, com excepção da parte visível do espectro, todas as outras
radiações são invisíveis e dificilmente detectáveis pelas pessoas através de meios naturais.
No caso dos efeitos térmicos (aquecimento) provocados, se a radiação for perigosa, a
sensação de calor pode chegar tarde demais para avisar do risco. Isto obriga ao uso de
detectores que determinam a existência e intensidade da radiação e cuja utilização
aconselhamos seja feita por especialistas.
Outra característica de interesse é que a radiação pode se transmitir através do vácuo, sem
necessidade da existência de ar ou outros meios materiais. Por exemplo, toda a radiação solar
que atinge a terra, que pode ser infravermelha, visível, ultravioleta, etc., é transmitida através
do vácuo interplanetário.

Tabela 21: Aplicações das Radiações Electromagnéticas


Tipo de
Aplicações gerais Efeito Biológico
Radiação
As lâmpadas UV utilizam-se como germicidas e na
Térmico-
Ultravioletas cosmética, encontrados na indústria nos arcos
Fotoquímico
eléctricos para soldadura e na análise química.
Trabalho agrícola e a exposição ao sol. É Térmico -
Luz visível
responsável pela iluminação de qualquer local. Fotoquímico
Fonte directa de calor (afecta trabalhadores de
Infravermelhos Térmico
fornos, fundições, etc.)
Fontes de calor (secadores, fornos) e
Comunicações. Aparelhos de Fisioterapia, fornos
Microondas /
de aquecimento (alimentação, soldadura de Térmico
Radiofrequências
plásticos, secagem de papel), fornos de indução,
aparelhos de esterilização, etc.).
Defesa, Medicina, Espectáculos, Ensaios de
Pág.51

Laser Térmico
materiais.

5.2. RADIAÇÕES ULTRAVIOLETA


A radiação ultravioleta é a mais perigosa - possui mais energia fotónica fica mais próxima das
Radiações Ionizantes). É aquela que tem efeitos biológicos mais intensos e em relação á qual
deverá ser exercida maior vigilância. A principal fonte de radiação UV é o Sol.
Devido à existência de uma camada de ozono na atmosfera, apenas as radiações de
comprimento de onda superior a 200 nm atingem a superfície terrestre.
A radiação UV situa-se no espectro electromagnético entre os Raios X e o espectro vísivel,
com comprimento de onda compreendido entre 100 e 400 nm.
Atendendo aos seus efeitos biológicos dividem-se nas zonas A, B e C.
• UV-C - 100 - 280 nm - Produz efeitos germicidas.
• UV-B - 280 - 315 nm - A maior parte estão nesta gama. Produzem eritema cutâneo.
• UV-A - 315 - 400 nm - Denomina-se luz negra e produz fluorescência de numerosas
substâncias.

FONTES DE EXPOSIÇÃO:
A exposição laboral a radiações UV é muito ampla, tanto em trabalhos na intempérie - obras
públicas, agricultura, marinheiros, etc. - como em processos industriais nos que se utilizam
lâmpadas germicidas, de fototerapia, solares UV-A, arcos de soldadura e corte,
fotocopiadoras, etc.
A principal fonte natural é o sol e a maior parte de fontes artificiais são:
Baixa intensidade:
- lâmpadas de vapor de Hg de baixa pressão
- lâmpadas fluorescentes
- chamas do corte
Alta intensidade:
- lâmpadas de vapor de Hg de alta pressão
- arcos de quartzo e Hg
- arcos de xenon de alta pressão
- arcos de carbono
- soldadura de plasma (~ 6000ºK)
- arco de soldadura
- lâmpadas germicidas
- lâmpadas de fototerapia e solares
- lâmpadas de luz negra (UV - A)
- arcos de soldadura e corte
- arcos eléctricos em fornos de fundição
- fotocopiadoras
Pág.52

- flash

EFEITOS BIOLÓGICOS DAS RADIAÇOES ULTRAVIOLETAS:


a) Efeitos agudos não estocásticos
SOBRE A PELE SOBRE OS OLHOS
- Escurecimento (bronzeado) - Fotoqueratite e fotoqueratoconjuntivite (2 a
- Eritema 24 horas depois da exposição, dolorosas, dura
- Pigmentação retardada de 1 a 5 dias e o prognóstico é benigno)
- Interferências com o crescimento - Lesões no cristalino (dados ainda pouco
celular significativos)
- Lesões na retina (dados ainda pouco
significativos)

b) Efeitos crónicos não estocásticos


SOBRE A PELE SOBRE OS OLHOS
- Perda da elasticidade da pele - Opacidades no cristalino
(alterações do desenvolvimento normal - Cataratas
da derme, com alterações histológicas)
- Pele rugosa (típica dos marinheiros e
agricultores)(UV-A)
- Queratite actínica (epiderme)
- Interferências com o crescimento
celular

c) Efeitos crónicos estocásticos (maior probabilidade em função da dose)


- Carcinoma basocelular
- Carcinoma de células escamosas (espinocelular)
- Melanoma (Casos descritos em marinheiros, pescadores, agricultores e trabalhadores
expostos à intempérie).

O grau de penetração da radiação UV depende do seu comprimento de onda e do grau de


pigmentação da pele (nas peles mais pigmentadas a penetração é menor pelo que o risco
diminui).
Os efeitos das radiações UV limitam-se praticamente à pele e aos olhos. A maior parte das
UV são absorvidas pela córnea e o cristalino.
A retina só fica exposta em circunstâncias especiais com UV-A próximas da luz visível.
As radiações UV-B e C penetram unicamente a epiderme. As UV-A penetram a derme,
podendo chegar a produzir lesões nas terminações nervosas.
Aliás, o Sol é causador de 90 % dos cancros de pele.
Estes malefícios não são imediatos.
Pág.53

Os danos causados pelas radiações ultravioletas emitidas pelo Sol vão-se acumulando na
pele desde criança, ano após ano.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO:
Para evitar estes males, quando está a trabalhar no exterior, tenha atenção
- usar regularmente um filtro solar de protecção 15 ou mais e resistente à água e \á
transpiração,
- usar um chapéu de abas largas e a nuca protegida,
- usar roupa de algodão, lã (fibras naturais) sem decotes e com mangas,
- usar óculos de sol com filtragem de ultra violetas,
- beber muitos líquidos ao longo do dia,
- evitar trabalhar ao sol entre as 11 e as 15 horas,
- certos medicamentos (antibióticos, diuréticos, hipotensores, etc.) associados à
exposição ao sol, podem desencadear reacções alérgicas graves. Se surgir alguma lesão
persistente na sua pele, por muito inocente que lhe pareça, consulte o médico.
As lâmpadas UV utilizam-se como germicidas e na cosmética. Encontram-se na indústria nos
arcos eléctricos para soldadura e na análise química. Nestas situações há que prever a
utilização de "écrans" opacos ao UV.

5.3. RADIAÇÃO VISÍVEL


Abarca a região do espectro electromagnético entre 400 nm a 780 nm, incluindo as seguintes
gamas:
400-424 nm = violeta
424-491 nm = azul
491-575 nm = verde
575-585 nm = amarelo
585-647 nm = laranja
647-780 nm = vermelho

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FONTES DE EXPOSIÇÃO (RADIAÇÃO VISÍVEL)
De origem natural: Sol
De origem Artificial:
Incandescente
- lâmpadas e corpos incandescentes
- arcos de soldadura
- arco eléctrico
- lasers
Por descarga de gases
- lâmpadas de néon
- lâmpadas fluorescentes
- soldadura de plasma

Portugal Continental tem cerca de 2500 horas de Sol por ano o que equivale a cerca de 7
horas de Sol por dia.
O Sol, como todos sabemos, emite:
- radiações infravermelhas que transmitem calor
- luz visível
- radiações ultravioleta que penetram na pele e podem provocar lesões.

EFEITOS BIOLOGICOS
A luz como agente físico pode produzir alguns riscos tais como:
- perda da acuidade visual,
- fadiga ocular,
- encadeamento devido a contrastes muito grandes no campo visual ou a brilhos excessivos
da fonte luminosa.
O perigo de dano na retina é máximo na zona de luz azul de 425-450 nm.
A radiação muito colimada, monocromática e coerente produzida pelos lasers pode provocar
queimaduras na retina.
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LIMITES ACEITÁVEIS
Para estabelecer condições de trabalho seguras, são necessários níveis de iluminação
adequados. A iluminação na indústria deve proporcionar uma visão eficiente segura e
confortável.
5.4. RADIAÇÃO INFRAVERMELHA (IV)

A radiação IV abarca a parte do espectro desde a luz visível até às microondas. Estende-se
desde os 780 nm aos 106 nm (1 mm), subclassificando-se em 3 zonas diferentes pelas letras
A, B e C.
- IV-A: 780-1.400 nm
- IV-B: 1.400-3.000 nm
- IV-C: 3.000-106 nm

FONTES DE EXPOSIÇÃO
Exposição Directa
- a corpos incandescentes
- a superfícies muito quentes
Exposição a equipamentos e sistemas IV
- passivos (para detectar corpos quentes)~
- activos (radares)

EFEITOS BIOLÓGICOS
A radiação IV devido ao seu baixo nível energético não reage fotoquímicamente com a matéria
viva produzindo-se só efeitos de tipo térmico. As lesões que podem produzir aparecem na pele
e nos olhos.
Olhos
o lesões na córnea (eritemas e queimaduras) (IV - B e C)
o lesões no cristalino - opacidades e cataratas
o lesões térmicas na retina e esclerótica (IV-A)
Pele
o aquecimento superficial (IV-B e C)
o lesões estruturais e funcionais em capilares e nas transmissões nervosas (1V-
A)
o Transmitância (penetração) máxima a 1200 nm, podendo alcançar uma
Pág.56

profundidade de 0,8 mm. A pele é opaca para radiações com comprimento de


onda maior que 2000 nm.
Outros riscos (estudos insuficientes)
o Patologias otorinolaringológicas - rinites, sinusites, laringites
o Efeitos genéticos e cancerígenos (ex: esperma anormal)
o Efeitos sobre a condução nervosa
o Efeitos sobre o sistema imunológico

Risco desprezável, exceptuando as queimaduras térmicas.


Pode ser reflectida, transmitida ou absorvida pelo organismo. Produz unicamente efeitos
térmicos pois não tem poder energético suficiente para modificar a configuração electrónica
do átomo.

VALORES LIMITE DE EXPOSIÇÃO


Para efeitos sobre o cristalino (cataratogenesis) deve-se limitar a radiação IV: l=770nm a
l0mW/cm2

PROTECÇÃO DE RADIAÇÃO ÓPTICA


Medidas de controlo técnico-administrativo:
➢ Desenho adequado da instalação:
- colocação de cabines ou cortinas
- barreiras que reflictam ou reduzam a transmissão
- aumento da distância (a intensidade diminui inversamente proporcional ao quadrado
da distância)
- emprego de conectores de encravamento
➢ Revestimento não reflector das paredes e pavimentos e tectos
- sinalização
- limitação de acessos
- ventilação adequada (a radiação UV produz ozono)
- limitação do tempo de exposição

Medidas de protecção individual


➢ Protecções oculares
➢ Roupa, luvas, cremes

Informação/formação dos trabalhadores.


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5.5. LASER
Significa "light amplification by stimulated emission of radiation", ou seja, amplificação de luz
por emissão estimulada de radiação. O que, só por si traduz que o laser é uma radiação, isto
é, energia, embora produzida em determinadas condições que lhe conferem características
especiais.

A Comissão Electrotécnica Internacional, na sua norma CEI/825/1984, define o LASER como


"qualquer dispositivo que se pode construir para produzir e/ou amplificar radiação
electromagnética num intervalo de 200 nm a 1 mm (nas bandas infravermelhas, visível e
ultravioletas próximas) essencialmente pelo fenómeno de emissão estimulada e controlada".

Os Lasers são fontes de radiação de desenvolvimento relativamente recente e que se


caracterizam, entre outros aspectos, pela alta direccionalidade de feixe e elevada densidade
de energia (energia incidente por unidade de área). O laser é uma radiação electromagnética
dotada de coerência espacial e temporal, porque a emissão é altamente monocromática. Por
estas razões, os lasers têm encontrado grande número de aplicações na indústria, medicina
e investigação, emitindo os mais usados nas zonas visível ou infravermelha.

APLICAÇÕES
• Comunicações ópticas (com satélite, a distâncias curtas, guias de onda, televisão por
cabo);
• Processamento e armazenamento de informação (leitura de código de barras, discos
compactos, memórias ópticas, memórias de ordenadores, impressoras);
• Indústria (obtenção de linhas e planos de referência, medição de distâncias,
velocimetria (fluxos de fluidos em tubagens, do sangue nas artérias, etc.), ensaios
não destrutivos, corte de materiais metálicos e não metálicos, soldadura, tratamento
de superfícies);
• Medicina (oftalmologia (fotocoagulador - trat. da retina), ORL (trat. Da laringe,
operações do ouvido médio e interno), dermatologia, tratamento de lesões vasculares,
destruição de pequenos tumores, tratamento de varizes;
• Aplicações militares (detecção, incluindo telemetria, velocimetria, simulação do treino
de tiro, armas laser para neutralização de sensores, sinalização e localização de alvos
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para lançamento de projécteis, ...);.

RISCOS
Dependem do tipo de laser utilizado e as características à volta do trabalho.
Os riscos da radiação laser estão praticamente limitados aos olhos, variando os efeitos
adversos produzidos nas diferentes regiões espectrais. Mesmo assim pode incidir em escassa
medida sobre a pele.
A possibilidade de concentrar grandes energias em áreas muito pequenas implica riscos
consideráveis na observação do feixe laser, directo ou reflectido, que pode provocar lesões
graves na retina.
Todos os lasers trazem assinalada a classe a que pertencem, que indica a potência e as
principais precauções a tomar.
Cuidados especiais deverão ser tomados com os lasers de CO 2 de grandes potências, dado
que a sua emissão se situa na zona dos infravermelhos, o feixe é invisível o que torna a sua
detecção difícil.
As regras de segurança relativas a lasers consistem essencialmente no uso apenas por
pessoal qualificado e em locais devidamente assinalados, na ausência de objectos reflectores
na vizinhança e na utilização permanente de óculos de protecção adequados.

Os riscos que comporta o emprego do laser são vários:


➢ electrocussão (campo electromagnético)
➢ queimaduras térmicas da pele
➢ lesões oculares - queimaduras, opacidades da córnea e do cristalino, dependentes da
banda de emissão:
- Região UV
- Região do espectro visível
- Região dos IV

CLASSES DE LASERS:
− Classe I: Não emitem níveis de radiação perigosos. Não necessitam de nenhum rótulo
de advertência ou medida de controlo.
− Classe II: Dispositivos de potência baixa com escasso risco. Podem provocar lesão
na retina quando se olham durante um período prolongado. É necessário colocar um
sinal de advertência.
Pág.59

− Classe IlIa: São equipamentos com uma potência moderada que não lesionam o olho
nu da pessoa com uma resposta de aversão normal a luz brilhante, mas pode causar
dano quando a energia é recolhida e transmitida ao olho. E necessário colocar um
sinal de advertência.
− Classe IIIb: Incluí lasers capazes de provocar lesões quando se lhes olha
directamente. Deve-se colocar um rótulo de advertência.
− Classe IV: São os de maior risco. Incluí os lasers que podem produzir lesões tanto
pelo raio directo como pelo reflexo e também constituem risco de incêndio. Deve levar
o sinal de advertência adequada.

RADIAÇÃO ACESSÍVEL E NÍVEL DE IRRADIAÇÃO PERMITIDO


Relativamente à segurança, o American National Standard Institute (ANSI) definiu um
parâmetro a que chamou RADIAÇÃO ACESSIVEL, que é o limite máximo de radiação à qual
o corpo humano está exposto quando determinado laser está em funcionamento. A
quantificação desta radiação acessível integra vários parâmetros mais ou menos complicados,
entre os quais estão a duração e os chamados níveis de emissão, intervalo de amostragem,
radiação colateral, etc., para os quais foram estabelecidos regras de avaliação.

O NÍVEL DE IRRADIAÇÃO PERMITIDO está directamente relacionado com a radiação


acessível.

PROTECÇÃO CONTRA O LASER


Caracteristicas do Equipamento
− Encravamento no seccionador de ligação da fonte energética
− Chave de controlo para evitar utilizaçoes nao autorizadas
− Obturador do feixe quando em standby
− Sinalização de segurança
− Encerramento do feixe num tubo (evita o efeito das reflexões).

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Todos os lasers das classes 3A, 3B e 4, devem ter os seguintes dispositivos e medidas
de segurança:
− devem estar protegidos do uso não autorizado: controlo de chave.
− devem estar instalados permanentemente com um obturador do feixe e / ou
atenuador, para evitar a saída de radiações superiores aos níveis máximos permitidos.
− devem colocar-se sinais de aviso.
− a trajectória do feixe deve acabar ao final de seu recorrido sobre um material
com reflexão difusa de reflectividade e propriedades técnicas adequadas ou
sobre materiais absorventes.
− quando for possível, os feixes lasers, estarão fechados e os lasers de caminho óptico
aberto situaram-se acima ou abaixo do nível dos olhos.

Para activar as fontes laser são necessárias geralmente instalações de energia eléctrica de
certa potência, assim como instalações especiais de circulação de água para arrefecimento.
Todos estes sistemas têm de ser cuidadosamente isolados devido aos riscos de descargas
eléctricas que, pela sua estatística americana têm provocado mais acidentes do que os
próprios feixes laser com os quais se toma em geral, mais cuidado.

Características do Ambiente em que se utiliza:


− efectuar a conexão à fonte de energia com um seccionador enclavado à distância.
− locais separados e devidamente assinalados.
− revestimento escuro das paredes (evitar os riscos derivados dos raios reflectidos).
− iluminação geral deve ser intensa (para provocar encerramento da pupila).
− eixo do feixe desviado das portas e aberturas.
− eliminação de materiais inflamáveis. Outro risco importante a considerar é o de
incêndio, pela focagem involuntária de material. Por este motivo não deve ser utilizado
qualquer tipo de material inflamável (como lençóis de fibra, plásticos, etc.) nas
proximidades do campo operacional. No caso de serem indispensáveis devem ser
cobertos com toalhas bem humedecidas com água a qual absorverá o feixe que nelas
incida, evaporando-se e evitando um foco de incêndio. Também pelo mesmo motivo,
não devem ser utilizados nas proximidades produtos anestésicos inflamáveis.
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− o instrumental utilizado em locais de produção de radiação laser deverá ser sempre


de superfície rugosa, não polida, de modo a que haja difusão e não reflexão do feixe
no caso de neles haver incidência. Também por este motivo, o acesso às áreas onde
se utilizam lasers deverá ser rigorosamente controlado e devidamente assinalada a
sua instalação e utilização de modo a impedir que alguém entre inadvertidamente na
área de funcionamento de lasers.
− supervisão directa por responsáveis conhecedores da tecnologia laser de modo a
garantir a segurança tanto do pessoal como dos doentes.
− sinais de aviso de área de utilização de lasers e de dísticos com os avisos adequados.
− fechaduras de segurança nos acessos às áreas de modo a impedir a entrada
inesperada de pessoal quando o laser está em produção.
− existência de écrans absorventes de radiação laser e resistentes ao fogo nos locais
apropriados, nomeadamente aqueles onde possa haver incidência directa do feixe.
− utilização unicamente de materiais não polidos nas áreas de utilização de lasers.
− cobertura das janelas com persianas de protecção para reduzir ao mínimo a radiação
difusa no exterior.
− existência de uma Comissão de Segurança; e de um Oficial Responsável.
− boa iluminação do local
− orientação do feixe
− ausência de obstáculos no chão
− Ausência de materiais inflamáveis.

Protecção pessoal /individual:


− usar óculos de protecção e luvas (seram preferíveis os óculos com protecção lateral
e lentes curvas).
− Em relação aos óculos antilaser há que ter em conta algumas considerações:
o Ainda não existem óculos para visão directa do feixe que garantam uma
protecção total.
o Estes óculos têm factores de absorção muito elevados pelo que não se
distingue o feixe laser o que pode dar lugar a exposições a radiação
directa.
o Estão previstas para um comprimento de onda e uma densidade de
energia concretas, pelo que só servem para lasers de características
concretas.
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Formação
Os lasers das classes 3A, 3B e 4, devem ser manejados só por pessoas que receberam a
formação adequada. Só pessoal muito bem treinado e conhecedor é autorizado a utilizar
lasers. O mínimo requerido, pela ANSI, para que seja concedida licença de utilização de lasers
em qualquer hospital é a frequência de um curso que engloba 5 horas de teoria e o mínimo de
5 horas de prática em animais de laboratório, e a observação de actuação de pessoal já
experiente.

5.6. EXPOSIÇÃO DOS TRABALHADORES ÀS RADIAÇÕES ÓPTICAS DE FONTES


ARTIFICIAIS

Entrou em vigor no dia 30 de Outubro a Lei nº 25/2010 de 30 de Agosto, que estabelece


as prescrições mínimas para protecção dos trabalhadores contra os riscos para a saúde e
a segurança devidos à exposição, durante o trabalho, a radiações ópticas de fontes
artificiais. A Lei agora aprovada transpõe a Directiva n.º 2006/25/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 5 de Abril relativa às prescrições mínimas de saúde e segurança
em matéria de exposição dos trabalhadores aos riscos devidos aos agentes físicos
(radiação óptica artificial). Este diploma é aplicável a todas as actividades dos sectores
privado, cooperativo e social, da Administração Pública central, regional e local, dos
institutos públicos e das demais pessoas colectivas de direito público, bem como a
trabalhadores por conta própria.
Este diploma define a Radiação óptica como a radiação electromagnética na gama de
comprimentos de onda entre 100 nm e 1 mm cujo espectro se divide em: Radiação
ultravioleta, Radiação Visível e Radiação Infravermelha.
De acordo com o mesmo diploma a Radiação é definida como laser quando proveniente de
um dispositivo capaz de produzir ou amplificar uma radiação electromagnética na gama de
comprimentos de onda da radiação óptica, caso contrário é lhe atribuída a designação de
radiação não coerente.

RISCOS DAS RADIAÇÕES ÓPTICAS

A exposição dos colaboradores às Radiações ópticas pode ter efeitos adversos crónicos na
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pele e nos olhos. A tabela seguinte apresenta uma relação entre o tipo de radiação e o
respectivo risco associado.
Comprimento de Gama de
Órgão afectado Risco
onda (nm) radiações
180 a 400 UV Olho Lesão fotoquímica e lesão térmica
180 a 400 UV Pele Eritema
400 a 700 Visível Olho Lesão da retina
400 a 600 Visível Olho Lesão fotoquímica
400 a 700 Visível Pele Lesão térmica
700 a 1400 IVA Olho Lesão térmica
700 a 1400 IVA Pele Lesão térmica
1400 a 2600 IVB Olho Lesão térmica
2600 a 106 IVC Olho Lesão térmica
1400 a 106 IVB, IVC Olho Lesão térmica
1400 a 106 IVB, IVC Pele Lesão térmica

OBRIGAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES

Avaliação do nível de radiação: em primeiro lugar, a Organização avalia ou mede os níveis


de radiação óptica a que os trabalhadores estão expostos para que eles possam ser
reduzidos caso excedam os limites aplicáveis.
Redução dos riscos: em segundo lugar, a organização deve reduzir o nível de radiação se
a avaliação indica qualquer possibilidade de os VLE serem ultrapassados, por exemplo,
escolhendo um material diferente ou limitando a duração da exposição.
Informação e formação: os trabalhadores ou os seus representantes recebem a informação
e formação, por exemplo na utilização de equipamento de protecção.
Consulta e participação dos trabalhadores: as organizações devem consultar os
trabalhadores ou os seus representantes com antecedência à protecção da segurança e da
saúde dos trabalhadores. Podem propor medidas para melhorar essa protecção e até
mesmo recorrer às autoridades competentes se considerarem que a protecção da saúde
oferecida pelo empregador não é suficiente.

VALORES LIMITES DE EXPOSIÇÃO (VLE)

Para uma dada fonte de radiação óptica pode haver mais que um valor limite de exposição.
Os valores limite de exposição (VLE) a radiações não coerentes, com excepção das
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emitidas por fontes naturais de radiação óptica, constam do anexo I da Lei n.º 25/2010, por
sua vez os VLE para radiações Laser constam no respectivo anexo II.
Lei nº 25/2010 de 30 de Agosto
Valores limite de exposição para radiação óptica não coerente
Anexo I

Valores limite de exposição para a exposição do olho ao laser — Exposição de


curta duração < 10 s
Valores limite de exposição para a exposição do olho ao laser — Exposição de
Anexo II
longa duração> 10 s
Valores limite de exposição para a exposição da pele ao laser
Correcção para exposição repetitiva

ASPECTOS A CONSIDERAR NA AVALIAÇÃO DE RISCOS

Na avaliação de riscos à exposição a radiações ópticas de fontes artificiais deve ser tido em
consideração:

• O nível, a gama de comprimentos de onda e a duração da exposição;


• Os valores limite de exposição definidos legalmente;
• Os efeitos sobre a segurança e saúde de trabalhadores particularmente sensíveis
aos riscos a que estão expostos;
• Os eventuais efeitos sobre a segurança e saúde de trabalhadores resultantes de
interacções no local de trabalho entre radiações ópticas e substâncias químicas
fotosensibilizantes;
• Os efeitos indirectos, nomeadamente cegueira temporária, explosão ou incêndio;
• A existência de equipamentos de substituição concebidos para reduzir os níveis de
exposição a radiações ópticas de fontes artificiais;
• As informações adequadas resultantes da vigilância da saúde, incluindo informação
publicada;
• As fontes múltiplas de exposição a radiações ópticas artificiais;
• A classificação atribuída ao laser, em conformidade com a norma CEI (Comissão
Electrónica Internacional) pertinente, ou qualquer classificação semelhante no caso
de fonte artificial susceptível de causar danos similares aos de um laser de classe
3B ou 4;
• As informações prestadas pelos fabricantes de fontes de radiações ópticas e de
equipamento de trabalho associado, de acordo com a legislação aplicável.
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Esta avaliação deve ser registada e se não for necessário uma avaliação mais
pormenorizada, esta deve ser justificada pela Organização. Para alem disso deverá ser
actualizada sempre que haja alterações significativas que a possam desactualizar ou se o
resultado da vigilância da saúde assim o obrigar. Por último se foram ultrapassados os VLE
a periodicidade mínima de avaliação é de uma por ano
Cancro e radiações ionizantes

Existe considerável informação científica sobre a relação cancro-radiações ionizantes ( XRTs ).


XRTs é uma forma de energia que inclui o grupo das radiações electromagnéticas de baixo
comprimento de onda e alta frequência, como os raios X, classicamente usados como técnica
de diagnóstico radiológico, e a radiação gama, usada no tratamento de radioterapia das
doenças malignas.

Outras radiações classicamente consideradas corpusculares, embora tenham associado um


componente ondulatório, incluem a radiação alfa (núcleos de átomos de hélio constituídos
por dois protões e dois neutrões ) e os raios beta, que são feixes de electrões. XRTs são
agentes carcinogénicos e mutagénicos, que interactuam com o ADN nuclear e causam
mutações genéticas e anomalias cromossómicas que têm um papel fundamental na génese
das doenças malignas.

Muitos dados empíricos foram obtidos através de observações sobre o efeito da exposição
prolongada a doses baixas de radiações em radiologistas, sobre os sobreviventes das bombas
atómicas no Japão, e sobre doentes que recebem radioterapia para tratamento de cancros (
e.g., cervix uterina ) e doenças benignas ( e.g., pelvispondilite anquilosante ).

O risco parece maior se uma dose de radiação é acumulada durante um curto intervalo de
tempo do que durante longos períodos. Não existem muitos dados firmes sobre os riscos de
pequenas doses de radiação usadas com fins diagnósticos, com excepção de um aumento de
50% em leucemias e outros cancros das crianças associados com exposições pré-natais do
feto. Em termos gerais, o cancro radiogénico é pouco frequente, e é responsável por menos
de 30 cancros por milhão de pessoas por ano.

Cerca de 5% de todas as mortes por cancro podem ser atribuídas às XRTs, embora esta
percentagem possa ser de facto um pouco maior se se confirmarem certas recentes
estimativas sobre o risco de cancro do pulmão associado a níveis atmosféricos de um gás
radioactivo natural - o rádon, que é um produto da desintegração radioactiva do urânio - nas
habitações, devido a emanações de rádon emitidas por depósitos de urânio no solo.

Estudos de mineiros que trabalham no subsolo expostos a doses relativamente elevadas de


radiação alfa mostram um aumento do risco de cancro do pulmão, mesmo a níveis que
podem ser atingidos através de uma exposição prolongada nas habitações. Estudos
estatísticos ( case-control ) estão em curso, relacionando o cancro do pulmão com medições
cuidadosas dos níveis habitacionais de rádon. Estima-se que acima de 2% das casas nos EUA
têm níveis de rádon que são 8 vezes o valor normal. O risco correspondente de cancro do
pulmão é de um factor 4, particularmente em fumadores. Em áreas onde o rádon é detectável,
o risco é maior em pessoas que vivem perto do solo. O rádon é quimicamente inerte, mas
tem sido identificado no tabaco.
Pág.66

Quase todos os departamentos do organismo são vulneráveis aos efeitos carcinogénicos da


radiação, mas os tecidos mais rádiosensíveis são a medula óssea, glândulas mamárias e
tiróide. Existem certos padrões de risco bem definidos. Por exemplo, o risco de leucemias
induzidas por XRTs começa 2-4 anos após a exposição, tem um pico de incidência aos 6-8
anos, e declina para valores normais no espaço de 25 anos.
Em contraste, carcinomas radiogénicos têm um período latente mínimo de 5-10 anos, e uma
distribuição temporal que é semelhante à natural curva de incidência dos carcinomas em
função da idade, o que sugere a influência de outros factores actuando num estádio mais
tardio da carcinogénese. Exposições no útero, durante a infância ou em mulheres jovens
resultam num risco maior de doenças malignas hematológicas ( e.g., leucemias ), da tiróide e
das glândulas mamárias. Existe alguma preocupação com o uso em larga escala da
mamografia, que é uma excelente técnica de diagnóstico precoce ( " screening" ) do cancro
da mama.

Embora exista uma curva relativamente linear de dose-resposta em relação ao cancro da


mama, o efeito das XRTs é mais pronunciado em mulheres jovens e não é evidente nas
mulheres que foram expostas após a idade de 40 anos, o que é tranquilizador, já que as
indicações para o despiste do cancro da mama pela mamografia começam em geral aos 40
anos em mulheres de alto risco e aos 50 anos na população feminina em geral. Os efeitos
carcinogénicos dos campos electromagnéticos devidos aos aparelhos eléctricos nas casas (
e.g., televisões, écrans de computadores, telefones celulares ) e linhas de alta tensão
continuam a ser especulativos e controversos.

Os estudos existentes dão resultados conflituosos. Estudos ocupacionais sugerem um risco


aumentado de leucemia aguda mielóide e gliomas em electricistas, mas os resultados não
são conclusivos. Até à data, não existe evidência de risco excessivo de doenças malignas em
indivíduos submetidos a ressonâncias nucleares magnéticas ( MRI ) ou tomografias axiais
computorizadas ( TAC ). As novas técnicas radiológicas, aplicando tecnologias de ponta,
minimizam o risco de cancro associado aos testes diagnósticos de imagem.

Antonio Fontelonga, MD

Fonte:http://www.alert-
online.com/?key=680B3D50093A6A032E510E2D36020C400E2A322A2E4106273B4822515A7F665B

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CAPÍTULO 4

RUÍDO

1. O SOM
O som e caracteriza por variações de pressão que necessitam de um meio compressível
como, por exemplo, o ar, para seu deslocamento. São ondas mecânicas, portanto,
diferentemente da luz que é uma onda electromagnética e não necessita de meio físico para
sua propagação. No entanto, não são todas as flutuações de pressão que produzem estímulo
auditivo no ser humano. Assim como a sensação luminosa, apenas uma faixa limitada de
frequência pode produzir a sensação de audição humana. Os animais também possuem
sensação auditiva em faixas de frequências que podem ser mais amplas que a do homem. É
através do som que comunicamos, ouvimos música, obtemos informações, etc.

Figura. 31 - Propagação do som e respectiva representação gráfica.

CARACTERÍSTICAS DO SOM

EMISSÃO, PROPAGAÇÃO E RECEPÇÃO


A ciência que estuda o ruído é a acústica e envolve os processos de emissão, propagação e
recepção do som
 EMISSÃO: mecanismo pelo qual uma fonte sonora causa um movimento oscilatório
no meio
 PROPAGAÇÃO: fenómeno pelo qual este movimento é transmitido através do meio.
 RECEPÇÃO: fenómeno através do qual o som é detectado por ex. Por microfone ou
ouvido.
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O conhecimento detalhado destes fenómenos permite:


 EMISSÃO: reduzir o ruído na fonte
 PROPAGAÇÃO: atenuar ou modificar um meio de propagação
 RECEPÇÃO: medir o ruído ou saber os seus efeitos sobre o homem

VELOCIDADES DO SOM
O som propaga-se em diversos meios sólidos, líquidos ou gasosos, mas a sua velocidade de
propagação varia de meio para meio e até com a temperatura. A velocidade de propagação
no ar é de 340m/s (à temperatura ambiente), na água é de 1 500m/s e no aço é de 5 000m/s.

Tabela 22: Velocidades de propagação do som

No ar, a propagação do som (344 m/s) é muitíssimo mais lenta do que a da luz (300 000
000 m/s). Na água, a velocidade do som é maior do que no ar.

2. RUÍDO

"...Considera-se ruído o conjunto de sons susceptíveis de adquirir para o homem um


carácter afectivo desagradável e/ou intolerável, devido sobretudo aos incómodos, à
fadiga, à perturbação e não à dor que pode produzir.“
(Definição CEE, 1977)

Caracteriza-se por:

− Psicologicamente: - por resultar incomodo ou indesejável.


− Comunicacionalmente: - por ter baixo ou nulo conteúdo informativo.
− Fisiologicamente: - pelas perturbações orgânicas que pode causar.
− Fisicamente: - pela sua intensidade, frequência (no caso de um som puro) e
composição espectral (no caso de um som composto).
Pág.69
2.1. GRANDEZAS FÍSICAS E UNIDADES ACÚSTICAS
− Potência Sonora (P): Caracteriza a energia sonora produzida por unidade de tempo
por uma fonte, expressa-se em W (Watt). A potência sonora é intrínseca à fonte
sonora.
− Pressão Sonora (p): É a diferença entre a pressão instantânea do ar na presença de
ondas sonoras e a pressão atmosférica, expressa-se em Pa. A pressão sonora
depende da envolvente acústica, isto é do meio e das condições do local.

Figura 32: Diferença entre pressão atmosférica e pressão sonora

− Intensidade sonora (I) - Fluxo de energia, numa determinada direcção, através de


um elemento de superfície. Expressa-se em w/m2.

− Frequência do som (f) - Número de variações de pressão (ou de oscilações) durante


um segundo. Expressa-se em Hz (Hertz = 1 ciclo/segundo)

Figura 33: Espectro de Frequências Sonoras

O ouvido humano apenas tem percepção para os sons onde a frequência está
compreendida entre 20 Hz e 20 000 Hz.
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Figura.34 - Curva de sensibilidade do ouvido humano.

− Timbre - O timbre permite distinguir 2 sons de igual frequência fundamental (altura) e


do mesmo nível (intensidade), por essa razão a mesma nota em instrumentos
diferentes soa de modo diferente.

Figura.35 - Sons com a mesma frequência fundamental mas harmónicos diferentes.

− Nível de Pressão Sonora (Lp)

 p
L p (dB) = 20  log10  
 p0 

Lp - Nível de pressão sonora (dB)


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p - pressão sonora (Pa)


po - pressão sonora de referência (20x10-6 Pa)

− dB – decibel
As grandezas acústicas variam em grandes proporções. A sensação sonora varia de forma
logarítmica em função da estimulação. Por esta razão foi introduzida a escala logarítmica em
função dos decibéis .

O decibel é a unidade utilizada para medir fisicamente os níveis sonoros.

➢ Uma escala logarítmica permite a compressão de uma gama de valores demasiado


vasta para poder ser representada na mesma escala linear.
➢ Parâmetros acústicos passam a ser exprimidos como uma razão logarítmica entre
os valores medidos e os valores de referência.

Figura 36 - Escala de pressão sonora (Pa) / Nível de pressão sonora (dB).

O limiar de audição, isto é, a mais pequena pressão audível por um ouvido normal, não é a
mesma para todas as frequências. É de 20x10-6 Pa (0,000 02 Pa) entre 2 000 e 3 000 Hz e é
muito superior fora desta gama de frequências (como se pode ver na Fig. 6).

Podem-se combinar níveis de pressão sonora. Para sons aleatórios, o nível global é a soma
algébrica das energias acústicas. No entanto é incorrecto adicionar os seus níveis (o logaritmo
de uma soma não é igual à soma dos logaritmos).
Pág.72
A solução passa pela utilização da seguinte equação:

Quando dois níveis sonoros são iguais, o


nível sonoro global sofre um incremento
de 3 dB.

Para N níveis sonoros iguais, L1, o nível


sonoro total resultante é

Lp final = L1 + 10 x Log N

Se a diferença entre dois níveis sonoros


for maior ou igual a 10 dB, a contribuição
da fonte mais baixa pode ser desprezada.

Pode ser usado outro método para adicionar ou subtrair níveis de pressão sonora (através
dos ábacos)

Deve-se proceder do seguinte modo:


1. Calcular a diferença ΔLp
2. Utilizar a curva para obter L+
3. Adicionar L+ ao nível mais elevado para obter o nível global Lpt

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Figura 37: Gráfico para combinação de níveis de pressão sonora


2.2. CURVAS DE PONDERAÇÃO

As curvas de compensação são padronizadas pela ISO e IEC para indicar a resposta dos
medidores em relação à pressão existente no ambiente e aquilo que seria recebido pelo ouvido
humano.
O limiar da audibilidade humana situa-se entre 20Hz e 20 kHz.
A seguir é apresentada na figura 8 comparativo das curvas de compensação A e C com a
Linear.

Figura 38: Curvas de ponderação normalizadas A, C, e Linear.

A malha de ponderação A é utilizada nos equipamentos de medida para simular a


sensibilidade do ouvido humano.

2.3. BANDAS DE OITAVA

O espectro sonoro pode ser representado por um grande número de tons puros entre dois
limites de frequência, podendo estes limites ser 1 Hz ou centenas de Hz. O limiar da
audibilidade humana está entre 20 Hz e 20 kHz. As faixas em que são divididas as frequências
são chamadas de bandas. As bandas mais utilizadas em avaliação de ruído são as de oitava
e terças de oitava.

Banda de oitava é o intervalo de frequência em que a frequência superior (f2) da banda é igual
ao dobro da frequência inferior da banda (f1).
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f2 = 2 x f 1
Onde
f1 = frequência inferior da banda em Hz
f2 = frequência superior da banda em Hz
Terça de oitava é o intervalo onde a frequência superior da banda (f2) é igual à raiz cúbica
de 2 multiplicada pela frequência inferior da banda (f1).

A frequência central (fm) de qualquer uma das bandas será sempre a raiz quadrada do produto
da frequência superior e da inferior (média geométrica).
Os filtros de oitava, utilizados para medição, tem frequências de corte estabelecidas, em
função da frequência central e obedecem padronização ISO e IEC.

2.4. O OUVIDO HUMANO

As ondas sonoras percorrem o ouvido externo até atingir o tímpano, provocando vibrações
que por sua vez são transferidas para os três ossos do ouvido médio, que trabalham corno
uma série de alavancas; portanto o ouvido médio actua como um amplificador. As vibrações
ondas de pressão que propagam-se até a cóclea, e viajam ao longo do tubo superior da
mesma. Neste processo, as paredes finas da cóclea vibram, e as ondas passam para o tubo
central e depois para o tubo inferior até a região conhecida como janela redonda. As vibrações
das membranas basal e tectória, em sentidos opostos, estimulam as células a produzirem
sinais eléctricos. As ondas percorrem distâncias diferentes ao longo da cóclea, com vários
tempos de atraso, dependendo da frequência. Isto permite ao ouvido distinguir as frequências
do som.
A percepção da direccionalidade do som ocorre através do processo de correlação cruzada
entre os dois ouvidos. A diferença de tempo entre a chegada do som num ouvido e no outro
(ouvido esquerdo e direito), fornece informação sobre a direcção de chegada; por isso é
necessário manter os dois ouvidos sem perda de sensibilidade.
Qualquer redução na sensibilidade de audição é considerada perda de audição. A exposição
a níveis altos de ruído por tempo longo danifica as células da cóclea. O tímpano, por sua vez,
raramente é danificado por ruído industrial.

O ouvido humano não tem a mesma sensibilidade para todas as frequências. Ouve-se
melhor os sons das frequências médias e altas do que das baixas.
Pág.75
Figura 39: Esquema do Ouvido Humano

2.5. EFEITOS DO FISIOLÓGICOS DO RUÍDO

2.5.1. EFEITOS SOBRE O APARELHO AUDITIVO


◼ Perdas Temporárias
- Fadiga auditiva - elevação temporária do limiar inferior de audição.
- Perturbação na localização da fonte sonora - quanto mais intenso for o ruído,
mais difícil se tornará avaliar correctamente a aproximação de perigo.
- Efeito de máscara - os sons muito intensos podem ocultar em determinadas
condições os de menor intensidade.
- Sensação auditiva e tempo de reacção - um ruído de fundo prolongado no tempo
pode diminuir a sensação auditiva, aumentando o tempo de reacção e expondo
o indivíduo a um maior risco de acidente.
◼ Perdas Definitivas
- Exposição Intensa - Trauma auditivo
Ocorre em poucas ou numa única exposição a níveis sonoros muito elevados, em
que se dá a destruição celular, irrecuperável, no órgão de Corti.
- Exposição prolongada no tempo (Efeito crónico).
Pág.76
2.5.2. EFEITOS FISIOLÓGICOS
◼ Sistema nervoso central
- alterações do sono.
- diminuição da memória de retenção.
◼ Psíquicos
- irritabilidade.
- agravamentos de estados de depressão e ansiedade.
◼ Cardiovasculares
- constrição dos vasos sanguíneos.
- possível aumento da tensão arterial e da frequência cardíaca.
◼ Aparelho digestivo
- aumento da secreção gástrica.
- transtornos digestivos.
- hipermotilidade gástrica e intestinal.
◼ Pele e músculos
- vasoconstrição.
- aumento da tensão muscular.
◼ Órgão da visão
- diminuição da discriminação das cores.
- diminuição da visão na obscuridade.
- diminuição da sensação de relevo dos objectos.

2.5.3. EVOLUÇÃO DA PERDAS AUDITIVAS

Fases das Perdas Auditivas


1. Estádio inicial – simples cansaço auditivo reversível após o término da exposição.
2. Início da afectação auditiva – perdas na banda dos 4000 Hz de 30 dB (o indivíduo não
dá conta da perda de acuidade auditiva).
3. Afectação auditiva confirmada – perda na banda dos 2000 Hz de 30 dB (Hipoacústica
ligeira).
De seguida, a degradação do limiar de audição aprofunda-se e alarga-se, o indivíduo
torna-se um pouco “duro de ouvido” e a audição de música fica alterada e dificultada.
5. Constrangimento social – perda na banda dos 1000 Hz de 30 dB (dificuldade em
manter conversa telefónica, ouvir a televisão, manter uma conversa com vários
interlocutores em simultâneo, etc.).
6. Deficiência grande – perdas massivas de pelo menos 30 dB na banda dos 500 Hz
(comunicação oral muito difícil) que dá origem a um estado de invalidez.
Pág.77
Frequência (Hz)
500 1000 2000 3000 4000 6000
0
Audição Norm al
10
20 Estado 1
Perda Auditiva (dB)

30
40
Estado 2
50
60
70 Estado 3
80
90
100

Figura 40: Fases das Perdas Auditivas

2.6. ENQUADRAMENTO LEGAL: EXPOSIÇÃO PROFISSIONAL AO RUÍDO

Decreto-Lei n.º 182/2006 de 6 de Setembro (ver anexo D)

Definições

Para efeitos deste diploma, entende-se por:


➢ «Exposição pessoal diária ao ruído (LEX,8h)», o nível sonoro contínuo equivalente,
ponderado A, calculado para um período normal de trabalho diário de oito horas ou
para uma média semanal dos valores diários de exposição pessoal ao ruído, nas
situações em que a exposição sonora é muito variável de um dia para o outro. Nestas
situações, avaliação de um único dia de trabalho seria pouco representativa da
exposição real.
➢ «Exposição pessoal diária efectiva (LEX,8h,efect)», a exposição pessoal diária ao ruído
tendo em consideração a atenuação proporcionada pelos protectores auditivos.
➢ «Nível de pressão sonora de pico (Lcpico)», o valor máximo da pressão instantânea.
➢ «Valores de acção inferiores e superiores», os níveis de exposição diária ou
semanal ou níveis de pressão sonora de pico que em caso de serem ultrapassados,
implicam a necessidade de desencadear medidas preventivas no sentido de garantir
a redução do risco para a segurança e saúde dos trabalhadores expostos.
Pág.78

➢ «Valores limite de exposição», os níveis de exposição diária ou semanal ou o nível


de pressão sonora de pico que não deve em caso algum ser ultrapassado.
➢ «Substâncias ototóxicas», as substancias químicas que apresentam toxicidade
para o aparelho auditivo. Na indústria, aparecem normalmente associadas aos
solventes e têm capacidade de interagir com o ruído, potenciando assim os seus
efeitos negativos.
Valores Limite e valores de Acção

Com este diploma legal passam a estar definidos três níveis de intervenção:
• Valores de acção inferiores: LEX,8h = 80 dB(A) e LCpico = 135 dB(C);
• Valores de acção superiores: LEX,8h = 85 dB(A) e LCpico = 137 dB(C);
• Valores limite de exposição: LEX,8h = 87 dB(A) e LCpico = 140 dB(C).

Avaliação dos riscos

Nas actividades susceptíveis de apresentar riscos de exposição ao ruído, o empregador deve


avaliar e, se necessário, medir os níveis de ruído a que os trabalhadores se encontram
expostos.
Nesta avaliação devem ser tidos em consideração os seguintes princípios:
a) Avaliar o nível, a natureza e a duração da exposição ao ruído dos trabalhadores,
considerando também a exposição ao ruído de características impulsivas;
b) A avaliação deve ser feita em concordância com os valores de acção inferiores,
superiores e os valores limite de exposição definidos pela regulamentação;
c) A avaliação deve ter particular atenção à possibilidade de haver trabalhadores com
especial sensibilidade aos riscos profissionais a que estão expostos;
d) A avaliação de riscos deve considerar a possibilidade de interacção entre o ruído,
demais vibrações e as substâncias ototóxicas eventualmente presentes nos locais de
trabalho;
e) Considerar as interferências que o ruído pode provoca na percepção adequada de
sinais de aviso, alarme e alerta necessários à redução de riscos de acidente;
f) Ter em conta as informações disponibilizadas pelos fabricantes dos equipamentos,
nomeadamente no que respeita aos riscos profissionais associados ao seu
funcionamento;
g) Garantir que os equipamentos de trabalho de substituição se encontram de acordo
com os princípios gerais de diminuição das emissões sonoras;
h) Ter em consideração a possibilidade de a exposição ao ruído dos trabalhadores se
prolongar para além da duração máxima de um período normal de trabalho;
i) Utilizar, a informação resultante da vigilância médica da saúde dos trabalhadores
expostos ao ruído laboral, respeitando as restrições definidas por legislação
específica;
j) Garantir a disponibilidade de equipamentos de protecção auditiva com características
de atenuação adequadas às características do ruído em questão.

A avaliação de riscos deve ser efectuada com uma periodicidade mínima de um ano, sempre
Pág.79

que sejam alcançados ou ultrapassados os níveis de acção superiores (LEX,8h = 85 dB(A) e


LCpico = 137 dB(C))
Deve ainda ser actualizada sempre que se introduzam alterações significativas aos processos
produtivos, nomeadamente a instalação de novos equipamentos, alteração do “lay-out” ou
criação de novos postos de trabalho.
A medição dos níveis de ruído, para além de poder ser realizada por entidades acreditadas,
pode também ser realizada por técnicos de higiene e segurança do trabalho, com certificado
de aptidão profissional válido e com formação específica em instrumentação e metodologias
de medição e avaliação da exposição ao ruído laboral.

Redução da exposição

De acordo com os princípios gerais de prevenção dos riscos, a entidade empregadora deve
utilizar todos os meios disponíveis para conseguir eliminar na origem ou reduzir ao mínimo
possível os riscos associados ao ruído no local de trabalho, seguindo as seguintes principais
linhas orientadoras:
a) Procura adoptar métodos de trabalho alternativos que permitam diminuir os tempos
de exposição dos trabalhadores ao ruído;
b) Escolher equipamentos de trabalho bem concebidos, ergonomicamente adequados e
que produzam os mínimo ruído possível;
c) Conceber, dispor e organizar os locais e os postos de trabalho de forma adequada;
d) Proporcionar informação e formação dos trabalhadores, com o objectivo de garantir
uma utilização correcta e segura dos equipamentos de trabalho e reduzir ao mínimo
a sua exposição ao ruído;
e) Recorrer à implementação de medidas técnicas de redução de ruído, tais como o
encapsulamento de fontes ruidosas, instalação de painéis absorventes e
equipamentos amortecedores para evitar a transmissão de ruído para as estruturas;
f) Desenvolver, implementar e garantir uma correcta programação das actividades de
manutenção dos locais de trabalho e de todos os equipamentos a estes associados;
g) Adoptar medidas de organização do trabalho, de forma a diminuir a duração da
exposição ao ruído;
h) Ajustar os horários de trabalho e os respectivos períodos de descanso, considerando-
os como uma possível forma de reduzir a exposição dos trabalhadores ao ruído.

Pág.80
Protecção individual

Em todas as situações em que não seja possível reduzir a exposição ao ruído através das
medidas anteriormente referidas, o empregador deve garantir a disponibilidade de
equipamentos de protecção auditiva individual, sempre que seja ultrapassado um dos valores
de acção inferiores, e assegurar a sua efectiva utilização, sempre que o nível de exposição ao
ruído alcance ou ultrapasse os valores de acção superiores.

Informação, Consulta e Formação dos trabalhadores

Para além das responsabilidades gerais em matéria de informação e consulta dos


trabalhadores, a entidade empregadora deve assegurar a informação, consulta e formação
aos trabalhadores expostos a níveis de ruído iguais ou superiores aos valores de acção
inferiores, considerando:
a) Os riscos para a saúde e segurança dos trabalhadores expostos ao ruído no local de
trabalho;
b) As medidas já implementadas ou a implementar com o objectivo de eliminar ou reduzir
a exposição ao ruído laboral;
c) Os valores de acção inferiores, superiores e os valores limite de exposição;
d) Os resultados das medições e avaliações de ruído e o seu significado em termos de
potencial risco para a saúde e segurança dos trabalhadores;
e) A técnica adequada para colocação e utilização dos equipamentos individuais de
protecção individual;
f) A forma e a importância de detectar e precocemente indícios de trauma auditivo
relacionado com a actividade laboral;
g) A necessidade de vigilância médica e a sua periodicidade em função do nível de
exposição de cada trabalhador ao ruído no local de trabalho;
h) Metodologias e praticas de trabalho seguras e com potencial para minimizarem a
exposição ao ruído e os seus consequentes efeitos.

Vigilância da Saúde dos Trabalhadores

Para além das obrigações gerais em matéria de saúde no trabalho, a entidade empregadora
deve garantir uma adequada vigilância médica dos trabalhadores expostos ao ruído, com o
objectivo de detectar precocemente eventuais perdas de audição e de tomar medidas no
sentido da preservação da sua capacidade auditiva.
Pág.81
Assim, o empregador deve garantir a vigilância médica e audiométrica da função auditiva dos
trabalhadores com a seguinte periodicidade:
➢ Anual (ou inferior se o médico o entender) para os trabalhadores que tenham estado
expostos a níveis de ruído superiores aos valores de acção superiores (LEX,8h = 85
dB(A) e LCpico = 137 dB(C)).
➢ De dois em dois anos (ou inferior se o médico o entender) para os trabalhadores que
tenham estado expostos a níveis de ruído superiores aos valores de acção inferiores
(LEX,8h = 80 dB(A) e LCpico = 135 dB(C)).

2.7. MEDIÇÃO DO RUÍDO

1 - Na determinação da exposição pessoal diária do trabalhador ao ruído durante o trabalho,


LEX,8h e do nível de pressão sonora de pico, L(índice Cpico), ou para a selecção dos
protectores de ouvido, são utilizados os instrumentos de medição indicados no ponto 2.8. (pág.
81).
2 - Os instrumentos de medição são sujeitos a uma verificação no local mediante um calibrador
acústico, antes e depois de cada medição ou série de medições.
3 - Posições de medição:
a) As medições devem ser realizadas no posto de trabalho, sempre que possível, na
ausência do trabalhador, com a colocação do microfone na posição em que se situaria
a sua orelha mais exposta;

b) Quando a presença do trabalhador for necessária, o microfone deve ser colocado a


uma distância de entre 0,10 m e 0,30 m em frente à orelha mais exposta do trabalhador;

c) No caso de utilização de um dosímetro ou de outro aparelho de medição usado pelo


trabalhador, o microfone pode ser fixado no vestuário, no ombro, no colarinho, ou no
capacete, respeitando a distância fixada na alínea anterior;

d) A direcção de referência do microfone deve ser, se possível, a do máximo ruído,


determinado por um varrimento angular do microfone em torno da posição de medição.

4 - Intervalo de tempo de medição:

a) O intervalo do tempo de medição deve ser escolhido de modo a medir e a englobar


Pág.82

todas as variações importantes dos níveis sonoros nos postos de trabalho e de modo
que os resultados obtidos evidenciem repetibilidade;

b) O intervalo de tempo de medição, que depende do tipo de exposição ao ruído, pode


ser subdividido em intervalos de tempo parciais com o mesmo tipo de ruído,
designadamente ruído correspondente às diferentes actividades do posto de trabalho
ou do seu ambiente de trabalho;

c) O intervalo de tempo de medição escolhido, que depende das variações do ruído,


corresponde à duração total da actividade, a uma parte desta duração e a várias
repetições da actividade, de modo que seja possível obter níveis de exposição sonora
ou níveis sonoros contínuos equivalentes, ponderados A, estabilizados a mais ou menos
0,5 dB (A).

5 - Quando os valores de acção ou o valor limite da exposição pessoal diária se situem


dentro da margem de erro das medições, entendendo-se por margem de erro o intervalo
entre o resultado da medição subtraído e adicionado do valor da incerteza da medição,
representado pela expressão:

LEX,8h - incerteza da medição ≤valor de acção ou valor limite ≤ LEX,8h + incerteza da medição

pode optar-se por:

a) Aumentar o número das medições ou a sua duração, até ao limite em que o intervalo
do tempo de medição coincida com o de exposição, de modo a obter um grau máximo
de exactidão e de redução da margem de erro;

b) O empregador assumir que tais níveis ou limites foram ultrapassados e aplicar as


correspondentes medidas preventivas.

Pág.83
6 - Estimativa da exposição pessoal diária ao ruído, LEX,8h - se durante um dia de trabalho
um trabalhador está exposto a n diferentes tipos de ruído e se, para efeito de avaliação,
cada um desses ruídos for analisado separadamente, a exposição pessoal diária desse
trabalhador, LEX,8h pode calcular-se pelas equações:

7 - Média semanal dos valores diários da exposição pessoal, - a determinação da média


semanal dos valores diários é obtida pela expressão:

8 - Na determinação da exposição pessoal diária ao ruído podem ser utilizados outros


métodos, desde que conformes com a normalização aplicável.

4.1. EQUIPAMENTOS DE MEDIÇÃO RUÍDO

Sonómetro – instrumento de medição do ruído, projectado para:


• Responder aos sons de forma idêntica ao ouvido humano – malha de
ponderação A;
• Fornecer medidas objectivas e reprodutíveis dos níveis de pressão sonora
Utiliza-se para medir um ruído estável em que sabemos o tempo de exposição.

Pág.84

Figura 41 : Sonómetros (CESVA)


Figura 42 : Ecrãs com os resultados dos Sonómetros (CESVA)

Os instrumentos de medição devem dispor das características temporais necessárias


em função do tipo de ruído a medir e das ponderações em frequência A e C e cumprir,
no mínimo, os requisitos equivalentes aos da classe de exactidão 2, de acordo com a
normalização internacional, sendo preferível a utilização de sonómetros da classe 1,
para maior exactidão das medições.

Deve ser evitada a utilização de sonómetros não integradores para a determinação da


exposição pessoal do trabalhador quando a pressão sonora apresenta flutuações do
nível sonoro, LpA, de grande amplitude ou para períodos de exposição irregulares do
trabalhador.

Em caso de dúvida de ultrapassagem dos valores limite, as medições devem ser


confirmadas com a utilização de sonómetros integradores.

Os dosímetros de ruído para a medição da exposição pessoal diária de cada trabalhador


podem ser utilizados desde que:

a) Estejam calibrados segundo o critério ISO, isto é, de forma que, ao duplicar a


energia sonora recebida, LEX,8h aumenta 3 dB (A);

b) Permitam determinar o nível sonoro contínuo equivalente, LAeq,T, ou o nível de


exposição pessoal diária ao ruído, LEX,8h, e o nível de pressão sonora de pico,
LCpico.
Pág.85

Os instrumentos utilizados para medições de ruído devem possuir indicador de sobrecarga.


CAPÍTULO 4

VIBRAÇÕES

1. INTRODUÇÃO
Já no século XIX os médicos do trabalho concluíram que os trabalhadores que usavam
equipamentos que vibravam eram atingidos por certas doenças, que no início do século
seguinte se identificaram como lesões dos vasos sanguíneos nas extremidades dos dedos
das mãos (Universidade Aberta).

Em todos os sectores de actividade humana o corpo humano está permanentemente


exposto a vibrações mecânicas com maior ou menor perturbação do bem-estar, segurança
e saúde dos trabalhadores mais expostos.

As vibrações são agentes físicos nocivos que afectam os trabalhadores e podem ser
produzidas por certas máquinas, equipamentos e ferramentas vibrantes que actuam por
transmissão de energia mecânica, emitindo oscilações com amplitudes perceptíveis pelos
seres humanos.

As Vibrações são o movimento que um corpo executa em torno de um ponto fixo, de


forma oscilatória e periódica, devido a forças desequilíbradas.

2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS VIBRAÇÕES


As vibrações caracterizam-se por diversos parâmetros:
• Frequência
• Amplitude ou Nível Intensidade ou deslocamento
• Direcção do movimento
• Velocidade
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• Aceleração
• Nível de aceleração
O movimento pode consistir de um simples componente ocorrendo em uma única frequência,
como um diapasão, ou muitos componentes ocorrendo em diferentes frequências
simultaneamente, como por exemplo, com o movimento de um pistão de um motor de
combustão interna (Figura 43).

Figura 43 – Frequências fundamentais e harmónicas.

2.1. FREQUÊNCIA
A frequência é o número de oscilações completas que a vibração realiza num segundo.
O valor da frequência vem expresso em Hz.

2.2. AMPLITUDE OU NÍVEL DE ACELERAÇÃO


A amplitude de uma vibração pode quantificar-se em função do deslocamento, da velocidade
Pág.87

e da aceleração.
O valor da amplitude é dado pela aceleração do corpo e expressa-se em m/s2 ou dB (escala
logarítmica).
A amplitude da vibração, que caracteriza e descreve a severidade da vibração, pode ser
classificada de várias formas. A figura 44 mostra a relação entre o nível pico-a-pico, nível de
pico, nível médio e nível RMS de um sinal senoidal.
Figura 44 – Representação da intensidade da vibração.

O valor pico-a-pico indica a máxima amplitude da onda e é usado, por exemplo, onde o
deslocamento vibratório da máquina é parte crítica na tensão máxima de elementos de
máquina.
O valor de pico é particularmente usado na indicação de níveis de impacto de curta duração.
O valor médio, por outro lado, é usado quando se quer se levar em conta um valor da
quantidade física da amplitude em um determinado tempo.
O valor RMS é a mais importante medida da amplitude porque ele mostra a média da energia
contida no movimento vibratório. Portanto, mostra o potencial destrutivo da vibração.
Pág.88
A amplitude de vibração pode ser representada pelo deslocamento, velocidade, ou aceleração
e também em decibéis; na prática, a aceleração é usada intensamente como unidade em
vibrações, conforme apresentado na tabela 23, e de acordo com a norma ISO 1683 os níveis
de referência recomendados são:

Tabela 23: Níveis de referência recomendados pela norma ISO 1683

2.3. INTENSIDADE
Este parâmetro que caracteriza a extensão do movimento e pode exprimir-se em milímetros;

2.4. DIRECÇÃO
A Direcção do movimento deve ser definida em relação ao sistema ortogonal de eixos xyz;

2.5. ACELERAÇÃO
Aceleração é o aumento da velocidade por segundo e exprime-se em m/s2. De acordo com
as normas ISO este deve ser o parâmetro medido nos níveis das vibrações humanas.

Nas vibrações a que o homem está sujeito há uma relação entre amplitude e frequência:
quanto mais alta for a frequência de vibração, mais baixa é a amplitude tolerada.

A uma frequência de 20 a 30 Hz uma amplitude de 0,2 mm é o limite da tolerância, limite este


que desce para 0,075 mm para frequências de 100 Hz.

A gama de frequências mais importante pelos seus efeitos no corpo humano é a de 1 a 5 Hz.
Infelizmente esta é a gama onde se situam a maioria das vibrações sofridas pelo homem no
trabalho.
Pág.89
3. CLASSIFICAÇÃO DAS VIBRAÇÕES

3.1. QUANTO À FREQUÊNCIA:


• Vibração Periódica - Movimento que se repete após um determinado período de
tempo.
• Vibração Aleatória - Movimento que possui muitas frequências.
• Vibração Transitória e de Choques - Vibração de curta duração e que ocorre de
forma repentina.

3.2. QUANTO À FORÇA DE ACÇÃO:


• Vibração Livre - Quando os aparelhos vibram sem acção de forças externas
(máquina de lavar);
• Vibração Forçada - Quando os aparelhos vibram por acção de forças externas
(martelo pneumático).

3.3. QUANTO À PARTE DO CORPO ATINGIDA:


• Vibração Localizada
• Vibração Corpo Inteiro

4. FONTES DE VIBRAÇÕES
As vibrações são transmitidas aos trabalhadores por máquinas móveis (tractores agrícolas,
dumpers, cilindros, camiões, etc.) ou fixas (compressores, britadeiras, etc.) e por ferramentas
portáteis (martelo picador, serras, lixadeiras, compactadores, etc.) que podem provocar
alterações no organismo humano, causando desconforto e alterações fisiológicas que vão
afectar o rendimento do trabalho.
Pág.90
Fixas Compressores
Britadeiras...
Máquinas
Pesadas Tractores agrícolas;
Dumpers;
Móveis Tanques
Camiões
Autocarros
Máquinas Aviões

Martelo pneumático;
Máquinas Serras eléctricas;
Portáteis Lixadeiras;
Berbequim eléctrico...

As vibrações normalmente existentes no meio industrial podem ter origem diversa:


Vibrações provenientes do modo de funcionamento dos equipamentos:
• máquinas percurtantes,
• compressores alternativos,
• irregularidades do terreno.
– Vibrações provenientes do próprio processo de produção:
• martelo picador
• britadeira
– Vibrações devido à má manutenção de máquinas e ao funcionamento
deficiente

5. TRANSMISSÃO DAS VIBRAÇÕES


Conforme o contacto entre o objecto vibrante e o corpo, as vibrações podem ser transmitidas:
- A uma parte do corpo, geralmente membros superiores, no trabalho com ferramentas
vibrantes ou transmitidas na fabricação;
Pág.91

- A todo o corpo humano, como no trabalho na vizinhança de grandes máquinas e vibrações


provenientes das máquinas móveis.
Figura 45: Vibrações transmitidas a Figura 46: Vibrações transmitidas ao
todo o corpo: operador do veículo. sistema mão-braço : operador da moto-
serrra.

6. EFEITOS DAS VIBRAÇÕES


Dependendo da frequência do movimento e da sua intensidade, a vibração pode causar
sensações muito diversas, que vão desde o simples desconforto até alterações graves de
saúde, passando pela interferência com a execução de certas tarefas como a leitura, a perda
de precisão a executar movimentos ou a perda de rendimento devido à fadiga.
Caso o tempo de exposição seja prolongado, poderão causar lesões permanentes que estão
classificadas como doenças profissionais (código 44.01 da lista de doenças profissionais),
tais como afecções osteaorticulares e perturbações angioneuróticas da mão.
De um modo geral os efeitos nocivos das vibrações são agrupados em cinco categorias:

• lesões neurológicas, que afectam o sentido do tacto;


• lesões vasculares, que afectam a circulação do sangue nos dedos;
• lesões neuro-vasculares que afectam a força muscular;
• lesões na elasticidade muscular, que afectam a capacidade de abrir e fechar os
dedos e as mãos.

O efeito das vibrações depende da frequência destas. Assim:


- Vibrações elevadas (superiores a 600 Hz) provocam efeitos neuromusculares;
- Vibrações superiores a 150 Hz afectam, principalmente, os dedos;
Pág.92

- Vibrações entre 70 e 150 Hz chegam até às mãos;


- Vibrações entre 40 e 125 Hz provocam efeitos vasculares;
- Vibrações de baixa frequência podem provocar lesões nos ossos.

No entanto, estudos médicos também têm associado às doenças das vibrações outros
efeitos, designadamente:
• dores de cabeça, de estômago e nas orelhas;
• tonturas, vertigens e zumbidos nos ouvidos;
• transpiração abundante ou diminuta;
• perturbações da visão;
• dores lombares;
• hérnias discais;
• sede frequente e perda de apetite;
• dificuldades de audição;
• constipações;
• irritação;
• dificuldade em dormir.

Como é lógico, as doenças das vibrações aumentam a sua prevalência com o aumento do
tempo de exposição.

As doenças causadas pelas vibrações são agravadas nos casos de:


• sexo feminino;
• idosos e adolescentes;
• sensibilidade ao frio;
• trabalho prolongado;
• exposição ao ruído.

que constituem factores de risco.

6.1. Vibrações Transmitidas ao Corpo Inteiro


As vibrações transmitidas a todo o corpo humano, por baixas e médias frequências, produzem
efeitos, sobretudo, ao nível da coluna vertebral, causando o aparecimento de hérnias,
lombalgias, afecções do aparelho digestivo e do sistema cardiovascular, perturbação da visão
e inibição de reflexos.
Quando as vibrações são transmitidas a todo o corpo, este não vibra todo da mesma forma,
mas cada parte reage de maneira diferente, reagindo mais fortemente quando submetidas a
vibrações que se situam na sua própria frequência de ressonância.
A frequência de ressonância é a mais nociva para o corpo humano, pois, quando o corpo
entra em ressonância, amplifica a vibração que recebe.
Pág.93
Figura 47: Frequências de Ressonância

A maior parte afecções causadas pelas vibrações situa-se entre 4 e 20 Hz.

Tabela 24: Efeitos das Vibrações em diferentes gamas de frequência

Efeitos (sintomas) Gama de Frequências (Hz)


Sensação geral de desconforto 4–9
Sensações na cabeça 13 – 20
Sensações no maxilar inferior 6–8
Sensação na garganta 12 – 16
Dores no peito 5–7
Dores abdominais 4 – 10
Urgência em urinar e defecar 10 – 18
Aumento do tónus muscular 13 – 20
Alterações no sistema cadiovascular 13 – 20
Aumento do ritmo respiratório (hiperventilação
4–8
pulmonar)
Contracções musculares 4–9
Pág.94
6.2 Vibrações Transmitidas ao Sistema Mão-Braço
É no sistema mão e braço que as consequências das vibrações são mais severas. Nas
ferramentas motorizadas atingem-se altas acelerações oscilatórias nas mãos e articulações
dos pulsos. Trabalhadores que usam há anos ferramentas motorizadas (ex. moto-serras ou
martelos pneumáticos) e são submetidos a vibrações localizadas podem apresentar diversas
patologias nas mãos e braços, tais como: "dedos mortos" - doença de Raynaud.
– Transtornos vasculares;
• Síndroma de Raynaud;
– Transtornos neurológicos periféricos;
– Transtornos dos ossos e das articulações
– Transtornos musculares,
– Outros transtornos (todo o corpo e o sistema nervoso central)
O desenvolvimento da síndroma das vibrações mão- -braço depende de muitos factores, tais
como o nível de vibrações produzidas pela máquina ou ferramenta, a duração diária de
exposição, o número acumulado de horas, meses ou anos de exposição, a temperatura no
espaço do posto de trabalho, o método de trabalho e a ergonometria das tarefas profissionais.
De acordo com algumas normas europeias, o trabalhador exposto a vibrações diárias com um
nível de 2,5 m por segundo quadrado por um período igual ou superior a 12 anos tem 10% de
probabilidade de desenvolver uma síndroma de vibrações (DL 46/2006).
Sindroma de Raynaud

A exposição diária a vibrações excessivas durante vários anos pode originar danos físicos
permanentes que resultam normalmente no denominado Síndrome dos dedos brancos,
ou em lesões dos músculos e articulações do pulso e/ou do cotovelo. Elas manifestam-se
através da degeneração gradativa do tecido muscular e nervoso. Com isto, alguns dedos
- normalmente o dedo médio - ficam brancos até azulados, frios e "sem sentidos". Após
algum tempo, os dedos voltam a ficar vermelhos e doloridos. Esta doença tem por base a
contracção espasmódica dos vasos sanguíneos é conhecida também como doença de
Raynaud. Estas doenças são observadas em trabalhadores em minas, que utilizam
perfuradoras leves a ar comprimido com altas frequências. Além disso, os trabalhadores
florestais também são atingidos por estas doenças, pois trabalham muito com moto-
serras com frequências de 50 a 200 Hz. Os "dedos mortos" surgem no máximo após seis
meses de trabalho com uma ferramenta vibratória. Para isto, o frio parece ter uma grande
importância. A doença surge mais nos países nórdicos do que nos países quentes. Supõe-
se que o frio aumenta a sensibilidade dos vasos sanguíneos às vibrações e promove a
constrição dos vasos. Em trabalhadores que usam ferramentas motorizadas com altas
frequências, são observadas também perturbações da circulação e da sensibilidade.
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Como exemplo destas máquinas, podem referir-se as polidoras com 300 a 1.000 Hz.
Surgem inchaços dolorosos com perturbações da sensibilidade nas mãos, que muitas
vezes não são passageiras.

Tabela 25: Classificação de vibração-induzida pelos estágios de Taylor-Pelmear (INSHT, 2000)


Figura 48: Doenças causadas pela vibração sobre as mãos – Sindroma de Raynaud (NIOSH)

7. MEDIÇÃO DAS VIBRAÇÕES


A medição do nível de vibrações mecânicas deve ser realizada por entidade acreditada,
considerando-se como tal a entidade reconhecida pelo Instituto Português de Acreditação
(IPAC), com conhecimentos teóricos e práticos, bem como experiência suficiente para realizar
ensaios, incluindo a medição dos níveis de exposição a vibrações. Esta medição deve ser
feita de acordo com as metodologias constantes no anexo I ou II deste diploma legal.
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7.1. EQUIPAMENTO UTILIZADO


O transdutor universalmente usado na captação de uma vibração é o acelerómetro
piezoeléctrico, que se caracteriza por ter uma banda dinâmica maior, com boa linearidade.
Acrescente-se que os acelerómetros piezoeléctricos são altos geradores de sinal, não
necessitando de fonte de potência. Além disso, não possuem partes móveis e geram um sinal
proporcional à aceleração, que pode ser integrado, obtendo-se a velocidade e o deslocamento
do sinal.
A essência de um acelerómetro piezoeléctrico é o material piezoeléctrico, usualmente uma
cerâmica ferro-elétrica artificialmente polarizada. Quando ela é mecanicamente tensionada,
proporcionalmente à força aplicada, gera uma carga eléctrica que polariza suas faces (Figura
49).

Figura 49:- Acelerómetro piezoeléctrico.


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Nas medições de vibrações, há necessidade de se escolher o acelerómetro correcto para
cada frequência a ser medida. Na medição da vibração é necessário usar-se um medidor de
vibração ligado ao acelerómetro (Figura 50). Esse medidor contém um pré-amplificador, que
indica o nível RMS da aceleração ou velocidade ou deslocamento. Também pode ser usado
um medidor portátil de vibração.

Figura 8 – Equipamentos de medição da vibração.


Figura 50: medidor de vibração ligado ao acelerómetro

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Figura 51 : Acelerómetro para o registo das vibrações transmitidas desde o assento para todo o corpo do
trabalhador.
Figura 52: Acelerómetro para o registo das vibrações transmitidas ao sistema mão-braço.

7.2. MEDIÇÃO DAS VIBRAÇÕES TRANSMITIDAS AO SISTEMA MÃO-BRAÇO

Segundo o Anexo I do Decreto-Lei n.º 46/2006, a medição da exposição diária às vibrações


deve ser expressa em termos do valor total das vibrações contínua equivalente, ponderada
em frequência para um período de 8 horas traduzida pela seguinte fórmula:
T
A(8) = ahv
T0
Onde,
T é a duração diária total da exposição às vibrações;
T0 é a duração de referência de 8 horas (28800 s)

O valor total da vibração, a hv é definido como a soma quadrática das três componentes:

ahv = a 2 + a2 + a2
hwx hwy hwz

Sendo a hwx, a hwy e a hwz os valores eficazes das acelerações ponderadas em frequência
para os eixos x, y e z, respectivamente.
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Se a exposição diária total às vibrações resultar da execução de várias tarefas com amplitudes
de vibração diferentes, a exposição diária às vibrações, A(8), deve ser obtida através da
equação:
1 n 2
A(8) =  ahviTi
T 0 i =1
onde,
a hvi é o valor total da vibração para a i tarefa;
n é o número de exposições parciais às vibrações;
Ti é a duração da i tarefa.

Deve-se considerar o valor mais elevado das medições realizadas para as duas mãos. Na
medição, a montagem do acelerómetro é importante e tem influência nas medições.
A localização deve ser sempre indicada no relatório e a medição deve ser realizada em
simultâneo.
A vibração deve ser medida de acordo com o sistema de coordenadas apresentadas nas
figuras seguintes.

Figura 53: Esquema para a medição das vibrações no sistema Mão-Braço (DL 46/2006)

As figuras seguintes indicam exemplos de localização do acelerómetro.


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Figura 54: Localização do acelerómetro aquando das avaliações das vibrações

7.3. MEDIÇÃO DAS VIBRAÇÕES TRANSMITIDAS AO CORPO INTEIRO


Segundo o Anexo II do Decreto-Lei n.º 46/2006, a medição da exposição diária às vibrações
dos trabalhadores é realizado com base no cálculo da exposição pessoal diária, para um
período de 8 horas, expressa como aceleração contínua equivalente.
A aceleração eficaz ponderada deve ser determinada para cada eixo x, y e z.
A determinação da vibração deve ser efectuada com base no valor eficaz mais elevado das
acelerações ponderadas em frequência, medidas segundo os três eixos ortogonais.
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Figura 55: Eixos basicêntricos do corpo humano

A exposição diária às vibrações A(8) é expressa em m/s2 e é obtido usando a fórmula:

T
A(8) = kaw
T0
onde,
a w é a aceleração eficaz ponderada, em m/s2
T é a duração diária total da exposição às vibrações
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T0 é a duração de referência de 8 horas ( 28 800 s)


k é o factor multiplicativo.

- Para vibrações horizontais (eixos x e y), k=1,4 e a w é obtido usando a ponderação em


frequência Wd;
- Para vibrações verticais (eixo z), k=1,0 e a w é obtido usando a ponderação em frequência
Wk.
Quando a exposição a vibrações decorre durante dois ou mais períodos de tempo com
diferentes amplitudes e durações, a exposição diária às vibrações, A(8), deve ser obtida
com a seguinte expressão:
n
1
A(8) =
T0
a
i =1
2
wi Ti

onde,
a wi é a amplitude da vibração para uma exposição de duração Ti
n é o número de exposições parciais às vibrações.

A vibração que é transmitida ao corpo deve ser medida entre o corpo e a superfície de apoio.
O transdutor de vibrações deve ser triaxial e estar localizado de forma a indicar a vibração na
interface entre o corpo e a fonte de vibração.
Os movimentos vibratórios são transmitidos ao corpo inteiro através das superfícies de apoio,
ou seja, dos pés de uma pessoa em pé, e, no caso de pessoas sentadas, da superfície de
suporte do assento, das costas do assento e da superfície de assentamento dos pés.
Em qualquer caso, a localização do ponto de medição deve ser indicada no relatório, assim
como a amplitude e a duração da exposição.

8. VALOR LIMITE DE EXPOSIÇÃO E VALOR DE ACÇÃO


Segundo o Decreto-Lei n.º 46/2006, de 24 de Fevereiro, no art. 2.º, é definido:
– «O valor limite de exposição» como valor limite da exposição pessoal diária, calculado
num período de referência de 8 horas, expresso em m/s2, que não deve ser ultrapassado;
– «O valor de acção de exposição» como o valor da exposição pessoal diária, calculado
num período de referência de oito horas, expressa em m/s 2, que, uma vez ultrapassado,
implica a tomada de medidas preventivas adequadas.
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Segundo o artigo 3.º do referido Decreto-lei, são fixados os seguintes valores:


– Para as vibrações transmitidas ao sistema mão-braço:
a) Valor limite de exposição: 5 m/s2;
b) Valor de acção de exposição: 2,5 m/s2.

– Para as vibrações transmitidas ao corpo inteiro:


a) Valor limite de exposição: 1,15 m/s2;
b) Valor de acção de exposição: 0,5 m/s2.
MÉDIA SEMANAL DE EXPOSIÇÃO
Nas situações referidas no n.º 2 do artigo 14.º a média semanal, quer para situação de corpo
inteiro quer sistema mão-braço, é determinada pela seguinte fórmula:

1 7
A(8) semanal = 
5 j =1
A(8) 2

Onde A(8)j é a exposição diária para o dia j.

O empregador deve utilizar todos os meios disponíveis para eliminar na fonte ou reduzir ao
mínimo os riscos resultantes da exposição dos trabalhadores a vibrações mecânicas, de
acordo com os princípios gerais de prevenção legalmente estabelecidos.

Se a utilização de equipamentos de trabalho que estejam em funcionamento desde data


anterior a 6 de Julho de 2007, ainda que aplicando as técnicas mais recentes e medidas de
organização adequadas, não puder respeitar os valores limite de exposição, o disposto no
artigo 7.º deste diploma legal, que estabelece as medidas que o empregador deve
obrigatoriamente implementar, só é aplicável a partir de 6 de Julho de 2010.

Ocorrências excepcionais dos valores totais de vibrações permitidas por períodos de tempos
diferentes de 8 horas são associadas com a ação de exposição diária e de valores limites
definidos em 8 horas. Na figura 18, a curva superior de limite de exposição é a vibração
permissível para os valores totais associados com o tempo de 8 horas, sendo o valor de limite
de exposição diário de 5,0 m/s2, conforme tabela 5 e a curva no limite inferior é a vibração
permissível dos valores totais associados com 8 horas, sendo o valor de ação de exposição
diária de 2,5 m/s2, conforme tabela 5. A região entre as duas curvas é chamada de zona de
precaução.
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Figura 56 - Guia de Saúde – zona de precaução (Directiva Europeira))

9. MEDIDAS DE INTERVENÇÃO E CONTROLO


A análise das vibrações é fundamental para determinar as causas e permitir reduzir e/ou
eliminar determinados tipos de vibrações, principalmente aquelas cujo ritmo corresponde à
frequência de ressonância do corpo.
Para eliminar ou reduzir as vibrações, é fundamental conhecer-se o espectro da análise da
vibração. No entanto, há certos princípios básicos que devem ser seguidos:

9.1. REDUÇÃO DAS VIBRAÇÕES NA ORIGEM


Adquirir máquinas e ferramentas que cumpram as normas CE; realizar a manutenção
periódica aos equipamentos, substituindo peças gastas, fazendo apertos, alinhamentos,
ajustamentos e outras operações aos órgãos mecânicos, de modo a reduzir não só as
vibrações como os ruídos;
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9.2. DIMINUIR A TRANSMISSÃO DAS VIBRAÇÕES


Fazer a montagem das máquinas e dos equipamentos em sistemas antivibratórios, com a
utilização de molas e amortecedores; utilizar materiais para isolamento vibratório (borracha,
cortiça, feltros, etc.);
9.3. REDUÇÃO DA INTENSIDADE DAS VIBRAÇÕES
Aumentar a inércia do sistema com a adição de massas, o que permite reduzir a frequência
da vibração.
A aplicação de medidas de prevenção, quer colectivas quer individuais, torna-se difícil, pelo
que se deve procurar esquemas de organização do trabalho e das tarefas de forma a diminuir
o tempo de exposição dos trabalhadores às vibrações e contribuir para a diminuição de
doenças profissionais graves.
Todos os trabalhadores expostos às vibrações devem ser informados dos riscos a que estão
sujeitos e dos meios de os evitar.

EQUADRAMENTO LEGAL
As vibrações estão contempladas na legislação e NP's seguintes:
– DECRETO-LEI N.º 46/2006, DE 24 DE FEVEREIRO:
Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2002/44/CE, do Parlamento Europeu
e do Conselho, de 25 de Junho, relativa às prescrições mínimas de protecção da saúde e
segurança dos trabalhadores em caso de exposição aos riscos devidos a vibrações
mecânicas;
– NORMA PORTUGUESA NP 1673:1980:
Vibrações mecânicas. Avaliação da reacção à excitação global do corpo por vibrações;
– NORMA PORTUGUESA NP 2041:1986:
Acústica. Higiene e Segurança no Trabalho. Limites de exposição do sistema braço-mão às
vibrações.

Pág.106
BIBLIOGRAFIA

Bibliografia em Suporte Papel


 Alberto Sérgio S. R. Miguel, Manual de Higiene e Segurança do Trabalho, 7ª ed., Porto: Porto
Editora, 2004.

 Enciclopedia de Salud y Seguridad en el Trabajo, tradução da Encyclopaedia of Occupational


Health and Safety (OIT), fourth edition, editada pelo Ministerio de Trabajo y Asuntos sociales,
subdirección General de publicaciones, 1999.

 Graham Roberts-Phelps, Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho – Jogos para Formadores,


Colecção do Formador Prático, Monitor – Projectos e Edições, Lda., 2001

 Ricardo Macedo, Manual de Higiene do Trabalho na Indústria, 2.ª Ed. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2004.

 Manual de Boas Práticas – Industria Têxtil e do Vestuário, Colecção Prevenir, 2008.

 Manual de Higiene, Segurança e Saúde do Trabalho, Verlag Dashöfer, 2006.

 Decreto-Lei n.º 46/2006, de 24 de Fevereiro:

Transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva n.º 2002/44/CE, do Parlamento Europeu
e do Conselho, de 25 de Junho, relativa às prescrições mínimas de protecção da saúde e
segurança dos trabalhadores em caso de exposição aos riscos devidos a vibrações
mecânicas.

 International Organization for Standardization (1998). ISO 7726/1998, Thermal environments


– Instruments and methods for measuring physical quantities, International Standardisation
Organisation, Geneva, Suisse.

 International Organization for Standardization (2005). ISO 7730/2005, Ambiances thermiques


modérées

– Détermination des indices PMV et PPD et spécification des conditions de confort thermique,
International Standardisation Organisation, Geneva, Suisse.

 International Organization for Standardization (1989). ISO 7243/1989, Hot environments

- Estimation of the heat stress on working man, based on the WBGT-index (wet bulb globe
temperature), International Standardisation Organisation, Geneva, Suisse.

 International Organization for Standardization (1995). ISO 10551/1995, Ergonomics of thermal


environment
– Assessment of the influence of the thermal environment using subjective judgment scales,
International Standardisation Organisation, Geneva, Suisse

Bibliografia em Suporte Informático


 João Machado Ximenes. Segurança nas Vibrações sobre o Corpo Humano. 2000.
http://wwwp.feb.unesp.br/jcandido/vib/Apostila.doc
 Gilmar Machado Ximenes, Gestão Ocupacional da Vibração no Corpo Humano, Aspectos
Técnicos e Legais Relacionados à Saúde e Segurança.
http://www.inmetro.gov.br/producaointelectual/obras_intelectuais/179_obraIntelectual.pdf
 Guia Técnico para la evaluacion e prevencion de los riesgos relacionados com las
vibraciones mecânicas, Instituto Nacional de Seguridad e Higiene en el Trabajo, 2008.
http://www.insht.es/InshtWeb/Contenidos/Normativa/GuiasTecnicas/Ficheros/Vibraciones.pd
f
 Enciclopedia de Salud y Seguridad en el Trabajo, tradução da Encyclopaedia of Occupational
Health and Safety (OIT), fourth edition, editada pelo Ministerio de Trabajo y Asuntos sociales,
subdirección General de publicaciones, 1999.

 Centro Nacional de Energia Nuclear ( Brasil)

− Radiações Ionizantes e a vida


− Energia Nuclear
− Aplicações da Energia Nuclear
− Radioatividade
− Programa de Integração CNEN
www.cnen.gov.br

Pág.108
Sites úteis de organismos nacionais e internacionais com informação relevante no domínio da SHST:

 Autoridade para as Condições de Trabalho


www.act.gov.pt
 Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho
http://www.ishst.pt/ishst.aspx
 Inspecção Geral do Trabalho
http://www.igt.gov.pt/default.aspx
 Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho – Ponto Focal Português
(OSHA)
http://pt.osha.eu.int/
 International Occupational Safety and Health Information Centre
www.ilo.org/cis
 Instituto Nacional de Seguridad e Higiene en el Trabajo
http://www.igt.gov.pt/default.aspx
 Saúde e Trabalho Online - Portal temático para segurança e saúde no trabalho, brasileiro.
Oferece informações técnicas, além de produzir e fornecer conteúdo electrónicos.
http://www.saudeetrabalho.com.br/index.php
 Ministério do Trabalho e Emprego – Brasileiro Inspeção do Trabalho, Segurança e Saúde no
Trabalho
http://www.mte.gov.br/seg_sau/default.asp
 Portal Fundacentro
http://www.fundacentro.gov.br/
 National Institute for Occupational Safety and Health
www.cdc.gov/niosh
 Occupational Safety & Health Administration
www.osha.gov
 SHST Online
http://www.shstonline.com/portal/index.php Pág.109

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