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Universidade Save-Extensão Maxixe

Cadeira: SSPII

Discente: Dércio Inácio Timbe

Docente: Ma. Marcolino Sitoe

Construções passivas
De acordo com o Dicionário Terminológico (DT), a frase passiva é uma «construção em que
participam alguns verbos transitivos directos, transitivos directos e indirectos ou transitivos
predicativos, na qual o constituinte interpretado como complemento de uma relação de
predicação é realizado como sujeito, sendo o verbo conjugado numa forma composta, com o
auxiliar "ser"».
F1 O João joga a bola. ( activa)
f2 A bola foi jogada pelo João. (passiva)
Tipos de construções passivas
A Gramática da Língua Portuguesa (2003), de Maria Helena Mira Mateus et all, distingue três
tipos de construções passivas: as passivas sintácticas , as passivas de –se e as passivas
adjectivais.
Passivas Sintácticas
As frases activas e passivas sintácticas relacionam-se de uma forma sistemática, que podem ter
as seguintes descrições:
O constituinte a com a relação gramatical de sujeito da passiva, tem na activa
correspondente, a relação gramatical de objecto directo; Exemplos:
F1: o João ofereceu uma pasta ao António.
F2: ela foi oferecida ao António pelo João.
F3: a pasta foi oferecida ao António pelo João.
 O constituinte introduzido pela preposição por na passiva, a que chamaremos sintagma
por, tem, na activa correspondente, a relação gramatical de sujeito;
Ex: Ele ofereceu a pasta ao António.

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A pasta foi oferecida ao António por ele.

 Existe constância de papel temático entre sujeito da passiva e objecto directo da activa
correspondente, e entre sintagma por e sujeito da activa correspondente;
Ex: [ A pasta]Tema foi oferecida ao António pelo João.
O João ofereceu [o livro]Tema ao António.
 Ocorre na passiva uma forma do auxiliar ser, ausente da activa correspondente, seguida
de uma forma principal;
Ex: O João ofereceu-a a ao António.
Foi-a oferecida ao António pelo João.
 A forma principal presente na passiva concorda em género e numero com o sujeito.
Exemplos:
A pasta foi comprada pelo João
*A pasta foi comprada pelo João.
De referir que, na passiva, o SN regido pela preposicao por é opcional, no contrario do que
acontece nas frases activas, em que tal SN tem de estar expresso sintacticamente quer sob a
forma de um SN lexical quer sob a forma de um sujeito nulo com referencia definida ou
arbitraria.
A opcionalidade do sintagma por nas passivas sintácticas poderá favorecer a ideia de que tal
constituinte tem um estatuto de adjunto. Contudo, mesmo em nas passivas sintácticas em
que ele não ocorre, o papel temático externo está implícito, como mostra o facto de, quando
nelas ocorre um verbo agentivo, ser possível a presença de advérbios orientados para o
agente e de adjuntos finais cujo sujeito é controlado pelo argumento externo implícito.
Ex: As crianças foram reprovadas propositadamente.
Nas passivas sintácticas pessoais, o argumento interno directo do particípio passivo, para
alem de ter a relação gramatical de sujeito, é interpretado como tópico, deslocando-se para a
posição de especificador de SFlex, onde é legitimado casualmente com caso nominativo.
Nas passivas sintácticas impessoais, o argumento interno directo desloca-se até à posição
de especificador do SV superior, onde é legitimado casualmente com Nominativo, sob c-
comando do verbo auxiliar.
Ex: foram destruídas todas as colheitas pela tempestade.

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As construções passivas pessoais e impessoais distinguem-se pela possibilidade de o
argumento interno directo a referencia do sujeito de uma oração subordinada não finita.

Relações de verbos que podem ocorrer em passivas sintácticas.


Nas passivas sintácticas apenas podem ocorrer formas participiais de verbos ditransitivos e
transitivos. Não podem ocorrer em passivas sintácticas formas participiais de verbos
inergativos, de verbos inacusativos, e de verbos que seleccionam argumentos internos
preposicionais, ou que assumem superficialmente uma forma preposicional.
Também não podem ocorrer em passivas sintácticas, verbos de dois lugares como medir,
pesar, quando se constroem com um sujeito com o papel tema.
Ex;* O coqueiro foi caído pelo ciclone
*70 kg foram pesados pelo António quando tinha 17 anos.
O Pedro nadou 10 piscinas.

Passivas de –Se
As passivas de Se podem também serem chamadas segundo a tradicao gramatical de
passivas pronominais ou reflexivas.
Propriedades das Passivas de - Se
 Nas frases com verbos inacusativos e nas passivas inacusativas, o constituinte
interpretado como argumento interno directo do verbo tem a relação gramatical de
sujeito, como se pode ver pelo facto de ser ele que controla a concordância verbal.
Ex: a catana usou-se para podar a árvore.
As duas catanas usaram-se para podar a árvore.

 Nas passivas de Se o argumento interno directo tem obrigatoriamente traços de


terceira pessoa gramatical, mas também como se observa nas passivas sintácticas,
também nas passivas-Se existe constância de papeis temáticos entre o constituinte
que ocorre como sujeito e o constituinte com o papel temático interno da activa
correspondente:
Ex: [A catana] instrumento usou-se para podar a arvore.
Usaram [o canivete] instrumento para podar a arvore.

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 A possibilidade de ocorrência de um adverbio orientado para o agente e de um
adjunto final cujo sujeito é controlado pelo argumento implícito da passiva, indicam
que nas passivas de – se o papel temático externo está presente. Por outro lado, o
argumento Agente recebe uma interpretacao arbitraria. Finalmente, a
agramaticalidade de frases em que tal argumento não pode ser expresso através do
sintagma por.
Ex: *A catana usou-se por alguém para podar a arvore.
Importa salientar que, em Português, como nas restantes línguas românicas de sujeito
nulo , são mais frequentes as passivas de-se, impessoais, com o argumento interno
directo indefinido ou constituído por um nome simples:
Ex: publicaram-se recentemente três trabalhos sobre esse tema.
Note –se finalmente que construções de –se com um verbo transitivo ou ditransitivo na
terceira pessoa do singular, são sistematicamente ambíguas entre uma interpretação de passiva de
– se e de frase activa no nominativo.
Ex; assaltou-se uma carrinha de mercadorias,
Int,1 Foi assaltada uma carrinha de mercadorias.
Int2 Alguém assaltou uma carrinha de transporte de mercadorias.

Passivas adjectivais
As passivas adjectivais, também são denominadas passivas de estado ou passivas resultativas.
Ex: Escola está destruída.
O constituinte com a relação gramatical de sujeito corresponde ao argumento interno directo do
verbo a partir do qual a forma participial é formada.
Propriedades especificas das passivas adjectivais
 Ocorrem nesta construção o verbo estar e outros verbos copulativos.
Ex: a escola ficou destruída
Ex2 As lojas encontram-se se encerradas desde a semana passada.
Vários argumentos favorecem a ideia de que a forma participial presente nas passivas
adjectivais é categorialmente um adjectivo ( e não um verbo, como nas passivas sintácticas),
formado por um processo morfológico de conversão.
Ex: Essa reacção revelou-se inesperada.

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Ex2 :* Essa reacção foi inesperada por todos.
A forma participial que ocorre nestas construções é um adjectivo, assim sendo o verbo
flexionado que com ela se combina não pode ser um verbo auxiliar, uma vez que esta classe de
verbos apenas selecciona constituintes encabeçados por verbos como seus complementos.
Assim, os verbos que ocorrem nas passivas adjectivais são verbos copulativos, pelo que a
estrutura sintáctica das passivas adjectivais é idêntica à das frases copulativas.
As passivas sintácticas focalizam a transição sofrida pelo argumento com o papel temático
interno directo, as passivas adjectivais focalizam o estado resultante da transição sofrida. Não
podem ocorrer nas passivas adjectivais adjectivos derivados de verbos atélicos psicológicos,
que denotam geralmente estados permanentes.
Ex; *A Maria estava amada
Pelo contrario, são legítimos nas passivas adjectivais adjectivos formados a partir de verbos
atélicos locativos, ocorrendo neste caso tipicamente o constituinte com interpretação locativa
precedida da preposição de.
Ex: A aldeia está rodeada de montanhas.

Referências bibliográficas
Mateus, M. H. M. et all. Gramática da Língua Portuguesa. 5ª edição revista e aumentada.
Lisboa: Caminho (2003). pp.521-535.

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